The Great Cleric â CapĂtulo 9 â Volume 3
The Great ClericSeija Musou
Arco 4: O Curandeiro Que Mudou o Mundo
Light Novel Online – CapĂtulo 9:
[Novo Equipamento, Velhos Favoritos]
TrĂȘs meses se passaram. TrĂȘs meses sem grandes acontecimentos, apenas explorando o labirinto, treinando com os rapazes na Guilda dos Aventureiros e realizando purificaçÔes nos “churrascos” (disfarçados como exercĂcios especiais).
A prĂĄtica desses churrascos se espalhou por outros regimentos depois que as ValkĂrias deixaram escapar minhas habilidades de higienização de carne para Catherine. Pelo lado positivo, isso ajudou a substituir o medo que eu sentia dos monstros fora do labirinto por uma espĂ©cie de respeito. Melhor ainda, os cavaleiros nĂŁo tinham o costume de me dar apelidos como os aventureiros faziam. Eu tinha certeza de que, se soubessem da nova tradição, os aventureiros adorariam nos chamar de algo como “Os Mastigadores”.
De qualquer forma, meu relacionamento com os cavaleiros estava começando a melhorar, minha equipe estava se unindo, e cada vez mais deles conseguiam engolir o Substancia X sem ver estrelas.
EntĂŁo, finalmente chegou o dia em que Mardan e Muneller terminaram minhas diretrizes de cura. As regras estavam prontas.
Sua Santidade me chamou aos seus aposentos para discutir o assunto.
â Vamos anunciĂĄ-las oficialmente quando vocĂȘ completar vinte anos. O que me diz?
â EstĂŁo em suas mĂŁos. JĂĄ confirmei que estĂĄ tudo certo com os arcebispos, entĂŁo deixo isso com vocĂȘ.
Eu gostaria de tornĂĄ-las oficiais imediatamente, mas nĂŁo era ninguĂ©m para os curandeiros, suas famĂlias ou os funcionĂĄrios da guilda subornados, que certamente se oporiam.
â Muito bem. Se bem me lembro, uma vez lhe pedi que estudasse o lado administrativo de nossas guildas e clĂnicas. Reforço esse pedido agora.
â Administrativo? â Parecia atĂ© que ela queria que eu considerasse a possibilidade de administrar uma clĂnica.
â Exato. Suas regras para a prĂĄtica de cura certamente incitarĂŁo rebeliĂŁo entre aqueles que antes se sustentavam na injustiça. E vocĂȘ Ă© um curandeiro de Rank-S. Que vocĂȘ possa erradicar o mal e ajudar os justos, essa Ă© minha Ășnica esperança. Conhecimento serĂĄ uma ferramenta valiosa para isso.
â Minha interferĂȘncia nĂŁo infringiria a autoridade deles?
â Lembre-se, Luciel, vocĂȘ responde apenas a mim. Eu ouvirei seus relatĂłrios e darei meu julgamento pessoalmente.
â Entendido. NĂŁo mancharei o nome de Rank-S.
â Muito bem dito. Em breve, terei ordens para vocĂȘ. Esteja pronto para agir.
â Sim, Sua Santidade.
Ao sair dos aposentos, dei de cara com Catherine. Ultimamente, eu nĂŁo a via muito alĂ©m dos exercĂcios dos cavaleiros.
â Oi, Catherine. Veio ver Sua Santidade?
â NĂŁo, vim ver vocĂȘ â disse ela, com um sorriso que quase me fez estremecer. Hoje em dia, um sorriso no rosto de Catherine geralmente significava que os cavaleiros estavam prestes a sofrer. Mas dessa vez, o sorriso dela parecia genuinamente caloroso. Mais parecido com a Cattleya que eu lembrava.
â Precisa de algo?
â Lembra do Grand e do Trett?
â Claro. Isso significa o que eu acho que significa?
O sorriso dela se alargou ainda mais.
â Sim. Acabei de receber a notificação de que seu equipamento estĂĄ pronto. Se tiver tempo, que tal darmos um pulo na forja?
â Com certeza!
Eu havia deixado essa memĂłria guardada num canto da minha mente nos Ășltimos trĂȘs meses, acumulando poeira atĂ© agora. Equipamento feito com as escamas e presas do DragĂŁo Sagrado. Feito sob medida para mim. Eu mal conseguia conter a empolgação.
â Eu tambĂ©m tenho um assunto a tratar com eles.
â Oh?
â E nĂŁo se preocupe em chamar sua equipe. Eu serei sua escolta hoje.
Um calafrio percorreu minha espinha. Eu estava a um Ășnico passo errado de passar mais uma noite como o beberrĂŁo designado.
â Certo, mas posso dar um aviso para os caras antes?
â Claro.
Passei no meu quarto e informei meus planos a Piaza, que estava me esperando do lado de fora. Depois, Catherine e eu seguimos para a forja.
â Reparou em algo diferente na Igreja ultimamente? â Catherine perguntou.
â Na verdade, sim. Parece que o treinamento dos cavaleiros ficou mais difĂcil e que eles nĂŁo me odeiam tanto agora.
â Acho que Ă© porque sua equipe estĂĄ levando a pior parte agora â disse ela com um sorriso de canto.
â Basicamente.
Nos Ășltimos dias, essa tinha sido a fase mais pacĂfica desde que cheguei ao quartel-general. A ausĂȘncia de olhares furiosos fazia maravilhas pela alma.
â Ok, mas eu quis dizer âdiferenteâ no sentido de estranho. Algo que pareça fora do normal.
â Nada em particular. Mas tambĂ©m, eu nĂŁo sou o melhor para notar essas coisas. Quem sabe, talvez eu esteja sendo envenenado e nem perceba por causa da minha resistĂȘncia.
Catherine arregalou os olhos para mim.
â Por favor, nĂŁo me olhe assim.
â Acho que nunca vou entender vocĂȘ. Mas, por favor, tente ser mais cuidadoso com sua equipe.
â Vou levar isso em consideração.
Não que eles tivessem muito com o que se preocupar, jå que os curandeiros conseguiam usar magia de cura sem problemas e Palaragus sempre tinha ervas à disposição.
Eventualmente, chegamos Ă forja. Assim que entramos, um funcionĂĄrio nos viu e correu para os fundos. Pouco depois, Grand e Trett apareceram.
â Demorou, hein? â resmungou Grand. â E essa aĂ Ă© a Cattleya? Sempre um prazer.
â Ohhh, fazia tanto tempo que eu jĂĄ estava com medo de que vocĂȘ tivesse nos esquecido â choramingou Trett.
â Desculpem, estive muito ocupado gerenciando minha equipe â expliquei. â Ă a minha primeira vez liderando um grupo, entĂŁo aprender a lidar com isso tem sido um desafio.
â Palavras honestas.
â E verdadeiras tambĂ©m.
â Eu adoraria ficar aqui batendo papo â interrompeu o artĂfice â, mas que tal entrarmos?
â Muito bem dito â concordou o anĂŁo.
Os dois praticamente tinham tomado a forja para seus próprios propósitos. O verdadeiro dono os seguia pelo lugar, ajudando no que podia e absorvendo todo o conhecimento que conseguia dos dois mestres. Admirava a mente aberta dele, e isso só reforçava o quão extraordinårios esses artesãos eram.
Fomos escoltados pela forja até um cÎmodo, onde eu parei na porta.
A criação deles, meu novo equipamento, superou todas as minhas expectativas. Eu mal conseguia acreditar no que via. Tentei, em vão, expressar meus sentimentos em palavras, enquanto esfregava os olhos e olhava de novo, só para ter certeza de que não estava imaginando coisas.
â Confiei meus materiais valiosos a Grand e Trett porque o papa e Catherine confiavam neles. Porque, do contrĂĄrio, ficariam eternamente na minha bolsa mĂĄgica. Porque percebi que aqueles dois tinham um grande orgulho no que faziam. E agora que o trabalho estava pronto, meus sentimentos eram… indescritĂveis.
Eles acenaram para que eu me aproximasse.
â E entĂŁo? Maravilhoso, nĂŁo Ă©? â Trett disse, radiante. â Protege contra miasma, anula magia, torna vocĂȘ mais difĂcil de detectar e atĂ© regula a temperatura! Com isso, vocĂȘ nĂŁo terĂĄ problemas com lĂąminas ou feitiços, de jeito nenhum.
â Sem palavras, hein? â Grand riu. â Isso aqui endurece quando recebe energia mĂĄgica. TambĂ©m funciona como um reforço para feitiços. Canalize sua magia por ele e vai te dar um “up”, sem custo extra.
Eles exibiam sorrisos satisfeitos de missĂŁo cumprida, enquanto eu, por outro lado, ainda estava paralisado, chocado, mandĂbula no chĂŁo. TrĂȘs meses atrĂĄs, eu tinha sido apalpado, forçado a brandir espadas, avaliado, interrogado sobre meu estilo de luta, submetido a todo tipo de testes e provaçÔes. Isso nĂŁo podia ser desfeito. NĂŁo importava quantas vezes eu piscasse, os frutos do meu sofrimento continuavam os mesmos.
Respirei fundo algumas vezes e entĂŁo me virei para Grand.
â Sem querer desrespeitar, mas… eu nĂŁo tinha pedido uma espada?
â NĂŁo Ă© uma beleza?
A “beleza” em questĂŁo era um cajado ornamentado. Talvez eu nĂŁo fosse tĂŁo resistente a venenos quanto pensava, porque devia estar drogado e alucinando naquele momento.
Olhei para Trett.
â E qual foi o sentido de toda aquela apalpação se vocĂȘ nem fez uma armadura? Isso sĂŁo sĂł roupas normais.
Eu estava tĂŁo incrĂ©dulo que quase tentei consertar o que quer que estivesse errado com aqueles dois com um Cura Extra ou um feitiço de Purificação. Eles se entreolharam e entĂŁo caĂram na gargalhada.
â Te enganamos, nĂ©? â Grand pegou o cajado. â Isso aqui nĂŁo Ă© uma bengala comum. Um velho espadachim criou esse truque pra carregar armas onde normalmente nĂŁo se pode levĂĄ-las. SĂł um pequeno movimento e…
O cajado de repente se transformou em uma lĂąmina.
â O quĂȘâ?!
A transformação foi tão råpida e natural que eu comecei a duvidar se aquilo tinha sido mesmo um cajado em algum momento. Jå tinha lido sobre lùminas ocultas, espadas com truques e coisas assim nos livros da minha vida passada, mas aqueles mecanismos escondiam a arma de alguma forma. Esse não. Ele literalmente se transformou em uma espada, como uma ilusão se desfazendo.
â E entĂŁo? A cabeça do dragĂŁo no cabo nĂŁo Ă© sĂł decoração. â O ferreiro admirava sua criação como um garoto encantado. Viver em um mundo de magia e fantasia nĂŁo significava que truques legais e dragĂ”es nĂŁo pudessem nos surpreender.
â EntĂŁo imagino que essas roupas tambĂ©m tenham alguma surpresa â disse a Trett. â Qual Ă© o truque? Elas viram uma armadura?
â Oh-ho, agora vocĂȘ estĂĄ sĂł brincando. Eu sĂł achei que algo menos volumoso cairia bem em vocĂȘ, garotinho curandeiro. SĂł para constar, elas sĂŁo bem mais resistentes do que qualquer armadura que vocĂȘ tem agora.
â Mais fortes do que armaduras?! De metal?!
â Eu simplesmente nĂŁo consegui evitar. Oh, nunca trabalhei com um material tĂŁo interessante antes. Em vĂĄrios sentidos â Trett ronronou, inquieto. â Realmente adorei apalpar vocĂȘ.
Ătimo. NĂŁo precisava ouvir isso. Seguindo em frente.
No começo, nĂŁo acreditei que ele fosse mesmo de uma famĂlia de artesĂŁos lendĂĄrios, mas o trabalho falava por si. Peguei a espada e imitei Grand, transformando-a em lĂąmina e depois de volta ao cajado vĂĄrias vezes, enquanto meu coração vibrava de alegria. Sempre tive um fraco por espadas que podiam mudar de forma assim. Nada era mais legal do que ver o padrĂŁo de dragĂŁo brilhar e a bengala se transformar. Nada. Eu teria continuado brincando com aquilo se Trett nĂŁo tivesse me interrompido.
â Awww, Luciel, nĂŁo vai experimentar as roupas que fiz para vocĂȘ?
â E-eu jĂĄ entendi! Vou vestir, sĂł para de tentar se esgueirar atrĂĄs de mim! â Estremeci.
Todos jå estavam entediados de me ver mexendo na espada, então me apressei em trocar de roupa. Tirei a armadura que havia conseguido no quadragésimo andar do labirinto e vesti o tecido feito de escamas de Dragão Sagrado. Imediatamente senti uma proteção estranha ao redor do meu corpo.
â Como estou? â perguntei.
â ImpecĂĄvel! â Trett respondeu. â Oh-ho, sua segurança estĂĄ em boas mĂŁos agora!
Eu detestava essa expressĂŁo, entĂŁo me virei para Catherine, a mais sincera.
â Ele estĂĄ certo. VocĂȘ parece digno â ela disse. â Coloque o manto e realmente vai começar a ter cara de curandeiro de rank S. Talvez atĂ© parem de te confundir com um cavaleiro.
Respondi com um sorriso tĂmido. De fato, eu tinha um porte fĂsico mais robusto do que a maioria dos curandeiros.
â Que tal chamarmos seu novo cajado de… â Grand coçou o queixo. â Cajado da IlusĂŁo.
Achei um pouco sem criatividade.
â EntĂŁo, quando for uma lĂąmina, seria a Espada da IlusĂŁo?
â Essa Ă© a ideia. Mantenha no formato de cajado enquanto estiver curando e coisas do tipo, assim ninguĂ©m vai te tomar por outra coisa alĂ©m de um curandeiro comum.
â Que encantador! â Trett comentou. â Ah, prometi outra coisa para vocĂȘ, nĂŁo foi, Luciel?
O homem-raposa remexeu em sua bolsa mĂĄgica e puxou um espelho comprido. Demorei um instante para entender o que era.
â Isso Ă© o que estou pensando?
â Exatamente! Esse Dresser de Transformação pode parecer um espelho comum, mas ele cuida de todas as suas necessidades de organização de roupas! Sua nova vestimenta demorou um pouco mais que o esperado, entĂŁo pedi a um amigo para trazer isso para vocĂȘ.
â E isso Ă© meu?
â Todo seu. Eu cumpro minhas promessas.
â Uau, nĂŁo sei nem como agradecer!
â Seu rosto feliz jĂĄ Ă© o suficiente. Agora, basta infundi-lo com sua magia para registrĂĄ-lo…
â Fizemos um Ăłtimo trabalho â Grand comentou. â Nada supera ser pago para fazer o que se ama. Me chame da prĂłxima vez que conseguir materiais valiosos ou precisar de algum ajuste no seu equipamento. Vou garantir que meus assistentes saibam quem vocĂȘ Ă©.
â Digo o mesmo â Trett concordou. â E avisarei quando conseguir progredir com aquele item mĂĄgico que mencionou. Se algum dia visitar nossa cidadezinha, nĂŁo se esqueça de passar lĂĄ. Estarei sempre esperando.
Meu cabelo se arrepiou e um arrepio percorreu minha espinha, mas meu faro afiado para negĂłcios manteve meu sorriso firme.
NĂŁo demorou muito para que os dois partissem da Cidade Santa. Os outros artesĂŁos ficaram tristes ao vĂȘ-los ir. Prometi a Grand que tomaria aquela bebida com Brod na prĂłxima vez que nos encontrĂĄssemos, e Trett mencionou que entregaria meu item mĂĄgico na forja que eles estavam usando, para a alegria do dono.
No caminho de volta para a Sede, algo começou a me incomodar.
â Ei, Catherine, o Grand mencionou que foi pago. Quanto foi?
O sorriso no rosto dela deixou claro que nĂŁo tinha sido barato.
â Ăs vezes, a ignorĂąncia Ă© uma bĂȘnção, Luciel. Considerando os descontos e o fato de que fornecemos os materiais, eu diria que custou o equivalente a todas as pedras mĂĄgicas que vocĂȘ trouxe do labirinto juntas.
â Todas elas, hein?
O que quer que isso significasse. Eu nĂŁo sabia o valor individual daquelas gemas. Um dia eu saberia, mas hoje nĂŁo era esse dia.
Assim que voltei para o meu quarto, mandei Jord dispensar a equipe e comecei a brincar com minha nova cÎmoda de transformação.
â Caramba! O que isso faz? Caramba! Eu realmente preciso aprender umas palavras novas, mas caramba!
Meus gritos animados vazaram para o corredor. A cĂŽmoda nĂŁo registrava minha roupa de baixo, mas eu estava completamente fascinado pelo mecanismo estranho que permitia ao espelho lembrar do que eu estava vestindo. Quem poderia me culpar? Era como salvar conjuntos de equipamentos ou roupas num jogo.
O funcionamento era simples. O dono da cĂŽmoda sĂł precisava tocar o espelho com a mĂŁo, que entĂŁo exibia nĂșmeros com opçÔes para salvar um conjunto, excluir um preset ou trocar para um salvo. Apenas dez conjuntos podiam ser armazenados ao mesmo tempo, mas isso nĂŁo tornava a cĂŽmoda menos Ăștil para guardar roupas como se fosse uma bolsa mĂĄgica.
Alguém começa a produzir isso em massa pra eu poder dar de presente pra alguém!
Com essa tecnologia, cĂąmeras nĂŁo deviam estar muito longe. Aposto que Trett se interessaria pela ideia.
â Vou deixar essas roupas do DragĂŁo Sagrado e minha tĂșnica como padrĂŁo e sĂł usar minha armadura por cima.
Aos poucos, minha empolgação foi diminuindo quando percebi um problema crĂtico.
â Eu sĂł tenho trĂȘs conjuntos salvos aqui.
Praticamente usei as mesmas roupas desde o meu primeiro dia no labirinto. Com a magia de purificação, higiene nunca foi um problema ao ponto de eu sequer pensar em trocar de roupa, e minha tĂșnica evitava que qualquer coisa fosse rasgada. Bom, teve aquele episĂłdio em que fui sistematicamente esquartejado pelo quarto chefe… Tive que comprar roupas novas depois disso. Mas serĂĄ que era higiĂȘnico nunca ter trocado minha roupa de baixo? Claro que sim. Eu tinha Purificação. Mas isso tinha potencial pra se tornar um problema sĂ©rio se eu deixasse passar.
Essa preocupação começou a crescer, e de repente me vi cheio de dĂșvidas. Eu nĂŁo estava nem remotamente preparado para viajar. Quase todas as roupas que ganhei em Merratoni foram destruĂdas durante meu treinamento com Brod, entĂŁo tudo o que me restava eram as peças que comprei quando saĂ com Nanaella. Eu tinha minha tĂșnica da Igreja e a armadura que recebi, mas fora isso, nĂŁo tinha mais nenhuma roupa decente atĂ© hoje. A Ășnica armadura que eu tinha salva na cĂŽmoda era a que consegui no quadragĂ©simo andar.
Espera aĂ… Meu cabelo estava comprido. Eu nunca tive muita barba, entĂŁo nunca precisei me preocupar com isso, mas eu nĂŁo cortei o cabelo uma Ășnica vez desde que vim para a Sede. Simplesmente o deixei amarrado esse tempo todo e nunca reparei porque minha tĂșnica regulava bem a temperatura. Nunca me senti desconfortĂĄvel por causa do calor.
Talvez esteja na hora de um corte cerimonial do rabo de cavalo.
A partir daĂ, meus pensamentos começaram a sair ainda mais do controle. Uma coisa levou Ă outra, e de repente me dei conta de que nĂŁo tinha cozinhado uma Ășnica vez desde que reencarnei. Gulgar preparava minhas refeiçÔes em Merratoni, as cozinheiras da cantina cuidavam de mim aqui, ou entĂŁo eu comia em restaurantes. Nos churrascos, minha Ășnica função era purificar a carne. Deu vontade de cozinhar alguma coisa, mas antes eu precisava arranjar utensĂlios.
AlĂ©m de comida e roupas, o terceiro item essencial para a sobrevivĂȘncia era abrigo, e nisso eu nĂŁo tinha problema. Desde que tivesse meu travesseiro angelical e nĂŁo estivesse em perigo imediato, eu podia dormir em qualquer lugar. Se algo acontecesse com ele, porĂ©m, eu estaria encrencado e sem sono. Quer dizer, se eu conseguisse descansar na carruagem em que viajarĂamos.
Falando em carruagens, eu tambĂ©m precisava considerar ForĂȘt Noire (que eu meio que jĂĄ estava assumindo que levaria comigo). Eu começaria a viajar pelo mundo quando completasse vinte anos. Isso estava a pouco mais de um ano de distĂąncia. O tempo passaria num piscar de olhos. Eu era para ser um curandeiro de Rank S, e nem sequer sabia o bĂĄsico sobre administrar uma clĂnica.
Por favor, me mandem para um lugar que nĂŁo precise ser consertado, eu rezei. Ou melhor, e se eu virasse um curandeiro itinerante? Pensando bem, isso certamente causaria problemas, assim como muitas das coisas que eu fazia. Eu era tipo uma bomba-relĂłgio ambulante.
Quanto mais pensava em tudo, mais difĂcil era parar. E justo quando parecia ser demais para suportar, me lembrei de um velho hĂĄbito esquecido.
â Eu posso estar a maior bagunça de ser humano agora, mas…
Peguei um pergaminho da minha bolsa e comecei a escrever uma lista com minhas preocupaçÔes e como resolvĂȘ-las. Eu costumava anotar tudo compulsivamente, mas atĂ© os hĂĄbitos mais arraigados podem ser quebrados depois de alguns anos.
â Preciso manter o foco. Ser reencarnado nĂŁo Ă© desculpa para ignorar o que aprendi na minha vida passada.
Duas pequenas coisas que aprendi no meu primeiro ano de trabalho na Terra foram sempre ter um caderno Ă mĂŁo para anotar qualquer coisa e sempre ser educado. Esses hĂĄbitos eram simples, mas cruciais para o crescimento pessoal.
Este mundo nĂŁo tinha jornais, televisĂŁo ou ciclos de notĂcias, entĂŁo eu tinha me deixado levar pelo ritmo mais lento e esquecido disso. Eu sabia que nĂŁo era o mais esperto, mas como pude deixar passar algo tĂŁo bĂĄsico?
â Respirei fundo. Eu podia me criticar o quanto quisesse, e haveria um momento e um lugar para isso, mas nĂŁo era aqui nem agora. Agora era a hora de seguir em frente.
Informação estava no topo da lista de necessidades para as minhas prĂłximas viagens. Eu precisava aprender como as guildas e clĂnicas funcionavam e ter uma melhor compreensĂŁo do estado dessas duas instituiçÔes. O melhor lugar para ouvir os Ășltimos rumores era a Guilda dos Aventureiros.
â Cara, e eu acabei de voltar. Vou precisar de uma escolta.
Abri a porta para sair e vi Jord convenientemente se aproximando.
â Ei, Jord, eu estava prestes a passar na Guilda dos Aventureiros e talvez fazer umas compras depois. Quer vir junto?
â TĂŽ dentro pras compras, mas vocĂȘ nĂŁo acabou de sair com a Catherine? â ele perguntou.
â Pensei em algo que preciso de Ășltima hora, sĂł isso.
â VocĂȘ? Saindo pra comprar algo que nĂŁo seja comida? Estranho. â Ele riu enquanto seguĂamos caminho.
Chegando ao salĂŁo da guilda, fomos recebidos por uma enxurrada de aventureiros feridos.
â O que fazemos quanto a isso, senhor? â Jord perguntou.
â Fazemos de hoje o Dia do Santo EsquisitĂŁo e curamos todo mundo. Mas primeiro, vamos ver o que estĂĄ acontecendo com o Grantz.
â NĂŁo sei se temos tempo. Alguns desses ferimentos parecem profundos.
â VocĂȘ tem razĂŁo. Pode ir buscĂĄ-lo para mim?
â JĂĄ vou.
Observei enquanto ele corria para o refeitĂłrio e me preparei para curar todos que pudesse. A BĂȘnção do Curador Divino tornava minha magia algo Ășnico. Minhas magias de Cura nĂŁo apenas estancavam o sangramento e restauravam HP, mas agora tambĂ©m podiam reparar cartilagem e ossos. Na verdade, a guilda acumulou um estoque estranho de bengalas deixadas por pacientes idosos que saĂam melhores do que entraram. E, desta vez, eu tinha o Cajado da IlusĂŁo para tornar minhas magias ainda mais fortes. O quanto mais, eu nem podia começar a imaginar.
Pedi para levarem os feridos para o andar de baixo enquanto me dirigia para lĂĄ.
â Certo, vou começar a cura, pessoal. Como sempre, nĂŁo posso restaurar sangue perdido, entĂŁo, por favor, sejam cautelosos e tratem suas vidas com cuidado.
Ă claro que a Cura Extrapodia regenerar sangue sem problemas, mas minha habilidade de usar essa magia ainda era um segredo bem guardado.
Lancei Cura Alta em Ărea sobre a multidĂŁo atĂ© que todos estivessem saudĂĄveis novamente, mas sem o reforço do meu cajado. Esse experimento teria que esperar. EntĂŁo fui atĂ© o refeitĂłrio avisar Grantz que todos estavam bem.
â EntĂŁo, do que precisa desta vez, Santo EsquisitĂŁo, senhor? SĂł falar. â disse o mestre da guilda.
â âSanto EsquisitĂŁoâ jĂĄ Ă© ruim o bastante, mestre da guilda. NĂŁo precisa adicionar o âsenhorâ. SĂ©rio.
Grantz realmente havia pegado esse hĂĄbito ultimamente. Minhas reclamaçÔes provavelmente eram em vĂŁo, no entanto. O apelido nĂŁo iria embora sem outro para substituĂ-lo.
â Por que vocĂȘ nĂŁo para de me chamar de âmestre da guildaâ, seu rabugento? Enfim, o que precisa, hein?
â Queria perguntar onde os aventureiros cortam o cabelo. Sei que vocĂȘ tem essa barba e tal, mas onde todo mundo mais se arruma?
A pena no olhar dele era palpĂĄvel.
â NĂŁo posso te culpar por nĂŁo saber das coisas, acho. Especialmente um sujeito com uma vida tĂŁo dura quanto a sua. Bom, vocĂȘ encontra navalhas mĂĄgicas em lojas de magia. Algumas pessoas usam facas comuns, mas eu evitaria se nĂŁo soubesse o que estĂĄ fazendo.
â Ă, eu realmente nĂŁo confio em mim mesmo, mas acho que poderia simplesmente usar Cura se me cortasse.
â Justo. Tesouras para cabelo, vocĂȘ encontra em qualquer ferreiro ou loja geral. Nunca ouviu falar de um salĂŁo de cabeleireiro?
Nossa, eu era bem ignorante, hein? Bom saber que havia barbeiros por aqui. Mas deixar alguém colocar objetos afiados tão perto do meu rosto era um pouco assustador, então deixei essa opção de lado por enquanto.
â Precisa saber de mais alguma coisa? â Grantz continuou. â Te ensino tudo que quiser saber.
â Sim, tenho outra pergunta. Por que o Jord estĂĄ desmaiado?
â Dei pra ele a versĂŁo nĂŁo diluĂda do que vocĂȘ bebe. Acontece.
â Deixa eu adivinhar, minha lĂngua Ă© âdefeituosaâ porque isso nĂŁo acontece comigo?
â Er, mais alguma pergunta? Manda.
â Bom…
Fiz Grantz me dizer onde encontrar temperos, vegetais e carnes para cozinhar. Vendo minhas anotaçÔes diligentes, ele me ofereceu seu próprio caderno cheio de receitas e processos bem praticados para eu copiar. E isso jå teria sido mais que suficiente, mas então ele se ofereceu para me ensinar mais se eu quisesse aprender, me escreveu uma carta de recomendação para o ferreiro favorito dele, para comprar facas e afins, e, por fim, decidiu dar uma aula de culinåria.
Milty eventualmente apareceu e pediu para participar, o que Grantz aceitou timidamente. Com o tempo, rumores sobre o mestre da guilda durão e suas aulas de culinåria cheias de ternura começaram a se espalhar, até que ele passou a ser conhecido como O Chef de Ferro de Coração de Seda.
Enquanto isso, Jord continuava inconsciente.
â Ah, Milty, estou procurando lojas de roupas onde eu possa encontrar algo que diga âsou modesto, mas sei me vestir bemâ. Sabe, pra nĂŁo parecer maltrapilho diante de nobres estrangeiros ou algo assim.
â Acho que entendo o que quer dizer? â respondeu a vice-mestra da guilda. â Mas recomendo que vĂĄ com uma garota. Sei que Jord Ă© seu ajudante, mas as pessoas vĂŁo começar a achar que vocĂȘ tem um outro tipo de interesse nele se saĂrem juntos para comprar roupas.
â Por que pensariam isso? Somos apenas amigos.
â VocĂȘ Ă© superior dele, nĂŁo Ă©?
â Sim?
â EntĂŁo vocĂȘs nĂŁo sĂŁo amigos.
â VocĂȘ… tem um ponto. Vou chamar algumas garotas que conheço.
â Uma decisĂŁo sĂĄbia.
Jord continuou em coma enquanto eu considerava minhas opçÔes de quem convidar. Como eu queria que Nanaella ou Monica estivessem aqui. Catherine, Lumina e as ValquĂrias me vieram Ă mente, mas nĂŁo pareciam do tipo que se preocuparia com moda. De qualquer forma, as aulas de culinĂĄria de Grantz tiraram uma preocupação da minha lista.
Pelo bem do pobre Jord, voltamos ao quartel-general e fui atĂ© os estĂĄbulos para um pouco de terapia com animais, para acalmar meus pensamentos. E entĂŁo algo incrĂvel aconteceu. Um garanhĂŁo de quatro anos chamado Malto, que tinha o costume de morder minha cabeça, finalmente me deixou montĂĄ-lo. Por alguns segundos. Mas ei, progresso.
â Eles estĂŁo se acostumando com vocĂȘ. â Foi tudo o que Yanbath disse.
Fiz disso uma meta: conquistar o privilĂ©gio de montar cada cavalo do estĂĄbulo antes de deixar a cidade. Ainda assim, eu nĂŁo conseguia me imaginar partindo sem ForĂȘt, entĂŁo precisava lembrar de falar sobre isso com Sua Santidade. ForĂȘt parecia feliz com o plano.
Tradução: CarpeadoPara estas e outras obras, visite o Carpeado Traduz â Clicando Aqui
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