The Great Cleric â CapĂtulo 1 â Volume 4
The Great ClericSeija Musou
CapĂtulo 5: Para Reviver a Guilda dos Curandeiros
Light Novel Online – CapĂtulo 1:
[Yenice, a Cidade da Liberdade]
JĂĄ fazia um mĂȘs desde que partimos da Cidade Sagrada rumo a Yenice, e nĂłs â a Ordem da Cura â ainda nem havĂamos cruzado a fronteira. Nosso trabalho para reviver a Guilda dos Curandeiros jĂĄ deveria estar bem encaminhado, se nĂŁo fosse pelas ordens que Sua Santidade nos deu. No momento, estĂĄvamos presos em uma vila ao sul, cumprindo suas exigĂȘncias.
Jord e eu observĂĄvamos o mestre da guilda encolhido atrĂĄs da mesa, pĂĄlido, enquanto Piaza, um dos cavaleiros sob meu comando, fazia seu relatĂłrio.
â Dois membros da equipe foram considerados culpados por corrupção, e recebemos denĂșncias de mĂĄ conduta sobre curandeiros de vĂĄrias clĂnicas. Os procedimentos para a remoção deles e a transferĂȘncia para a capital jĂĄ foram realizados.
â Obrigado, Piaza â respondi. â Prepare a equipe para partirmos e me espere lĂĄ embaixo.
â Sim, senhor!
Observei o cavaleiro se retirar da sala antes de voltar minha atenção para o mestre da guilda.
â Por favor, avise a Sede o mais rĂĄpido possĂvel caso surja mais algum problema.
â E-eu nĂŁo vou ser demitido? â ele gaguejou.
Agora fazia sentido ele estar tão pålido. Não o culpo, considerando sua posição. Um jovem com novas ideias e autoridade recém-adquirida, como eu, não devia ser muito bom para o coração dele.
â NĂŁo. Desta vez, nĂŁo. Mas isso pode mudar rĂĄpido. NĂŁo me faça voltar aqui, entendeu?
â S-sim, senhor! Sinto muito pelo transtorno, senhor! â ele choramingou, abaixando a cabeça.
Jord e eu trocamos um sorriso seco.
â Vamos trabalhar juntos nisso. Quero que os curandeiros sejam admirados pelo nosso trabalho, nĂŁo evitados por causa de prĂĄticas desonestas. Espero que vocĂȘ tambĂ©m queira isso.
SaĂmos do escritĂłrio e descemos as escadas.
â VocĂȘ pegou pesado com ele, chefe â Jord disse com um sorriso.
â Nem foi tanto assim. O que tem de tĂŁo engraçado?
â A cara deles, claro. Nunca me canso dessa expressĂŁo idiota que fazem sempre que vocĂȘ solta essa frase.
â Quanta humildade da sua parte. Mas nĂŁo foi nada especial, sĂł o objetivo da Igreja. VocĂȘ sabe disso. Pessoalmente, fico mais surpreso com o quanto as pessoas tĂȘm aceitado expor essas clĂnicas e guildas problemĂĄticas.
â VocĂȘ as inspira.
â Eu inspiro? De que jeito?
â Bom, como nĂŁo inspiraria, depois de verem o respeito que vocĂȘ ganhou em Merratoni? Eles estĂŁo cansados de ficar acumulando poeira na Sede. Querem ser como vocĂȘ, e isso tambĂ©m vale para mim.
â Ah, qual Ă©, nĂŁo me faça corar. Mas essa Ășltima parte eu vou ignorar. VocĂȘ quer ser como eu?
â VocĂȘ me magoa.
A Ordem nos aguardava no primeiro andar, alinhada em fileiras organizadas.
â Obrigado mais uma vez por ajudarem a resolver essa situação tĂŁo rĂĄpido. Eu nĂŁo teria conseguido sem vocĂȘs â disse a eles.
Encontramos problemas em praticamente todas as vilas por onde passamos até agora, e nem preciso dizer o quanto eu estava feliz por não estar sozinho.
â Ficamos felizes em ajudar. E Ă© graças Ă sua magia sagrada e suas conexĂ”es que nossa jornada tem sido tĂŁo tranquila â respondeu um deles.
â Sim â concordou outro cavaleiro. â Se aqueles aventureiros nĂŁo tivessem nos dado uma mĂŁo, estarĂamos em maus lençóis.
â Ainda assim, agradeço a todos vocĂȘs. Agora que resolvemos tudo por aqui, Ă© hora de partir.
â Sim, senhor!
SaĂmos da guilda, e os cavaleiros montaram seus cavalos com a postura firme. Os curandeiros entraram na carruagem, e eu pulei sobre o dorso negro como a noite da minha fiel montaria, ForĂȘt Noire. Com aplausos Ă s nossas costas e determinação em nossos coraçÔes, seguimos viagem mais uma vez rumo Ă cidade-estado de Yenice.
Eu nĂŁo esperava que a viagem levasse tanto tempo, mas ordens eram ordens. O papa nos pediu para parar em cada vila ao longo do caminho e enviar qualquer indivĂduo problemĂĄtico para a Sede imediatamente, entĂŁo era isso que estĂĄvamos fazendo. Apareceram mais do que alguns culpados no caminho, e sempre surgiam mais. Antes que percebĂȘssemos, jĂĄ tĂnhamos passado semanas na estrada.
â Daqui em diante Ă© um caminho reto, certo? â perguntei a Piaza.
â Exato. HĂĄ uma vila pequena onde passaremos a noite, depois chegaremos Ă fronteira.
â Estou ansioso para dormir em uma cama hoje.
â Idem.
Assim como no resto da viagem, chegamos ao nosso próximo destino sem encontrar bandidos ou monstros no caminho. E isso era graças aos aventureiros locais. Depois da nossa festa de despedida, Grantz, o mestre da guilda, enviou seus homens na frente para eliminar qualquer ameaça em nosso trajeto e garantir nossa segurança. Eu estava extremamente grato e esperava ter uma relação igualmente boa com a Guilda dos Aventureiros de Yenice.
â Pronto, isso Ă© todo mundo. AlguĂ©m mais precisa de cura?
â NĂŁo, senhor. NĂŁo sei como podemos retribuir. Tem certeza de que sĂł precisa de um quarto? â o prefeito idoso franziu a testa, preocupado. Ele e eu fizemos um acordo: eu curaria os moradores da vila, e ele nos daria um lugar para descansar.
â NĂŁo precisa se preocupar com comida. Quero melhorar minhas habilidades culinĂĄrias, entĂŁo vamos nos virar com o que eu conseguir preparar.
â Se tem certeza… Mas, por favor, nĂŁo hesite em pedir se precisar de qualquer coisa. Qualquer coisa mesmo.
â Agradeço.
Deixei o prefeito e fui até a antiga casa comunal que ele ofereceu para a nossa equipe passar a noite. Um dia, jå fora um centro administrativo da vila, mas seus dias de glória haviam ficado no passado. Nada que um feitiço de Purificação não resolvesse. Além disso, o espaço era grande o suficiente para todos nós nos apertarmos ali dentro.
Fomos direto preparar o jantar.
â Esse item mĂĄgico Ă© incrĂvel. Ă tĂŁo fĂĄcil de usar que atĂ© eu consigo â Piaza se maravilhou enquanto operava o limpador automĂĄtico de vegetais, codinome Lil Shiny. Rina, que eu ainda suspeitava ser uma das reencarnadas, desenvolveu o aparelho a meu pedido.
A ideia me veio durante minhas aulas de culinåria. Eu me lembrava de ter ouvido na minha vida passada que lavar legumes com um pouco de ågua morna ajudava a realçar sua frescura. Mas quando falei disso para Rina, que claramente não tinha o menor senso de culinåria, ela veio até mim com um projeto para uma enorme måquina de lavar no estilo de um tambor gigante, que eu imediatamente rejeitei e substituà pela atual mini måquina de lavar louça. De qualquer forma, isso tornou o processo muito mais simples.
â Definitivamente Ă© mais rĂĄpido do que esfregar comida suficiente para alimentar uma dĂșzia de pessoas â eu disse. â A ĂĄgua na panela jĂĄ estĂĄ fervendo?
â Sim, e tenho que dizer, esse fogĂŁo mĂĄgico Ă© simplesmente incrĂvel. Nunca vi um dispositivo manter o calor com tanta precisĂŁo. Vou ter que comprar um para mim quando voltarmos para a capital.
Rina iria longe com seu talento, embora a fama nĂŁo fosse tudo o que diziam ser. Isso era algo que eu sabia bem.
â Acho que isso ainda vai demorar um pouco, mas quando voltarmos, te mostro onde encontrar um bom artesĂŁo. Agora, vocĂȘs podem deixar o jantar comigo, se puderem cuidar dos cavalos. SĂł nĂŁo esperem nada gourmet.
Os que nĂŁo estavam ajudando na cozinha deram o sinal e logo começaram a trabalhar. O menu de hoje era pot-au-feu com vegetais extras e pĂŁo recĂ©m-assado, feito com fermento extraĂdo de uvas fermentadas (ou algo que parecia, cheirava e tinha gosto de uvas neste mundo). Uma receita de Gulgar. NĂŁo era nada elaborado, mas nossos suprimentos eram limitados na estrada, entĂŁo eu nĂŁo podia me dar ao luxo de arriscar.
Curiosidade: o feitiço de Purificação na verdade não afetava as bactérias necessårias para o pão crescer. Ele só eliminava os tipos prejudiciais. O mesmo, infelizmente, não podia ser dito sobre o queijo azul. Talvez tivesse a ver com o conhecimento e as concepçÔes do próprio conjurador.
Terminamos de preparar o jantar, e enquanto comĂamos, ouvi os relatos do dia â nosso costume nas refeiçÔes. A conversa girou em torno de vĂĄrias coisas, principalmente conselhos sobre magia, treinamento, como usar melhor a Habilidade de Reforço FĂsico ou os mĂ©todos mais eficazes de conjuração. Nada de novo, mas nossas sessĂ”es de troca de conselhos tinham definitivamente ganhado um novo nĂvel de paixĂŁo (coincidentemente, logo depois de visitarmos Merratoni â meu mestre era um homem assustador).
Ainda assim, Ă s vezes era fĂĄcil esquecer, mas meu grupo nĂŁo era nada desprezĂvel. Havia muito que eu podia aprender com os habilidosos Cavaleiros de Shurule, e eu realmente aprendia com nossas discussĂ”es.
Depois do jantar, liderei a Ordem na pråtica de Manipulação Mågica, o que acabou aumentando minha habilidade de Liderança. Era só isso que bastava? Se sim, então devia ser uma habilidade bastante comum.
â AmanhĂŁ chegamos a Yenice â Jord me informou. â Como pretende reconstruir a Guilda dos Curandeiros lĂĄ?
â Para falar a verdade, ainda nĂŁo pensei nisso â admiti. â NĂŁo faço ideia do porquĂȘ de ela ter sido desativada, e prefiro ver com meus prĂłprios olhos antes de tirar conclusĂ”es. No mĂnimo, farei o que me pedirem.
â Acho que Ă© tudo o que dĂĄ para fazer. Mas lembre-se de que chamam Yenice de Cidade da Liberdade por um motivo. NĂŁo espere as mesmas interaçÔes raciais que estĂĄ acostumado em Shurule.
â Tipo Grandol, certo? Bastante diversidade. Lembro de ouvir que a população de Yenice Ă© majoritariamente composta por feras. O que quer dizer com isso?
â NĂŁo Ă© sĂł diversidade, a cidade-estado inteira foi fundada por raças de feras. EntĂŁo acho que nĂŁo veremos muitos humanos. Talvez um ou outro aventureiro.
â Ah. Entendi o que quer dizer.
Nanaella me ensinara anos atrås que Yenice era o lar de muitos ferais, e antes de sairmos de Merratoni, Galba me disse para não confiar em ninguém além de mim mesmo. As peças definitivamente se encaixavam, mas todos os ferais que eu conhecia eram boas pessoas. Não valia a pena me preocupar com isso agora.
â NĂŁo somos supremacistas humanos â Jord continuou â, mas isso nĂŁo muda o fato de que somos forasteiros vindos de um paĂs do qual a maioria dos ferais acaba fugindo exatamente por esse motivo. NĂŁo vou mentir â estou um pouco nervoso.
Eu entendia sua preocupação. NĂŁo havia garantia de que nĂłs, a minoria humana, nĂŁo serĂamos alvo de perseguição assim que pisĂĄssemos em terras yenitianas.
â Acho que estaremos bem, desde que ajamos naturalmente e sejamos humildes. Se tivermos problemas, basta nos comunicarmos. Vamos superar isso juntos.
â Certo.
Meu mestre sempre dizia que, quando vocĂȘ estĂĄ andando no escuro, Ă© melhor se preparar para o pior do que tentar se preparar para tudo. E os irmĂŁos lobos me disseram para usar seus nomes caso nos metĂȘssemos em encrenca, fosse lĂĄ o que isso significasse. EntĂŁo, do que eu tinha que me preocupar? Foram eles que nos chamaram, afinal.
â Tenho certeza de que vou precisar do seu conselho quando as coisas começarem. Pode ficar por perto?
Jord sorriu e assentiu.
Quando terminamos o treino de magia, todos tivemos uma boa noite de sono.
Na manhĂŁ seguinte, partimos em direção Ă fronteira entre Yenice e Shurule. As ĂĄrvores e florestas começaram a rarear, e os campos verdejantes foram dando lugar a um terreno rochoso enquanto seguĂamos pela estrada rumo a um grande vale.
â Yenice fica logo depois daquela passagem â anunciou um dos cavaleiros. â Nosso comitĂȘ de boas-vindas deve estar nos esperando do outro lado.
â Estamos quase lĂĄ. Vamos, pessoal, sĂł mais um esforço!
â Como sempre, nenhum monstro ou bandido apareceu na estrada. Ainda assim, confiei que minha guarda permaneceria alerta o tempo todo, enquanto os curandeiros lançavam continuamente Cura em Ărea e Purificação (o favorito de ForĂȘt) em seus cavalos cansados para ajudar a aprimorar suas habilidades de Magia Sagrada. Olhei para o portĂŁo Ă distĂąncia e soube que as coisas nĂŁo seriam tĂŁo fĂĄceis depois de passarmos por ele.
â Vou lançar Barreira em Ărea sĂł por precaução â anunciei. â Fiquem atentos, pessoal.
â Sim, senhor!
Bem na fronteira, espremida entre penhascos Ăngremes, erguia-se uma cidadela. A estrada pelo portĂŁo parecia mal ter largura suficiente para que nossa carruagem passasse. A geografia praticamente implorava para que bandidos ou criaturas estivessem Ă espreita, prontos para nos emboscar. E o fato de o portĂŁo estar ali, escancarado, nĂŁo nos dava nenhuma garantia de segurança.
Talvez eu devesse avisar o papa que alguém esqueceu de fechar a porta da frente.
Ao passarmos pelo portĂŁo e seguirmos adiante, a paisagem voltou a se expandir. De repente, o ar pareceu ficar mais denso e quente, e o sol castigava com uma intensidade nova. Os outros pareciam um pouco desconfortĂĄveis com a mudança repentina de clima, mas, felizmente, minhas roupas e armaduras encantadas faziam com que eu mal percebesse. Minha atenção estava muito mais voltada para as inĂșmeras silhuetas que se aproximavam Ă distĂąncia.
De repente, uma figura menor se destacou dos mais altos e gritou:
â Senhor curandeiro!
Abaixei minha guarda. Devia ser o grupo de Yenice enviado para nos receber. A garota correndo na minha direção era… Como era mesmo o nome dela? Shera? NĂŁo, espera, Sheila.
â Podem relaxar, pessoal. Acho que sĂŁo de Yenice. Reconheço a garotinha.
Desmontei de ForĂȘt e abri os braços para Sheila, mas ela simplesmente se jogou contra mim e praticamente me derrubou no chĂŁo.

NĂŁo consegui evitar e instintivamente lancei Cura em Ărea. Se antes eu nĂŁo entendia direito o quĂŁo mais fortes os homens-fera eram, agora estava bem claro.
â Ora, ora, Sheila. Agora vocĂȘ consegue falar.
â Sim! Aconteceu logo depois que partimos!
â Ă mesmo? Bem, coisas incrĂveis acontecem para boas garotas, e eu nĂŁo conheço ninguĂ©m que se esforce tanto quanto vocĂȘ.
Estranho. Quando tentei lançar Cura Extra nela naquela Ă©poca, nĂŁo deveria ter funcionadoâmeu nĂvel de habilidade nĂŁo era alto o suficiente. Isso sim Ă© um milagre.
A pequena garota-fera riu e sorriu enquanto eu puxava ForĂȘt Noire em direção ao restante do grupo dela. Minha equipe nos seguiu.
â Santo EsquisitĂŁo, nĂŁo temos palavras para agradecer a vocĂȘ e seus companheiros por fazerem essa jornada atĂ© nossa terra natal â disse o homem Ă frente. â Meu nome Ă© Shahza, representante atual do povo-tigre.
Eu nunca tinha visto um homem-tigre antes e, para ser sincero, eles nĂŁo eram exatamente como eu imaginava. Sua barba e costeletas se fundiam em uma juba incrivelmente parecida com a de um leĂŁo.
â Agradecemos a todos por virem nos receber. Sou Luciel, curandeiro de rank S, e esta Ă© minha equipe. Estamos ansiosos para trabalhar com vocĂȘs.
â Ah, que notĂcia maravilhosa. Como poderĂamos nos chamar de Cidade da Liberdade quando nossos cidadĂŁos precisam se virar apenas com uma Guilda dos Doutores? Sim, isso Ă© realmente uma grande notĂcia.
â Fico feliz em poder ajudar. Mas vamos com calma. Preciso ver a situação com meus prĂłprios olhos e obter algumas informaçÔes antes de começarmos a fazer mudanças.
â E somos gratos por isso. Nossa cidade ainda estĂĄ a cerca de trĂȘs dias de viagem daqui, mas espero que isso nĂŁo seja um problema.
Reprimi um suspiro. SĂł podia ser brincadeira.
Shahza estendeu a mão, e eu a apertei, disfarçando a poeira com meu melhor sorriso de negócios.
â De forma alguma â respondi.
Seu aperto de mĂŁo era firme. Muito firme. Talvez todos os representantes de Yenice precisassem ter algum nĂvel de força fĂsica para serem eleitos. De qualquer forma, havĂamos finalmente chegado e estĂĄvamos a caminho do coração da cidade-estado.
***
Ficou claro quase imediatamente que nĂŁo estĂĄvamos mais em Shurule. Durante a viagem, fomos atacados por monstros vĂĄrias vezes, mas Shahza, o chefe dos delegados de Yenice, recusou-se a deixar que seus ilustres convidados levantassem um dedo sequer e nos protegeu com a ajuda de seus guerreiros.
NĂŁo gostei de ficar parado enquanto eles lutavam por nĂłs, entĂŁo os auxiliamos com magia de barreira e cura. Na verdade, essa pequena ajuda atĂ© nos rendeu alguns nĂveis. Segundo Jord, apoio em combate contava como experiĂȘncia de batalha, o que me deu algumas ideias para estratĂ©gias de power leveling, mas deixei isso de lado por enquanto, atĂ© conseguir testar minhas teorias.
Os cavaleiros pareciam inquietos, como se estivessem se coçando para entrar na luta. Provavelmente um efeito colateral do inferno de treinamento de Brod. Eles precisariam de um jeito de extravasar antes que isso se tornasse um problema, então considerei deixå-los treinar na Guilda dos Aventureiros quando não estivessem ocupados com a guarda ou até permitir que aceitassem missÔes como aventureiros. Minhas reservas de Substùncia X estavam acabando, e eu precisava de mais.
Falando na “X”, eu tinha tomado um caneco dela naquela manhĂŁ e, ainda assim, subi de nĂvel, o que significava que seus efeitos de bloqueio de experiĂȘncia duravam, no mĂĄximo, meio dia. Fiquei ansioso para investigar melhor esse lĂquido misterioso assim que organizĂĄssemos as coisas na Guilda dos Curandeiros.
Minha mente fervilhava com tudo o que precisava ser feito, entĂŁo comecei a anotar algumas ideias durante uma de nossas pausas, e logo a pĂĄgina estava coberta de tinta. SĂł havia uma coisa a fazer: seguir um passo de cada vez.
TrĂȘs dias se passaram, e nossa longa jornada finalmente chegou ao fim. HavĂamos chegado ao coração de Yenice, a Cidade da Liberdade.
***
Um dia, Yenice teve uma filial da Guilda dos Curandeiros, até que circunstùncias de décadas atrås tornaram necessåria sua retirada. Pelo menos, era isso que me disseram, mas eu não imaginava que a situação fosse tão ruim.
Parados diante do que um dia fora a guildaâse Ă© que ainda podia ser chamada assimâ, ficamos sem palavras. Mas nĂŁo por causa do estado de deterioração e sim pelo local onde ela estava.
â Isso… fica nos cortiços? â perguntei hesitante.
â Sim, senhor. A Guilda dos Curandeiros sempre esteve aqui. Peço desculpas pela localização, mas nĂŁo havia outro terreno disponĂvel para transferi-la â Shahza respondeu com um tom de lamento, mas nĂŁo conseguia esconder o sorriso divertido por trĂĄs da mĂŁo. Ele estava claramente me provocando.
Os outros homens-fera nĂŁo compartilhavam de sua diversĂŁo e desviaram o olhar desconfortĂĄveis, confirmando minha suspeita de que o homem-tigre era quem dava as cartas por ali.
Pensei na nossa viagem e lembrei de quantas vezes Sheila tentou falar comigo, mas desistiu. Ela e os outros homens-fera que conheci dois anos atrås na Cidade Sagrada pareciam especialmente tensos perto de Shahza. No começo, achei que fosse algum tipo de tensão racial, mas Shahza não saiu do meu lado desde que partimos para a cidade, me obrigando a deixar Sheila de lado. Durante esse tempo, ele me bombardeou com perguntas sobre curandeiros e magia de cura, e eu simplesmente assumi que era a maneira dele de nos dar as boas-vindas. Mas seu verdadeiro objetivo era me afastar da garota, para esconder a realidade da situação que agora estava bem diante de nós.
Ele me passou a perna direitinho.
Agora que eu pensava nisso, todos os pedidos ousados que ele fez Ă guilda começavam a fazer mais sentido. Ele queria preços mais baixos para tratamentos de cura em relação a outras mercadorias, pacientes de diferentes raças tratados de acordo com as leis locais de Yenice, curandeiros presentes nas batalhas contra monstros e que a Igreja de Saint Shurule arcasse com os custos para fundar novas clĂnicas.
Nem precisava dizer que nĂŁo havia a menor chance de eu conseguir fazer tudo isso da noite para o dia.
â Me desculpe, mas deixe-me esclarecer uma coisa â eu tinha dito a ele mais cedo. â NĂŁo somos uma organização de caridade. Mas vamos deixar essa conversa para quando a guilda estiver realmente funcionando. Isso vem primeiro. Fechado?
Agora, eu sabia que não tinha imaginado a frieza em seu olhar malicioso na hora. O cara não tirava os olhos de mim, então não pude comentar minhas preocupaçÔes com a equipe por um tempo. Só depois de entrar na cidade consegui dar uma palavra råpida com Jord, que compartilhava minhas suspeitas.
â Parece que os cavaleiros vĂŁo ter trabalho antes dos curandeiros, hein? â ele brincou.
Eu mesmo nĂŁo achei graça. Depois disso, avisei a todos para ficarem atentos, mas nunca imaginei que nosso instinto estaria certo. Pelo menos, nĂŁo dessa forma. O bairro nĂŁo era o mais seguro que jĂĄ vi, para dizer o mĂnimo. Deixe para Gulgar e Galba terem uma cidade natal assim…
â Vamos dar um jeito â eu disse para o homem-tigre sorridente. â AtĂ© tudo estar funcionando, vamos definir nossos prĂłprios preços. E quem nĂŁo tiver dinheiro vai pagar com trabalho.
â Espero que vocĂȘ nĂŁo esteja falando de trabalho escravo â Shahza rebateu com um olhar feroz. Mas, comparado ao meu mestre, nĂŁo era nada. Parecia mais um gato domĂ©stico encarando um rato de brinquedo.
A equipe esperava pacientemente pela minha resposta. Esse cara nĂŁo era tĂŁo durĂŁo quanto pensava.
â Quero dizer trabalho normal. HĂĄ muito o que reconstruir. Na Igreja, criamos “contratos” vinculando duas partes a um juramento perante os deuses, e eles funcionam bem para situaçÔes como essa.
â E como isso Ă© diferente da escravidĂŁo? â ele cuspiu de volta.
Mantive a compostura.
â Primeiro, Ă© um juramento aos deuses. NĂŁo Ă© algo que alguĂ©m pode ser forçado a fazer, ou seria punido divinamente. Qual Ă© a punição? Sua magia, sua vida? NĂŁo sei ao certo. AliĂĄs, vocĂȘ sabe que estou planejando fazer um com vocĂȘ, nĂŁo sabe?
A måscara calma e controlada de Shahza finalmente começou a rachar.
â Por que tanto medo? Isso nĂŁo vai te matar. No mĂĄximo, pode diminuir um pouco seu nĂvel. VocĂȘ aguenta, nĂŁo aguenta, Representante? Isso ajudaria muito na restauração da guilda por aqui.
â N-NĂŁo vamos ser precipitados! Tenho certeza de que podemos encontrar formas melhores de ajudĂĄ-lo!
â Ah, nĂŁo se preocupe com isso. Ouvi dizer que vocĂȘs tĂȘm um mercado de escravos bem movimentado por aqui. Vamos encontrar bastante ajuda assim e construir isso do jeito que der. NĂŁo podemos esperar que voluntĂĄrios simplesmente apareçam na nossa porta.
Lancei para ele um sorriso brilhante. NinguĂ©m veio em socorro do polĂtico aflito. Felizmente, Jord e eu jĂĄ tĂnhamos planejado vĂĄrias eventualidades.
â Espere, Ă© verdade! Ăamos organizar um banquete de boas-vindas para vocĂȘs!
â SĂ©rio? Poxa, agradeço muito.
Um pouco da cor voltou ao rosto de Shahza. Me perguntei o que ele estava tramando. Envenenamento? Como se isso funcionasse comigo.
â Infelizmente, nĂŁo posso deixar as coisas como estĂŁo. Nosso Curandeiro Divino deve estar de luto ao ver essa situação. Podemos ser curandeiros, mas tambĂ©m somos da Igreja, e precisamos corrigir esse erro. EntĂŁo, insisto que firmemos esse contrato antes de qualquer outra coisa. O que me diz, Senhor Shahza?
Estendi a mĂŁo e notei o suor escorrendo pelo rosto dele.
â O que foi? O calor estĂĄ te incomodando? â perguntei inocentemente.
â Estou muito, muito arrependido, Santo esquisito, mas, veja sĂł, de repente nĂŁo estou me sentindo bem. Talvez em outro dia, mas agora preciso me retirar.
â Ah, que pena. Aqui, deixe-me ajudar. Cura Suprema! Recuperação! Purificação! Dissipar!
Eu sabia que lançar todos aqueles feitiços não o impediria de fugir, mas eu precisava tentar.
â Impressionante! â ele engasgou. â Quer dizer, quero dizer… receio que nĂŁo possa mais perder tempo aqui! Deveres de delegado-chefe!
E lå se foi ele. Sheila e seu pai, Orga (um ex-representante), se curvaram educadamente antes de seguir rapidamente seu superior. Sheila acenava tanto para mim que achei que seu braço fosse sair voando. Seu pai devia ter dito para ela não falar comigo.
â Bem â Jord suspirou â temos trabalho pela frente.
â Com certeza temos â respondi. â Vamos começar tornando esse lugar mais higiĂȘnico com um pouco de magia. Ah, e eu falei sĂ©rio sobre conseguir escravos. As coisas podem ficar perigosas por aqui. Precisamos de mais guardas.
â Sim, senhor! â a equipe respondeu.
Dentro do salĂŁo da guilda, fomos recebidos por um teto com goteiras, tĂĄbuas do piso quebradas e teias de aranha a perder de vista. As Ășltimas podiam ser resolvidas com Purificação, mas o resto exigiria um pouco mais de esforço. PrecisarĂamos nos preparar para uma grande reforma.
Felizmente, a Ordem parecia animada com a ideia. Assim que o lugar estivesse minimamente limpo, organizarĂamos os dormitĂłrios e entĂŁo eu dividiria a equipe em dois grupos: um para vigiar os cavalos e outro para me acompanhar ao mercado de escravos.
Mal sabia eu que um certo Monsieur Luck estaria me esperando lĂĄ.
Tradução: CarpeadoPara estas e outras obras, visite o Carpeado Traduz â Clicando Aqui
Tradução feita por fãs. 
Apoie o autor comprando a obra original.
Compartilhe nas Redes Sociais
                        
                        
                        
                        
                        
                        
                        
                        
Publicar comentĂĄrio