The Great Cleric – Capítulo 9– Volume 1

 

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The Great ClericSeija Musou

Light Novel Online – CapĂ­tulo 09:
[O Melhor Curandeiro de Merratoni, Bottaculli]


A Guilda dos Curandeiros, uma sociedade formada por aqueles com a habilidade de manejar Magia Sagrada, foi fundada com o Ășnico propĂłsito de salvar vidas, fruto dos esforços do Lorde Reinstar e seus companheiros.

No inĂ­cio, a cura era recompensada por doaçÔes de caridade, e a população local crescia em resposta a seus serviços. Essas doaçÔes nĂŁo consistiam apenas em dinheiro, mas tambĂ©m em frutas, vegetais, itens de necessidade diĂĄria… Qualquer coisa era aceita, desde que fosse dada com boas intençÔes.

Porém, conforme a população aumentava descontroladamente, os homens começaram a brigar e a entrar em guerra uns contra os outros. Os curandeiros passaram a priorizar seus serviços para os mais necessitados. Esses dois eventos se tornaram catalisadores de grandes mudanças no mundo.

A guerra levou cada vez mais pessoas à morte, a população diminuiu, e os curandeiros se tornaram nada mais do que ferramentas. Assim, Lorde Reinstar e seus companheiros decidiram fundar sua própria nação de curandeiros, um reino que prosperaria grandemente. Pelo menos, até que seus fundadores faleceram.

Os curandeiros remanescentes não compartilhavam a mesma visão. Muitos estavam furiosos e ressentidos pelo abuso e ódio que recebiam quando sua magia salvadora falhava. Assim, curandeiros de todas as partes do mundo se revoltaram entrando em greve. Como resultado, os preços passaram a ser definidos pelos próprios curandeiros, e a guilda ficou impotente, limitando-se apenas à venda de grimórios e à cobrança de impostos.

As taxas arrecadadas eram usadas para cobrir despesas e pagar os funcionĂĄrios, mas nĂŁo havia fundos para estabelecer novas clĂ­nicas ou manter o orfanato. Isso deu origem ao arquĂ©tipo do “curandeiro ganancioso”, uma imagem que apenas se fortaleceu com o tempo.

Foi isso que Brod me contou sobre a situação dos curandeiros no mundo. E por um bom motivo—dois meses se passaram desde que fui oficialmente contratado pela Guilda dos Aventureiros e, atualmente, minha vida estava em perigo.

— Não acredito que tem gente por aí que me odeia só por eu estar vivo.

Durante meu tempo na guilda, salvei vários aventureiros. Infelizmente, as clínicas das quais eu aparentemente estava “roubando negócios” estavam perdendo dinheiro. Elas investigaram a causa e descobriram que era eu. Como eu tinha montado base na Guilda dos Aventureiros e era um membro oficial, assassinato não era uma grande preocupação. Mas, segundo Galba, o maior mercenário da cidade estava se movendo, então qualquer coisa poderia acontecer.

— Por isso, a partir de agora, sempre que vocĂȘ sair, terĂĄ guarda-costas. — Brod declarou, claramente sem perceber que eu nunca havia sequer pisado fora da guilda nessas circunstĂąncias.

Sim, claro, como se isso fosse acontecer.

— É tão estranho pensar que, do nada, tem gente querendo me matar.

— Pois Ă©. Mas nĂŁo esqueça, tem tanta gente do seu lado quanto contra vocĂȘ, talvez atĂ© mais. O pessoal da guilda, os aventureiros… VocĂȘ tem uma famĂ­lia que se orgulha de vocĂȘ. Todo o trabalho que fez nĂŁo foi em vĂŁo. VocĂȘ tĂĄ bem protegido.

Isso era, sem dĂșvida, um ponto positivo. MercenĂĄrios neste mundo eram basicamente assassinos e, no geral, eram bem menos numerosos que os aventureiros. TambĂ©m eram considerados mais fracos. E com a Linhagem do Lobo Branco como minha guarda pessoal, praticamente ninguĂ©m poderia se aproximar de mim. Meu instrutor tambĂ©m era uma presença reconfortante, Ă© claro.

— Bem, nĂŁo estou fazendo nada de errado. Mas, se tem alguĂ©m atrĂĄs da minha vida, vou precisar treinar o mĂĄximo possĂ­vel.

— VocĂȘ Ă© o curandeiro mais estranho que jĂĄ conheci, sabia? No bom sentido. — Ele sorriu para mim como um manĂ­aco sedento por batalha. Tive que me lembrar de nĂŁo pensar nisso na prĂłxima vez que estivĂ©ssemos lutando.

— Eu sĂł sou eu. A propĂłsito, onde vocĂȘ conseguiu a informação de que eu estava sendo alvo?

— Cidadãos, aventureiros, gente cansada dos outros curandeiros.

— SĂ©rio? AtĂ© os cidadĂŁos?

— Exato. Mas essa informação veio com a condição de que vocĂȘ começasse a curar eles junto com seus pacientes habituais.

— O quĂȘ? Eu estava curando cidadĂŁos? Desde quando? Ah, teve aquela senhora de armadura completa e o velhinho de manto… Aquilo era cosplay pesado.

Eu devia ter deixado passar, jå que parei de prestar tanta atenção nas pessoas depois de aprender Cura em Área.

— O que, acha que as pessoas dĂŁo informaçÔes de graça?

Lendo nas entrelinhas, presumi que ele estava me dizendo que era preciso fazer o que fosse necessårio para conseguir informação.

— Beleza, eu posso curá-los — suspirei. — Só garanta que estarei bem protegido.

— Sem problema.

Fiquei aliviado, deixando a luta nas mĂŁos dele. Isso tinha alguma relação com minha sequĂȘncia de derrotas? Talvez.

— Então, já sabemos quem está tramando contra mim?

— Sim. O diretor da maior clínica de Merratoni, Bottaculli.

O nome me soava familiar. NĂŁo demorou para eu lembrar que era o mesmo homem que suspeitĂĄvamos de tentar matar MĂŽnica.

— O homem mais poderoso da cidade nĂŁo suporta um Ășnico curandeiro novato? Isso que Ă© complexo de NapoleĂŁo. Mas isso pode significar que MĂŽnica estĂĄ em perigo tambĂ©m. Ele provavelmente foi quem mandou o assassino atrĂĄs dela.

— Eu ouvi sobre isso na Ă©poca, mas tudo nĂŁo passava de conjecturas. Ele garantiu que o sujeito ficasse de boca fechada. AliĂĄs, tĂŽ tentando entender o que vocĂȘ quis dizer com ‘NapoleĂŁo’, mas nĂŁo tĂĄ vindo nada Ă  mente.

— Gah! — Acerto crítico de uma piada ruim de pai.

— Ei, vocĂȘ tĂĄ bem?

Tirando o buraco no meu coração, sim. Melhor eu tomar cuidado com o que falo no futuro.

— S-Sim. De qualquer forma, não tem nenhuma clínica do meu lado?

— Aposto que algumas te apoiam em segredo, mesmo que nĂŁo possam demonstrar publicamente. O fato de vocĂȘ cobrar um preço justo e deixar isso claro desde o começo Ă© algo bom.

— E qual Ă© a minha reputação, afinal?

— VocĂȘ se dĂĄ bem com aventureiros. Faz bem o seu trabalho e trata todo mundo com respeito. TambĂ©m recebemos vĂĄrios pedidos do povo da cidade pedindo para vir aqui para receber cura.

Aparentemente, jå eståvamos tratando os moradores da cidade. Por outro lado, foi graças a eles que descobrimos o plano de assassinato antes que eu acabasse com uma faca nas costas. Dar e receber, como dizem.

— Espera… EntĂŁo jĂĄ tratei vĂĄrios deles atĂ© agora?

— Percebeu, nĂ©? A notĂ­cia jĂĄ se espalhou sobre um curandeiro que trata as pessoas por apenas uma moeda de prata, sem esvaziar os bolsos delas.

Por um momento, fiquei preocupado com o plano do Brod, pensando se ele tinha a intenção de esmagar completamente as clínicas, mas aquele preço era mais alto do que eu esperava.

— Uhm, nĂŁo Ă© meio caro cobrar uma prata? — Para mim, parecia um preço exagerado. Afinal, nĂŁo era como se eu desse atenção exclusiva para cada um deles. Se um Ășnico curar  custava uma prata, na tarifa atual, cinquenta cobres por um curar em ĂĄrea pareciam mais justos.

O treinador inclinou a cabeça e ergueu uma sobrancelha.

— Achei que a Nanaella e as garotas tinham te ensinado o básico do bom senso.

— Ei, posso ser um curandeiro, mas ainda sou um completo novato. Mal comecei meu segundo ano.

E que lugar excelente eu tinha encontrado para esse segundo ano. NĂŁo sĂł para aprimorar minhas habilidades de cura, mas tambĂ©m para expandir meu conhecimento geral. Havia livros de todos os gĂȘneros aqui, cobrindo todo tipo de assunto, e eu podia lĂȘ-los Ă  vontade enquanto perguntava qualquer dĂșvida para os outros.

No começo, fiquei preocupado com a equipe da guilda, jĂĄ que eles lidavam diretamente com os aventureiros grandalhĂ”es e assustadores que tanto me apavoravam, mas ser funcionĂĄrio do escritĂłrio da guilda exigia mais do que apenas preencher papĂ©is. Todo mundo ali tinha uma vasta experiĂȘncia e conhecimento. Era um verdadeiro encontro de mentes.

E, em um mundo com poucas opçÔes de lazer, a leitura era a minha forma de relaxar, entĂŁo aprendi muito ao longo do Ășltimo ano.

Apesar do treinamento årduo que passei, no fundo eu ainda era um cara medroso. Antes, eu temia pela minha vida toda vez que um daqueles aventureiros rudes vinha pedir ajuda. Mesmo jå acostumado a lançar curar, eu articulava cada sílaba do encantamento com precisão, o medo de falhar e acabar morto nunca saindo da minha cabeça. Eu treinava, praticava e visualizava os feitiços todos os dias.

Então, um ano depois, esse medo desapareceu completamente. Mas eu não deixei isso subir à cabeça. Outro pensamento surgiu: e se esse for o caminho para eu ter uma vida segura? Curar aventureiros, quem precisar, com honestidade e confiabilidade.

A chama que esse pensamento acendeu em mim e o trabalho ĂĄrduo que me inspirou continuavam a dar frutos atĂ© hoje. Mas, sem dĂșvidas, o principal motivo que me mantinha firme era o ambiente de trabalho. Nada parecido com o inferno que eu via os mĂ©dicos enfrentando nos programas de TV. NĂŁo havia noites sem dormir, nem gente desmaiando de tanto trabalhar. Pelo contrĂĄrio, estĂĄvamos todos juntos nisso. Todo mundo se ajudava.

Minha nova vida nĂŁo era ruim. Brod entendia tudo isso, a histĂłria por trĂĄs das minhas palavras. Depois de um momento pensativo, ele sorriu.

— É, vocĂȘ tem razĂŁo. Acho que tenho que garantir que meus temporĂĄrios sobrevivam, nĂ©? A partir de hoje, vamos aumentar a diversidade de armas no seu treinamento.

— Uhm, nĂŁo precisa ficar tĂŁo animado — gaguejei. — Ei, nĂŁo me puxa! VocĂȘ tĂĄ me ouvindo? Treinador! Ei, Treinador!

E lĂĄ fui eu para os campos de treinamento subterrĂąneos, arrastado pela gola da camisa. Os funcionĂĄrios e aventureiros, impassĂ­veis, olharam sem muito interesse. JĂĄ tinham visto essa cena acontecer um milhĂŁo de vezes.

Dias depois, numa tarde como qualquer outra, eu estava focado no meu treinamento de Artes Marciais e Ambulação, levando uma surra do meu instrutor, quando uma voz autoritåria chamou minha atenção.

— VocĂȘ Ă© o curandeiro desta guilda?

Me virei e vi um homem rechonchudo se aproximando, acompanhado por dois guarda-costas musculosos. Os outros aventureiros do campo de treinamento imediatamente se colocaram entre nĂłs, bloqueando o caminho dele. Quem era esse cara? Nunca o tinha visto na vida.

— Tá surdo, garoto? — um dos mercenários gritou. Tinha coragem de falar grosso estando cercado por tanta gente assim.

— E quem seriam vocĂȘs? — respondi calmamente. — NĂŁo me lembro de ser conhecido de arruaceiros que aparecem sem avisar sĂł para causar confusĂŁo.

Deixei minha irritação transparecer. Meu corpo doía, e eu não estava no humor certo para lidar com aquilo. Não via razão para dar atenção a alguém que nem se dava ao trabalho de se apresentar. Esse gorducho, que veio desperdiçar meu tempo valioso, só podia ser Bottaculli. Com meu instrutor e os outros por perto, não havia motivo para ter medo. Eu podia falar o que quisesse.

— Vejo que, alĂ©m de insolente, tambĂ©m Ă© burro, seu moleque. Escute bem, porque sĂł vou dizer uma vez. Eu sou o diretor da maior clĂ­nica de Merratoni, Bottaculli!

— Botticelli?

— Bottaculli, seu…! Estou te dando uma ordem. Pare de curar as pessoas na Guilda dos Aventureiros. Faça isso, e eu o contratarei na minha prĂłpria clĂ­nica. Tirei tempo do meu dia cheio para vir pessoalmente te dizer isso.

Que curandeiro em sĂŁ consciĂȘncia se deixaria levar pelo sorriso convencido de um velhote gordo?

— Sinto muito, mas nĂŁo posso fazer isso — respondi educadamente. — Esta Ă© minha designação oficial da Guilda dos Curandeiros. NĂŁo estĂĄ sob meu controle. Mas, para ser sincero, acho que recusaria de qualquer forma, jĂĄ que estou aqui por um motivo.

O rosto de Bottaculli ficou vermelho como um tomate maduro.

— Agora escute aqui, pirralho. Estou te dando essa chance por pura bondade. Se pretende me desrespeitar…

Ele não conseguiu terminar a frase. Os aventureiros ao meu redor lançavam olhares gélidos e cortantes para ele e seus guarda-costas, deixando claro o quão indesejados eram ali.

— VocĂȘ me ameaça, tenta me roubar do meu trabalho e chama isso de bondade? Eu nĂŁo posso acatar sua ordem, mas adoraria te oferecer um dicionĂĄrio, se quiser.

Pelo visto, ele nĂŁo era incapaz de falar, mas certamente sabia como lançar um olhar fulminante. O curandeiro nĂŁo escondeu a fĂșria em sua expressĂŁo, seu rosto ficando ainda mais vermelho.

Os capangas ao lado dele esperavam ordens. A presença deles provava que Bottaculli tinha mercenårios sob seu comando, validando a decisão de Brod de colocar guardas para me acompanhar quando eu saísse.

— Por que vocĂȘ estĂĄ tĂŁo insistente para que eu vĂĄ para sua clĂ­nica?

— Desde a sua chegada Ă  Guilda dos Aventureiros, minhas clĂ­nicas tĂȘm visto cada vez menos pacientes.

— VocĂȘ estĂĄ fazendo um bom marketing? ClĂ­nicas existem para ajudar as pessoas. E eu duvido que alguĂ©m queira ajuda de um lugar com mĂĄ reputação. AlĂ©m disso, do que vocĂȘ estĂĄ reclamando? VocĂȘ Ă© uma criança? Eu recomendo fortemente que aprenda um pouco de senso comercial.

— VocĂȘ estĂĄ dizendo que minha clĂ­nica tem mĂĄ reputação?! — ele gritou.

Todos os rumores diziam isso. No entanto, sua clĂ­nica ainda era a maior da cidade e nĂŁo lhe faltavam pacientes.

— Eu nunca disse isso. Só acredito no bom senso. As pessoas querem ir a uma clínica onde sejam tratadas com respeito, onde possam ser atendidas rapidamente e com preços honestos e transparentes.

— VocĂȘ acha que pode me dar uma lição sobre como administrar meu negĂłcio?

— Não, de jeito nenhum. Por que eu daria uma lição a um homem que acabei de conhecer? Alguma coisa que eu disse te incomodou, talvez?

— Seu verme insignificante! Um curandeiro novato como vocĂȘ nĂŁo Ă© nada para mim! Eu poderia esmagĂĄ-lo num instante! — ele gritou, com as veias da testa pulsando.

No mundo dele, eu era um invasor, e ele tinha pelo menos um pouco de justificativa para pensar assim. No começo, eu me senti dividido. Eu sabia que minhas açÔes estavam prejudicando as clĂ­nicas por toda a cidade. Mas a extorsĂŁo, a escravidĂŁo… era o mesmo que negar a outros o direito de viver, nada diferente de rejeitar uma coexistĂȘncia pacĂ­fica.

Decidi ouvi-lo. Eu tinha aliados por toda parte para me proteger, entĂŁo queria aproveitar essa chance para entender a visĂŁo de Bottaculli.

— Certo, vocĂȘ Ă© um curandeiro muito mais experiente do que eu e o diretor da maior clĂ­nica de Merratoni. Gostaria de ouvir um pouco da sua sabedoria, se nĂŁo se importar.

— Hmph. Muito bem. — Como tirar doce de uma criança. Sua expressĂŁo convencida voltou no mesmo instante. — Para minha prĂłpria referĂȘncia, que magia vocĂȘ usaria para tratar um paciente com ossos quebrados ou uma doença grave?

— Ouça e se maravilhe, pois minhas clĂ­nicas empregam pessoas, como eu, com a habilidade de lançar o feitiço avançado de cura, Cura Avançada. É isso que usamos. Pelo preço de apenas trinta moedas de ouro, Ă© praticamente uma pechincha.

Ele falava tĂŁo alto sobre si mesmo que era de se esperar que saĂ­sse flutuando com tanto ar quente. Mas se ele podia usar Cura Avançada, certamente havia passado por um bom treinamento. O que o havia motivado a estudar magia no passado? E agora cobrava trinta moedas de ouro por um Ășnico feitiço? Ele estava certo sobre ser “uma pechincha”, mas nĂŁo no sentido que imaginava.

— E, por exemplo, um aventureiro que está sangrando após ser mordido por um Lobo da Floresta?

— Cura Avançada, Ă© claro. O paciente, imagino, preferiria ser curado completamente.

— Mas e se ele não tiver dinheiro?

— Isso eu nĂŁo posso divulgar. Temos nossas maneiras de garantir a compensação que nos Ă© devida.

— Como vendĂȘ-los para mercadores de escravos de outros paĂ­ses?

A expressão de Bottaculli imediatamente azedou. Uma aura intimidadora emanou de seus mercenårios. Comparada à de Brod, porém? Era como uma brisa leve.

— Bom, deixa pra lá. Cura ou Cura Intermediária não seriam suficientes para esse tipo de ferimento?

— Por que eu deveria me rebaixar a lançar uma magia tĂŁo bĂĄsica? As condiçÔes financeiras dos pacientes sĂŁo problema meu? Eles vĂȘm atĂ© minha clĂ­nica em busca de ajuda, e nĂłs a oferecemos. Eles nĂŁo tĂȘm o direito de reclamar — afirmou sem um pingo de consciĂȘncia.

E esse era o homem que construiu a principal clĂ­nica de Merratoni.

— Me diga uma coisa. NĂŁo seria mais lucrativo analisar cada caso, usar a magia apropriada e ajudar o maior nĂșmero possĂ­vel de pessoas?

— Que ingenuidade. Somos curandeiros, não escravos. Por que deveríamos nos ocupar com trabalho que não paga?

— VocĂȘ sĂł vai ganhar animosidade com esse pensamento. A magia nĂŁo Ă© um presente da Deusa para salvar vidas?

O homem em forma de ovo riu.

— IngĂȘnuo, garoto, ingĂȘnuo. Assim como eu jĂĄ fui. VocĂȘ ainda nĂŁo experimentou o desprezo e o abuso, nĂŁo Ă©? O clamor pela sua cura quando vocĂȘ estĂĄ sem mana. A difamação, apesar dos seus esforços mais sinceros.

Bottaculli podia usar Cura Avançada. Ele não era um novato; havia passado pelo treinamento. Talvez, muito tempo atrås, ele tivesse sido admirado e respeitado por sua profissão. Que desperdício. Um grande desperdício.

— NĂŁo posso dizer que sim. Talvez isso realmente me fizesse perder a fĂ© nas pessoas.

— Viu? Venha para minha clínica. Vamos tratá-lo bem.

— Mas me pergunto se vocĂȘ realmente foi encurralado assim. SerĂĄ que realmente foi antagonizado por todas as pessoas ao seu redor? VocĂȘ nĂŁo tinha um Ășnico amigo? Nenhuma mĂŁo estendida para vocĂȘ? JĂĄ pensou nas famĂ­lias das pessoas que vocĂȘ jogou na escravidĂŁo?

— Não fale como se soubesse quem eu sou, verme!

Eu havia pisado em um campo minado, e Bottaculli estava furioso. Nada do que eu dissesse faria diferença agora. Mas ainda esperava encontrar algo de bom dentro dele, algo que ainda estivesse agarrado no fundo do seu coração, e continuei.

— O fato de vocĂȘ conseguir lançar Cura Avançada significa que claramente tem habilidade, mas ainda assim os pacientes nĂŁo vĂȘm. EntĂŁo por que nĂŁo considera que o problema pode estar na sua prĂłpria administração? O jeito como vocĂȘ faz as coisas sĂł traz misĂ©ria para os outros.

Seguiu-se um silĂȘncio… mas apenas temporĂĄrio.

— VocĂȘ jĂĄ disse tudo o que precisava? Ótimo. Porque minha compaixĂŁo acabou. VocĂȘ realmente me irritou. — Bottaculli se virou para os mercenĂĄrios. — Matem-no! NĂŁo me importa como, quero a cabeça dele!

— Naquele exato instante, senti uma brisa passar por mim. Os mercenĂĄrios haviam parado de se mover. Ou melhor, eles nĂŁo conseguiam se mover. Mais rĂĄpido do que um piscar de olhos, Brod jĂĄ tinha posto adagas na garganta de ambos os homens. Um Ășnico passo em falso e eles estariam acabados… e eles sabiam disso. A diferença de habilidade era imensa.

Mesmo sem Brod, nĂŁo faltavam aventureiros ao meu redor, cada um emanando uma aura tĂŁo intensa que eu nĂŁo precisava ser o alvo direto para sentir a hostilidade no ar.

Mas a fĂșria de Brod estava em um nĂ­vel totalmente diferente. O rosto dos mercenĂĄrios ficou completamente pĂĄlido.

— Meu nome Ă© Brod, da Guilda dos Aventureiros. Senhor Bottaculli, que tal se eu conduzisse uma investigação sobre essas suas clĂ­nicas? Tenho um certo interesse nas suas finanças, pra falar a verdade. Quem sabe eu nĂŁo encontre alguns esqueletos no seu armĂĄrio — ele rosnou.

Bottaculli, tremendo como uma folha ao vento, não perdeu tempo. Soltou um grito patético e disparou escada acima o mais råpido que pÎde. Os mercenårios também não hesitaram, seguindo o chefe assim que Brod os soltou.

— Uau, isso foi incrĂ­vel! — comemorei. — VocĂȘ o espantou como se nĂŁo fosse nada. Nunca deixo de me impressionar com vocĂȘ, Treinador. E vocĂȘs tambĂ©m. Obrigado por me defenderem.

Meus companheiros ainda pareciam tensos, entĂŁo tomei cuidado para agradecĂȘ-los a uma distĂąncia segura. Assim que baixei a cabeça, todos voltaram aos seus afazeres como se nada tivesse acontecido.

— EntĂŁo aquele era o grande chefe que odeia minha existĂȘncia? NĂŁo acredito que ele simplesmente entrou aqui desse jeito. Mas tenho a impressĂŁo de que ele jĂĄ foi um bom curandeiro.

— JĂĄ foi. Agora Ă© sĂł um miserĂĄvel mesquinho que extorque as pessoas e as joga na escravidĂŁo — cuspiu Brod. — O que ele foi no passado nĂŁo importa mais.

— Verdade.

Talvez algo tenha acontecido no passado para fazĂȘ-lo desconfiar dos outros, mas isso era coisa de outra Ă©poca. Preços abusivos e escravidĂŁo por dĂ­vidas provavelmente aconteciam em todo o mundo agora. EntĂŁo por que a sede da guilda estava de braços cruzados hĂĄ tanto tempo?

— Me pergunto por que coisas assim são permitidas. Deveria haver leis contra isso — murmurei.

— Alguns curandeiros escondem os preços atĂ© que o serviço esteja feito e depois te acusam de criminoso por nĂŁo pagar. É complicado.

— Vale tudo, pelo visto. Lorde Reinstar deve estar se revirando no tĂșmulo. NĂŁo que eu tenha conhecido ele.

— Esses curandeiros doentes que fazem as pessoas se endividarem são tão criminosos quanto qualquer bandido — rosnou Brod.

Finalmente entendi por que a Guilda dos Curandeiros era tĂŁo odiada. E eu, um curandeiro, tinha acabado de aparecer na Guilda dos Aventureiros em busca de trabalho. Eu realmente devia muito a Brod.

— Parece um problema bem enraizado.

— É. Ainda bem que foi um cabeça de vento como vocĂȘ que apareceu aqui.

— NĂŁo sei se isso foi um elogio ou nĂŁo, mas tambĂ©m fico feliz que vocĂȘ tenha me contratado.

Se eu tivesse começado a trabalhar no lugar de Bottaculli, talvez tivesse sido corrompido por ele. Ou talvez eu tivesse protestado como MĂŽnica… e acabado assassinado.

— Bom, se antes nĂŁo tinha, agora vocĂȘ com certeza tem um alvo nas costas.

— Por que vocĂȘ parece feliz com isso? — ri. — VocĂȘ gosta tanto assim de lutar? Acho que Ă© melhor ficarmos atentos daqui pra frente. NĂŁo sou fĂŁ de assassinos.

— A guilda vai te proteger. Vou manter olhos no seu quarto tambĂ©m, entĂŁo continue fazendo o que estĂĄ fazendo. VocĂȘ estĂĄ com a Guilda dos Aventureiros. NĂŁo poderia pedir um grupo melhor para cuidar de vocĂȘ.

A confiança dele era reconfortante.

— Vou deixar isso com vocĂȘ, entĂŁo. Vamos retomar nosso treino de onde paramos, se nĂŁo se importa.

— Claro. Agora que vocĂȘ tem gente querendo te pegar de verdade, vamos aumentar a dificuldade.

— Desde que isso não me mate, por favor e obrigado.

E assim, os gritos de agonia começaram a se tornar mais frequentes no porão da Guilda dos Aventureiros. Nos intervalos dos treinos, me peguei pensando no passado de Bottaculli. Como, se minha cura um dia deixasse de ser suficiente, o carinho das pessoas por mim poderia se transformar em ódio.

Novos pensamentos ocuparam minha mente: pensamentos sobre o melhor curandeiro de Merratoni, Bottaculli, sobre a Guilda dos Curandeiros, e sobre as clĂ­nicas e os curandeiros que trabalhavam nelas.



Bottaculli, tendo fugido com o rabo entre as pernas, descontou sua raiva nos dois mercenårios e em seu escravo de confiança.

— Maldito moleque, me fazendo de idiota! Ele brandiu sua ‘justiça’ como se entendesse como o mundo funciona. Não vou deixar isso barato. Seus imbecis, descubram tudo o que puderem sobre ele, cada detalhe, não importa o quão insignificante. Se surgir uma oportunidade, matem-no.

Os mercenĂĄrios nĂŁo responderam. Bottaculli claramente nĂŁo percebia que Brod estava sempre por perto de seu alvo. Os dois praticamente nunca se separavam, e isso por si sĂł tornava o trabalho problemĂĄtico.

— Senhor Bottaculli, ameaçá-lo ou encurralá-lo não vai ser fácil — disse um dos mercenários com cautela, para evitar mais da ira do empregador. — Ele está cercado pela guilda, e aquele monstro nunca sai do lado dele. Não conseguimos tocar no cara.

— Sim, eu sei! Apenas calem a boca e façam o que mandei!

Os dois capangas ficaram aliviados ao perceber que seu mestre ao menos entendia o problema que Brod representava. No entanto, ainda tinham poucas informaçÔes sobre Luciel. Ele era um curandeiro que se mantinha recluso na Guilda dos Aventureiros. Apesar de sua idade, suas habilidades eram excepcionais. Suas relaçÔes e conhecidos se limitavam apenas àqueles dentro da guilda. E isso era tudo o que sabiam sobre ele.

— Mas senhor, se o matarmos, o senhor será o primeiro suspeito. Mesmo que fosse inocente, os aventureiros se voltariam contra o senhor imediatamente.

— Sim, sim, eu sei!

— Bom, nĂŁo Ă© exatamente uma boa notĂ­cia, mas ele sĂł vai ficar aqui por um ano, no mĂĄximo. SĂł precisamos garantir que ele seja forçado a sair da cidade depois disso.

— Idiota, acha que vou esperar todo esse tempo? Por que esse fedelho estĂĄ desperdiçando seu tempo com aqueles miserĂĄveis, afinal? VocĂȘ, descubra mais sobre ele na Guilda dos Curandeiros e na dos Aventureiros.

— Entendido — respondeu o escravo, saindo imediatamente.

— Preciso perguntar ao diretor da guilda se o garoto pode ser chamado de volta antes do prazo. Mas isso nĂŁo vai funcionar se a Guilda dos Aventureiros nĂŁo puder ser comprada. Tem que haver outro jeito…

O curandeiro gorducho caiu em profunda reflexĂŁo.


Tradução: CarpeadoPara estas e outras obras, visite o Carpeado Traduz – Clicando Aqui


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