Rakuin no Monshou – Capítulo 4 – Volume 2
Rakuin no Monshou
Emblem of the Branded
Light Novel Online – Capítulo 04:
[Festival da Espada]
Naquele dia, Zaat Quark foi inundado por visitantes.
Pela manhã, chegou Simon Rodloom. que assim que avistou o rosto de Zaat, perguntou:
— Você emagreceu?
Zaat sorriu amargamente e balançou a cabeça.
— Não importa a situação, a quantidade que como e bebo não muda. É minha única qualidade redentora. Bem, mas quem sabe o que pode acontecer em uma semana…
— O senhor foi liberto da prisão domiciliar. Agora pode comer e beber à vontade.
— Liberto?
A forma casual como Simon mencionou isso deixou Zaat estupefato. Simon apontou para a janela, e, de fato, os guardas que cercavam o salão residencial estavam se retirando.
Naquela manhã, Simon se apresentou perante o imperador e, por um golpe de sorte, os dois conseguiram conversar a sós sobre o festival. Passaram algum tempo discutindo Garbera, os movimentos de Ende e também como, começando por seu antigo inimigo, a Casa Bazgan do oeste, novas atividades surgiram em um grupo de cidades-fortaleza de Tauran. Depois disso, Simon mencionou o nome de Zaat como se fosse por acaso. E o imperador, como se tivesse completamente esquecido até então, riu da situação.
— Depois disso, a prisão domiciliar foi imediatamente revogada. Sua majestade estava furioso no momento do incidente, mas eu mesmo não levei a sério. Por isso fiquei tranquilo. Sua majestade não impôs nenhum castigo ou coisa do tipo. Daqui em diante, contant que você mostre lealdade inquebrantável a Mephius—
— A Mephius — Zaat respondeu com amargura.
Ele já se resignou a enterrar seus ossos em Mephius. No entanto…
Quer tenha entendido ou não o significado implícito, Simon permaneceu em silêncio. Zaat então levantou a questão de Kaiser Islan. Sua execução seria realizada no dia seguinte. Nem mesmo Simon pôde reverter isso. Zaat e Kaiser se opuseram a esta decisão, mas o sentimento do imperador em relação a suas punições foi completamente indiferente.
— Dessa forma, ele não é diferente de um espadachim-escravo. Ao sabor do capricho do público, pode ser ordenado a morrer ou a viver. Isso faz com que todos, exceto a família impérial, não passem de escravos do imperador.
Zaat falou, encarando fixamente.
— Eu, é claro, amo Mephius. Gosto muito da natureza simples de nosso povo e do traquejo militarista que eles, por vezes, possuem. Não há nada em nosso país que supere nossas tropas fortes e ferozes. O éter está se esgotando, e uma vez que as armas das aeronaves e aquela magia desprezível desapareçam deste mundo, quem reinará supremo não pode ser outro senão Mephius. Mas com o modo como Mephius está… com nosso atual imperador…
— Pare, Zaat. Você não sabe onde estão os ouvidos dele.
— Lorde Simon, até o senhor não o despreza? O imperador está tentando reviver a Fé Ryuujin pela segunda vez! Muito provavelmente, é apenas com o propósito expresso de reinar como soberano absoluto. Ele não hesitaria em rotular todos os que se opõem a ele como rebeldes. Sim, exatamente como Jasch Bazgan começou seu reinado de terror em nome do Deus Dragão.
O assunto relacionado à Fé Ryuujin já se espalhou como um rumor. De como, na véspera do festival, os anciãos convocados participaram em massa do ritual no santuário do Templo do Deus Dragão. E também de como Kaiser, que se opôs a ele, seria executado como o primeiro e principal rebelde.
— A paz com Garbera também é a mesma coisa. Ele pode ter ouvido seus vassalos e aceitado suas palavras, mas isso é apenas por um breve período. Certamente, alguém de sua capacidade deve entender isso. Sua majestade tem se reunido frequentemente com um mensageiro de Ende, um atrás do outro. O conteúdo dessas reuniões pode ser facilmente adivinhado. Amanhã, não me surpreenderia se a princesa Vileena fosse expulsa do país e, em seu lugar, o casamento prosseguisse com a grã-princesa de Ende.
— Isso…
Inquietação pairou nos olhos de Simon. Isso também foi um fato definitivo. O imperador Guhl não era alguém que se contentaria em manipular um único país como Garbera. Na disputa pelo controle do centro do continente, incluindo Ende, o equilíbrio nas relações entre os três países era essencial. Guhl queria ser quem puxava as cordas das duas outras nações.
A subjugação de Ryucown serviu para fortalecer a aliança com Garbera, mas por causa disso, Ende não pôde mais ignorar Mephius. Havia até rumores de que Ende propôs uma aliança vantajosa a Mephius; tudo de acordo com a vontade de Guhl.
— No entanto, se isso acontecer, perderemos a confiança de outros países e a reputação de Mephius irá para o fundo do poço. Se sua majestade continuar a exercer seu poder como bem entender, mais cedo ou mais tarde Mephius enfrentará o declínio.
Nesse momento, os olhos de Zaat brilharam.
— Há um grande número de pessoas descontentes com o imperador. Se lorde Simon se colocar no centro delas, nobres com alta popularidade e a grande maioria se juntarão à causa. Os poucos lordes que existem estão reunidos em Solon. Não há momento melhor do que agora, durante o festival.
— Zaat. Vou fingir que não ouvi isso. Agora, irei me retirar.
Simon levantou-se abruptamente.
— É justamente porque pensamos no futuro que devemos estar unidos. O caso de Kaiser é lamentável, mas não tenho intenção de permitir que a mesma coisa se repita.
— É exatamente por isso, lorde Simon!
— Vejo que você está mais do que disposto a dar sua vida. No entanto, isso levaria a uma reviuvolta completa da lei. Se você tentar executar seus planos em um acesso de impaciência, sangue desnecessário será derramado. O povo também será arrastado junto e isso daria a outros países a chance de atacar. Nós devemos evitar que aconteça a qualquer custo. Tenho certeza de que você entende, Zaat.
Simon colocou as mãos nos ombros de Zaat e depois deixou a sala de espera.
Esse foi o encontro da manhã.
O encontro da tarde foi com Oubary Bilan. Embora suas posições os tivessem feito se encontrar inúmeras vezes até então, recentemente passaram a conversar francamente com mais frequência.
Oubary não ficou por muito tempo. Trocaram algumas palavras aleatórias e jogaram apenas uma partida de um jogo recreativo quando, de repente, ele se levantou. E, como se aproveitando da oportunidade, entregou uma certa carta a Zaat.
— Gostaria que deixasse o tabuleiro como está.
Oubary riu alto, apontando para o tabuleiro no momento de sua partida.
— Vamos continuar em outra ocasião, digamos, quando estivermos brindando em celebração.
Depois que Oubary partiu, Zaat fez uma refeição leve e se retirou para seu estudo.
— Aqueles Garberanos insolentes…
Ele examinou a carta dezenas de vezes e finalmente a soltou, jogando-a sobre a mesa.
— Eles planejam me usar…?
A assinatura de Noue Salzantes estava no documento. Até então, várias cartas de Noue foram entregues, mas o conteúdo desta foi muito mais direto. No entanto, dificilmente poderia ser elogiado como heroico. Ele sem dúvida acendeu as chamas da revolução e esperava por bajulação, mas em vez disso, recebeu algo que beirava uma reclamação.
Desde que o casamento entre o príncipe Gil e a princesa Vileena foi decidido, as relações entre Garbera e Ende chegaram a um estado de tensão. Originalmente, havia sido planejado o casamento da princesa com Ende. No entanto, Garbera decidiu não depositar toda a sua confiança em Ende e, priorizando os interesses de seu próprio país acima de tudo, optou por se aliar a Mephius.
Para salvar as aparências, Ende não hesitou em usar todos os seus recursos diplomáticos. Ende reduziu as tarifas sobre produtos importados, como seda e especiarias, e o segundo príncipe de Garbera e líder da Ordem do Tigre, Zeno Owell, apareceu perante o arquiduque, onde trocaram juramentos de amizade eterna.
No entanto, o corpo do arquiduque Malchio Le Doria estava chegando ao fim.
Por meio de suas fontes diplomáticas e rede de inteligência secreta, Mephius mais ou menos compreendeu a situação. Malchio era um homem na casa dos cinquenta, mas sua condição física estava piorando rapidamente. Apesar de suas aparições públicas por duas vezes no ano passado, havia rumores de que ele poderia até ter sido envenenado. Muito provavelmente, não tinha muito tempo de vida, ou assim muitos acreditaram, apesar das atividades domésticas e estrangeiras em curso em Ende.
O arquiduque tinha dois filhos. O mais velho era o príncipe Jeremie, e o próximo na linha era o príncipe Eric. Jeremie, embora prudente, tinha pouca capacidade militar, e Eric era proficiente nas artes da guerra, mas carecia de prudência, conforme afirmou o relatório. E entre eles, o robusto Eric pareceu desejar a guerra com Garbera, como estava escrito na carta.
Eric era originalmente a primeira escolha para ser o noivo de Vileena. Sendo esse o caso, a aliança foi descartada e ele, tomando como insulto, uniu-se a alguns vassalos com intenções de declarar guerra a Garbera.
É lógico que quem sucederá ao cargo de arquiduque será Jeremie. Então ele já antecipou os próximos passos com isso em mente, não é?
Ele demonstrou seu poder e ações para ganhar o favor do povo e parecer o candidato mais adequado. Embora o atual arquiduque desejasse manter relações amistosas com Garbera, pareceu ser apenas uma questão de tempo até sua morte, quando Ende prepararia suas tropas.
Assim, o último raio de esperança de Garbera estava em sua aliança com Mephius. No entanto—
Aquele maldito Noue. Não suporto aquele homem.
Zaat mencionou alguns dias antes que Guhl Mephius se encontrou secretamente com um mensageiro de Ende. Foi feito com absoluto sigilo, mas Noue, de alguma forma, por meio de sua rede de informações, descobriu o conteúdo daquela reunião.
Em tempos de guerra, Noue ficou nervoso quanto ao nível de reforços que Guhl Mephius enviaria a Garbera. E também, o assunto da tentativa de assassinato da família real por Ryucown poderia muito bem ser levantado, e Vileena poderia ser forçada a retornar ao seu país.
Isso levou Noue a manter os olhos em Zaat. Como o homem valente que tão justamente defendeu a aliança com Garbera, ele não hesitaria em ajudá-lo, ou assim estava escrito na carta. O objetivo de Garbera era trazer instabilidade política a Mephius. Mesmo que estivesse além do poder de Zaat, um estado temporário de confusão aliviaria seus medos de serem esfaqueados pelas costas.
— No entanto — Zaat deu um suspiro baixo.
Em outras palavras, precisamente porque Garbera e Ende estavam em tensão, era uma boa oportunidade para reformar Mephius. Mesmo com um estado temporário de desordem, havia pouca preocupação de que outros países interviessem.
Metade do dia passou desde que a ordem de prisão domiciliar de Zaat foi revogada, e logo depois de organizar um ponto de contato, ele partiu. Dentro da carruagem, Zaat Quark encarou o grupo de soldados sob seu comando, os líderes da Divisão do Arco Azul. Cada um deles era alguém em quem ele confiava. Desde pouco antes, ele enviou o sinal que os pressionou a se prepararem. Por meio da prisão domiciliar naquela ocasião, eles entenderam que “aquele momento” estava próximo.
Zaat olhou para trás, para sua mansão desaparecendo no horizonte. Lá, ele viu um mar de chamas. Piscou os olhos várias vezes, surpreso. As fileiras de chamas desapareceram. Era uma ilusão.
◇◇◇
No dia seguinte, pouco antes do meio-dia, Simon Rodloom encontrou-se inesperadamente cara a cara com Noue Salzantes na grande arena de Solon.
Noue acabou de sair da carruagem de uma nobre que cortejou na noite anterior, e Simon programou-se para visitar Kaiser, que foi transferido para a masmorra subterrânea da arena.
Depois de trocarem saudações,
— Eu venho aqui todos os dias — Noue disse com um sorriso. — Estou completamente fascinado com os jogos de gladiadores, sabe? O do ano passado foi realmente espetacular.
— Vamos recebê-lo cordialmente.
Depois de duas ou três breves discussões, Simon se despediu. Noue encarou fixamente o homem que partiu.
Aquele homem é o mais proeminente entre os líderes mephianos. Seria bom tê-lo como aliado, mas seria muito mais fácil prever seus movimentos como um mero acessório, assim como Zaat Quark.
O mesmo valeu para Oubary Bilan. Enquanto as negociações de paz progrediam, Noue enviou uma carta ao general. Ouviu que Oubary era da facção contrária às negociações pacíficas e pareceu ter sido conquistado para a causa de Oubary, tudo em um plano para tê-lo como outro peão sob seu controle. Noue investigou o caráter de Oubary antecipadamente. Oubary possuía a fortaleza de um soldado e, embora tivesse suas próprias conquistas, não era o mais brilhante dos homens. Sua forma de lidar com as coisas gerava insatisfação e queixas, e isso refletiu seus próprios hábitos. Era o tipo de homem mais fácil de controlar.
Noue enviou repetidamente cartas a Oubary, deixando-o mais do que ciente de quão alto Garbera o considerava. E, ao fazê-lo, levou Oubary a ficar ainda mais indignado com a posição injusta em que se viu forçado em Mephius. Então Oubary lembrou-se de como Garbera valorizou seus verdadeiros méritos.
Logo, ele enviou uma carta própria. A informação de que o homem conhecido como Zaat Quark era o líder da facção anti-imperial foi recebida de Oubary.
Posso usar essa informação.
Pensando nisso, Noue logo se envolveu com Zaat por meio de correspondência. Noue observou que ele também tinha uma personalidade fácil de manipular. Zaat era um homem convencido e, como Oubary, orgulhoso.
Mephius é um grande dragão. Seu corpo, ou melhor, seus longos anos de vida inflaram seu orgulho, tanto que ele pensa que seu corpo é maior do que realmente é, dando-me a chance de enfiar minhas garras. O impasse será, em um futuro não muito distante, dominado por nós através dos preparativos que coloquei em movimento.
O descontentamento entre os nobres de Mephius em relação ao imperador estava em brasa. Isso, é claro, também foi investigado. Foi por isso que ele elaborou um plano que só precisava de uma única fagulha, mas então o caso de Kaiser e Zaat ocorreu, e as coisas de repente começaram a avançar a seu favor. Tudo isso não foi obra de Noue, mas sim resultado da conduta do imperador, Guhl Mephius.
Mephius está caminhando para sua própria ruína.
Mephius, de acordo com seu plano, esgotou sua boa sorte. Agora ele pôde se dedicar ao país de Ende. Noue não esperou a destruição de Mephius, nem desejou que fosse assimilado por outro país. Quem sabe quanto dinheiro e tempo isso levaria. O que deixou Noue inquieto foi a existência do aliado de Ende, o poderoso país oriental de Arion. A longa campanha de Arion no leste estava chegando ao fim. Se o país de Garbera enfrentasse esse país distante em uma batalha direta, não teria a menor chance. Para esse propósito expresso, Mephius não poderia continuar essa aliança problemática.
Noue pretendia trazer temporariamente desordem a Mephius e golpear o imperador nos olhos. Ele apoiaria Zaat ou os imperialistas, dependendo de quem oferecesse as maiores vantagens. Então ele colocou Oubary liderando o apoio, como o general completamente imerso no papel de “herói patriótico”. Se fosse esse homem, a situação doméstica em Mephius poderia ser lida e Noue seria capaz de facilmente planejar um meio de sucesso. E, acima de tudo, Mephius sem dúvida reformaria sua aliança com Garbera outra vez.
Desde que ele recrutou a ajuda de Oubary dentro de Mephius, o pensamento de a princesa Vileena entrar em seus planos nunca surgiu.
Aquela pessoa é muito direta.
Ela era uma líder adequada, mas jamais aprovaria tal plano. Sua noção de sangue real era diferente da de Ryucown. Mas, ao contrário,
Se o sangue real fosse derramado para proteger Garbera…
Um brilho sombrio habitou seus olhos, por trás daquele disfarce indiferente e sorridente.
◇◇◇
Enquanto Noue refletia sobre sua estratégia, Simon encontrou-se com Kaiser na masmorra. Embora pudesse ser chamado de encontro, foi através das grades da prisão, onde apenas cinco minutos de conversa seriam permitidos.
Por isso, Simon dispensou as longas saudações.
— Como está sua família?
— Eu lhes disse para não vir.
Kaiser ficou pálido e depois sorriu.
— Senhor, e o futuro da Casa Kaiser?
— Eu sei. Deixe comigo.
— Obrigado.
Kaiser permanecia um homem íntegro até o fim. Para Simon, ele era um homem sincero, sem muito gosto. No entanto, sentiu que era verdadeiramente representativo desse homem que ele permaneceu sincero e sério demais para seu próprio bem, até esse fim.
— E quanto a sua majestade? — Kaiser disse, olhando para o teto. — Ele mudou de ideia?
— …
— Eu não guardo rancor dele. Apenas que, na época em que a falecida imperatriz, Lana-sama, estava viva, embora ele ainda tivesse um temperamento ardente, não importava quem fosse a pessoa, seria motivo de celebração, desde que tivesse a força que sua majestade desejava. Mas agora, sua majestade não consegue nem confiar em si mesmo. Neste último mês, eu chorei, clamei e me queixei mil vezes aos céus vazios, mas agora, isso não fará sua majestade derramar lágrimas.
Às vezes, até mesmo nos corredores do palácio, murmuraram coisas. Na época em que Lana estava por perto, o imperador costumava ouvir atentamente seus vassalos. Sem dúvida, isso se devia à personalidade generosa de Lana. Aquele freio foi perdido, e o imperador começou a agir como bem entendia.
Isso é certamente verdade.
Simon e Kaiser foram suportes para o imperador desde sua juventude. Eles conheceram bem a falecida imperatriz Lana e o relacionamento que ele teve com ela durante o casamento.
O imperador confiou em muitos a um nível problemático, mas por natureza tinha uma personalidade reservada.
Atualmente, ele era casado com Melissa e parecia transbordar a energia de um jovem. Seu relacionamento com ela pareceu tão bom quanto com sua ex-esposa, mas Simon viu isso como nada mais que uma aparência.
Ele perdeu seu apoio?
Simon não pôde evitar a sensação de que o imperador estava determinado a se isolar. Ele não conseguia mais reconhecer seu velho amigo Simon no fundo de seu coração, nem ofereceu qualquer amor a seu próprio filho, Gil Mephius.
Depois disso, Simon e Kaiser conversaram descontraidamente. Simon nunca disse as palavras “Sinto muito”. Era a única coisa que sabia que não deveria dizer. “Isso não acontecerá uma segunda vez”, ele disse a Zaat com convicção. Simon ficou mais irritado consigo mesmo por não conseguir impedir o avanço de Zaat.
E depois que Simon partiu, ele, por alguma razão estranha, lembrou-se das memórias de um homem cujo nome era tudo o que ouviu e de quem nada sabia. Um homem com quem sentiu uma espécie de ligação.
O homem chamado Ryucown.
Ele tinha a marca de um tolo.
A rebelião levantada por Ryucown foi uma sem futuro. Era algo alheio aos tempos, ou talvez algo que tentou se afastar dos tempos. Foi o ato de um tolo. Foi uma tolice que fez sangue ser derramado; uma tolice que convidou a desordem.
No entanto… Simon pensou. Isso não era algo que ele mesmo sabia muito bem? Ele agiu e arriscou sua vida sabendo que não havia precedentes e sabendo que estava fadado ao fracasso. Todo o sangue derramado, o sangue derramado por seu próprio país, Garbera, não poderia ser deixado em vão.
Esse foi o grito de Ryucown.
Foi assim que Simon o sentiu.
◇◇◇
Sobre a mesa, havia frutas frescas e bebidas. Havia também uma seleção farta de carnes, o suficiente para deixar alguém enjoado após a refeição matinal.
Orba mal tocou em sua comida, tendo se restringido a apenas um ou dois pedaços de pão. Embora, é claro, isso não fosse um problema de tempo ou de sua saúde.
Era porque ele estava acompanhado pelo imperador em sua refeição matinal. Guhl, Melissa, Ineli e a irmã mais nova, Flora, e não apenas os membros da família imperial, mas também Simon Rodloom, o comandante militar Odyne Lorgo e um dos estadistas seniores, Colyne Isphan, estavam incluídos nesse café da manhã.
O imperador, dessa forma, recebeu aqueles que buscaram sua audiência e os convidou para se juntar a ele no café da manhã, onde ouviu suas preocupações. Embora pudesse ser considerado um ato vão, era um costume que não mudou desde tempos antigos e ainda era praticado até hoje.
Era a primeira vez que Orba participou de tal reunião. Até então, uma razão ou outra foi usada para dispensá-lo de comparecer. Fedom quis evitar que a pessoa que interpretava Gil encontrasse sua própria família e aqueles parentes próximos que o conheciam bem. Mas desta vez foi diferente. Ele manteve Fedom alheio ao assunto. Se Fedom soubesse, teria usado todos os meios para impedi-lo e talvez até mesmo se intrometesse à força na companhia de Orba.
Bem, então.
Orba estava nervoso, mas esperou por essa chance; a conversa chegou a um ponto de silêncio completo. Orba respirou fundo e então abriu a boca.
— Pai.
Todos olharam para Orba com surpresa. O antigo príncipe Gil talvez tenha evitado falar. Os olhos do imperador também se arregalaram ao encarar Orba.
— O que foi?
— Eu gostaria de fazer um pedido.
— Oh? Será que você quer alguma coisa? Um cavalo, talvez? Ou será que você quer a posição de general? Se é a coroa que deseja, ainda é cedo para você.
O imperador falou com bom humor. Ele provavelmente esperou uma resposta mais “animada”, mas Orba não percebeu.
— É sobre os jogos de gladiadores.

— Fale.
O humor do imperador mudou completamente quando ele falou com irritação. Desde a manhã, ele vinha bebendo vinho de frutas como se fosse água. Não que Orba não tivesse notado a mudança no ambiente, mas, por enquanto, ele expressou seus pensamentos com assertividade.
— Eu gostaria que o senhor permitisse que um membro da Guarda Imperial, aquele que derrotou Ryucown, participasse dos jogos de gladiadores durante o festival.
A proposta inesperada provocou murmúrios de interesse de todos, exceto do imperador. Oubary e os outros brilharam de antecipação. O imperador bufou para Orba.
— De novo, por que justo agora?
— Ouvi dizer que muitos desejam que Orba participe. O povo certamente ficará feliz.
— O que você está dizendo? — O imperador encarou Orba diretamente. — O povo ficará feliz? Você só está usando isso como desculpa. Você espera que seu Guarda Imperial vença para ter mais do que se gabar, não é? Aliás, por que você mesmo não participa? Não é como se nenhum membro da família imperial já tivesse participado antes.
— O-o senhor deve estar brincando…
Orba baixou a cabeça rapidamente, com medo de que o imperador tivesse percebido que ele era um gladiador. Orba tinha certeza de que essa era a razão, mas o olhar de Guhl Mephius tinha uma pressão completamente diferente de qualquer coisa que ele já havia enfrentado.
— Hmph — o imperador resmungou. — Bem, talvez não faça mal deixar as coisas acontecerem como você quer. No mínimo, quero ver uma vitória digna de um herói.
— P-Por favor, espere, Sua Majestade Imperial!
Quem interveio foi Simon Rodloom. Um clima tenso pairou no ar. Naturalmente, porque todos presentes sabiam muito bem do incidente no Santuário do Deus Dragão.
— Se me permitem, imploro que o senhor não apenas deixe as coisas acontecerem, mas que considere as implicações de um Guarda Imperial participar dos jogos. Sim, gladiadores podem não ser totalmente escravos, mas permitir que um membro da Guarda Imperial de Sua Alteza seja morto diante do público prejudicará vossa autoridade.
— Oh.
— Sua majestade mencionou que, na história de Mephius, não foi sem incidentes que um membro da família imperial participou de uma luta de gladiadores, mas as circunstâncias da época eram muito diferentes e não devem ser usadas como comparação.
— Oh — o imperador disse novamente. Ele apoiou o queixo no braço que repousava sobre a poltrona e encarou Simon com os olhos semicerrados. Nesse momento, Colyne Isphan falou.
— Não está tudo bem? Nós de Mephius somos um país de espadas e dragões. Origem e linhagem não têm importância. Competir está em nosso sangue.
— Mesmo assim…
— E também, o Guarda Imperial que derrotou Ryucown é certamente um herói. No entanto, ele também era originalmente um gladiador, e por isso o povo hesitará em elogiá-lo abertamente. Se me permitem, os lordes e cada um dos generais não ficaram em dúvida sobre convidá-lo para a festa desta noite? Faz sentido que esse Guarda Imperial dispute o lugar de Clovis.
— Bem colocado.
O imperador acenou com a cabeça aprovadoramente, enquanto Colyne se curvou. Colyne era excelente em peças como essa. Ele lia os sentimentos do imperador e, mesmo que o imperador tivesse qualquer ressalva, ele distorcia o raciocínio por trás disso, fazendo parecer mais sensato quando falava.
— Aqueles que obtiveram a mesma honra que Clovis e seu auxiliar Felipe, supondo que tenham nascido escravos, competiram todos os anos por esse título. Eles são, sem dúvida, heróis. Entre eles, há aqueles que se tornaram generais. Isso não remonta a mais de trinta anos em nossa história, não é, Simon?
— Sim…
Todo ano, o torneio de gladiadores durante o festival premiava os dois gladiadores vencedores como heróis. No último dia, esses heróis lideravam os duzentos escravos restantes e lutavam contra os dragões como parte do evento principal. Mesmo na história de Mephius, o herói Clovis e seu auxiliar Felipe, e todos que os seguiram, independentemente de sua origem, foram oficialmente recrutados para as forças mephianas.
— Até o último, todos foram heróis que não envergonharam seu título. Aqueles que perdem só podem chegar até certo ponto, mas os guerreiros que caem competindo pelo lugar de Clovis são grandes homens que se sacrificam pela tradição de Mephius. Não haverá dano à vossa autoridade ou coisa parecida.
— Ohh.
— Entendo, isso realmente faz sentido.
Os outros nobres o elogiaram, e Simon não ofereceu mais protestos. Assim, eles deixaram o príncipe em questão fora da conversa. Durante esse tempo,
— Então você ouviu meu pedido, irmão.
Ineli sorriu sorrateiramente, com um sorriso que se espalhou por todo o rosto.
Orba nem sequer respondeu com um simples “ah” ou “sim”. Mesmo assim, ela não se importou. Ela já estava perdida em seus próprios pensamentos.
— Se ele vencer como campeão, eu devo ser a única a entregar-lhe o capacete dourado que é a prova de Clovis. Naquela hora, vou anunciá-lo como o herói que também salvou a princesa imperial, Ineli, das garras de um dragão.
Orba, sendo Orba, estava no momento preparando a próxima fase de seus planos em sua mente, alheio ao fato de que Ineli falava como uma jovem sonhadora, mas com sentimentos maliciosos que buscavam possuir o gladiador mascarado, Orba.
Os rumores sobre a participação de Orba se espalharam pelo palácio em pouco tempo. Embora ele fosse um ex-gladiador, era uma situação sem precedentes um membro da Guarda Imperial participar dos jogos. As reações das pessoas naturalmente foram divididas.
— O príncipe está correspondendo às nossas expectativas.
Havia aqueles que aprovaram totalmente,
— O príncipe não está apenas se aproveitando da glória de sua primeira campanha?
E também aqueles que o criticavam pelas costas.
Uma pessoa, Fedom Aulin, ao ouvir esses rumores, explodiu de raiva. Para ele, o fantoche Orba, que ele tanto se esforçou para colocar no lugar, estava jogando sua própria vida em perigo diante de seus olhos. No entanto, Orba havia apelado diretamente ao imperador, e era algo que Fedom não podia mais mudar.
— Só duas ou três batalhas.
Orba, escondendo seus planos de prender Noue e Oubary, falou em um tom despreocupado.
— Isso é estranho. Agora, neste mundo todo, quem imaginaria que a pessoa mais preocupada com minha vida seria você.
— Cale a boca. — A expressão de Fedom vacilou, como se ele estivesse prestes a desmaiar. — Ouça bem. Você não pode morrer. Isso é óbvio, mas você também não pode se machucar. Ou seria suspeito quando retornar como sósia do príncipe. Argh, maldição!! Prepare-se! Quando o festival acabar, vou acorrentá-lo igual a quando você era um escravo!
E, claro, esse rumor também chegou aos ouvidos de Vileena Owell. Assim que ouviu, ela se livrou da restrição de Theresia e foi até o príncipe.
Em preparação para sua aparição no dia seguinte, Orba saiu de seu quarto e foi direto para a arena.
Sua decisão de participar dos jogos obviamente não foi porque o povo desejava. Ele pensou em obter um meio de contatar Pashir através do torneio. Oubary havia mencionado claramente o nome desse espadachi-escravo. Não havia dúvida de que Pashir tinha um papel importante em seus planos. Orba iria perturbar seus planos de todas as formas possíveis.
— Oh?
Foi quando ele encontrou Vileena, que corria em sua direção. Seus lábios estavam cerrados e seus olhos arregalados. Na noite anterior, quando ela o visitou, sua agressividade estava bem escondida. Agora ressurgia novamente. E de forma ainda mais direta. Era como se ele fosse culpado de algo que a desagradara.
— Por quê?
Vileena começou seu interrogatório acusador.
— Por quê, o quê?
— Orba! Por que você o fez participar dos jogos!?
— Ah. Ele tem algo a ver com a princesa?
— Ele-!
Vileena, que estava furiosa, ficou sem palavras. Orba começou a passar por ela novamente. Ele nunca imaginaria que o assunto da princesa fosse sobre ele mesmo. Sabendo disso, não tinha mais vontade de discutir com ela.
— Ele é meu amigo!
Quando essas palavras o atingiram por trás, seus pés pararam subitamente.
A princesa de quatorze anos endureceu o olhar.
— É por isso que essa questão não é algo sem relação comigo. Até agora, ele sobreviveu a batalhas difíceis, as superou e finalmente foi libertado dessas correntes. Você está forçando-o a lutar como quando era escravo. E para quê?
— A princesa de Garbera não entende. Você vê os jogos de gladiadores como um inferno, mas é o principal entretenimento de Mephius. Ter mais um gladiador conhecido participando animará o clima do festival.
— Você não está se vendendo ao clima do festival só para receber atenção!? Mesmo que tenha que sacrificar a vida de Orba para isso!
— Ele não vai morrer — Orba disse com um rosto sombrio.
As bochechas da princesa estrangeira se coraram, e ela chegou mais próximo ainda. Seu rosto lembrava a outra ocasião. Era exatamente igual à expressão que ela fez quando confrontou o príncipe por não se mover em direção à Fortaleza Zaim.
— Como pode dizer isso!?
— Porque… ele é Orba. Ele nunca perdeu. Como sua amiga querida, você deveria confiar em suas habilidades.
— Não é disso que estou falando!
— Isso também é o que Orba quer. Não fale mais sobre isso, princesa.
Por mais que tentasse conter, sua irritação só aumentava. A forma como ele falava de si mesmo parecia exatamente como os nobres de Mephius.
— Ainda assim, para pensar que você era amiga dele — Orba zombou — O que você sabe sobre ele? Sabe quantas vidas ele tirou? Pessoas como você e esses nobres e cavaleiros “orgulhosos” veem batalhas como algo sério, honroso e significativo. Ele luta por nenhuma dessas razões, só para sobreviver. Ele se mancha de carne e sangue só para sobreviver.
— Isso é porque vocês, mephianos…
— CALE A BOCA!!
Ultrapassando seu limite emocional, a raiva de Orba transbordou em suas palavras.
— Não se chame de amiga de Orba novamente! Não fale com ele! Não finja que sabe tudo só porque é da realeza!
Vileena ficou furiosa instantaneamente. No entanto, ao contrário de sua aparência, ela permaneceu parada e não disse uma palavra.
Orba, perdido em suas emoções e sem saber o que fazer com elas, saiu rapidamente do local.
Quem sou eu?
Seus passos pesados, junto com as batidas do coração, o corroíam enquanto Orba questionava seu próprio senso de identidade.
Como gladiador, sou alguém que não pode se tornar algo como “amigo” da princesa.
Como escravo, não suporto quando a princesa fala como se entendesse as circunstâncias de um escravo.
Como príncipe, não me importo se Orba tiver que ser sacrificado para alcançar meus objetivos.
Quem… sou eu?
Enquanto se questionava repetidamente, ele logo perdeu a noção do mundo exterior.
◇◇◇
Naquele dia, Orba foi para a arena e chegou pouco antes do pôr do sol. Os jogos do dia já haviam terminado, e não havia vestígios de pessoas nas arquibancadas.
Os gladiadores surgiram pouco a pouco no campo da arena. Dos gladiadores participantes do torneio, todos os que tinham status de escravo ficavam em um acampamento de detenção. Lá, eles passavam o dia exercitando-se no vasto campo em preparação para a luta do dia seguinte.
Os guardas vigiavam o centro, onde os gladiadores livremente brandiam suas espadas, praticavam seus passos e faziam combates simulados.
Então o gladiador mascarado apareceu do nada. Naturalmente, olhares foram lançados a ele de todos os lados. Eles provavelmente já tinham ouvido falar dele, e embora não parecessem surpresos, não o chamaram nem se aproximaram. Em vez disso, um atendente da arena veio até ele.
— Já ouvi falar de você. No entanto, não há necessidade de ficar aqui. No dia da sua luta, enviaremos um guia para buscá-lo.
— É uma atmosfera que não sinto há muito tempo. Quero me acostumar.
O atendente ficou confuso e então trouxe uma espada para ele. Orba começou seus alongamentos e depois passou a brandir a espada. E novamente, os escravos apenas observavam. Podia-se dizer que eles não conseguiam ignorá-lo e afastar seu interesse.
Ele fingiu fazer seu exercício de rotina, olhando para os escravos inúmeras vezes, mas não viu Pashir entre eles.
Os jogos de gladiadores tinham mais dois dias. Se Pashir estivesse envolvido nos planos de Noue, independentemente de qual fosse seu papel, ele provavelmente agiria nesses dois dias. Ele tinha status de escravo e não podia se mover à vontade. Isso significava que os planos de Noue progrediriam dentro do acampamento de detenção.
Até lá, ele precisava se aproximar de Pashir e entender completamente seus planos.
Orba se sentia impaciente, mas também pensou com firmeza,
Não posso me apressar.
O que estava em jogo era o futuro de Mephius, em outras palavras, a esperança que ele finalmente alcançara, a posição de Príncipe Gil.
— A vida da princesa, hein…
Ele torceu o corpo e deu um passo à frente enquanto cortava com a espada diagonalmente para baixo.
◇◇◇
No dia seguinte.
Através de uma pequena janela esculpida na parede de pedra, Orba observou o andamento dos jogos de gladiadores. Ele estava na sala de espera dos combatentes. Como tinha status de escravo nesta situação, deveria estar na mesma antecâmara que os outros gladiadores, mas por ser um Guarda Imperial, recebeu uma sala estreita, porém especialmente preparada. Naturalmente, seus pés também estavam livres de correntes.
Assim como quando veio aqui antes com Ineli e os outros, vários combates aconteciam simultaneamente. Mas ainda não era visível entre eles a luta de Orba, cuja vez chegaria em breve.
— Por aqui, por favor.
Uma escrava da arena entrou na sala e colocou seu equipamento. Orba reconheceu a garota. Era a mesma que lhe serviu chá quando ele esteve aqui com Ineli. Seus traços ordenados e agradáveis lhe deixaram uma impressão.
Ela ajudou Orba a vestir a armadura de couro. Ele enfiou a espada em um escudo redondo, como nos velhos tempos, vestiu roupas e sandálias que também pareciam antiquadas.
— Este equipamento é bem antigo.
— Ele carrega o símbolo da era de Clovis. Provavelmente ninguém sabe ao certo se os gladiadores da antiguidade realmente usavam algo assim. Mas é uma questão de criar o clima.
Ele achou algo humorístico no jeito que ela encolheu os ombros. Intrigado, perguntou seu nome, e ela respondeu “Mira”. Enquanto isso, ela ficou se remexendo, como se quisesse dizer algo.
— O senhor pertence à Guarda Imperial do príncipe, não é? É rude alguém como eu pedir que transmita uma mensagem, mas se tiver a oportunidade, poderia agradecer ao príncipe por mim?
— Agradecer?
— Por ter ajudado Pashir-sama.
Com o rosto levemente corado, Mira saiu da sala.
Oh?
Pashir parecia ser teimoso e do tipo que inexplicavelmente atraía mulheres.
Quando ficou sozinho, Orba, como costumava fazer antes das lutas, encostou-se na parede e respirou fundo.
Então estou aqui de novo.
Estou aqui “de novo”.
Apesar de planejar controlar seus pensamentos, suas emoções escaparam e deixaram Orba apático. De manhã, Ineli e os outros haviam convidado o príncipe Gil para assistir ao festival com eles. Era para ver justamente os jogos de gladiadores, mas Orba recusou, alegando dor de cabeça.
Ineli disse que me viu em Ba Roux…
Foi quando os Sozos ficaram violentos. Ele ficou surpreso ao ver que o próprio príncipe também estava lá. Isso significava que ele ainda estava vivo naquela época.
Será que o príncipe foi morto por Fedom? Ele planejava me usar como sósia desde o início e esperou por essa chance?
Seus pensamentos estavam fragmentados, e ele não conseguia se concentrar. Então, o nome de Pashir foi chamado repentinamente.
Orba espiou e viu Pashir no meio de um combate individual. Ele lutava com controle, como da última vez que Orba o viu. Venceu três lutas sem ferimentos e antes que pudesse admirar, chegou a vez de Orba.
O guarda chamou seu nome, e ele saiu da sala. Os outros escravos estavam amontoados em uma série de antecâmaras. Todos os olhos seguiram Orba. Da frente, dos lados, de trás, olhares o perfuravam de todas as direções.
Enquanto caminhava pelo corredor, Pashir saía da arena e vinha em sua direção. Com cabelo e bigode negros, era um pouco mais alto que Orba, mas com um físico massivo. Vendo de novo, era o corpo proporcional ideal.
Sua respiração estava pesada e seus olhos injetados de sangue após a batalha. Ele cruzou com Orba.
— Maldito cão…
Pashir cuspiu as palavras sem hesitar. Orba virou-se e viu as costas do homem robusto. Uma marca de queimadura em forma de X com uma linha no centro era visível. A marca de um escravo. As costas de Orba também tinham a mesma marca.
— Seu maldito cão mephiano. Não perca antes de lutar comigo. Vou despedaçá-lo com minhas próprias mãos.
Pashir falou sem se virar. Orba viu aquela marca queimar com a vontade e paixão do homem enquanto ele desaparecia na distância.
Então é assim.
Pashir era um escravo. Tinha suas próprias circunstâncias que o levaram a isso, mas pelo jeito que falava, odiava Mephius. E além dos mephianos, odiava aquele elogiado como herói, que se tornara um Guarda Imperial.
Embora fosse um argumento absurdo, agora servia como grilhões para Orba. Seria difícil ganhar a confiança de Pashir assim. E o fato de ele ter se esforçado para cruzar com Orba despertou uma certeza nele.
Se é “assim”, há várias maneiras de lidar com isso.
Logo antes de sair pelo arco de entrada, uma luz brilhante o atingiu, e a cada passo, a arena se iluminava, até que todo o espaço ficou branco.
— É Orba!
— É o Tigre de Ferro!
Gritos caíram sobre ele como uma onda, esmagando Orba por todos os lados.
Mesmo os da primeira fileira estavam tão distantes e altos que o rosto de Orba parecia menor que um grão de arroz. Incapazes de vê-lo direito, eles se amontoavam nas cadeiras, ansiosos por uma visão melhor.
Memórias de quando ele suava sob o sol aberto, lutando vividamente, voltaram a ele. A cada batida do coração, seus músculos se contraíam, como se todos os nervos se unissem em uma única fibra.
— Guarda Imperial Orba, avance!
O oponente de Orba era um homem chamado Miguel Tes. Considerado uma promessa entre os gladiadores, e segundo a impressão de Shique em sua primeira luta:
— Ele é um gladiador inteligente que segue o básico.
Parecia ser.
— Se vai fazer isso, faça com determinação.
Orba lembrou como Gowen repetiu isso no dia anterior.
No início, ele se opusera à participação de Orba no torneio. “Você não empunha uma espada há mais de um mês. Sabe que vencer uma série de batalhas na arena será difícil”, Gowen o repreendeu com um suspiro, sabendo de sua teimosia.
— Não subestime seu oponente só porque é um gladiador comum. Na verdade, é por serem assim que são mais perigosos no final. Não importa o quão forte você fique, nunca esqueça o básico. Toda técnica, todo esquema, todo golpe mortal espetacular vem do básico. E mantenha a compostura.
Gowen até invadiu o quarto do príncipe e o irritou sem parar. “Se fizer assim, não morrerá”.
Eu sei disso.
Ele caminhou até o centro da arena de Solon e encarou Miguel Tes. Loiro de olhos azuis, com cerca de vinte anos, era um homem bonito. Seus olhos azuis fitaram Orba, e um leve sorriso apareceu nos cantos de sua boca. Seu histórico atual era dez lutas e dez vitórias.
— Minhas saudações.
Miguel o cumprimentou sem hesitação. Orba nunca respondia a gladiadores que o saudavam assim. Desta vez também ficou em silêncio.
— Ryucown deve ser o mais forte dos cavaleiros de Garbera, não? — o jovem apontou diretamente, e continuou. — Ele também é quem Mephius mais temia. O que significa que, contra qualquer cavaleiro garberano, qualquer soldado mephiano, você que o derrotou é ainda mais forte. Não há adversário melhor que eu poderia pedir.
Ele sorriu, mostrando dentes brancos. Sua compostura sugeria que já enfrentou mais de cinquenta batalhas.
— Se ele vencer esse Miguel, sua popularidade vai disparar até fora de Solon.
Hoje, Ineli também estava na área exclusiva para nobres. Ela se divertia na primeira fileira enquanto uma escrava servia chá.
— Que expressão bonita. Ele tem cérebro, e aposto que muitas mulheres querem apoiá-lo.
— Como se.
Baton Cadmos, sentado ao seu lado, falou. O gordo Troa ficou nas arquibancadas, absorto em comprar comida.
— E então? Ele é o Orba? Achei que fosse, mas não é meio magro? Ou melhor, não é só uma criança? — Baton cuspiu com arrogância.
Sua atitude com Ineli era claramente diferente quando Gil estava presente. Mas ela não via necessidade de criticar.
— Não é só um gladiador voltando cheio de si? Bem, quero ver como ele sobrevive. Sempre achei impossível que, onde quer que fosse, ele sempre fosse o mais forte. Ninguém pode ser tão versátil.
— Mas ele matou um dragão diante dos meus olhos.
— Isso também é suspeito. É um truque para animar a plateia, sem contar que o dragão estava dopado… Ai!
Ineli pisou no pé de Baton com força, fazendo-o pular. Ela o encarou o tempo todo.
— Sério, fui atacada! Seria diferente se eu estivesse a par.
Ela o dispensou com um gesto da mão, como se Baton merecesse.
— Hmph. Bem, por que não vejo suas habilidades então? As que Miguel mostrou ontem eram bem boas.
Ela percebeu que a plateia já cantava o nome de Miguel. Por ter chamado a atenção do povo de Solon nesta arena cheia de gladiadores, provava que sua habilidade era real.
Bem, você terá que ver por si mesmo então.
Seus lábios carnudos formaram um sorriso. Os gritos por Orba também eram altos, mas eles só o conheciam de nome. Um sentimento de superioridade surgiu nela, sabendo que este herói a salvou pessoalmente.
Do outro lado, na área para convidados, o enviado de garbera, Noue Salzantes, observava no meio do entusiasmo, mantendo uma aparência agradavelmente bela que faria as mulheres suspirarem.
— COMECEM!
A luta entre Orba e Miguel começou. Miguel rapidamente avançou. No entanto, era um blefe, e ele só deU um passo à frente. Orba recuou rapIDO. Miguel encolheu os ombros com a reação exagerada e provocou risos na plateia.
Só uma pessoa.
— Viu isso?
Ineli sorriu, como se soubesse de tudo. Quando Miguel avançava, Orba recuava. Com as costas curvadas, mantinha uma distância que lhe permitia avaliar os movimentos do oponente.
— Ele é como um gato — Baton riu. Ineli o ignorou.
Miguel avançou de verdade. E Orba também saltou para trás, tentando ganhar distância. Mas desta vez, Miguel não parou. Demonstrou um trabalho com os pés excelente, como se fosse puxado para Orba, e pressionou.
Duas, três vezes, as lâminas brilharam entre eles. Orba parecia ter bloqueado os golpes, mas Miguel encurtava a distância. Os pés de Orba pararam. O ataque de Miguel, disfarçado de blefe, finalmente alcançou sua máscara.
A plateia suspirou em surpresa quando, no mesmo instante, Orba estava ao alcance de Miguel. Não foi tanto que a espada alcançou a máscara, mas que Orba avançou, fazendo a ponta da espada bater com força nela.
A uma distância onde até os cabos das espadas se tocavam, Miguel, levemente surpreso, quis uma prova de força bruta. Nesse momento, Orba saltou para trás novamente. Miguel, que exercera força, tropeçou para frente. A espada de Orba varreu em sua direção. A série de movimentos habilidosos deixou Ineli de olhos arregalados.
Ao mesmo tempo, um som metálico agudo ecoou. Na tentativa imediata de defesa, a espada de Miguel voou pelo ar. Ele caiu de joelhos. Quando Orba agarrou a espada para terminar a luta, Miguel bateu os punhos no chão. Era o sinal de rendição.
— Oooh! — suspiros sem desespero, mas com admiração, surgiram ao redor.
Orba olhou ao redor.
Na arena, quando um combate era decidido e o perdedor sobrevivia, o destino dele ficava a cargo da plateia. Se a maioria desse polegares para baixo, a vida do perdedor terminaria sem piedade. Se a maioria levantasse as mãos, ele seria poupado.
Havia muitos casos onde gladiadores populares ou aqueles que mostravam lutas brilhantes eram poupados.
Mas mesmo assim, se o momento fosse considerado sem emoção, ou a plateia insatisfeita com o derramamento de sangue, eles desejariam um final brutal.
Por sorte, Miguel recebeu muito apoio e foi poupado. Orba jogou a espada para longe e deixou o perdedor. Ele mostrou uma diferença esmagadora de habilidade, mas a plateia ficou perplexa com o fim repentino.
— Você viu isso? Viu, Baton, Troa? Sua força esmagadora!
A única que gritava animada era Ineli. “É”, Baton respondeu, não muito feliz. E Troa, que não fazia ideia das regras da arena, apenas assentiu.
O que mais desagradava Baton era como seus olhos ficaram úmidos e suas bochechas coradas. Ele suspeitava que não fosse por sede de sangue. Na verdade, Ineli estava incomumente agitada. Enquanto assistia à luta de Orba, a cena em Ba Roux voltou vividamente à sua mente.
Quando o Sozos se aproximou, ela só sentiu medo. A silhueta do gladiador mascarado, depois de salvá-la enquanto ela desmoronava no chão, ficou gravada em sua memória. Ela era uma garota cansada da rotina, sempre em busca de emoções. Relembrando aquela cena, seu coração acelerou, e uma sensação prazerosa a preencheu.
No entanto, enquanto apoiava o gladiador mascarado, ela também o odiava. Ele não lhe dera nem um olhar quando a salvou do dragão. E para piorar, estendeu a mão àquela princesa estrangeira, justo quando Ineli estava a um passo de humilhá-la. Ela não podia perdoá-lo por isso.
Se for vencer, vença com estrondo. Quero que todos o reconheçam como herói.
E quando morrer, que tenha uma morte de cão. Então arrancarei essa máscara do seu cadáver.
Esses dois sentimentos conflitantes colidiram, agitando uma tempestade emocional, mas Ineli ainda sentia seu corpo tremer com uma sensação prazerosa.
— Será que não dá para convidá-lo para a festa desta noite? Seria inadequado eu enviar um mensageiro. Baton, não pode fazer algo?
Muitos gladiadores eram convidados para as festas no palácio durante o festival. E ao convidar os mais populares, os nobres elevavam seu status.
— Não pode pedir ao príncipe? — Baton respondeu, sem interesse. — Ele é da Guarda Imperial do príncipe.
— Acha que não sei? Estou pedindo porque não posso contar com meu irmão — Ineli resmungou.
— Ele está se sentindo mal de novo. Deve ter ficado traumatizado no campo de batalha. — Troa sorriu com um espeto de kebab no rosto.
— Ah, esquece. Já sei! Talvez eu possa pedir a Fedom. Ele é o diretor do Grêmio de Gladiadores, não é? Será que posso negociar algo com ele sobre o Orba?
Enquanto conversavam, os próximos gladiadores entraram e começaram a apostar suas vidas nas espadas.
Depois disso, Orba lutou mais duas vezes. Enfrentou um animal loiro, supostamente trazido das terras do leste, cujo nome ele herdou — um tigre — e depois cruzou espadas contra dois gladiadores de uma vez.
Ambas terminaram em vitórias satisfatórias. Isso era diferente de quando ele estava no ambiente estranho do palácio. Em uma batalha com uma espada na mão, ele não tinha nada a temer.
Sua habilidade inabalável não decepcionou as expectativas, mas o jeito como lutou foi um tanto simples e deixou os cidadãos de Solon, amantes da arena, levemente insatisfeitos.
Os jogos de gladiadores terminaram antes do pôr do sol. Orba não voltou ao palácio naquela noite e pediu ao supervisor do acampamento para dormir no mesmo quarto que os escravos. Sua justificativa foi que voltar toda hora seria irritante.
Orba juntou-se aos escravos no local de jantar. Homens quase nus sentados em bancos de pedra recebiam pratos que as escravas enchiam com pequenas refeições. Comendo com as mãos, Orba achou estranhamente nostálgico aquele ambiente.
Havia pouco ou nenhum diálogo. Eram todos enviados por companhias de escravos de várias regiões. Claro, seria estranho vê-los conversando animadamente quando no dia seguinte seriam forçados a se matar, mas o clima era diferente. Como no dia anterior, todos estavam conscientes de Orba. Mas ninguém falou com ele. Continuaram em silêncio.
Orba espiou Pashir, sentado à sua frente. Ele novamente olhava em sua direção. Quando os olhos se encontraram, Pashir levantou seu copo vazio, e Mira correu para enchê-lo com água.
O supervisor dos escravos apareceu brevemente, mas saiu sem falar. Quando as refeições estavam terminando, Pashir subitamente falou.
— Sua vinda aqui teve um lado bom.
Orba olhou sem entender.
— O carcereiro sempre nos apressa, mas se segurou com você aqui, um Guarda Imperial. Graças a isso, tivemos tempo para comer.
Pashir riu alto, e todos seguiram o exemplo.
Um tempo depois que se acalmaram:
— Por que veio aqui? Você é um herói de Mephius. Está tão confiante em matar outros?
— Fui ordenado a vir. O que mais seria? Não fale como se eu tivesse os mesmos gostos que um escravo.
Orba propositalmente os negou e levantou-se. Só ele não tinha correntes nos pés. Quando estava saindo:
— Não há diferença entre você e nós. Mesmo sem correntes, se é ordenado a matar, é um escravo. Diria que é só uma besta acorrentada, feita para matar em público.
— Cale a boca!
Depois de levantar a voz, ele saiu a passos largos.
Logo depois de deixá-los, Orba parou, perdido em pensamentos. Ele extraiu daquele breve diálogo:
Pashir odeia Mephius.
Então esse plano não beneficiaria os nobres mephianos.
Será que Oubary e Zaat propuseram isso escondendo seus nomes, ou é um esquema de Noue para retaliar Mephius?
No dia seguinte, Orba participaria de uma luta montado em um dragão. Seria um combate entre dois lutadores em cima de um Baian médio.
Claro, Orba não veio só para matar escravos. Ele precisava aproveitar o pouco tempo que tinha.
Tradução feita por fãs.
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