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Rakuin no Monshou – Capítulo 1 – Volume 3

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Rakuin no Monshou
Emblem of the Branded

Light Novel Online – Capítulo 01:
[Saindo da Capital Imperial]


Um pardal andava perdido pelas pedras do calçamento.

Ele virou a cabeça uma vez, duas, confuso com a sensação de estar fora do lugar, e então bateu as asas, assustado.

Logo em seguida, uma rajada de vento passou quando uma sombra gigantesca cruzou o céu. À primeira vista, parecia uma criatura viva. Seu pescoço era comprido, o rosto feroz exibia presas afiadas, e as grandes asas se estendiam aos lados, um wyvern.

Mas, na verdade, não existiam dragões alados vivendo naquele continente. O seu uivo, agudo como o ranger do metal, vinha do motor de éter que vibrava em seu interior, e sua pele era feita do leve metal conhecido como pedra-dragão, com uma leve camada de pintura em bronze. Em resumo, tratava-se de uma aeronave do Império de Mephius.

Esses wyverns artificiais, com seus pilotos a bordo, decolavam um após o outro.

Orba ergueu o rosto para observá-los, usando a mão como viseira contra o sol.

Na frente da formação, ia um homem chamado Neil Thompson. Só pelo fato de ter certa habilidade, já se destacava entre os demais. Neil inclinou com precisão as asas da nave, fazendo uma curva elegante, enquanto os outros tentavam acompanhá-lo às pressas, como pintinhos correndo atrás da mãe.

Mas foi justamente a ele que Orba lançou palavras de reprovação assim que pousaram.

— Este não é lugar pra fazer exibição. Preste mais atenção nos outros. No campo de batalha, você não vai conseguir fazer nada sozinho. Agora, vai de novo.

Pressionados por Orba, ou melhor, pelo príncipe herdeiro do Império de Mephius, Gil Mephius, os pilotos decolaram novamente, às pressas.

— Não precisa ser tão duro, né? Acho que eles estão indo bem — disse Shique, encostando-se ao ombro de Orba.

Orba o afastou com um gesto brusco.

— Não importa o quanto estejam indo “bem” como escravos. Você acha que eu posso me contentar com esse nível?

No campo de treinamento, perto dos alojamentos da Guarda Imperial, haviam reconstruído uma pequena arena de gladiadores. Mesmo sendo chamada de pequena, ela era ampla por dentro e comportava uma pista de voo para aeronaves. Além disso, ficava ao lado do estábulo dos dragões.

— Mas, olha, Orba — falou Gowen, o rosto de bronze endurecido —, ainda não faz nem um mês desde que você criou essa unidade aérea. Não adianta perder a paciência.

— Não esperava ouvir isso de você. Foi você quem me mandou matar depois de só duas semanas de treino com espada.

— Não tem por que comparar com os escravos, tem? — retrucou Gowen, devolvendo as palavras. — Agora é diferente. Não dá pra comprar quantos quiser.

Mesmo que aqueles ex-escravos fossem tão bons quanto soldados em combate individual, ainda tinham dificuldade em agir em grupo. E o fato de ser Gowen que estava treinando, do zero, a infantaria formada por esses escravos, dava mais peso às palavras.

Orba não disse mais nada. Sua expressão se contraiu de leve ao cruzar os braços. O direito estava enfaixado e pendia imóvel.

Já tinha se passado cerca de meia quinzena desde o motim de Zaat Quark. Orba ainda se recuperava dos ferimentos que sofreu durante os combates do torneio de gladiadores, sem contar o tiro que levou de Zaat. Mesmo assim, uma semana antes, ele foi convocado pelo imperador e recebeu a ordem de seguir para a cidade de Apta, ao sul, território conquistado durante os dez anos de conflito com Garbera e onde seu irmão Roan havia sido enviado. Não havia tempo para descanso. Quando Shique e Gowen achavam que ele estava trancado no quarto, enfiado em livros, encontravam-no ali, supervisionando com fervor o treinamento da Guarda Imperial.

— Ah, ficou calado de novo — comentou Shique, dando de ombros com humor. — Quando você fica assim, a gente começa a se preocupar. Parece até que está tendo pensamentos perigosos.

Naquele momento, uma voz animada ecoou:

— É uma cena maravilhosa, não é?

Ao ouvir aquela voz, deslocada em meio àquele ambiente bruto, o rosto de Orba enrijeceu por algum motivo.

Gowen e Shique acharam graça na reação e viraram-se sorrindo.

— Me dói dizer, mas não é algo que uma dama de verdade deveria estar vendo.

A figura diante deles era Vileena Owell, terceira princesa de Garbera, acompanhada de sua dama de companhia, Theresia. Os cabelos prateados brilhavam sob a luz da manhã. Desde que chegou a Mephius, ela vinha sendo mantida nos aposentos femininos, mas depois de voar junto ao príncipe durante o motim de Zaat, conquistou uma certa liberdade. Dois dias antes, ao saber no café da manhã que a Guarda Imperial faria treinamentos aéreos, exclamou que precisava ver com os próprios olhos.

Ela acompanhava os movimentos das aeronaves com os olhos semicerrados e as bochechas coradas de leve.

Ela é mesmo uma princesa diferente.

Orba reafirmou esse pensamento.

Depois da missão em Apta, eles se casariam oficialmente como o imperador Guhl havia declarado. Mas essa informação tinha sido passada para Gil apenas, sem nenhum anúncio público. Com as negociações em torno do casamento ainda indefinidas, Vileena continuava em uma posição frágil.

— O príncipe é perfeccionista demais — comentou Shique, voltando de propósito ao assunto anterior. — Diz pra eles voarem em formação como a unidade aérea de Garbera depois de menos de um mês de treino.

— Eu não… — tentou retrucar Orba, mas antes que completasse…

— Tudo tem um começo. Treinamento aéreo, em especial, sempre envolve riscos. Se não prestar atenção à condição dos pilotos, à manutenção das aeronaves e tudo mais, a unidade será destruída antes mesmo de amadurecer, Alteza.

Vileena falava com propriedade. Era uma especialista em aeronaves. Mesmo com seu rosto jovem, a voz saía firme.

— Mas também não falta muito para partirmos.

Orba desviou o olhar. Vileena tentava encará-lo diretamente.

— Não daria pra continuar o treinamento em Apta? — sugeriu Shique. — Parece até que você acha que Ax vai declarar guerra assim que chegarmos lá.

O motim de Zaat foi sufocado por Orba, mas aconteceu durante o festival de fundação, diante de vários emissários estrangeiros. A notícia se espalhou rápido e, para piorar, surgiram relatos de movimentações suspeitas vindas da província de Taúlia, ao sudoeste de Mephius.

Taúlia fazia fronteira com Apta. Era possível que o general Ax Bazgan aproveitasse o momento em que Apta fosse devolvida por Garbera para marchar com seu exército.

Por causa do motim, Guhl Mephius mal conseguia confiar até mesmo em seus mais antigos vassalos. Foi por isso que colocou seu filho legítimo, Gil, no comando das tropas de Apta, julgando que seria arriscado dividir as forças naquele momento.

— Seria problemático se eu não deixasse tudo pronto o quanto antes. Aprendi isso com o caso do Zaat. Não importa o quão pacífica tenha sido nossa aliança com Garbera, as brasas da revolta ainda queimam aqui dentro. Melhor pecar por excesso do que negligência.

— Falando em Zaat Quark, não vi mais a Ineli desde o incidente. Vossa Alteza chegou a encontrá-la?

— Ineli?

Orba se surpreendeu com o nome inesperado.

— Não. — Balançou a cabeça.

Vileena franziu a testa, irritada.

— Preste mais atenção nas coisas fora do exército também. Ser feita refém por Zaat deve ter sido um trauma. Não está trancada no quarto desde então? Estava pensando em visitá-la, que tal irmos juntos?

— Bom, eu…

Orba hesitou. Como Vileena mencionou, Ineli foi feita refém no meio da confusão, e, quando ele e Vileena chegaram para salvá-la, ela tinha uma arma apontada contra si. Mas o que Orba lembrava agora era a cena da festa, em que Ineli e Vileena trocavam olhares de ódio junto à fonte.

A princesa de Garbera parecia ter esquecido daquilo. Mas Ineli… era outra história. Sabendo do seu jeito, ser salva pela rival que tanto detestava devia ter sido humilhante.

— Acho melhor você não ir.

— Por que diz isso?

— Bom, se ela ficou abalada com o que aconteceu, talvez seja melhor deixar quieto. Se eu ou a princesa aparecermos lá, pode acabar trazendo as lembranças ruins a tona.

— Viu, Alteza? Eu lhe disse — comentou Theresia. — Concordo com o príncipe. Se está preocupada com ela, o melhor é deixar que se recupere sozinha.

— O que é isso agora? O príncipe e até você, Theresia, estão tratando meus sentimentos como se eu fosse uma criança sem noção.

Ela logo fez beicinho e bateu o pé no chão. E, na verdade, era bem por isso mesmo que Orba ficou sem palavras. Apesar de jovem, era uma princesa esperta, mas quando se tratava de relações humanas, parecia inocente demais.

Orba olhou de relance para Theresia.

Deve ser difícil pra ela.

A dama se assustou de leve com o olhar, mas abaixou os olhos e riu, como quem dizia é mesmo.

Droga!

Orba também se assustou. Tinha olhado para Theresia como Orba, não como o príncipe. Provavelmente foi isso que surpreendeu a criada.

— Enfim — disse Orba, tentando mudar o clima —, vou esperar paciente pelos resultados da unidade aérea. Agora vou ver como estão os dragões…

Ele se virou para o estábulo ao lado do campo, mas bem naquele momento percebeu algumas figuras vindo em sua direção. À frente, pulando animada, vinha uma garotinha. Parou diante de Orba, puxou a barra da saia e fez uma reverência.

— Saudações, Alteza Imperial.

— Aah.

Era Lannie Lorgo, filha do general Odyne Lorgo, com seus treze anos. Durante o festival de fundação, ela tinha montado em um dragão e feito a cerimônia de maioridade.

— Anda logo! Oh, Romus, você não tem medo de dragões, mas é tímido com pessoas.

Chamou alto o garoto que vinha devagar atrás dela. Como sempre, a saudação do menino diante do príncipe foi fraca.

— Que moleza a sua.

— Não é que ele seja mole, é que a senhorita aqui é forte demais — brincou Orba. — Sua coragem é admirável. Mas o estábulo dos dragões não é lugar pra brincadeira.

— Oh, príncipe, não estamos andando por aí à toa — respondeu Lannie com um ar de dama refinada. — O Romus vem aqui todos os dias. Como veterana, fiquei preocupada.

— É mesmo? Romus, está querendo se tornar um dragoneiro?

— Não está, Alteza. Romus, você vem aqui por causa do dragão, né? Não é porque quer ser dragoneiro, certo?

— E-e o que você tem com isso?

Romus ficou vermelho. Mais alguém se aproximava do estábulo. Era Hou Ran, domadora de dragões designada para a tropa imperial do príncipe. Provavelmente estava observando o treino. Mesmo quando não estava, passava os dias ali cuidando dos dragões.

— Não precisa se preocupar com o Romus.

Ran falou direto, como se tivesse ouvido a conversa toda.

— Ele já está mais acostumado com os dragões que o próprio Orba. Daqui a meio ano, talvez até entenda a “voz” deles. A chance de ser atacado no estábulo é quase nula.

Theresia soltou um leve suspiro de admiração. Ela achava o visual nômade de Ran incomum, e sua combinação de pele escura, corpo proporcional e cabelo claro era hipnotizante.

— Se você diz, deve ser verdade. Como estão os dragões? Já escolheu quais vão com a gente pra Apta?

— Dou conta, desde que estejam no meu alcance. Mas ninguém aqui tem o talento de Romus. Antes de escolher os dragões, Orba precisa escolher os soldados.

— C-certo.

— Além disso, não são dragões demais pra irmos sem o transporte? Com esse número, não dou conta sozinha.

— Sem o transporte?

Shique se alarmou.

— Por quê? Marchar até Apta leva uma semana. Levar dragões e armas seria bem mais fácil com transporte.

— Quero ser visto. Ou melhor, aplaudido pelo povo.

A resposta de Orba foi seca. E nesses momentos, ficava claro que ele não queria se estender no assunto. Shique e Gowen já conheciam esse lado dele, então não insistiram.

— Orba, é?

Mas Vileena parecia fixada em outra coisa. O olhar de Orba dizia claramente: lá vem problema.

— Esse espadachim tem a confiança de todos, hein. Aconteceu no festival, e agora ele também recebeu várias responsabilidades importantes.

— Ah, é. Ele… é útil.

Orba gaguejou e lançou um olhar disfarçado para Ran. Vileena se irritou um pouco.

— Mas ele ficou bem ferido na arena, não foi? Você também se machucou, mas deveria cuidar melhor dos seus subordinados.

— É… tem razão.

Rakuin No Monshou Animexnovel Light Novel Volume 3 15 – Rakuin no Monshou – Capítulo 1 – Volume 3 traduzido

— Por mais forte que você seja, príncipe, nem todos conseguem acompanhar esse ritmo. Acima de tudo, vossa alteza não pode continuar perdendo mais ninguém. Se não permitir que eles expressem suas opiniões e apenas exigir obediência cega, não importa o quanto Orba seja um bom espadachim, até ele vai acabar…

— Ha!

Naquele instante, Ran soltou um riso curto, quase um escárnio. Por um momento, todos ficaram sem reação, sem saber exatamente para quem aquele desprezo fora dirigido.

— Parece que a princesa tem um certo carinho pelo Orba.

Seus lábios se curvaram num sorriso fino e aberto. Em seguida, virou as costas e retornou ao estábulo dos dragões. Romus correu atrás dela, e Lannie foi logo depois, apressada. Orba e os demais os acompanharam com o olhar, atônitos.

— Aquela moça — disse Theresia, pigarreando logo depois —, não lhe parece um tanto… desprovida de modos? Agir assim na frente do príncipe herdeiro e da princesa Vileena…

— Ah. Que vergonha. Peço desculpas pela falta de educação da minha filha adotiva.

Gowen abaixou a cabeça grisalha. Era a primeira vez que Orba via aquele homem corpulento curvar-se tão formalmente.

Mas Theresia não estava realmente zangada. Prova disso foi o comentário seguinte:

— Aquela jovem — repetiu, pausando como para dar mais peso às palavras — é por acaso amante do senhor Orba?

— A-absurdo! Por que pensaria isso?

— Não vejo absurdo algum. Só me pareceu que havia algo entre eles.

— E por que exatamente?

— Ora, quem pode saber? Mas achei o comportamento de vossa alteza estranhamente desorganizado. Pode ser um sinal de que está apaixonado por Sir Orba.

Absurdo… Orba murmurou outra vez, desviando o rosto. Conhecia Hou Ran há mais de dois anos, e nunca tinha percebido qualquer sentimento por ela. Talvez nunca tivesse sentido nada mesmo, ou talvez não devesse sentir. Justamente por isso, ter aquilo apontado assim o deixou incomodado.

Por um tempo, Orba e os demais observaram o treinamento da unidade aérea de forma distraída. Pouco antes do meio-dia, Vileena e Theresia se retiraram da plataforma. A princesa também acompanharia o grupo até Apta, e ainda havia bagagens a preparar.

Quando Orba enfim pensou que teria um momento de descanso, escutou um comentário inesperado de Shique.

— A princesa não está muito animada, né?

— Mesmo? Não percebi muita diferença. Se esse for o humor dela pra baixo, então a Vileena de sempre vai ser uma adversária bem mais difícil do que Ryucown ou Pashir.

— Orba… é, você realmente não entende nada das sutilezas femininas.

— E você, que odeia mulheres, entende?

— Não é porque não entendo que as detesto. É porque entendo demais que não suporto.

Na época em que era gladiador, Shique era incrivelmente popular entre as mulheres. Muitas damas da nobreza chegavam a oferecer verdadeiras fortunas ao mercador de escravos Tarkas para se tornarem suas patronas. E a todas, Shique recusava com desprezo.

— Ainda assim, nem é algo tão complicado. Ela provavelmente ouviu os rumores sobre as tensões entre Garbera e Ende. E claro, não é o tipo de princesa que ficaria indiferente às dificuldades do próprio reino.

— É difícil dizer que Garbera se recuperou completamente da rebelião do Ryucown — concordou Gowen. — Com Mephius foi diferente. Conseguimos impedir antes que começasse. Para os outros, parece até que o problema já foi resolvido. Mas eles foram traídos por um dos generais mais respeitados. Isso deixa marcas.

— Não dou a mínima pros problemas de outros países — cortou Orba, encerrando o assunto.

Em seguida, chamou o capitão Neil de volta e deu fim ao treinamento. Outra unidade usaria o campo logo em seguida. Com Pashir à frente, eram formados por escravos que haviam participado da rebelião recente, homens que Orba decidiu incorporar às suas tropas.

Por terem se aproveitado da rebelião provocada por Zaat, ele não podia simplesmente torná-los soldados regulares. Assim, os designou como escravos de guerra, subordinados à Guarda Imperial.

Orba não tinha mais o que fazer ali. Já havia conquistado o ódio daqueles homens ao impedir a rebelião e não pretendia piorar as coisas permanecendo no local.

Com isso, confiou o treinamento ao próprio Gowen, homem que antes supervisionava os espadachins-escravos e dominava os métodos de treino.

— Deixo o resto com você.

— Aah.

Orba saiu às pressas do campo de treinamento.

Shique permaneceu ali e notou o riso abafado de Gowen, escondido sob a barba.

— Que foi?

— Nada. É que ele disse “deixo o resto com você”… Em menos de dois anos, aquele pirralho virou outra pessoa.

— E se acostumou rápido demais com a posição.

— O estranho não é só ele. Eu também acabei me acostumando a tudo isso.

— É — concordou Shique com um sorriso leve. — Hoje em dia, já não me surpreendo com nada do que ele diz ou faz. Se eu não me acostumar, minha saúde vai pro ralo.

Enquanto Shique sorria, Gowen olhou para a figura de Orba se afastando ao longe.

— Seria bom se fosse só uma questão de costume. Mas ultimamente… ele anda se entregando demais ao papel de príncipe herdeiro.

Essa última frase, dita num murmúrio, perdeu-se no vento e na areia soprada pelo sol de Solon ao alcançar o meio-dia.

◇◇◇

“O imperador Guhl Mephius parou de sorrir”. Orba perdeu as contas de quantas vezes ouviu esses murmúrios dentro do palácio.

O antigo imperador costumava brincar na frente de seus vassalos e encher os salões com sua voz jovial, ou pelo menos foi o que Orba ouviu dizer. O próprio Orba só o encontrou algumas poucas vezes desde que começou a se passar por seu filho legítimo, então não conhecia esse “antigo” imperador.

O mais notável era que o imperador não soltou nem uma risada após a rebelião de Zaat. Seus lábios se curvaram em franzidos, e ele constantemente apoiou o rosto nas mãos, de mau humor.

“Arrepios sempre que ele me olha.” Esses sussurros também ecoaram incontáveis vezes em seus ouvidos. O imperador trabalhou sem descanso para aumentar a autoridade da família imperial, ou, mais precisamente, a sua própria.

Não há mais ninguém que possa fazer uma única objeção a Sua Majestade.

Fedom murmurou pouco antes, com um rosto quase trêmulo.

Se fossem vassalos como Colyne, satisfeitos em apenas seguir ordens, até seria tolerável… mas para nobres orgulhosos como eu, que nutrem o mínimo de preocupação pelo futuro de Mephius, se até esse orgulho for considerado um incômodo e sermos descartados pelo imperador, então mais vale estarmos mortos.

Simon Rodloom…

Esse foi o primeiro nome que veio à mente de Orba. Durante o festival, quando compartilhou o café da manhã com o imperador, Simon expressou suas opiniões sem medo, mesmo logo após Zaat ser confinado.

Se é esse homem, será que ele não se oporia ao imperador sem pensar em ganho pessoal ou autopreservação quando necessário?

Hm?

Orba torceu os lábios, surpreso por ter pensado algo assim. Nunca imaginou que um dia consideraria um nobre de Mephius sequer minimamente digno de respeito, especialmente depois de ter sido um gladiador.

Agora, bem à sua frente, com a cabeça baixa e os olhos fixos em nenhum ponto específico enquanto continuava suas preces, estava o próprio imperador, Guhl Mephius.

Na Torre Negra, coração da capital imperial de Solon. Os soldados de guarda reconheceram Orba e se curvaram. Eles o guiaram até o subsolo da torre. No caminho, passaram por inúmeras pessoas, homens seminus carregando pedras e entulho. A maioria era de escravos ou criminosos.

No subsolo, havia um certo Mausoléu do Deus Dragão, ainda em construção. Enquanto o Templo do Deus Dragão era erguido perto do palácio, todo o mausoléu seria transferido para ali.

O imperador já estava lá, diante de uma enorme escultura que representava a forma do Deus Dragão. Aquele era o local onde realizavam rituais para orar por colheitas abundantes, pouco antes do festival começar. Aquela pintura também seria esculpida e instalada no templo.

Orba cumprimentou com palavras polidas, mas o imperador respondeu apenas com um grunhido e um aceno, ocupado em dar ordens aos presentes.

Ele esperou. Muito.

Dez minutos se passaram até que o imperador se afastou do grupo. Orba baixou a cabeça novamente.

Partirei depois de amanhã.

Entendo.

O imperador passou por ele sem parar, mas, de repente, hesitou e encarou o rosto de Orba.

Você está cada vez mais parecido com sua mãe.

H-Hahah! S-Sério?

Até o famoso gladiador sentiu um suor frio escorrer. O imperador recomeçou a caminhar, e Orba o seguiu.

Não é só o rosto. Muitos dizem que você mudou, como se fosse outra pessoa. E é ver esses mesmos bajuladores afirmando que você herdou meu sangue que me irrita.

Apenas segui conselhos dos meus homens.

Atrás e à frente deles, estavam os Guardas Imperiais, mas mantinham distância. Na fria caverna artificial, um silêncio arrepiante tomou conta, enquanto as vozes e figuras dos escravos se distanciavam.

Foi o mesmo com Zaat? Alguém lhe deu conselhos? Certamente não fui eu. Não fui avisado.

Sim. N-não, quero dizer… o plano foi meu. Só estava inseguro e busquei a sabedoria de Fedom. Mas não mencionei o nome de Zaat nem a urgência, apenas uma hipótese.

E foi sugestão de quem mirar justamente na hora da rebelião? Se me avisasse, teria sufocado Zaat em silêncio, sem que os embaixadores estrangeiros notassem.

O imperador parou. À frente, só havia um precipício de cinquenta metros. A luz fraca de uma vela tremeluzia sobre sua sombra.

Não vou me justificar. Queria… uma conquista que me tornasse reconhecido. Não pensei nos soldados ou embaixadores, fui apenas insensato. Peço perdão.

Isso é mentira.

O imperador falou friamente. Orba engoliu seco.

Não, é mentira. Você não confia em mim.

Eu não-!

Só queria uma conquista? Se há algo que mudou em você, é como ousa dar uma desculpa tão insolente.

Os olhos do imperador, iluminados pelas chamas, pareceram envolver seu corpo e alma como uma serpente. Orba nada disse, apenas baixou a cabeça, envergonhado.

Entendo. Um filho de dragão é um dragão. Para nós, da linhagem do Deus Dragão Mephius, talvez você não possa ser um filhote para sempre.

As palavras não tinham orgulho nem desprezo. O imperador se aproximou de Orba, que ainda olhava para baixo.

Mas você puxou muito mais sua mãe. Não só o rosto, mas o caráter. No fim, você se desvia dos costumes imperiais e não abre seu coração para mim. Herdou essa fragilidade.

Depois de encará-lo uma última vez, passou por seu ombro.

Muito bem. Se começou a crescer asas de dragão, então cumpra as expectativas e contenha Ax Bazgan. Em duas semanas, as tropas de Oubary se juntarão às suas. Se for só para defender a fortaleza, serão suficientes.

Oubary.

Naquele momento, uma chama quente acendeu no coração gelado de Orba.

Entre as tropas que levava para Apta, estavam cinquenta homens emprestados da Divisão dos Capacetes Negros de Oubary. O próprio Oubary foi enviado ao sudeste de Mephius com quinhentos homens para suprimir uma revolta de escravos em Kiluro.

Durante o tumulto na Grande Arena, Oubary desapareceu rapidamente, gerando desconfiança do imperador e dos nobres. Agora, ele tentava limpar seu nome.

Use-os como quiser. Comande como desejar. Em troca, não ouvirei queixas. De qualquer forma, você me despreza. Preocupações seriam inúteis.

O imperador se afastou, seu eco carregado de escárnio. Orba suspirou, aliviado por não ter sua identidade revelada. Mas uma sensação estranha o atravessou.

Pais…

Todos os pais são assim? Odeiam e desprezam seus próprios filhos, ou será que só os nobres são tão estranhos?

Orba não tinha memórias de seu pai. Mas lembrava dos rostos de sua vila. Havia adultos que o trataram como um filho, alguns o repreenderam por suas travessuras, outros riram, dizendo que já foram iguais. Na época, ele os achou irritantes, mas agora, sem tê-los mais, sentiu até uma ponta de saudade.

Pai.

Impulsionado pela chama interna, Orba chamou o imperador.

O quê?

Seu rosto mostrou apenas irritação. Orba ergueu os olhos.

Se posso “usar como quiser”, então não se importa se eu usar essas tropas para levar a cabeça de Ax, certo?

Como?

E, no amanhecer seguinte, tomar a cidade fortaleza de Taúlia, que Ax ocupa.

Um silêncio pesado pairou.

Segundos depois, o imperador explodiu:

Seu tolo!

E então riu, uma gargalhada que ecoou pelas paredes.

Seu tolo, eu disse para fazer como quiser! Vá em frente! Quero ver esse dragãozinho que mal sabe bater as asas tentar!

Os soldados, assustados com o rumor de que o imperador parou de sorrir, correram para ver. Ele os afastou com um gesto e partiu, ainda rindo.

◇◇◇

Nos poucos dias restantes até a partida, Orba afundou em uma enxurrada de documentos, livros e papéis entregues em seu quarto.

A lista incluiu oficiais e capitães das tropas que o acompanhariam. Entre os Capacetes Negros, estava Bane, um pedido pessoal de Orba. Também estava Pashir, entre os escravos de guerra, e Mira, a atendente. O resto eram nobres menores ou filhos tardios de casas prestigiadas, buscando oportunidades.

— Até nobres têm suas circunstâncias.

O camareiro Dinn trouxe mais livros.

— Meus braços já estão inchados. — O menino franziu o rosto. — Não vai me treinar e me mandar para a guerra, vai?

— Você que está dizendo.

Orba folheou um livro sobre os países vizinhos de Mephius. Precisava de informações, especialmente sobre Taúlia e o oeste, mas quase nada existia.

— O comércio com o oeste é proibido há mais de um século. Desde os tempos de Zer Tauran.

— Sério?

Orba fechou o livro, pensativo.

— Se falar com o imperador adiantasse, já teria todas as informações.

Dinn suspirou.

— Príncipe, antes que você mergulhe em pensamentos, decida o que quer comer. O chef não aceitará “qualquer coisa” como resposta!

E assim, Dinn cumpriu seu dever, enquanto Orba mergulhou mais fundo em seus planos.

◇◇◇

Os portões oeste de Solon fervilhavam com a multidão que veio se despedir do príncipe Gil e suas tropas.

O grupo de cavaleiros na frente acenava com suas bandeiras de lança enquanto respondia aos vivas do povo com acenos. Entre os selecionados da Guarda Imperial estava Shique. Com uma beleza irritantemente perfeita para um homem, sua figura elegante montada no cavalo especialmente inflamou os gritos animados das mulheres e crianças.

Enquanto os dragões sob comando de Oubary e os artilheiros de Odyne Lorgo passavam, a carruagem da princesa Vileena apareceu com o rangido de suas rodas. Os aplausos alegres quando Vileena sorriu e acenou pela janela foram notavelmente altos.

E quando um novo grupo de cavaleiros surgiu atrás como sua escolta, as ruas se encheram de um burburinho diferente.

Montado em seu imponente cavalo branco, estava o príncipe herdeiro de Mephius, Gil Mephius. Sua armadura prateada refletia os raios de sol como se emitisse um brilho poderoso. Em contraste, ao seu lado estava um cavalo negro, montado pelo gladiador com a máscara de ferro. A dupla recebeu aplausos frenéticos.

— Gil-sama!

— Priiiincipe!

— Olhem, é o “Clóvis”, Orba!

A combinação do jovem príncipe que salvou o país da rebelião e seu fiel guerreiro mascarado era uma história digna de ser lembrada, aumentando sua popularidade entre o povo.

Gil limitou-se a soltar uma mão das rédeas e erguê-la levemente, mas Orba, incapaz de resistir à tempestade de aplausos, acenou freneticamente com os dois braços, chegando a ficar em pé nos estribos enquanto fazia o cavalo dar pequenos saltos. O público adorou, e ele, levado pelo entusiasmo, repetiu o truque várias vezes quase escorregando e caindo no final.

— Seu idiota! — O verdadeiro Orba, disfarçado de Gil, gritou com o rosto vermelho. — Comporte-se!

O “Orba” repreendido, na verdade o guarda imperial Kain, fazendo o papel de seu sósia, deixou os ombros caídos. Os aplausos se transformaram em uma cascata de risadas.

— Bem, acho que isso também serve como propaganda antes da partida.

Sobre as muralhas dos portões, Fedom Aulin observava a cena.

Como senhor de Birac, ele permaneceu em Solon mesmo após o festival, alegando ter “assuntos pendentes”. Na verdade, estava ocupado consolidando sua facção política em torno do falso príncipe.

— O príncipe construiu sua fama com a campanha contra Ryucown e o incidente com Zaat — sussurrou um jovem alto ao seu lado, aparentemente um conselheiro. — Esse apoio popular será um bom impulso. Também reforça a dignidade da família imperial.

— Hum. Existem maneiras melhores de manter a dignidade — Fedom resmungou. — Olhe essas tropas. Mantêm formação, mas no fundo são um amontoado de peças desconexas: ex-escravos gladiadores como guardas imperiais, escravos de guerra que recentemente se rebelaram, e apenas cem soldados regulares. Se o exército de Taúlia atacar com força, não durariam três dias.

Fedom duvidava dos rumores sobre Ax Bazgan planejando atacar Apta. Se o imperador realmente acreditasse nisso, teria enviado mais reforços.

Será que ele quer deixar o príncipe morrer de forma tão óbvia?

O som contínuo dos aplausos ao “príncipe Gil” fez Fedom ranger os dentes. O que mais o preocupava agora era o boato de que Melissa, segunda esposa do imperador, estava grávida. Se fosse verdade, isso mudaria completamente o jogo político.

Maldito, Guhl. Você quer afastar o príncipe do centro do poder justo quando sua popularidade cresce?

Fedom era o arquiteto da farsa que substituiu o verdadeiro Gil Mephius pelo gladiador Orba — um crime punível com a morte de toda sua família. Suas noites eram de insônia, pressionado pela urgência de consolidar sua facção antes que a verdade viesse à tona.

Ele precisava de aliados que apoiassem o príncipe sem questionar o sistema imperial, sonhando com uma nova ordem sob o comando de Gil. Mas agora, quando seus planos começavam a frutificar, o príncipe era enviado para uma fortaleza distante.

As duas semanas antes da chegada das tropas de Oubary serão decisivas.

Sua maior preocupação era Orba, propenso a agir por conta própria e ignorar seus conselhos. Com forças tão limitadas e desorganizadas, ele mal teria margem para manobras audaciosas.

— Ainda assim… aquele maldito deixou palavras estranhas.

Pouco antes de partir, Orba fez um pedido peculiar a Fedom: queria que sua nau capitânia, a Doom, ancorasse temporariamente em Birac com alguns oficiais de dragões alados.

— É só deixar o navio lá. Eles o moverão quando eu precisar.

— Por que diabos faria algo tão desnecessário?

— Chama-se preparação. Não se preocupe, continuarei fingindo ser o príncipe. O verdadeiro Gil permanece em Solon de qualquer forma. Cuide dele.

— Parece que você está gostando desse jogo de guerra, “príncipe”.

Fedom estava ocupado com seus próprios esquemas.

— Não deixe que seus planos o levem longe demais. Se ficar na defensiva em Apta, não direi nada. Mas se agir por conta própria e testar minha paciência… Naquela hora…

— Entendi, Lorde Fedom Aulin.

Orba sorriu levemente. Aquele sorriso, de alguma forma, fez Fedom estremecer.

Ele realmente se parece com “ele”, pensou.

Não com o verdadeiro Gil Mephius. Naquele momento, Fedom viu nele a imagem do pai, Guhl Mephius, apesar da aparência idêntica ao filho.

Logo as tropas saíram dos portões e os aplausos gradualmente cessaram.

Fedom se virou para o jovem ao seu lado.

— O que foi, Hermann? Alguma preocupação?

O servo mago virou a cabeça lentamente. Seu rosto inexpressivo era um enigma para Fedom, às vezes parecendo um jovem, outras vezes mais velho que ele próprio.

— Temos preparativos a fazer — Fedom disse, erguendo os ombros. — Muitos exigirão sua expertise. Por enquanto, não tolerarei que você aja por conta própria.

— Compreendo, meu senhor.

Hermann assentiu, mas antes de sair, lançou um último olhar para a estrada onde o príncipe e suas tropas desapareciam.

— Hmm.

Murmurou em voz baixa, inaudível até para Fedom.

— “Seu” destino é certamente mover-se com o “vendaval”. A velocidade escapa até meus olhos.

Mas… oh.

Que estranho. O “vendaval” sopra claramente, mas o destino crucial d’Ele… este único passo futuro está obscurecido. O que significa isso?

Sob o céu claro de Solon, a luz do sol refletia nas armaduras da comitiva, criando uma fileira de brilhos que logo desapareceram no horizonte. Em pouco tempo, não eram mais visíveis nem das torres mais altas da cidade.

— Já partiram?

O imperador Guhl nem sequer foi se despedir, passando todo o tempo em seus aposentos lidando com documentos.

— Sim — respondeu Simon Rodloom, ex-presidente do conselho. — O príncipe partiu em alto espírito. Caprichou no uniforme de suas tropas.

— Ainda é uma criança.

— Acho encantador. É superando essas características infantis que ele subirá os degraus até a maturidade.

— Você é paciente — o imperador resmungou. — Na política e na paternidade. E quanto ao sucessor da Casa Rodloom?

Simon sorriu timidamente. Tinha duas filhas, ambas casadas, mas ainda não decidiu qual genro adotaria como herdeiro.

— Se me apressar, vou envelhecer de uma vez.

— Típico de você, Simon.

O imperador concordou sem rir.

Está cansado? Simon pensou. O imperador alternava entre explosões de emoção e momentos de completa apatia.

— Dois dias atrás — o imperador disse, fechando os olhos — a princesa Vileena pediu audiência. Pode imaginar o motivo?

— Talvez o caso entre Ende e Garbera?

— Poderia ser. Mas ela não mencionou isso. Apenas se despediu e disse: “Em breve, terei dois pais. Cuide de sua saúde.”

Simon entendeu a mensagem implícita: se Garbera fosse ameaçada, ela pedia que Mephius interviesse.

— Uma princesa corajosa e capaz. Às vezes desejo que Gil tivesse uma fração de suas qualidades.

— Vossa Majestade…

— Admito que Gil cresceu à sua maneira. Mas ainda não está pronto para governar. Um governante deve ver branco como preto quando necessário; ouvir todos, mas nunca hesitar diante da oposição; impor sua vontade desde o início.

— Ninguém nasce pronto para liderar. Nem mesmo os maiores monarcas da história. Com todo o respeito, Vossa Majestade, o problema não é minha paciência, mas sua impaciência.

— Talvez eu não tenha sido um bom pai. Também admito isso.

O imperador encerrou o assunto, como se a conversa tivesse tomado um rumo desagradável.

Simon tinha muito a discutir, incluindo o caso do Templo do Deus Dragão, mas sentiu que todas as palavras bateriam em um muro de chumbo. O imperador estava isolado em sua solidão, teimoso em não abandonar o trono.

Ele está com medo, Simon percebeu subitamente, observando o imperador curvado sobre os documentos.

Medo de si mesmo, por não ser mais o imperador de outrora. Medo de seu próprio filho, fosse ele tolo ou não. Ou talvez…

Simon conhecia bem o cansaço de décadas no poder. Aquilo parecia um presságio.

O governo não podia permanecer nas mãos dos cansados. Sangue novo eventualmente substituiria o velho. Se o momento da transição fosse errado, o país definharia por dentro e, cedo ou tarde, pereceria.


Tradução feita por fãs.
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