The Great Cleric â CapĂtulo 8 â Volume 4
The Great ClericSeija Musou
CapĂtulo 5: Para Reviver a Guilda dos Curandeiros
Light Novel Online – CapĂtulo 8:
[A Grande SubstĂąncia X]
Fui o primeiro a acordar. Enquanto me espreguiçava, pensei nos escravos. NĂŁo dava para negar o quĂŁo fortes eles eram. Individualmente, ninguĂ©m chegava aos pĂ©s de Lionel ou mesmo da força de Ketty, mas juntos, eram uma força a ser reconhecida. Quando meu trabalho em Yenice terminasse e houvesse clĂnicas operando na cidade, eu teria que seguir em frente, mas parecia um desperdĂcio deixĂĄ-los para trĂĄs. Estava começando a me apegar a eles. Essas minhas emoçÔes irritantes⊠As histĂłrias deles sobre serem rejeitados por ambos os mundos por serem mestiços me atingiram bem no coração, e isso me fez querer ajudĂĄ-los.
â Mas nĂŁo posso simplesmente levar todo mundo comigo⊠HmmâŠ
Nalia acordou quando terminei de me espreguiçar, então começamos a preparar o café da manhã. Quando chegasse a hora de deixar Yenice para trås, quem eu estaria deixando com ela?
Meus companheiros devoraram o café da manhã; estavam prontos para partir.
â Estamos prestes a entrar na parte verdadeira do labirinto â anunciei. â Fomos informados de que hĂĄ homens-lagarto vermelhos e ursos de fogo nos esperando Ă frente, entĂŁo nĂŁo espero avançar tanto quanto ontem, mas estĂĄ tudo bem. Nosso objetivo atual Ă© o andar quarenta. Agora, segurança em primeiro lugar, e vamos nessa!
â Entendido!
Comecei a conjurar Barreira de Ărea em todos.
â Se os inimigos ficarem perigosos demais, podemos combinar as equipes. E fiquem atentos Ă s armadilhas. Elas vĂŁo ficar letais a partir de agora.
Kefin e seus homens nĂŁo disseram nada, apenas caĂram na gargalhada.
â Falei algo engraçado?
â Nada, sĂł estamos felizes que vocĂȘ se preocupa com a gente. A vida seria muito mais fĂĄcil se houvesse mais pessoas como vocĂȘ no mundo.
Eles sorriram, e então partimos para o primeiro andar inexplorado. Eu estava prestes a explodir com eles por estarem brincando em um lugar assim, mas quem conseguiria ficar bravo diante daqueles sorrisos? Além disso, me lembrou algo que meu mestre jå havia me dito.
Suspirei ao terminar de conjurar as barreiras.
â Cara, que calor.
Parecia estar uns cinquenta graus acima da temperatura externa. Mas nĂŁo havia sol escaldante, apenas as paredes abafadas do labirinto nos assando como batatas.
â NĂŁo se esqueçam de se hidratar, pessoal. Avisem se sentirem sede.
Deus abençoe as bolsas mågicas.
Todo o meu equipamento era climatizado, então apenas meu rosto estava exposto ao calor, mas os outros deviam estar sofrendo, jå que apenas a parte superior das armaduras deles tinha proteção semelhante. Gotas de suor escorriam de suas testas.
As salas se expandiram para cerca de quatrocentos por quatrocentos metros. Seguimos em frente, nos reunindo a cada bifurcação para atualizar nossos mapas. Nosso ritmo nĂŁo diminuiu, embora os ferimentos se tornassem mais frequentes conforme subĂamos. Mas minha cura nos mantinha de pĂ©.
â Parecemos uma legiĂŁo de zumbis. Acho que isso faz de mim o necromante, e nĂŁo sei se isso Ă© algo bom.
â Eu, pessoalmente, nĂŁo me importaria de assumir a linha de frente com eles â declarou o homem obcecado por batalhas ao meu lado.
â O mesmo aqui! Esse gatinho quer explorar! â acrescentou seu amigo felino, igualmente sedento por luta.
O momento deles chegaria. Tudo além do quadragésimo andar era território desconhecido. Mas eu ainda não os deixaria se divertir.
LimpĂĄvamos um andar por hora, o que parecia um tempo longo no inĂcio, mas jĂĄ levei dias para explorar um Ășnico andar sozinho na Cidade Santa. Quando se tratava de masmorras, equipes eram definitivamente o caminho certo.
Montamos acampamento na escadaria que levava ao trigésimo sexto andar para almoçar, e eu mesmo me encarreguei de posicionar alguns barris levemente abertos de Substance X a uma certa distùncia para afastar os monstros.
Todos me encararam na volta.
â Relaxem, nĂŁo sĂŁo para beber. A menos que queiram, claro.
Isso manteria os monstros afastados, então ninguém precisaria ficar de vigia, e todos poderiam descansar ao mesmo tempo.
Eles se viraram para os barris, incrĂ©dulos, e nĂŁo desviaram o olhar durante todo o tempo de cozimento e refeição. Quando, incrivelmente, nenhum monstro apareceu, Substance X deixou de ser apenas um lĂquido infernal nojento. Agora era um lĂquido infernal nojento que afastava monstros⊠e que eu bebia aos galĂ”es.
Pensando bem, beber repelente de monstros nĂŁo devia passar uma boa impressĂŁo, mas nĂŁo tive coragem de analisar demais o que pensavam sobre isso.
Coletando os mapas de todos, como fizera no dia anterior, comecei a trabalhar, anotando as inĂșmeras armadilhas que antes nĂŁo haviam sido registradas.
â Como estĂŁo as coisas? â perguntei aos trĂȘs lĂderes das equipes. â Acham que podemos continuar hoje?
â Com certeza conseguimos chegar ao andar quarenta â respondeu Kefin â, mas precisaremos de mais homens se formos alĂ©m. Caso contrĂĄrio, as coisas vĂŁo ficar complicadas.
Os outros franziram a testa, frustrados.
â Entendi. EntĂŁo vamos consolidar em duas equipes.
Eles pareceram surpresos, mas nĂŁo entendi o porquĂȘ. Eu jĂĄ havia mencionado essa possibilidade antes.
â Eu disse que conseguimos chegar ao andar quarenta â retrucou Kefin, incisivo.
Sorri de volta.
â NĂŁo Ă© que eu nĂŁo confie na capacidade de vocĂȘs. SĂł que nĂŁo vai ser nada bom se reestruturarmos os grupos de repente e bagunçarmos a coordenação bem quando chegarmos lĂĄ. Essa Ă© a forma mais eficiente.
Suspirei, entĂŁo acrescentei:
â AlĂ©m disso, estou bem estressado ultimamente, entĂŁo acho que mereço saborear isso um pouco.
Minha desculpa deve ter colado, a julgar pela expressĂŁo de empatia nos olhos deles.
Ao chegarmos ao quadragĂ©simo andar, estudei nosso mapa mestre e percebi que ainda nĂŁo havĂamos encontrado nenhum baĂș do tesouro. Talvez jĂĄ tivessem sido saqueados e esse labirinto nĂŁo os reabastecesse.
Seja como for, havĂamos chegado Ă sala do chefe.
â NĂŁo tem ninguĂ©m aqui â murmurei.
â Talvez tenham seguido em frente â comentou Lionel.
â Acha que encontraram aquele tal de Shahza e foram atrĂĄs dele? â perguntou Ketty.
â Ă possĂvel.
Eu esperava jå ter encontrado a equipe de Goldhus, mas não havia sinal deles. As sugestÔes dos meus companheiros ajudaram a organizar meus pensamentos.
â Vamos limpar a cĂąmara e depois faremos uma pausa. Podemos usĂĄ-la como uma base temporĂĄria para procurar os outros nos andares superiores.
â Entendido.
Lionel fez uma leve reverĂȘncia, e Ketty o acompanhou.
O grupo de Goldhus havia enfrentado uma quimera, mas, para nĂłs, a sala do chefe gerou cinco tigres-dente-de-sabre, com corpos envoltos em chamas. Eram feras aterrorizantes, sem dĂșvida, atĂ© Lionel atordoĂĄ-los com seu escudo, deixando-os vulnerĂĄveis para serem abatidos por Ketty e os outros. Eu curei Ă distĂąncia, Nalia manteve os retardatĂĄrios afastados, Dhoran manejou seu enorme martelo, e o golem imponente de Pola serviu como minha muralha.
O que deveria ter sido uma batalha longa e ĂĄrdua terminou em meros minutos. Depois de uma Purificação e um Cura Avançada em Ărea, era hora do jantar.
O jantar foi tranquilo, repleto de conversas animadas sobre feitos impressionantes e batalhas empolgantes. Depois de comer bem e terminar o trabalho com o mapa, fiz uma reuniĂŁo estratĂ©gica com os lĂderes de equipe Kefin, Yulbo e Verdel, alĂ©m de Lionel e os outros quatro.
â Vamos começar. AmanhĂŁ seguimos para o andar quarenta e um. Sem dĂșvida, os monstros ficarĂŁo mais fortes e teremos mais terreno para cobrir, entĂŁo precisamos de um plano antes de avançarmos.
Lionel levantou a mĂŁo.
â Se me permite.
Assenti, dando-lhe a palavra.
â Nossa formação atual consiste em trĂȘs equipes. Acho que Ketty e eu deverĂamos liderar os dois grupos avançados, enquanto o restante ficaria estritamente na sua proteção.
As objeçÔes vieram råpido.
â PeraĂ, vovĂŽ! â Kefin gritou. â Tudo o que eu pedi foi mais gente! NĂłs conseguimos nos virar!
Sem Lionel e Ketty comigo, as coisas ficariam bem mais perigosas, mas ele estava certo. Esse era o método mais eficiente.
â VocĂȘ acha que essa Ă© a melhor maneira de manter as baixas baixas e o progresso constante? â perguntei.
â Sim. Se os monstros que encontramos nesta cĂąmara forem comuns nos prĂłximos andares, isso nĂŁo serĂĄ nada bom para nossas chances de sobrevivĂȘncia.
Kefin franziu a testa, mas ficou calado, ciente de que Lionel estava certo. Ele era fĂĄcil de ler.
â Com sua cura â Lionel continuou â, estou confiante de que vocĂȘ ficarĂĄ protegido o suficiente sem nĂłs. Sem falar no golem ao seu lado.
â Tudo Ă© possĂvel com mais pedras mĂĄgicas â Pola comentou, levantando um punho firme que me lembrou alguĂ©m.
â Certo â falei. â VocĂȘ tem um bom argumento. Cuidem disso. Agora quero discutir medidas contra o calor. Podemos criar algo que ajude?
â Uhum. Mas por quĂȘ? â Pola inclinou a cabeça.
â Perdoe a moça â Dhoran interveio. â Estamos acostumados com o calor, entĂŁo Ă© difĂcil perceber.
Provavelmente, isso significava que eram fracos contra o frio. Olhei ao redor, mas ninguém parecia incomodado com a temperatura.
â Bom, tudo bem entĂŁo. SĂł nĂŁo se esqueçam de se manter hidratados. Agora, sobre nosso ritmo. A essa altura, acho que cinco andares por dia serĂĄ o nosso limite, mas mesmo um por dia jĂĄ seria suficiente. Alguma objeção?
Ninguém se manifestou.
â Deixem qualquer equipamento que precisar de manutenção com Dhoran ou Pola. Quero que discutam as formaçÔes com suas equipes.
â Entendido!
Nos dispersamos, e eu segui com minha rotina habitual de prĂĄtica mĂĄgica, relembrando meu primeiro labirinto. Aqui, havĂamos avançado quarenta andares em apenas dois dias â mais de cem vezes mais rĂĄpido do que levei para percorrer a mesma distĂąncia sozinho.
â As coisas estĂŁo indo bem, mas deve ser sorte. NĂŁo posso contar com isso por muito mais tempo.
Terminei o dia com uma prece por segurança aos deuses, aos ancestrais e a Monsieur Sorte, por via das dĂșvidas.
O andar quarenta e um não era nada do que esperåvamos. Para começar, a temperatura caiu, então foi uma boa coisa que não gastamos pedras mågicas alterando os equipamentos como eu queria. Deixei um estoque com os anÔes, caso precisassem, mas agora eles tinham um extra para os golems.
A equipe de Kefin assumiu o lugar de Lionel e Ketty na minha escolta, o que me deu a chance de perguntar algo que estava na minha mente.
â Lembra quando vocĂȘ sumiu na Guilda dos Aventureiros? Naquele dia, vocĂȘ parecia completamente diferente. Como fez isso?
Como eu nĂŁo ficaria curioso? Parecia coisa de ninjutsu ou algo assim. Direto de um mangĂĄ.
â Se chama… Ă©… ninjutsu, eu acho? â ele respondeu.
Então era mesmo ninjutsu? Isso cheirava a outro caso de reencarnação para mim.
â VocĂȘ acha? Esse Ă© o nome da habilidade?
â Sim. Um humano apareceu na cidade um tempo atrĂĄs, um moleque de rua sem um tostĂŁo, e ele tinha umas habilidades muito estranhas. Conseguia se mover sem fazer barulho, fazer vocĂȘ ver coisas que nĂŁo estavam lĂĄ e atĂ© parecer de uma raça completamente diferente.
Huh, o nĂvel de habilidade dele devia ser realmente alto.
â Um cara assim Ă© bem Ăștil para o nosso estilo de vida, se Ă© que me entende. EntĂŁo contratamos ele, e ele nos ensinou muita coisa enquanto esteve conosco. Antes de morrer, quero dizer. Neste labirinto.
â Ele o quĂȘ?
â JĂĄ falei dos “varredores”, lembra? HĂĄ alguns andares. Acho que foram aqueles desgraç… quer dizer, eles. Acho que foram eles.
â Espera, vocĂȘ nĂŁo sabe com certeza, nĂ©? Se os cadĂĄveres nĂŁo ficam nos labirintos, como pode ter certeza? Ele pode estar vivo!
â Ele se foi. Ele e todos os que estavam com ele. SĂł dois conseguiram voltar, mas morreram no dia seguinte. As Ășltimas palavras deles foram uma acusação. Aqueles maldit… eles o assassinaram.
Meu coração disparou. Mas por quĂȘ? Que prova eu tinha de que ele era um reencarnado? E quem eu achava que era? O protetor dele? Esse completo desconhecido de repente virou meu mundo de cabeça para baixo.
â Quanto tempo faz isso? E qual era o nome dele?
â Uns dois anos. Ele tinha mais ou menos a sua idade. E se chamava Hatori, mas vai saber se era verdade.
NĂŁo sei o que esperava descobrir insistindo nisso. NĂŁo adiantava nada.
â Voltando Ă quela habilidade. VocĂȘ acha que eu conseguiria usĂĄ-la tambĂ©m?
â Claro. NĂŁo me importo em te ensinar. SĂł tem uma coisa que eu quero em troca. E, sim, eu sei, sou um escravo pedindo favores, mas me escuta… er, por favor.
â Relaxa, eu vou ouvir! E se segura aĂ! Preciso que vocĂȘ fique atento aqui em cima.
â Desculpa. Eu sĂł… â Ele abaixou a cabeça de novo. â Eu quero que vocĂȘ me leve com vocĂȘ quando for embora. Nem precisa me libertar. NĂŁo tenho problema nenhum em continuar sendo um escravo.
Agora eu entendi por que ele estava se esforçando tanto para falar de um jeito mais educado o tempo todo.
â Ainda falta um bom tempo pra isso, mas acho que posso pensar no assunto.
As orelhas de Kefin se ergueram… ansiedade? Felicidade? Eu nĂŁo falava âorelhĂȘsâ, mas ele parecia mais motivado do que nunca.
O golem da Pola segurava os dois ursos flamejantes, um em cada braço gigante, enquanto sete escravos enfrentavam habilidosamente o tigre dente-de-sabre em chamas. Houve alguns ferimentos no processo, mas no fim, saĂmos vitoriosos. A beleza cĂŽmica da Pola derrotando os ursos com um abraço de urso literal nĂŁo passou despercebida e dizia muito sobre o senso de humor dela.
â Bom ver que vocĂȘs nĂŁo estĂŁo tendo muitos problemas por aqui â eu disse, conjurando Ărea Cura MĂ©dia e, em seguida, outra Ărea Barreira para renovar a anterior.
Kefin me lançou um olhar complicado.
â Estamos nos virando.
Entreguei as gemas dos dois ursos para Pola e guardei a do tigre na minha bolsa. Continuamos avançando pelo layout vasto e complicado, cruzando bifurcaçÔes e corredores tortuosos até que nossa exploração de duas horas daquele andar finalmente chegou ao fim.
â Como estĂŁo as coisas? Continuamos? â perguntei aos times reunidos.
Kefin, Ketty e Lionel concordaram que ainda podĂamos continuar antes de encerrar o dia. Os outros dois grupos tinham apenas alguns arranhĂ”es e queimaduras leves, entĂŁo seguimos para o prĂłximo andar. E lĂĄ, finalmente encontramos nosso primeiro baĂș do tesouro.
â Adivinha, chefe! â Ketty gritou quando nos reunimos de novo. â Achei um tesouro! VocĂȘ tem que abrir!
â Por que eu?
â O que vem no baĂș depende de quem abre â Verdel respondeu. â Depois que as armadilhas sĂŁo desativadas, Ă© tudo questĂŁo de sorte.
â Interessante. Vamos dar uma olhada quando o time do Lionel chegar.
Esperamos sĂł uns dez minutos antes de irmos ver a descoberta de Ketty. O que encontramos foi… algo. Meu Deus, era algo.
â O que Ă© isso?
Segurei um orbe escarlate opaco. Tentei lançar Purificação nele, despejar magia, erguer contra a luz, mas seu verdadeiro propósito continuava um mistério. Os anÔes ficaram lå, só encarando de olhos arregalados. No fim, desisti e joguei na bolsa.
â Pena que nĂŁo era um grimĂłrio ou equipamento. Vamos fazer um almoço antecipado.
Montamos acampamento e fizemos uma pausa. Durante a refeição, perguntei a Dhoran e Pola sobre o orbe, e mal consegui conter minha empolgação com a resposta deles.
â SĂ©rio?!
â Ah, sim â Dhoran assentiu. â Mas vamos precisar de muito mais do que isso pra botar ela no ar. Uma montanha de gemas maior do que a guilda jĂĄ usou e alguns dos minĂ©rios mais raros que vocĂȘ poderia ter a sorte de encontrar.
â Ah, eu imagino. Estou totalmente disposto a pagar o quanto for necessĂĄrio por um dirigĂvel. TĂĄ brincando comigo?
Eu estava sorrindo tanto que quase doĂa. Aquele orbe inĂștil? Sim, ele era lendĂĄrio. Literalmente. SĂł se ouvia falar dele em contos, e, em teoria, seus poderes de voo funcionariam perfeitamente como o coração de um potencial dirigĂvel. Eu estava pegando fogo de animação renovada, mas mantive o foco no nosso objetivo atual: encontrar Goldhus.
Não encontramos ninguém nos dois andares seguintes.
â Isso Ă© preocupante â Lionel murmurou.
â Por quĂȘ? As coisas estĂŁo ficando difĂceis? SĂŁo os monstros?
Ele balançou a cabeça.
â Nenhum dos dois. Eu estava considerando o pior cenĂĄrio possĂvel. Espero que estejamos certos e que eles estejam na trilha de Shahza, mas se algo aconteceu com eles…
â Por que acha isso?
â Nosso ritmo estĂĄ estranho. RĂĄpido demais. Pelo que sabemos, ninguĂ©m mais pisou alĂ©m do quadragĂ©simo andar, mas nĂŁo tivemos quase nenhuma dificuldade. E nĂŁo encontramos sinal de Shahza. Duvido que o grupo dele tenha conseguido fugir de nĂłs tĂŁo rĂĄpido.
â VocĂȘ acha que ele estĂĄ nos guiando pelo nariz? Ă possĂvel que ele nem esteja aqui?
â NĂŁo. Nosso ritmo seria ainda mais preocupante se nĂŁo estivĂ©ssemos seguindo o rastro de outra pessoa. TambĂ©m havia marcas de ferraduras na entrada quando chegamos, e Goldhus me disse que nĂŁo podiam ser de aventureiros. Shahza deve estar aqui.
â Devemos voltar para o quadragĂ©simo andar? NĂŁo deve levar mais de uma hora, e vamos pensar melhor depois de descansar em um lugar que nĂŁo esteja lotado de monstros.
Goldhus poderia estar nos esperando, precisando da nossa ajuda, mas eu precisava priorizar com base na situação atual. Não dava para colocar nossas vidas em uma balança com as deles e decidir qual era mais valiosa.
NinguĂ©m contestou, entĂŁo voltamos em relativo silĂȘncio para a sala do chefe anterior, onde montamos acampamento e nos preparamos para o dia seguinte.
Outra manhã cedo. Me enchia de emoção ver todos tão dispostos a sair e ajudar os aventureiros.
â Vamos direto para o quadragĂ©simo quinto andar como um grupo. NinguĂ©m baixe a guarda!
â Entendido!
Refizemos nosso caminho atĂ© onde havĂamos parado no dia anterior, mas nĂŁo encontramos ninguĂ©m no caminho. Nem nos trĂȘs andares seguintes. O time de Goldhus continuava desaparecido.
â Esse bracelete foi tudo que conseguimos…
Descobrimos nosso segundo baĂș no quadragĂ©simo sĂ©timo andar e encontramos um bracelete de natureza desconhecida dentro dele, mas ninguĂ©m tinha a habilidade certa para avaliĂĄ-lo, entĂŁo suas propriedades eram um mistĂ©rio. E da Ășltima vez que verifiquei, o custo de SP para obter essa habilidade era uns bons cem pontos. EntĂŁo, nem pensar. Ele foi direto para a bolsa mĂĄgica.
â O que vocĂȘs acham? Continuamos ou reiniciamos amanhĂŁ?
â O nĂvel de exaustĂŁo parece mĂnimo â Lionel respondeu.
â Nem estou com fome ainda â Ketty acrescentou.
â NĂłs poderĂamos correr por dias sem dormir, se fosse necessĂĄrio â disse Kefin. â NĂŁo que eu ache que devamos enfrentar o grandalhĂŁo no andar cinquenta logo de cara, mas estamos bem atĂ© lĂĄ.
â Certo, vamos continuar. Como sempre, segurança em primeiro lugar.
Seguimos para o andar quarenta e oito, onde finalmente tivemos contato. Isso aconteceu bem no final do andar, quando jĂĄ estĂĄvamos quase nos conformando em sair de mĂŁos vazias de novo.
â Tem alguĂ©m ali! â Kefin gritou, apontando para uma horda de monstros. Forcei os olhos e consegui enxergar a silhueta de uma pessoa. Mas algo me dizia para parar.
â Espera!
Kefin me lançou um olhar irritado. â Por quĂȘ?!
â Olha! Esses monstros nĂŁo estĂŁo normais. EstĂĄ vendo a coloração? Eles nĂŁo sĂŁo do tipo que encontramos atĂ© agora. E parece que estĂŁo brincando. Tem algo estranho acontecendo.
O silĂȘncio caiu enquanto todos observavam a cena e assimilavam o que eu estava dizendo.
â Ainda Ă© cedo para dizer se sĂŁo amigos ou inimigos, entĂŁo vamos esperar os outros chegarem.
Por uns vinte minutos, ficamos observando de longe enquanto a figura brincava com as feras.
Lionel chegou primeiro. â Estranho. Quase mĂstico.
Depois Ketty: â Entendi o que vocĂȘ quis dizer. Eu provavelmente teria corrido para lĂĄ tambĂ©m.
â Fiquem atentos, pessoal.
Lancei uma Barreira de Ărea e começamos a nos aproximar… aos poucos… atĂ© que…
â Senhor Curandeiro?
Sheila surgiu do meio da multidĂŁo de monstros.

â Espera, Sheila?!
â VocĂȘ nĂŁo veio atĂ© aqui sozinha, veio?
NĂŁo tĂnhamos visto nenhum sinal dela ou de seu pai em todo o caminho atĂ© ali. Nem mesmo no acampamento base do andar trinta.
â NĂŁĂŁo, eu estava com o meu papai, mas entĂŁo um monte de gente apareceu e ele me mandou me esconder.
Eu não gostei do pressågio que senti nesse momento. Por que Orga estaria cooperando com Shahza? A menos que sua filha tivesse sido usada como refém.
â VocĂȘ quer vir com a gente? Vamos ajudar vocĂȘ a encontrĂĄ-lo.
â SĂ©rio? VocĂȘs vĂŁo?
â Bom, nĂŁo podemos te deixar aqui. Quem sĂŁo esses monstros com vocĂȘ? SĂŁo seus amigos?
â Sim! â Ela sorriu. â Papai encontrou eles para mim quando eu era pequena, jĂĄ que eu nĂŁo conseguia falar.
Eu nĂŁo me lembrava de tĂȘ-los visto quando ela e seu pai foram para a Cidade Santa… ou quando nos encontraram na fronteira, aliĂĄs.
â Acho que nunca os vi antes.
â Eu tive que deixĂĄ-los em casa da Ășltima vez. Papai disse que havia pessoas mĂĄs na Igreja que nĂŁo iam gostar dos meus amigos.
â Ah, entendi. Seus amigos gostam da gente? Eles nĂŁo vĂŁo machucar ninguĂ©m, vĂŁo?
â NĂŁo! Espera sĂł.
Ela se virou para os monstros e começou a fazer todo tipo de gestos, então voltou para nós com um olhar satisfeito.
â Pronto! Agora eles sabem!
â Ă mesmo? Valeu por isso. E hĂĄ quanto tempo vocĂȘ estĂĄ aqui?
â NĂŁo faz muito. Mas algumas pessoas foram mĂĄs com o Kap, entĂŁo se machucaram.
SĂ©rio? Claro que sim. Quem, em sĂŁ consciĂȘncia, assumiria que essas criaturas eram domesticadas? JĂĄ deu para ver que isso ia dar uma grande dor de cabeça.
â Onde essas pessoas estĂŁo agora?
â Dormindo naquela sala ali. Os outros foram atrĂĄs do papai.
â Espere aqui, tudo bem? Eu prometo que eles nĂŁo sĂŁo maus, entĂŁo vou fazer com que peçam desculpas.
Ela fez um biquinho por um instante e depois bufou:
â TĂĄ bom. Mas sĂł se pedirem desculpas. O Kap merece um pedido de desculpas.
â Prometo.
Na sala ao lado, havia seis aventureiros quase pulverizados, agarrando-se Ă vida por um fio. O leve subir e descer de seus peitos era o Ășnico sinal de que ainda estavam vivos. Eu os curei rapidamente e esperei que acordassem.
â Graças a Deus â suspirei. Se esses caras tivessem morrido, as coisas nĂŁo ficariam boas para Sheila. â Se ninguĂ©m pode provar crimes dentro de um labirinto, isso significa que eles nĂŁo existem aqui? Ou seriam os aventureiros os culpados por atacar as feras de uma domadora?
Ninguém respondeu ao meu monólogo. Os aventureiros despertaram logo depois, então expliquei a situação e os informei da necessidade de se desculparem.
â Por que o seu time nĂŁo esperou por nĂłs? â perguntei.
â EntĂŁo… quando chegamos ao quadragĂ©simo andar…
Resumindo, a sala do chefe estava selada, o que significava que Shahza jå estava em batalha quando chegaram. Eles o alcançaram por volta do quadragésimo segundo andar, foram despistados e então o perderam de vista no próximo andar, decidindo descansar um pouco. Os monstros cada vez mais poderosos os atrasaram mais do que imaginavam.
â NĂłs sĂł estĂĄvamos segurando a equipe, entĂŁo dissemos ao mestre da guilda para seguir sem nĂłs. Mas aĂ vimos a garota sendo atacada.
Ainda bem que eu nĂŁo deixei Kefin avançar correndo, ou terĂamos sido o segundo ato dessa mesma peça.
â Certo, bem, agora todos estĂŁo seguros. Vamos nos reagrupar.
â Obrigado.
Os aventureiros inclinaram a cabeça, depois se curvaram novamente para os monstros de Sheila quando nos reunimos aos outros. Foi um pouco surreal, para ser honesto. A própria Sheila também pediu desculpas depois de ouvir a história dos aventureiros.
Com nossos sete novos membros, continuamos pelo resto do andar, depois enfrentamos o quadragésimo nono, até chegarmos ao quinquagésimo.
â Eu nĂŁo vejo o papai.
â Eles devem estar por aqui em algum lugar.
Mas entrar direto na sala do chefe desse jeito provavelmente nĂŁo era uma boa ideia.
â Vamos fazer uma pausa, pessoal. NĂŁo vamos conseguir nos concentrar de estĂŽmago vazio.
Sheila e os aventureiros se animaram imediatamente. Especialmente Sheila, que devia estar faminta, jĂĄ que passou o dia todo sem comer. Seu pobre corpo em crescimento nĂŁo podia esperar eu cozinhar, entĂŁo tirei as sobras da Ășltima vez.
â Olha sĂł essa â disse um aventureiro. â O inimigo que nos espera na sala principal deste andar Ă© aparentemente diferente de tudo o que enfrentamos antes. DĂĄ para acreditar? Me faz querer ir para casa.
â SĂ©rio? â nosso manĂaco por batalhas comentou. â A perspectiva de testar sua força nĂŁo te empolga?
â Nosso lema, se bem se lembra, Lionel, Ă© segurança em primeiro lugar â eu disse. â O melhor cenĂĄrio Ă© nĂŁo precisarmos testar a força de ninguĂ©m contra coisa alguma. NĂŁo se esqueça disso.
Algumas respostas dispersas vieram, entĂŁo era hora de seguir em frente. Mantivemos a calma e examinamos a ĂĄrea como sempre, preenchendo nosso mapa no nosso prĂłprio ritmo. Quando terminamos, encontramos mais um baĂș do tesouro, mas nĂŁo havia tempo para comemorar. Todos podĂamos ouvir o som de uma batalha ecoando da sala do chefe.
â SĂł resta um lugar para procurar, mas… eu realmente nĂŁo quero lutar contra aquela coisa.
A porta estava escorada por dois grandes troncos de madeira. LĂĄ dentro, Shahza e seus homens estavam enfrentando Goldhus e seu grupo, com um temĂvel dragĂŁo vermelho completando o triĂąngulo mortal. O dragĂŁo cuspia chamas e golpeava com a cauda, se debatendo e cerrando os dentes em um espetĂĄculo hipnotizante de puro poder bruto que me tirou o fĂŽlego. Eu tinha certeza de que Lionel estava louco para enfrentĂĄ-lo, mas nĂŁo podĂamos avançar Ă s cegas.
Pelo que parecia, ainda nĂŁo havia baixas. Devem ter começado a lutar hĂĄ pouco tempo. Mesmo assim, quanto antes entrĂĄssemos para salvĂĄ-los, melhor. Eu sabia disso, mas meu corpo parecia feito de chumbo, paralisado pela hesitação. Flechas ricocheteavam nas escamas rochosas do dragĂŁo, enquanto seus inĂșmeros ataques de longo alcance anulavam qualquer tentativa de combate corpo a corpo.
Se o tivéssemos colocado contra nosso golem, teria sido um espetåculo tão absurdo que deixaria no chinelo os filmes exagerados de kaiju ou os programas super sentai de såbado de manhã.
â Lionel â perguntei â, quĂŁo confiante vocĂȘ estĂĄ em lidar com os ataques dessa coisa?
Ele franziu a testa. â NĂŁo muito. Com certeza eu nĂŁo ficaria de pĂ©.
â Ketty, vocĂȘ conseguiria desviar? Acertar alguns golpes aqui e ali?
â Talvez â respondeu ela calmamente. Seu jeito fofo e felino havia desaparecido. â Mas eu nĂŁo cortaria muito fundo com esta espada.
â Dhoran? Pola? VocĂȘs conseguem fazer um golem grande o bastante para fazer alguma coisa?
Dhoran cruzou os braços. â O melhor que conseguirĂamos seria segurar a criatura, mas mesmo assim…
â Ele ficaria sem magia em trinta segundos â completou Pola, tocando seu bracelete. â E desmoronaria antes disso se levasse muito dano.
Eu queria correr. Queria dar meia-volta e voltar para casa desesperadamente. Mas Sheila estava assustada, tremendo enquanto se agarrava Ă minha tĂșnica, e eu nĂŁo tinha coragem de afastĂĄ-la. Seus olhos estavam fixos no pai, que se posicionava entre Shahza e o dragĂŁo. NinguĂ©m naquela sala estava equipado para lidar com uma ameaça dessa magnitude, e a situação sĂł piorava a cada segundo.
Por que eu nĂŁo estava correndo? NĂŁo era isso que eu sempre dizia a mim mesmo que faria? Era por causa da garota ao meu lado, que precisava desesperadamente de um herĂłi?
NĂŁo. Eu simplesmente nĂŁo tinha vontade de assistir a uma vida se esvaindo diante de mim. Um turbilhĂŁo de dissonĂąncia cognitiva dilacerava minha mente. Ideais se chocavam, e eu fiquei ali, sem escolher nenhum caminho.
Corra, seu idiota!
Salve-os, seu covarde!
â NĂŁo!
O grito da garota me arrancou do pĂąntano dos meus pensamentos a tempo de ver a cauda do dragĂŁo varrer a sala, atingindo todos os seguidores de Shahza, incluindo Orga. Shahza aproveitou a chance e saltou em direção aos olhos da fera, mas o dragĂŁo foi mais rĂĄpido. Sua mandĂbula poderosa se fechou sobre o corpo do homem-tigre, as presas rasgando carne, antes de arremessĂĄ-lo como um boneco macabro.
De repente, uma voz que parecia muito com a minha começou a gritar ordens.
â Salvem os feridos e recuem! NĂŁo enfrentem esse dragĂŁo! Vamos sair todos daqui vivos! Isso Ă© uma ordem!
â Entendido!
VocĂȘ Ă© um idiota, pensei. Mas parecia que eu era o Ășnico a achar isso. NĂŁo houve objeçÔes nem lamentaçÔes, apenas as mesmas respostas determinadas de sempre.
Lancei Barreira de Ărea em todos nĂłs e avançamos para a cĂąmara gigantesca. Ela era muito maior que as outras, um cĂrculo com cerca de cem metros de diĂąmetro, parecendo ter sido construĂda especificamente para abrigar o dragĂŁo. Me lembrou os campos de treinamento da Guilda dos Aventureiros.
â Deus do destino, Crya, Curador Divino, ancestrais, por favor, protejam-nos.
Com uma Ășltima prece, a batalha começou de verdade.
A criatura era colossal, e cada centĂmetro de seu corpo era coberto por escamas mais duras que aço. Garras afiadas e presas brilhavam sob a luz. Todos os aspectos aterrorizantes do nosso oponente ficavam ainda mais evidentes de perto, mas, por algum motivo, eu nĂŁo sentia medo.
Os escravos criminosos protegiam minhas costas enquanto eu corria até os homens-besta atingidos pela cauda da fera. Lancei diversos feitiços de cura e gritei rapidamente:
â Se querem viver, saiam daqui! Agora!
Eles me olharam, arregalando os olhos, mas concordaram prontamente e seguiram as direçÔes dos escravos em direção Ă saĂda.
O dragĂŁo jĂĄ estava incomodado com nossa chegada, mas agora que sua presa estava escapando, ficou furioso. Chamas vazavam de sua mandĂbula, e um brilho vermelho anunciava uma torrente de fogo iminente. EntĂŁo, o golem de Pola abafou as chamas com um chute voador no rosto da fera. Goldhus e sua equipe permaneceram firmes onde estavam.
â Corram! â gritei.
â NĂŁo! â o mestre da guilda rebateu. â Se nĂŁo acabarmos com isso aqui, nunca nos livraremos desse labirinto!
NĂŁo havia tempo para discutir. Lancei outra Barreira de Ărea neles Ă distĂąncia, pelo pouco que adiantaria. O golem se desfez em terra depois de resistir a apenas um dos ataques do monstro.
Minha melhor aposta era recuar atĂ© a entrada e fornecer suporte Ă distĂąncia, entĂŁo disparei em um sprint. O dragĂŁo rugiu e chicoteou a cauda, lançando a equipe de Goldhus para perto de mim, antes de recuar para nos engolir em um mar de chamas. No instante em que achei que virarĂamos cinzas, Lionel interveio, plantou seu escudo e rebateu o ataque. O calor extremo derreteu o metal em instantes, e eu rapidamente lancei Cura IntermediĂĄria para aliviar sua dor ardente, mas o dragĂŁo pareceu notar e começou a me focar.
Ketty e Kefin entraram na luta enquanto eu recuava, mas foram varridos junto com Lionel, assim como os outros, quando a fera girou e atacou com a cauda. Eles foram arremessados até a entrada.
EntĂŁo, restamos apenas eu, o cadĂĄver de Shahza, um punhado de aventureiros ensanguentados e o dragĂŁo. Olhei para a porta e vi que Pola e Dhoran haviam chegado em segurança. Eles seguravam pedras mĂĄgicas e tentavam criar outro golem sem sucesso. Cada pequeno monte de terra que se erguia caĂa imediatamente de volta ao chĂŁo como poeira inĂștil.
Eles estavam em pĂąnico. Isso era ruim.
Quinze metros até a porta. Quinze metros até o dragão. Eu estava bem dentro do alcance da cauda dele.
â Eu nĂŁo vou morrer aqui. Vou lutar, me arrastar e fazer o que for preciso para sair vivo.
Transformei o Cajado da Ilusão em sua forma de espada e saquei a lança que obtive no final do Labirinto de Provas, encarando a fera.
â Armas concedidas por um dragĂŁo, feitas para um matador de dragĂ”es. Uma pena serem desperdiçadas em alguĂ©m como eu, mas isso nĂŁo significa que pretendo desistir.
A magia girava dentro do meu corpo enquanto o Aprimoramento FĂsico atingia seu mĂĄximo. EntĂŁo, esperei, recuando lentamente sem tirar os olhos do inimigo nem por um segundo. Eu estava pronto para enfiar a lança assim que a cauda viesse em minha direção.
Mas não era a cauda que eu devia estar observando. Em vez disso, um pé gigantesco despencou sobre mim, e tudo o que pude fazer foi me jogar para o lado. Eu não deveria ter conseguido escapar, mas o tremor que ressoou bem ao meu lado me disse que, de alguma forma, eu havia conseguido.
â Aproveitando essa pequena vantagem, balancei a Espada da IlusĂŁo contra seu membro, rasgando escamas e carne. O sangue jorrou do ferimento, como se fosse um lembrete mĂłrbido de que tudo aquilo era real demais.
â Acerteiâ
Então veio a cauda. Ela desceu sobre mim com um estrondo, esmagando meu corpo como se fosse uma folha de papel. Nunca fui atropelado por um caminhão na minha vida passada, mas imaginei que a sensação devia ser parecida.
Eu nĂŁo podia acreditar que ainda estava vivo. Meu corpo estava paralisado. NĂŁo conseguia ver. NĂŁo conseguia ouvir. NĂŁo conseguia pensar. Meu Ășnico consolo era o rio de adrenalina mantendo a dor afastada. Foi apenas por puro instinto de sobrevivĂȘncia que consegui conjurar silenciosamente um Cura Avançada. Meu corpo brilhou, e aos poucos minha visĂŁo voltou. EntĂŁo veio o som.
A primeira coisa que ouvi foi o rugido sĂĄdico de vitĂłria do dragĂŁo. A primeira coisa que vi foi sua boca cheia de dentes se aproximando cada vez mais do meu corpo imĂłvel. A entrada da cĂąmara estava em chamas, e os corpos dos meus companheiros jaziam ao meu redor. Eles tentaram me salvar.
Me perguntei… SerĂĄ que eu tinha orgulho dessa minha segunda chance na vida? Sim. Sim, acho que tinha. Acertar um golpe em um dragĂŁo. Me tornar um curandeiro de rank S. Fazer amigos e encontrar pessoas de quem cuidar. A Igreja nĂŁo precisava mais de mim. Como se algum dia tivesse precisado.
Eu tinha conseguido aquela promoção… ou serĂĄ que nĂŁo? SerĂĄ que jĂĄ era hora de dar baixa? SerĂĄ que vivi uma vida feliz? Nem cheguei a conhecer a cidade direito, e ainda tinha itens mĂĄgicos em produção. SerĂĄ que ia passar duas vidas sem encontrar o amor?
Era assim que tudo terminava?
â Eu… nĂŁo vou… morrer aqui!
No momento em que as mandĂbulas do dragĂŁo começaram a se fechar sobre mim, convoquei um barril de SubstĂąncia X e o arremessei direto em sua boca, usando cada gota restante de força de vontade para rolar para longe e conjurar uma Cura Extra.

Uma pontada horrĂvel de dor percorreu meu corpo, mas apenas por um instante. Me forcei a ficar de pĂ© enquanto o dragĂŁo se contorcia e se debatia feito um louco.
â Monstros realmente nĂŁo gostam dessa coisa.
Me virei para curar meus companheiros, mas entĂŁo senti o chĂŁo tremer, seguido por um estrondo baixo.
â VocĂȘ sĂł pode estar brincando.
Quando olhei na direção do barulho, vi o dragão. No chão. Espumando pela boca.
â EntĂŁo eu podia simplesmente…
Peguei a Espada da IlusĂŁo de onde ela havia caĂdo, infundi com magia e cortei o pescoço da fera. O golpe foi limpo, mas seu pescoço era espesso. Com a ajuda de Reforço FĂsico, deslizei a lĂąmina de uma ponta Ă outra, e nossa vitĂłria foi selada.
Um momento depois, o dragão desapareceu, deixando para trås apenas um grimório, uma gema carmesim e uma espada colossal cravada na pedra onde antes estava sua cabeça. Depois de guardar os itens na minha bolsa mågica, me apressei para tratar os feridos.
Lionel, Ketty e todos os outros me encaravam com descrença, mas ninguĂ©m estava mais chocado do que eu. MurmĂșrios começaram a se espalhar: “matador de dragĂ”es” pra cĂĄ, “flagelo imortal dos dragĂ”es” pra lĂĄ, com algumas palavras como “sagrado” jogadas no meio.
â Luciel, como vocĂȘ fez isso? â perguntou Lionel.
Ah, certo. NĂŁo era de se admirar que estivessem tĂŁo confusos.
â EntĂŁo, eu fui esmagado pela cauda, nĂ©? Bom, tudo ficou escuro depois disso, e quando acordei, vi o dragĂŁo prestes a me finalizar. Naquele momento, pensei que era tudo ou nada, entĂŁo joguei um barril de SubstĂąncia X nele, e parece que ele nĂŁo gostou muito. Depois foi sĂł decepar a cabeça enquanto estava inconsciente.
Lionel deu um passo para trĂĄs.
â Isso Ă© incrĂvel!
Enquanto isso, Ketty e os outros homens-fera se encolheram de medo renovado da substĂąncia.
Goldhus se aproximou de mim.
â VocĂȘ salvou nossas vidas. Sem vocĂȘ, nĂŁo estarĂamos aqui agora.
â Ă, provavelmente nĂŁo. Digamos que vocĂȘs me deem um pouco de SubstĂąncia X e ficamos quites por quase terem nos matado â respondi com um sorriso cĂnico.
O mestre da guilda caiu no chĂŁo e se prostrou.
â Enfim, quero saber por que diabos vocĂȘs estavam obedecendo cegamente tudo que Shahza dizia â disse, franzindo a testa. â Como ele convenceu vocĂȘs a arriscar a vida limpando um labirinto inteiro? VocĂȘs deviam ter um pouco mais de respeito pela prĂłpria vida, ou os deuses que as deram podem acabar irritados.
Os homens-fera seguiram o exemplo de Goldhus e também se jogaram no chão. Todos de uma vez responderam:
â Sim, senhor! Mil desculpas, senhor!
Aquele outro reencarnado devia ter causado um impacto cultural e tanto. Onde foi que essas pessoas aprenderam a se prostrar desse jeito, como se estivessem num drama de Ă©poca japonĂȘs?
Purifiquei a sala e voltei a curar os feridos. Pelo canto do olho, vi Goldhus se aproximar do corpo de Shahza, prestar seus respeitos e entĂŁo recolhĂȘ-lo.
Quando tudo terminou, o cansaço me atingiu como um soco. Mas o problema era que ainda nĂŁo tĂnhamos terminadoâ ou pelo menos, eu nĂŁo tinha. Ainda havia mais uma coisa a fazer, entĂŁo pedi aos outros que montassem guarda e tirei um merecido cochilo.
Tradução: CarpeadoPara estas e outras obras, visite o Carpeado Traduz â Clicando Aqui
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