The Great Cleric – Capítulo 20 – Volume 2

 

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The Great ClericSeija Musou

Arco 3: Uma Pedra Melhor Deixada Intacta

Light Novel Online – Capítulo 20:
[Desastre na Cidade Santa]


As pessoas não crescem tão facilmente quanto nas histórias. A vida real não tem um arco de treinamento que leva alguém do ponto A ao ponto B como se fosse algo predestinado. Protagonistas lutam, se esforçam ao måximo, enfrentam suas fraquezas, desafiam a sociedade. E então, com um pouco de sorte, superam as dificuldades e crescem. Eles ficam mais fortes, vencem batalhas que perderam no passado, e a história segue em frente.

Mas isso aqui não era ficção.

Um mĂȘs depois de descobrir a verdade sobre a SubstĂąncia X, eu jĂĄ havia concluĂ­do a exploração dos andares trinta e um ao quarenta. Eu estava orgulhoso do meu ritmo. Mas nĂŁo tinha nenhuma grande histĂłria de sucesso para contar, nenhuma aventura de tirar o fĂŽlego digna de um protagonista. O que estou fazendo de errado? me perguntei. Eu tinha sorte, sorte monstruosa atĂ©, mas talvez Monsieur Sorte nĂŁo funcionasse exatamente como aquela sorte absurda dos protagonistas das histĂłrias que eu lia.

Por exemplo, a experiĂȘncia que ganhei ao mapear cada andar me levou a desenvolver uma habilidade que me permitia visualizar mapas mentalmente. E nĂŁo foi sĂł isso. A maior ameaça naquele labirinto, as armadilhas, sempre eram ativadas primeiro pelos monstros. Depois de um tempo, parecia atĂ© intencional. E o primeiro baĂș do tesouro que encontrei, depois de jĂĄ ter começado a duvidar de sua existĂȘncia, nĂŁo sĂł estava completamente livre de armadilhas como tambĂ©m continha um grimĂłrio avançadĂ­ssimo de cura que eu nunca tinha visto em nenhum outro lugar.

Criaturas esquelĂ©ticas aterrorizantes, envoltas em mantos negros que evocavam a prĂłpria imagem da Morte, nĂŁo representavam nem um desafio. Eram apenas espectros, mas eu esperava uma luta muito mais difĂ­cil. Aposto que eles nunca imaginaram que meu Revestimento de Aura e minha ResistĂȘncia Espiritual anulariam completamente sua magia negra. Eu quase me senti mal por atacĂĄ-los de surpresa quando se aproximaram, achando que seus feitiços tinham funcionado em mim. A SubstĂąncia X me tornara imune Ă s suas ilusĂ”es e controle mental, entĂŁo sua magia simplesmente se despedaçava e sumia ao me envolver.

A maneira como cada uma dessas criaturas sorria de forma presunçosa ao pensar que tinha vencido me dava arrepios e me fazia sentir pena das pessoas imaginĂĄrias que supostamente morreram em suas mĂŁos. Gostava de imaginar que, ao desaparecerem em uma nuvem de fumaça pĂșrpura, gritavam: “O quĂȘ?! ImpossĂ­vel!” em total descrença.

Normalmente, eu estaria empolgado por ter ficado tĂŁo forte depois de limpar dez andares inteiros em apenas um mĂȘs. Mas eu jĂĄ tinha uma ideia do que seria o quarto chefe, e isso me deixava mais preocupado do que satisfeito. Se o papa realmente construiu esse lugar, esse seria o clĂ­max do cenĂĄrio que ela criou— a primeira expedição. Eu estava prestes a encontrar os capitĂŁes paladino e templĂĄrio que haviam derrotado o chefe original do quarto andar.

— Sinto que vou ser dilacerado se simplesmente entrar lá, então talvez eu passe na Guilda dos Aventureiros primeiro. Ver se consigo alguma informação.

Eu não conseguia me livrar daquela sensação ruim, então deixei o próximo chefe para outro dia.

— Bem-vindo de volta. — Esperando por mim assim que saí do labirinto, estava o sorriso caloroso de Cattleya de sempre.

Depois de descobrir a chocante verdade sobre a SubstĂąncia X, senti a necessidade de contar para ela os detalhes do que me levou a bebĂȘ-la em primeiro lugar.

— Isso soa horrĂ­vel. Ainda bem que os boatos que espalharam sobre vocĂȘ nĂŁo foram piores.

E com essa frase um tanto ominosa, nosso diĂĄlogo voltou ao normal.

— Finalmente cheguei ao quadragĂ©simo andar — falei.

— VocĂȘ nunca para de me surpreender, Luciel. Que tipo de monstros tem lĂĄ?

— Espectros, cavaleiros da morte, mĂșmias, necrĂłfagos
 Nada agradĂĄvel, na verdade.

— Pergunta
 AlguĂ©m jĂĄ te disse que vocĂȘ nĂŁo tem um pingo de bom senso?

— HĂŁ, sim. Lumina me disse isso uns quinze minutos depois de me conhecer em Merratoni, na verdade. — Isso me trouxe uma certa nostalgia. Tirando, Ă© claro, o olhar fulminante que ela me lançou na Ă©poca. Isso eu poderia ter dispensado.

— Isso nĂŁo me surpreende nem um pouco — comentou Cattleya. — Eu sei que vocĂȘ jĂĄ enfrentou espectros superiores, mas wraiths superam atĂ© mesmo monstros de rank A em nĂ­vel de perigo.

— Eu sei, mas magia negra nĂŁo tem efeito nenhum sobre mim. Minha magia de suporte e resistĂȘncias garantem isso. AlĂ©m disso, acho que sou mais resistente do que imagino. — Claro, eu tinha uma certa substĂąncia a agradecer por isso.

— Por causa
 daquilo?

— Sim. Me deu muito trabalho nos Ășltimos anos, mas sou grato por isso.

— “Trabalho” Ă© um jeito bem brando de colocar as coisas.

— Bem — ri —, acho que vou dar um pulo na Guilda dos Aventureiros para variar um pouco.

— Ah, antes que eu esqueça, as Valquírias voltaram rapidamente, mas só para fazer um relatório. Depois foram mandadas de volta.

— HĂŁ, sou sĂł eu ou parece que o regimento da Lumina Ă© o Ășnico que estĂĄ tĂŁo ocupado assim?

— NĂŁo, nĂŁo Ă© sĂł vocĂȘ, mas nĂŁo vai demorar muito agora. — Ela sorriu de forma ameaçadora e fria. — Uma ferida precisa ser desinfetada antes de cicatrizar. Lembre-se disso, Luciel, e me avise se algo acontecer.

— S-Sim, senhora! — gaguejei.

A intensidade esmagadora de Cattleya me lembrou de Brod quando Bottaculli invadiu o salĂŁo da guilda. SaĂ­ para a Guilda dos Aventureiros suando frio.

Senti um puxĂŁo na minha tĂșnica justo quando estava prestes a entrar no prĂ©dio.

— Hm? — Virei-me, mas não vi nada. — Devo ter imaginado.

Tentei abrir a porta de novo quando finalmente percebi uma pequena garota fera segurando a barra da minha tĂșnica.

— Pode me soltar, por favor? Precisa de alguma coisa?

A menina assentiu repetidamente, lĂĄgrimas brotando em seus olhos. Ela soltou minha tĂșnica, e eu me abaixei para ficar na altura dela. Enquanto tentava pensar no que fazer, percebi que estar sozinho com uma garotinha podia ser um problema sĂ©rio para minha jĂĄ danificada reputação. Levar ela atĂ© os funcionĂĄrios da guilda parecia a opção mais sensata.

— EntĂŁo, vocĂȘ precisa de ajuda? Que tal entrarmos na guilda primeiro, tudo bem?

A garotinha de olhos marejados hesitou, mas então assentiu de novo. Eu esperava que fosse apenas uma criança perdida.

— Bem-vindo Ă  Guilda dos Aventureiros, Santo EsquisitĂŁo! — duas vozes gritaram assim que entramos. — EstĂĄvamos esperando por vocĂȘ, Senhor Luciel!

— O quĂȘ?! Nanaella? Monica? O que vocĂȘs duas estĂŁo fazendo aqui?

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Eu nĂŁo podia acreditar nos meus olhos. Esperei tanto tempo para ter notĂ­cias delas, apenas para ser recebido com um silĂȘncio ensurdecedor
 e agora, lĂĄ estavam elas. Bem na minha frente. Talvez tivessem vindo me contar pessoalmente sobre seus casamentos. Afinal, jĂĄ fazia vĂĄrios meses desde que ouvi falar dos noivados.

Eu jĂĄ estava me preparando para a notĂ­cia quando um grupo de aventureiros surgiu do nada e me arrastou para o andar de baixo.

— Ei, esperem! — gritei. — Eu não tenho tempo para isso agora!

Minhas sĂșplicas foram completamente ignoradas. Nanaella e Monica eram uma coisa. Elas entenderiam. Mas eu nĂŁo queria assustar a garotinha que trouxe comigo.

Assim que entrei, os aventureiros que estavam no salão começaram a comemorar.

— O Santo Estranho chegou, pessoal!

— Estamos salvos!

— Não era o Zumbi Masoquista Curandeiro?

— Cala a boca, idiota! Esse nome Ă© proibido! Ele Ă© o Santo Estranho, ou melhor, Santo Sir Estranho, o Cavaleiro, para vocĂȘ.

— Atenção, pessoal! A ajuda chegou!

— Por aqui, Santo Estranho! Depressa!

— Tragam os feridos da cidade!

— Se alguĂ©m incomodar o Santo, eu rebaixo seu maldito posto agora mesmo. Todo mundo entendeu?! — AtĂ© o mestre da guilda se juntou Ă  gritaria. Meu timing nĂŁo poderia ter sido melhor.

Assim que meus captores finalmente me soltaram, verifiquei se a garota fera ainda estava comigo e então chamei a atenção de Grantz.

— Nossa, hoje tem muitos feridos. Mas antes de mais nada, encontrei essa garotinha pedindo ajuda na frente da guilda. Pode ver o que ela quer?

— JĂĄ falei pra entrar na maldita fila! — ele rosnou para os aventureiros. — O quĂȘ? Ah, a garota. Crianças nĂŁo sĂŁo minha especialidade. Milty, cuida da garota do nariz afiado ali.

— Claro — Milty respondeu. — Santo Estranho, por favor, comece com aquele grupo ali. Eles precisam de cuidados urgentes.

— Entendido.

Com a cabeça ainda girando por causa do caos, comecei a administrar os tratamentos. TrĂȘs Cura Suprema em Área, alguns Curar, Recuperar e Dispersar, e trinta minutos depois, finalmente terminei. Engoli uma poção amarga para afastar o cansaço e quase me esqueci de Nanaella e Monica enquanto me concentrava em recuperar minha magia. Mas antes de conversar com elas, precisava resolver o que realmente me trouxe aqui.

— Com licença, Mestre da Guilda, eu gostaria de aprender mais sobre monstros mortos-vivos. Poderia investigar isso para mim?

— Ratos de biblioteca! — ele gritou. — Abram os livros! O Santo Estranho não escapa hoje!

Os aventureiros responderam com um grito entusiasmado.

— Eu vou fazer o quĂȘ agora?

Os pacientes recém-curados correram escada acima, deixando apenas eu, o pessoal da guilda e a garotinha fera, que agora segurava as mãos de Nanaella e Monica, que se juntaram a nós em algum momento.

— Desculpe, Santo Estranho, mas poderia acompanhar a garota de volta aos cortiços? Rápido — disse Milty.

— Hã
 rĂĄpido? Tem alguma urgĂȘncia?

— Sim, tem.

— Desculpem, Nanaella, Monica. Parece que vamos ter que conversar depois.

— Ah, nĂłs vamos com vocĂȘ — declarou Nanaella.

— Vamos logo — acrescentou Monica.

Desde quando ficaram tĂŁo determinadas? Eu sabia que nĂŁo obteria uma resposta real se perguntasse, entĂŁo apenas guardei meus pensamentos.

— Tem algum aventureiro que possa vir ajudar a proteger as meninas, Mestre da Guilda? — perguntei.

— Eu mesmo vou escoltar vocĂȘs.

VocĂȘ nĂŁo se tornava um mestre de guilda sem ser um aventureiro de renome. Com ele como guarda, poderĂ­amos ficar tranquilos.

— Ótimo, isso seria de grande ajuda. Nanaella, a Cidade Sagrada Ă© ainda mais dura com os ferais do que Merratoni. Tome cuidado.

— Eu sei.

Aventureiros feridos, Nanaella e Monica, e uma garotinha fera perdida. As coisas estavam ficando complicadas. Mas mantive a calma e nós cinco partimos para os cortiços. Nenhum de nós fazia ideia do que encontraríamos ao chegar.

Eu nunca tinha saĂ­do das ruas principais da Cidade Sagrada, entĂŁo isso era uma experiĂȘncia nova para mim. Ao entrarmos nos cortiços, passamos de uma rua para outra, e era quase inacreditĂĄvel como as coisas foram de impecĂĄveis para decadentes tĂŁo rapidamente.

EntĂŁo, perdi o fĂŽlego.

Poças de sangue manchavam o caminho como uma praga. Seguimos em frente, empurrando a multidão enquanto eu preparava um encantamento. Quantas pessoas tinham se ferido para derramar tanto sangue? Quantas vidas estavam em perigo? Quantas jå haviam sido perdidas?

Passando pela multidão, havia um homem-fera de pé na frente de um grupo de outros, como se os estivesse protegendo. Todos estavam ensanguentados. Ele parecia congelado, como se tivesse desmaiado em pé. Me aproximei e preparei um Cura Suprema em Área.

— Cuidado!

Reagi tarde demais. A faca afundou na minha lateral. Ele me pegou completamente desprevenido. Pode me chamar de maluco, mas eu não esperava ser esfaqueado por alguém inconsciente enquanto tentava curå-lo e seu povo. Doía pra caramba, mas pelo menos ele não atingiu nenhum órgão vital. Ainda assim, Nanaella, Monica e a garotinha que precisava da minha ajuda estavam atrås de mim. Agora era a hora de ser forte.

— Tá, isso dói — gemi. — Nossa, isso dói. Quer saber? Todo mundo vai ser curado!

Descobri que era bem difĂ­cil “ser forte” com uma faca enfiada na lateral. Arranquei a lĂąmina, lĂĄgrimas nos olhos, e lancei Cura Suprema em Área. Assim, os ferais ao nosso redor tambĂ©m nĂŁo ficariam em perigo. Mas eu jĂĄ tinha drenado minha magia na guilda, e isso me levou ao meu limite absoluto.

— Luciel! — Nanaella gritou. — VocĂȘ estĂĄ bem?!

— Ele acabou de te esfaquear?! — Monica berrou.

— Parece que ele estava inconsciente, então vamos dizer que eu deixei essa passar — brinquei.

Eu estava feliz que elas estavam preocupadas comigo, mas também meio irritado. Mas gritar com a pessoa que acabei de salvar não seria uma boa ideia. Nem reclamar na frente de uma criança. Respirei fundo.

— Me desculpe, Santo Estranho — Grantz disse. — O cara passou direto por mim.

— Tudo bem, faz tempo que vocĂȘ nĂŁo estĂĄ no campo. E vocĂȘ nĂŁo poderia sentir as intençÔes dele enquanto ele estava inconsciente. Eu mesmo nĂŁo senti.

Quase me esqueci de que o mestre da guilda deveria estar nos protegendo. Pelo seu porte, parecia ser mais um brutamontes do que um lutador veloz.

Tomei outra poção, lancei Purificação em mim e nos ferais ensanguentados para nos limpar, e então joguei um Recuperar råpido para remover possíveis efeitos negativos, só para garantir.

Suspirei.

— Certo, ninguĂ©m mais corre risco de vida agora. Precisamos levar essas pessoas para um lugar seguro. Acho que a Guilda dos Aventureiros seria o melhor lugar.

— Boa ideia. Qualquer um com as mãos livres, levem esses feridos para a Guilda dos Aventureiros!

Aventureiros próximos e ferais que ainda conseguiam andar começaram a carregar os feridos sob as ordens de Grantz. A garotinha acompanhava o homem que me esfaqueou. Seu pai, talvez.

De repente, me vi cercado por moradores locais que se prostravam diante de mim.

— Hã
 vocĂȘs precisam de alguma coisa?

— Por favor — um deles implorou —, nos salve.

Para eles, provavelmente parecia que eu tinha curado todo mundo ali apenas por bondade, sem esperar nada em troca. Mas eu poderia me meter em problemas se ficasse oferecendo ajuda de graça por aí.

— Eu não sou um salvador. Só curo ferimentos, alivio dores de estîmago, curo venenos, esse tipo de coisa — expliquei.

— VocĂȘ vai curar essas pessoas de graça? — Nanaella perguntou.

— Eu não acho que seja uma boa ideia, Luciel — Monica alertou.

— Não, não de graça. Que tal fazermos um acordo?

Ninguém receberia tratamento sem antes concordar com algumas condiçÔes.

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Sem que Luciel soubesse, jå que estava ocupado demais com a situação, o Mestre da guilda havia designado vårios outros aventureiros para escoltå-los enquanto entravam nos becos da cidade. E a cena que acabara de acontecer diante deles mexeu com seus sentimentos.

— VocĂȘs viram isso? Aquele cara esfaqueou o Santo Estranho! Ele ficou puto, mas mesmo assim curou todo mundo!

— Qualquer curandeiro normal teria morrido ou desmaiado.

— Isso se conseguissem lançar feitiços depois disso.

— Nem tentariam. Como se fossem se dar ao trabalho de curar gente das tribos ferais.

— Mas deve ter doĂ­do. VocĂȘs ouviram? Ele mesmo disse.

— Esse cara Ă© um maldito zumbi, de verdade. Nada para ele.

— Cara, a gente teria se ferrado se ele tivesse morrido aqui, nĂ©?

— Com certeza. Nem sei contar quantos de nós ele já salvou. Aquelas pessoas das tribos ferais teriam morrido sem ele.

— Provavelmente. A gente esquece porque ele Ă© jovem, mas aquela armadura significa que ele deve ser alguĂ©m importante na Igreja. Ouvi dizer que ele tem conexĂ”es com as ValquĂ­rias tambĂ©m.

— Pode ter sido algum grupo de supremacistas humanos que tentou linchar aquele povo.

— Melhor ficarmos de olho ou ele pode acabar se metendo em encrenca.

— Vamos manter os ouvidos atentos.

Enquanto isso, Luciel continuava tratando os moradores dos becos, completamente alheio Ă s conversas que aconteciam ao seu redor.

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Nanaella, Monica e eu eståvamos sentados em um café perto da Guilda dos Aventureiros, um lugar de onde eu costumava comprar suprimentos, aproveitando um descanso depois de tanta cura.

— Me desculpem por vocĂȘs terem vindo atĂ© aqui sĂł para acabar envolvidos nessa bagunça.

— NĂŁo se preocupa com isso. Esse Ă© o seu jeito — disse Nanaella, tentando me confortar.

— Sinceramente, eu queria que vocĂȘ se preocupasse mais consigo mesmo — Monica me repreendeu. — Quando vi aquela faca em vocĂȘ
 eu quase surtei.

Fiquei aliviado ao perceber que, para elas, eu nĂŁo parecia ter mudado tanto com o passar do tempo. NĂłs ainda podĂ­amos conversar como antes. Mas, por trĂĄs do sorriso de Monica, eu sabia que ela ainda estava preocupada. Enquanto eu tratava os feridos nos becos, ela nĂŁo tirava os olhos de mim e perguntava o tempo todo como eu estava. Podia contar nos dedos quem, nesta cidade, se preocupava comigo desse jeito. O fato de Nanaella e Monica terem vindo me ver parecia uma pequena bĂȘnção dos deuses, um empurrĂŁozinho do Senhor da Sorte para me dar coragem antes da batalha contra o chefe do quadragĂ©simo andar.

— Desculpa por fazer vocĂȘs se preocuparem. Para falar a verdade, eu nunca imaginei que algo assim fosse acontecer comigo, mas vou tomar mais cuidado de agora em diante.

— NĂŁo estamos cobrando desculpas, nĂ©, Monica?

— Nope. SĂł deixa a gente se preocupar com vocĂȘ.

Bom, pelo menos elas nĂŁo estavam bravas comigo.

— Desculpem a demora. — A garçonete chegou com as bebidas, e aproveitei para mudar de assunto.

— O que vocĂȘs duas estĂŁo fazendo aqui, afinal? Imagino que nĂŁo seja fĂĄcil para a guilda ficar sem duas de suas recepcionistas.

— Pois Ă©. SĂł imagina o caos que vai ser depois dos casamentos.

— Queríamos visitar enquanto ainda tínhamos tempo.

Senti meu estîmago afundar ao ouvir a palavra “casamentos”. Mas espera
 se elas estavam preocupadas com a guilda ficando ocupada, isso significava que não eram elas as noivas? Eu precisava ter certeza.

— Então
 quem são as sortudas?

As duas se entreolharam, e entĂŁo Nanaella respondeu:

— Melina e Mernell.

— Mandamos cartas para vocĂȘ, Luciel. VocĂȘ nĂŁo leu nenhuma?

Fiquei tenso.

— O quĂȘ?! VocĂȘs mandaram cartas para mim? Eu nĂŁo recebi nenhuma resposta das que enviei, entĂŁo jĂĄ estava pensando em desistir. Achei que estava incomodando.

— Espera, vocĂȘ nos mandou cartas?! Eu nĂŁo vi nenhuma! — Monica exclamou, chocada.

— Nem eu.

Que diabos estava acontecendo? Nenhuma das nossas cartas tinha chegado ao destino?

— Tenho escrito para o Mestre regularmente, contando como as coisas estão indo.

— Ah, lembro que o Brod ficou especialmente feliz uma vez — Nanaella recordou. — Acho que ele recebeu uma carta, mas nada alĂ©m disso.

— O Grantz, o mestre da guilda daqui, deveria estar enviando as cartas para a Guilda dos Aventureiros de Merratoni.

— E nĂłs endereçamos as nossas para a Guilda dos Aventureiros da Cidade Sagrada, jĂĄ que a Igreja nĂŁo aceita correspondĂȘncia.

Provavelmente para evitar vazamento de informaçÔes.

— EntĂŁo estĂŁo pegando nosso dinheiro para enviar as cartas e vocĂȘ nĂŁo recebeu nada?

— Nada. Acho que isso Ă© um problema para resolver com a guilda — resmunguei. — Bom, pelo menos agora estamos juntos, entĂŁo vamos colocar o papo em dia.

Não podia contar a elas sobre o labirinto ou meu trabalho, mas falei sobre como Brod teria ficado orgulhoso de eu estar mantendo meu treinamento em dia, como comecei a praticar equitação e sobre a origem do meu novo apelido — Santo Estranho. Elas, por sua vez, me contaram sobre tudo o que havia acontecido em Merratoni desde que parti.

Depois do almoço, levei-as para conhecer algumas ruas e lojas que eu conhecia. Nosso tempo juntos foi curto, mas precioso.

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No fim, o culpado pelo sumiço das cartas era o próprio mestre da guilda. Como eu aparecia pouco na guilda e, quando pedia para enviarem uma carta, isso sempre virava uma festa, ele simplesmente esquecia de fazer o pedido. E nas raras ocasiÔes em que lembrava, o fã-clube de Nanaella e Monica se recusava a aceitar o trabalho.

Vårios aventureiros estavam envolvidos nesse crime, e como punição, a vice-mestre da guilda Milty os obrigaria a tomar uma caneca de Substùncia X.

Nanaella e Monica ficariam na cidade por trĂȘs noites, entĂŁo decidi que passaria o mĂĄximo de tempo possĂ­vel com elas. No entanto, como sempre, meus planos nĂŁo saĂ­ram como esperado, e elas me incentivaram a continuar aceitando pedidos da guilda. Assim, acabei gastando os dias curando aventureiros no campo de treinamento e purificando latrinas nos becos para combater uma praga local.

As pessoas dos cortiços recuaram ao ver minha tĂșnica branca, mas a presença de Nanaella e Monica ajudou a acalmĂĄ-las. Eu estava apenas cumprindo minha parte do acordo, limpando suas casas e tratando os doentes, mas ainda assim havia aqueles que insistiam em me endeusar. Isso nĂŁo podia ser minha responsabilidade para sempre, entĂŁo eu precisava deixar isso bem claro.

— Por favor, nĂŁo esperem que eu continue fazendo isso, pessoal — anunciei. — Isso foi um serviço pĂșblico pontual, entĂŁo espero que essa limpeza ajude vocĂȘs a se protegerem contra a epidemia. Mas se nĂŁo manterem tudo higienizado, nada disso terĂĄ efeito a longo prazo.

Uma coisa que aprendi no tempo que passei nos cortiços foi que a comunidade era ativa e disposta a trabalhar. Se todos se unissem, poderiam quebrar o ciclo que os mantinha presos naquela situação.

— Uma gentileza gera outra, que gera outra, e assim a corrente continua. Eu acredito que Ă© assim que criamos um mundo melhor. E Ă© por isso que quero que vocĂȘs trabalhem juntos para tornar seu lar um lugar melhor e mais limpo. Eu sei que vocĂȘs conseguem.

O tempo que passei com as garotas durante a visita delas nĂŁo teve nada de especialmente Ășnico ou memorĂĄvel. NĂłs apenas trabalhamos. Foi sĂł isso. Eu sabia que nĂŁo era certo elas se esforçarem tanto durante as fĂ©rias, mas, mesmo assim, pareciam estar se divertindo.

Na prĂłxima vez, no entanto, eu tinha que garantir que elas aproveitassem. Dessa vez, eu faria direito.

***

Depois de terminar meu trabalho no salĂŁo da guilda em um dia qualquer, fui chamado para a sala de Grantz.

— HĂŁ, vocĂȘs podem, por favor, sair do chĂŁo? Eu juro que estou completamente bem agora. E, sinceramente, preferia nĂŁo ter mais rumores ridĂ­culos circulando sobre mim.

Um grupo de pessoas-besta estava ajoelhado diante de mim, com a cabeça pressionada contra o chão, e, meu Deus, aquilo era constrangedor. Eu preferia lutar contra mortos-vivos a passar por essa cena. Suspirei fundo.

— Estou simplesmente envergonhado alĂ©m das palavras por ter causado mal a um curandeiro tĂŁo nobre e respeitĂĄvel. Nem mesmo minha vida seria suficiente para reparar esse erro.

— É, nĂŁo, eu nĂŁo quero isso. E, francamente, vocĂȘ nĂŁo devia jogĂĄ-la fora logo depois de tĂȘ-la recuperado — respondi secamente. — E, ahm, o que foi que vocĂȘs disseram que eram mesmo? Representantes de Yenice?

— Sim. VocĂȘ Ă© generoso demais.

A cidade-estado independente de Yenice era Ășnica por sua ausĂȘncia de discriminação explĂ­cita e era governada por representantes de diversas raças de pessoas-besta, eleitos a cada dois anos. Esses representantes estavam em uma situação delicada porque nĂŁo tinham sido atacados por monstros, mas sim por outras pessoas.

— SĂł para ter certeza absoluta, vocĂȘs nĂŁo sabem nada sobre quem os atacou ou por quĂȘ?

— Não. Viemos apenas para solicitar a criação de uma Guilda de Curandeiros em nosso país.

— VocĂȘs sĂŁo diplomatas estrangeiros e ninguĂ©m foi enviado para recebĂȘ-los? — Os agressores quase certamente eram supremacistas humanos. Ou um grupo que tinha algo a ganhar mantendo Yenice sem curandeiros.

— Recebemos uma oferta, mas nĂŁo querĂ­amos chamar atenção para nossa chegada, entĂŁo recusamos — explicou o representante. — Nosso Ășnico objetivo era conseguir uma audiĂȘncia com o papa.

— Entendo.

Decidi deixar os assuntos de Yenice para Yenice. Havia, com certeza, contextos histĂłricos complicados por trĂĄs disso tudo, e nĂŁo era meu lugar me envolver em polĂ­tica estrangeira.

— Onde exatamente vocĂȘs foram atacados?

— Um bando de criminosos nos emboscou logo do lado de fora dos muros da cidade. Eram bem organizados e disciplinados. Um Ășnico movimento errado poderia ter sido o nosso fim.

— Disciplinados, hein? Isso me cheira a conspiração — resmungou o mestre da guilda.

— Eu sou apenas um curandeiro, entĂŁo nĂŁo hĂĄ muito que eu possa fazer a respeito. Mas estou impressionado que vocĂȘs tenham conseguido sair dessa.

— Sim, tivemos muita sorte. Só conseguimos escapar graças à chegada de alguns aventureiros e a um ataque oportuno de um bando de monstros voadores.

Isso explicava o nĂșmero de aventureiros feridos ultimamente. NĂŁo havia muito que eu pudesse fazer para combater inimigos aĂ©reos alĂ©m de curar suas vĂ­timas, mas, felizmente, a situação parecia estar se acalmando.

— E quanto Ă  audiĂȘncia? Tiveram sucesso?

— ConcluĂ­mos nossas negociaçÔes recentemente. Com segurança, desta vez.

JĂĄ haviam terminado? EntĂŁo, por que eu estava aqui? Para ouvir um pedido de desculpas no lugar de Grantz, como um bode expiatĂłrio?

Lancei um olhar de soslaio para o mestre da guilda. Nanaella e Monica partiriam amanhĂŁ, e eu estava preso aqui bancando o diplomata. Melhor prevenir do que remediar, suponho.

— SĂł para garantir, recomendo que vocĂȘs sejam extremamente cuidadosos no caminho de volta. Talvez contratar alguns guarda-costas atĂ© cruzarem a fronteira. VocĂȘs podem ser atacados novamente ou, pior, podem inventar alguma desculpa e acusĂĄ-los de serem bandidos.

— VocĂȘ acha mesmo que isso pode acontecer? — perguntou o homem-besta, apreensivo.

Na verdade, eu não achava que fosse tão sério assim, mas era melhor preveni-los. Sua segurança não era garantida.

— Talvez seja melhor ficarem aqui na guilda por um tempo e pedirem para um aventureiro levar as notícias adiante.

— Faz sentido. Se nossas negociaçÔes forem formalizadas, qualquer mal-intencionado perderia a motivação para nos atacar.

Eles também estavam acompanhados de uma garotinha, então cautela era mais do que necessåria.

— Se o orçamento permitir, peçam para o mestre da guilda escolher os melhores e mais confiáveis aventureiros como guarda-costas.

— VocĂȘ realmente acha que tudo isso Ă© necessĂĄrio?

— Sim, acho — respondi com firmeza. — Tenho muitos amigos entre os povo-besta, pessoas a quem devo muito. Eu nĂŁo gostaria que eles, ou vocĂȘs, fossem vĂ­timas do racismo neste paĂ­s. Ouvi dizer que ele corre profundamente, atĂ© mesmo dentro da Igreja.

— Isso é  triste de se ouvir. Obrigado pelo conselho.

— De nada. Se puder cuidar do resto, Mestre da Guilda, tenho coisas para fazer agora.

— Sem problema — respondeu Grantz. — Valeu pela força, parceiro.

— E obrigado por todas as informaçÔes sobre os mortos-vivos. Talvez eu nĂŁo possa voltar tĂŁo cedo, entĂŁo tome cuidado. AtĂ© a prĂłxima, pessoal.

Ao me virar para sair, vi a pequena loba muda que me havia parado em frente à guilda. Sheila era seu nome, e ela havia perdido as cordas vocais em um acidente hå muito tempo. Ela me envolveu em um abraço apertado. Algo sobre mim e os lobos parecia simplesmente combinar.

— VocĂȘ Ă© uma heroĂ­na, Sheila. VocĂȘ salvou todo mundo — disse a ela. — Mantenha a cabeça erguida e nunca deixe que o destino decida quem vocĂȘ Ă©.

Tentei lançar um feitiço de cura nela, em vão, jå sabendo que aquilo estava além das minhas capacidades. Então, deixei a sala do mestre da guilda.

***

Desci as escadas e encontrei Nanaella e Monica cercadas por aventureiros locais.

— Elas estĂŁo comigo — declarei alto, com uma voz tĂŁo profunda que atĂ© eu mesmo me surpreendi. — Algum problema?

— AĂ­ estĂĄ ele — disse um dos aventureiros. — EntĂŁo, qual das duas Ă© sua garota? Deve ser uma delas, nĂ©? Afinal, vieram atĂ© aqui sĂł por vocĂȘ.

— Digo, não pode ser as duas. Duas recepcionistas lindas de Merratoni? Por favor, me diga que não são as duas! — implorou um deles.

— Tem que ser por dinheiro. Ou talvez pela aparĂȘncia? Cara, como diabos ele Ă© tĂŁo popular com esses apelidos que tem?!

Ignorando a grosseria do Ășltimo comentĂĄrio, ao menos eles nĂŁo estavam incomodando diretamente as garotas. Mas agora Nanaella e Monica nĂŁo paravam de me encarar.

— Elas são importantes para mim. São a razão de eu estar onde estou hoje — declarei. — Sem elas, eu não teria conseguido passar pelo treinamento do Mestre Brod nem continuado a beber a Substñncia X.

— Espera, ele acabou de dizer “Brod”? O Furacão?

— TĂĄ de sacanagem! O mestre dele Ă© um matador de dragĂ”es?!

— Então elas são o motivo de ele conseguir beber aquele lixo, hein? É, não temos a menor chance.

— Nem me pagando eu beberia esse troço. VocĂȘs encontraram um bom homem, moças.

Todos começaram a sorrir para as duas. Por quĂȘ? Eu nĂŁo fazia ideia (nunca fazia), mas estavam se divertindo, entĂŁo qual era o problema?

Mais tarde, o mestre da guilda me ofereceu um jantar como pedido de desculpas pelo incidente com as cartas, que acabou virando um verdadeiro banquete. Quando a animação atingiu seu auge, a Substùncia X começou a circular, derrubando um por um e deixando o ambiente tranquilo o suficiente para que as garotas e eu pudéssemos conversar sozinhos.

— Desculpem, pessoal. Isso estĂĄ meio agitado para umas fĂ©rias, nĂ©?

— Por favor, nem diga isso. Ouvimos tudo sobre o quanto vocĂȘ tem trabalhado com o mestre da guilda e os aventureiros — disse Nanaella.

— Nana tem razĂŁo. Fique orgulhoso por ter conquistado o respeito de tanta gente. Isso nĂŁo Ă© fĂĄcil para um curandeiro, como vocĂȘ bem sabe — completou Monica.

Fui tomado por uma alegria nostĂĄlgica. Elas sempre me animavam assim em Merratoni. Foi o que me sustentou durante o treinamento do Brod.

— Estou muito feliz por vocĂȘs terem vindo.

— E nĂłs estamos felizes por ver que vocĂȘ estĂĄ bem.

— Só tente não fazer muitos inimigos na Igreja. Os boatos que ouvi quando trabalhava na Guilda dos Curandeiros nunca foram bons.

Provavelmente jĂĄ era tarde demais para isso, mas me sentia revigorado agora. Como se pudesse encarar todo o labirinto.

— Estou fazendo tudo o que posso para poder voltar para Merratoni um dia. Eu prometo.

Conversamos mais um pouco antes de eu escoltå-las até a pousada e voltar para a sede.

***

Na manhĂŁ seguinte, fui me despedir das garotas.

— Obrigado por terem vindo. Foi Ăłtimo ver vocĂȘs de novo. Da prĂłxima vez, serei eu quem vai visitar.

Os poucos dias que passaram aqui jå deviam ter sido bem difíceis para a guilda de Merratoni. Não imaginava que teriam tempo para outra visita tão cedo. Quanto a mim, tinha a sensação de que minha descida ao labirinto estava prestes a ficar muito mais intensa. Precisaria de muito treinamento, tanto físico quanto mågico, se quisesse sobreviver.

— Não se sobrecarregue demais — insistiu Nanaella.

— Escute ela. E nĂŁo se preocupe, vamos garantir que suas cartas cheguem atĂ© vocĂȘ de agora em diante.

— Vou pressionar o mestre da guilda daqui. Ah, mas sĂł para avisar, o trabalho pode ficar bem agitado em breve, entĂŁo talvez eu nĂŁo consiga escrever com tanta frequĂȘncia. Vou guardar as histĂłrias para quando nos vermos.

— Estaremos esperando — responderam juntas.

Senti meus lĂĄbios se curvarem em um sorriso. Eu nĂŁo podia agradecĂȘ-las o suficiente.

— Avisem ao Mestre que continuo firme no treinamento e que ainda pretendo acertá-lo pelo menos uma vez.

— Sou sĂł eu ou vocĂȘ parece mais maduro ultimamente? — comentou Nanaella.

— VocĂȘ acha? Vou tomar isso como um elogio.

— Mas isso nĂŁo Ă© desculpa para assumir mais do que pode aguentar, entendeu?

— Claro. Não se preocupem, já me cansei de ser esfaqueado.

Observei a carruagem se afastar da cidade, rumo a Merratoni. Milty organizou um grupo de aventureiras de rank B para escoltĂĄ-las, e agradeci por isso.

Depois que a carruagem desapareceu de vista, fui reunir suprimentos para minha prĂłxima estadia no labirinto. Os dias daquele lugar estavam contados.

É claro que, sem precisar dizer, fiz questão de estocar um pouco mais da Substñncia X.

***

Após uma refeição no refeitório da sede, segui para o labirinto. Cattleya jå estava no balcão quando cheguei.

— Oh, só está descendo agora?

— Sim. E tenho me sentido como se estivesse sempre pisando em ovos por aqui, então estava pensando em morar lá por, digamos, meio ano ou algo assim.

— VocĂȘ deve ser um idiota se acha que vou deixar vocĂȘ fazer isso — retrucou ela.

— Já imaginava. Mas desde que ajudei a limpar os cortiços, comecei a chamar mais atenção do que gostaria. Onde quer que eu vá, tenho essa sensação de ansiedade. Preciso ficar mais forte, ou vou acabar sendo atacado na melhor das hipóteses, assassinado na pior.

— Posso conversar com Sua Santidade, se quiser.

— Por favor, faça isso. Que mundo triste esse em que basta ser gentil para ser odiado.

— Um mundo triste, de fato.

— Bom, de qualquer forma, estou indo. Vou tomar cuidado.

— Volte em segurança.

Abri as portas e entrei no meu campo de treinamento.

***

Dois meses se passaram desde a visita de Nanaella e Monica, e eu havia feito um progresso significativo nos preparativos contra o quarto chefe. Mas ainda assim, nĂŁo conseguia evitar o arrepio ao pensar em realmente enfrentĂĄ-lo.

No momento, eu estava cavalgando ForĂȘt Noire, o Ășnico cavalo que me permitia montar nele, para tentar distrair minha mente.

— O que estou fazendo, com medo do desconhecido, como se estivesse à beira da morte ou algo assim?

— O desconhecido te assusta?

— HĂŁ? ForĂȘt? VocĂȘ acabou de falar?

— Sempre tão lerdo, Luciel.

Reconheci a voz e me virei.

— Oh, senhorita Lumina. Voltou da missão?

— De fato, mas não por muito tempo. Logo partiremos para a fronteira de Illumasia. E acho que já lhe disse que o “senhorita” era desnecessário quando nos conhecemos.

O que trouxe essa mudança?

— Ah, certo. Hm
 — hesitei. — Parece que vocĂȘs tĂȘm uma vida difĂ­cil.

— Assim Ă© o meu dever. Mas e vocĂȘ, Luciel? O que te preocupa?

Lumina sabia sobre o labirinto, entĂŁo talvez fosse seguro desabafar um pouco com ela.

— É a cĂąmara principal do quadragĂ©simo andar. Estou esperando um cavaleiro extremamente poderoso lĂĄ, e nĂŁo sei se tenho a menor chance contra ele.

— VocĂȘ Ă© um sujeito cauteloso, Luciel, mas nĂŁo acho que isso seja necessariamente um defeito. O labirinto merece respeito. Ele tira vidas. Mas se a incerteza Ă© seu problema, o que acha de um duelo de treinamento?

— VocĂȘ faria isso por mim? Mas estĂĄ prestes a partir de novo.

— Me conceda esse momento. Estou curiosa para ver o que aprendeu durante seu ano na Igreja.

— Então vou aceitar a oferta.

Levei ForĂȘt de volta aos estĂĄbulos, nĂŁo esquecendo de agradecer ao meu parceiro, e retornei para enfrentar o desafio de Lumina.

— Não vou me segurar, Lumina. Quero ver o seu melhor.

— Grandes palavras. Mostre-me que pode sustentá-las!

— A lĂąmina de Lumina estava sobre mim num instante. Canalizei magia na minha espada e escudo, fortaleci meu corpo alĂ©m dos limites normais e bloqueei o golpe com tudo o que tinha. O som do metal contra metal mal tinha chegado aos meus ouvidos quando vi o segundo ataque vindo. Lancei meu escudo contra ela e invoquei um segundo.

Ela era mais rĂĄpida do que eu em todos os aspectos. Um confronto direto nunca daria certo. Minha Ășnica esperança era ser esperto.

Joguei minha espada e, logo em seguida, uma adaga. Lumina gritou surpresa, hesitando o suficiente para me salvar. Ainda bem. Truques baratos eram tudo o que eu tinha à disposição, e se ela continuasse me pressionando, eu teria perdido na hora.

Eu estava impressionado com a habilidade dela, surpreso por ter me forçado a usar o Fortalecimento Físico de forma tão defensiva. Lumina era incrível.

— Estou impressionada, Luciel. VocĂȘ Ă© ainda mais forte do que eu esperava.

— Digo o mesmo. Achei que estava diminuindo a diferença entre nós, mas nem mesmo o Fortalecimento Físico foi suficiente para igualar sua velocidade. Eu estava ficando um pouco convencido demais. — Ainda assim, ela parecia mais lenta do que Brod.

— EntĂŁo essa Ă© a tĂ©cnica que vocĂȘ estava usando — ela comentou. — Quero que tome a iniciativa desta vez. Venha, me ataque.

Eu tinha um mau pressentimento sobre isso, mas nĂŁo tinha escolha.

— Se vocĂȘ insiste.

Avancei com uma sequĂȘncia de ataques, usando o Fortalecimento FĂ­sico ao mĂĄximo, mas nenhum deles sequer chegou perto de acertĂĄ-la. Ela foi me corrigindo conforme lutĂĄvamos.

— VocĂȘ entrega suas fintas com os olhos.

— Seus golpes são muito lineares e fáceis de aparar.

— Usar o Fortalecimento FĂ­sico Ă© inteligente, mas vocĂȘ estĂĄ perdendo flexibilidade.

Nosso treino logo virou uma verdadeira aula de combate.

— Seu progresso Ă© impressionante — Lumina comentou depois —, especialmente considerando que faz menos de um ano, mas ainda acho que vocĂȘ deve evitar adversĂĄrios fortes. Pelo menos atĂ© ter um controle melhor sobre seu corpo enquanto estiver fortalecido.

Peraí, ela estå falando de um jeito mais casual agora? Desde quando isso começou?

— Agradeço o conselho. Tenho trabalhado para melhorar o controle do Fortalecimento Físico, mas agora tenho uma visão mais clara do que preciso aprimorar.

— Eu vejo força em vocĂȘ, Luciel. Continue trabalhando para alcançar seus objetivos.

— Vou continuar. Mas
 por que seu jeito de falar mudou?

O rosto dela corou na hora, e ela desviou o olhar.

— Não estou acostumada a falar com autoridade — ela confessou. — Tento manter a postura, mas, bem
 como viu, preciso me concentrar nisso.

— Acho que nĂŁo tem problema relaxar um pouco de vez em quando. Combina com vocĂȘ.

— Vou
 lembrar disso. Mas hĂĄ uma mulher que admiro, uma cavaleira, e Ă© assim que ela se comporta.

— Entendo. Mas se algum dia quiser relaxar e falar naturalmente, estou por aqui.

— Obrigada, eu
 talvez faça isso.

— Sempre que quiser.

No dia seguinte, Lumina e suas ValquĂ­rias partiram novamente para a fronteira.


Tradução: CarpeadoPara estas e outras obras, visite o Carpeado Traduz – Clicando Aqui


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