Rakuin no Monshou – Capítulo 3 – Volume 2
Rakuin no Monshou
Emblem of the Branded
Light Novel Online – Capítulo 03:
[O Gladiador de Sua Alteza Real]
No dia seguinte e no outro após esse, Orba recusou todos os convites de Ineli e Rogue Saian. Ele se isolou em seu quarto, onde o trabalho que realizou se resumia a — nada.
Ficou à toa sozinho em seu aposento. A parte principal do quarto era muito maior do que os alojamentos que ocupara quando era um espadachim-escravo, várias vezes maior na verdade. A varanda que se estendia do quarto também servia como jardim, mas ir até lá permitiria que fosse visto, e ele queria evitar perguntas sobre por que não estava doente. Por isso, limitou-se a caminhar dentro do cômodo.
No primeiro dia, e no segundo também, Orba perambulou como um animal à procura de caça. Cada segundo parecia interminável. Até suas refeições foram feitas em silêncio e sempre que algum ruído leve surgia, ele imediatamente voltava os olhos para a porta, só para constatar que ela nunca foi aberta. No segundo dia, uma sombra de impaciência cruzou seu rosto. O céu lá fora já escurecia, e justo quando ele perdia as esperanças, um mensageiro solitário entrou correndo no quarto.
— Ele chegou!
Os pés de Orba pararam bruscamente. Quando Dinn começou a chamá-lo, deparou-se com a expressão de Orba e prendeu a respiração. Os olhos de Orba se arregalaram, e seus lábios se curvaram para cima, revelando seus caninos. Era uma aparência aterradora, rivalizando com a de sua máscara.
Com as informações recebidas do mensageiro, Orba deu novas ordens. Eles seriam posicionados nas entradas do palácio e dos edifícios principais, além de pontos estratégicos pela cidade, servindo como retransmissores de informações, garantindo comunicação em duas vias.
O local ficava a duas vielas da estrada principal, em um restaurante no final de uma rua repleta de bordéis.
Resumindo, Noue não apareceu pessoalmente para jantar com Oubary, mas sim um de seus mensageiros. O local era uma sala privativa no terceiro andar e qualquer um que desejasse entrar no estabelecimento precisava, sem exceção, tocar a campainha para obter permissão. Era ideal para conversas confidenciais.
Orba primeiro infiltrou vários de seus ex-gladiadores no local. Naturalmente, deu-lhes dinheiro e os vestiu adequadamente. Depois de alguns copos de vinho, começaram uma confusão no horário combinado e até arrastaram outros clientes para a briga, tomando cuidado para não causar mais alvoroço do que o necessário, depois saíram rapidamente. Nesse breve momento, o ágil gladiador Aeson escalou cercas e muros, posicionando-se na varanda do quarto onde Oubary estava. Aeson era um pirata nascido nos mares do norte de Zongan, experiente em escalar mastros.
Ele ouviu a conversa sem fazer um só ruído. O encontro durou cerca de trinta minutos. Aeson só conseguiu captar os últimos cinco minutos. Mesmo assim, houve algum proveito. Quando os dois terminaram, Aeson desceu da varanda.
Cerca de três horas após o primeiro relato do mensageiro, Orba ouviu o informe de Aeson.
— Entendo. Não comente isso com ninguém.
— Como desejar.
Desacostumado com a formalidade, Orba chamou Aeson novamente, quando este já se virava para sair com o dinheiro na mão.
— Senhor? — ele respondeu, virando-se só para encontrar uma arma apontada para si. Aeson ficou petrificado.
— Vou repetir, para deixar claro. Nem uma palavra para ninguém.
— S-sim, senhor.
— Nada de bebida durante o festival. E não saia de Solon. Você não sabe onde estão meus olhos e ouvidos. Em troca, se obedecer até o fim do festival, receberá a mesma quantia que hoje.
Uma expressão alegre tomou seu rosto pálido, e ele respondeu:
— Sim, senhor!
— …O que está acontecendo? — perguntou Dinn depois que Aeson saiu, seu rosto também sem cor.
— Nada está claro ainda, e tudo é possível.
— M-mas isso não faz sentido. O general Oubary serve Mephius há anos. Além disso, ele não quer paz com Garbera. A princesa… não poderia ter vindo desde o início com esse propósito, mas entã-Mmpphhmmfuu!
Com uma porção de uvas enfiada na boca, Dinn ficou temporariamente ocupado em mastigar.
— Eu disse que nada está claro ainda. Temos apenas fragmentos de informação.
Mesmo falando com calma, o coração de Orba fervia em turbulência.
O conteúdo da conversa que Aeson ouvira era o seguinte:
— O incidente com Kaiser foi realmente uma sorte. Parece ter acelerado os planos de Zaat. Mas nunca imaginei que a situação chegaria tão rápido. Aliás, por causa disso, Noue não precisará trabalhar por seus próprios méritos, não é?
— É como o senhor diz — respondeu o mensageiro. — Lord Noue está progredindo firmemente em seus preparativos. Zaat Quark, o incêndio no alojamento dos escravos… tudo está andando conforme o planejado.
— E entre esses planos, eu também estou incluso, não estou?
— Pela cooperação do general…
— Chega. Os agradecimentos virão depois que tudo acabar. Posso cuidar de Zaat, mas a situação dos escravos me preocupa. Aquele homem chamado Pashir. Conseguimos sua cooperação, mas ele está participando do torneio de gladiadores. Se morrer, não será em vão?
— Não se preocupe. O fogo já está aceso em Mephius. No máximo, somos apenas um ventilador. Mesmo que Pashir morra, as chamas já estão fora de controle.
— As chamas já estão em Mephius, hmm. Você está certo. Por isso, a busca também será feita dentro do Imperio. Claro… era esse o plano de Noue. Os espadachins-escravos são um grupo infeliz. São como crianças instigadas por adultos perversos a uma rebelião inútil.
Oubary reprimiu uma risada.
— Depois disso, não haverá mais problemas para o general. Sua ajuda em esconder o instigador deixou Lord Noue impressionado com sua coragem e habilidade, general Oubary. Desejo que nossa camaradagem e confiança transcendam fronteiras.
— Hmph — Oubary bufou. Como não era possível vê-lo, não dava para saber que emoção ele demonstrava.
— Mas o que fará com sua princesa? Se agir mal, ela pode morrer.
— Se a princesa fugir antes, a participação de Garbera será suspeita. Não se trata de agir mal… será o resultado inevitável.
— Oh — a voz de Oubary tremeu levemente.
Houve uma pausa breve. Então Oubary limpou a garganta.
— A hora já passou. Vamos embora. Para qual banquete Noue foi convidado esta noite?
— Acho que se chama Palácio do Luar. Muitos enviados de vários países foram convidados. Se não me engano, a princesa Vileena também foi. O general não vai?
— Não, é o contrário. Prefiro não encontrar rostos estranhos. Vou verificar a situação de Zaat—
Ele se levantou e saiu, impedindo que o resto da conversa fosse ouvido.
Orba revisitou mentalmente o diálogo relatado por Aeson.
Seu peito latejava.
Oubary e Noue tramavam algo monstruoso durante o festival. E, para piorar, algo grande o suficiente para abalar os alicerces de Mephius — não havia dúvida.
Oubary está traindo seu país, e Noue, que deveria promover a paz, está semeando o caos em Mephius.
Ele não sabia qual era o objetivo comum deles. No estágio atual, nem conseguia especular. Mas dois pontos ficaram claros na conversa. O primeiro:
— A vida da princesa está em perigo.
Obviamente, a princesa em questão era a terceira princesa de Garbera, Vileena Owell.
O outro ponto estava ligado à palavra-chave: Pashir. O Pashir que Orba conhecia era o gladiador favorito ao título do torneio. Oubary também mencionara que ele estava “participando do torneio”, então não havia engano.
À primeira vista, esses dois nomes não pareciam ter conexão, mas estava claro que ambos estavam envolvidos em algum plano que, agora, avançava silenciosamente.
Se fosse algo que apenas trouxesse problemas a Mephius, Orba até teria sorrido. Ele odiava Mephius. Se pudesse queimar os nobres em chamas e vê-los sofrer, faria isso sozinho. No entanto, se Oubary estava envolvido, era diferente. Ele jamais ajudaria aquele desgraçado.
E também…
A imagem de cabelos platinados passou por sua mente, seguida de uma irritação pura e intensa.
Orba cruzou os braços, pensativo. Zaat, a quem Oubary dissera que iria ver. O Palácio do Luar, onde Noue supostamente estava. Para qual iria primeiro? Não valia a pena fingir e perguntar diretamente. As informações que tinha eram poucas. Por isso, decidiu encontrá-lo pessoalmente para abalá-lo.
— Dinn, prepare uma muda de roupas.
— Vai sair agora? Para onde?
— Palácio do Luar — respondeu Orba, num tom inexplicavelmente constrangido por ter escolhido aquele destino.
— Há muitos enviados lá — comentou Dinn, concentrado na tarefa. — Hmmm, então uma roupa formal para festa… mas, considerando que o príncipe só se gaba de sua primeira campanha, talvez um uniforme militar seria—
— Couraça, sandálias e braceletes.
Orba pegou o objeto que escondia quando havia visitas. Era a máscara do Tigre de Ferro.
Vestido como um gladiador, Orba seguiu sozinho para o Palácio do Luar.
O Palácio do Luar — cujo nome original era “O Palácio do Luar Voltado para a Asa Esquerda do Dragão” — ficava perto do Santuário do Olho do Dragão Imperial, possuía um dos jardins mais magníficos de Mephius e era frequentemente usado para grandes festas.
O guarda no portão viu a máscara de Orba e curvou-se. Não era um homem de destaque, mas, seguindo as regras, revistou-o em busca de armas e permitiu sua entrada.
Mal entrou no jardim, homens e mulheres o chamaram. O nome e a aparência do gladiador que supostamente derrotara Ryucown eram conhecidos. Os nobres, como convidados da festa naquela mansão que só perdia para as suas próprias, o receberam bem.
Não que nunca tivessem encontrado alguém “selvagem” antes, mas Orba se tornou o centro das atenções. Depois de todo o trabalho duro como dublê do príncipe, era o mínimo que merecia.
Ao avançar, Orba deparou-se com as duas princesas, Vileena e Ineli. Ele ficou surpreso. As duas estavam frente a frente, conversando animadamente. Mas, por trás da aparente cordialidade, dava para ver hostilidade em seus olhares.
◇◇◇
Vileena Owell ardia em ambição. O príncipe, que ela achou que finalmente sairia da cama na véspera do festival, recolhera-se novamente em seu quarto. Ela não dependeria mais dele.
Como se eu dependesse dele! Não há nada em que se apoiar!
Ela ficou em frente ao espelho, ajustando o vestido, enquanto Theresia arrumava seu cabelo. Seus punhos se cerraram com força.
— A ausência do príncipe é conveniente. Avaliarei os enviados de outros países sozinha e fortalecerei os laços com Garbera mesmo estando em Mephius. E também posso memorizar os nomes e rostos dos nobres mephianos. Primeiro, preciso fazer novas amizades. Se não estabelecer minha própria base, não avançarei.
— Oh, minha princesa, que cara assustadora — disse Theresia, olhando para o espelho. — Se ficar assim, todo o meu esforço para prepará-la como a melhor mulher de Mephius será em vão. Você vai assustar todos os homens. Até o príncipe, lá longe em seu quarto, vai tremer ao ver essa expressão demoníaca.
Ignorando o sarcasmo de Theresia, a fúria de Vileena só aumentou.
O modo de agir do imperador… eu o detesto.
A execução de Kaiser Islan estava marcada para alguns dias depois, durante o torneio de gladiadores, onde ele serviria de isca viva para dragões diante da multidão. Ao saber disso, Vileena sentiu nojo e horror.
Kaiser nem sequer teve chance de se defender. No máximo, expressara oposição à proposta do imperador de realocar o santuário e construir um novo edifício no lugar. Se coisas assim acontecessem, até a administração do país sairia do controle.
“Homens de posição elevada, que só sabem olhar para o mestre com medo de irritá-lo, são os que governam o país. Nunca pensei que uma nação assim duraria tanto numa sociedade belicosa.” Seu avô certamente diria algo assim.
Vileena refletiu sobre isso durante o banquete no Palácio do Luar naquela noite. Por mais selvagem que Mephius fosse, devia haver quem se opusesse às ações do imperador.
Preciso identificar cada um deles e suas opiniões, e usá-las para beneficiar Garbera. Preciso estabelecer minha própria posição.
A festa começou ao pôr do sol. Nos salões e no jardim, montanhas de comida e pessoas se espalhavam. Entre conversas e música, Vileena apareceu diante dos convidados elegantemente vestidos. Para os nobres mephianos que a cumprimentaram, ela começou com um sorriso afável.
— Oh, mais uma beleza nesta noite encantadora.
— O dia mais orgulhoso para todos os mephianos está próximo. Rezo para que o casamento da princesa, a flor branca de Garbera, aconteça o quanto antes.
— Minha nossa! Que princesa encantadora. Um par perfeito para nosso príncipe herdeiro.
Continue sorrindo.
Ela lutou para esconder a emoção que, como uma aranha venenosa aninhada em seu peito, ameaçava transparecer em seu rosto, enquanto respondia educadamente a cada um. No entanto, ninguém mencionou o caso de Kaiser. Vileena já conhecia alguns costumes de Mephius e sabia que as mulheres preferiam não se meter em política.
Se pelo menos alguém trouxesse o assunto…
Ela entendia que era difícil para eles mencionarem o tema com uma convidada estrangeira. Vileena lamentou amargamente sua posição ambígua. Se Gil Mephius tivesse vindo com ela, as coisas poderiam ser diferentes. O pensamento só aumentou sua raiva do príncipe — e de sua incompetência.
Decidiu mudar de local. Se o assunto surgisse no caminho, ela tentaria participar.
Entre o Palácio do Luar e o Palácio Principal, havia um bosque pequeno, mas incomum, que embelezava o jardim. No centro, uma fonte reunia um grupo de pessoas em animada conversa. Num canto, músicos tocavam uma melodia suave. Casais dançavam, jovens e velhos.
Oh? Vileena parou. Ela avistou Noue Salzantes. No palácio de Garbera, ele era popular entre as jovens e crianças, e parecia ser assim também em Mephius. Ele dançava magnificamente com uma dama, enquanto outras olhavam com inveja.
Quando a música terminou, Noue notou Vileena. Ele a cumprimentou rapidamente e, por algum motivo, dirigiu-se para o interior da festa.
— Boa noite, irmã.
Quem fez uma leve reverência, erguendo a barra do vestido, foi Ineli Mephius, meia-irmã de Gil Mephius e princesa imperial.
Vileena lembrava-se de sua aparência inocente e encantadora. E, com ela, o comentário extremamente rude de Theresia: “Não parece que ela só tem dois anos de diferença para Vileena-sama.”
— Ah, será que ainda não me apresentei à minha irmã mais velha? Espero que não se importe, é só uma questão de tempo. Achei melhor nos conhecermos logo.
— Sim, concor— Ow! — Sim, concordo plenamente.
O “ow” foi porque Theresia lhe deu uma cotovelada. Era uma situação delicada, onde definiam suas posições relativas, mas, por ora, era melhor se portar como convidada. Além disso, Theresia percebeu instintivamente que Ineli não era do tipo que sua senhora gostaria de fazer amizade.
— Acabo de dançar com Lord Salzantes, e, como esperado, Garbera tem homens refinados. Sua habilidade de dança e, claro, de acompanhar uma dama, são muito superiores aos dos homens de Mephius. Irmã mais velha, por que não dança também? Tenho certeza de que todos aqui adorariam convidá-la.
— Não, obrigada. Dançar não é meu forte — Vileena sorriu modestamente. — Acabei de ver a princesa Ineli dançar, e vi que é extremamente talentosa. Não estou à altura.
— Oh, é mesmo? Que pena. Bem, não se preocupe. Tenho aulas de dança desde os três anos. Minha professora é uma mestra da corte imperial de Arion. Dizem que ela já era talentosa nessa idade.
— Isso é impre— impressionante.
Sem perceber, um grupo de garotas — provavelmente filhas de nobres importantes — cercou Ineli.
— Ineli-sama sempre foi boa em tudo desde pequena.
— Meus pais sempre me dizem: “Por que você não é como a Ineli-sama?” E eu penso: “Não tem jeito! Não há a menor possibilidade que eu seja como a Ineli-sama!”
As garotas riam alto. Ineli sorriu triunfante para Vileena, que mantinha um sorriso tenso.
— Oh, não é como se eu fosse boa em tudo. Todo mundo tem seus pontos fortes e fracos. Por exemplo… — mudando de assunto, ela olhou diretamente para Vileena — …eu não sei pilotar aeronaves.
— Aeronaves?
— Não saber pilotar é motivo de vergonha? Isso não é coisa do exército? Nunca vi uma de perto.
Ineli sorriu satisfeita com a confusão das outras garotas.
— É verdade. De certa forma, não é algo que traga felicidade. Quero dizer, imagine: pilotar uma dessas, voar pelo céu… e acabar desmaiando de medo. Não seria vergonhoso?
— Ah, é mesmo. Isso não é coisa para uma dama.
— Nossos pais ficariam furiosos.
Elas riam juntas. Enquanto Ineli as apoiava, observava Vileena atentamente.
Oh? Será que…
Vileena entendeu. Não precisava que fosse mais óbvio. As outras garotas talvez não, mas Ineli sabia muito bem. Aquilo era sobre a princesa estrangeira e sua habilidade incomparável como piloto. E sobre como, na batalha do Forte Zaim, ela sobrevoou o campo de batalha em sua própria nave.
Então é isso. Ela está me provocando.
O sorriso permaneceu, mas sua mente fervia.
Se ela quer brigar, eu vou brigar. Agora… como fazer isso?
— Hm? Algum problema? — Ineli sorriu docemente. — Irmã mais velha, mudou de ideia? Vai aceitar um convite para dançar?
Vileena percebeu. Ineli tinha muita confiança em sua dança. Vileena também tinha algum conhecimento — era uma princesa, afinal, e recebera educação básica em etiqueta.
Ela ergueu o queixo, ajustando as mangas do vestido.
— Se insiste tanto, embora seja constrangedor, Vileena Owell aceita dançar.
Oh, é mesmo? — Ineli riu por dentro.
O ambiente ficou tenso. Noue, numa tentativa de ajudar, ofereceu-se:
— Então serei o parceiro da princesa—
Ineli o interrompeu.
— Não, não permitirei. Você prometeu ser meu parceiro a noite toda, não foi?
— Ah. Bem, isso… mas, Vossa Alteza…
Noue ficou sem graça. Em Garbera, ele era quem conduzia as mulheres; o homem conhecido por causar cenas trágicas entre casais. Mas, como enviado em uma terra estrangeira, não podia recusar a princesa.
Nesse momento, um jovem nobre estendeu a mão para Vileena.
— Sua Alteza permitiria que este indigno cavalheiro a acompanhasse?
Seu nome era Baton Cadmos. Um homem de posição relevante e aparência adequada para dançar com uma princesa. Vileena não se importava com quem fosse. Ao aceitar sua mão, não viu Baton piscar para Ineli.
O plano de Ineli era envergonhar levemente a princesa estrangeira. Até então, ela era a estrela desses eventos. Treinada por tutores de vários estilos, tinha confiança em seu próprio. Sabia muito sobre moda, dança, chá, arte e música. Todas as garotas de sua idade a admiravam. E mais ainda depois que sua mãe, Melissa, se tornou imperatriz, elevando seu status ao de princesa imperial.
E, de repente, Vileena invadira seu território. Os mephianos eram fracos para expressões “culturais”. Apesar de Garbera ser até pouco tempo um país inimigo, muitos apreciavam seu refinamento. Em especial, as histórias de cavalheirismo, onde homens arriscavam a vida por suas damas, eram populares entre mulheres e crianças.
Em conversas, o assunto sempre voltava a Vileena. E, enquanto ela ficava reclusa, sua situação era exagerada. Naquele dia, ao cruzarem olhares, Vileena chamou atenção com facilidade. A ideia disso enojava Ineli.
Vou derrubá-la aqui.
Ela envergonharia Vileena, de forma esmagadora, e então lhe ofereceria a mão com compaixão. Se conseguisse transformar a princesa de Garbera em sua seguidora, retomaria o controle do círculo feminino.
A música começou, e a dança também. Ineli e Noue moviam-se em perfeita harmonia. A respiração deles se sincronizava, e suspiros surgiam da plateia.
Do outro lado, Vileena era girada com força por Baton. Ela ficou confusa com a dança, que a fazia quase sair do chão. Tentando acompanhar seus passos apressados, pisou em seu pé. Os dois perderam o equilíbrio.
— Princesa, o passo aqui é mais cedo.
Ouvindo comentários ao redor, Baton deu o “conselho”. Risadinhas surgiram.
— M-me desculpe.
Ela sem querer usou linguagem masculina. Seu rosto ficou vermelho. Mas tropeçou várias vezes depois. Mesmo tentando seguir Baton, ele não facilitava. Dessa vez, ele tropeçou sozinho e cambaleou.
Esse homem está fazendo de propósito.
Ela olhou nos seus olhos. Havia um sorriso arrogante.
Vileena sorriu.
— Ah — Theresia tentou avisar, mas foi tarde. Baton esticou o pé para atrapalhá-la, e Vileena, antecipando, chutou o outro pé dele. Girando os quadris, arremessou o surpreso Baton.
Ele caiu de cara no chão. Por um momento, a música parou, e suspiros de surpresa ecoaram. Theresia cobriu o rosto.
— Alguém.
Vileena desafiou os homens presentes, estendendo a mão para o vazio.
— Alguém aí. Esse cavalheiro não é digno de ser meu parceiro. Alguém aí está disposto a mostrar à princesa de Garbera uma verdadeira valsa mephiana?
— Ahahahahaha — Ineli riu estridentemente. Noue também ficou surpreso, mas, com Ineli como parceira, não pôde ajudar.
Vileena foi cercada por olhares. Todos desviaram os olhos ou fingiram conversar. Mesmo procurando, não havia voluntários. Ela conteve a raiva, sentindo o constrangimento.
Ela exagerara. Agora, ganharia a hostilidade dos mephianos. Seus supostos aliados sumiram. Ninguém se ofereceu. Todos temiam desagradar Ineli — e, acima de tudo, atrair a fúria de Vileena.
Ela mordeu os lábios. Em seu peito, sentia o avô a repreendendo.
Aquela garota, Ineli. Será que ela previu meu temperamento e me provocou para isso?
Se for assim, é uma derrota total. Caí direitinho na armadilha.
Mas Vileena manteve a mão estendida. Não perdoaria a personalidade daquela garota, justamente por ter sido manipulada. Cada segundo que passava sem resposta era uma hora de humilhação. Seu braço cansou, e a mão vazia começou a cair.
Vileena baixou a cabeça. Pelo canto do olho, viu Ineli sorrindo, vitoriosa.
— Princesa.
Foi então que uma figura surgiu da multidão.
Vileena suspirou. Ineli também, mas por outro motivo.
— Princesa, se me permite, este indigno cavalheiro gostaria de dançar.
Curvando-se, quem ergueu as mãos e usava uma máscara era o ex-gladiador.
Vileena, hesitante, ergueu a mão novamente e agarrou a do gladiador — agora guarda imperial.
A mão de Orba envolveu sua cintura desajeitadamente.
Os dois, inclinados um para o outro, como um jovem casal dando os primeiros passos, começaram a dançar.

A dança fluía. A princesa, que havia acabado de chegar de outro país, e o ex-gladiador que derrotou o general inimigo na Fortaleza de Zaim — todos os olhares estavam voltados para os dois. Um clima apaixonante os envolvia, talvez amplificada pela performance musical dos virtuosos.
Orba prestava atenção discreta aos seus pés, pois nunca havia dançado daquele jeito antes. Gravou o ritmo da dança em sua mente. Um passo fora do compasso, e temia que toda a coreografia desmoronasse.
Um, dois, três… um, dois.
Sob sua máscara, o suor frio escorria por suas têmporas.
Uma rodada já? Não, espera, tem uma pausa. Estenda as mãos, desvie o olhar, e de novo, um, dois, três, um…
— Orba.
— Hã?
Assustado, a voz de Orba ecoou. Ele estava realmente nervoso. Vileena soltou uma risadinha e disse:
— Obrigada.
Orba não respondeu. Ele mesmo não sabia por que se ofereceu para dançar com a princesa.
A paixão coloriu a noite, e no meio da melodia da valsa que fluía pelos ouvidos, ele pegou a mão da princesa e girou sem parar. O vento noturno era refrescante contra sua pele. Os galhos da floresta sussurravam, e a fonte, banhada em dourado sob as luzes do fogo, completava a cena enquanto sorrisos gentis se espalhavam pelos rostos dos convidados.
Aquela noite. Aquele momento. Não era um sonho de Orba.
Logo, a música parou, e os dois ergueram as mãos entrelaçadas. Aplausos e gritos de alegria ecoaram. A dança fora desajeitada, mas de alguma forma tocou os corações dos convidados. As mãos se separaram, e cada um fez uma reverência cortês. Nesse momento, Orba foi tomado por uma onda de emoções intensas.
Mal a dança tinha terminado, Orba já se via cercado por pessoas novamente.
— Orba-dono, conte-nos como derrotou Ryucown!
— Venha, vamos beber juntos!
— É verdade que essa máscara é uma maldição de mago e não pode ser removida?
— E o boato de que, por trás dela, esconde-se um nobre de um país arruinado?
Não tem fim…
Orba resistiu ao impulso de gritar “Calem a boca!” e manteve a compostura. Entre eles, várias mulheres tentaram tocá-lo, fazendo-o se encolher, o que só provocou mais risadas.
Então, sentiu um olhar penetrante vindo do outro lado do salão. Por acaso, cruzou com o olhar de Ineli, que trazia uma expressão indescritível. Não era exatamente raiva ou tristeza, quase inexpressiva, mas seu olhar irradiava hostilidade.
Quando Orba a encarou, o rosto de Ineli ficou vermelho, depois pálido, e então ela virou as costas com desdém e saiu. Pelo canto do olho, ele viu Baton correndo atrás dela.
Finalmente, a festa chegou ao fim, e Orba se livrou dos convidados insistentes. Casais que se formavam e se separavam rápido demais, grupos indo para outra festa, bêbados sendo carregados por criados, pessoas planejando visitar o festival na cidade. E, no meio de tudo isso, Noue já havia partido há tempos.
Tsc. Qual foi o sentido de vir aqui, então?!
Pensando em ir embora, uma mulher mais velha surgiu do jardim e o chamou. Ele achou que fosse mais uma fã do gladiador, mas ao se aproximar, viu que era Theresia, a dama de companhia de Vileena.
— Por ter ajudado a salvar a princesa, ofereço minha mais humilde gratidão.
— … O que quer dizer?
— Hoho. Vejo que Orba-dono é do tipo que salva donzelas em perigo. Parece bem versado no código dos cavaleiros de Garbera.
— Sou um gladiador. — Orba balançou a cabeça, confuso. — Comparar um gladiador a um cavaleiro de Garbera só vai gerar ressentimento. Um ex-escravo que ousou segurar a mão da princesa deveria, na verdade, estar pedindo perdão.
Metade de suas palavras eram autodepreciação; a outra, cinismo. Era possível um nobre e um escravo conversarem como iguais e dançarem juntos, mas a diferença entre isso e a realidade era abismal.
Theresia ergueu a sobrancelha.
— A princesa não se importa se alguém é escravo ou não. Eu também não. Ela até desprezaria sua autopiedade. Lembre-se disso.
É porque você não conhece um escravo.
Ele estava prestes a retrucar, mas notou os copos de vinho vazios sobre a mesa onde Theresia estava sentada. Suspirou e inclinou a cabeça educadamente. Então, uma preocupação surgiu.
— Você viu a princesa?
— Ah… — Theresia encolheu os ombros, com um ar preocupado. — Ela insistiu em dar um passeio sozinha no jardim. A segurança aqui é rígida, então não há perigo, mas já faz tempo e ela ainda não voltou.
Ela ofereceu a ele um copo, como se dissesse “Quer se juntar a mim?”, mas ele recusou com um gesto.
— Esqueceu algo? — Theresia perguntou, vendo Orba se dirigir ao jardim.
— Não.
Foi a única resposta dele antes de sair.
Ele vagou pelo jardim até avistar uma figura no topo de uma pequena colina e foi em sua direção.
Era um lugar que dava vista para a floresta entre o palácio. De um lado, o palácio iluminado; do outro, as luzes da cidade. As multidões no festival agitavam-se, e o barulho chegava até ele, trazido pelo vento.
Vileena estava lá. No topo da colina, segurando a cerca enquanto olhava a cidade. Orba tentou chamá-la, mas as palavras não saíram.
Tão pequena.
Foi o que pensou. Seu rosto, iluminado pelas luzes da cidade, era belo o suficiente para chamar a atenção de qualquer um, mas agora transmitia uma fragilidade incomum. A princesa tinha apenas quatorze anos. Era natural que parecesse pequena, mas era a primeira vez que Orba a via assim.
Um leve cantarolar chegou aos seus ouvidos. Não era a valsa de Mephius, parecia uma melodia de Garbera. Quantos dias de viagem de aeronave separavam aquela terra distante dali?
O canto continuou por um tempo, até que Vileena parou de repente e se virou.
Um espadachim em silêncio, com o rosto escondido por uma máscara, parado atrás dela — era assustador, mas Vileena não gritou, apenas olhou surpresa.
— Sobre antes…
— Não foi nada.
Ele a interrompeu antes que agradecesse novamente. Ela ficou sem saber o que dizer, mas logo sorriu.
— Você tem sido assim desde o que aconteceu em Zaim, não é? Um herói como você não deveria estar sozinho aqui. Por que não vai celebrar com todos?
— O mesmo vale para a princesa. Andar sozinha é perigoso. Theresia está esperando. Vamos voltar juntos.
— Eu? Bem… eu tenho um compromisso daqui a pouco. Com um cavalheiro muito fino.
Vileena riu ao ver a expressão chocada de Orba.
Ah—
Por algum motivo, Orba sentiu o rosto queimar sob a máscara.
— Seria bom se fosse verdade, mas… — Vileena segurou os cabelos que balançavam com o vento e olhou para longe novamente.
— Como é o príncipe herdeiro? Ele já amou alguém? Já foi feliz? Eu nunca me apaixonei. Conheci muitas pessoas em Garbera. Algumas próximas, outras rígidas, mas que me guiaram, mas, entre elas, quantas posso chamar de verdadeiras amigas? Nem mesmo na terra onde nasci e cresci. E em Mephius…
Vileena estava incomumente falante, talvez por causa da escuridão. Como seu rosto não era visível, talvez se sentisse à vontade para baixar a guarda.
— Pensei que, não importasse o lugar, eu continuaria como sempre. Meu avô me disse o mesmo. Eu sou, sem dúvida, Vileena Owell. Não mudei quem era. Mas…
Sua voz ficou distante, quase inaudível. Por um momento, houve silêncio.
— Orba. Você já falou com o príncipe? — Ela perguntou.
Ele pensou e respondeu:
— Já. — Seria estranho se não o tivesse feito.
Vileena então fez uma pergunta que o deixou ainda mais sem jeito.
— Para você, quem é o príncipe Gil?
— Se você me perguntar quem ele é…
— Pode ser vergonhoso, mas, mesmo sendo meu noivo, quase não conversei com ele. Há tantas coisas que não sei. Se pudesse entendê-lo um pouco mais, talvez pudesse lutar melhor minha própria batalha aqui.
Batalha.
O que Orba enfrentava todos os dias. Ali, naquelas terras, Vileena Owell também lutava. Seu desânimo não vinha apenas das provocações de Ineli e dos outros. Como ela lutava, o quanto se esforçava — Orba podia imaginar. Ele mesmo era assim.
— Esqueça. Foi uma pergunta idiota. Não precisa…
— O príncipe… — Orba baixou a cabeça. — …O príncipe é infantil. Muito mais que você. Extremamente mais.
— …
— Mesmo quando age como se soubesse de tudo, na verdade não entende muita coisa. Por isso… você já deve imaginar, mas é melhor não esperar nada dele. Ele fala tudo o que pensa, sem filtro. E, se não for ensinado, continuará ignorante para sempre.
Depois de falar rápido, Orba resmungou, “Só isso”.
— Perdão. Não sou bom com palavras. Nem eu sei direito o que quero dizer…
— Não, está bem… Entendi.
Vileena acenou com a cabeça.
— Vou colocar em minhas palavras, então. É verdade, ele realmente não entende os outros, incluindo o povo de Mephius.
— Sim.
— E… — Os lábios de Vileena se curvaram. — Concordo que ele é infantil. Tem uma linha de pensamento aparentemente honesta, mas simplista. Às vezes, quase consigo vê-lo como um bebê recém-nascido.
— Como é que é?
— Hm?
— Ah, não… Achei que ouvi alguém me xingando de longe.
Ele se afastou do corrimão e tossiu, olhando para o horizonte.
— É melhor irmos. Theresia está bebendo demais.
— Theresia deve estar feliz por ter uma desculpa para beber — Vileena riu baixinho. — Então vamos. Ela fica assustadora quando bêbada.
Ela escondeu o constrangimento por ter usado uma linguagem tão informal.
Os dois desceram a colina e voltaram ao jardim. Theresia ergueu seu copo vazio. O pajem que deveria estar cuidando dela dormia sobre a mesa.
— Agora então. Princesa, vamos para seus aposentos?
— Não… Desculpe, Theresia, mas há um lugar que quero visitar.
— Hm? A princesa queria aproveitar o festival, não era? Eu até prometi comprar balões coloridos para você amanhã. Você adorava correr com eles quando criança.
— I-Isso foi quando eu era criança! — O rosto de Vileena ficou vermelho. — Quero visitar o príncipe doente agora.
— O quê?
Theresia e Orba exclamaram ao mesmo tempo.
— Mas, princesa, já é noite. O príncipe dificilmente vai recebê-la.
— Mesmo que ele recuse, vou continuar indo. Até arrancá-lo da cama, se preciso.
— Princesa…
Theresia parecia comovida, mas Orba interrompeu.
— E-Então, eu vou indo. Lembrei de algo urgente. Ah, não posso deixar assim…
Com uma desculpa esfarrapada, Orba saiu correndo antes que as duas pudessem dizer mais.
Mesmo com o festival, as carruagens eram escassas. Sem alternativa, Orba correu o caminho todo de volta ao palácio.
Droga! O que ela quer com o príncipe agora?
Talvez fosse reclamar de novo.
Ele fez Dinn ajudá-lo a trocar de roupa rapidamente e, mal se deitou na cama, o sino tocou.
— Deixe-as entrar.
Surpreso com a ordem, Dinn abriu a porta para Vileena e Theresia.
— Como está se sentindo hoje? — Vileena perguntou.
Ela parecia um pouco decepcionada, afinal, insistira em vir sem aviso.
— Um pouco melhor.
Orba fingiu tossir. Theresia examinou seu rosto.
— Está suando muito. A respiração está pesada. Claramente não está bem. Princesa, devemos ir.
— N-Não, está tudo bem. Só ficarei um pouco.
Ela sentou na cadeira que Dinn ofereceu e encarou o príncipe na cama.
Sentindo o clima pesado, Orba perguntou:
— Tem algo a dizer?
— Por que acha isso?
— Foi a impressão que tive.
— Só vim te ver. Pensei que pudesse estar entediado, sozinho durante o festival.
Orba ficou sem reação diante do comportamento estranho dela. Não havia o ar agressivo que ela normalmente mostrava, aquele que fazia até ele ficar alerta.
Ou a princesa mudou… ou…
— Hoje foi difícil para a princesa. Aquela Ineli… o príncipe deveria tomar cuidado com ela…
— Theresia. Pare.
Depois de algumas palavras sem importância, Vileena se levantou.
— Então, descanse. Se tiver apetite amanhã, trarei algo do festival.
— E os balões favoritos da princesa também.
— The-re-si-a! Você fala demais!
Enquanto via as duas saírem, Orba refletiu.
Não é ela.
Ele escolheu não ir atrás de Oubary ou Zaat, mas do Palácio da Lua. Queria encontrar Noue pessoalmente, mas, mais do que isso, queria entender os sentimentos de Vileena.
O mensageiro de Noue dissera que não se importavam com a vida dela, mas podia ser um plano para ganhar Oubary. Ou talvez Vileena estivesse envolvida sem saber…
Mas ela não está participando. Ela está determinada a travar sua própria batalha em Mephius.
Ela havia questionado sobre Kaiser quando ele voltou de Saian e não aprovava sua indiferença. Era prova de que a princesa fizera de Mephius seu novo lar.
Se não é a princesa, é difícil acreditar que Garbera esteja por trás. Será tudo obra de Noue e Oubary?
Sem perceber seu próprio alívio, uma nova certeza surgiu: os planos de Noue não podem se concretizar.
Seus motivos eram claros. Não queria que Oubary saísse vitorioso. Além disso, com a pista dada por War, finalmente tinha algo sobre a Fortaleza de Apta. Se o país caísse no caos agora, perderia essa chance. E, se Mephius ruísse, perderia a autoridade de príncipe que tanto lutava para manter, voltando a ser um gladiador sem poder algum. Nenhum de seus objetivos se realizaria daquela forma.
Mas, acima de tudo…
Jogar fora a vida de uma princesa que luta tanto em um país estrangeiro… O que eles estão planejando?
Raiva.
Raiva daqueles que manipulavam vidas e destinos sem pensar. A mesma raiva que sentira quando sua vila foi queimada — aquela que gerava emoções densas e escuras.
Não vou deixar.
Não vou deixar esses bastardos terem o que querem.
Orba se levantou da cama como nunca antes.
◇◇◇
Longe do prédio principal do palácio, em uma das torres menores, ficavam os aposentos dos embaixadores de outros países.
Em uma dessas salas, o enviado de Garbera, Noue Salzantes, olhava para o palácio iluminado pelo festival. Comparado às construções de seu país, o palácio mephiano parecia rústico. Mas ele estava acostumado. Passara mais de cinco anos como vice-comandante na Fortaleza de Apta, que havia tomado de Mephius.
Aquela fortaleza agora estava sendo desmontada para ser devolvida. Ele veio sob o pretexto de parabenizar o casamento do príncipe e da princesa. Nesse período agitado, ofereceu a si como enviado para o festival. Seu país concordou e ele foi o primeiro a se voluntariar.
— Por enquanto, joguei minhas cartas.
Sozinho em seu quarto, Noue deixou as emoções fluírem. O sorriso que mostrara a Ineli e Orba desapareceu. Seu rosto, ainda belo, agora era assustadoramente impassível.
Pele clara, corpo esguio. Seus cabelos longos caíam sobre um robe folgado. Seu visual era o de um nobre decadente, algo que ele cultivava de propósito. Em Garbera, um país de cavaleiros, ele era visto como afeminado e indolente.
Mas, por trás dessa aparência, Noue era reconhecido como um gênio. A Casa Salzantes governava Rhodes há gerações, com vastas terras e influência política. Mas Noue transferiu o título de líder para seu irmão mais novo e renunciou ao cargo de vice-governador da capital. “Assim fico mais tranquilo”, dissera, mas sua verdadeira motivação era outra. Cansado das tarefas entediantes, ele queria tempo para fazer o que gostava:
Estratégia, guerra e conquista.
Anos atrás, ele arquitetou o ataque à Fortaleza de Apta, onde Oubary estivera. Primeiro, usou apenas a cavalaria, repetindo o mesmo método. Uma estratégia medíocre, que deixou seu próprio exército frustrado e quase os fez perder. Então, como se admitisse a derrota, Noue recuou.
Mas, na verdade, escondera suas tropas perto da fortaleza. Enquanto isso, um grupo separado se movia por uma floresta em território mephiano, deixando-se ser visto por batedores. O plano era fazer o inimigo pensar que o alvo era a capital.
Como previsto, as forças em Apta se dividiram. Noue, calculando o momento certo, voltou com tudo e atacou. Os soldados em Apta, orgulhosos por terem repelido o ataque anterior, pediram reforços tarde demais. Noue usou sua frota aérea, até então intocada, e derrotou-os em um piscar de olhos, tomando o forte em menos de um mês.
Seis anos atrás.
Foi quando conheci Ryucown.
Ao lembrar daquele nome, Noue olhou para o palácio sem emoção.
Na época, Ryucown era apenas um aprendiz de cavaleiro, mas já sonhava alto. Não queria ser o cavaleiro ideal, queria transformar Garbera no país ideal. Quando Noue ouviu isso pela primeira vez, pensou:
Que tolo.
Ryucown era apenas cinco anos mais novo, mas acreditava em sonhos infantis. Noue era um realista. Apesar de achar a estratégia fascinante, sabia que países e o mundo não se dobram a ela tão facilmente. Noue era fisicamente fraco e desprezava aqueles que se gabavam de sua força bruta.
Lembrava apenas do rosto e do nome de Ryucown, que se destacara em Apta.
Um ano depois, Ryucown tornou-se cavaleiro oficialmente após derrotar o rebelde Bateaux. Dali em diante, acumulou feitos gloriosos na guerra contra Mephius, muitos deles com a ajuda de Noue.
Antes de partir para a batalha, Ryucown mandava um mensageiro de aeronave. Noue enviava planos em resposta. Ryucown já era um herói popular, mas admirava o conhecimento de Noue, o que alimentava o ego deste. E, toda vez, Ryucown dizia:
— Simplesmente fascinante. — Seus olhos brilhavam. — Como consegue analisar os movimentos do campo de batalha e dos homens como eu, que lutam lá, com tanto detalhe? É como se tivesse clarividência.
— O poder da imaginação. — Noue apontou para a própria cabeça. — Aqueles que não aprendem ou experienciam não passam de brutos, Ryucown. Homens podem usar o conhecimento acumulado e os ensinamentos de seus ancestrais para moldar o mundo a seu favor.
— Entendo. Você literalmente luta com a mente. Assim, contra Arion, Ende ou qualquer país, sua simulação torna tudo possível. Diga-me, o que Garbera precisa para se tornar uma potência mundial e realizar meu sonho?

— Ahahaha. Você é simplório, Ryucown. Certamente, nem eu pensei tão longe assim. Mas isso não significa que esteja totalmente fora de alcance. Não precisamos do quadro completo, com fragmentos suficientes de informação, será possível desenhar o panorama maior.
Ao responder, para seu próprio constrangimento, Noue percebeu que também era simplório. O homem conhecido como Ryucown era direto de uma forma quase ingênua e possuía um charme peculiar. Até mesmo adversários acabavam cativados por ele.
— Então serei os olhos e ouvidos do senhor Noue. Seja a cavalo, seja em aeronave, percorrerei o mundo para coletar os fragmentos que deseja. Para que, juntos, façamos de Garbera um país superior a todos, um reino de cavalheiros.
Mesmo enquanto Noue ria alto, um pensamento surgiu dentro dele:
Se é com este homem, talvez seja possível.
Grandes sonhos levam aos tropeços dos homens. E esses tropeços os trazem de volta à realidade. Mas, para Ryucown, aquele sonho talvez se realizasse. Seus olhos, fixos no horizonte sem distrações, poderiam de fato reunir tais fragmentos.
Foi justamente por Ryucown pensar assim que Noue propôs o noivado entre a princesa Vileena e ele. Havia sinais claros de que algo estava prestes a começar. Junto de Ryucown, lutando dia após dia por seu sonho, Noue certamente encontraria novos fragmentos jamais vistos antes.
No entanto.
Um sonho é apenas um sonho.
A metodologia de Noue e os ideais de Ryucown eram incomparáveis. Mas não conseguiram fazer seu sonho nascer.
Durante as negociações de paz com Mephius, a princesa Vileena foi enviada para se casar com o príncipe de Mephius. Por ter mirado apenas seu sonho, Ryucown foi atingido com mais força que Noue. Até aquele homem de vontade inquebrantável teve de se curvar à realidade. Essa foi a coisa que mais irritou Noue.
E…
Maldito seja, Ryucown. Por que não me chamou uma única vez?
Aquele homem, que sempre manteve a mente de um jovem rapaz, não era do tipo que se ajoelharia diante da realidade. Incapaz de aceitar as decisões de seu país, ele se revoltou. Quando Noue soube, não pôde fazer nada. Por mais que usasse seu poder de imaginação, não conseguia vislumbrar um futuro brilhante para Ryucown. E então, algo além de suas previsões aconteceu.
Ryucown foi derrotado.
No entanto… aquele nome que não estava em meus cálculos agora está.
Era o príncipe de Mephius, Gil Mephius. Aquele chamado de imbecil pelos rumores.
Este homem, mesmo em desvantagem numérica, destruiu uma fortaleza ocupada por Ryucown… e em sua primeira campanha?…
Ele queria isso. Os fragmentos de informação relacionados ao incidente. Pelo menos o suficiente para entender como foi possível. Caso contrário, não poderia compensar Ryucown por não ter realizado seu sonho.
Foi por isso que viera até ali. O vento que entrava pela janela agitava os longos cabelos de Noue, criando uma cena de tirar o fôlego.
Claro, não me contentarei apenas com essas informações como lembrança. Não sou tão modesto. Há várias coisas que desejo: preparativos contra Ende, o caos em Mephius… e o príncipe que matou Ryucown.
Mesmo que Noue não pudesse prever tudo, enquanto estivera em Apta, preparou-se para enfraquecer Mephius a qualquer momento. A hora de usar seus planos chegara.
Levarei tudo de volta comigo.
Enquanto seus cabelos negros ondulavam ao vento, brilhavam como a lâmina nua de uma espada.
Tradução feita por fãs.
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