Hai to Gensou no Grimgar – EX 2: Capítulo 8 – Volume 14+

 

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[Capítulo 08: Até Eu Fechar Os Olhos]


relaçÔes humanas dentro da nossa party.

Por outro lado, se eu rejeitasse ela—mesmo que de forma sutil—a Shihoru provavelmente ficaria deprimida. E isso tambĂ©m seria um problema.

— Obrigado…! — Enquanto eu ainda matutava sobre tudo isso, Moguzo encerrou a luta com um Rage Brow.

Como ele gritava “Obrigado!” sempre que usava, a gente tinha apelidado de Thanks Slash.

A espada do Moguzo entrou no ombro do goblin e chegou até metade do peito.

Que força!

Com um grunhido, ele girou a espada e lançou o goblin pra longe, como se fosse uma piada.

— Yahoo! — Ranta correu atĂ© o goblin quase morto e começou a bater nele com a espada longa. — Gwahaha! TrĂȘs vĂ­cios seguidos! Agora tenho onze vĂ­cios no total! Meu demĂŽnio tĂĄ mais forte! Quando quiser, ele vai sussurrar no ouvido do inimigo pra distrair! Isso Ă© incrĂ­vel!

— Quando quiser…? — Haruhiro suspirou. — Seu demĂŽnio Ă© bem inĂștil, hein.

— Ei! Isso eu nĂŁo vou deixar passar, Haruhiro! Se vocĂȘ continuar falando mal do Zodiac-kun, vou te amaldiçoar!

— Mas vocĂȘ sĂł pode invocar ele Ă  noite…

Haruhiro dava atenção demais pro Ranta.

Se a gente sĂł ignorasse o que ele dizia, uma hora ele ficava carente e parava. O melhor era deixar ele pra lĂĄ.

Haruhiro provavelmente fazia isso porque era um cara legal. Diferente de mim.

Mas eu nĂŁo me importava. NĂŁo quando se tratava do Haruhiro.

Saímos de Altana às sete da manhã, e chegamos à Cidade Velha de Damuro por volta das oito. Jå devia ter passado do meio-dia. Decidimos fazer uma pausa e almoçar.

— Oh, tenho que rezar — disse Yume, cortando uma fatia fina da carne seca com a faca e deixando no chĂŁo. Depois juntou as mĂŁos e fechou os olhos. — Deus Branco Elhit-chan, obrigada por tudo. A Yume vai dividir um pouco da comidinha dela com vocĂȘ, entĂŁo continua cuidando dela, tĂĄ?

— Isso aĂ­ que vocĂȘ estĂĄ fazendo — disse Haruhiro, rasgando um pedaço de pĂŁo — Ă© aquele ritual que tĂĄ nas regras da guilda dos caçadores, nĂ©? De oferecer um pouco da comida pro deus.

— Isso mesmo. O Deus Branco Elhit-chan Ă© um lobo enoooorme, sabe? E tem tambĂ©m o Deus Negro Rigel, que tambĂ©m Ă© um lobo enoooorme. Os dois se odeiam pra caramba. Como Elhit-chan protege os caçadores, a gente consegue caçar todo dia sem acontecer nada ruim.

— EntĂŁo, basicamente, Ă© um tipo de culto. Os caçadores adoram o Deus Branco Elhit. Mas vocĂȘ chama ele de “Elhit-chan” e diz que vai dividir a comida. Tem certeza de que isso tĂĄ certo?

— Tudo bem — disse Yume, fazendo uma careta engraçada. — Elhit-chan Ă© compreensivo, entĂŁo a Yume acha que ele nĂŁo ficaria bravo com uma coisinha dessas, sabe? Na verdade, Elhit-chan nunca ficou bravo com a Yume.

— …Seus sentimentos — disse Shihoru, segurando com cuidado algo que parecia um bolinho. — Acho que Ă© isso que chega atĂ© o seu deus. Bom… Ă© sĂł o que eu acho…

Levei os lábios ao cantil de couro e tomei um gole d’água.

Que garota boa. Mas… se ela se apaixonasse por um cara como eu, nĂŁo ia dar em nada de bom.

— Sim — respondi. — As palavras que vocĂȘ usa sĂŁo importantes, mas o sentimento por trĂĄs delas Ă© ainda mais. As preces que nĂłs, sacerdotes, usamos pra magia de luz nĂŁo funcionam se falarmos errado, mas as oraçÔes que vocĂȘ faz pra Elhit nĂŁo devem ser assim.

— Yume coloca muito, muuuito sentimento na oração — disse Yume, abrindo os braços de forma exagerada. — Quando a Yume vai dormir Ă  noite, sabe? Elhit-chan aparece nos sonhos dela, tipo, direto. AĂ­ a Yume pergunta: “Posso montar nas suas costas, Elhit-chan?” E ele responde: “Claro.” DaĂ­ a Yume sai montada no Elhit-chan, correndo pra todo lado, vruuum! Elhit-chan Ă© super-rĂĄpido.

— …Essa histĂłria — disse Ranta, mastigando alto a carne seca, com uma cara de quem tinha chupado limĂŁo — tem um ponto, nĂ©? Eu fiquei quieto esse tempo todo ouvindo, entĂŁo se nĂŁo tiver um bom motivo pra tudo isso, eu vou surtar. TĂŽ falando sĂ©rio.

— Um ponto? — Yume piscou. — Não. Não tem não.

*Tropeça* Ranta gritou e fez aquela encenação de se jogar no chĂŁo. — VocĂȘ Ă© idiota, Ă© isso?! NĂŁo conta histĂłria comprida que nĂŁo leva a lugar nenhum! E se eu morrer afogado nesse redemoinho de expectativas frustradas, hein?!

— Pode morrer… — Shihoru disse com nojo. — Eu atĂ© queria que vocĂȘ morresse afogado…

— Aaah! — Ranta apontou pra ela na hora. — Ah! Aaaah! Eu ouvi isso! Eu ouvi, Shihoru! VocĂȘ acabou de me mandar morrer, nĂŁo foi?! Hein?!

— …Eu sĂł disse que queria que vocĂȘ morresse afogado.

— AtĂ© escolheu a causa da morte! Isso Ă© horrĂ­vel! O pior que uma pessoa pode fazer! VocĂȘ Ă© a garota mais podre e cruel de toda a histĂłria, sabia?!

E lĂĄ vamos nĂłs de novo. Aquele bate-boca de sempre.

Para ser sincero, eu nĂŁo conseguia me adaptar a essa atmosfera barulhenta. NĂŁo era desagradĂĄvel, mas eu sentia como se estivesse fora do lugar nela. Era estranho estar aqui.

Mesmo assim, eu não ficava emburrado nem observava tudo com indiferença. Tentava me envolver, de algum jeito.

Serå que era porque me sentia deslocado? Porque estava me forçando a acompanhar o ritmo? Era verdade, eu estava tentando acompanhar. Não dava pra dizer que não estava me forçando um pouco.

Mas, supondo que eu tivesse uma personalidade oculta, algo que nĂŁo mostrava pros outros… serĂĄ que eu tinha que mostrar isso pra alguĂ©m? SerĂĄ que esconder era errado?

Tirando o Ranta por um instante, o Haruhiro, a Yume, a Shihoru e o Moguzo provavelmente eram mais gentis do que a maioria das pessoas por aĂ­. Eram boas pessoas.

Até o Ranta, por mais egoísta e bagunceiro que fosse, não era maldoso.

Se eu fosse crĂ­tico, diria que meus companheiros eram ingĂȘnuos. NĂŁo conseguia imaginar a gente continuando assim pra sempre. Mais cedo ou mais tarde, todo mundo teria que mudar. Quisessem ou nĂŁo, isso ia acontecer.

Mas… era bom, nĂ©?

Esses momentos pequenos, em que a gente podia relaxar e brincar juntos, eram bons. Ter esse tipo de coisa era importante. NĂŁo importava o que acontecesse, eu achava que a gente nĂŁo devia perder isso.

O tempo que a gente estava passando agora… provavelmente era mais precioso do que todos nĂłs imaginĂĄvamos.

Como eu jĂĄ pensava antes, eu realmente nĂŁo conseguiria me dar bem com um cara como o Renji. Talvez a gente fosse parecido de certa forma, mas o que querĂ­amos, o que estĂĄvamos buscando, era diferente.

Estava começando a ter mais certeza. Era isso. Eu não tinha cometido um erro.

— Nós nos tornamos uma boa party — murmurei pra mim mesmo, sem querer.

— Huh? — Haruhiro me olhou, piscando.

— A gente jĂĄ consegue enfrentar atĂ© trĂȘs goblins ao mesmo tempo — falei com um sorriso. NinguĂ©m conseguiria notar a diferença, mas aquele nĂŁo era o meu sorriso forçado de sempre. — NinguĂ©m nem se machucou, entĂŁo acho que dĂĄ pra assumir que podemos enfrentar ainda mais. A Yume se sai muito melhor com o facĂŁo do que com o arco. Ela Ă© forte. Se pensarmos melhor na nossa estratĂ©gia, talvez consigamos lidar com quatro.

— Ah, sobre isso… — Haruhiro fez uma expressĂŁo pensativa.

Sim. Haruhiro estava mesmo começando a pensar como devia. Ele era um cara que sabia analisar as coisas e tomar decisÔes.

— É, quatro parece viável — ele concordou.

— Eu sabia que a gente podia contar com o Moguzo — falei. — Afinal, ele tem um corpĂŁo. SĂł de estar lĂĄ, jĂĄ intimida o inimigo. E com a tĂ©cnica de espada precisa dele, ele consegue fazer o que precisa ser feito.

— Eu tava pensando isso tambĂ©m — disse Haruhiro. — O Moguzo tem talento.

—…S-SĂ©rio? VocĂȘs acham? — Moguzo abaixou a cabeça, sem graça. — N-NĂŁo sei por quĂȘ, m-mas, eu gosto de fazer coisas detalhadas…

— Isso nĂŁo combina com vocĂȘ! — gritou Ranta, indignado.

— É… eu tambĂ©m acho que nĂŁo…

— Ei, isso Ă© algo bom — disse Haruhiro, encarando Ranta. — O Moguzo nĂŁo Ă© desleixado, ao contrĂĄrio de certas pessoas.

— Oh? Isso foi pra mim? Tá dizendo isso pra mim, o cara que chamam de Máquina de Precisão Veloz como o Vento?

— NinguĂ©m nunca te chamou disso, Ranta — disse Yume, com os olhos frios como gelo.

Se eles pegassem tão pesado assim, até o Ranta ficava abatido.

— O Ranta tambĂ©m Ă© impressionante — escolhi bem minhas palavras, pra que nĂŁo soasse como um elogio vazio. — Especialmente pela forma como ele tĂĄ sempre pronto pra atacar. Ele nĂŁo tem medo de errar, e acho que foi quem mais rĂĄpido melhorou o uso das habilidades. O resto de nĂłs, inclusive eu, Ă© mais cauteloso. Sem o Ranta, talvez a gente nem desse o prĂłximo passo.

— S-Sim, acho que Ă© isso, nĂ©? — Ranta claramente ficou feliz. Dava pra ver pelas narinas inflando. — Bom, vocĂȘs sabem como me chamam. A MĂĄquina de Avanço com a Força de um FuracĂŁo, nĂ©?

— E o que aconteceu com a MĂĄquina de PrecisĂŁo Veloz como o Vento? — retrucou Haruhiro, jĂĄ sem paciĂȘncia.

— Quanto Ă  Shihoru… — Por um instante, hesitei.

O que eu devia fazer? O que eu tinha que fazer aqui? No momento, nĂŁo conseguia enxergar a melhor resposta.

Mas nĂŁo precisava ter pressa, certo? Eu nĂŁo era como o Renji, que queria chegar no topo a qualquer custo. Podia deixar essa questĂŁo pra depois. Talvez um dia eu encontrasse uma forma de lidar com isso.

—…A Shihoru tĂĄ sempre atenta ao que acontece ao redor. A magia Darsh tem muitos feitiços que confundem ou prendem o inimigo, se nĂŁo me engano. Isso permite que ela ajude a gente quando for preciso. VocĂȘ queria aprender magia Darsh pra ajudar mais a party, nĂŁo era, Shihoru?

Shihoru ficou com a boca entreaberta por um momento, me olhando em silĂȘncio, surpresa. Depois, sem dizer nada, assentiu com a cabeça. Ela baixou o rosto e puxou o chapĂ©u pra esconder a expressĂŁo.

Eu achava ela fofa, sim. Mas havia uma distĂąncia considerĂĄvel entre o que eu sentia e o que a Shihoru queria que eu sentisse por ela.

Mesmo assim, ninguém podia dizer que essa distùncia nunca poderia ser superada. Eu não sabia o que o futuro reservava.

Olhei para a Yume.

— Acho que a Yume talvez seja a mais corajosa de todos nĂłs. Ela nĂŁo tem medo de nada. Como curandeiro, eu gostaria que ela fosse um pouco mais cuidadosa, mas tambĂ©m fico aliviado em saber que ela vai estar lĂĄ pra ajudar, aconteça o que acontecer.

— A Yume Ă©? — O rosto da Yume se abriu num sorriso que, com certeza, sĂł ela conseguia fazer. — SĂ©rio? A Yume Ă© mesmo tĂŁo corajosa assim? A Yume acha que nunca ouviu isso antes. Mas, pensando bem, talvez ela nĂŁo ache muitas coisas assustadoras mesmo. A Yume espera que vocĂȘs perdoem o fato de ela ser uma caçadora que nĂŁo sabe usar arco.

— Todo mundo tem fraquezas e coisas que nĂŁo consegue fazer — falei. — Quando vocĂȘ tĂĄ sozinho, essas falhas podem ser fatais, mas nĂłs somos uma party. Podemos compensar as falhas uns dos outros.

— Ah, Ă© mesmo — disse Yume, radiante. — Isso aĂ­. A Yume talvez acabe dando um pouco de trabalho pra vocĂȘs daqui pra frente, mas vai fazer o seu mĂĄximo.

Algum tempo depois, percebi que nĂŁo tinha falado nada do Haruhiro. Bem, isso podia esperar. Eu queria conversar com ele a sĂłs. Assim, poderĂ­amos nos aprofundar mais.

Como ladrão, Haruhiro fazia o papel intermediårio entre a linha de frente e a retaguarda. Tinha que observar o panorama e reagir às situaçÔes de vårias maneiras. Ele também era nosso batedor, então era o segundo mais versåtil da party, depois de mim. Em certo sentido, era nosso segundo comandante. Haruhiro se encaixou bem nesse papel.

Eu nĂŁo podia fazer tudo sozinho, entĂŁo alguĂ©m teria que me cobrir em certas coisas. E, por ora, o Ășnico que poderia fazer isso era o Haruhiro.

Bom, era isso que eu queria que acontecesse com o tempo. Seria ruim colocar pressĂŁo demais nele de forma estranha, entĂŁo nĂŁo havia por que apressar.

A gente ainda tava preparando o terreno. Quando a base estivesse firme, construirĂ­amos em cima dela. NĂŁo podia deixar a sombra do Renji, que jĂĄ estava lĂĄ na frente, me confundir.

Na parte da tarde, Haruhiro voltou da patrulha um pouco mais animado do que o normal.

— Isso Ă© loucura — ele disse. — SĂŁo sĂł dois, mas um deles Ă© enorme. Pode ser do meu tamanho.

— Um hobgoblin — meus olhos se arregalaram um pouco. — SĂŁo uma subespĂ©cie de goblins, com um porte maior que os normais. Uns brutamontes burros que os goblins usam como escravos. Deve ser isso.

— Ah, Ă©? — Ranta lambeu os lĂĄbios. — Se ele tem um escravo, entĂŁo pode ser um goblin de alta patente, nĂ©? Se for, deve ter um saque bem da hora, com certeza.

Haruhiro acariciou o queixo.

—…Ele tava usando uma armadura de placas. O hobgoblin usava cota de malha tambĂ©m. E um elmo. Talvez atĂ© desse pra algum de nĂłs usar.

— Ooh… — Moguzo gemeu.

— Dois, huh — abaixei os olhos, pensando.

Um goblin com armadura de placas e um hobgoblin com cota de malha. Eu nĂŁo podia afirmar nada antes de ver com meus prĂłprios olhos, mas parecia viĂĄvel.

— Hmm — Yume olhou pra cima, meio de lado. — A Yume acha que dá pra encarar os dois, sim.

— Se eu… — Shihoru apertou o cajado. —…acertar um deles com um feitiço logo no começo, acho que o resto vai ser mais fĂĄcil… acho.

— A Yume tambĂ©m vai tentar atirar umas flechas. Mesmo que erre, os goblins ficam assustados, e aĂ­ vocĂȘs podem partir pra cima.

Olhei ao redor para meus companheiros. Parecia que todos estavam prontos pra ação. Menos o Haruhiro.

Ele também tinha demonstrado empolgação quando voltou da patrulha, mas agora parecia mais contido.

Era isso. Era esse lado do Haruhiro que eu admirava. Talvez eu me identificasse com ele. Com o tempo, eu e Haruhiro conseguirĂ­amos conversar de forma mais aberta. Eu sentia isso.

Quando Haruhiro disse “Então vamos nessa”, aquilo decidiu por mim.

Assenti com a cabeça.

— Certo, vamos.

Com o plano traçado, formamos um círculo, e todos colocaram as mãos no centro. Não podíamos gritar em território inimigo, então quando eu disse baixinho “Fighto”, todos levantaram as mãos e responderam de forma contida: — Ippatsu!

Com esse nosso pequeno ritual encerrado, Haruhiro inclinou a cabeça de lado.

— …O que serĂĄ que Ă© esse fighto ippatsu?

— …NĂŁo sei — Shihoru tambĂ©m inclinou a cabeça, intrigada. — Mas me dĂĄ uma sensação estranha… uma nostalgia vaga.

— A Yume sente isso tambĂ©m. Mas nĂŁo sabe por quĂȘ. É estranho, nĂ©?

Desde que começamos a vir para Damuro, adotamos o hĂĄbito de formar um cĂ­rculo antes de enfrentar inimigos que pareciam meio difĂ­ceis. Ficar em silĂȘncio era meio esquisito, entĂŁo eu sĂł soltei um “Fighto”. E os outros responderam “Ippatsu!”. Desde aquela primeira vez, virou nossa tradição. Tinha a sensação de que jĂĄ conhecia aquilo de algum lugar, mas nĂŁo conseguia lembrar de onde. Algo ali parecia fora do lugar.

Isso acontecia muito.

SerĂĄ que algum dia conseguirĂ­amos lembrar?

Haruhiro levou Yume e Shihoru com ele, aproximando-se da construção de dois andares onde estavam o goblin e o hobgoblin.

Eu, Ranta e Moguzo seguimos logo atrĂĄs, a uns seis ou sete metros de distĂąncia.

Primeiro, chegaríamos o mais perto possível sem sermos notados. Até aí, tudo bem.

Haruhiro e as garotas se esconderam atrĂĄs de uma parede, a cerca de quinze metros do prĂ©dio de dois andares. NĂłs ficamos posicionados uns trĂȘs metros atrĂĄs deles.

LĂĄ estava. No segundo andar, que parecia mais uma sacada depois de ter praticamente desabado, havia um goblin com armadura de placas.

O goblin de armadura.

O hobgoblin estava sentado no primeiro andar.

O goblin de armadura e o hobgoblin. SĂł os dois, de fato.

Shihoru levou uma mĂŁo ao peito e respirou fundo. Yume armou uma flecha.

Eles ainda nĂŁo tinham nos notado.

Shihoru e Yume inclinaram o corpo, mostrando apenas a parte de cima por trĂĄs da parede.

Shihoru começou a entoar um feitiço.

— Ohm, rel, ect, vel, darsh…!

Vuuuon. Era Shadow Beat.

Quase no mesmo instante em que o elemental de sombra saiu da ponta do cajado da Shihoru, Yume disparou sua flecha. A flecha, que visava o goblin de armadura, passou longe. Mas o elemental atingiu o braço do hobgoblin.

Enquanto o hobgoblin se contorcia, tremendo, o goblin de armadura olhou em nossa direção.

Haruhiro gritou: — Fomos vistos!

— Vamos entrar! — dei a ordem, saltando na hora.

O hobgoblin pĂŽs o elmo que estava a seus pĂ©s, levantou-se e pegou uma clava com pontas de ferro, mas parecia instĂĄvel. O goblin de armadura tambĂ©m pegou algo. Aquilo era… uma besta? Nunca tĂ­nhamos enfrentado um goblin com uma daquelas.

Tentei gritar um alerta. Mas nĂŁo deu tempo.

O goblin de armadura mirou rapidamente e puxou o gatilho.

Era rĂĄpido. O virote voou muito mais veloz que uma flecha comum.

— Aaagh…! — Haruhiro foi atingido e se agachou.

Shihoru soltou um gritinho. Yume passou um braço pelas costas de Haruhiro.

— Haru-kun…?!

Haruhiro arfava, com uma expressĂŁo de dor intensa. Isso nĂŁo era nada bom.

— Haruhiro! — corri atĂ© ele, arrancando o virote de uma vez. O sangue jorrava.

RĂĄpido, rĂĄpido, rĂĄpido. Mas sem pĂąnico, pensei.

Fiz o sinal do hexagrama, visualizei uma luz em minha mente e concentrei essa luz em todos os nervos enquanto recitava a prece.

— Ó Luz, que a proteção divina de Lumiaris esteja sobre vocĂȘ… Cure.

A luz que emanou das minhas mãos começou a fechar os ferimentos dele.

Mais rĂĄpido. Mais rĂĄpido. NĂŁo, calma. Apressar as coisas nĂŁo vai fazer ele se curar mais rĂĄpido. JĂĄ estĂĄ quase… SĂł mais um pouco—

— M-Manato…! — Ranta gritou. — Anda logo! N-NĂŁo vamos aguentar muito mais…!

— JĂĄ tĂĄ melhor, nĂ©?! — SaĂ­ correndo antes que Haruhiro pudesse sequer confirmar com a cabeça.

Moguzo trocava golpes com o hobgoblin, enquanto Ranta e Yume enfrentavam o goblin de armadura.

Comparado ao Moguzo, Ranta parecia em apuros. Eu precisava que Moguzo segurasse o hobgoblin com o apoio da Shihoru e do Haruhiro. Olhando para eles, jĂĄ estavam fazendo isso, sem que eu precisasse dizer nada.

Por ora, eu precisava trocar com o Ranta e—

tentei me aproximar, mas o goblin de armadura percebeu. Ele encurtou a distùncia até o Ranta, fingindo ataques violentos para a esquerda e para a direita.

Ranta foi forçado a recuar. Assim não ia dar pra me enfiar no meio dos dois.

Yume, por outro lado, corria de um lado para o outro, perdida.

— M-Merda! Merda! Droga! Vai pro inferno…! — Ranta foi sendo empurrado para trĂĄs, atĂ© que, provavelmente num Ășltimo esforço, deu um salto para trĂĄs para escapar do goblin de armadura.

Aquilo me pegou de surpresa, mas o goblin de armadura o acompanhou sem dificuldades. Avançou e desferiu um Ășnico golpe com a espada.

Sangue fresco espirrou.

O pescoço.

A espada do goblin de armadura havia cortado o pescoço do Ranta.

Parecia ter atingido uma veia.

— Yume! Faz alguma coisa…! — gritei, desferindo um golpe forte no goblin de armadura. Assim que conseguisse afastĂĄ-lo, deixaria ele com a Yume. Ranta tinha caĂ­do, fraco, no chĂŁo.

Preciso tratĂĄ-lo. NĂŁo, talvez eu nĂŁo consiga…

— Fwah…! — Yume jĂĄ estava no limite.

Enquanto verificava os ferimentos do Ranta, gritei: — Haruhiro, vem aqui! O Ranta caiu…!

— O quĂȘ?! O-O pescoço dele…?! — Haruhiro parecia surpreso com a sĂșbita reviravolta, mas reagiu rĂĄpido, o que ajudou muito. — Ei, goblin, por aqui!

— DĂłi… — Ranta gemeu. — M-Manato, eu, eu, eu…

— VocĂȘ vai ficar bem, Ranta! Vou te curar rapidinho! — Respirei fundo, fiz o sinal do hexagrama. — Ó Luz, que a proteção divina de Lumiaris esteja sobre vocĂȘ… Cure!

— Nngh… Fuhhh, ahhh, kuh… Ngah, droga! Ah…!

— Brush Clearer…! — Yume atacava o goblin de armadura. NĂŁo, aquele barulho… SerĂĄ que o ataque dela foi rebatido?

— Assim nĂŁo dĂĄ…! — Parecia que Haruhiro tinha intervindo para ajudar. — Ai…!

— Ranta! — Bati com força nas costas dele.

— É isso aĂ­! — Ranta se animou e avançou contra o goblin de armadura. — Anger…!

O goblin de armadura se agachou, desviando do Anger do Ranta. Contra-atacou na mesma hora.

Agora que estava na defensiva, os movimentos do Ranta estavam visivelmente mais lentos. Mesmo com o ferimento fechado, ele ainda não tinha recuperado o sangue que perdeu. Devia estar lutando para se manter em pé.

— Maldição! Que porcaria! VocĂȘ Ă© sĂł um goblin de merda…! — Ranta gritou.

Mesmo assim, ele precisava aguentar firme.

— Haruhiro! — Corri atĂ© ele.

Haruhiro tinha um corte profundo no braço direito. Isso significava que ele não podia usar a mão dominante. Se eu não curasse aquilo, ele não ia conseguir lutar.

— Ó Luz, que a proteção divina de Lumiaris esteja sobre vocĂȘ… Cure.

Que sensação era aquela de exaustão? Era como se a vida estivesse sendo drenada de mim. Mas eu não podia deixar isso me atrapalhar.

Concentração. Eu preciso me concentrar. É tudo psicológico. Eu não estou exausto de verdade.

— …Certo — Toquei o braço direito do Haruhiro. Estava curado. Tudo certo.

Moguzo continuava ocupando o hobgoblin, e mesmo sofrendo, Ranta ainda aguentava firme. Shihoru devia ter usado magia demais. Estava com uma expressĂŁo exausta.

Mas eu ainda estava bem o suficiente pra continuar.

A gente ainda conseguia. Eu estava conseguindo enxergar o quadro todo. Na verdade, estava enxergando até bem demais. Parecia que a Yume tinha um corte no braço, mais pra parte de cima.

— Yume, vem aqui! Vou te curar! — chamei.

— Yume tá bem! Ainda consegue lutar!

— Só vem logo! Haruhiro, troca de lugar com a Yume!

— …TĂŽ indo! — Haruhiro saiu, e Yume veio ocupar o lugar dele.

VocĂȘ parece inquieta, Yume. Tudo bem. Vai ficar tudo bem.

Sorri para a Yume e comecei a curĂĄ-la.

— Ó Luz, que a proteção divina de Lumiaris esteja sobre vocĂȘ… Cure…!

Serå que usei magia demais? Esse pensamento passou brevemente pela minha cabeça. Não, não é verdade. Eu vou curar ela. Só preciso me concentrar e fechar os ferimentos. Tå tudo certo. Olha. Jå terminei.

Senti uma tontura.

É coisa da minha cabeça.

Balancei a cabeça e falei com a Yume: — Vamos nessa!

Eu vejo. TÎ vendo tudo. Moguzo. Ele tå se virando sozinho, mas tå difícil. Aposto que ele não vai conseguir terminar aquilo sozinho. Ranta e Haruhiro também. Estão com dificuldades contra o goblin de armadura.

— Haruhiro, ajuda o Moguzo! — gritei.

Haruhiro assentiu.

Certo. Isso foi bom. Quanto ao goblin de armadura, eu ficaria na frente dele, e deixaria Ranta e Yume atacarem pelos lados.

Eu tinha que fazer isso. Com esse cajado curto?

Droga. Odeio esse troço. Se ao menos eu tivesse uma espada…

Sacerdotes nĂŁo podiam usar armas cortantes em combate. Que regra idiota. Mas eu ia fazer o que precisava ser feito.

— Ngahhhhhh! — rugiu o hobgoblin.

— Urrh! — gritou Moguzo.

— Ngah! Ngah! Ngah!

O quĂȘ? O que aconteceu? Era o hobgoblin. Ele estava desferindo golpe apĂłs golpe no Moguzo.

— Ngah! Ngah! Ngah! Ngah! Ngahhhh…!!

— Ungh…! — Moguzo finalmente foi forçado a se ajoelhar. Sangrava pela cabeça.

Foi aĂ­ que Haruhiro se agarrou nas costas do hobgoblin. Ele se debatia, tentando derrubĂĄ-lo, mas Haruhiro nĂŁo largava.

— Uwaah! Ohh! Uwooooooo…?!

— VocĂȘ tĂĄ indo bem, Haruhiro! Continua segurando ele assim…! — gritei.

Fui correndo até o Moguzo.

Certo. Tenho que tratar ele. Com magia de luz. O Moguzo. Ele tĂĄ perdendo muito sangue. Levou uma pancada daquela clava com espinhos.

Moguzo se desculpou, dizendo “Me desculpa”, ou algo assim.

Do que vocĂȘ tĂĄ falando? Eu sou o sacerdote.

— Ó Luz, que a proteção divina de Lumiaris esteja sobre vocĂȘ… Cure.

Tá meio lenta, não tá? A cura. A luz tá fraca. Concentra. Eu tenho que me concentrar. Me concentrar mais, e—

Enquanto tentava, olhei. Ou melhor, vi.

O hobgoblin acertou um cotovelaço na barriga do Haruhiro, lançando-o longe.

— Ah…!

E nĂŁo parou por aĂ­. O hobgoblin deu um chute no Haruhiro. Chutou e fez ele rolar no chĂŁo.

Eu ouvi. Haruhiro pedindo ajuda. Antes mesmo disso, eu jĂĄ estava em movimento.

Moguzo, me desculpa. Seus ferimentos nem fecharam direito ainda. Mas isso aqui tem prioridade.

— Smash…! — gritei.

Olha só eu aqui, gritando o nome da minha técnica, quase como o Ranta. Girei meu cajado curto e acertei a parte de trås da cabeça do hobgoblin.

Ele usava um elmo. Mesmo assim, pareceu surtir algum efeito.

Aproveitando a força centrífuga, bati com a parte do cajado mais próxima das minhas mãos. Talvez isso tenha ajudado. Mas ainda não tinha terminado.

— Ngh! Hah! Yah! — Eu não parava. Girando o cajado sem parar. Golpe após golpe após golpe. Eu batia nele como um louco.

— Haruhiro, levanta! — gritei.

Finalmente, eu entendi o que a gente devia fazer. Por que eu nunca tinha percebido antes? Por causa da adrenalina? Porque eu estava sob pressĂŁo demais e nĂŁo conseguia pensar com clareza? Depois eu podia arranjar desculpas. Por agora, sĂł precisava fazer o que tinha que ser feito.

— Corram! — berrei. — Todo mundo, corre…!

Haruhiro levantou-se rapidamente, começou a correr e, então, parou de repente.

— M-Manato, e vocĂȘ…?!

— Eu vou tambĂ©m! É claro! Agora vai logo!

Continuei atacando o hobgoblin enquanto me afastava devagar.

Uma abertura. Eu nĂŁo podia me apressar; tinha que esperar uma abertura.

— Obrigado! — Moguzo desferiu um Rage Blow no goblin de armadura. Não acertou, mas forçou o inimigo a recuar.

Boa. Mandou bem, Moguzo.

Aproveitando essa abertura, Moguzo se virou e saiu correndo. Ranta e Yume vieram logo atrås. Shihoru também corria com esforço.

Com um grito de guerra, o goblin de armadura cortou as costas de Moguzo, mas o golpe foi superficial e nĂŁo atravessou a cota de malha.

Haruhiro corria olhando pra trĂĄs o tempo todo.

— Manato, já deu! Todo mundo escapou!

— Eu sei!

O que eu sabia Ă© que nĂŁo ia ser tĂŁo simples assim.

Saltei para trås, atraindo o hobgoblin. Ele caiu direitinho na armadilha. Quando avançou, eu ataquei duas vezes com o cajado.

O hobgoblin gemeu, e sua cabeça foi jogada pra trås.

Agora.

Me virei. O goblin de armadura tentou me acertar. JĂĄ esperava por isso, entĂŁo desviei com facilidade.

Agora corre. Corre. Corre e nĂŁo olha pra trĂĄs.

— Urgh!

Algo me acertou nas costas.

Quase tropecei, mas nĂŁo olhei pra trĂĄs.

Haruhiro soltou um grito que parecia um lamento.

— Manato…?!

— Tî bem!

Seja como for, a gente tem que sair daqui primeiro. Isso Ă© o mais importante. Certo? É. Eu sei disso. Eu sei. Temos que correr. Correr. Fugir.

Preciso olhar pra trĂĄs, ver o que tĂĄ acontecendo.

Será que o goblin de armadura e o hobgoblin tão perseguindo a gente? Não sei. Podemos parar agora? Ou ainda temos que correr? É só olhar. Se eu olhar, vou saber. Mas eu tenho que continuar. Continuar me movendo. Continuar indo o mais longe que conseguir.

Ainda assim, o pessoal tĂĄ correndo bem rĂĄpido.

Onde é isso? Até onde a gente veio?

NĂŁo sei direito. Que estranho. É estranho. O que aconteceu? Eu… Ahh—

Espera.

Me joguei pra frente, caindo no chĂŁo.

Tenho que me levantar. NĂŁo Ă© bom. Sim. Eu vou me levantar. Mas nĂŁo tenho força. No corpo. Por quĂȘ?

— …A-Ai…

DĂłi. O quĂȘ que dĂłi? Minhas costas. Ah. Tem algo nas minhas costas.

Lutei pra me virar de lado.

O que tĂĄ acontecendo? Isso Ă© grave, nĂŁo Ă©? É grave? NĂŁo sei.

— …Acho que… A-a gente tĂĄ… seguro agora…

— Manato…! — Haruhiro tava aqui. Bem do meu lado. Ajoelhado. — Manato, o seu ferimento, m-magia! Isso! Usa a magia pra curar…!

— …Ah, Ă©. — Tentei fazer o sinal do hexagrama. HĂŁ? Minha mĂŁo. NĂŁo consigo. Minha força. Concentração. Como? NĂŁo dĂĄ, nĂŁo assim.

— …N-NĂŁo consigo… nĂŁo… consigo usar magia…!

— N-NĂŁo fala! — ouvi a voz do Ranta. — N-NĂŁo fala nada! SĂł fica aĂ­ de boa, relaxa… Espera, como Ă© que alguĂ©m relaxa numa hora dessas?!

Shihoru se aproximou. Ela estendeu a mĂŁo atĂ© minhas costas. Tocou… alguma coisa. Doeu, ou melhor, parecia… pesado. Um peso opressor.

Mas o peso nĂŁo parava ali; parecia atravessar todo o meu corpo. Tive um pressentimento ruim sobre aquilo.

Pisquei vĂĄrias vezes.

Moguzo estava ali. TĂŁo grande. Moguzo. Claro. Ele nĂŁo vai encolher de repente.

— Q-Q-Q… — Yume estava tĂŁo abalada que me deu pena. — Q-Q-Q… — Ela bagunçava o prĂłprio cabelo.

— O quĂȘ…? — Haruhiro se agachou, aproximando o rosto do meu. — V-VocĂȘ vai ficar bem, Manato? Vai ficar tudo bem, tĂĄ? Aguenta firme. Aguenta firme, Manato, por favor?

Finalmente, a gravidade da situação começou a cair a ficha.

Eu nĂŁo vou ficar bem. Entendi. EntĂŁo Ă© assim. NĂŁo dĂĄ mais—

VocĂȘ tĂĄ brincando, nĂ©? Para com isso! NĂŁo! NĂŁo era pra ser assim! Ainda tem tanta coisa pra eu fazer! Ainda nĂŁo!

Sim. AmanhĂŁ, eu ia fazer mais. Achei que teria muitos amanhĂŁs. Sempre tomei isso como certo. Como se o futuro estivesse garantido. Pra mim, pra gente. Tinha que estar. Eu nunca duvidei disso. Mas o que Ă© isso? Era pra ter mais, entĂŁo isso… isso nĂŁo Ă© justo. Ainda tenho tanta coisa que quero fazer. Onde foi que eu errei? O que foi que nĂŁo deu certo? SerĂĄ que fui imprudente? Achei que a gente dava conta. Eles eram fortes. Quem diria que seriam tĂŁo fortes? SerĂĄ que eu fui fraco? Ou serĂĄ que me precipitei, mesmo achando que nĂŁo?

Quero uma segunda chance. Que isso nunca tivesse acontecido. Por favor. Me deixa tentar de novo. Eu imploro. Eu nĂŁo vou errar de novo. Eu… e todo mundo…

— No fim, vocĂȘ nĂŁo confia em ninguĂ©m, nĂŁo Ă©? — Ryoi disse pra mim.

Eu sorri, como sempre fazia.

— Sim, e daí?

— Como vocĂȘ consegue sorrir assim?! Numa hora dessas?! — Mitsuka chorava.

E eu tava sorrindo.

— VocĂȘ pergunta como? Porque eu tĂŽ bem, nĂŁo tĂŽ?

— NĂŁo ache que vai ter tratamento especial sĂł porque Ă© uma criança — xxx disse num tom ameaçador, enquanto me agarrava pelo pescoço.

Especial? Nunca pensei isso.

— Eu nunca devia ter te dado à luz — xxx disse, com um olhar vazio no rosto.

Ryoi? Mitsuka? Xxx? Xxx…? Quem…?

NĂŁo entendo direito, mas… ahhhh… agora vejo. Eu queria estar com alguĂ©m.

SĂł queria caminhar com alguĂ©m. NĂŁo sozinho… com outra pessoa.

Queria andar junto com todo mundo.

Queria mais laços.

Queria passar tempo com eles, aos poucos, no meu ritmo. Era o Ășnico jeito. Porque eu nĂŁo conseguia encurtar a distĂąncia de uma vez sĂł.

Se fosse desse jeito, achei que conseguiria. Com certeza. Achei que conseguiria ter uma segunda chance.

Mas agora nĂŁo dĂĄ mais. Acabou. NĂŁo acredito nisso.

Vai terminar aqui, assim, tĂŁo fĂĄcil. Se isso fosse uma mentira, um sonho… como seria bom.

Mas sei que nĂŁo Ă©. Isso Ă© real.

Logo vai acabar.

— Haru…hiro — sussurrei.

— O q-quĂȘ? O que foi? Manato, o que foi?

Desculpa. Haruhiro. Desculpa. Tinha mais que eu queria te dizer. Coisas que eu queria conversar, tanta coisa. Eu tinha certeza de que a gente podia virar amigos de verdade. Acho que, um dia, eu teria contado tudo pra vocĂȘ.

— HĂŁ? O quĂȘ? D-Desculpa? Por quĂȘ? Pelo quĂȘ? — ele perguntou.

Droga. Por quĂȘ? Por que eu nĂŁo consigo falar? Minha voz… nĂŁo sai direito. Eu… Ă© isso mesmo, Haruhiro, tĂŽ contando com vocĂȘ. Isso Ă© sĂ©rio. Tenho que me apressar. NĂŁo tenho muito tempo. VocĂȘ Ă© o Ășnico em quem posso confiar.

Devo ter murmurado alguma coisa, porque Haruhiro respondeu.

— Contando comigo? Comigo? Pra quĂȘ? O que vocĂȘ quer de mim? Espera, nĂŁo, Manato, nĂŁo…

Cuida de todo mundo. SĂł vocĂȘ pode. SĂł vocĂȘ consegue. Eu nĂŁo posso mais. NĂŁo consigo fazer nada. NĂŁo consigo mais ver. NĂŁo consigo ver.

TĂĄ escuro. Ficou escuro.

Droga.

Ei, pessoal, vocĂȘs estĂŁo aĂ­? Se tiverem, digam alguma coisa.

Mal consigo enxergar.

— A gente tá aqui! Tá todo mundo aqui! Manato! A gente tá aqui! Não vai embora!

Eu também não quero ir.

NĂŁo quero ir.

Quero ficar aqui.

Aqui, com todo mundo.

Mas eu tenho que ir.

Ahh…

Eu…

Eu vou morrer.

— NĂŁo vai! Manato! VocĂȘ nĂŁo pode deixar a gente! NĂŁo vai! Por favor, Manato…!

Continua me chamando assim.

Por favor.

Desse jeito.

Até que eu não consiga mais perceber.

Só mais um pouco—


Tradução: ParupiroHPara estas e outras obras, visite o Cantinho do ParupiroH – Clicando Aqui


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