The Great Cleric â CapĂtulo 12 â Volume 3
The Great ClericSeija Musou
Arco 4: O Curandeiro Que Mudou o Mundo
Light Novel Online – CapĂtulo 12:
[O Pico da Montanha na Festa de Boas-Vindas]
Outra recepção caótica nos aguardava na Guilda dos Aventureiros. Meus companheiros estavam tão perplexos que nem sabiam o que fazer.
â Senhor, o que estĂĄ acontecendo nesta cidade? â um deles perguntou. â Por que estamos recebendo esse tratamento tambĂ©m?
â Ă isso que acontece quando vocĂȘ mora em um lugar por alguns anos. Esse lugar Ă© como um lar para mim â respondi. â Aposto que outros curandeiros se dariam muito melhor com os aventureiros se passassem um tempo curando nas guildas como eu fiz.
De repente, avistei um par de orelhas familiares e sua companheira.
â Bem-vindo de volta, Luciel â disseram juntas.
â Valeu, Nanaella, Monica. Como vocĂȘs estĂŁo?
â Indo bem â Monica sorriu.
â VocĂȘ nĂŁo tem escrito ultimamente, jĂĄ estĂĄvamos começando a ficar preocupadas â Nanaella fez um biquinho.
â Foi mal, tinha tanta coisa que queria contar, mas sempre que tentava escrever, nunca conseguia pensar em nada. Mas fico feliz que vocĂȘs estejam bem.
â E eu, hein? Nenhuma palavra gentil pro seu mestre?
â VocĂȘ Ă© a menor das minhas preocupaçÔes. Se tiver algo pra lutar, vocĂȘ se vira bem em qualquer lugar â respondi sem rodeios.
â TĂĄ aprendendo a falar grosso, hein? Quer descer pra resolver isso? â Brod desafiou.
â Opa, opa, opa! Pelo menos deixa eu dar um show pra todo mundo que veio nos ver.
â Dia do Santo Esquisito, nĂ©?
â Exato. Primeiro, vou cuidar dos feridos.
â Quanto?
â Hoje Ă© de graça. TĂŽ aqui pra mudar a imagem do curandeiro ganancioso. Ordem do Papa. Mas um jantar cairia bem.
Brod bufou.
â Beleza, monta seu posto no campo de treinamento.
â Valeu.
NĂŁo tive muito tempo pra conversar com as garotas naquele momento, mas teria vĂĄrias chances a partir de agora. Segui Brod para o andar de baixo.
***
Uma luz pĂĄlida brilhou no cĂrculo mĂĄgico sob mim e meus pacientes, selando laceraçÔes e realinhando ossos. Todos os espectadores, incluindo o Pentagrama dos Curandeiros, ficaram completamente boquiabertos. O Cajado da IlusĂŁo reduzia meu consumo de mana e elevava minhas habilidades a um nĂvel muito acima do normal.
â Desde quando ficou tĂŁo bom em magia? â Brod perguntou.
â Ei, eu nĂŁo sou sĂł conversa. Aconteceu muita coisa, e eu gosto de pensar que melhorei um pouco como curandeiro â respondi. â Agora, esse era o Ășltimo?
â Parece que sim. Sabe, vocĂȘ tem uma equipe bem esquisita.
â Como assim?
Meses viajando com eles me dessensibilizaram um pouco. Parei de notar as pequenas mudanças na minha equipe.
â Nunca pensei que veria curandeiros tratando gente fera com consideração. Me lembra vocĂȘ de uns anos atrĂĄs.
â Pra nĂłs, eles sĂŁo sĂł pacientes. E todos sabemos que vocĂȘ tĂĄ aqui pra nos proteger caso alguĂ©m apronte.
â Hm. Acabou? Vem cĂĄ e olha pra frente.
â Pra quĂȘ?
Me virei com Brod para um grupo de jovens aventureiros mais ou menos da minha idade.
â Ei, novatos! Esse aqui Ă© o curandeiro que trabalhou aqui uns anos atrĂĄs. Se vocĂȘs nĂŁo estavam por aqui na Ă©poca, provavelmente nunca o viram, mas quero que todos prestem atenção. Vamos ver o quanto nosso velho amigo ficou forte.
â O quĂȘ? Agora? E a comida?
â Relaxa, terminamos antes da hora do jantar, e o Gulgar jĂĄ sabe que vamos nos atrasar. NĂŁo sabem que o herĂłi sempre aparece no Ășltimo segundo?
â VocĂȘ Ă© impossĂvel Ă s vezes, Mestre. Mas jĂĄ que estamos aqui, quero que vocĂȘ ajude meu guarda a melhorar na luta.
â Ă mesmo? Vou testar ele depois, mas vocĂȘ Ă© o primeiro.
â NĂŁo tem como fugir dessa, nĂ©?
â Nem ferrando. Vamos lĂĄ, combate corpo a corpo. Vem pra cima.
â Ah, entĂŁo Ă© agora.
Ativei Reforço FĂsico, senti a magia girando dentro de mim e lancei Barreira de Ataque antes de me lançar direto contra Brod. EntĂŁo, o mundo virou de cabeça para baixo e um estrondo violento ecoou pelas paredes.
â Investida nada mal, mas se nĂŁo derrubar o cara, vai ficar completamente exposto.
Uma dor latejante percorreu minhas costas. Aquilo tinha sido um baita de um soco de direita.
â C-cura!
Me abaixei e ataquei suas pernas, empurrando com força. Aos poucos, ele começou a ceder. Toda força do mundo não servia de nada contra a boa e velha gravidade. Rapidamente, enfiei meu braço direito sob sua cintura, agarrei seu ombro direito com minha mão esquerda e o ergui. Estava pronto pra jogå-lo no chão, mas algo se enrolou no meu pescoço e, antes que percebesse, era eu quem estava com a cabeça no chão.
Lancei Cura em silĂȘncio e imediatamente contraĂ o abdĂŽmen ao notar a sombra de Brod no chĂŁo, esperando um chute. O que quer que fosse, me jogou do outro lado da sala. SĂł parei depois de quicar algumas vezes no chĂŁo.
â Ugh, por que diabos vocĂȘ jogou minha cabeça direto no chĂŁo? â reclamei entre gemidos. â Isso Ă© jeito de matar alguĂ©m! Eu nĂŁo posso curar a morte!
Um golpe daqueles no wrestling profissional te baniria na hora. Cabeça e chão duro não combinam.
â Para de frescura. Sei que vocĂȘ ainda tĂĄ pronto pra lutar. E parece que realmente ficou mais forte. Agora sim podemos nos divertir.
â VocĂȘ Ă© maluco.
â Se prepara!
â TĂĄ, tĂĄ.
Brod desapareceu, e eu instantaneamente fui arremessado para cima. Bom, pra ser exato, ele não desapareceu, só se moveu råpido pra caramba. Ou pelo menos era nisso que eu queria acreditar. Olhei pra baixo e achei que tinha conseguido pegå-lo, mas foi só por um segundo. No instante seguinte, ele segurou minhas pernas e me lançou ao chão, finalizando com um chute direto pra baixo. O cara era um monstro, do jeito que se movia tão råpido no ar.
A dor de bater no chĂŁo sumiu com uma Cura enquanto eu rolava para o lado.
â Bom ver que vocĂȘ ainda sabe reagir aos golpes que pode e nĂŁo pode levar. Sabia que vocĂȘ era meu aprendiz por um motivo.
Onde diabos ficava o botĂŁo de desligar desse cara? E como evitar ligĂĄ-lo de novo no futuro? Eu sabia que ele ainda estava se segurando.
â Treinei tanto e ainda estou anos-luz atrĂĄs. AtĂ© onde mais eu tenho que ir? Mestre, qual Ă© o seu nĂvel? SĂł por curiosidade, claro. Pura referĂȘncia.
â Para com isso. NĂŁo te falei pra nĂŁo se focar em nĂșmeros?
â Certo, e eu prometo que nĂŁo estou. SĂł pensei que saber disso tornaria mais fĂĄcil encontrar um objetivo para perseguir.
â Um objetivo? Tudo bem. Eu estou no nĂvel 451.
Que monstro absoluto. Catherine e Lumina nĂŁo chegavam nem perto dele.
â Uau. Bem, quanto mais alta a montanha, melhor Ă© a sensação ao chegar no topo.
Brod soltou uma gargalhada e entĂŁo disse:
â JĂĄ chega de papo. Venha com tudo o que tem e mais um pouco.
â VocĂȘ pediu por isso!
Joguei-me contra a muralha que era Brod por mais de uma hora e perdi a conta de quantas vezes precisei recastar Cura e Barreira de Ataque. Depois disso, sacamos as lùminas e duelamos com espadas. Os espectadores estavam um pouco agitados, mas sabendo que um segundo de hesitação poderia significar a diferença entre a vida e a morte, consegui manter o foco (e até melhorei minha capacidade de fazer isso no processo).
No final, saà apenas com um corte particularmente feio, que imediatamente curei com Cura Avançada.
â Acho que esse Ă© um bom ponto para encerrar. Vamos para a festa.
â Parece uma Ăłtima ideia para mim.
Conversei com minha equipe de rostos pĂĄlidos depois. Eles provavelmente perceberam que o treinamento aqui nĂŁo teria nada a ver com o que enfrentaram na sede. Os novatos aventureiros que assistiram Ă nossa luta pareciam estar em choque, com suas concepçÔes sobre curandeiros completamente destruĂdas.
O Pentågono dos Curandeiros também estava impressionado com o quão longe um dos seus havia chegado. Mas, durante a luta, notei um jovem de expressão amarga entre alguns dos aventureiros mais velhos que me conheciam. Ele claramente não teve uma boa impressão da batalha.
â Ser humilhado por um maldito curandeiro â ouvi ele resmungar. â Eu fui escolhido. NĂŁo ele. Pode bancar o certinho o quanto quiser; vocĂȘ nunca vai me vencer numa luta.
Virei-me em direção à voz carregada de veneno, mas o homem jå havia desaparecido.
A festa foi realizada no refeitĂłrio. A comida foi disposta em estilo buffet e todas as cadeiras foram removidas para liberar espaço para o maior nĂșmero de pessoas possĂvel. Alguns funcionĂĄrios da Guilda dos Curandeiros que passaram por lĂĄ ficaram um pouco incomodados por terem que comer em pĂ©, mas mantiveram suas reclamaçÔes para si diante de mim.
â Muito bem, pessoal â chamou Brod â, o seu curandeiro favorito estĂĄ de volta pra casa, e isso significa que ser curado vai ficar mais fĂĄcil. Mas ele veio estudar as clĂnicas, entĂŁo nĂŁo estarĂĄ por aqui Ă tarde. Ele vai trabalhar no lugar do Bottaculli.
A multidĂŁo explodiu em vaias. Eu nem sabia que vaias existiam neste mundo.
â Ele nĂŁo vai estar aqui o dia todo, mas vai morar no salĂŁo da guilda por enquanto. Se estiverem em apuros, sintam-se Ă vontade para vir atĂ© ele.
As vaias se transformaram em aplausos.
â Muito bem, Luciel, o palco Ă© seu. Mas sem ĂĄlcool para vocĂȘ.
â HĂŁ, oi. Eu sou Luciel â comecei. â Foi uma longa jornada da Sede da Igreja atĂ© aqui, entĂŁo agradeço muito a todos vocĂȘs por estarem nos recebendo com essa festa. Quando olho para trĂĄs, percebo o quĂŁo importantes esses dois anos foram para mim. Eles foram a base que tornou possĂvel que alguĂ©m tĂŁo mediano quanto eu se tornasse um curandeiro de Rank S. Ă engraçado, porque foi o medo que me trouxe aqui. Eu tinha tanto medo dos aventureiros que nĂŁo conseguia viver minha vida sem pensar em todas as formas possĂveis de morrer. Foi esse medo, o medo do que poderia acontecer se eu falhasse em curar alguĂ©m, que me motivou a continuar melhorando.
Fiz uma pausa antes de continuar.
â Mas entĂŁo percebi que eu nĂŁo era o Ășnico com medo de morrer. Todos nĂłs temos. E comecei a enxergar como as pessoas eram gentis. Me deram roupas, presentes, e o mundo deixou de ser tĂŁo assustador. Teve momentos em que me senti praticamente um prisioneiro aqui, pra ser honesto, mas, no fim, foi aqui que tudo começou para mim. Um brinde a todos os funcionĂĄrios da guilda e aventureiros que me deram um lar. Vou continuar seguindo em frente, e talvez um dia eu consiga retribuir tudo que fizeram por mim. AtĂ© lĂĄ, espero que aguentem minha presença e a da minha nova equipe. Sei que estou encurtando um pouco, mas, mais uma vez, muito obrigado. A todos.
â NĂŁo, jĂĄ foi o bastante! â Brod interrompeu. â Agora, ergam suas canecas! SaĂșde!
â SaĂșde! â a sala rugiu.
As coisas ficaram agitadas rapidamente depois disso. Gulgar atraiu minha equipe e os novos aventureiros que assistiram Ă minha luta mais cedo com canecas de uma versĂŁo mais leve (presumivelmente diluĂda) da SubstĂąncia X, dizendo:
â Ei, querem ficar mais fortes?
Enquanto os aventureiros iam caindo um a um, minha equipe permaneceu firme, jĂĄ acostumada com aquilo.
Gulgar sorriu.
â Olhem sĂł, perdendo para curandeiros. Eu devia saber que o time dele jĂĄ teria tomado umas antes.
â Pelo menos uma por dia.
O chef continuou servindo copo atrås de copo, e o salão rapidamente começou a feder, então tive que salvar todo mundo com um feitiço de Purificação. Gulgar não conseguiu esconder sua empolgação ao encontrar tantas novas cobaias para seus experimentos. Ele também estava especialmente satisfeito consigo mesmo por ter conseguido acabar com as reclamaçÔes sobre a falta de assentos graças à sua comida inigualåvel.
Por todo o salĂŁo, teorias começaram a surgir sobre o significado do meu apelido, âSanto Esquisitoâ. Era quase demais para minha pobre mente aguentar.
â Obviamente, significa que ele Ă© um esquisitĂŁo que usa magia sagrada. âSantoâ, âsagradoâ, combina.
â Nada disso, acho que Ă© mais pelo fato de ele ser simplesmente estranho mesmo.
â VocĂȘ acha? Eu achei que era mais sobre, sei lĂĄ, os fetiches dele. Tipo, ele Ă© um cara Ăłtimo, super santo, mas, mano, que doido.
â E se for…
As suposiçÔes continuaram noite adentro, trazendo Ă tona atĂ© os apelidos de outras pessoas. Como âO FuracĂŁoâ e âO Instrutor DemĂŽnioâ de Brod, âO Urso Chefâ e âO ImĂłvelâ de Gulgar, e âO Reclusoâ de Galba.
Falando nesses trĂȘs, me convidaram para beber com eles.
â VocĂȘ tem treino amanhĂŁ â disse Brod. â Pode tomar uma comigo quando for a hora de partir.
â Ele tem razĂŁo. E vocĂȘ vai entrar direto na boca do lobo tambĂ©m. Precisa estar pronto â acrescentou Galba.
Gulgar empurrou um prato na minha direção.
â Esquece a bebida. Tenho um prato novo! Come aĂ!
Relutantemente, levei uma mordida Ă boca, um pouco frustrado com o atraso para finalmente experimentar minha primeira bebida, e imediatamente me arrependi.
â Isso Ă© o que eu tĂŽ pensando, nĂŁo Ă©?
â Acertou! Queria ver se dava pra transformar isso em comida ou nĂŁo, e como vocĂȘ Ă© o Ășnico que pode beber essa coisa, achei que tambĂ©m seria o Ășnico que poderia comer.
â Eu sou sua cobaia agora?! VocĂȘ nem consegue beber isso, entĂŁo para de tentar transformar em comida!
â Ăs vezes, Ă© preciso quebrar alguns ovos pra fazer uma omelete.
â Isso nĂŁo Ă© uma omelete.
â Apenas coma. O cheiro jĂĄ tĂĄ começando a ficar insuportĂĄvel â Brod fez uma careta.
â Eu acredito em vocĂȘ â acrescentou Galba.
â Eu juro… â murmurei com um suspiro. â TĂĄ bom, vou tentar de novo.
Cortei mais um pedaço da carne regada com Substùncia X e coloquei na boca.
â E aĂ? â Gulgar perguntou ansioso. â DĂĄ pra comer?
â Nem em um milhĂŁo de anos. O calor sĂł piora o gosto. Parece uma explosĂŁo de ruindade na boca.
â Ah, bom. Agora experimenta esse aqui.
â T-tem mais?
â Nove, na verdade.
â Talvez a gente possa fazer um acordo. VocĂȘ me ensina algumas das suas receitas, e eu continuo comendo.
â EntĂŁo Ă© assim que vocĂȘ quer jogar, hein? â G-Gulgar? â Beleza, fechado. Uma receita por prato. E ainda tenho muito mais de onde esses vieram.
â Esse brilho louco nos seus olhos me lembra demais o Brod.
â Gulgar sempre teve uma mente curiosa â comentou seu irmĂŁo mais novo. â Acho que ele sĂł estĂĄ feliz por ter alguĂ©m pra testar os experimentos sem desperdĂcio.
Tudo bem, mas Galba nĂŁo parecia nem um pouco disposto a impedir as loucuras do irmĂŁo.
â Estamos indo pra casa por hoje, pessoal â ouvi alguĂ©m dizer. Quando me virei, vi Nanaella e Monica.
â Obrigado por ajudarem com tudo isso. E por limparem meu quarto â falei.
â NĂŁo podemos fazer muita coisa por vocĂȘ, mas sua presença jĂĄ torna a guilda um lugar melhor. Espero que ainda possamos te ver por aqui quando nĂŁo estiver trabalhando.
â Nos avise se precisar de qualquer coisa â disse Nanaella.
â Obrigado. Ah, tem uma coisa. VocĂȘs se importariam de cortar meu cabelo algum dia?
Elas sorriram e assentiram.
â Claro!
â VocĂȘs estĂŁo me matando aqui â meu mestre interrompeu. â JĂĄ terminaram de trocar olhares?
â Quer um pouco de SubstĂąncia X pra descer melhor? â ofereceu Gulgar.
â Ah, a juventude â suspirou Galba nostalgicamente.
As garotas se apressaram em se despedir e saĂram envergonhadas.
â VocĂȘ parece bem tranquilo â Brod comentou, irritado por suas provocaçÔes nĂŁo surtirem efeito.
â NĂŁo tem motivo pra nervosismo. Eu conheço todo mundo aqui. â JĂĄ tinha passado da fase adolescente constrangedora. Uma puberdade tinha sido mais do que suficiente, obrigado.
Ele ficou em silĂȘncio por um momento.
â VocĂȘ mudou.
â Mudei? Acho que o tempo faz isso com as pessoas, mas o que me surpreende mais Ă© como vocĂȘs mudaram.
â VocĂȘ tem razĂŁo. O tempo muda as pessoas. Mas nem todas â disse Galba. â NĂŁo pessoas como Bottaculli.
â Na verdade, eu queria perguntar sobre ele. O que vocĂȘs sabem?
Galba sorriu e olhou para Brod.
â Bom, ele nĂŁo quer a sua cabeça, pelo menos, mas toma cuidado perto dos escravos dele â Brod explicou.
â Como ele tem escravos nesse paĂs? â O trĂĄfico de escravos era proibido em Shurule, mas eu nunca tinha visto nenhum pessoalmente e nĂŁo sabia se isso acontecia de forma clandestina.
â VocĂȘ tem razĂŁo em se surpreender, mas o fato Ă© que, segundo as fontes do Galba, ele compra mais a cada ano. Trata eles como lixo, e o lĂder deles estĂĄ planejando uma revolta.
Lembrei de algo que tinha lido no passado: um escravo se revoltar era o mesmo que assinar sua própria sentença de morte. Um incÎmodo vago surgiu no fundo da minha mente.
â Espera, eles nĂŁo sĂŁo obrigados por magia a obedecer ordens? â Por algum tipo de colar, eu achava.
â Sim â Galba confirmou. â Normalmente, sim. Mas andam circulando boatos sobre escravos que estĂŁo desafiando seus mestres. E pra complicar, nĂŁo sĂŁo pessoas de algum mercado clandestino. Eles foram vendidos legalmente.
â Isso nĂŁo quebra o contrato dos escravos?
â Normalmente, sim. Mas, de alguma forma, eles conseguem violar o pacto de servidĂŁo sem que ele seja anulado.
â Isso Ă© possĂvel?
â Ă o que estou tentando descobrir. De qualquer forma, Bottaculli jĂĄ ficou sabendo, entĂŁo ele tem recrutado mercenĂĄrios, e a paranoia tem afetado a saĂșde dele, pelo que parece. Ele anda comprando remĂ©dios para pressĂŁo alta.
â RemĂ©dios? NĂŁo Ă© algo que ele possa curar com magia? SerĂĄ que ele estĂĄ doente? â Cura Extra provavelmente poderia curar desde tumores atĂ© danos cerebrais, mas… hesitei.
â Acho que ele deve estar tendo dificuldades pra dormir, jĂĄ que os servos mais confiĂĄveis podem esfaqueĂĄ-lo pelas costas a qualquer momento. Bom, o que posso dizer com certeza Ă© que ele desmaiou quando soube que vocĂȘ estava voltando.
â SĂ©rio? â Ri meio sem graça. â Pra deixar claro, nĂŁo fui eu quem escolheu a clĂnica dele. Foi Sua Santidade. Acho que eu nĂŁo me opus, exatamente, mas ainda assim.
â Eu acredito em vocĂȘ. SĂł tome cuidado e fique alerta, entendeu? NĂŁo aceite nenhuma refeição que ele oferecer.
Estava claro que Galba era alguém com quem eu não queria travar uma guerra de informaçÔes.
â NĂŁo me preocupo com veneno fazendo efeito em mim, mas devo ficar de olho na minha equipe. â NĂŁo queria ser responsabilizado por algo enquanto tivesse o poder de curar pessoas.
â Certo. Mas tem uma coisa que me incomoda. O que mais me assusta nisso tudo Ă© que, em todos os casos de escravos atacando seus mestres, nenhum deles se lembra de como conseguiu fazer isso. Estamos andando no escuro.
â Eles simplesmente esqueceram?
â Tudo e qualquer coisa relacionada ao incidente.
EntĂŁo, quem estava por trĂĄs disso nĂŁo poderia ser uma pessoa. Quem teria esse tipo de poder? Se jĂĄ tivessem ocorrido casos assim no passado, a Igreja com certeza saberia.
â E como foi que vocĂȘ encontrou esse seu esquadrĂŁo, hein? â Brod entrou na conversa com um sorriso descontraĂdo que nĂŁo combinava nada com o tom da conversa. Pelo jeito animado dele, dava pra ver que tinha decidido colocar meus companheiros Ă prova, mas se ele nĂŁo soubesse pegar leve, eu podia dar adeus Ă minha equipe.
â Eles sĂł simpatizaram com as minhas ideias, sĂł isso.
â Eles parecem bem resistentes.
â Foram alguns meses de Substancia X e um treinamento infernal com cura sem parar atĂ© chegarem nesse ponto.
â TĂŽ surpreso que eles nĂŁo tenham fugido.
NĂŁo podia contar que tinha usado garotas e churrascos como isca, ou eu corria o risco de despertar a ira do demĂŽnio. Nunca se sabia quando ele poderia aparecer. Precisava pensar numa forma decente de dizer isso.
â Peguei uma pĂĄgina do seu livro. Assim como a comida do Gulgar me ajudou a sobreviver ao seu treinamento, fiz eles passarem pelo deles com sessĂ”es conjuntas junto aos cavaleiros mais fortes.
Pronto. Tecnicamente, nĂŁo era uma mentira.
Meu mestre suspirou.
â VocĂȘ realmente cresceu, moleque. Lembro quando o Bottaculli ainda valia alguma coisa, como vocĂȘ, mas o dinheiro deixou ele maluco. Goste ou nĂŁo dele, o cara montou uma baita empresa com aquela clĂnica. Mas ainda me dĂĄ Ăąnsia chamĂĄ-lo de curandeiro.
Graças aos deuses, ele acreditou.
â Sabia que ele nĂŁo podia ter nascido assim.
â NĂŁo mesmo. Na verdade, ele jĂĄ nos tratou antes, lĂĄ nos tempos de aventura.
â Bom, isso parece interessante.
HistĂłrias reais e experiĂȘncias de um aventureiro prestes a alcançar o rank SS nĂŁo eram algo que qualquer bardo saĂa por aĂ cantando.
â Isso jĂĄ faz tempo.
â Suponho que sim. Mas quero ver o que posso fazer sobre Bottaculli. Talvez eu consiga ajudar de alguma forma.
â VocĂȘ nĂŁo deveria estar indo dormir? Vai querer estar acordado pro treinamento amanhĂŁ.
â Logo de manhĂŁ?
â Quer me superar ou nĂŁo? Seu mestre tem muito pra ensinar e pouco tempo pra isso.
Foi nesse momento que entendi o verdadeiro significado de enfiar o pé na própria boca. E como eu ainda era arrogante. Mas não adiantava chorar pelo leite derramado. Conversamos durante o resto da festa de boas-vindas, até que ela finalmente chegou ao fim.
No caminho para o meu quarto no andar de baixo, passei pela recepção e cumprimentei a recepcionista, que se assustou e respondeu com uma leve reverĂȘncia. Mas por que tanto medo?
O salĂŁo de descanso (ou melhor, meu quarto improvisado) estava exatamente como eu tinha deixado, perfeitamente limpo. Isso me deixou um pouco emocionado.
â Melhor eu dormir. Primeiro dia na clĂnica do Bottaculli amanhĂŁ.
Peguei meu travesseiro de anjo e me joguei na cama.
â Tantas recepcionistas se casando tĂŁo rĂĄpido. E a nova tem medo de mim por algum motivo. Tanto faz, hora de dormir.
Fechei os olhos e repassei os acontecimentos do dia no curto tempo que levou para o sono me dominar.
Tradução: CarpeadoPara estas e outras obras, visite o Carpeado Traduz â Clicando Aqui
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