The Great Cleric â CapĂtulo 12.2â Volume 1
The Great ClericSeija Musou
Light Novel Online – CapĂtulo 12.2:
[A Linhagem do Lobo Branco â Um Curandeiro Rebelde]
Nome é Bazan. Eu faço parte de um grupo com meus velhos camaradas, Basura e Sekiros, chamado Linhagem do Lobo Branco. O nome vem de mim, o mais forte do bando e descendente do sagrado Lobo Branco.
NĂłs trĂȘs estĂĄvamos relaxando no salĂŁo da Guilda dos Aventureiros de Merratoni. NĂŁo havia muitos lugares onde os homem-fera podiam viver bem. Dependendo dos genes, alguns de nĂłs tinham muito pelo no corpo, outros trocavam de pelo o tempo todo, alguns tinham caudas… e isso jĂĄ era suficiente pra maioria dos humanos agir como se a gente fosse portador de uma praga. Os que tinham uma aparĂȘncia mais âaceitĂĄvelâ eram tratados como animais de estimação.
TĂnhamos acabado de concluir uma escolta e estĂĄvamos voltando para a estalagem depois de alcançar o ranque B na guilda, quando vi um humano com quem eu tinha esbarrado uns dias antes. Ele olhava ao redor, murmurando pra si mesmo.
â …isso Ă© meio bizarro â ouvi ele sussurrar.
Eu senti vontade de assustĂĄ-lo um pouco.
â Quer repetir isso? De quem vocĂȘ tĂĄ falando, hein?
â O quĂȘ…
â Ei, vocĂȘ Ă© aquele curandeiro em quem eu esbarrei outro dia, nĂŁo Ă©?
â E-Eu sinto muito por aquilo â ele gaguejou. â Desde entĂŁo, tenho me esforçado bastante e finalmente aprendi Cura, entĂŁo posso usar em vocĂȘ como um pedido de desculpas, se quiser.
Eu não esperava que ele ficasse tão assustado. O desgraçado baixou a cabeça e se ofereceu pra curar um homem-fera. De repente, perdi a vontade de zoar o coitado. Isso jå seria só uma covardia. O Lobo Branco não faria isso.
â Como se eu estivesse tĂŁo ferrado a ponto de precisar dessa porcaria! Somos aventureiros, cara â rosnei. Bom, tentei. Eu estava irritado, entĂŁo nĂŁo deu pra evitar o tom. Que diabos esse cara tava tentando fazer?
Sekiros e Basura finalmente apareceram pra salvar minha pele.
â Bazan, o moleque tĂĄ tremendo nas botas. VocĂȘ fez alguma coisa com ele? â Sekiros perguntou.
â Ah, ouvi ele falando sobre aventureiros e algo ser bizarro, entĂŁo achei que tava tirando sarro, mas acho que entendi errado.
â Hah! Quem pode culpar o cara? Sua cara Ă© bem intimidadora.
â Cala a boca, Basura. E vocĂȘ, baixinho, o que tĂĄ fazendo aqui?
â E-Er… bom, eu tava tentando chegar na Guilda dos Aventureiros, mas nĂŁo sei o caminho, entĂŁo resolvi dar uma olhada na cidade.
No instante em que ouvi isso, senti uma dor de cabeça chegando. A gente estava indo pros becos da cidade, e esse idiota tava indo na mesma direção. Ele não sairia de lå vivo se fosse longe demais, e se conseguisse sair, não esqueceriam a cara dele. Não era o melhor jeito de começar a virar um curandeiro decente.
â VocĂȘ ia pro submundo vestido assim? TĂĄ querendo morrer? Ou acabar sendo enganado e vendido como escravo? EscravidĂŁo pode ser ilegal aqui, mas isso nĂŁo significa que vocĂȘ nĂŁo vai ser roubado e largado numa vala â Sekiros alertou.
â U-Um, vocĂȘs sĂŁo todos aventureiros, certo? Podem me dizer onde fica a guilda? Eu agradeceria muito.
Um humano, um curandeiro, se curvou diante de Sekiros. Trocamos olhares e depois olhamos de volta pro moleque. Com certeza, ele era humano.
â VocĂȘ Ă© humano… certo? â Basura confirmou. â NĂŁo Ă© meio homem-fera nem nada?
â NĂŁo, sou humano. Falei algo estranho?
â VocĂȘ sabe que somos homens-fera, nĂ©?
â Sei. Essa Ă© minha primeira vez conhecendo algum.
â Sua primeira vez?
â Isso mesmo, entĂŁo peço desculpas se fiz algo ignorante e ofendi vocĂȘs.
Quantas vezes esse humano ia se desculpar? Ele me lembrava dos homems-fera dos becos. E se essa era a primeira vez dele conhecendo alguns, talvez a gente pudesse fazer ele nos dever um favor. Talvez ele pudesse curar alguns de nĂłs. Pelo menos, era o que eu esperava.
â Bazan, esse moleque nĂŁo bate bem.
Eu estalei a lĂngua em resignação.
â Beleza. Se somos sua primeira impressĂŁo, vamos te levar atĂ© a guilda.
â Muito obrigado!
â Para de se curvar o tempo todo!
â S-Sim, senhor!
Ele parecia prestes a cair no choro, mas tudo o que eu tinha feito era gritar um pouco. AĂ vem minha dor de cabeça…
â VocĂȘ vai fazer o moleque chorar, Bazan.
â Ele tem um rosto que sĂł uma mĂŁe amaria.
â Basura, cala a boca. Sekiros, guia ele.
Esses dois palhaços podiam cuidar das coisas se quisessem agir feito idiotas. Mas peraÅ por que diabos um curandeiro tava indo pra Guilda dos Aventureiros?
â Certo. AliĂĄs, qual Ă© seu nome, moleque? â Sekiros perguntou.
â Luciel. Acabei de me tornar adulto, e minha ocupação Ă© curandeiro.
â Luciel, nĂ©? Somos a Linhagem do Lobo Branco, um grupo de aventureiros de ranque B.
â Ranque B? VocĂȘs devem ser bem fortes, entĂŁo.
â Ah, vocĂȘ sabe. Bom, sem perder mais tempo, vamos nessa.
â Sim, vamos.
â VocĂȘ Ă© esquisito, sabia, Luciel?
E como era. Um curandeiro humano tinha acabado de se apresentar a um grupo de homens-fera… educadamente.
Levamos ele atĂ© a guilda e fingimos que Ăamos embora sĂł pra ficar observando um pouco mais. NĂŁo tinha como aquele palito de dente estar planejando virar aventureiro. SerĂĄ que ele ia fazer um pedido?
Ele chegou até o balcão de recepção e começou a perguntar alguma coisa pra Nanaella.
â Se ele tentar algo, a gente entra â ordenei.
â NĂŁo exagera. A gente mataria o moleque.
â Melhor nĂŁo matar o moleque.
â Relaxa, vocĂȘs dois. Eu sei.
Eu… quer dizer, nĂłs nĂŁo deixarĂamos ninguĂ©m colocar Nanaella em perigo. O FuracĂŁo tambĂ©m nĂŁo deixaria, e ninguĂ©m ousaria tentar algo com ele por perto. A Guilda dos Aventureiros de Merratoni era uma raridade, pois empregava muitos homems-fera.
O FuracĂŁo, o chefe, nĂŁo tolerava discriminação racial. Ele estava anos-luz Ă frente de todo mundo, um homem de talento inalcançåvel. E com o Urso Chef e o Eremitaâlendas entre os homens-feraâao lado dele, aquelas guildas esnobes de Curandeiros e Magos nĂŁo podiam encostar na gente.
Nanaella se levantou e deixou o moleque ali sozinho. Claramente, era sĂł um pedido normal da guilda e ela saiu por um motivo. Se estivesse fugindo, alguns caras teriam ido atrĂĄs dela pra ajudar. Ela parecia um pouco incomodada com alguma coisa, mas o sorriso nunca vacilou. Talvez ele nĂŁo fosse do tipo que discriminava… Raro entre humanos. Depois de alguns minutos, ela voltou com Brod.
SerĂĄ que… ele vai sair dessa inteiro?
O moleque continuou falando, como se Brod nĂŁo estivesse pressionando ele com aquela aura absurda. Mas eu tinha certeza que estava.
â Ei, esse tampinha Ă© mais forte do que parece? â ouvi alguns curiosos comentando.
â Ele tem que ser, se consegue aguentar a pressĂŁo do Brod. Talvez seja um mago.
Claro, eles estavam errados. Como reagiriam se eu dissesse que ele era um curandeiro? O Furacão não levaria essa informação de ùnimo leve.
O garoto tinha coragem de aventureiro, isso era certo. O contraste entre sua bravura e o quanto ele era um medroso despertou meu interesse.
Depois que ele saiu, a guilda fez um anĂșncio… Algo raro de acontecer. Daqui a trĂȘs dias, um curandeiro seria designado para a nossa filial. Era um novato e sĂł conseguia lançar Cura, mas atenderia pacientes de qualquer raça ou gĂȘnero por uma Ășnica prata. Novos aventureiros seriam tratados de graça.
Era aquele garoto. Não poderia ser mais ninguém.
Junto com essa informação, havia um aviso em letras grandes e diretas: qualquer um que começasse uma briga com o curandeiro teria sua patente rebaixada e possivelmente receberia uma multa. ReclamaçÔes deveriam ser levadas ao Brod.
Para os padrĂ”es de anĂșncios da Guilda dos Aventureiros, esse era bem fora do comum. Rebaixar um rank como punição era extremamente irregular e, na prĂĄtica, significava que o garoto estava recebendo um tratamento VIP. E pelo prĂłprio mestre da guilda, o FuracĂŁo, nada menos. Isso era o mais chocante.
De qualquer forma, esse curandeiro não era um garoto comum se estava disposto a curar qualquer um, independentemente da raça. Num mundo onde gente como nós podia ser negada tratamento ou cobrada preços abusivos, era um sonho se tornando realidade.
â Sem dĂșvida. Ele tĂĄ falando daquele tal de Luciel, nĂ©?
â Provavelmente.
â Sei nĂŁo, um curandeiro com essa coragem toda? Vou ficar na dĂșvida atĂ© ver com meus prĂłprios olhos.
Os outros aventureiros tinham suas prĂłprias opiniĂ”es, mas nĂłs sabĂamos a verdade.
â Pelo menos isso significa que a Nanaella nĂŁo tava em perigo.
â Isso mesmo.
E foi assim que o conhecemos. Luciel, o curandeiro magricela. Antes de partirmos para uma missão escoltando uma caravana de Merratoni até o Império de Illumasia, fizemos uma aposta sobre quanto tempo ele duraria.
Voltamos para Merratoni trĂȘs meses depois.
â Essa viagem foi longa â comentou Sekiros, despreocupado.
â Aquele mercador era um pĂŁo-duro desgraçado â resmungou Basura.
â Ah, mas ficou quietinho quando derrubamos o monstro, nĂŁo foi?
â Ă, talvez.
â Ah, e quem aposta que aquele curandeiro ainda tĂĄ na guilda? â perguntei.
â Eu nĂŁo â respondeu Sekiros.
Basura pensou por um momento.
â Acho que ele ainda vai estar lĂĄ â disse finalmente, o que me surpreendeu.
â Eu acho que nĂŁo â falei. â E por que vocĂȘ acha que sim, Basura?
â NĂŁo importa o que o curandeiro quer. O Brod nunca deixaria ele sair.
â Essa Ă© sua teoria, hein? Beleza, o perdedor paga a rodada assim que terminarmos essa missĂŁo.
Basura e Sekiros concordaram, e fomos direto para a Guilda dos Aventureiros.
â NĂŁo vejo o pivete, vocĂȘs veem? Cara, tĂŽ sentindo cheiro de bebida grĂĄtis â gargalhei.
Basura estalou a lĂngua, irritado.
â Bem-vindos, Linhagem do Lobo Branco â Nanaella nos cumprimentou. â Vieram relatar a missĂŁo?
â Ei, Nanaella. VocĂȘ lembra daquele curandeiro que apareceu aqui trĂȘs meses atrĂĄs? Quanto tempo ele acabou ficando?
â Ah, vocĂȘ quer dizer o Luciel? â ela sorriu alegremente.
â Sem âSenhorâ? NĂŁo sĂŁo muitos que tĂȘm esse privilĂ©gio. EntĂŁo, o quĂȘ? Um mĂȘs? â perguntou Sekiros.
Nanaella deu uma risadinha, seu sorriso crescendo ainda mais.
Senti um mau pressentimento.
â EntĂŁo… â Basura abriu um sorriso malicioso. â Ele ainda tĂĄ aqui?
Nanaella riu baixinho por um momento.
â D-desculpem, mas sim. Ele tĂĄ morando na sala de descanso do andar de baixo.
â O quĂȘ?! â gritamos em unĂssono.
Ela explicou que, na verdade, ele estava vivendo na guilda esse tempo todo e bebendo uma certa poção que Gulgar fazia todo novato experimentar. Todos os dias. Só de pensar nisso, meu estÎmago revirou.
AlĂ©m disso, ele estava treinando com o FuracĂŁo, dia apĂłs dia, sem sair da guilda por trĂȘs meses. O pessoal jĂĄ estava dizendo que ele era viciado em treinamento.
â Cara, e tĂŁo chamando ele de LĂngua Defeituosa, o Masoquista, Zumbi… Esses apelidos tĂŁo ficando cada vez mais insanos.
â Hoje vocĂȘ tĂĄ falante â gemi.
â Claro, nĂŁo sou eu que vou pagar.
â Aproveita enquanto pode. Pelo menos o cara parece ser gente boa. Vamos ver como ele se sai se a gente se machucar.
Na Ă©poca, Luciel era sĂł um curandeiro esquisito pra mim… pra todos nĂłs. NinguĂ©m esperava o que aconteceria dali a meio ano.
EstĂĄvamos cortando monstros numa mina em uma missĂŁo urgente. âEliminem todos os monstros saindo da minaâ, eram nossas Ășnicas ordens. Todos eram fracos, fĂĄcil demais. Exceto por uma criatura que estava mais no fundo.
Sekiros e eu tossimos sem parar. Aquela fumaça, ou névoa inflamåvel, ou seja lå o que fosse aquilo que o monstro cuspiu, nos pegou em cheio.
â Aguentem firme, pessoal! Estamos quase lĂĄ! Fiquem comigo!
â Por que essa cara? â resmunguei. â A gente vai ficar bem.
â Acha mesmo que vamos bater as botas assim tĂŁo fĂĄcil? â Sekiros tossiu. â Ă sĂł dormir que melhora.
â NĂŁo, vocĂȘs vĂŁo direto pra uma clĂnica.
Basura tinha uma aptidão rara para magia (pelo menos para um homem-besta), então era mais resistente a doenças e venenos. Sekiros e eu ficamos quietos e deixamos ele nos levar a um curandeiro, mas o resultado não foi surpreendente.
â O que esses cĂŁes sĂŁo pra mim? Se quer forçar minha mĂŁo, digamos… cinquenta moedas de ouro.
â O quĂȘ?! Quem diabos tem esse tipo de dinheiro?!
â Problema seu, amigo. Sou um homem ocupado. Se nĂŁo gostou, pode ir embora.
â Por favor, tem que ter alguma coisa que possa fazer.
â Tudo bem. CĂŁes fazem bons escravos. Isso deve cobrir o custo.
â VocĂȘ tĂĄ brincando comigo?
â NĂŁo gostou? EntĂŁo saia.
A clĂnica foi um fracasso. De volta Ă estalagem, Sekiros e eu descansamos enquanto Basura correu atĂ© a Guilda dos Aventureiros. Assim que ele saiu, apaguei.
Um calor estranho me envolveu enquanto a névoa começava a se dissipar.
â Eles devem ficar bem agora. Se acontecer mais alguma coisa, por favor, tragam eles… pra… guilda…
â Ei, calma aĂ. VocĂȘ fez um bom trabalho, garoto â Brod o segurou antes que caĂsse. â Isso vai dar duas pratas pra vocĂȘs.
â SĂł isso? SĂł isso mesmo? â Basura perguntou, incrĂ©dulo.
â SĂł isso. Ă o que ele quer.
â Quem diabos Ă© esse curandeiro?
â Um esquisitĂŁo. Ă isso que ele Ă©. Sei lĂĄ que tipo de vida ele levou, mas ele treina pra caramba. Tudo pra âsobreviverâ, segundo ele.
â Dois pratas sequer dĂŁo lucro?
â Ele diz que ainda Ă© inexperiente. Se acha que deve mais a ele, entĂŁo esteja lĂĄ pra ajudar caso ele precise.
O FuracĂŁo nĂŁo disse mais nada e saiu, carregando o curandeiro nas costas.
â Basura? Aquele era o FuracĂŁo?
â Sim. O curandeiro da guilda veio.
â Entendi. âInexperienteâ… VocĂȘ acha que ele conseguiu curar todo o veneno?
â Bazan, vou ser direto com vocĂȘ. Sem ele, sem aquele curandeiro, vocĂȘ taria morto.
â O-O quĂȘ? Espera, eu estaria?
â O FuracĂŁo disse que aquele monstro que derrotamos era um gastle mutado. O veneno teria te matado sem o antĂdoto certo ou magia de cura.
â Huh… Magia Ă© bem impressionante, nĂ©?
â Eu uso magia, e magia nĂŁo Ă© impressionante. O que Ă© impressionante Ă© ter a habilidade de usĂĄ-la e usĂĄ-la direito.
â Qual Ă© o seu ponto?
â Eu jĂĄ disse, sem aquele curandeiro, vocĂȘs dois tavam mortos. Quantas vezes vocĂȘ acha que ele conjurou feitiços em vocĂȘs? Eu nem consegui contar. De novo e de novo, atĂ© nĂŁo conseguir mais… e mesmo assim ele continuou.
â E isso Ă©… o que Ă© impressionante.
â NĂŁo acredito que ele nĂŁo desmaiou. Ele simplesmente cerrou os dentes e continuou. Ele estava sangrando, Bazan. E por duas pratas. VocĂȘ acredita nisso?
â Devemos nossas vidas a ele, nĂŁo devemos?
â O que vocĂȘ acha que eu estou tentando dizer? Se menosprezar aquele curandeiro, vou começar a duvidar de vocĂȘ. E Ă© isso.
â Qual era o nome dele mesmo? â Sekiros gemeu. â Luciel? Nunca na minha vida vi um curandeiro como ele.
â Sekiros, vocĂȘ estĂĄ acordado? â perguntei.
â Sim. Eu o ouvi enquanto estava inconsciente. Ele me disse para continuar aguentando firme. Foi como se uma luz quente estivesse afastando a escuridĂŁo.
â Eu senti o mesmo.
â Precisamos agradecĂȘ-lo na prĂłxima vez que o virmos â disse Basura.
â Eu sei.
â Isso mesmo.
No dia seguinte, foi exatamente o que fizemos.
â VocĂȘs estĂŁo vivos porque lutaram por isso. Nunca desistam da vida. VocĂȘs sĂł tem uma.
Isso foi tudo que ele disse antes de voltar ao treino com o FuracĂŁo.
â Esse garoto Ă© um santo?
â Quando vocĂȘ vĂȘ o inferno que ele mesmo se impĂ”e, começa a se perguntar se ele nĂŁo vai acabar como o fundador da Guilda dos Curandeiros um dia.
â Precisamos estar lĂĄ pra ele se quisermos retribuir o que fez por nĂłs. O FuracĂŁo disse isso.
â Certo. A Linhagem do Lobo Branco nunca esquece uma dĂvida.
Eu… ou melhor, todo o meu grupo estava incrivelmente grato por termos conhecido aquele cara. Durante trĂȘs meses depois disso, observamos seu progresso de longe, torcendo por ele. EntĂŁo, finalmente alcançamos o Rank A. E assim veio nosso tĂŁo esperado encontro com as recepcionistas, menos Nanaella… Supostamente porque nĂŁo podiam deixar a guilda vazia, mas eu sabia que era pelo menos em parte porque ela queria evitar casar e ter que largar o emprego tĂŁo jovem. Ela nĂŁo estar lĂĄ foi uma pena, mas ainda assim foi um bom momento. E devĂamos isso a Luciel.
Quando Bottaculli começou a causar problemas, achei que finalmente terĂamos a chance de retribuir o favor. Mas isso era ilusĂŁo. A maldita guilda inteira jĂĄ tinha Luciel sob proteção total. O FuracĂŁo estava com ele vinte e quatro horas por dia, o Urso Chef verificava todas as suas refeiçÔes, e o Recluso reunia informaçÔes externas no tempo livre.
O Recluso, em particular, trabalhou bastante. Ele eliminou mercenĂĄrios, manipulou informaçÔes para ameaçar o mestre da Guilda dos Curandeiros e repassou dados aos escravos de Bottaculli. Em um mĂȘs, Bottaculli estava de mĂŁos atadas. NĂŁo podia agir abertamente mais.
Luciel, sem saber de nada, apenas continuou treinando. Ninguém contou a ele que estava seguro e que o perigo havia passado. Mas nós também não dissemos nada. Afinal, ele treinava porque queria. Quem éramos nós para atrapalhar?
Todos esperavam que ele se tornasse um membro permanente da guilda, até que Bottaculli puxou alguns fios nos bastidores para enviå-lo para a Cidade Santa, fazendo o Furacão intensificar ainda mais os treinos.
Isso tornou conversar com o garoto um pouco difĂcil, pra dizer o mĂnimo. Todo dia, ele ficava exausto, mas ainda assim dava total atenção a cada paciente. O que o motivava tanto? Como seu espĂrito nĂŁo estava destruĂdo? Chamavam-no de âzumbi masoquistaâ, mas ele sĂł fazia aquilo para ficar mais forte. Ele estava obstinado. Mas por quĂȘ? Por que se esforçava tanto?
Eu descobriria a resposta para essa pergunta no dia em que aceitamos o pedido para escoltå-lo em segurança até a Cidade Sagrada.
Havia sido postado um trabalho na guilda para uma escolta atĂ© a Cidade Sagrada. O pedido vinha da prĂłpria guilda, e o alvo a ser protegido era Luciel. O Ășnico requisito: apenas grupos de Rank C ou superior. NĂŁo havia pagamento listado.
â Aqueles que desejam aceitar o trabalho de escoltar o Senhor Luciel atĂ© a Cidade Sagrada, por favor, apresentem uma proposta para seu plano de escolta â informou Nanaella.
â Mencionem tambĂ©m a compensação que consideram apropriada para a proposta â acrescentou MĂŽnica, uma recepcionista que Luciel havia arrastado da Guilda dos Curandeiros.
Era um pedido, no mĂnimo, bizarro. De carroça, nĂŁo levaria mais que dois dias para chegar Ă capital. Qualquer trabalho normal pagaria, no mĂĄximo, vinte pratas. Mas esse nĂŁo era um trabalho normal. Seria esse o preço certo?
Decidi perguntar para os caras o que achavam.
â O que vocĂȘs acham desse pedido?
â Acho que o preço nĂŁo Ă© o mais importante aqui â disse Sekiros.
â Tem um monte de vilarejos entre aqui e a Cidade Sagrada, nĂ©? â comentou Basura. â Que tal fazermos vĂĄrias paradas e espalharmos o nome do Luciel?
â Tipo, diferenciĂĄ-lo dos outros curandeiros? Isso parece estar usando ele, nĂŁo acha?
â EntĂŁo por que nĂŁo perguntamos pra ele? â rebateu Basura.
â Tenho certeza de que ele concordaria, sĂł que provavelmente nĂŁo conseguirĂamos o trabalho com um plano assim.
Pensei por um momento.
â E entĂŁo, qual Ă© a dele? Por que ele treina tanto sĂł pra curar sem praticamente nenhum pagamento? O FuracĂŁo nĂŁo tĂĄ obrigando ele a fazer isso, tĂĄ?
â Ă porque ele conhece a dor.
Me virei e vi Nanaella.
â Quando ele vĂȘ alguĂ©m ferido, ele nĂŁo consegue evitar querer ajudar.
MĂŽnica estava com ela, como sempre.
â Ele odeia mortes prematuras. Me disse que ninguĂ©m merece morrer de outra forma que nĂŁo seja de velhice.
Ouvi dizer que essas duas andavam bastante com ele. Provavelmente eram as que mais o conheciam.
â Sekiros, Basura. Vamos com esse plano.
Ninguém se opÎs.
Uma jornada bondosa para um homem bondoso. Talvez, um dia, todos esses vilarejos estivessem lĂĄ por ele. Talvez o ajudassem, assim como ele ajudou os outros.
Anotei tudo: nosso plano de passar pelos vilarejos e o preço que cobramos: duas pratas. Só o suficiente para cobrir comida e suprimentos.
No dia seguinte, conseguimos o trabalho. Eu estava grato ao Furacão por nos dar essa chance, e iria retribuir garantindo que Luciel chegasse em segurança à capital. Não importava o que acontecesse.
Tradução: CarpeadoPara estas e outras obras, visite o Carpeado Traduz â Clicando Aqui
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