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Rakuin no Monshou – Capítulo 2 – Volume 1

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Rakuin no Monshou
Emblem of the Branded

Light Novel Online – Capítulo 02:
[Dois Garotos]


Depois de chegar à cidade de Birac, no território Mephian, Orba passou a fazer pequenos furtos, sem qualquer hesitação ou dificuldade com isso. Correndo descalço no chão dia após dia, ele se dirigiu para outra área antes que as pessoas ao redor e os guardas da cidade memorizassem seu rosto, fazendo a mesma coisa de novo e de novo, até que, mais uma vez, se dirigisse para seu próximo alvo.

Ele começou a um grupo de meninos nas mesmas circunstâncias e idade, e juntos passaram a vender as coisas que conseguiam juntar dos lixões, ou que furtavam na beira da estrada, ou, às vezes roubando, a bolsa de alguém ou mesmo ameaçando com facas algum comerciante de aparência rica saindo de um bar.

Enquanto passava seus dias assim, certa vez aconteceu algo que fez com que alguns dos membros do seu grupo, acabassem saindo feridos. Aparentemente, eles foram atacados por uma turma de meninos de um outro bando. Essas brigas entre diferentes gangues por territórios eram acompanhadas de enorme violência.

Tudo foi tirado deles. Embora para eles “tudo” fosse, na verdade, uma quantidade mínima de dinheiro para comida que com muito esforço eles conseguiram, mas, que agora, os meninos estariam fadados a morrer de fome.

— A única coisa que sai da boca de vocês é ficar para morrer, ou ir lá e morrer tentando. Mas eu digo, se alguém aqui tiver a coragem de fazer diferente e viver, venha comigo!

Orba deu àquelas crianças que estavam prestes a desistir, um discurso animador. Ele, mais do que ninguém, não queria ter nada arrancado de si uma segunda vez. Reunindo os membros restantes de seu pequeno grupo, Orba retaliou contra uma gangue muito maior em número.

Obviamente, ele sabia que não tinha chance alguma num confronto direto. Por isso, reunindo informações que pode de antemão, esperou pelo momento certo para atacar os inimigos, quando eles estivessem em menor número.

O que Orba valorizava acima de tudo era a informação. Ele sempre tinha que estar atualizado sobre o movimento, seja de amigos ou inimigos.

Isso é o que separa homens reais de moleques birrentos.

Foi a única coisa que Orba conseguiu pensar. Um moleque que não sabe de nada será roubado por um inimigo que ele nem sequer sabe dizer quem é, mas se você souber distinguir amigo de inimigo por conta própria, e se conhece-los muito bem, pode se tornar aquele que rouba dos outros.

Quando completou quatorze anos, ele já tinha se tornado a figura principal do grupo. No início, eles contavam com cerca de apenas dez garotos, mas na medida em que foram se passando os dias, pouco a pouco eles foram crescendo até se tornarem uma verdadeira gangue, com mais de cem membros.

No entanto, o sangue ruim que fervia dentro de Orba nunca desapareceu. Era normal acontecer centenas de disputas verbais dentro do bando, mas ele sempre colocou um fim a isso, através do poder de seus punhos. Ao mesmo tempo, porém, em vez de passar as noites com seus amigos bebendo, fazendo algazarra e tagarelando, ele preferia ficar sozinho, apoiando os joelhos em um canto escuro do o quarto, se perdendo em pensamentos.

Portanto, Orba, que gostava de passar a noite só, achou um tempo livre para se dedicar à leitura. Quando imerso no mundo dos livros, ele às vezes lembrava do irmão mais velho Roan, lembrava de Alice ou mesmo se preocupava com o paradeiro de sua mãe.

Por quanto tempo ele teria de conservar suas forças? Em primeiro lugar, ele poderia direcionar os homens que tinha para lutar contra seus “inimigos”? E quantas noites mais esses pensamentos circulariam em sua cabeça?

Não havia fim para as inseguranças e questionamentos. Mesmo assim, Orba tinha como preciosos aqueles momentos de preocupação, porque eles o permitiam seguir em frente.

Fazia cerca de quatro anos desde que ele tinha chegado em Birac.

Este deveria ser apenas mais um dia comum, estando extremamente ocupado, contando os lucros no cofre da casa ilegal de jogos de azar a qual dirigia, antes de preparar seu encontro com influentes contrabandistas de armas nos becos de Birac, treinar por cerca de uma hora o uso de armas de fogo e espada, e revisar seu plano para atacar uma aeronave mercante com vários de seus melhores homens, o que seria realizado dentro de uma semana.

O plano era em grande escala. Eles pretendiam fazer um ataque surpresa a uma das transportadoras aéreas – formalmente chamadas de aeronaves de pedra de dragão – que estava totalmente carregada com barras de ouro e mercadorias, programadas para serem entregues no distrito oeste da cidade-estado. A emboscada, aconteceria na ravina localizada a doze quilômetros ao sudoeste de Birac. Eles tinham três aeronaves com um único assento preparadas para a ocasião. Vários líderes de pelotão, incluindo Orba, já foram designados para aprender o básico de pilotagem.

No entanto, devido ao tamanho da operação, não importava o quanto os meninos concordassem com o método, havia grandes buracos no plano. Um deles foi que vários garotos do antigo grupo rival, invejando o sucesso de Orba, entraram em seu grupo como espiões e vazaram os detalhes da operação para a guarnição de Birac.

O segundo andar do bar que eles usavam como esconderijo na época, foi atacado de surpresa e Orba se viu cercado pelos guardas da cidade. Ele não tinha nenhuma arma em mãos para lutar e todas as rotas de fuga foram bloqueadas. No momento em que teve as mãos atadas nas costas, mais uma vez, ele se encontrou privado de seu status. Orba mordeu os lábios em frustração até os fazer sangrar.

BASTARDOS FILHOS DA PUTA!

PORRA,PORRA, PORRA, PORRA, PORRA! ISSO NÃO VAI FICAR ASSIM! EU AINDA ESTOU VIVO!

Eu não vou morrer assim! Ninguém, ninguém! Seja de Mephius ou Garbera, ninguém vai tirar a minha vida! Eu vou viver! Eu vou viver, não importa como!

◇◇◇

Ele foi preso por posse ilegal de armas e, obviamente, por planejar um ataque o ataque à aeronave mercante, além de uma série de outros crimes, como repetidos roubos, formação de quadrilha e jogos de azar ilegais.

O tempo para fazer a investigação não demorou nem um dia e Orba, que foi mais uma vez jogado em um porão apertado, foi marcado com ferro em brasa nas costas. Uma longa linha vertical no centro de uma marca X era a prova de ser um escravo.

Além da dor da queimadura, uma febre alta o deixou desorientado e, naquela noite na prisão, quando estava se contorcendo em agonia, o destino se encarregou de o levar para um estranho lugar…

— Hmm… eles realmente se parecem…

Orba foi levado para algum lugar, onde alguém levantou o seu rosto. No entanto, ele não tinha forças sequer para abrir os olhos e ver a face daquele que o estava encarando. Mesmo prestar atenção no que diziam era uma missão impossível para seu cérebro que parecia estar lentamente sendo fervido.

— Pelo que ouvi do interrogatório, até a voz deles soam idênticas.

— Mas não importa o quanto se assemelhem, tudo na vida tem os seus limites. Na verdade, dependendo do ângulo, podemos ver que é uma pessoa completamente diferente. Se os dois se parecessem um pouquinho mais, ele poderia ser de alguma utilidade. Bem, agora já não importa mais. O que pretende fazer com o garoto?

— Eu planejo colocá-lo em um lugar onde suas habilidades terão melhor uso. Com sorte, talvez ele venha a lhe ser de alguma utilidade, meu lorde.

— Que utilidade teria um espadachim-escravo? É até questionável se ele vai viver mais do que um dia, quem dirá me ser útil em algum momento! Se eu tivesse sido informado antes do veredito, talvez pudéssemos ter feito algo a respeito…

— Não, pelo contrário, vossa excelência. Caso o senhor tomasse esse pirralho imundo agora, ele provavelmente não conseguiria amadurecer todos os seus talentos. Colocando isso bem claro, ele não é de utilidade nenhuma para o senhor. Ao menos, não agora. Mas, como um espadachim-escravo, isso é, se o pescoço dele não for separado do corpo antes, ou tiver alguma morte idiota por ironia do destino, e se ele sobreviver por mais três… não, dois anos na arena, quem sabe?

— Hmph, que seja. Vou aguardar, mas sem qualquer expectativa. De qualquer forma, não tem a menor chance desse pirralho virar um escravo enquanto ele estiver com essa face à mostra.

Naquele momento, Orba, sendo segurado pelas mesmas pessoas que o marcaram com ferro antes, de repente sentiu uma sensação opressiva em seu rosto e, com apenas o traço de um calor como fogo, a pele dele começou a queimar. Ele se contorceu, gritando, perguntando-se se talvez tudo não passasse apenas de um sonho, sem ao mesmo ter certeza se continuava vivo ou não.

◇◇◇

Na manhã seguinte, com o corpo ainda atormentado pela dor e fadiga, Orba foi arrastado para fora das masmorras e depois jogado em uma carroça onde um grupo de homens, completamente nus, tinha sido amontoado. Um dragão de porte médio conhecido como Houban, com corpo achatado e 8 longas patas, começou a puxá-los para fora de Birac.

A viagem durou algo em torno de depois dias, antes de chegarem ao seu destino. Os escravos receberam uma única refeição por dia, mas composta apenas de carne-seca e água. Tanto Orba como os homens estavam caídos, exaustos, sem nem mesmo ter energia para puxar conversa.

— Mais um escravo esquisitão, hein?

Disse um homem de corpo bronzeado e musculoso, com cabelos brancos e um bigode cobrindo suas feições, enquanto olhava para o rosto de Orba.

— É normal ver Gladiadores com certa fama usarem máscaras ou capacetes estranhos para ganhar o apelo do público, mas esse aqui é só um novato, não é?

Um soldado o agarrou pelo pescoço e tentou puxar a máscara à força. No entanto, lembrando-se da dor que sentiu quando a colocaram, como se sua pele estivesse sendo rasgada, Orba o empurrou para trás.

— FILHO DA PUTA!

O soldado gritou e, quando estava preste a espancar Orba, o homem gritou “PARE” e assumiu o controle, com um sorriso enterrado por detrás de sua barba.

— Parece que não temos um mascarado qualquer aqui. Pelo que eu ouvi dos seus crimes, você não passa de um fedelho metido a rebelde. Mas bem, este é o lugar onde nós ensinamos gentinha como você a virar um cão dócil em menos de três dias. E sim, eu fui apontado como o adestrador que vai te ensinar a “sentar” e a “dar a pata”. Além disso, sabe qual vai ser a sua primeira lição? O que acontece com quem não obedece ao comando do seu adestrador!

Dizendo essas palavras, o homem ergueu o punho do tamanho de um martelo e o bateu contra as costas nuas de Orba. Com um grunhido doloroso escapando de seus lábios, ele se dobrou no chão sem dizer uma palavra.

— Eu me chamo Gowen e sinceramente espero que possamos ter um relacionamento bem duradouro. Em aproximadamente dez dias, vocês espadachins-escravos serão colocados para matar uns aos outros, por isso eu espero que não façam qualquer gracinha que os impeçam de viver até lá.

Depois disso, o treinamento como Espadachim-Escravo começou e foi só a noite que Orba se recuperou o suficiente para perceber que estava de máscara. Olhando para o espelho com espanto, ele ficou ressentido com aquela piada de mal gosto e tentou freneticamente arrancá-la do rosto, mas ela estava tão grudada em sua face, que mais parecia que o ferro tinha se fundido com a pele.

Após mais uma hora de luta, sem fôlego e suando, ele socou seu próprio reflexo anormal no espelho. Mas, a imagem desfigurada continuou a ser refletida nos estilhaços.

O quanto eles planejam humilhar as pessoas até ficarem satisfeitos? Para colocar esta porcaria em mim, até quanto eles pretendem rir da minha cara!?

Eu vou viver! Eu vou viver e dar o fora daqui! Eu vou achar cada um que fez isso comigo e fazê-los pagar da mesma forma!

Orba repetia enquanto se agachava, fingindo não ouvir o som do choro e dos soluços que saiam de sua boca.

◇◇◇

Na manhã seguinte, Gowen o chamou para fora e os dois foram até um ringue de batalha, onde subitamente uma espada foi atirada aos seus pés.

— Bora, moleque. Tente me bater da melhor forma que achar.

Orba olhou para seu oponente com um olhar que parecia questionar a sua sanidade. Mesmo não tendo planejado escapar até o momento, na hora em que viu Gowen desarmado, e mais, as correntes em seus tornozelos retiradas para a “prática”, ele pegou a espada no chão, curvou as costas e disparou para cima dele.

Era quase como se tivesse sido um ataque surpresa. Ele agiu sem misericórdia, almejando pela garganta, com claras intensões assassinas.

No entanto, seu braço não alcançou nem metade do que tinha planejado e, além disso, foi chutado com tanta força, que caiu de joelhos. Levantando-se, fez o mesmo movimento mais uma vez, mas o resultado foi igual. No momento em que atacou, Gowen agilmente foi para o lado e o segurou pelo cotovelo.

— Hou? Parece que você teve alguma experiência antes, garoto. Mas só está atrapalhando agora. Livre-se disso, já! — Respondeu Gowen, após facilmente se esquivar da terceira tentativa frustrada de ataque.

Orba não estava acostumado a ser criticado. Sua cabeça fervia com raiva, mas quando ele se virou atacando, não teve melhor sorte, não importava quantas vezes partisse para cima de Gowen. O que mais o irritou foi que seu oponente nem ao menos parecia estar levando a sério. E então, ele xingou, provocou e imprudentemente foi para cima, gritando que o mataria, enquanto que, na verdade, manteve um olhar atento. Mesmo assim, não conseguiu achar uma única abertura.

— Garoto, você está ao menos tentando me matar?

O suposto estilo autodidata de Orba não poderia ser chamado de brilhante.

— É realmente uma pena. Você já não tem mais nada que seja seu. Sem nome, sem status, sem roupas, nada para comer e nada que possa fazer para mudar isso. Sim, garoto, você não é mais nem dono da sua vida. Escravos não têm o direito de escolher como vivem ou como morrem. E mesmo que queira comprar isso de volta, é escolha do SEU DONO se ele vai aceitar lhe vender por um preço maior do que pelo qual lhe comprou.

Este treinamento espartano onde ele estava apenas sendo derrubado era igual a uma infernal, porém, quando o dia chegou ao fim, uma dor ainda mais excruciante estava à espera de Orba.

Foi a “maldição” da máscara. À meia-noite, enquanto estava deitado exausto, de repente a máscara começou a emitir um calor escaldante tão forte que parecia estar derretendo o seu resto, assim como foi quando a colocaram nele pela primeira vez.

Isso acontecia principalmente a noite, em intervalos irregulares. Às vezes, nada acontecia por três dias seguidos, em outras, o calor era emitido regularmente por três dias e três noites.

Naquela época, não havia nada que Orba pudesse fazer. Ele só podia rolar no chão, derramar sangue ao roçar seus tornozelos contra as correstes e continuar a esperar que a dor cessasse logo, mesmo que apenas por um segundo mais cedo.

ARGH, ISSO ESTÁ ME ENLOUQUECENDO!

EU ESTOU ENLOUQUECENDO, ENLOUQUECENDO, ENLOUQUECENDO!

Toda vez que ele rolava em agonia, este medo iam aumentado mais e mais, tornando tudo ainda pior. No entanto, quando as suas forças pareciam ter chegado ao fim, e ele estava pronto para desistir, Orba cerrou os dentes, dobrando as costas ao ponto em que os ossos pareciam se partir, ele suportou a dor apenas com força de vontade. Muitas de suas unhas quebraram, quando ele arranhava o chão em desespero, ou tentava arrancar sua máscara.

Não levou muito tempo até que os outros escravos e os soldados de Tarkas começassem a ficar assustados com a figura dele espumando de dor no chão da cela. Rumores se espalharam de que aquilo era uma maldição feita com bruxaria de verdade, fazendo com que Tarkas, que comprou Orba dos traficantes de escravos, fizesse uma expressão amarga quando vieram lhe reportar sobre isso.

— E daí que seja uma maldição ou bruxaria!? Mercadoria é mercadoria e o trabalho de vocês é impedir que esse vermezinho morra antes de me pagar de volta tudo o que eu investi nele!

Para dar este tipo de ordem apesar das circunstâncias, Tarkas só poderia ser descrito como alguém destemido. E assim, Orba passou a ser ignorado a maior parte dos seus tempos de dor, contanto que ele não sofresse uma morte de cão.

Eu não vou morrer…

Foi uma longa, longa noite. Sua carne e ossos rasgados pela dor e a tentação da loucura, desejando morrer a cada segundo. Parecia que o sol nunca iria raiar, mas eventualmente a alvorada chegou. A menos que o próprio Orba desistisse de sua vida na escuridão, o amanhecer sempre chegaria.

Exausto, deitado com o corpo já sem nenhum pingo de força, ele podia sentir a luz da manhã sobre sua máscara. Levantando as mãos vacilantes e a segurando, ele colocou força em seus dedos e fez um juramento.

A menos que alguém perfure o meu coração com uma espada, eu não vou morrer! É como o Gowen disse, minha vida não me pertence mais.

Só que não é como se ela pertencesse ao desgraçado do Tarkas também! De todas as coisas que me tirarem, minha vida é a única que ainda me resta.

Seu coração batia para viver até que ele encontrasse sua mãe, Alice, e possivelmente, Roan outra vez. Os seus músculos brandiam apenas uma espada para alcançar aqueles que o atacavam, com o propósito de construir uma montanha de cadáveres.

Depois disso, Orba ficou completamente absorvido no treinamento. Sua espada e seu corpo, logo se tornaram um só. Ele estava segurando um ódio amorfo, sem saber como se livrar dele, e diferente da época em que estava simplesmente cheio de rancor, a espada deu forma ao seu ódio. Sua espada se tornou uma lança de ódio que perfurou e rasgou todas as dúvidas. Colocado de outra maneira, tornou-se seu desejo de viver.

— Se quer sobreviver, aprenda a matar seu oponente e, ao mesmo tempo, a matar a si. Pessoas que não conseguem solenemente matar a si mesmas acabam mortas no final. Não existem exceções.

Gowen disse isso claramente e Orba seguiu essas instruções.

Ele matou suas emoções. Ele as queimou vigorosamente, rugindo como uma chama, dia e noite, para que também pudesse se queimar completamente. No entanto, ao mesmo tempo, o fogo também não poderia ser extinto.

Portanto, à meia-noite, embora deitado em silêncio com possivelmente seu rosto queimando sob a máscara, Orba continuou queimando o combustível que alimentava sua alma – a raiva, o ódio e o rancor em seu peito – transformando-os em grandes brasas.

Em pouco tempo, ele teve sua luta de estreia. Quando pôs os pés na arena, foi recebido por uma enorme multidão que cercava o local.

Enquanto o céu e a terra estavam envoltos em vozes altas, Orba lutou contra um homem que se agarrou a espada, assim como ele, e o matou. Ele nem reparou se o seu oponente era jovem ou velho. Apenas o momento em que lhe tirou a vida e o momento em que ainda mais gritos foram derramados em suas costas suadas, foi o que ele gravou em grande detalhe.

— MORRAM!

Gritou Orba enquanto olhava para o público.

— VÃO TODOS PRO INFERNO!

Embora sua própria voz tenha sido abafada pelos aplausos, Orba ergueu a espada ensanguentada e continuou cuspindo seus insultos profanos contra todos eles.

E, dentro de uma semana, ele realizaria sua segunda partida. Foi contra um homem barbudo segurando uma espada curta de lâmina em ziguezague. A luta foi una verdadeira desgraça. Ele pode ouvir claramente a zombaria da multidão contra ele, ou quem sabe, tenha sido contra os Deuses?

De qualquer modo, por duas, três vezes, recebeu um golpe violento de um ataque cortante. Mas, em cada uma delas, Orba mudava seu controle sobre a espada, mudava a posição de seus pés e continuou estudando como lutar no meio da batalha.

Ele se defendeu de uma lâmina que estava prestes a perfurá-lo pelo lado e foi aí que o corpo de seu oponente ficou completamente exposto diante de seus olhos.

Orba balançou sua espada bem ali e a lâmina cortou a face dele ao meio. Sangue, ossos e cérebro jorraram para todos os lados. Sua mão estava ficando dormente, mal dando para sentir o sentir o toque. Aquela foi a terceira vez que ele matou alguém.

◇◇◇

Orba se tornou um gladiador e o tempo se passou até completar a marca de dois anos. Naquela época, ele teve inúmeras batalhas, assim como inúmeras noites passadas enquanto contava as estrelas que enchiam o céu.

No entanto, depois de passado um ano, a maldição do tormento da máscara de ferro desapareceu gradualmente, e depois de mais meio ano, as dores enlouquecedoras tornaram-se inacreditavelmente dóceis.

Mas, aquela ainda não era uma máscara comum, já que ele ainda não tinha sido capaz de arrancá-la, não sendo amassada quer seja com o punho de sua espada ou com o martelo de um inimigo. Pelo contrário, parecia que tentar arrancá-la poderia por em risco sua vida e, por isso, teve de se contentar, suprindo o desejo amargo de se livrar dela.

E, no quinto dia depois de executar um Sozos em sua grande vitória na arena Ba Roux…

— Eu finalmente descobri porque o Tarkas anda tão feliz.

Disse Gowen subitamente na mesa de jantar.

— Vocês já tinham ouvido falar que Mephius e Garberan tinham começado a fazer as negociações de paz, certo? Pois bem, parece que os dez longos anos de guerra chegaram ao fim.

— Hmm… Isso significa que o príncipe herdeiro e a princesinha de Garbera vão fazer um casamento político? — Perguntou Shique.

— Exato e a família Imperial de Mephius tem várias tradições de casamento interessantes, como, por exemplo, fazer os votos de matrimônio no Vale Seirin e também executar uma batalha de Gladiadores. E pelo visto, o Grupo Gladiatorial Tarkas foi convocado para realizar esta performance.

Kain deu um assobio quando ouviu a história. Fazia algum tempo que ele estava junto à mesa, consertando habilmente um relógio de bolso a pedido de Tarkas.

— Ou seja, eles vão fazer a gente matar uns aos outros na frente da família imperial.

— Veja pelo lado positivo. Nós vamos poder pagar os nossos respeitos diretamente à sua alteza o Príncipe Imperial. Não acha isso excitante, Orba? — Perguntou Shique ao Orba que continuava curvado sobre o livro como sempre.

— Que perda de tempo. Que diferença faz se eles vão nos fazer lutar com uma flor em cada armadura e cada espada? — Orba respondeu sem mostrar o menor interesse.

Era um pouco depois da alvorada quando Gil Mephius retornou. Deixando seu cavalo nos estábulos e seguindo na direção do portão dos fundos, ele imediatamente avistou a figura de Simon Rodloon e ficou com uma expressão sombria. E então, como já esperado, precisou ficar ouvindo seus sermões.

— Príncipe, eu não estou nem um pouco surpreso. O senhor tem passado dia e noite farreando sem sentido.

— O seu hobby de emboscar as pessoas dia e noite também não me parece muito correto.

Gil deu de ombros e se virou para os amigos que lhe acompanhavam. Todos eles, sem exceção – entre 17, 18 pessoas – eram aproximadamente da sua idade formando uma coleção de segundos ou terceiros filhos da nobreza sem nenhum direito de assumir os negócios de família.

— Eu também não quero ter de imitar um pai que fica esperando pacientemente a filha voltar para casa a noite. No entanto, sua alteza está oficialmente comprometida com a princesa Garberan. As coisas não podem mais continuar assim. Por favor, peço-lhe que tenha um pouquinho mais de consideração.

— Eu sei disso, não precisa me olhar assim. É justamente porque o casamento está tão próximo que eu quero aproveitar ao máximo a vida de solteiro, antes que seja tarde.

— É só que eu não tenho como lhe cobrir toda santa vez.

— Eu já disse… EU JÁ DISSE QUE EU SEI!

Gil estava prestes a perder a cabeça, como sempre. Porém…

— Se sua alteza entende, por favor apresse e troque de roupas. Sua majestade está aguardando nos portões do palácio.

— Meu pai está?

O rosto de Gil empalideceu e a expressão de raiva foi rapidamente substituída por uma de medo. Além disso, Simon não pode deixar de notar que os amigos do príncipe riram em segredo.

— Bem, nos vemos na próxima de novo.

— Alteza, vamos repetir essa festa na noite após o casamento.

Como esperado, embora agissem de maneira amigável com ele, havia um certo distanciamento entre eles. Seus pais eram respeitados e renomados ao redor do reino, porém os filhos que cercavam príncipe a todo momento não eram mais do que parasitas. No Império de Mephius, abençoado por ricos cânions em cada ponto da nação, esses jovens disputavam corridas de cavalos por entre as ruas, convidavam jovens mulheres de casas distintas para se banharem nos rios, faziam apostas, simulavam caçadas e se embebedavam a noite inteira em festas selvagens e sem sentido.

Mas no final, a culpa é toda deles – Pensou Simon.

A nação e os seus soldados estavam cansados da longa e extenuante guerra. Porém, embora a paz com Garbera finalmente havia chegado com o casamento político entre as duas casas reais para fechar as cortinas, o desfecho não foi exatamente o que todos esperavam que fosse. Para piorar, durante as negociações de paz, o território sul de Apta, que havia desempenhado papel central durante a guerra, foi dividido com Mephius assumindo a ponta curta da vara.

Imprensado entre as duas nações, estava o Ducado de Ende. Este não possuía um vasto território, mas a longa história do país poderia ser traçada até o início da Dinastia Mágica também e sua esfera política se estendia para além dos mares, até os reinos do golfo. Mais ainda, devido a presença da poderosa nação de Arion no oriente, a qual Ende compartilhava uma longa relação devido às suas origens em comum, não era um país que se poderia levar de ânimo leve, caso Mephius decidisse lutar pela supremacia no centro do continente.

Rudy: Um golfo é uma extensão do oceano que segue para dentro do continente, da mesma forma que uma península se trata duma extensão do continente para dentro do mar.

Ende não havia interferido na guerra dos dez anos, mas apesar de continuar mantendo relações comerciais com ambos os países, sinais de uma aliança militar com Garbera tinham se mostrado.

Assim que o Imperador de Mephius recebeu a informação, ele rapidamente voltou com as palavras que proferiu três anos atrás durante a cerimônia de divinamento no Templo do Deus Dragão, “Até que a cabeça do rei de Garbera seja apresentada a mim, jamais irei embainhar a minha espada”, e sugeriu a reconciliação com o reino.

Obviamente, o reino de Garbera não estava convencido da súbita mudança de atitude do Império Mephius, mas eles estavam enfrentando a sua própria cota de conflitos internos. Caso se aliassem com Ende, provavelmente ganhariam contra Mephius. Porém, o dano colateral poderia trazer ruína a Garbera e, concomitantemente, iria expor seu território ao ducado.

Para o reino de Garbera, o qual estava no mesmo dilema cm o Império de Mephius ao seu lado, trouxe para a mesa de negócios o território de Apta. No final, o ponderamento das possibilidades pesou em favor da aliança com Mephius.

Para sua majestade imperial, esta também deve ter sido uma decisão amarga…

Dentro e fora da nação, Guhl Mephius era aclamado “O Imperador com Coração de Dragão”. Parcialmente como um símbolo de medo, porém parcialmente também com tom de ironia.

Por volta do sexto ano de guerra contra Garbera – durante a supracitada cerimônia de divinação – Guhl arbitrariamente fortaleceu a influência da casa imperial para prevenir ruídos na cadeia de comando. O conselho formado majoritariamente por aristocratas, perdeu metade de sua autoridade e existe somente em nome.

Simon Rodloom também fora um dos membros. A casa Rodloom não tinha um sucessor no momento, pois doze anos antes, em troca de uma cadeira no conselho, a família transferiu seus direitos sobre a cidade fortaleza ao oeste para outra casa nobre. Portanto, sem território para governar ou forças armadas para comandar, a casa só existia em nome também.

A situação dele não era muito diferente da dos demais nobres. Exceto para aqueles que mantiveram-se subservientes ao imperador por diversas gerações, o império agora não passava de um sistema sufocante.

Simon se via como aqueles garotos que se empoleiraram ao lado do príncipe antes, tendo simpatia por quem não tinha uma promessa de carreira a ser seguida ou um futuro brilhante lhes esperando. Se a guerra realmente chegasse ao fim e aqueles que se destacaram no campo de batalha recebessem seus títulos, não haveria nada para eles no fim.

Claro, este era um mundo onde as nações estavam sempre em guerra, ou em eminência de guerra. Embora não fosse como se todos os conflitos fossem simplesmente sumir, o império entraria numa hibernação de pós-guerra, onde a próxima oportunidade para subir na vida viria apenas em cinco, dez, ou mesmo doze anos depois.

Quanto a parte da ironia no título de “O Imperador com Coração de Dragão” se devia ao fato de que ele era dragão apenas nos sentimentos, pois mesmo recebendo a autoridade ditatorial em seu domínio, ele não tinha sido capaz de demonstrar esta influência para além das fronteiras.

Apesar de que isso simboliza bem o atual estado de Mephius. — Pensou Simon sem hesitação enquanto se autodepreciava simultaneamente. Ele, que uma vez fora membro do conselho, deixou seu cargo para virar a babá do príncipe.

Quando Gil saiu as pressas de seu quarto com roupas novas e o cabelo arrumado, ele pediu para que diminuísse o ritmo e andasse ao lado dele.

— Pare de agir como uma cortesã me dando ordens o tempo inteiro.

— Mantenha a calma, príncipe. Depois de casado, você vai ouvir a mesma coisa praticamente todos os dias.

— Mantenha a calma uma ova! Acha que vou obedecer a uma pirralha três anos mais nova do que eu?

— Mesmo sendo mais nova, a princesa Vileena de Garbera é alguém que já passou por muita coisa. Não se esqueça que ela tomou a coragem para vir até outro país, lhe confrontar, meu príncipe.

— Por que você fala como se isso fosse algum tipo de guerra?

— Porque o casamento é uma guerra. A linha tênue entre quem vence e quem perde fica ainda mais fina e não se esqueça que numa campanha, a coisa mais importante é ganhar informação sobre o inimigo. Vai me dar ouvidos que tenho a dizer, agora?

A ideia de Gil era fazer uma piada, mas, para sua surpresa, ele acabou espetando um vespeiro, por acidente. E Simon não deu a mínima para as contestações do príncipe enquanto iniciava a narrativa sobre os contos da lenda de princesa Vileena.

Por volta de cinco anos atrás, quando Garbera estava no meio de uma rebelião, devido a um plano orquestrado por um dos nobres de Mephius, a vila onde residia o antecessor do rei de Garbera foi tomada de assalto. A princesa Vileena, que estava visitando o seu avô na ocasião, foi tomada de refém, porém os rumores dizem que ela lutou bravamente contra seus raptores e inclusive ajudou na soltura dos outros reféns.

Garbera também era conhecida pelos grandes depósitos de fósseis de dragão, que podiam ser refinados em um metal desprovido de peso chamado de Pedra-do-Dragão, tornando-se a maior fonte de renda da nação. Deste metal eram criadas as aeronaves de batalha, as quais a princesa foi reconhecida como uma das melhores pilotos do modelo Garberan de um único assento.

— De fato, a cada poucos anos é realizado uma grande corrida de aeronaves em Garbera e a princesa terminou em segundo colocado.

— E mulheres podem participar da corrida? – Perguntou o príncipe com um olhar aborrecido – Ela já fez catorze anos e continua agindo como uma criança. Se fosse aqui em Mephius, nunca que uma chegaria perto dos controles desses veículos. Eu não consigo me imaginar casado com uma mulher passeando pelos jardins do palácio numa aeronave. As pessoas apontariam o dedo e ririam de mim. “Por que o príncipe da dinastia de Mephius permitiria sua mulher fazer maluquices assim?”, eu preferiria casar com uma mulher bonita qualquer no meio da cidade do que com ela! Simon, como eu faço para cancelar esse casamento!

Gil deu um longo suspiro, mas era Simon quem gostaria de suspirar mais. Como um príncipe de uma linha de conquistadores poderia priorizar sua própria satisfação ao invés do império e de seu povo?

O príncipe não é uma pessoa ruim, mas as coisas idiotas que ele pensa e fala só causam intriga e confusão desnecessária. – Pensou Simon internamente – Mesmo perdendo uma parte do território ao sul, império conseguiu fazer as pazes com Garbera e ainda frustrou os planos de Ende. Como ele não consegue perceber isso? Seu pai é um verdadeiro herói da nação.

Mas o que ele tem de grande herói, carece-lhe de bom pai…

— Pai, o senhor chamou por mim?

Os dois haviam chegado aos aposentos do imperador. Ainda era muito cedo pela manhã e os portões do salão imperial continuavam fechados. No entanto, o impaciente Imperador Guhl Mephius já se encontrava em audiência com diversos homens na mesa do café da manhã, ouvindo cada palavra que tinham a dizer.

Então, diante de todos os nobres – aqueles que futuramente se tornariam os vassalos de Gil – o imperador bradou furioso a seu filho.

— Quanto tempo acha que faz desde que lhe chamei! Você ainda não tem território ou qualquer soldado para dar ordens. Não trabalha e ainda consegue se afastar aonde meus olhos não consigam ver? Você é uma vergonha que só se preocupa em vadiar a noite toda!

— M-mas, pai, eu…

— Meu único filho é um imprestável idiota! É patético saber que a maior desgraça encontrada na longa história da nossa dinastia será você!

Simon olhou penosamente para o príncipe que tremia ao selado. Ele também observou por cima do ombro a figura do imperador esbravejando de raiva com mais e mais rugas aparecendo no rosto enquanto seu temperamento piorava.

— Você tem alguma ideia de quanta coragem a princesa mais do que você, meu filho? Uma mulher que pilota aeronaves e segura uma arma melhor do que a maioria dos soldados ordinários! E quanto a você? Já viu a disparidade que há entre os dois? Talvez o maior mérito na sua vida tenha sido ficar noivo dela! Você já teve a honra de matar um dragão? Capturar um membro vivo da tribo do povo dragão? Ou quem sabe descobrir uma nave espacial das antigas civilizações enterrada em uma ruína? Ah, eu quase me esqueci, esses são feitos que apenas um homem de verdade, nascido de uma longa dinastia conseguiria cumprir!

O imperador deu um tapa cômico sobre a mesa, ganhando a gargalhada dos vassalos ao redor dele. Quando todos presentes acompanharam a zombaria, ele adicionou mais uma linha em satisfação.

— Você deve tomar cuidado, meu filho. Ou então na noite de núpcias, quem vai usar um vestido e ser carregado para alcova será você pela princesa.

Que cena deplorável… – Mas claro, Simon não proferiria em voz alta seus sentimentos.

Entre os presentes na mesa estava Ineli, a filha mais velha da segunda esposa do imperador, Melissa. Simon sabia que na frente da garota de pele branca e macia, e de cabelos lisos e sedosos, o príncipe sempre agia com mais maturidade. Porém agora, mesmo tendo sido ela a tomar a iniciativa ontem de convidar Gil para assistir a arena dos gladiadores, a princesa não conseguia esconder a risada, abaixando a cabeça para tentar suprimi-la.

Rudy: Eu só gostaria de lembrar que a Melissa já tinha a Ineli antes de se casar com o imperador Guhl Mephius. Gil e Ineli são irmãos apenas no papel.

No final, Gil mal pode proferir uma palavra em sua defesa.

— Não posso dizer que eu esteja satisfeito com esta situação também. – Quando o imperador fez sua saída, Fedom Aulin se aproximou de Simon.

Mesmo sendo mais jovem que Simon, o corpo obeso e a cabeça quase careca de Fedom o faziam parecer muito mais velho. Este homem era o nobre encarrego pela Fortaleza de Birac e a área ao redor, sendo também o principal orquestrador das negociações de paz e o mais proeminente senhor de terras entre os aristocratas com olhares mortificantes ao seu redor. Porém, Simon manteve-se vigilante sobre ele.

Embora tamanhas qualidades, em verdade, dificilmente significavam que ele era um grande homem.

— O príncipe não poderia carregar o império com ombros tão frágeis e inconfiáveis. Se comparado com as massas que nasceram destinadas a viver na rua, só podemos dizer que o príncipe nasceu nada mais e nada menos com boa sorte.

Fedom balançou a cabeça em decepção e baixou sua voz ao tom de um sussurro.

— (A insatisfação com a família real tem ganhado força. Por enquanto, o imperador Guhl Mephius tem mantido as coisas sob controle com respeito e tomor em razão de seus feitos, porém quando chegar a vez do príncipe Gil assumir ao trono… Do jeito que as coisas estão, é só uma questão de tempo até que oposicionistas façam a sua jogada. No entanto, considerando o futuro da nação, quem poderia julgá-los como traidores?).

Era óbvio que quando ele se referia aos “oposicionistas” estava falando de si mesmo. Todo aquele teatro para cima de Simon servia apenas para mensurar se ele poderia se tornar um aliado ou não. Pois caso a conspiração fazasse, o número de casualidades em Mephius seria superior até mesmo ao ocorrido na guerra dos dez anos com Garbera.

— O príncipe ainda é jovem. – Disse Simon, sem demonstrar qualquer alteração em seu rosto – Qualquer coisa poderá acontecer ainda. Até mesmo sua majestade quando jovem, era indigna do título de “Coração de Dragão”. O que precisamos fazer é nutrir o príncipe para que juntos possamos guiar a nação a um futuro melhor.

— Hahaha! Isso é a sua cara mesmo, lorde Simon! Seus olhos não estão no presente, mas sim no futuro!

Fedom fendom acariciou em satisfação o seu queixo nu. Quanto a Simon, um sorriso involuntário se formou em seu rosto.

Bem, eu espero que esta esperteza este homem tenha compreendido o significado das minhas palavras de um estudante de honra.

Simon estava preocupado com a situação atual de Mephius e sabia que era impossível para o príncipe no presente momento fazer qualquer decisão meritosa também.

No entanto, não importava quais fossem seus temores, tudo começaria a se decidir de maneira inesperada muito em breve e Simon não se distanciaria de tais acontecimentos. Tendo presenciado de perto as mudanças que guiariam o destino de Gil Mephius, o pensamento de Simon era que o que o destino reservou para a nação era muito mais promissor do que as maquinações que Fedom Aulin arquitetou com seus métodos.

O chamado Império Mephius, que se orgulhava de sua força como uma “Dinastia Imperial”, remontava a sete gerações antes do atual imperador, Guhl Mephius.

Os Campos de Domick, que cortavam diagonalmente as montanhas, compunham, naquele momento, todo o território do império. No centro, erguia-se a famosa Torre Negra, conhecida como a “Espada forjada a partir dos destroços da proa da Nave de Imigrantes Espaciais”, cercada em círculo pela capital imperial, Solon.

Em meio à fortaleza natural formada por vales intricados, emergia-se inúmeros pequenos fortes, que mal podiam ser chamados de castelos. Eles protegiam grandes cidades, bem como as pequenas vilas espalhadas pela região. Cada forte, juntamente com as cidades e vilarejos ao redor, era administrado por um oficial, enquanto os nobres usurpavam e governavam diversas dessas regiões.

A tarde caía.

Gil Mephius cavalgava a toda velocidade sobre seu cavalo favorito.

A oeste, os Campos de Domick brilhavam em um tom vermelho intenso, enquanto, a leste, as montanhas e falésias erguiam-se como uma muralha negra, envolvendo a paisagem em trevas. Se ele olhasse para a encosta que subia ao oeste, veria as montanhas rochosas onde a Família Mephius construíra seu castelo três gerações atrás.

Diziam que, para esculpir cuidadosamente a mansão de calcário, haviam empregado não apenas a força de humanos e dragões, mas também o poder de alguns magos, raros em Mephius. No passado, o castelo servira como salão de reuniões após a construção da nova fortaleza, mas, agora, essa função existia apenas no nome.

Gil, no entanto, sequer lançou um olhar àquela construção histórica enquanto cavalgava pela estrada que levava à cidade, passando pelas estátuas do rei fundador de Mephius e de inúmeros heróis alinhadas ao longo do caminho.

Droga!

Por mais que tentasse esvaziar a mente, o rosto severo do pai, as vozes debochadas, a imagem de Ineli com os ombros encolhidos e o corpo trêmulo voltavam a assombrá-lo.

— Sobre os planos para amanhã?

Mais cedo, ao meio-dia, ele voltara a convidar Ineli, que respondeu com um olhar sedutor, seus olhos fascinantes reluzindo de maneira encantadora.

— Não acabou de ser repreendido pelo nosso pai esta manhã? Sua audácia, sem dúvida, é digna de um imperador… Mas não deveria ser um pouco mais prudente?

Página Rakuin No Monshou Animexnovel Light Novel Volume 1 12 do capítulo Rakuin no Monshou – Capítulo 2 – Volume 1

Segurando a barra da saia, ela fez uma reverência diante dele. Seus olhos, no entanto, voltados para ele com um olhar de soslaio, pareciam testá-lo. E, assim como acontecia quando ficava diante de seu pai, Gil ficou sem palavras. Ela então virou-se e partiu, deixando para trás apenas um breve:

— Tenha um bom dia.

Enquanto cavalgava, Gil cerrou os dentes.

Ela definitivamente estava me provocando.

Aquele olhar doce, aquele olhar sutilmente inclinado para cima… Ineli estava zombando dele, sem precisar dizer nada.

Então, ainda tem medo do seu pai, não é?

Um garotinho que só sabe obedecer às ordens dele não pode me fazer companhia.

Agora, por que não volta correndo para o seu quarto e brinca sozinho?

Naquela noite, ele sequer chegou a ficar embriagado, mesmo que de leve. Quando o dia caiu, o pó de lírio-negro que costumava misturar ao álcool, substância que sempre o ajudava a esquecer as coisas irritantes do cotidiano, teve um efeito estranho.

Como se não fosse o suficiente, ele acabou dobrando a dose habitual. Foi então que, tomado por uma embriaguez severa, sentiu um desejo incontrolável de cavalgar. Não chamou os amigos. Naquele dia, queria estar sozinho.

Gil jamais recebera uma palavra gentil do pai. Raramente o vira sorrir.

Antes de completar dez anos, acompanhou uma caçada a dragões selvagens. Naquela ocasião, como parte de um “teste de coragem”, pisou no pescoço de um dragão que acabara de ser abatido a tiros. Seu pai, Guhl, ao vê-lo naquela pose heroica, com o queixo erguido e os braços cruzados, riu, exibindo os dentes brancos.

— Vejam só, um herói matador de dragões! Meu filho ascenderá aos céus devorando essas criaturas!

Gil não conseguia sentir raiva ao lembrar-se desses momentos. Pelo contrário, era a única recordação boa que tinha do pai.

Ele deve me odiar, pensou.

Era óbvio que não tinha o talento de um herói. Quantas vezes o pai suspirara durante seus treinos com espada? E fazia isso em público, como naquela manhã. Todos os membros da corte estavam ao lado dele. A única que o defendia, sua mãe, morrera cinco anos antes.

No ano passado, seu pai tomou Melissa, uma viúva de uma família influente, como segunda esposa. Com ela, vieram duas filhas de um casamento anterior. Por ainda estar de luto pelo marido falecido, Melissa era alvo de inúmeros boatos maldosos no palácio. Mas, além disso, havia algo nela que desagradava Gil. Era óbvio que ela não era sua mãe. No entanto, assim como os velhos conselheiros fiéis ao imperador, era alguém que seu pai jamais desprezaria.

E então havia Ineli, a filha mais velha de Melissa… Ao lembrar-se de sua expressão estranhamente sedutora naquela noite, Gil, tomado por uma fúria súbita, golpeou os flancos do cavalo com força.

— Oh?

Entre as pessoas que quase foram atropeladas pela cavalgada desenfreada, estava Fedom. Ele voltava da casa de sua amante. Olhando para os companheiros, perguntou:

— O que foi isso? Não era o príncipe herdeiro?

— Tem certeza?

— A essa hora, sozinho?

— É bem possível que fosse Sua Alteza – respondeu Fedom com um toque de cinismo.

— Nada de muito estranho nisso. Alguém vá atrás dele. Se houver qualquer problema, usem o meu nome para trazê-lo de volta com gentileza.

As ruas estavam movimentadas, então Gil diminuiu a velocidade do cavalo, abrindo caminho entre as pessoas que riam e celebravam. Não carregava nenhuma insígnia real, e o povo só conhecia seu rosto através dos retratos vendidos nos festivais. Assim, poderia passar despercebido sem problemas.

E, de fato, ninguém o reconheceu. Ainda assim, não conseguiu ignorá-los e, por algum motivo, ver aqueles rostos felizes o irritava profundamente. Apesar da melodia leve da cítara e da flauta, tinha a sensação de que estavam zombando dele.

Seu coração bateu mais forte. A droga começava a surtir efeito, e sua mente mergulhou no caos. De repente, tudo ao seu redor parecia se dissolver em uma miscelânea de cores disformes e pegajosas que o puxavam para dentro. Os rostos dos cidadãos se retorciam em caretas demoníacas.

Parem…

Todos estavam rindo. Todos o apontavam com dedos retorcidos como garras.

Olhem só, é o príncipe de Mephius! Esse homem não passa de uma criança, sempre com medo do próprio pai!

Nem sequer consegue cortejar uma mulher. Um fracasso deplorável!

Ele deveria morrer. Um príncipe inútil como ele não serve para nada.

PAREM!

As cores disformes ondulavam e se contorciam, pressionando seus sentidos, e o medo sufocado dentro de si inflamava sua repulsa e terror. Arrependeu-se profundamente por não ter trazido uma arma consigo. Se ao menos pudesse encher aqueles miseráveis de chumbo, talvez sua mente clareasse…

— Vossa Alteza, Gil?

De repente, alguém segurou as rédeas de seu cavalo. A princípio, pareceu-lhe uma daquelas figuras demoníacas, mas, ao focar melhor a visão trêmula, reconheceu um rosto familiar.

Era um homem armado com espada e pistola na cintura. Sem dúvida, um dos guardas imperiais, autorizados a portar armas mesmo em tempos de paz. No entanto, sem o uniforme militar, parecia outra pessoa.

— Tem algum assunto a tratar por aqui?

— Não…

Gil balançou a cabeça, tentando demonstrar normalidade. Os guardas imperiais respondiam diretamente ao imperador e estavam sempre ao lado de seu pai. Ele não tinha qualquer intenção de criar laços com eles.

— É perigoso andar sozinho a esta hora. Deixe-me chamar um mensageiro para escoltá-lo de volta ao palácio.

— Não se preocupe. E, diga-me, o que está acontecendo aqui?

— Ahh.

O soldado, um homem de meia-idade, sorriu com certo constrangimento e apontou para o centro da rua.

— É o casamento de minha filha – disse, rindo.

Sobre uma carruagem sem cobertura, um casal de noivos vestia trajes de gala. A jovem sorria radiante. Seu vestido branco, embora mais simples que os que Gil costumava ver na corte, parecia brilhar de maneira singular.

O corte ousado do vestido revelava parte do colo, ressaltando suas curvas femininas.

— Vossa Alteza também deveria cuidar do próprio corpo. Está na idade de se casar. Posso chamar um subordinado e levá-lo de volta ao castelo…

Gil já não ouvia mais.

O riso, os sons, as danças… Tudo tremeluzia diante dele como sombras grotescas.

Por que estavam todos tão felizes? Mesmo ele, príncipe herdeiro do trono imperial, nunca experimentara algo assim. Ou talvez fosse o contrário? Talvez, justamente por serem plebeus, vivessem sem medo. Não escolhiam seus destinos. Apenas recebiam o que lhes era dado e lamentavam o que lhes era tirado.

Se ao menos eu pudesse viver assim…

A irritação cresceu. A dor latejante em sua cabeça tornou-se insuportável. O corpo inteiro tremia. As sombras diante dele vibravam.

Então, Gil sorriu. Um sorriso torto, sombrio.

Que pensamento tolo. Invejar a felicidade dessas criaturas insignificantes. No fim das contas, tudo isso pertenceria a ele.

Só precisava lembrá-los desse fato.

— Reivindico o direito de primeira noite.

— Eh?

O oficial da guarda imperial, segurando as rédeas de seu cavalo, ergueu a cabeça mais uma vez. Embora Gil estivesse limpando a baba do canto da boca, o tom de suas palavras era claro.

— Eu exerço o direito da família imperial à primeira noite.

— PRÍNCIPE!

O grito do oficial fez com que todos ao redor voltassem o olhar para eles.

Vocês estão finalmente me olhando?

No auge da embriaguez, Gil riu ainda mais. Se tivesse um espelho à mão agora, veria que seu rosto se assemelhava às figuras demoníacas sobre as quais estivera divagando mais cedo.

Vocês finalmente percebem que eu não sou um de vocês, não sou apenas mais uma vida, não sou apenas mais um ser humano?

Os homens da família imperial Mephiana possuíam o chamado direito à primeira noite. Isso significava que, se houvesse um casamento entre um homem e uma mulher em qualquer parte do domínio, quase sem exceção, ele poderia tomar do noivo o direito de passar a primeira noite com a noiva.

Houve uma época em que se acreditava que o sangue de uma virgem era algo impuro e que deitar-se com membros da realeza ou sacerdotes detentores de poder purificaria esse sangue — embora, na prática, fosse apenas um meio de extorquir altos impostos pagos para evitar esse direito.

A lei foi estabelecida há pouco menos de duzentos anos, em meio às sucessivas batalhas contra a Tribo do Povo-Dragão (Ryuujin) que empobreceram a civilização humana.

Atualmente, o direito à primeira noite havia se tornado uma lei morta. Assim como o sistema de seleção da guarda imperial.

— Prepare um lugar, guarda imperial. Você está ouvindo o que estou dizendo? Se desafiar a família imperial, não apenas você, mas a noiva também irá para a guilhotina.

Surpresa e confusão se espalharam pelo círculo, formando uma onda ao redor de Gil. O riso cessou, os cânticos pararam e a dança se desfez. O olhar do jovem casal no topo da carruagem congelou.

Por outro lado, Gil não parou de rir. Pelo que sabia, o direito à primeira noite jamais havia sido reivindicado antes. Nem mesmo por seu pai, Guhl Mephius.

Seu pai não dizia que ele nunca se tornaria tal homem? Alguém cujo nome ficaria marcado na história? Até mesmo Ineli não tentava provocá-lo? Ele mostraria que superaria seu pai. A partir de agora, ninguém poderia dizer nada.

Em um mundo que mergulhava no silêncio ao seu redor, Gil era o único que se sentia verdadeiramente satisfeito, do fundo do coração.

Meia hora depois, Gil mantinha a noiva esperando no segundo andar de uma taverna barata nas proximidades. A segurança da sala fora confiada ao mesmo guarda imperial de antes. Sorrindo amplamente para si mesmo, ele subiu as escadas com uma garrafa de álcool. O som da madeira rangendo era estranhamente confortável.

Ele escancarou a porta, e a figura sobre a cama se moveu com um tremor. Estava escuro. A única luz vinha de uma lamparina encardida pela fuligem, sobre o travesseiro.

— Príncipe — a mulher esfregou as mãos, tentando suplicar.

— Por favor… por favor, deixe isso passar. Se for pelo imposto, eu pagarei! Perdoe-me! Eu ainda… ainda não entreguei meu corpo a nenhum homem. Nem mesmo ao meu marido…

— Por isso mesmo se chama direito à primeira noite, não é? — Gil zombou.

— Eu cuidarei de todo esse sangue impuro. Depois disso, você pode se deitar com seu marido em paz, o quanto quiser.

Jogando suas roupas de cima, Gil deslizou para perto dela na cama. A noiva soltou um grito e se afastou. Ele podia ver a carne de suas nádegas pressionando contra o tecido fino. Sua garganta roncou.

Naquele instante, houve batidas violentas na porta. Estalando a língua e virando a cabeça, Gil viu o guarda imperial entrar no quarto e ergueu um olhar severo.

— É insensato um pai invadir a noite de núpcias da própria filha. Embora eu tenha ouvido falar de um costume em que testemunhas são convidadas para a primeira noite da realeza, esse não é o seu caso. Dê o fora.

— Príncipe, por favor reconsidere! Isso é uma desonra para a casa imperial de Mephius!

— O que está dizendo? Alguém como você não tem posição para menosprezar a família imperial. Desrespeitá-la abertamente como acaba de fazer é digno da pena de morte!

O guarda imperial, Rone Jayce, encarou diretamente os olhos do príncipe. Eles estavam desfocados, e espuma escorria de sua boca. Com um único olhar, viu que eram os efeitos do pó de lírio-negro. Enquanto o príncipe mantinha seu olhar afiado, continuava a balbuciar palavras incoerentes.

— Eu… eu sou da família imperial Mephiana… não… sou filho de Guhl Mephius. Se estão dizendo que o próprio país se opõe a mim, ótimo! Farei com que você e sua família sejam jogados em um coliseu sem escapatória! Sofram sob as presas de um dragão até que seus corpos sejam devorados! Se não gosta disso, pode ir embora. Ou o quê!? Ainda não é o suficiente? Podemos retomar o casamento depois. Faço questão de usar uma daquelas vestes cerimoniais também.

Gil virou-se de costas, expondo sua pele branca.

Ah…

Naquele estado indefeso, Rone hesitou, tomado por uma indecisão avassaladora.

Bang! — O estrondo de um disparo ecoou pelo quarto.

◇◇◇

Após receber as notícias de seu assistente, Fedom correu até a frente da taverna, segurando a espada com firmeza.

O direito à primeira noite, de todas as coisas!

Ao olhar para o lado, viu várias figuras reunidas, fundindo-se com a escuridão em um ponto onde não se destacavam nas ruas. Todos os olhares estavam cravados nele, e um calafrio percorreu sua espinha. A cena o fez lembrar de um pavio encharcado. Você o deixaria de lado, pois acreditaria que ele não explodiria de qualquer forma, mas, se ao acaso uma fagulha forte o atingisse, ele poderia explodir num instante.

Fedom pigarreou e avançou para a entrada da taverna. Vários membros da guarda imperial estavam postados na porta, com expressões confusas. Haviam sido convocados por seu oficial superior, mas não tinham recebido explicação sobre o motivo de estarem ali. Fedom ergueu sua insígnia de membro do conselho e foi autorizado a entrar.

Então – BANG! – um tiro ecoou, fazendo seus tímpanos vibrarem.

Por um instante, Fedom permaneceu imóvel. Em seguida, disparou escada acima. Seu assistente, um excelente guerreiro, seguia à frente e abriu a porta. Ambos prenderam a respiração. O cheiro de pólvora invadiu suas narinas. No chão precário do edifício, uma poça de sangue se espalhava.

Diante daquela cena, um silêncio estranho pairou sobre eles.

Por um tempo, Fedom não conseguiu pensar em nada. Sua mente parecia se recusar a aceitar aquilo como realidade. Apenas ficou ali, imóvel, encarando a cena sem reação. No entanto, pouco a pouco, a verdade foi corroendo seus pensamentos, e uma ideia começou a se formar em sua mente. Até mesmo ele achava aquilo absurdo. Era demais.

Não…

Fedom engoliu em seco. Não seria aquilo uma revelação dos céus? Uma chance de quebrar a casca do velho império e renovar seu sangue? Ele poderia dar um novo significado a este país, algo condizente com a era turbulenta em que viviam. Não seria este um sinal divino de que apenas ele poderia realizar tal feito?

Apesar do fedor de sangue impregnando a taverna, os olhos de Fedom pareciam brilhar como se envoltos por uma luz dourada. Sentiu um arrepio percorrer seu corpo, um misto de excitação e medo o fez perceber que, se realmente desejava aquilo, precisava agir rápido. Impaciente, tomou uma decisão.

Primeiro, ordenou a seu subordinado que ninguém mais entrasse naquela sala. Depois, aproximou-se do homem e da garota que tremiam abraçados sobre a cama.

— Estou preparado – disse o oficial imperial.

— Mas minha filha e minha família não têm culpa de nada. Eu assumo toda a responsabilidade. Por favor, tenha misericórdia de todos, menos de mim. Farei qualquer coisa que desejar. Se quiser me lançar no coliseu, enfrentar um dragão de mãos vazias, oferecer meu pescoço à guilhotina ou me amarrar a quatro dragões para me despedaçarem, eu aceitarei.

— Oh?

As bochechas de Fedom tremeram. Ele lançou um olhar rápido ao homem caído, de costas expostas. Ele não se movia. Parecia já não estar mais respirando.

— Não tema — disse Fedom, ainda que sua voz estivesse trêmula. — Ele ainda está vivo.

— O quê?

— Não me ouviu? Ele ainda está vivo. Não tema. O príncipe herdeiro se recuperará.

Rone Jayce permaneceu em silêncio, atônito. Fedom, sem hesitar, prosseguiu:

— Muito bem. Se realmente deseja proteger sua família, exijo que não diga uma única palavra sobre o que aconteceu aqui. Se eu ouvir qualquer coisa através de outra pessoa, você, sua família e todos os seus parentes serão os primeiros a servir de alimento para um dragão. Entendeu? Em outras palavras, estou dizendo que, neste momento, esse não é o caso. Compreendeu?

O guarda imperial, Rone Jayce, ergueu os olhos de repente. O sangue em seu peito ainda escorria. Sua filha continuava agarrada a ele. Sobre suas cabeças, o rosto de Fedom se erguia, observando-os. O olhar vago e indecifrável lembrava muito o de Gil, pouco tempo atrás.


Tradução feita por fãs.
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