Rakuin no Monshou – Capítulo 2 – Volume 3
Rakuin no Monshou
Emblem of the Branded
Light Novel Online – Capítulo 02:
[O Ilustre Mercador de Birac]
Birac era considerada a segunda capital de Mephius. Seus platôs eram divididos em camadas espalhadas por um desfiladeiro, onde a camada superior era ocupada por edifícios de mármore branco, claramente destinados às classes altas, enquanto a inferior abrigava casas comuns, coladas ao penhasco.
No distrito leste da camada nobre, o rio Zwimm cortava a região. Dia após dia, inúmeras barcaças passavam por ali, servindo como ponto de comércio com as nações ao norte. Os negócios prosperavam, e estrangeiros eram vistos em grande número.
O príncipe Gil, à frente de suas tropas, chegou à cidade.
Todos pensaram que ele viria apenas para descansar antes de seguir para Apta. No entanto, três dias já haviam se passado desde sua chegada, e o príncipe não demonstrava nenhuma intenção de sair do seu palacete.
— Ouviram? Os soldados do príncipe receberam uma boa quantia dele e saem todas as noites para se divertir.
— Parece que causaram confusão na loja da Yulia. Dizem que foi porque não acharam garotas do seu gosto.
— Falando no príncipe Gil, ele é famoso por ser um imbecil. Recentemente, ganhou fama por derrotar as forças de Ryucown e conter a rebelião de Zaat, mas, como esperado, isso não é normal.
Essas notícias e rumores também chegaram aos ouvidos do mercador Zaj Haman inúmeras vezes.
— Esse tipo de homem é o mais perigoso de lidar. Ele não segue a lógica comum, entende? É como um dragão bebê, no momento em que você acha que ele se acostumou com as pessoas, ele vira e te morde. Só resta rezar para que isso não aconteça — Zaj soltou uma risada franca.
Os mercadores, que formavam uma parte significativa da população de Birac, eram autônomos e não temiam mais do que o necessário os nobres e imperiais que compunham a aristocracia de Mephius. Claro, isso não significava que subestimavam os nobres, mas, como era típico dos mercadores, estavam dispostos a pegar em armas para proteger seus bens e vidas se fossem pressionados a condições intoleráveis, mesmo que isso significasse enfrentar a aristocracia.
— Seu negócio não prospera independentemente do que aconteça?
— Claro que não! A negligência é seu maior inimigo. Tudo pode desmoronar em um instante, sem exceção.
Zaj já passava dos sessenta, mas ainda frequentava a loja diariamente, aparecendo para conversar e tomar um drinque. Seu negócio atendia muitos clientes de outras cidades e países. Se Zaj suspeitasse que alguma informação útil estivesse entre eles, ouvia suas conversas intermináveis, mesmo que fosse a primeira vez que os visse.
O ilustre mercador Zaj Haman.
Não havia ninguém em Birac que não conhecesse seu nome. Ele era o dono da maior empresa de transporte da próspera Birac, responsável por mais de quarenta por cento dos lucros do porto. Seus navios, marcados com o emblema da Firma Haman, partiam e retornavam ao Porto de Birac sem parar.
No geral, negócios que usavam transportes aéreos em Mephius eram raros. O éter, fonte de energia dessas naves, era obtido da vaporização da água do mar usando artefatos da antiga civilização. Como Mephius não tinha acesso a grandes corpos d’água, conseguir éter era difícil para a população comum. A menos que fosse algo urgente, o transporte aéreo de mercadorias geralmente não valia o custo.
No entanto, Zaj Haman, que estudou em Garbera em sua juventude e aprendeu os segredos das naves aéreas, estabeleceu Birac como um ponto de parada entre as regiões costeiras próximas e criou uma rota comercial exclusiva com a cidade flutuante de Zavinia, ao norte. As águas ao redor de Zavinia eram ricas em éter, e até hoje diziam que a venda do éter sozinha sustentava a economia do país.
O soberano de Zavinia, o general Kal Lighthel, era conhecido por seu temperamento difícil, mas Zaj cruzou as águas três vezes para visitá-lo e acabou estabelecendo uma relação pessoal com ele.
Zaj não só lidava com negócios civis, mas também fornecia suprimentos para o exército em tempos de guerra. E no festival da fundação deste ano, durante a revisão naval, onde o número de navios disponíveis era baixo e o status dos nobres era medido pela quantidade de navios que contribuíam, Zaj emprestou várias naves para nobres por um preço simbólico.
Ou seja, suas conexões com a nobreza também eram profundas.
Outra parte de sua fama vinha do fato de contratar pessoas independentemente de origem ou nacionalidade. A diversidade de funcionários e clientes em sua loja facilitava a coleta de informações. Por outro lado, muitos mercadores e servos de nobres visitavam seu estabelecimento para comprar essas informações. Os rumores chegavam a dizer que Zaj Haman talvez tivesse mais influência que o próprio senhor feudal de Birac, Fedom Aulin.
— E esse príncipe Gil… — Zaj perguntou a um funcionário, enquanto almoçava tarde em uma sala no segundo andar. — O que ele está fazendo aqui em Birac? Será que está prolongando a estadia para se divertir com alguma mulher?
— Bem… — O funcionário inclinou a cabeça. — Há muitos rumores sobre seus soldados fazendo isso, mas nada sobre o príncipe em si. Ele não está apenas ocioso na residência do Lorde Aulin?
— Hmph.
Para ser sincero, Gil Mephius era um enigma até para Zaj. O fato de não controlar bem seus soldados e prolongar sua estadia em Birac combinava com os rumores de que era um tolo. Mas, se fosse esse o caso, como explicar sua vitória contra Ryucown em sua primeira campanha e seu papel em conter a rebelião de Zaat?
Zaj passou quase toda a vida construindo a Firma Haman.
Ele achava difícil acreditar nas histórias de um tolo que de repente se tornou herói. Acreditava firmemente que era uma invenção para fazer o príncipe Gil parecer mais adequado como sucessor do trono.
E há também a informação de que Fedom, o senhor feudal de Birac, recentemente se aproximou do príncipe Gil. Não seria surpresa se ele estivesse por trás do príncipe, puxando as cordas nos bastidores. No entanto, tal movimento parecia tardio. Talvez a saúde do imperador tivesse piorado subitamente, ou alguém importante tivesse sugerido “aquilo” a Fedom, mas algo certamente mudou para causar isso.
Por mais que o assunto o interessasse, Zaj era, acima de tudo, um mercador. Não tinha intenção de se envolver profundamente em questões de sucessão imperial, nem planos de tirar vantagem da situação.
Naquela noite,
— M-Meu senhor!
Um de seus funcionários entrou correndo, ofegante.
— O que foi? Está causando alvoroço. — Zaj ergueu a cabeça grisalha e franziu a testa.
Ele estava sobrecarregado de trabalho. Naquele momento, planejava estabelecer uma nova base intermediária para naves da Firma Haman em uma vila no caminho entre Birac e Apta, que havia retornado ao controle de Mephius.
— Há um cliente. Ele insiste em vê-lo pessoalmente, meu senhor.
— Bart não pode atendê-lo?
Bart era o segundo filho de Zaj. Ele confiava a ele e à esposa o andar térreo da loja e a gerência das importações de mercadorias comuns.
O funcionário balançou a cabeça.
— Quem seria esse tal convidado?
Será que era uma inspeção da guarnição? Enquanto Zaj franzia a testa, um nome inesperado chegou aos seus ouvidos.
— Ah, é uma grande honra recebê-lo aqui. Nunca imaginei que Vossa Alteza pisaria em um lugar como este. Se tivéssemos sido avisados antes, poderíamos ter preparado uma recepção mais adequada — Zaj disse com um sorriso, esfregando as mãos.
Ele não permitiu que sua inquietação interna transparecesse.
O convidado examinava curiosamente os produtos da loja, pegando alguns.
— Não se preocupe. Não esperava uma recepção calorosa — Orba assentiu com indiferença.
— Por favor, me desculpe enquanto preparo um chá.
Zaj, ainda sorrindo, observava atentamente o convidado.
O Príncipe Herdeiro de Mephius, Gil.
Ele não era muito alto, mas sua pele morena e físico esguio denotavam um corpo acostumado aos campos de batalha. E, acima de tudo, seu olhar fugaz era surpreendentemente afiado. Zaj não via nenhum traço do homem chamado de tolo. No entanto, as aparências podiam enganar.
Mas… o que o príncipe estaria fazendo aqui?
Ele apareceu de repente, acompanhado por um soldado de aparência andrógina. Se fosse apenas para comprar algo, seu filho Bart poderia tê-lo atendido perfeitamente. Zaj rezava para que não fosse algum capricho ridículo, mas temia que exatamente isso estivesse prestes a acontecer.
— Vim aqui para uma pequena conversa. Ouvi dizer que informações sobre vários países podem ser compradas aqui com dinheiro.
— Seja mercadoria ou informação, lido com ambas. É o ofício de um mercador. É um hábito irritante. Quando perguntam “Você tem?”, não podemos simplesmente responder “Não”. Por isso, dia após dia, buscamos de todas as formas possíveis. Mas, mesmo assim, receio que nossos serviços não atendam às expectativas de um príncipe.
— Não é nada demais — Orba falou enquanto pegava um relógio de bolso da prateleira e o examinava. — Você sabe para onde estou indo, certo?
— Para a Fortaleza de Apta.
— Exato. E do outro lado, a oeste, está Ax Bazgan. Para ser direto, quero informações sobre Ax Bazgan. Quero tudo sobre o território que antes pertencia a Zer Tauran, incluindo as Províncias Tauran.
— Gil-sama… — Zaj começou, mantendo a expressão inalterada. — O comércio com o oeste é estritamente proibido em Mephius. Obter informações diretamente deles é um tanto difícil. Amanhã, espero visitantes das nações costeiras do norte e posso ver o que consigo, mas com o que tenho agora…
— Então você não tem?
— No momento… não.
Houve uma pausa breve. Gil ainda examinava o relógio de bolso. Escravos e funcionários ao redor olhavam nervosamente para a conversa.
Afinal, era só um capricho.
Zaj pensou consigo mesmo. Será que o príncipe não ouviu rumores sobre a Firma Haman e resolveu testá-los? Nesse caso, ele o acompanharia, o decepcionaria profundamente e o mandaria embora.
— Você está mentindo.
— Perdão?
A expressão de Gil também não mudou. Sorrindo levemente, ele ergueu os olhos do relógio.
— Por que acha que viemos até aqui? Zaj Haman. Você deve estar envolvido nessas transações proibidas com o oeste.
— Eu discordo-!
— Não quero conversa fiada — Gil Mephius falou com firmeza. — Acredito que seja verdade. Isso é inquestionável. Não preciso de mais provas, nem tenho intenção de declarar isso publicamente. Entende o que estou dizendo?
— …
Mantendo a expressão, Zaj sentiu um calafrio percorrer sua espinha.
Naquele momento, um servo trouxe uma bebida. Zaj a recusou. Abriu a boca e falou com cuidado.
— Se tiver tempo, que tal irmos lá fora?
Zaj e Gil Mephius seguiram para um dos armazéns da Firma Haman no porto.
No caminho, Zaj mencionou os feitos gloriosos do príncipe Gil e os elogiou, mas o príncipe nem sequer respondeu. Olhando de relance para as barcaças de bronze que entravam e saíam do porto, eles entraram em um armazém discreto.
— Desculpe fazê-lo vir até aqui.
Subiram até o terceiro andar, que servia como um escritório simples. Zaj pessoalmente colocou taças na mesa e serviu vinho de frutas.
Não me surpreenderia se a parede girasse e soldados surgissem agora.
Gil Mephius — ou melhor, Orba — riu baixinho.
Embora conhecesse o nome do ilustre mercador Zaj Haman, não tinha planos de visitá-lo até pouco antes de partir de Mephius. No entanto, ao descobrir sobre a proibição comercial com o oeste, Orba percebeu algo estranho. Ao buscar a razão em suas memórias, lembrou-se de um detalhe.
Ah, certo.
Orba estive justamente em Birac. Após a queda de Apta e a queima das vilas vizinhas pelas tropas de Oubary, a cidade onde ele conseguiu chegar foi essa mesma Birac. Lá, assumindo a liderança de um grupo de garotos, passou quatro anos roubando e administrando uma casa de apostas ilegal.
E, assim como fazia agora, Orba espalhou os garotos como olhos e ouvidos quando soube de uma informação: uma pequena frota de naves aéreas carregadas com ouro e mercadorias estava sendo preparada no porto. No entanto, isso não constava nos registros oficiais. A Firma Haman provavelmente subornou as autoridades, planejando partir secretamente à noite.
Se for assim, mesmo que eu ataque, o posto de Birac não será notificado.
Pensando nisso, Orba planejou um ataque às naves mercantes. Enquanto avançava nos preparativos, um dos garotos de um grupo rival infiltrado entre seus subordinados o denunciou.
E então fui preso.
Sim, foi nessa mesma Birac que o plano de Orba foi revelado, seus crimes expostos, e ele recebeu a marca de escravo nas costas, sendo forçado a usar a máscara.
Que coincidência estranha.
Orba aproximou-se da janela com descontração, embora mantivesse as costas vigiadas. Por causa do incidente que o levou à prisão, agora ele se encontrava com o líder da Firma Haman como o príncipe Gil. E o que ele mais queria agora eram as informações que Zaj Haman possuía.
Nesse momento, um pequeno pássaro pousou no parapeito da janela. Seu corpo era coberto por penas marrom-claras, e ele bicava o bico.
— Essas penas já foram amarelo-brilhantes.
— Hm?
Atrás dele, Haman ofereceu respeitosamente uma taça de vinho, que Orba aceitou.
— É uma das mercadorias que trouxemos de terras distantes. Mas, com a idade, sua cor desbotou. No entanto, seu canto vibrante permanece o mesmo. Embora sua aparência mude, suas canções não esquecem sua terra natal, como dizem os poetas.
— Oh?
Orba concentrou-se no som. Ouviu aquele canto inúmeras vezes, mas nunca se sentiu particularmente tocado. Agora, com as palavras de Zaj, ele conseguia sentir um pouco do fluxo do tempo naquela melodia.
— É uma pena que nunca chegue à parte crucial.
— Ah…
Com um leve bater de asas, o pássaro levantou voo.
— Agora então — Zaj voltou ao assunto principal. — O que você precisa de mim?
— Não mudei de ideia. Quero informações.
— Vossa Alteza. Este não é o palácio, e você não tem um exército incontável aqui. É especialmente em lugares como este que eu tenho mais influência, mais que você ou o Lorde Fedom. Pode ser difícil para um jovem príncipe entender, mas lugares assim existem no mundo.
— Isso soa como uma ameaça.
— É apenas uma suposição. Eu poderia sequestrá-lo aqui e entregá-lo a outro país. Em vez de continuar meus negócios em Mephius, tenho certeza de que algum reino pagaria muito mais.
Orba não bebeu da taça. O mesmo valia para Shique, e sua hesitação deixava clara a desconfiança. Depois de um momento, Orba falou em pedaços.
— Isso não valeria a pena.
— Não valeria a pena?
— Ax Bazgan é um espinho no lado de Mephius há muito tempo. Se essa ameaça fosse removida, você poderia negociar livremente. Ah, e que tal deixar mais da metade da rota comercial em suas mãos?
— O-O que você…
Zaj limpou a garganta por reflexo. Pensou em rir por um segundo, mas o rosto de Gil Mephius era sério.
Esse homem…
Se ele estivesse falando sério, estaria longe de ser o tolo indigno do trono que diziam. Seria um idiota sem igual.
— Infelizmente, as forças de Vossa Alteza não são muitas. Há mais de dez anos, Sua Majestade enviou um exército dez vezes maior para atacar Taúlia. Claro, você já sabe o resultado. Ax Bazgan não tem um exército tão grande. Mas, embora os remanescentes do antigo Zer Tauran estejam em conflito interno, eles são estranhamente unidos contra inimigos externos. O que Vossa Alteza pode fazer contra uma força que rivaliza com a de Mephius?
— Você ficou bem falante.
Era uma prova de suas verdadeiras intenções, Orba insinuava.
— Vossa Alteza.
— Admito que o que tenho é pouco. Por isso mesmo, quero suas informações. Não informações velhas e mofadas, mas as mais recentes que você possui.
— Está dizendo que, com isso, poderia derrubar Taúlia?
— Há quanto tempo você engana os olhos dos nobres de Mephius e negocia com o oeste?
Orba respondeu com outra pergunta. Sem conseguir retomar o controle da conversa, Zaj não teve escolha senão ser direto.
— Digamos que já faz sete anos.
— Prefere que termine em sete anos ou que continue suavemente por mais dez, vinte anos?
— Ah… — Zaj soltou um suspiro. Naquele instante, Orba esvaziou a taça de uma vez.
— Pergunto mais uma vez, mercador de Birac. — Orba limpou a boca com o dorso da mão. — Você tem as informações que eu quero?
Zaj sentiu a cabeça girar enquanto olhava para o príncipe. Sua impressão dele como um idiota não mudou. No entanto, se fosse o significado que definia um idiota…
— Tenho — Zaj assentiu e também bebeu toda a taça. Ele a bateu na mesa. — Pensando bem, não precisaremos de outra rodada. Ainda não sei se a informação será útil ao príncipe. Mas, se ela o ajudar a alcançar seus objetivos, então por todos os meios…
Zaj ordenou que um escravo, aparentemente um armazenista, trouxesse um mapa e o espalhou sobre a mesa.
Apontando para a região de Zer Tauran, a oeste, ele começou a falar sobre sua antiga história. Quanto à história dos Zerdianos, Orba também tinha certo conhecimento de um livro que lera antes de partir.

Depois, Zaj abriu um mapa mais detalhado dos arredores de Apta.
Apta e Taúlia eram separadas pelo rio Yunos, que corria de norte a sul. O rio, de correnteza forte e extensa, servia como fronteira. A Fortaleza de Apta foi construída sobre um penhasco à beira do rio, portanto as chances de Ax Bazgan avançar para o leste eram mínimas.
— Não direi que não há caminho para escalar o penhasco, mas, nesse tempo, não haveria como evitar o fogo da fortaleza, e eles ficariam completamente indefesos. E, pelo que sei, Taúlia provavelmente não possui uma nave encouraçada. No máximo, pode contar com um cruzador, capaz de transportar uns 200 a 300 soldados. No entanto, duvido que atacariam diretamente pelo céu, onde seriam facilmente avistados.
— Este… seriam as Minas Tsaga, certo?
Ao ver o local apontado por Orba, Zaj sorriu. Cerca de dez quilômetros ao sul de Apta, o rio era interrompido por uma cadeia de montanhas. No passado, esse era o lugar onde escravos e criminosos eram forçados a trabalhar.
— Trabalho brutal sem fim, gases venenosos, dragões selvagens e tribos de geblins caçadores de homens…
Orba também ouviu essas palavras implacáveis do mercador de escravos Tarkas. “Se não me obedecer, vou te jogar lá”, ele ameaçara. Em suma, era um lugar que fazia até os escravos mais violentos hesitarem.
Se me lembro bem, Pashir também trabalhou nessas minas.
Com a queda de Apta, as minas deveriam estar desativadas agora. Diziam que eram ricas em recursos, mas, considerando que Garbera também não as explorava, ninguém estaria disposto a correr o risco de minerar ali atualmente.
— O que isso significa, Haman… é que seus navios passam por aqui?
— Exatamente — Zaj abaixou as sobrancelhas brancas e sorriu. — Há dragões e geblins no chão, mas isso não importa quando se está no ar. Claro, para evitar a detecção pela vigilância de Apta, as naves precisam voar baixo, então não é como se não houvesse perigo algum.
— Há uma rota terrestre? Uma que soldados possam atravessar?
— Nunca a vi pessoalmente, então não posso afirmar, mas… — Zaj fez uma pausa breve, pensativo. — Muito bem, vou mandar uma de minhas escravas acompanhá-lo.
— Uma escrava?
— Ela já pilotou uma nave mercante para o oeste e conhece o terreno.
— Você deixa uma escrava pilotar uma nave? — Shique perguntou, surpreso.
Zaj riu, balançando a cabeça repetidamente, como se fosse um hábito.
— Ela tem boa visão e instinto, sabe? É algo que insisti desde o começo. — Você, vá chamar Krau.
Zaj ordenou a um escravo do armazém.
Enquanto Krau não chegava, Zaj falou sobre a recente agitação nos arredores de Apta.
— Mercadorias em naves e carroças foram atacadas por bandidos. Ax e o oeste são um mundo sem soberania, cheio de pequenos poderes. Por causa da instabilidade política, há risco de isso se espalhar para cá. Garbera protege a rota comercial de Apta até suas terras, mas, claro, a rota para Mephius ficou desprotegida. Se o príncipe for responsável por Apta, gostaria que ele primeiro subjugasse a região.
— Meu senhor, ela está aqui.
— Ah, Krau, venha aqui.
Ao olhar para Krau na entrada, Orba ficou sem palavras. Ela era completamente diferente do que imaginava. Zaj, divertido com sua reação, comentou:
— Se ser gorda é uma virtude, os nobres de Mephius certamente têm opiniões diferentes.
— Não me chamou só para me insultar na frente do cliente, não é? Somos pessoas ocupadas. Por favor, vá direto ao ponto!
Krau era uma mulher perto dos quarenta. Seu corpo era arredondado, sua voz estridente e sua fala rápida. Além disso, sua atitude era francamente rude, diferente de qualquer escravo que Orba já vira.
— Acalme-se, Krau. Quero que você cuide de um trabalho.
— Se for limpar as naves, vou ter que recusar — Krau puxou o queixo com indiferença. — A culpa do vaso quebrado não é minha. Foi aquele gato maltrapilho que seu neto trouxe da rua. Desde que aquele bicho malcriado apareceu, a cozinha virou um caos, e ele ainda afiou as garras no meu estoque secreto…
— Ora, ora… Só peço que me ouça. E, aliás, é a primeira vez que ouço falar desse vaso.
Zaj explicou brevemente a situação a Krau.
— Esse homem? É o príncipe de Mephius?
Qualquer um ficaria impressionado de servir ao príncipe herdeiro, mas Krau apenas arregalou os olhos.
— Você fará isso, não fará?
— Sou apenas uma escrava. Farei como meu senhor ordenar.
Seu tom era educado, mas seu olhar avaliador em direção ao príncipe deixava claro o que pensava, “Será que meu novo mestre vai me alimentar bem?”
Não suporto nenhum dos dois, mestre ou escrava.
Um gosto amargo persistiu. Ele entrou na Firma Haman esperando levar vantagem, mas o rumo inesperado também deixou Orba sem fôlego.
De qualquer forma, consegui o que vim buscar.
— Tenho mais um pedido.
— Sim, o que seria?
O rosto de Zaj, que inclinou a cabeça respeitosamente, já voltava ao de um mercador.
— Quero que me empreste naves. E alguns homens capacitados também.
— Naves… Quantas, exatamente?
Zaj ergueu os olhos, como se já soubesse. Provavelmente estava ciente de que as forças de Orba eram pequenas.
— Cerca de dez naves mercantes.
— Naves mercantes? Posso prepará-las como naves de guerra, se preferir.
— Não, só servem se forem mercantes. E também… preparem-se para quando nossa nau-capitânia, Doom, chegar a Birac. Então, que se encontrem conosco. Quanto aos detalhes, deixarei alguém com as instruções.
— Muito bem…
Já tendo feito os cálculos mentalmente, Zaj não pediu mais informações.
◇◇◇
No quinto dia em Birac, quando o sol começava a se pôr, as tropas de Orba, principalmente os soldados regulares emprestados por Oubary Bilan e Odyne Lorgo, discutiam qual loja visitariam naquela noite.
— Graças ao príncipe ficando ocioso, já conhecemos a maioria das lojas famosas.
— Pelo menos não virou um caos. Se fosse o general Odyne Lorgo no comando, seria diferente.
— Seria ótimo ficar em Apta o tempo todo. Não consigo imaginar uma guerra com Taúlia agora.
Naquele momento, eles eram soldados sob o comando de Gil Mephius, o tema frequente de suas conversas e o motivo pelo qual eram bajulados por prostitutas. Eles erguiam os copos, rostos ruborizados, gritando: “Um brinde ao príncipe!” Se diriam o mesmo diante da morte, era outra questão. Assim, saíam para se divertir, mostrando claramente a falta de supervisão.
Vileena Owell, observando de longe, só conseguia sentir irritação.
— Já são poucos os soldados que ele tem. Se Taúlia avançar com um grande exército, todos vão fugir para casa.
— Por favor, não generalize, princesa.
Theresia entendia a irritação de sua mestra, mas só podiam reclamar para seus superiores. Além das palavras, Theresia queria que ela parasse de manusear a arma, algo que fazia há algum tempo.
Vileena ergueu a arma, mirando no alvo circular que pendurou na porta. Assim que se virava, alinhava a ponta da arma ao centro do alvo, como se não pudesse errar.
Além de pilotar naves, essa técnica refinada foi ensinada por seu avô como autodefesa. Vileena virou as costas para a porta novamente. Fechou os olhos, concentrou-se e respirou fundo.
— Yah!
Gritou, virando e apontando a arma, mirando com precisão. Mas, nesse momento, a porta se abriu.
— Princesa, trouxe as encomendas-! Aaahhh!
— Waahhh!
Ela e a atendente que entrou gritaram ao mesmo tempo. Depois de um breve caos e troca de desculpas, a atendente fugiu em pânico, fazendo Theresia rir. Vileena a encarou com raiva.
— Você sabia.
— Do que está falando? Oh, este vestido é lindo! O colarinho alto combina com a cultura de Garbera. Exatamente o que espero da cidade comercial de Birac. A coleção aqui é melhor que a de Solon.
Theresia fingiu ignorância e olhou para a pilha de roupas trazidas pela atendente. A esposa de Fedom Aulin, o senhor de Birac, tomou gosto pela princesa e prometeu enviar roupas naquele dia. Theresia marcou o horário e avisou aos soldados que uma atendente com roupas chegaria.
— Está tentando se vingar de mim?
Vileena girou o tambor do revólver com o dedo. Para manter a tensão, uma única bala estava carregada.
— Ultimamente, Theresia, você anda sendo insolente.
— E por que não seria? Você falou diretamente com o imperador sem avisar. Quando soube depois, quase desmaiei.
— Se a aliança ruir, não haverá razão para eu estar aqui. Não adianta ter medo de fofocas me chamando de princesa intrometida.
Vileena virou o revólver na mão repetidamente, insatisfeita.
Embora concordou em ir para Apta com Gil, duvidava que o imperador a tirara do centro político. Além disso, circulavam rumores de que o imperador se reunia frequentemente com um mensageiro de Ende desde sua chegada.
Será que o imperador Guhl não está apenas se posicionando entre Garbera e Ende?
A posição de Vileena era, no máximo, de noiva pela metade, e isso a deixava cada vez mais insegura. Ela se preparou para o casamento pelo bem de Garbera e se isso não desse frutos, estava pronta para fugir do país em uma nave.
— Mas a maior preocupação é Taúlia. Se isso virar uma guerra com Mephius, não haverá reforços para Garbera. Embora eu suspeite que esse sempre foi o plano do imperador. Por isso ele não deu ao príncipe um exército maior que o de Taúlia. Será que nosso príncipe, relaxando aqui, entende isso?
— Ele deve ter um plano. Sempre foi assim até agora.
— É mesmo. — Vileena se jogou na cadeira com um baque, balançando as pernas. — Pensei nisso e me contive, não reclamei da estadia prolongada em Birac. Até considerei que isso fosse parte de um plano para ganhar lealdade dos soldados. Mas não é um problema?
— Princesa, se o príncipe visse sua postura desleixada, nem cem anos de amor seriam suficientes.
Se subestimasse o príncipe, ela se queimaria.
O grande herói Ryucown e o aristocrata Zaat Quark. Vileena viu como os dois, que se opuseram a ele, tiveram o mesmo destino. Sabia que ele não era comum, mas ainda assim custava a aceitar.
— Resumindo, ele é… imaturo, digamos. Orba também disse. Ele é reservado e, apesar de seus preparativos meticulosos, não os compartilha. Então, no momento crucial, surpreende a todos como se dissesse: “Viram só?” Crianças são criaturas problemáticas.
— Realmente.
Sem notar a ironia de Theresia, Vileena continuou:
— Posso tentar influenciar o príncipe para enviar reforços a Garbera. Agora, como manipulá-lo conforme meus desejos…
— Pelo menos não será treinando sua pontaria.
Nesse momento, bateram na porta. Era Gil Mephius.
Vileena ficou vermelha, escondendo a arma sob o sofá às pressas.
Gil entrou e cumprimentou.
— Partiremos amanhã. Prepare-se.
— Amanhã? Já terminou seus negócios em Birac?
— Terminei.
— Suponho que seria errado perguntar os detalhes. Afinal, deve me achar uma dama inconveniente.
— Não. — Gil ficou sério. — Trata-se apenas de emprestar algumas naves de um mercador de Birac. Demorou mais do que esperava.
— Naves? Não faltam soldados para operá-las?
— Não direi que não, mas não é um número preocupante.
— Príncipe.
Vileena olhou para Gil, séria. Surpreso com a proximidade inesperada, o rosto do príncipe ficou tenso.
— O-O que foi?
— Nada.
Ela baixou o rosto pálido, os ombros caídos.
— …Está preocupada com Garbera, não está, princesa?
Embora tivesse falado sobre conseguir reforços para seu país, ouvir isso diretamente a surpreendeu. Sua maior preocupação, que não queria revelar, parecia exposta.
— Isso não diz respeito ao príncipe.
— Não é algo que não me diz respeito.
Orba ficou irritado. Vileena encolheu os ombros.
— É a mesma coisa com você, príncipe. Nunca me honra compartilhando seus planos. Comigo também é assim. Tenho minhas próprias estratégias.
— Estratégias?
— Por exemplo…
Vileena puxou o revólver escondido, horrorizando Theresia. Ela apontou a arma para o príncipe, que abriu os olhos surpreso.
— Se em algum momento eu o tomar como refém e exigir soldados.
— Me tomar como refém? O que faria com esses soldados?
— Você já sabe. Eu mesma os lideraria e correria para Garbera.
Por falar com orgulho, até Vileena percebeu que o plano era grosseiro.
— …Embora eu tenha pensado em um plano mais elaborado. Isso é só um “e se”.
Houve uma pausa. Então Gil riu. Vileena franziu a testa.
— Tem algo engraçado?
Tudo, princesa, Theresia sussurrou, mas Gil acenou com a mão.
— Entendi. Então vou agir de forma que você não precise executar seu plano infalível.
— Infa… Você está zombando de mim! Pensei em outros. Sério. — Vileena insistiu teimosa.
Mas por que sentia que Gil a provocava, e até Theresia rira? Ele finalmente conteve o riso.
— Princesa, não se esqueça de fazer as malas.
— Já terminei faz tempo! — Vileena reclamou até o fim.
Theresia observou a princesa, que via o príncipe partir, e murmurou baixinho:
— Que relação estranha os dois têm. Parecem irmãos brincando de guerra. É engraçado, mas vai demorar muito para se tornarem algo romântico.
◇◇◇
No dia seguinte, Gil anunciou oficialmente a partida no início da manhã.
Com exceção da Guarda Imperial e dos escravos de guerra liderados por Pashir, os soldados entraram em desespero. Segurando a cabeça devido à ressaca de dois dias de bebedeira, vestiram as armaduras às pressas e montaram nos cavalos.
— Droga! Aquele maldito idiota!
Os soldados resmungavam, muitos sem tempo nem para amarrar os cadarços da armadura devido à pressa.
— Podia ter avisado antes!
— Aposto que foi a valente princesa de Garbera quem deu um chute na bunda dele!
Mal conseguiram se alinhar em formação antes de partir pelos portões de Birac. Como a partida foi decisão do príncipe, não havia multidão para se despedir.
Na vanguarda estavam os dragões montados nos Tengo de porte pequeno. A carruagem da princesa era protegida no centro pelos melhores guerreiros da Guarda Imperial, enquanto a cavalaria flanqueava a frente e a retaguarda, seus cascos ecoando à distância. Os soldados de infantaria reforçavam as defesas nos quatro cantos.
Puxando as gaiolas com vários Baians estavam os Houban de grande porte. Corpo achatado e oito pernas longas. Em aparência, pareciam aranhas gigantes cobertas de escamas.
Cerca de uma hora após deixarem Birac.
— Isso é estranho — um homem murmurou no final da coluna. Correntes prendiam seus braços a uma gaiola com dragões. O homem ao seu lado, visivelmente exausto, perguntou com os olhos o significado daquilo.
— O número de soldados diminuiu. Por que ele deixou parte das tropas em Birac, se já são poucas?
— Você está bem atento — outro homem atrás dele comentou. — Eu não tenho esse luxo. Aposto que desertaram. Se não fosse por essas correntes, eu faria o mesmo.
— Na verdade, ficaram para reforçar a guarnição em Birac…
— Pashir!
Nesse momento, um cavalo branco voltou da frente.
— Parece que ainda tem disposição para conversar. Quer que aumentemos o ritmo?
— Gil.
Orba olhou para baixo, de seu cavalo, para Pashir, que puxava a carroça de dragões. Seus olhos brilhavam sob a poeira que cobria seu rosto. Havia pouco mais de duzentos escravos de guerra. Mais da metade puxava as quatro carroças.
— Por que essa pressa? De qualquer forma, não temos soldados suficientes para defender a fortaleza. O que você está tramando dessa vez com essa cara de vilão?
— Não é problema de um escravo — Orba sorriu com desdém. — Aliás, que atitude é essa? Eu me dei ao trabalho de salvar sua pele. Não me faça arrepender disso.
— Então, se posso pedir um favor, príncipe herdeiro — Pashir falou com sarcasmo. Era o único que parecia capaz de caminhar por meses sem reclamar.
— O que seria? Ilumine-me.
— Quando chegarmos à fortaleza, deixe-me lutar com aquele gladiador, Orba. De espada longa, um contra um. Ou até mesmo sem armas. Será um belo espetáculo para animar suas festas.
— Já lutaram bastante em Solon, não?
— Esse cara…
Orba manteve a frieza, reprimindo um sorriso feroz que ameaçou surgir.
— Nenhum de nós morreu. A luta ainda não terminou!
— Se ele também quiser, te dou essa chance.
Orba sorriu e voltou a cavalgar para a frente.
Planícies de Domick — uma planície sem cor. Mas a cada passo dos cavalos, Orba sentia o ânimo renovar. Afinal, sua terra natal ficava perto de Apta. Embora tivesse memórias dolorosas, retornar após seis anos despertou emoções intensas.
Após duas paradas, quando o sol já lançava sombras, a paisagem começou a mudar. Rochas e areia deram lugar a vegetação. A alguns quilômetros, uma vila os aguardava, onde um mensageiro fora enviado antes. Passaram a noite ali, em uma vila com menos de duzentas casas.
No dia seguinte, adentraram a floresta. Os galhos entrelaçados formavam um teto, deixando a luz fraca. Era como avançar por uma caverna.
Apta era vital para Mephius por suas florestas e recursos. Tê-la perdido para Garbera foi um golpe duro. E agora, com seu retorno, o imperador enviou poucas tropas. Orba não entendia suas intenções.
Ele só enxerga o próprio umbigo? — chegou a pensar.
Mas logo voltou a se concentrar no presente. Organizou mentalmente as informações que Zaj Haman lhe dera sobre o oeste.
A oeste de Mephius, as Províncias Tauran, um conjunto de cidades-estado. Os zerdianos que ali viviam vagavam pelas terras altas perto da fronteira, como nômades da Fé Ryuujin. Há duzentos anos, ou mais, os povos das estepes, talvez por natureza nômade, viviam em conflito constante. Até que Jasch Bazgan apareceu.
Comandante da cavalaria Mephiana, ele arrancou os zerdianos de suas terras à força. A resistência foi feroz, mas com reforços de Mephius, ele resistiu. Recebeu então um dos dois selos soberanos da era dos reinos mágicos: a “Garra do Dragão”, dos anciãos nômades.
Jasch proclamou-se rei de “Zer Tauran” sob o nome do Deus Dragão. Transformou ruínas antigas em um grande templo e usou a Fé Ryuujin para unir as tribos.
Jasch então enviou uma carta ao imperador de Mephius, declarando-se igual. Furioso, o imperador enviou tropas, mas foi tarde demais. Não só foram repelidas, como Mephius perdeu territórios, mas o reinado de Jasch durou pouco. Quatro anos após sua coroação, ele morreu repentinamente. Alguns diziam que foi um castigo do Deus Dragão por sua arrogância; outros, que os anciãos o amaldiçoaram.
A família Bazgan tentou apressar um sucessor, mas a guerra civil já tinha começado. Sem coesão, os Bazgan fugiram da capital, Zer Illias, que um dia governaram. Uma das duas Garras ficou com eles; a outra, no templo, foi perdida. Com poucas tropas, os Bazgan chegaram à atual Taúlia.
Mephius tentou recuperar o território, mas entrou em guerra com um clã do sudeste (atualmente vassalos de Garbera). Enquanto isso, em Zer Illias, o sacerdote Garda tentou proteger o templo com cem seguidores e mercenários. Diziam que ele invocou magias tão terríveis que ainda assombravam os zerdianos.
Mas nem um mago podia deter milhares de cavaleiros. Zer Illias foi consumida pelo fogo. Antes de desaparecer, Garda declarou:
— Garantirei que a Garra do Dragão não caia em mãos erradas, mesmo que meu corpo vire cinzas!
A Garra nunca foi encontrada.
Zer Tauran mudou de governantes, mas a guerra civil a destruiu em menos de três anos. As cidades-estado surgiram, formando e rompendo alianças. Quando atacados por invasores, os zerdianos se uniam em “Cruzadas para proteger o Selo Soberano”.
Séculos de sangue e guerra se passaram.
Atualmente, o senhor feudal de Taúlia, Ax Bazgan, tinha 41 anos. Como o nome indicava, ele descendia da Casa Bazgan, que um dia governou o oeste.
Ele enfrentou o imperador Guhl Mephius, e sua hostilidade continuava.
Zaj mencionou que Ax se aproximou de Garbera durante a guerra de dez anos com Mephius.
Lembrando dos detalhes, Orba franziu a testa. Ax propôs a Garbera um ataque conjunto a Mephius, dirigindo-se ao avô de Vileena, Jeorg Owell. Claro, Jeorg já não estava no trono. Mas ao escolhê-lo, Ax mostrava que ele ainda tinha influência em Garbera, e que o rei atual, considerado inferior ao pai, cederia se Jeorg apoiasse a causa.
— Só de pensar nisso me enoja.
Jeorg, percebendo a jogada, ficou furioso. As negociações fracassaram.
Típico do homem que mais influenciou a princesa Vileena. Isso é um mérito.
Ax ainda o insultava como “aquele maldito velho”.
Orba sorriu brevemente.
Sentiu o vento começar a soprar, mas as folhas e galhos não se mexiam. Seria imaginação? De repente, a cinco metros de Orba, um cavaleiro e seu cavalo caíram. Os cavalos atrás pararam bruscamente, derrubando soldados.
Tiros ecoaram à frente e atrás.
Ignorando a poeira levantada, Orba puxou as rédeas com força.
— Avante!
Um pico elevado surgiu ao lado. Entre as árvores, atiradores se escondiam. Tendo previsto os dragões na vanguarda, miraram no grupo principal onde estava Gil.
Enquanto os soldados avançavam em pânico, Orba olhou para trás. A Guarda Imperial, liderada por Shique, protegia a carruagem.
Os tiros continuavam.
Orba girou o cavalo e se reuniu aos soldados em fuga. Viu seus atiradores montados, curvados, e deu uma ordem rápida.
A carruagem passou por ele.
— Príncipe!
Vileena olhou pela janela e seus olhos se encontraram por um instante.
— Nos vemos em Apta!
Imediatamente, ele se juntou a Gowen e a cavalaria da Guarda Imperial.
— Gowen, para frente!
— Entendido.
Liderando os soldados, Orba galopou pela encosta suave. Apertou-se contra o cavalo, sabendo que os tiros poderiam acertá-lo a qualquer momento. Avançou com determinação.
As feridas da arena em Solon doíam, especialmente a clavícula fraturada, mas ele as ignorou.
Entre as árvores, viu os inimigos.
Um deles se ajoelhou e apontou a arma.
Orba encarou o cano.
— FOGO!
Ao seu comando, a artilharia escondida sob o penhasco disparou. Enquanto distraía os inimigos, ordenara que se camuflassem entre as árvores. A maioria dos tiros atingiu arbustos ou galhos, mas alguns inimigos caíram, sangrando.
— ACABEM COM ELES!
Orba ergueu a espada com a mão esquerda e a brandiu. Com um grito de guerra, seus soldados avançaram colina acima.
Mas o inimigo reagiu rápido.
— RETIRADA!
Quando chegaram ao topo, os inimigos já estavam longe. Cerca de cinquenta homens desceram a encosta íngreme, onde as árvores formavam um labirinto. Não usavam armaduras e muitos vestiam trapos.
Gowen aproximou-se.
— Parecem bandidos comuns. Mas atacar um exército… têm coragem. Vamos persegui-los?
Orba negou com a cabeça. O inimigo conhecia o terreno e seu número era incerto. Era melhor se reunir ao grupo principal, mas algo o incomodava…
— O que foi? — Gowen olhou-o fixamente. — Você está com cara de quem achou o próprio túmulo em lugar estranho.
— Que forma interessante de dizer. Parece coisa que o Shique diria.
— Prefere que eu seja mais educado? Você não parece bem.
— Foi tudo muito repentino. Vamos!
Ignorando o olhar de Gowen, Orba voltou com os soldados.
Aquela voz…
O grito do comandante inimigo ainda ecoava em sua mente. Tinha o sotaque de sua terra natal.
Os tiros assustaram os soldados e cavalos, mas os mais perturbados foram os dragões. O Houban que puxava a carruagem imperial gritou, e os ocupantes temeram mais isso do que o ataque dos bandidos.
Os Baians nas gaiolas se agitaram, quase virando a carruagem, até que uma figura se aproximou sem medo.
Era Hou Ran. A jovem, montada em seu cavalo, tocou a pata do Houban, que poderia esmagar vários homens, e, num piscar de olhos, subiu em suas costas. Estendeu a mão para dentro da gaiola.
— Parece um domador de circo. Maravilhoso. Se um dragão pode se apegar assim a alguém, talvez possamos criar um de porte pequeno no palácio.
Theresia falou animada a Vileena, agora que tudo se acalmara.
— Acalme-se, Theresia. O príncipe está…
— Ali está ele. Voltando.
Vileena empurrou a cabeça de Theresia e olhou pela janela.
O grupo do príncipe se aproximava.
Ela suspirou aliviada. Com ele, nunca havia tédio.
— Príncipe.
Vileena chamou, inclinando-se para fora.
Gil reduziu a velocidade do cavalo. Parecia conversar com os escravos atrás da carruagem, que quase foram esmagados pelas gaiolas. Depois, voltou à frente.
Falava algo sorrindo. Hou Ran, montada no Houban, acenou.
Os raios de sol iluminavam seu sorriso discreto. Um sorriso maduro, mas adequado à sua idade. Após mais algumas palavras, o príncipe riu de novo.
— Algum problema?
— N-Nenhum.
Vileena recolheu-se rapidamente. Emoções confusas agitavam seu peito.
— Então você está a salvo. — O príncipe aproximou-se da carruagem.
— Graças aos seus esforços — respondeu secamente Vileena.
O príncipe pareceu achar aquilo adequado para uma princesa destemida e retomou a frente. Duas horas depois, sem parar, avistaram a Fortaleza de Apta.
Tradução feita por fãs.
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