Grieving Soul – Prólogo – Volume 5
Nageki no Bourei wa Intai shitai
Let This Grieving Soul Retire Volume 05
Prólogo:
[Ponto de Virada]
O céu estava tão incrivelmente azul que eu quase não conseguia acreditar. Uma brisa refrescante soprava pela janela aberta da carruagem. Sorri enquanto observava a paisagem tranquila passar.
— Que pena que não conseguimos encontrar os outros — disse Liz.
Soltei um bocejo antes de responder.
— Pois é. Acontece.
Os rumores não faziam justiça à visão imponente do cofre de tesouros de Nível 8, o Palácio da Noite. Pela minha experiência, cofres de tesouro de nível alto sempre tinham uma aura inconfundível de perigo. O Palácio da Noite não era exceção.
Sua estrutura colossal repousava no topo de um penhasco. Nuvens de tempestade rodopiavam ao redor das inúmeras torres do castelo. Muros gigantescos e solenes cercavam o perímetro externo, dando-lhe uma aparência nada natural. Mas o que eu achava mais infernal de tudo era a chuva incessante. O céu estava limpo a pouca distância do cofre, o que significava que a chuva provavelmente era um fenômeno causado por mana material.
Apesar da atmosfera sombria do cofre, não havia um único monstro à espreita do lado de fora. Isso mostrava o quão perigoso o Palácio da Noite realmente era. Como fontes de mana material, a maioria dos cofres de tesouro atraía monstros poderosos para seus domínios. Um cofre de Nível 8 normalmente teria uma quantidade absurda de monstros rondando tanto dentro quanto fora. Se não havia nenhum ali, só podia significar que os fantasmas do cofre já haviam acabado com eles.
Resumindo, esse não era um lugar para um trapaceiro com um nível inflado como eu. Era um verdadeiro pesadelo vivo; mesmo com Liz, Sitri e Tino ao meu lado, eu não podia ter certeza de que entraríamos nesse cofre e sairíamos vivos.
Tendo visto poucos cofres de alto nível, Tino colocou a cabeça para fora da janela, parecendo sem ar. A luta contra Arnold já a tinha deixado exausta, mas a mera aura do Palácio da Noite foi suficiente para deixá-la enjoada.
Estar acostumado a essas paisagens fazia diferença, mas essa não era a verdadeira causa do enjoo dela, nem da minha falta dele. A verdadeira razão era que pessoas com sentidos mais aguçados eram mais vulneráveis a influências externas. A reação de Tino era a mesma do trio veterano de Sitri — Preto, Branco e Cinza —, o que significava que sua resposta era normal para caçadores.
— Se eles não estão aqui, então podemos presumir que saíram bem — eu disse.
— Bom, nós já exploramos o cofre inteiro e reduzimos a população de fantasmas — lembrou Sitri.
Isso era verdade. Eu não pensei muito no fato de Liz ter saído do cofre sozinha, mas Sitri era uma garota meticulosa. Ela provavelmente não teria saído do cofre antes da hora se não tivesse certeza de que os outros estavam seguros.
Observando o Palácio da Noite com uma expressão de puro desejo, como uma verdadeira maníaca, Liz me fez uma pergunta.
— A propósito, Krai querido, isso significa que cumprimos nossos objetivos?
— Hmm, mais ou menos a metade deles.
— Hã?! Só me… Uurgh.
Antes que Tino conseguisse terminar a frase, o enjoo tomou conta dela de vez. Talvez ela precisasse descansar.
Nosso passeio tinha três objetivos principais. O primeiro era encontrar Luke e os outros, mas já tínhamos perdido essa chance. Eu sabia que essa era uma possibilidade, então não me preocupei quando percebemos que tínhamos chegado tarde demais.
O segundo era ir a uma fonte termal e relaxar. Esse era o próximo item na minha lista.
O terceiro era não voltar para casa a tempo da Reunião da Lâmina Branca. E, sem dúvida, esse era o mais importante dos três.
Em resumo, nossa viagem não tinha objetivos de verdade. De jeito nenhum eu voltaria para casa a tempo da Reunião da Lâmina Branca! Já estávamos fora há uma semana e levaria mais ou menos o mesmo tempo para voltarmos à capital. Precisávamos esperar mais uma semana antes de dar meia-volta.
Mesmo que eu conseguisse encontrar os outros, ir a uma fonte termal, descansar e agradecer a todos pelo trabalho duro, eu ainda não voltaria para a capital se sobrasse tempo. Dançar ao redor de uma fogueira com Arnold e seu grupo parecia mais divertido do que participar daquela reunião de malucos. Se eu não tivesse um grupo e um clã para cuidar, simplesmente fugiria para o exterior.
— É a sua viagem e tudo mais, então faça o que quiser, mas acho que o Palácio da Noite ainda é demais para a T — disse Liz.
— Bom, eu nunca planejei entrar nele.
Se os outros ainda estivessem lá dentro, eu apenas esperaria do lado de fora. Entrar num cofre de tesouro de Nível 8 seria o mesmo que assinar minha sentença de morte. Eu gostava de acreditar que tinha ao menos esse mínimo de bom senso. Olhei para Tino e vi que ela estava pálida como um fantasma, à beira das lágrimas.
— Não vamos fazer nada perigoso — eu disse a ela. — Quer dizer, desde o começo, eu nunca planejei fazermos nada perigoso. Ha ha ha.
— Mestre, eu não vejo graça nenhuma nisso — ela protestou em voz baixa.
Eu também não achava graça. Mas, olhando para trás, sentia que Arnold era o culpado por tudo que tinha acontecido. Tivemos muitos sustos no caminho, mas só entramos em perigo real quando atravessamos as montanhas. E se Arnold não estivesse nos perseguindo, nunca teríamos sido forçados a passar por elas.
— A culpa é toda do Arnold — eu disse.
— Quer que a gente se livre dele? — sugeriu Sitri.
— Não.
Tudo que eu queria era me enfiar numa fonte termal e esquecer de tudo. Uma semana assim parecia tempo suficiente. A perseguição de Arnold me deixou tenso, mas eu duvidava que ele aparecesse de novo. Não conseguia imaginar a mesma coincidência acontecendo outra vez, então avisei Liz para não dar mais nenhuma pista para ele.
Eu imaginei que, se fosse encontrá-lo em uma fonte termal, teria que simplesmente aceitar meu destino. Não havia muitas Relíquias que eu pudesse levar comigo para uma área de banho.
— Nosso próximo destino é uma fonte termal. Só precisamos ter certeza de que não pisamos no Condado de Gladis — eu disse.
Estávamos bem próximos ao domínio dele. Precisávamos ter cuidado.
— Ei, Krai Baby, você tem algo contra o Conde Gladis?
Liz tinha uma expressão engraçada no rosto. Provavelmente já tinha percebido tudo o que podia apenas pela intuição. Eu confiava nela e em Sitri. Gostava de acreditar que podia confiar em Tino.
— Para falar a verdade, recebi uma missão nomeada do Conde Gladis — eu disse.
— Sério? Daquele conde que odeia caçadores? Uau! Que tipo de missão é essa?
Eu não sabia. Nunca aceitei a missão formalmente. Na verdade, decidi fazer o oposto. Não ia aceitar de jeito nenhum. Me sentia mal por Chloe, mas queria que ela simplesmente voltasse para casa. Nada de bom poderia sair de uma missão nomeada emitida por uma família de guerreiros.
Diferente de Liz, que tinha um brilho nos olhos, Sitri aceitou minha decisão solenemente.
— Muito bem. Vamos evitar o Condado de Gladis. Perto do território dele, deve haver uma pequena cidade famosa por suas fontes termais. No entanto, ir até lá nos colocará perigosamente perto do domínio do conde.
Sitri desdobrou um mapa e apontou. Assim como ela disse, a cidade não estava exatamente no Condado de Gladis, mas ficava assustadoramente próxima.
Não fazia sentido se preocupar com cada possibilidade. Acho que está tudo bem, desde que não cruzemos a fronteira. Mesmo que nos encontrem, posso deixar bem claro que não quero aceitar a missão deles.
— Esse lugar tem banho misto?
— Meu Deus, Lizzy! Hoje em dia não existem lugares com banho misto!
— Ah, tanto faz. Acho que está tudo bem.
Me sinto mal por Luke e os outros não poderem vir, mas se esse lugar for bom, podemos trazê-los em outra oportunidade. Ah, eu deveria soltar Black, White e Gray depois que eles tiverem a chance de relaxar na fonte termal.
Esfreguei os olhos e soltei outro bocejo enquanto tentava me animar para uma visita há muito esperada a uma fonte termal.
***
Éclair Gladis correu pelo corredor acarpetado. Ela quase colidiu com uma empregada e recebeu um olhar de reprovação de um jovem cavaleiro, mas não parou. Alcançou o quarto mais afastado da mansão e praticamente se jogou contra a pesada porta ao empurrá-la.
O chefe da Casa de Gladis, Van Gladis, franziu a testa diante da descortesia da filha.
— Me diga, pai, é verdade que você emitiu uma missão nomeada para o Mil Truques?! — Éclair gritou.
— Éclair, como filha da Casa de Gladis, você precisa demonstrar mais graça.
— Por favor, me responda! Por que o Mil Truques?
— Não vejo necessidade de me explicar — disse o conde. — Mas, como um homem da nobreza, não posso permitir que minha dívida com um caçador permaneça.
Seu olhar afiado fez Éclair se lembrar do papel que teve na criação dessa dívida. Ela mordeu o lábio.
Uma missão nomeada de um nobre era prova de que um caçador estava entre os melhores. Um nobre de Zebrudia estabelecendo relações com um caçador era algo significativo, ainda mais quando esse nobre era famoso por desprezar caçadores.
Renome. Era uma das recompensas mais valiosas que um caçador poderia desejar, e era o que os nobres ofereciam. Uma missão dada por uma grande casa mercantil poderia pagar em ouro, mas prestígio era muito mais difícil de se obter.
No incidente com o leilão, Éclair ficou em dívida com o Mil Truques. No mundo complicado da nobreza, seria vergonhoso para a Casa de Gladis se o pagamento fosse insuficiente. No entanto, um caçador de alto nível já teria riqueza, poder e prestígio de sobra.
Lord Gladis ficou em silêncio por um momento antes de continuar.
— Mas, não posso fingir que não tenho interesse nesse homem. Ele se tornou um caçador de Nível 8 antes de Ark Rodin. Essa é uma boa oportunidade para ver do que ele é capaz.
A Casa de Gladis era bem conhecida por seu desprezo pelos caçadores, mas não era um ódio cego. Eles simplesmente tinham confiança absoluta em sua força e na de seus cavaleiros.
Mesmo caçadores seriam respeitados pela Casa de Gladis se fossem considerados dignos, e, fiel a essa filosofia, a casa mantinha relações com a Casa de Rodin. Mas não havia como negar que ganhar o respeito dos nobres era uma tarefa difícil.
— E então você pediu que esse homem exterminasse o Bando de Ladrões Barrel?
— Quem te contou isso?
— Montaure me disse.
— Se houvesse algo que eu mudaria nesse homem, seria a fraqueza dele por você.
Lord Gladis suspirou ao pensar em seu braço direito. Montaure provavelmente só queria garantir que Éclair entendesse as consequências de seus erros. Ou talvez achasse que ela poderia se interessar pelo assunto.
***
Passamos um dia viajando enquanto evitávamos o Condado de Gladis e chegamos ao nosso destino sem incidentes, uma cidade chamada Suls. Suls era uma pequena cidade aninhada entre montanhas. O cheiro característico que pairava no ar sugeria que Sitri não estava mentindo quando disse que o lugar era famoso por suas fontes termais.
Descemos da carruagem. Como Arnold estava nos perseguindo, essa foi a primeira vez em dias que pisamos em uma cidade.

Para os caçadores, não era incomum passar alguns dias atravessando territórios infestados de monstros. Era uma boa maneira de aprimorar as habilidades de sobrevivência, e nossa Sitri conseguia cuidar de cada detalhe, garantindo que não nos faltasse quase nada. Ainda assim, eu era um caçador semirreformado, e nossa jornada me deixou exausto, o que era um pouco patético, considerando que passei o tempo todo sentado na carruagem sem fazer nada.
Eu amava tomar banho, tanto que mandei instalar uma banheira no meu escritório na sede do clã. Liz e Tino brincaram no lago, mas eu estava com medo de jacarés para entrar na água. Tudo que pude fazer foi me limpar com uma toalha molhada. Assim que chegamos a Suls, eu queria entrar na água o mais rápido possível.
Eu quero um manju. Até um de chocolate serviria. Qualquer coisa doce.
Por ser um destino turístico popular, Suls tinha uma atmosfera diferente da capital imperial. As ruas eram cercadas por árvores, rochas e outros elementos naturais que não haviam sido removidos. Era algo meio exótico. Não havia muitos viajantes, o que me fez pensar que devia ser baixa temporada.
Eu não acho que ninguém aqui vá me reconhecer. Esse é um esconderijo perfeito. Um lugar tranquilo como esse pode não ser do agrado da Liz, mas tivemos agitação demais desde que saímos da capital. Vamos descansar aqui por um tempo. Assim, Tino e Preto, Branco e Cinza podem se recuperar.
Voltei para perto da Sitri, que terminava a papelada necessária para nossa entrada.
— Bem, o que acha? Essa cidade—
— É boa. Eu gostei — disse, interrompendo Sitri. — Perfeita para uma estadia curta, e parece que não está muito lotada.
Festas e outros eventos animados eram legais, mas eu também gostava de uma cidade tranquila. Na verdade, eu estava bem desde que não estivesse pegando fogo sobre minha cabeça.
Nós havíamos deixado Arnold e companhia para trás nas montanhas Galest, então imaginei que havia zero chance de encontrá-los novamente.
Observei Liz, aquela velha criança selvagem, arrastando Tino enquanto ia explorar a cidade. Há poucos dias, ela ainda estava de cama após a batalha contra Arnold, mas já tinha se recuperado. Resolvi esperar um souvenir delas.
— Ouvi dizer que as fontes termais daqui são muito revigorantes. Às vezes, caçadores feridos vêm para cá — disse Sitri com um sorriso.
Ao lado dela, Matadinho e Drink estavam radiantes de animação. Eles recebiam alguns olhares estranhos, mas eram muito mais tranquilos do que Liz. Além disso, faziam o que lhes era mandado.
— Revigorante. Isso parece interessante.
Eu nunca havia sofrido ferimentos graves, e Ansem curava as feridas dos outros membros do grupo. Fazia sentido eu não me importar muito com a ideia de uma fonte termal revigorante, mas algo naquelas palavras tinha um tom atraente.
Poder viajar por capricho era um privilégio quase exclusivo dos caçadores. Seria um desperdício não aproveitar esse privilégio.
Sitri e eu começamos a passear pela cidade juntos. Ver todas aquelas fontes me fez pensar em quanta água o local devia ter. Apenas vagar pela cidade já era agradável. O vapor subindo mantinha o lugar todo aquecido, e caminhar por ali parecia suficiente para curar meu cansaço.
Parecia o tipo de lugar onde você podia cavar em qualquer ponto e logo encontraria uma fonte. Considerei me mudar para Suls depois de parar de caçar e não estar mais preso à capital.
Só uma coisa me incomodava: a cidade era um pouco quieta demais. Não era um lugar grande, mas ainda assim parecia um tanto solitário. Talvez tivéssemos vindo na época errada, mas uma cidade termal tão boa poderia ser um pouco mais animada.
Seria pedir demais que Sitri tivesse uma casa segura em Suls, mas ela conseguiu encontrar uma hospedagem para a semana, apesar da nossa chegada repentina. Era uma pousada conhecida por suas boas fontes termais e comida de qualidade, voltada não para caçadores, mas para turistas ricos.
Diferente das hospedarias utilitárias para caçadores, havia um esforço para deixar a fachada do prédio atraente. Fiquei irritado comigo mesmo por não ter trazido uma câmera.
— Na recepção, perguntaram se somos recém-casados — disse Sitri, com as bochechas coradas.
Tenho certeza de que isso foi só um elogio. Acho. Por que recém-casados precisariam de um quarto grande o suficiente para oito pessoas?
Decidi não contar para Sitri sobre o olhar que recebi do atendente. O olhar que dizia: “Como esse cara conseguiu ficar com ela?” Éramos apenas alguns caçadores e alguns extras.
O interior da pousada fazia jus às expectativas criadas pelo exterior. Nosso quarto era espaçoso, com piso de tatami e um aroma agradável — algo que não se podia dizer sobre os quartos feitos para caçadores.
Caçadores estavam sempre cobertos de sangue, óleo e poeira, então seus quartos eram projetados para serem usados com calçados. Também eram pensados para que os hóspedes fizessem a manutenção de seus equipamentos.
Mesmo na capital, quartos com tatami eram raros. Antes de me tornar caçador, ficar em um quarto assim era um sonho para mim. Depois de iniciar minha carreira como caçador de relíquias, me hospedei em muitos quartos com tatami, e nunca enjoei disso.
O que há de tão bom em piso de tatami? Poder rolar para onde quiser. Isso que é bom. Uma vez considerei colocar tatami no meu quarto na sede do clã, mas Eva me impediu. Ela não estava errada, aquilo ficaria sujo num piscar de olhos.
Vale mencionar que tatami não era barato no império. Se aqueles tapetes custassem o mesmo em Suls que na capital, nosso quarto provavelmente custava dez vezes mais que um normal. Tenho certeza de que Eva ficaria furiosa se descobrisse que alugamos algo tão luxuoso.
— Fico tão feliz que o quarto seja do seu agrado. Que sorte ele estar vago. Normalmente, algo assim seria muito mais caro e exigiria reserva — disse Sitri, enquanto me observava ceder ao desejo de rolar pelo chão.
— Hmmm, isso é sorte. É porque é baixa temporada?
— De fato. Imagino que todos os turistas fugiram por causa da proximidade desta cidade com o Condado de Gladis.
Oh, por causa da proxim— Espera, então não é baixa temporada? O território do conde fica mais perto ou mais longe dependendo da estação? Ha ha.
— Aparentemente, o conde está tendo bastante problema com um grupo de bandidos descontrolados. Parece que isso causou a redução no número de visitantes.
— Oh, isso parece um grande problema.
Não era uma história rara no império. Assim como Zebrudia era lar de legiões de caçadores poderosos, muitos de seus criminosos também eram bastante temíveis. Os cavaleiros faziam um bom trabalho mantendo a ordem, mas não conseguiam acompanhar os criminosos, que surgiam como brotos de bambu. Lorde Gladis tinha um grupo de cavaleiros bastante capazes sob seu comando, então imaginei que os problemas com bandidos não durariam muito.
— Não acho que precisamos nos preocupar com esses bandidos. Na verdade, acho que foi sorte; nos permitiu conseguir um quarto tão bom.
— Sendo um destino turístico, esta cidade não tem muitas defesas. Aposto que isso fez a maioria dos viajantes se sentir insegura.
Quando Sitri mencionou isso, percebi que as muralhas externas de Suls eram feitas de madeira e muito mais simples em comparação com as de Elan e Gula. Uma cidade como essa provavelmente priorizava a estética, mesmo que isso a deixasse vulnerável a monstros perigosos e bandidos.
Ainda assim, aqueles turistas estavam se preocupando demais. Bandos de bandidos geralmente visavam apenas viajantes e mercadores tolos que esqueciam de contratar escolta. Mesmo sendo pequena, uma cidade ainda era uma cidade e isso lhe dava uma camada de defesa. Se isso não fosse suficiente, Zebrudia era um império poderoso; ninguém poderia atacar uma de suas cidades e simplesmente sair impune. Sem mencionar a possibilidade de caçadores poderosos estarem de passagem. Atacar uma cidade simplesmente não valia o risco.
— É, mas bandidos não atacam cidades mais.
— De fato. Se quiser erradicar uma cidade, uma aplicação inteligente de veneno já resolve.
Sitri, isso é puro e simples terrorismo.
Parece que ela também não estava muito preocupada com os bandidos. Rolei um pouco mais na cama, parando perto de onde Sitri estava sentada.
Sinto que estou sempre rolando de um lado para o outro. Talvez eu devesse adicionar isso ao meu currículo. O tatami, ele drena minha energia. Meu corpo fica pesado. Não consigo fazer nada. Antes que perceba, serei um só com o chão.
Meus olhos encontraram os de Sitri, e ela sorriu timidamente enquanto batia levemente nos joelhos.
— Vá em frente — disse ela.
Coloquei minha cabeça em seu colo com gratidão. As pernas de Sitri estavam envoltas em meias finas e incrivelmente macias, mesmo sendo mais finas que as da Liz. Eu vivia pensando em recompensar Sitri por todo o seu trabalho, mas ali estava eu sendo recompensado novamente. Bocejei, e ela pousou uma mão sobre minha cabeça.
— Acho que temos tempo. Vamos descansar e esperar pelo momento certo — disse ela em um tom suave.
— É… Aham.
Não consegui resistir ao sono, minha consciência se esvaindo. A última coisa que vi foi o sorriso sereno de Sitri.
***
— V-Você só pode estar brincando…
Atordoado, Eigh semicerrava os olhos enquanto olhava para o castelo no topo do penhasco. Arnold sentia o mesmo que seu braço direito. Todos na Tufão Escaldante estavam pálidos. Gilbert nunca havia se deixado intimidar por Arnold, mas até ele estava de olhos arregalados de choque. Chloe parecia bastante sombria.
Uma estranha e sinistra frieza se instalou sobre eles assim que se aproximaram a poucos quilômetros do castelo. Quando ele entrou em seu campo de visão, a expectativa deles se transformou em certeza. Palácio da Noite. Esse era um cofre de tesouro de Nível 8 que não existia em Nebulanubes e estava além de qualquer coisa que Arnold poderia ter imaginado.
— Eu não acredito. Quer dizer que aquele cara entrou lá com um grupo tão pequeno?!
O Palácio da Noite era o resultado de uma imensa concentração de material mágico em uma área relativamente pequena. Isso afetava o clima local, fazendo com que a chuva castigasse o solo como uma cachoeira incessante. Raios cegantes atingiam constantemente as inúmeras torres, e sombras indistintas podiam ser vistas entre as brechas das nuvens. Nenhum monstro era visível por perto, mas isso não era estranho em um cenário tão apocalíptico.
O cofre do tesouro diante deles claramente estava além das capacidades da Névoa Caída. Um membro da Tufão Escaldante não conseguiu suportar a atmosfera opressora e começou a vomitar ao cair de joelhos. Ninguém o repreendeu por isso. Mesmo para o caçador de nível mais alto ali presente, Arnold, aquilo era demais. Para um Nível 3, olhar para o Palácio da Noite devia ser como ter um vislumbre do inferno.
— O-O que devemos fazer? — perguntou Eigh com uma gravidade incomum para ele.
O cofre do tesouro diante deles era algo que mal poderia ser administrado por um grupo de seis caçadores do nível de Arnold. Com sua formação atual, eles estavam fadados à morte. Alguns poderiam até ser esmagados pela pressão antes mesmo de chegarem a qualquer monstro.
O problema era que o mesmo deveria valer para o Mil Truques. O grupo dele também tinha sua cota de peso morto. Mesmo à distância, era evidente que o Palácio da Noite não era um cofre que se podia atravessar só porque havia um Nível 8 no grupo. Se o Mil Truques estava explorando aquele lugar, significava que o nível dos membros mais fracos do grupo era muito menor do que deveria ser.
Arnold se lembrou de como o Mil Truques recebeu seus ataques sem armadura ou qualquer outra defesa, deixando que aquele caçador novato lutasse por ele. Arnold tomou sua decisão.
— Droga — disse ele com a voz tensa. — Vamos recuar, bolar um plano e nos preparar. Eu não acredito nisso. Eu simplesmente não consigo acreditar!
Tradução: Carpeado Para estas e outras obras, visite Canal no Discord do Carpeado – Clicando Aqui
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