Hoshizora no Shita – CapĂ­tulo 2

 

 

Hoshizora no Shita Kimi no koe Dake wo Dakishimeru

Abaixo do Céu Estrelado, Agarro-me Apenas à Sua Voz

Light Novel Online – CapĂ­tulo 02:
[Festival Cultural Com Eina]


Parte 1

 â€” Mais alguma ideia?

O representante de turma perguntou em frente à mesa do professor. Coisas como café, teatro, casa assombrada e fliperama estavam em suas anotaçÔes.

O festival cultural estava se aproximando. Uma vez que se tornou conhecido que nossa turma nĂŁo iria se decidir em tempo, esta reuniĂŁo sem entusiasmo algum foi convocada ao final da aula.

Eu estava calmamente assistindo o processo. Os membros de clubes de humanas de nossa escola nĂŁo estavam se ocupando com as coisas das classes porque estavam muito mais ocupados com as coisas de seus clubes.

Algumas escolas tinham coisas como clubes de esportes, mas a nossa nĂŁo tinha tantos. Inevitavelmente, as contribuiçÔes para as aulas acabaram se resumindo a praticar esportes ou apenas ir para casa. É claro que os clubes de humanas fariam algo para ajudar, mas o foco principal e ocupação de todos fazia acabar sempre da mesma forma:

— Darei o voto final então, levantem a mão para o que preferirem.

Levantei a mão quando citaram o café, mas a turma como um todo votou pela apresentação de uma peça.

— Uma peça, hein?

— Parece complicado.

— Mas vai ser divertido.

— Eu vou ser o aldeão A.

Meus colegas começaram a bater papo a respeito da peça.

— Agora, vamos decidir qual peça faremos.

Normalmente, algo seria usado como inspiração, tipo Cinderela, Branca de Neve, ou algum outro conto de fadas aleatório, jå que isso tornava tudo um pouco mais fåcil e råpido de organizar. Os estudantes eram amadores e também sofriam para memorizar as falas, então achei que uma peça inteira seria algo complicado demais.

Com a minha mente ocupada com vĂĄrios tipos de pensamentos, nĂŁo abri a boca. No final das contas, eu teria um papel irrelevante, e todos estavam escolhendo maneiras para se ajudar.

PorĂ©m…

— Seria bacana ter um roteiro original.

Graças à sugestão de uma garota, o foco da turma mudou para um roteiro original. Acho que todos estavam animados com o festival cultural, jå que isso acontece apenas uma vez por ano. Mas eu me preocupei sobre isso ser bom ou não. Afinal, fazer um roteiro original é algo bem difícil. Em primeiro lugar, como escreveríamos a história?

Mas é claro, eu não disse nada. Esta era uma oportunidade para todos darem sugestÔes e opiniÔes, eu não queria ser o chato criando empecilhos para tudo.

— Quem vai escrever a peça?

— Eu nunca escrevi nada.

— Nós temos algum Clube de Teatro?

— Não.

— EntĂŁo quem vai fazer isso…?

O que foi isso?

Todos os estudantes estavam olhando para trĂĄs. Eu tive a pĂ©ssima sensação de que estavam olhando para mim…

— Ah Ă©, nĂłs temos o Yagi-kun!

Uma garota que sĂł falou comigo umas trĂȘs vezes na vida apontou para mim.

— Eu? Eu não escrevo, não sabia?

— Mas vocĂȘ nĂŁo estĂĄ no Clube de Literatura?

— Estar no clube Ă© bem diferente de escrever.

A turma começou a vaiar e Sakai começou a rir de um canto, jå que sabia que eu não escrevo histórias.

Olhei para o assento ao meu lado, a Presidente Minekawa estava olhando para mim com uma carranca. O que foi, até ela deve ter pensado que eu devia escrever algo.

— Infelizmente não posso fazer isso.

Recusei-me a escrever, então ficamos o dia todo discutindo como deveríamos fazer a peça e cada um indicou que tipo de história queria. Foi algo bastante sombrio de se ver.



Eina: Boa noite, Shuu-san. Como vĂŁo as coisas?

Shuu: Estou editando.

Eina: Ah, para o festival cultural? VocĂȘ pode conseguir algo desta vez.

Shuu: É a Ășltima chance do terceiro ano, entĂŁo eles sempre contribuem com algo.

Eina: Huh, Shuu-san, vocĂȘ parece meio triste hoje.

Fiquei surpreso. Meus sentimentos estavam transparecendo na escrita? Como assim?

Shuu: SĂł um pouco aborrecido. NĂŁo Ă© nada de demais.

Contei para ela sobre a reuniĂŁo de classe apĂłs a aula.

Eina: Eles te vaiaram por vocĂȘ nĂŁo poder escrever um roteiro? Que horrĂ­vel!

Shuu: Eu nĂŁo devia ter deixado que criassem expectativas.

Eina: Mas vocĂȘ nĂŁo fez nada de errado.

Shuu: Obrigado. Me pergunto o que deverĂ­amos fazer. Se partirmos para algo original e coletarmos ideias de todos, nĂŁo acho que vamos conseguir em tempo…

Escrever algo jĂĄ Ă© bastante difĂ­cil, mas o maior problema viria depois. As falas precisariam ser memorizadas e ensaiadas. TerĂ­amos que preparar acessĂłrios e figurinos…

Eina: Shuu-san, Ă© sĂł uma sugestĂŁo, mas…

Shuu: O quĂȘ?

Eina: Talvez… eu possa escrever… o roteiro.

Shuu: VocĂȘ faria isso…?

Eina: Sim, vou tentar!

Shuu: Mas vocĂȘ nĂŁo estĂĄ ocupada?

Eu disse isso, mas sĂł entĂŁo percebi que nĂŁo sabia nada sobre seu cotidiano.

Eina: Não. Não frequento escola técnica e não faço parte de nenhum clube. Tenho tempo livre todos dias, então acho que seria divertido escrever.

Shuu: Sério?! Isso é ótimo!



— Todos, escutem.

No dia seguinte, depois da aula, fiquei em frente Ă  mesa do professor.

— Oh, Yagi, decidiu escrever um roteiro? — perguntou um garoto.

— NĂŁo vou, mas conheço alguĂ©m que vai. Eina, aquela que escreveu a Ășltima histĂłria do clube de literatura. — ApĂłs eu falar isso, a sala ficou completamente barulhenta.

— Eu li aquilo, foi bem interessante.

— A pessoa que escreveu aquilo deve ser capaz de escrever algo bom para usarmos, certo?

— Certo, todos que aprovam ter um roteiro escrito por Eina-san…

O representante de classe fez a votação, a maioria da turma aceitou.

— Obrigado. EntĂŁo, o que vocĂȘs querem? Os requisitos vĂŁo ajudar a escrever, fica mais fĂĄcil, entĂŁo quero saber suas ideias — disse eu.

— Quero um romance!

— Um final feliz!

— Um pouco de mistĂ©rio seria bom!

Tomei nota de tudo que pediram.

— Me pergunto que tipo de história vai ser essa!

— Espero que seja interessante!

Eu poderia dizer que a classe estava começando a elevar suas esperanças. Para ser sincero, eu também.

Eu poderia ler o próximo trabalho de Eina. Estava ansioso só por isso, mas agora também seria bom para a classe, não pude deixar de criar esperanças.

“Acho que estou ajudando mais do que o normal este ano”, pensei.

O clube de literatura tinha outros membros alĂ©m de mim, quando eu recebesse os materiais, poderia me dedicar exclusivamente Ă  necessidade da sala. Os terceiros anos tambĂ©m estavam ocupados estudando para os exames, entĂŁo todos acabavam ficando reunidos em suas respectivas salas, era um tipo de relação de mĂștuo benefĂ­cio.

E por causa disso, eu tinha discrição a respeito de como eram feitas as preparaçÔes do Clube de Literatura. O clube precisaria imprimir um folheto, encadernå-lo e colocå-lo para distribuição. Tudo bem, eu poderia fazer toda a edição em casa mesmo. Poderia encadernar na sala do clube, após as aulas. E se fizesse o meu melhor, poderia até mesmo ajudar na decoração.

— Shuu, venha aqui — sussurrou Sakai em meu ouvido — Eina-san está em nossa sala?

— Por que vocĂȘ quer saber isso?

— Bom, as pessoas não escreveriam um roteiro para outra turma, certo? — disse Sakai, estufando o peito com sua percepção.

— Tenho minhas dĂșvidas sobre isso — respondi me esquivando da pergunta.

Com esse tipo de questionamento, vocĂȘ nĂŁo poderia responder sĂł com sim ou nĂŁo. Qualquer coisa estaria fornecendo informaçÔes. Um “nĂŁo” pelo menos deixaria claro que ela nĂŁo estava em nossa sala.

— Kuh, vocĂȘ nĂŁo vai deixar nenhuma brecha, hein?

— Claro que não.

— Sua boca realmente Ă© um tĂșmulo, Shuu. Fica de boca fechada atĂ© mesmo quando conversando com seu melhor amigo do Clube de Jornalismo.

— Seria perigoso ser seu amigo se eu fosse um boca aberta, vocĂȘ seria capaz de escrever qualquer tipo de coisa.

— Eu sei o que devo ou não escrever.

Ele estava olhando para mim, mas eu nĂŁo pretendia falar nada sobre Eina.

Além disso, eu não sabia nada sobre ela para falar.

De repente, meu coração disparou. “Que sentimento Ă© esse…?”

Parte 2

No dia seguinte:

Eina: Shuu-san, como foi o dia de hoje?

Shuu: Eu preparei o material de edição. Tenho todas as ilustraçÔes e o design da capa que a Ruka-senpai fez, então só falta compilar os dados.

Eina: Oh! DĂȘ o seu melhor!

Shuu: E aĂ­? Como anda o roteiro?

Eina: Estou traçando um plano!

Shuu: Tudo bem, vamos dar o nosso melhor!

TrĂȘs dias depois:

Eina: Shuu-san, bom trabalho!

Shuu: Para vocĂȘ tambĂ©m.

Eina: Como foi seu dia?

Shuu: Fui para a escola, depois editei algumas coisas, o mesmo de sempre. Quero ajudar a classe antes do festival cultural, entĂŁo pensei em ir adiantando o trabalho do Clube de Literatura.

Eina: VocĂȘ Ă© um verdadeiro trabalhador, hein?

Shuu: NĂŁo sou, sĂł trabalho duro nas cosias que gosto.

Eina: Continua sendo algo incrĂ­vel.

Shuu: Obrigado, mas e aĂ­, como anda o roteiro?

Eina: Uhh, estĂĄ quase lĂĄ.

Shuu: Todo mundo estĂĄ ansioso por ele. AtĂ© eu. DĂȘ o seu melhor.

Uma semana depois:

         Normalmente, quem envia as mensagens primeiro Ă© a Eina, mas nĂŁo recebi nenhuma nos Ășltimos trĂȘs dias. É por isso que enviei uma mensagem logo apĂłs a aula daquele dia.

Shuu: Oi, como vai?

Sem resposta.

“O que hĂĄ de errado?”, pensei. Normalmente eu recebia as respostas quase que de imediato.

Talvez ela estivesse ocupada com o festival cultural de sua prĂłpria escola?

Conforme eu pensava, meu telefone vibrou.

Eina: Oi, como foi seu dia?

Shuu: Finalmente terminei de preparar tudo para os folhetos. Agora sĂł preciso comprar papel e imprimir.

Eina: Isso foi muito rĂĄpido!

Shuu: Sim, agora eu devo ser capaz de ajudar direito a minha classe. EntĂŁo, sobre o roteiro…

Eina: Umm, ah, umm… estou dando o meu melhor.

Shuu: Quando vocĂȘ acha que vai terminar?

As respostas pararam de novo, e a mensagem seguinte sĂł chegou de noite, pouco antes de eu dormir.

Eina: Acho que ainda vai demorar um pouco.

Shuu: Entendo…

Acho que escrever um roteiro e uma histĂłria realmente sĂŁo coisas diferentes. Pensei que ela poderia escrever um livro inteiro em apenas uma semana, visto que escreveu um conto em sĂł uma noite, mas talvez seja mais difĂ­cil.

No entanto, faltavam sĂł mais duas semanas para o festival. Se nĂŁo começåssemos a preparar os acessĂłrios e figurinos o quanto antes, nĂŁo conseguirĂ­amos em tempo. Os atores precisariam aprender suas falas e conhecer a peça tambĂ©m…

Na verdade, precisåvamos decidir quem ficaria com qual papel também.

Shuu: VocĂȘ poderia ir me enviando o que jĂĄ preparou? Se fizer assim, podemos jĂĄ começar a preparar os acessĂłrios e figurinos, alĂ©m de decidir quem farĂĄ o que.

Eina: O que eu jĂĄ preparei… Ummm… na verdade…

E entĂŁo, Eina enviou uma mensagem chocante.

Eina: Ainda nĂŁo escrevi nada.

— O quĂȘ?! — gritei no meu quarto.

Nenhuma palavra? Por quĂȘ?

“Não, não tenho tempo para descobrir o motivo.”

Isso é sério. Eu duvidava que ela pudesse escrever a peça dentro dos quinze dias restantes, além disso, mesmo se conseguisse, jå seria tarde demais.

Abri meus olhos enquanto meus pensamentos voltavam a entrar em ordem.

Vou falar com Ruka-senpai. Ela pode conhecer alguĂ©m capaz de preparar uma peça. Se pudermos pegar algum roteiro e colocar em prĂĄtica… AlĂ©m disso, um roteiro precisaria ser preparado para uma turma em especĂ­fico…

Eina: Shuu-san? Shuu-san?

Outra mensagem chegou e percebi que deixei a Ășltima marcada como lida e nem respondi.

Shuu: Foi mal, Eina. Esqueci de responder. Certo, então vou dizer para todos que escrever uma peça é complicado demais, não vamos conseguir em tempo, então vou procurar outro jeito.

Eina: Eh!!

Shuu: NĂŁo precisa se preocupar, todos vĂŁo entender. Para começo de conversa, vocĂȘ estava prestando um serviço voluntĂĄrio.

Vzzzzt, vzzzzt.

Meu telefone vibrou duas vezes, duas vibraçÔes longas.

Era uma ligação de Eina.

— E-ei…

Eina estava chorando. Sua voz tremia, estava fungando e chorando sem parar.

Eu acabei confuso, talvez nĂŁo devia ter enviado aquela Ășltima mensagem tĂŁo de repente.

Ela talvez tenha pensado que eu estava com raiva.

— Eina, eu nĂŁo estou com raiva, vocĂȘ nĂŁo precisa se preocupar. Fomos nĂłs que empurramos isso para vocĂȘ, entĂŁo pode seguir seu prĂłprio ritmo, nĂŁo precisa se preocupar, estĂĄ tudo bem.

— Mas…

Fiz uma careta. Ela estava entendendo alguma coisa errada. Foi quase como…

— Eina. Eu nĂŁo falo com vocĂȘ sĂł para vocĂȘ fazer peças ou escrever romances, sabia?

— É claro, acho maravilhoso quando vocĂȘ prepara algo, mas nĂŁo seria nenhum problema se vocĂȘ nĂŁo fizesse nada. AtĂ© porque eu mesmo nĂŁo consigo escrever.

— E por que deveria? Independentemente de vocĂȘ escrever ou nĂŁo, vocĂȘ Ă© vocĂȘ, minha preciosa…

Minha preciosa o quĂȘ?

NĂŁo consegui achar uma palavra adequada.

— Tanto faz, vocĂȘ nĂŁo precisa se esforçar.

— Por que eu acho… divertido.

Desta vez eu consegui falar. Eu realmente quis dizer isso. É muito divertido conversar com a Eina. Foi por isso que fiquei tĂŁo triste quando nĂŁo falei com ela pelos Ășltimos trĂȘs dias. Em algum momento, conversar com ela virou parte de minha vida.

Eina parecia querer gritar e explodiu em lĂĄgrimas do outro lado da linha.

— O que houve?! Eu disse algo que não devia?

— Tanto tempo?

As regras, para evitar que eu soubesse sobre ela, tanto quanto possĂ­vel. EntĂŁo eu nĂŁo consegui descobrir quem Eina era.

Mas…

— Sim — concordei com a ideia.

Eu queria saber mais sobre ela.

Minha respiração acabou ficando presa na garganta.

— VocĂȘ estĂĄ em segurança para falar agora?

Eu podia até imaginar uma garota escondida falando no telefone.

— …

< Gosto de ficar sozinha. Ter que ficar com todo mundo durante o perĂ­odo de aulas Ă© difĂ­cil, mas quando eu falei sobre, ninguĂ©m mais quis ser meu amigo… É um pouco doloroso ser solitĂĄrio. MamĂŁe e papai teriam dito que eu nĂŁo preciso me forçar a ir para a escola, mas minha tia e meu tio dizem que tenho que ir e ficam bravos se eu nĂŁo vou.>

Ela gosta de sonhar acordada.

Ela era diferente das pessoas ao seu redor, mas, na escola, pequenas diferenças podem ser tratadas como heresia. VocĂȘ poderia chamar isso de mĂĄ sorte, mas ninguĂ©m entendia Eina lĂĄ.

E era assim.

O celular até rangeu com o meu aperto.

Eu queria poder ir até ela e a abraçar.

Mas eu nĂŁo posso. Existem cinco anos nos separando.

Mas eu devia ao menos fazĂȘ-la entender.

— Estou ao seu lado. Agora e sempre.

Ela explodiu em lĂĄgrimas mais uma vez.

Chorou muito mesmo.

Mas… pode ser que chorar seja melhor.  Bem, ao menos chorar de felicidade Ă© bom, certo?

Me lembrei dela dizendo: “E se eu estiver morta em cinco anos?”

Eina entendeu. Entendeu que ninguém nunca sabe quando sua felicidade serå arruinada.

É por isso que vocĂȘ deve valorizar a felicidade que possui.



Ela parou de chorar e sua voz soou como um sussurro em meu ouvido.

— Sim?

— Ah Ă©, estĂĄvamos falando sobre isso.

— Eh?

— Entendo. Vou pedir para que todos esperem mais um pouco entĂŁo. NĂŁo se esforce, certo? Se vocĂȘ tiver algum problema, nĂŁo hesite em falar comigo sobre ele.

Eu nĂŁo pude ver seu rosto.

Mas, ainda assim, senti que ela estava sorrindo.

Parte 3

Quando acordei naquela manhĂŁ, recebi uma mensagem de Eina.

Era o roteiro.

Meu corpo inteiro ficou quente e corado.

Shuu: Obrigado, agora podemos começar a preparação da peça. Desculpe por te apressar.

Eina: Quando comecei a escrever nĂŁo consegui mais parar!

Shuu: Eina, vocĂȘ realmente possui talento para isso.

Por mais estranho que seja, nĂŁo fiquei com ciĂșme. Eu estava feliz por poder ler o que ela havia escrito.

Na mesma hora, transferi o arquivo para o meu laptop e imprimi uma cópia. É muito melhor ler algo que está em um papel. Coloquei o roteiro na mochila e fui para a escola, sentei no meu lugar e comecei a ler de imediato.

O roteiro era interessante.

Talvez porque ela estava consciente de que seria usado para uma peça, tudo correspondia a um gĂȘnero de fantasia. VocĂȘ poderia chamar isso de conto de fadas.

A protagonista era uma adolescente, intimidada por sua mĂŁe e irmĂŁ mais velha, sem nenhum amigo, vivendo em desespero. No desespero de sua prĂłpria vida, ela estava preparada para acabar com isso.

No entanto, um demÎnio ferido apareceu do nada diante dela. Ele havia sido perseguido por humanos, e a garota, de bom coração, tratou de suas feridas por instinto.

O demĂŽnio disse que iria realizar um de seus desejos como forma de agradecimento, e que, para isso, ela precisaria passar por trĂȘs testes.

O primeiro teste era ir sozinha para uma caverna nas montanhas e recuperar um baĂș do tesouro.

O segundo era ir ao quarto de sua mĂŁe aterrorizante e roubar uma chave. E o terceiro, o terceiro era usar o punhal dentro do baĂș para fazer um sacrifĂ­cio aos deuses.

Nesse ponto, o demĂŽnio ofereceu sua prĂłpria vida para conceber seu desejo, dizendo:

— Estou ao seu lado. Agora e sempre.

E colocando o punhal na mĂŁo dela. No entanto, a garota se recusou.

— NĂŁo consigo pensar em uma vida sem vocĂȘ. Quero estar contigo.

— Então não restam escolhas.

Usando magia, o demĂŽnio controlou sua mĂŁo e a fez o apunhalar no peito.

A garota, de luto, pensou em usar seu desejo para ressuscitar o demĂŽnio. Se ela fizesse isso, continuaria com a mesma vida. NĂŁo, poderia ser atĂ© uma pior, mas mesmo assim… ela ressuscitou ele. ApĂłs sua ressurreição, o demĂŽnio foi transformado em um humano.

Ele era, na verdade, um príncipe amaldiçoado, e a gentileza dela, junto com os sentimentos do príncipe, realizaram um milagre, quebrando a maldição.

Os dois fizeram juras de amor um para o outro e trocaram um beijo…

— Yagi…

— Sim?

Levantei minha cabeça e percebi que o professor de inglĂȘs estava me olhando. Eu nĂŁo notei sua aproximação.

Podia ouvir os outros alunos rindo, parece que a lição começou sem eu perceber.

— É bom trabalhar para o seu clube, mas preste atenção nas aulas.

— Eu sinto muito!

Rapidamente peguei meu livro de atividades. Mas o que eu deveria fazer?

— Página noventa, traduzir a segunda linha — soou uma voz ao meu lado.

Era a Presidente. Ela estava olhando para mim com uma expressão gélida. Eu senti um arrepio e abri o livro.

Felizmente, a frase não era muito difícil e eu traduzi sem problemas. O professor foi para o próximo aluno e voltei para o roteiro de Eina. Desta vez com uma caneta vermelha, pronto para as correçÔes.

Por fim, li tudo pelo menos umas duas vezes.

— Ahem.

Quando levantei a cabeça, encontrei o olhar do professor de matemåtica, era o terceiro período.

— Yagi, vocĂȘ jĂĄ terminou seu trabalho? EntĂŁo responda a esta pergunta.

Toda a turma começou a gargalhar.

— Cara, vocĂȘ realmente Ă© do tipo que ignora tudo que estĂĄ ao redor quando estĂĄ com algo em mente, hein?

— Eu sou? — perguntei em resposta.

— NĂŁo percebeu? — Sakai deu de ombros. — VocĂȘ nĂŁo notou todo mundo te cumprimentando pela manhĂŁ? Estavam dizendo coisas como “incrĂ­vel, o roteiro estĂĄ pronto!”, e, “teremos que agradecer a Eina”. E vocĂȘ ignorou todo mundo.

— Wah, sĂ©rio? Preciso pedir desculpas depois…

— Tudo bem, todo mundo sabe que vocĂȘ estava trabalhando a sĂ©rio no roteiro.

Enquanto conversåvamos, o representante de turma ficou à frente da mesa do professor e a reunião de classe começou. O roteiro chegou, então eståvamos começando os verdadeiros preparativos para a peça. Imprimi ele durante o intervalo do almoço e dei uma cópia para cada pessoa.

Hoje estaríamos discutindo quem ficara com qual parte. Isso, claro, se referia aos papéis, mas as pessoas também queriam trabalhar com figurinos, acessórios, cenårio, cada pessoa queria fazer uma coisa. Aqueles sem nada para fazer por um tempo provavelmente ajudariam com coisas ainda não terminadas, mas era importante fazer a delegação de funçÔes.

As pessoas que se colocariam em frente aos papéis seriam decididas.

Os figurinos, acessórios e cenårio foram delegados sem problemas e todos os papéis de apoio também foram definidos.

Eu estaria ajudando com o cenĂĄrio. Bom, eu nĂŁo era particularmente habilidoso com esse tipo de coisa, mas imaginei que poderia ajudar com um pouco de trabalho fĂ­sico.

Tudo o que sobrou foi o papel principal e seu par, o príncipe demÎnio. Provavelmente foi porque o roteiro tinha um romance direto entre os dois, então todo mundo estava com vergonha e não queria fazer parte. Havia até uma cena de beijo. Embora, claro, isso não seria feito de verdade.

EntĂŁo, ouvi uma cadeira se mover para trĂĄs ao meu lado, fazendo barulho.

A Presidente se endireitou e entĂŁo disse:

— Se ninguĂ©m quer, entĂŁo eu vou interpretar a personagem principal.

A turma começou a fazer barulho.

— A Presidente no papel principal…

— Ela se encaixa perfeitamente, não acha?

— Isso Ă© Ăłtimo!

Foi unĂąnime. Eu tambĂ©m achei que ela seria uma Ăłtima protagonista, sua beleza se encaixava perfeitamente na impressĂŁo que uma garota efĂȘmera deve passar.

— Eu tenho uma condição — disse ela, antes de pronunciar algo ultrajante. — Quero que o Clube de Literatura fique com o papel do príncipe.

A turma começou a fazer barulho mais uma vez.

— Yagi como seu par?

— Por quĂȘ?

— Ele tem alguma experiĂȘncia com atuação?

Cochichos começaram por todos os cantos. Percebi que todos estavam olhando para mim e fiquei tão surpreso que não consegui falar nada.

— Ele Ă© o Ășnico que conversou com a autora, entĂŁo Ă© o que entende a peça melhor aqui, entĂŁo deve ficar com o papel de prĂ­ncipe — disse a Presidente, olhando para mim com seus olhos frios. Parecia atĂ© que ela estava me impondo um dever.

— Se ela coloca assim, por que não?

— E o que disse faz sentido.

— DĂȘ o seu melhor, Yagi-kun!

A turma começou a concordar com a opinião dela. Dada a situação, eu não poderia recusar, então só consegui assentir.

Parte 4

— E aí, Casanova.

Sakai me deu um tapinha nas costas quando saímos dos portÔes da escola.

— NĂŁo enche…

Ele estava praticamente pulando enquanto eu me arrastava.

— Mas Ă© a verdade, nĂŁo Ă©? A Presidente te indicou, nĂŁo foi?

— Que diabos ela estava pensando? — Eu disse enquanto soltava um suspiro cansado.

— Exatamente o que ela disse, ela Ă© do tipo que sempre fala com sinceridade.

— Sim, sempre Ă© a justa da discussĂŁo.

Por isso que eu estava preocupado. Argumentos justos nem sempre sĂŁo gentis com as pessoas.

— Se eu tivesse que dizer algo, então seria que estou preocupado com ela estar te usando para acertar um cara ciumento.

— Não exagera.

— NĂŁo estou, ela Ă© a garota mais popular da nossa escola, lembra?

— Eh, ela Ă©?

Eu a achava bonita, mas nĂŁo achava que fosse tĂŁo popular.

— VocĂȘ nĂŁo sabia? Bem, acho que vocĂȘ nĂŁo faz o tipo de que avalia todas as garotas. — Sakai mostrou um sorrisinho sarcĂĄstico e continuou: — Ela jĂĄ Ă© popular sĂł por ser a Presidente do Conselho Estudantil, aĂ­ vocĂȘ soma a aparĂȘncia. Seria mais estranho se nĂŁo fosse tĂŁo popular. Se tivĂ©ssemos um concurso de beleza, ela ganhava fĂĄcil.

— VocĂȘ nĂŁo acha ela assustadora?

— É claro, a maior parte das pessoas, tipo meu chefe e as pessoas que interagem direto com ela dizem que sua franqueza Ă© assustadora, mas no geral acho que todos nĂŁo passam de invejosos.

Eu estava ficando cada vez mais deprimido. Se eu atuasse muito mal, minha vida social estaria acabada…

— Bem, dĂȘ o seu melhor. Estou torcendo por vocĂȘ. VocĂȘ tambĂ©m deve sentir algo por ela, nĂ©?

— Sai fora.

Eu queria pensar que meu rosto queimando não passava de imaginação.

Quando cheguei em casa, mandei uma mensagem para Eina falando sobre os acontecimentos do dia. Sobre como seu roteiro foi recebido e como eu acabei ficando com o papel do prĂ­ncipe…

Eina: VocĂȘ Ă© o prĂ­ncipe! Waaah, isso Ă© perfeito!

Eu podia dizer, sĂł pela mensagem, que ela estava animada, mas eu realmente nĂŁo consegui entender o que queria dizer.

Shuu: Sou sĂł um estudante comum, lembra?

Eina: Continua perfeito. Digo, moldei o prĂ­ncipe em vocĂȘ, entĂŁo ter a pessoa real interpretando ele me deixa muito feliz.

“Se ela estĂĄ indo tĂŁo longe, entĂŁo farei o meu melhor”, pensei.

Peguei o roteiro na mesma hora e o li em voz alta. SĂł por ler eu nĂŁo sabia se estaria bom ou nĂŁo, entĂŁo usei meu telefone para me gravar falando.

Depois que terminei a leitura, verifiquei a gravação…

— Isso… estĂĄ horrĂ­vel.

Me saĂ­ tĂŁo mal que nĂŁo poderia ser considerado sequer um ator amador.

— Vou comprar um livro sobre atuação.

Pedalei até uma livraria que ainda estaria aberta a essa hora da noite.

Depois da aula no dia seguinte, fizemos o primeiro ensaio. Meu estudo foi em vĂŁo e minha atuação continuou trĂĄgica. Na verdade, estava mais ou menos no mesmo nĂ­vel dos outros coadjuvantes, entĂŁo devia ser o normal para alguĂ©m sem experiĂȘncia.

Mas eu estava com um dos papéis principais, então continuou horrível.

— Ainda tem tempo, vocĂȘ vai conseguir, certo? — disse Sakai, mas nĂŁo era um consolo.

A Presidente estava ausente, aparentemente teve que fazer algum trabalho para o festival cultural como um todo. Desapontado, fui para a sala do Clube de Literatura. O final do dia estava chegando, mas eu queria fazer alguns preparativos para o clube. Planejamos ficar de portas abertas e distribuir livros, então ainda precisava de uma decoração.

Porém, eu não conseguia colocar minha mente para trabalhar e acabei não conseguindo fazer muitas coisas.

E depois…

— Clube de Literatura. — Fiquei surpreso ao escutar alguĂ©m falando.

A Presidente estava parada Ă  porta.

— Desculpe, já estou indo para casa.

Me desculpei reflexivamente. JĂĄ era muito tarde.

— Sou tão assustadora assim? — Suspirou a Presidente. Ela parecia estar um pouco para baixo, isso me fez sentir meio culpado.

— Não, só não quero correr o risco de perder nossa sala de novo.

— Posso esquecer sobre essas coisas. NĂŁo sigo todas as regras ao pĂ© da letra. Sei que vocĂȘ dĂĄ o melhor de si nas aulas e no clube.

— Certo.

Eu talvez tenha entendido mal o tipo de pessoa que ela era.

— Ei, Clube de Literatura. VocĂȘ tem tempo livre agora? Se tiver, quer ensaiar um pouco comigo?

Parte 5

O que eu faço?

Naquele momento, eu estava sozinho com a Presidente, andando sob o crepĂșsculo. NĂłs nĂŁo pudemos ficar na escola, entĂŁo estĂĄvamos indo para um parque que ficava perto.

NĂŁo conversamos muito, jĂĄ que ela sĂł falava sobre o que tinha que fazer.

Foi extremamente desconfortĂĄvel.

Olhei para ela. Como de costume, estava franzindo a testa. Talvez seja incrĂ­vel ela ser bonita mesmo mantendo essa expressĂŁo sempre.

Mas poderĂ­amos praticar algo com esta atmosfera?

Um anel de vida metafórico foi lançado para mim quando chegamos ao lugar e meu telefone vibrou com uma mensagem de Eina.

Eina: Boa noite, como vĂŁo os preparativos para o festival cultural?

Shuu: Ótimo timing! VocĂȘ estĂĄ livre agora? Posso ligar?

Eina: Poder pode, mas por quĂȘ?

Shuu: Estou prestes a praticar com a Presidente, mas… isso Ă© desconfortĂĄvel.

Eina: DesconfortĂĄvel? Por quĂȘ?

Shuu: Parece que ela me odeia.

Eina: VocĂȘs estĂŁo praticando juntos mesmo com ela te odiando?

Shuu: Sim. Não sou bom em atuação e ela estava ocupada com o Conselho Estudantil. Ela não é o tipo de pessoa que mistura sentimentos pessoais com os deveres.

Eina: Parece ser uma pessoa séria.

Shuu: Sim, mas nĂŁo consegue esconder seu mau humor, entĂŁo vocĂȘ pode nos ouvir praticar e fazer alguns comentĂĄrios. Seria mais fĂĄcil do que fazermos isso por nĂłs mesmos.

Eina: Entendido!

— Clube de Literatura, o que vocĂȘ estĂĄ fazendo?

— Estava conversando com a escritora, ela ouvirá nossa prática. Mas só pelo telefone, tudo bem?

— Pode ser. Eu gostaria de uma opiniĂŁo tambĂ©m.

Liguei para Eina e coloquei o telefone em viva voz.

— Prazer em conhecer tambĂ©m, Eina-san. EstĂĄ ouvindo?

Coloquei minhas coisas e telefone em um banco e enfrentei a Presidente com o roteiro em mĂŁos.

— Vamos pelo começo, primeiro a aparição da garota…

De repente, sua expressĂŁo mudou.

— Isso Ă© doloroso, tĂŁo doloroso. Talvez seria mais fĂĄcil se eu estivesse morta…

Sua expressĂŁo mudou para uma de desgosto. Como se estivesse prestes a chorar, mas estava fazendo de tudo para segurar as lĂĄgrimas.

Ela estava apenas olhando para baixo e hesitando enquanto falava, mas sua tristeza e dor realmente foram transmitidas.

Voltei para mim mesmo ao escutar a voz de Eina pelo telefone.

— Ah, foi mal. ‘Jovem senhora, posso pedir-lhe um simples favor? Emprestar-me-ia vossa mĂŁo? Minha perna estĂĄ ferida e nĂŁo suporto a dor.’

Terminamos a cena e a Presidente olhou fixamente para mim.

— Eu sei o que vocĂȘ quer dizer, tambĂ©m acho que fui horrĂ­vel.

A gentileza de Eina tornou tudo ainda mais doloroso.

— Muito bem. VocĂȘ aprendeu todas as falas direitinho, tambĂ©m estĂĄ fazendo os gestos corretos. Tudo o que vocĂȘ precisa agora Ă© praticar e refinar os movimentos.

As palavras da Presidente me acalmaram um pouco.

— VocĂȘ tem experiĂȘncia com atuação? — perguntei, mas ela balançou a cabeça negativamente. — EntĂŁo vocĂȘ Ă© uma gĂȘnia?

— Isso Ă© porque eu pratiquei muito…

Ela desviou o olhar.

Ela quis dizer que ficou acordada a noite toda? Deve que estaria muito ocupada quando o festival chegasse.

— Vamos para a prĂłxima cena. Vou dar um exemplo, entĂŁo use isso como referĂȘncia.

Uma hora depois:

— Vamos fazer uma pausa. — Fiz uma sugestĂŁo. — Vou pegar alguma bebida, vocĂȘ quer alguma coisa?

— Um refrigerante de cola — murmurou ela em resposta.

— Okay.

Deixei meu telefone no banco e fui até a loja mais próxima. Era hora do jantar, então o caixa estava lotado e levei um pouco mais de tempo do que imaginei para comprar as bebidas. Quando terminei, corri de volta para o parque.

A Presidente estava sentada no banco falando no meu telefone.

— Eu sei que ele nĂŁo Ă© mĂĄ pessoa. Ele Ă© bem trabalhador e tal, mas fico nervosa quando conversamos.

Em vez de ter seu ar sempre digno, a Presidente parecia uma garota normal, o que era uma experiĂȘncia nova para mim.

— Não vamos continuar praticando?

— Eh?

“Espera aĂ­, levar para a casa? A Presidente?”

Isso nĂŁo seria realmente desconfortĂĄvel? Mas Eina jĂĄ tinha desligado.

— O que estamos fazendo, Presidente? Quer continuar?

— TambĂ©m preciso ir para casa. Tenho um toque de recolher.

— Entendi.

— VocĂȘ vai mesmo me levar para casa?

— Bem, já está tarde.

— Obrigada… — murmurou ela.

NĂłs saĂ­mos, bebendo de nossas latas.

— Sobre o que vocĂȘ conversou com a Eina?

— Escola e outras coisas.

— Entendo.

NĂłs dois ficamos em silĂȘncio.

Nossa, aquilo foi realmente desconfortĂĄvel.

Eu nĂŁo sabia sobre o que falar e, como de costume, ela nĂŁo parecia inclinada a conversar comigo.

Por que a Eina disse que eu precisava levĂĄ-la para casa? NĂłs nem somos amantes ou coisa do tipo.

A prĂłxima vez que abrimos a boca acabou sendo quando chegamos em sua casa.

— Huh, isso Ă©… — NĂŁo pude deixar de falar.

Tínhamos chegado a um orfanato. Era um prédio pequeno que parecia com uma escola.

— VocĂȘ estĂĄ surpreso? — perguntou ela.

— Um pouco.

— Não faça essa cara. — Que tipo de cara eu estava fazendo? — Eu que escolhi isso para mim. Tive alguns problemas em casa. Gosto muito mais desse estilo de vida. Bom, seria mentira dizer que não havia nada de que eu gostasse, mas assim está melhor do que antes.

— O que vocĂȘ pensa sobre a universidade?

— Estou planejando fazer os exames para uma perto daqui. Se eu passar, entĂŁo posso ficar isenta das taxas por causa da renda familiar, entĂŁo devo ser capaz de conseguir uma bolsa de estudos se meus resultados forem bons. Tem dormitĂłrios, entĂŁo eu devo conseguir me virar com os custos de vida. Vou trabalhar para compensar as despesas e dar o meu melhor atĂ© me formar. Vai ser difĂ­cil arcar com os custos, mas realmente quero ir para a universidade.

A Presidente olhou para o prédio do orfanato enquanto falava. Seu rosto era forte, refinado e, acima de tudo, lindo.

Realmente nĂŁo sei nada sobre ela.

— Clube de Literatura, dĂȘ o seu melhor no festival — disse a Presidente, com um rosto muito mais gentil que o habitual.

— Claro.

— E… obrigada por me trazer para casa.

A Presidente desapareceu pela porta.

Suas Ășltimas palavras foram quase inaudĂ­veis.

Eu sorri, pensando que queria saber mais sobre ela.

Parte 6

A noite tinha chegado e eu estava relaxando no meu quarto depois de uma refeição e um bom banho, até que recebi uma mensagem de Eina.

Eina: Shuu-san, vocĂȘ sabia? Fufufu…

Shuu: Sabia o quĂȘ?

Eina: Que a Presidente nĂŁo te odeia?

Shuu: HĂŁ?

Eina: NĂłs conversamos sobre muitas coisas enquanto vocĂȘ foi buscar as bebidas, mas parece que a Presidente te trata duramente porque estĂĄ sempre nervosa. Haha, ser popular com certeza Ă© difĂ­cil!

Meu rosto ficou quente e vermelho.

Eina: Foi igual uma confissĂŁo! Tipo quando vocĂȘs vĂŁo para casa juntos depois do festival! É maravilhoso, nĂŁo Ă©? É como se vocĂȘ estivesse destinado a atuar com ela.

“O que Ă© esse sentimento…?”

Quando me disseram que a Presidente talvez não me odiasse e que poderia até mesmo gostar de mim, comecei a entrar em pùnico, confuso.

E entĂŁo percebi. Eu estava em pĂąnico devido ao medo de que a Eina pudesse entender mal os meus sentimentos. Ela achou que eu gostava da Presidente e estava sinceramente me apoiando nisso.

Mas isso parecia muito triste e solitĂĄrio para mim.

Fiquei chocado, porque eu acho isso? Eu nem tinha visto o rosto da Eina, e ela vivia cinco anos no passado, e nem mesmo podĂ­amos nos encontrar…

Shuu: Eu nĂŁo quero nada com a Presidente. Ela Ă© bonita, mas nĂŁo acho que gosto dela, entĂŁo nĂŁo vou fazer algo como confessar.

Eina: Eh? E-entendo… isso Ă© bom.

Shuu: Bom?

Eina: Ah, nada nĂŁo.

NĂłs dois paramos de trocar mensagens por algum tempo.

Shuu: Vamos dormir.

Eina: Boa noite.

Shuu: ‘Noite.

Parte 7

A quinzena seguinte passou voando. Naquela manhã, fui cedo para a escola e praticamos a peça.

Eu estava meio adormecido durante as aulas e, depois da aula, fizemos outro ensaio. Enquanto ensaiamos, nossos colegas ficaram ao redor da sala preparando os figurinos e acessĂłrios.

De repente, um estrondo enorme soou junto com o barulho de vidro quebrando.

A equipe de som estava testando alguns efeitos sonoros.

Havia até pessoas preparando holofotes com lùmpadas e celofane. Esse tipo de cena estava se repetindo em toda a escola. Todos lugares estavam entrando no ritmo do festival cultural.

Para usar um ditado comum, estavam vivendo o dia.

Mas, por algum motivo, me senti insatisfeito.

Eu não sabia o motivo. Tinha uma estranha sensação solitåria, como se um pequeno buraco tivesse sido aberto em meu coração.

Mas havia muito a fazer, entĂŁo nem tive tempo para pensar nisso. Tive que usar o meu tempo livre para encadernar alguns folhetos do Clube de Literatura.

E entĂŁo chegou o dia antes do festival, sexta-feira.

Depois da aula, percebi que a turma poderia ficar sem mim por algum tempo e fui até a sala do clube para decorå-la. Jå estava bem escuro do lado de fora, mas, só hoje, os professores não diriam nada se ficåssemos até mais tarde.

Quando cheguei, Ruka-senpai jĂĄ estava lĂĄ.

— Ótimo timing! Shuu-kun, vocĂȘ consegue me ajudar?

Ela estava em cima da mesa, tentando pendurar enfeites na lousa, mas não conseguia alcançar o lugar que queria. Estava se esticando tanto que parecia poder cair a qualquer momento.

— Deixa comigo, Senpai.

Troquei de lugar com ela na mesa e pendurei as decoraçÔes.

— Onde estão os outros dois?

— JĂĄ foram embora. Eles tĂȘm escola preparatĂłria. Eu gostaria que pudessem sentir o clima.

— É inevitĂĄvel, os exames nĂŁo vĂŁo esperar. VocĂȘ vai se sair bem?

— Hmm, em breve tambĂ©m terei que ir para a escola preparatĂłria.

— Então pode ir, eu cuido do resto.

— VocĂȘ tem certeza? Eu posso faltar…

— Está tudo bem, só falta a decoração.

Ela nĂŁo parecia muito feliz com isso, talvez estivesse esperando que eu desse um motivo para faltar.

— Certo. Obrigada. Ah Ă©, eu com certeza venho assistir Ă  peça amanhĂŁ! Boa sorte!

— Obrigado, mas então o que faremos aqui?

— Vou pedir para que Kobayashi-sensei nos cubra, ela Ă© nossa conselheira, entĂŁo estĂĄ tudo bem! AtĂ© mais!

Ruka-senpai saiu com passos barulhentos.

— Agora, vamos terminar logo.

Os outros jĂĄ tinham terminado, sĂł faltava organizar algumas coisinhas.

Coloquei vĂĄrias mesas juntas, tipo em um bar, joguei um pano por cima e organizei os folhetos encadernados em cima disso.

Não eram apenas os preparados para o festival, como também as publicaçÔes mais antigas que poderiam interessar a alguém.

Terminei e soltei um longo suspiro, olhando para fora das janelas.

A escola jĂĄ estava quieta, a maioria dos estudantes provavelmente tinha ido para casa.

O céu, escuro feito breu, tinha estrelas pontilhando-o.

“Me pergunto se Eina estĂĄ olhando para as mesmas estrelas”, pensei de braços cruzados.

A Eina com quem conversei era a Eina de cinco anos no passado, entĂŁo nĂŁo podia estar olhando para as estrelas. Mas… e a atual Eina?

Ela estava no mesmo planeta, ao mesmo tempo, olhando para as estrelas. Peguei meu telefone. NĂŁo tinha nenhuma mensagem. Eu estava muito ocupado no momento e nĂŁo podia conversar muito, entĂŁo nĂłs dois tĂ­nhamos trocado poucas palavras nos Ășltimos dias. Deslizando o dedo pela tela, liguei para ela.

Tocou uma vez e ela jĂĄ atendeu.

— Aqui Ă© o Shuu.

— Não, ainda estou na escola.

— Mas já estou indo para casa.

Eina estava completamente certa. Nos Ășltimos dias, minha vida se provou surpreendentemente gratificante.

— Pois Ă©. Praticar para a peça e preparar o Clube de Literatura Ă© divertido, mas… — Tendo ouvido a voz de Eina, eu sabia o motivo pelo qual me sentia sozinho. — Tenho certeza de que seria mais divertido se vocĂȘ tambĂ©m estivesse aqui.

Ela nĂŁo estava aqui. Eu nĂŁo sabia qual era o seu rosto, nome, nem idade, mas ainda sentia que ela devia estar ao meu lado. Eu queria conhecĂȘ-la.

Mas nĂŁo poderĂ­amos nos encontrar.

Porque ela vivia cinco anos no passado…

Se estivéssemos apenas a uma longa distùncia, então ainda poderíamos nos encontrar. Eu poderia pegar um trem ou até mesmo um avião. Mas o intervalo temporal era intransponível.

Sua voz clara e soprano entrou por meus ouvidos, quieta e solitĂĄria.

Pensei que a Eina talvez sentisse o mesmo que eu, e silenciosamente segurei sua voz em meu coração.

— Obrigado, Eina.

Ficamos em silĂȘncio por um tempo, ambos sem palavras. Mas meu coração estava Ă  vontade, talvez porque eu soubesse que estava em contato com ela pelo telefone.

Ela nĂŁo estava ao meu lado, mas eu nĂŁo me sentia nada sozinho.

— Olha…

Falamos juntos antes de ficarmos em silĂȘncio esperando que o outro continue.

— Pode falar.

— Sábado da semana que vem.

— O que vocĂȘ faz?

— Sair juntos?

Eu nĂŁo entendi o que ela quis dizer.

— Ah, vamos fazer isso.

Chequei o horĂĄrio.

Eu realmente tinha que ir logo para casa.

— Vou desligar, tenho que ir para casa.

— …

— Estava esperando vocĂȘ fazer isso.

Ambos rimos.

— No trĂȘs.

— Dois.

Nossas vozes se mesclaram com o som eletrĂŽnico quando desligamos. Mesmo apĂłs desligarmos, meu olhar permaneceu no telefone por algum tempo.

Parte 8

Era o dia do festival. Fiz alguns preparativos para o clube e depois fui para a sala de aula.

A sala de aula estava em tumulto enquanto as pessoas se apressavam para fazer maquiagem, preparar os figurinos e coordenar o uso de equipamentos de iluminação.

Procurei pela Presidente, querendo revisar tudo mais uma vez, mas nĂŁo consegui encontrĂĄ-la.

— A Presidente ainda está com o conselho estudantil? — perguntei para Sakai.

Ele fez uma cara estranhamente séria enquanto respondia.

— Ela ainda nĂŁo chegou Ă  escola. Perguntei ao conselho estudantil tambĂ©m, mas ninguĂ©m a viu.

Fiz um barulho que era um misto de choque e dĂșvida.

— Ela nĂŁo entrou em contato com vocĂȘ? — Ele me perguntou.

— NĂŁo, nem tenho o nĂșmero dela…

Eu caĂ­.

E depois:

— Presidente! VocĂȘ estĂĄ meio atrasada! — Uma garota gritou da porta. Olhei para ver a Presidente entrando lentamente na sala. Mas ela apenas deu uma olhadinha na direção da garota e sequer respondeu.

NĂŁo, ela respondeu, sua boca se moveu.

No entanto, sua voz não me alcançou. Tive um mau pressentimento quanto a isso.

— Presidente, vocĂȘ estĂĄ bem?

— Estou.

Ela se aproximou e pude ouvir sua voz.

Mas nĂŁo era seu tom soprano claro habitual, era uma voz rouca, e se eu nĂŁo tivesse visto abrindo a boca, nĂŁo saberia de quem era a voz.

Seus olhos estavam inchados e suas bochechas estavam coradas. Ela obviamente estava com febre. Até o jeito de andar parecia mais com um arrastar do que qualquer outra coisa.

— VocĂȘ obviamente nĂŁo estĂĄ.

— Desculpe, nĂŁo dormi na noite passada e estou cansada. Parece que tambĂ©m acabei pegando um resfriado — confessou ela.

— Por que vocĂȘ nĂŁo dormiu?

— Fiquei nervosa quando estava pensando sobre a apresentação de hoje.

— EntĂŁo atĂ© vocĂȘ fica nervosa…

— VocĂȘ pensou que eu era um robĂŽ ou coisa do tipo? — Ela franziu a testa com desgosto, estufando as bochechas.

— NĂŁo, Ă© que vocĂȘ sempre estĂĄ tĂŁo Ă  vontade para abordar todo mundo durante as assembleias e coisas do tipo, que…

— Isso Ă© porque estou sempre tentando dar o meu melhor. — Ela conseguiu concluir antes de começar um ataque de tosse.

O que devo fazer? NĂŁo parecia que ela poderia falar, entĂŁo atuar com essa voz seria bastante complicado.

— Teremos que encontrar algum substituto. Existe alguĂ©m… — No momento em que comecei a falar, as garotas viraram o olhar. — Oi, isso Ă© uma emergĂȘncia.

— Obviamente, ninguĂ©m quer… — Uma das garotas se apresentou como representante. — AlguĂ©m quer substituir a Presidente? Todo mundo estĂĄ vindo para vĂȘ-la, nĂŁo Ă©? Se aparecesse alguma de nĂłs, diriam coisas tipo: “O que Ă© que hĂĄ com este presunto?” Sem chances.

— Isso mesmo! Gritariam conosco por fazer que desperdicem o tempo caso aparecesse outra garota — acrescentou Sakai.

Logo depois, ele foi arrastado pelas garotas.

— EntĂŁo, teremos que fazer isso, mas Ă© bem complicado com essa voz.

— Ei, Clube de Literatura, vocĂȘ pode entrar em contato com a Eina-san? — perguntou a Presidente com a voz rouca.

— Hoje Ă© sĂĄbado, entĂŁo talvez eu consiga.

— VocĂȘ consegue?

Liguei para Eina, exatamente como foi solicitado.

— Eina-san?

— É a Presidente — eu disse a ela.

Ela soltou um ruĂ­do confuso.

— Peguei um resfriado. EntĂŁo, eu tenho um pedido…

A expressĂŁo da Presidente pareceu aliviar, parecia que as palavras de Eina a deixaram Ă  vontade.

E depois:

— Obrigada. EntĂŁo vocĂȘ faria a voz para o papel principal?

Ela falou com uma expressĂŁo sempre calma.

— Hã?

Falamos em unĂ­ssono.

— Espera aĂ­, quando vocĂȘ diz apenas a voz, quer dizer que ela pode fazer pelo telefone?

— É exatamente isso que quero dizer.

— Mas isso não ficaria óbvio e ela seria descoberta?

— Isso parece bom. A protagonista estava ferida e muda, então o demînio usa magia para que possamos ouvi-la, o que acha?

Se a autora disse isso, então funcionaria no mundo da ficção.

— Obrigada. Então o narrador vai informar isso.

— Eu te falei quando estĂĄvamos no parque com o Clube de Literatura, lembra? ‘Pratique vocĂȘ tambĂ©m.’

— NĂŁo, vocĂȘ pode fazer isso. Ou, para ser mais precisa, ninguĂ©m alĂ©m de vocĂȘ pode fazer isso. A protagonista Ă© vocĂȘ, nĂŁo Ă©? VocĂȘ nĂŁo precisa atuar, sĂł falar suas prĂłprias palavras.

— Isso tambĂ©m serve. Ela estĂĄ sofrendo e nĂŁo possui sentimentos. Sei que vocĂȘ pode fazer isso — disse a Presidente, antes de começar a tossir.

— Eina, vocĂȘ consegue ouvir como estĂĄ a voz dela, vocĂȘ vai fazer isso?

— E estamos prontos. Certo, vocĂȘ parece bem, Yagi-kun.

A garota encarregada pelos figurinos e maquiagem bateu em meu ombro.

— Obrigado…

— Estou sendo sincera.

— Nossa, tome a Presidente como exemplo. — Dei uma olhada de soslaio para ela.

Ela jĂĄ estava vestida como uma garota pobre e parecia efĂȘmera, como se pudesse desaparecer a qualquer instante.

Mesmo vestida com roupas tĂŁo esfiapadas, ela continuava charmosa. LĂĄ estava ela em silĂȘncio, olhando para o roteiro, fazendo suas Ășltimas verificaçÔes.

— Eina, está quase na hora. Está pronta?

Falei com meu telefone, ele estava conectado ao sistema de som.

Ela respondeu cheia de energia com uma voz que nĂŁo continha nenhum indĂ­cio de nervosismo.

NĂŁo devo ser o Ășnico nervoso.

Soltei um longo suspiro e me endireitei.

— Certo, vamos começar! — Gritou o representante de classe enquanto a Presidente corria para o palco.

Uma salva de palmas a saldou.

A voz de Eina ecoou pelo local.

Mesmo com sua voz passando pelo sistema de som, continuava linda.

Era um soprano perfeitamente claro e adorĂĄvel, agradĂĄvel de receber nos ouvidos.

E entĂŁo eu entrei na cena.

A sala de aula foi remodelada e transformada em um salĂŁo, ficou lotada e fiquei impressionado com um nĂșmero de espectadores maior do que eu esperei.

— Jovem senhora, posso pedir-lhe um simples favor? Emprestar-me-ia vossa mão? Minha perna está ferida e não suporto a dor.

Eu ficaria no palco pelo resto da apresentação.

Durante o primeiro e segundo teste, a Presidente e eu, junto com Eina, fizemos nossos papĂ©is… sem grandes erros. E entĂŁo, finalmente, chegou o terceiro teste.

— Estou ao seu lado. Agora e sempre.

Enquanto eu falava minha linha, entreguei o punhal para a garota, para a Presidente.

No entanto, nĂŁo consegui ouvir a voz de Eina.

O silĂȘncio reinou.

Olhei para a ala em que nossos colegas estavam, todos em pĂąnico.

O pĂșblico nĂŁo aprecia ter percebido que algo estava errado. “O que aconteceu, Eina? Por que vocĂȘ nĂŁo estĂĄ dizendo nada?”

Comecei a falar, mas de repente desisti. Eu nĂŁo deveria pensar nos sentimentos de Eina, deveria pensar nos personagens e no que eles sentiam.

O que a garota estava pensando?

Ela ficaria feliz, nĂŁo ficaria? Ao sentir seu amor.

E entĂŁo chegou. Ela estava tĂŁo feliz que nĂŁo conseguia expressar seus sentimentos.

Assim sendo…

— Eu… estou ao seu lado.

Logo depois que repeti a fala, lågrimas escorreram dos olhos da Presidente. Essas lågrimas podiam não passar de uma ilusão para parecer que estava sofrendo. Era como se Eina estivesse na minha frente, de pé comigo no palco.

Senti pena da Presidente ao colocar as coisas assim, mas eu a vi como se ela fosse Eina.

Eina falou sua linha de resposta.

Agora eståvamos avançando para o final feliz.

— Cara, isso foi brilhante.

Assim que a apresentação terminou, Sakai apareceu.

— SĂ©rio?

— Sim, o pĂșblico estava realmente interessado. Aqui, a gravação. — Sakai entregou-me um cartĂŁo de memĂłria.

— Obrigado, vocĂȘ me salvou.

Sakai tinha gravado a peça por seu telefone. Ele era um repórter do clube de jornalismo, então tinha que ter tudo sempre em mãos, assim sendo, o fiz gravar a peça toda.

— Ah Ă©, por que vocĂȘ nĂŁo conseguiu fazer que a Eina-san viesse? Teria sido melhor se ela estivesse aqui, nĂŁo acha? — perguntou Sakai. Ele provavelmente estava fazendo uma pergunta tĂŁo importante sĂł para saber quem ela era.

— Vai saber.

— Esguio como sempre, hein? VocĂȘ nunca deixa nada escapar.

— Claro que não.

Mesmo se eu deixasse, nĂŁo sabia nada sobre ela.

— Vou passar um tempo na sala do Clube de Literatura — disse e deixei Sakai para trás.

Corri para a sala do clube para me livrar da solidão assaltando o coração.

No caminho, enviei a gravação para Eina.

Depois de algum tempo, recebi uma resposta.

Eina: Isso foi incrĂ­vel, estou impressionada! É incrĂ­vel ver algo que eu escrevi no palco! Estou um pouco envergonhada, minha voz tambĂ©m fez parte disso…

Shuu: NĂŁo foi como vocĂȘ imaginou?

Eina: Foi exatamente como imaginei! NĂŁo, foi ainda melhor! Desde…

Shuu: Desde?

Eina: Eu imaginei seu rosto assim.

Foi a primeira vez que ela viu meu rosto.

Shuu: Estraguei sua impressĂŁo?

Eina: De forma alguma! Foi um tipo de… exatamente como pensei… Foi como vocĂȘ!

Com aquele comentårio com a cara da Eina, senti meu coração mais quente.



Foi o Ășltimo dia do festival.

Nossa escola teve um pĂłs-festival, limitado apenas aos alunos em atividade. Eles usaram um palco no ginĂĄsio, tinha uma banda voluntĂĄria e um show de luta profissional no salĂŁo.

Eu nĂŁo era do tipo que festeja, entĂŁo estava tomando algo no canto do corredor, assistindo as atividades distraĂ­do. Havia muitos outros fazendo o mesmo, entĂŁo nĂŁo me senti como se fosse um alienado.

— Clube de Literatura. — AlguĂ©m me deu um tapinha no ombro, era a Presidente.

— Está tudo bem, o Conselho Estudantil não está gerenciando isso?

— NĂŁo Ă© como se eu fizesse todo o trabalho sozinha — respondeu ela, tĂŁo alto quanto podia. A banda estava ressoando pelo salĂŁo, entĂŁo me senti meio triste por ela.

Gesticulei em direção do lado de fora com o olhar e ela assentiu. Saímos do ginåsio e fomos para a parte de trås do salão.

O vento noturno estava agradĂĄvel.

— Sinto muito mesmo — falou a Presidente enquanto caminhĂĄvamos. — Eu devia ter prestado mais atenção Ă  minha saĂșde.

— NĂŁo se preocupe, vocĂȘ estava ocupada. AlĂ©m disso, conseguiu atuar mesmo nessa condição, vocĂȘ foi incrĂ­vel.

A Presidente acabou se apresentando duas vezes, uma pela manhĂŁ e outra pela tarde. Na segunda vez, a voz dela estava melhor, entĂŁo ela mesma falou.

— F-fui…?

— Com certeza. VocĂȘ nĂŁo foi um incĂŽmodo para ninguĂ©m, atĂ© mesmo a Eina parece ter se divertido.

Estava sendo injusto com a Presidente, mas estava feliz por poder participar do festival cultural com a Eina, e ela estava feliz por isso tambĂ©m. Foi um verdadeiro golpe de sorte para nĂłs dois. Claro, eu nĂŁo contaria isso para a Presidente, nĂŁo poderia dizer que ela ter pego um resfriado, que ela ter ficado doente era algo “bom”, e seria rude para com a atuação dela tambĂ©m. Mas eu realmente queria que soubesse que nĂŁo causou nenhum problema.

— Obrigado por sua atuação incrĂ­vel, vocĂȘ se saiu realmente bem — falei, e ela desviou o olhar, seu rosto ligeiramente vermelho.

— TambĂ©m digo o mesmo. VocĂȘ tambĂ©m vai agradecer a Eina? JĂĄ estou indo!

A Presidente fugiu enquanto escondia o rosto.

“AtĂ© ela Ă© fofa de vez em quando”, pensei.

NĂŁo voltei para o salĂŁo e fiquei sentindo o vento noturno por algum tempo.


Tradução feita por fãs.
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