Grieving Soul – Capítulo 4 – Volume 5
Nageki no Bourei wa Intai shitai
Let This Grieving Soul Retire Volume 05
Capítulo 4:
[Férias Divertidas]
— O que diabos você estava pensando?
Lucia costumava sempre me dizer isso. Ela era competente e tinha uma mente rápida, então tenho certeza de que ela se esforçava para entender o comportamento do irmão mais velho. Diferente do resto dos Grieving Souls, ela era minha família, e imagino que isso tornasse difícil apenas sentar e me ver tropeçar por aí.
Mesmo que essa frase desanimasse a maioria das pessoas, eu não me importava, porque, na verdade, eu não estava pensando em nada. Para descrever minha participação nesse incidente de forma sincera, eu diria: fui envolvido em umas paradas estranhas que eu não consegui entender e tudo foi resolvido antes que eu pudesse sequer descobrir o que estava acontecendo. Não era como se eu estivesse mentindo ou preocupado com o fato de ser difícil explicar, eu simplesmente não entendia o que tinha acontecido.
Talvez isso fosse inevitável para caçadores de alto nível, mas essa não era nem de longe a primeira vez que eu era arrastado para algum tipo de confusão. Eu já tinha experiência com conspirações e até mesmo com ficar preso no meio do nada. Claro, tudo o que eu sempre fiz foi correr sem ter ideia do que estava acontecendo enquanto meus companheiros confiáveis resolviam as coisas.
Isso era inegavelmente mais um desses casos, mas, dessa vez, tudo que eu fiz foi dizer ryu-ryu. Até eu fiquei exasperado com minha incompetência dessa vez. Parecia uma boa ideia na hora, mas, para minha vergonha, isso só piorou as coisas.
Estávamos caminhando por Suls. A cidade estava silenciosa, mas os danos não eram tão extensos quanto eu imaginava que seriam. As pessoas que perambulavam pelas ruas no dia anterior agora estavam sumidas.
Eu tinha visto um número enorme de Homens das Cavernas sob Suls. Eu tinha certeza de que eles eram mais numerosos do que a população da cidade. Eu ryu-ryuei minha vontade de ir para casa, mas, em vez disso, eles iniciaram uma expedição militar. Eles não pareciam gostar muito de humanos, e eu não teria ficado surpreso se tivessem arrasado a cidade inteira, mas os danos eram surpreendentemente pequenos.
— Tinham tantos daqueles caras, mas a cidade tá praticamente intacta. Não é estranho? — Liz disse, aparentemente pensando o mesmo que eu.
— Isso porque, em uma civilização construída no subsolo, a destruição de prédios é um tabu — explicou Sitri. — Imagine só, destruir um prédio poderia fazer com que toda a civilização fosse aniquilada. Certo, Krai?
— Ah, é, uh-huh.
Agora eu entendi.
Mas eu ainda não compreendia por que não havia ninguém ali. Nem sequer havia corpos nas ruas. Eu não me lembrava de ter visto os Trogloditas carregando corpos humanos.
— Antes de entrar nos banhos, eu gostaria de saber quantas pessoas ficaram feridas — eu disse.
— Os moradores foram reunidos em um único local, e Arnold liderou a tentativa de resgate. Eles devem estar bem, desde que ele tenha chegado a tempo.
— Hmm, entendi.
Ainda tinha várias perguntas, mas parecia que todos estavam bem. Se Sitri disse isso, então devia ser verdade. Eu queria perguntar por que os moradores tinham sido todos reunidos em um único ponto e como conseguiram evacuar todo mundo a tempo, considerando que o ataque dos Trogloditas foi tão repentino. Mas resolvi deixar pra lá.
— Mandou bem, Arnold — eu disse. — Eu achava que ele era só um brutamontes violento, mas acho que precisa mais do que isso para chegar ao nível 7.
Da capital até a floresta, ele tinha sido o instigador de tudo, mas dessa vez acho que eu estava errado. Me arrependi e ofereci um pedido de desculpas silencioso por toda a encrenca que causei a ele. Mas então senti Liz cutucando meu ombro.
— Ei, Krai Baby, eu não ataquei quando soube que havia reféns! Não foi incrível? Diz que eu sou incrível! — ela se gabou.
— Eu salvei Arnold quando ele estava à beira da morte por causa de um veneno desenvolvido pela Torre Akashic! — Sitri acrescentou. — Mais uma hora e ele certamente teria morrido. Ele me deve a vida!
— E-eu, ahm, tirei as algemas de todo mundo — Tino disse.
— Oh. É. Vocês são incríveis.
Caramba, esses Trogloditas são coisa séria. Eles parecem monstros, mas fizeram reféns, usaram veneno da Torre Akashic e algemaram os prisioneiros? Não esperava por essa.
Foi então que encontramos um homem caído na estrada.
Eita. Primeira vítima.
Corremos até ele. Ele usava um quimono e tinha altura e porte medianos. Suas pernas estavam dobradas de um jeito que não deveriam e seu corpo estava coberto de hematomas. Mas, por sorte, ele ainda estava vivo.
Nos aproximamos, mas então o homem nos olhou de forma vaga e seu corpo se contraiu. Ele gemeu e estendeu a mão em direção a uma lâmina curta e negra que estava por perto. Ele devia estar confuso.
— Você está bem?! Sitri, pega uma poção! — eu gritei.
Ele ia ficar bem, as poções de Sitri eram muito eficazes. Enquanto ele continuasse consciente, provavelmente não morreria. Mas, por alguma razão, Liz franziu a testa.
— Esse é um inimigo! — ela disse.
— Hã?
Perplexo, olhei para o homem de novo. Ele usava um quimono. Altura e porte medianos. Não tinha o rosto rude de um caçador. Pelo que eu podia dizer, ele parecia um morador comum. Sitri também parecia confusa. Liz podia ser uma pessoa duvidosa, mas era uma Ladina de primeira. O que isso queria dizer?
— Então, o que você tá dizendo é que ele parece humano, mas na verdade é um Troglodita.
Eu não conseguia acreditar muito nisso, mas confiava no julgamento de Liz mais do que no meu próprio. Estávamos lidando com formas de vida subterrâneas praticamente desconhecidas. Não era tão difícil assim acreditar que eles tinham poderes avançados de camuflagem. Certo?
— Ah, agora que você falou, o cabelo dele realmente se parece um pouco com aqueles tentáculos se olhar mais de perto? — eu disse, fingindo que tudo fazia sentido enquanto apontava um dedo hesitante para o homem. — E ele de fato tem uma aparência meio… subterrânea? Sinceramente, se eles estavam voltando, podiam ter feito o trabalho direito e levado todos com eles.
O caos estava instaurado.
— Ah, desculpa, eu não percebi que você quis dizer desse jeito — continuei. — Então, talvez ele não seja um inimigo?
Mais confusão. Eu estava fazendo uma ginástica mental absurda, só para de repente ter o tapete puxado debaixo dos meus pés.
Sitri se agachou ao meu lado e olhou para o homem.
— Bem, um humano normal não é grande coisa comparado a uma horda de Trogloditas ou a um dragão. A propósito, Krai, você prefere que eu cure ou torture ele? — perguntou ela.
Que tipo de escolha era essa? Ela queria dizer algo como tortura que parecia tratamento ou tratamento que parecia tortura? Isso era humor alquímico?
— Tanto faz — respondi. — Por enquanto, cuida dos ferimentos dele. Quero resolver tudo logo para poder relaxar em uma fonte termal.
Dando uma olhada rápida ao redor, parecia que os danos haviam sido surpreendentemente leves. Eu não sabia se isso era sorte ou azar.
Liz, Sitri e Tino me seguiram pela cidade com expressões de insatisfação. Eu estava exausto física e mentalmente, mas não queria deixar isso nas mãos da Liz. Ignorar essa situação me faria parecer uma pessoa horrível.
Os danos na cidade eram esparsos, mas existiam. Não encontramos ninguém gravemente ferido, mas havia pessoas machucadas caídas no chão. Ainda não tínhamos encontrado nenhum cadáver, o que era um alívio. No entanto, algumas pessoas estavam desacordadas e precisavam de atendimento imediato.
Esse seria o momento perfeito para ter Ansem por perto, mas Sitri não era uma substituta ruim. Ela pegou sua pistola d’água, a Relíquia que eu tinha dado para ela há muito tempo, e aplicou poções em cada pessoa ferida.
— É uma poção que pode até ressuscitar os mortos — explicou. — Mas ainda está em desenvolvimento.
— Por que você anda por aí com uma poção inacabada? — Tino perguntou, assustada.
Andar com poções incompletas era um velho hábito da Sitri. Magia de cura era difícil e um campo à parte da magia convencional. Ansem desenvolveu habilidades aclamadas na capital imperial, mas mesmo ele não conseguia curar muito quando começamos.
Foi por isso que Sitri começou a ajudar na cura com poções caseiras. No entanto, as receitas disponíveis ao público não produziam medicamentos rápidos o suficiente para acompanhar o ritmo das aventuras dos Grieving Souls—e dos ferimentos que vinham junto.
Mas os remédios poderosos vendidos nas lojas eram caros. Não conseguiríamos bancar essas poções o tempo todo, então, em algum momento, Sitri começou a usar suas versões experimentais durante as batalhas. Isso continuou até Ansem ser capaz de regenerar partes do corpo por completo. Pelo que ouvi, ultimamente ela tinha poucas oportunidades de usar suas poções, mas ainda mantinha esse hábito útil.
— Se eu soubesse que encontraria cobaias tão maravilhosas, teria trazido uma variedade maior de poções — sussurrou animada. Fingi que não ouvi nada. Sitri só levava as coisas a sério demais. No fundo, ela era uma boa pessoa. Suas tendências de cientista maluca faziam parte do seu charme.
— Como esses caras não estão completamente mortos? Como você fez isso, Krai Baby? — Liz perguntou, parecendo ao mesmo tempo impressionada e desinteressada.
Para começar, dá para parar de jogar tudo nas minhas costas?
— Claro, capturar eles vivos dá mais glória, mas acho que não tem problema se um ou dois morrerem.
Glória para quem? Bárbaros?
Sitri terminou de aplicar as poções e se levantou.
— Talvez você não saiba disso, Lizzy, mas o que Krai fez foi completamente natural, considerando a natureza dos Trogloditas. Para eles, força é tudo, e eles sempre atacam os inimigos mais fortes primeiro!
Sitri falava com paixão. Ela tinha algum tipo de fascínio por Trogloditas?
— E dessa vez, eles estavam seguindo as ordens do rei deles, o que significa que esses resultados não foram coincidência! — disse ela, animada. — Entendeu, T?
— A-Acho que sim? — Tino gaguejou.
Entendi. Eu também não fazia ideia.
— Qualquer idiota pode usar força para cortar inimigos! — Sitri continuou. — Mas criar um plano, antecipar os motivos de outra cultura e manipulá-los… tem ideia de quão incrível isso é? Qualquer erro de timing poderia resultar em um desastre! Não é mesmo, Krai?
— Ryuu-ryuu — respondi.
Então, o que isso fazia de mim, se eu era um idiota e ainda por cima incapaz de cortar meus inimigos?
Liz cruzou os braços.
— Mas isso não explica por que eles foram deixados vivos — disse ela, sua curiosidade provavelmente vinda de sua própria sede de sangue. E ninguém achava estranho que os Trogloditas considerassem cidadãos normais como guerreiros poderosos?
Sitri juntou as mãos e sorriu, como se estivesse esperando por essa pergunta.
— Lizzy, você não reparou? Todos estavam inconscientes, com as pernas quebradas ou imobilizados de alguma forma. Ao capturar prisioneiros, eles podiam desmoralizar seus inimigos e emboscar qualquer um que tentasse resgatá-los. Dois coelhos com uma cajadada só. Afinal, os Trogloditas têm intelectos quase idênticos aos dos humanos.
Puta merda.
E eu estava sendo idolatrado por esses caras? Por esses maníacos sedentos por sangue?
— Eles não têm medo de morrer em combate — Sitri continuou. — Se Krai não tivesse espantado eles com um dragão, eles teriam lutado até o último cair. Poderiam até ter atacado outras cidades vizinhas. Não é mesmo, Krai?
— B-Bem, acho que era uma possibilidade.
Eu não gostava disso. Não gostava da natureza dos Trogloditas. Não gostava da suposição de que eu tinha invocado o dragão. Mas o que eu menos gostava era o fato de que Sitri geralmente não mentia. Tino me lançou um olhar que normalmente era reservado para Liz.
Não se preocupa. Não se preocupa.
Colocando de lado como chegamos até aqui, o fato era que os Trogloditas tinham ido embora. Agora só precisávamos dar um jeito naquele buraco, preenchê-lo ou algo assim. Qualquer coisa depois disso seria responsabilidade do império.
Guiados por Liz, chegamos à praça central de Suls. Era um espaço amplo, cercado por canais que transportavam água da nascente. Quando a visitamos pela primeira vez, durante nosso passeio turístico, a praça estava vazia, mas agora estava lotada de moradores locais. Apesar do tamanho modesto de Suls, ver tanta gente reunida em um só lugar era impressionante.
Será que os moradores realmente tinham se juntado todos ali? Eles deviam ser muito organizados para terem reagido tão rápido ao aparecimento repentino dos Trogloditas. Mas parecia que ainda estavam abalados com tudo aquilo, pois permaneciam agrupados de maneira defensiva.
Foi então que notei uma caçadora familiar parada do lado de fora do grupo.
— Oh, é a Rhuda. Que bom, fico feliz em ver que você está bem — disse a ela.
— Krai?! — ela exclamou ao me notar.
Ao ouvir sua voz, Gilbert e os membros do seu grupo se aproximaram. Parecia que todos haviam saído vivos.
— Foi você que fez isso, Mil Truques?! Que diabos era aquele dragão? — perguntou Gilbert, apoiando-se em uma espada coberta de sangue verde.
— Se eu tivesse que responder de um jeito ou de outro… bom, deixa pra lá. Os Trogloditas voltaram para o subsolo — respondi.
— Hã?!
É, essa é uma reação justa. Eu teria reagido assim se pudesse.
Então Arnold começou a caminhar em nossa direção. Sua expressão não era das melhores, mas seus olhos brilhavam com uma determinação inabalável. Ele deu algumas ordens rápidas para seus companheiros e então olhou para mim.
— Você deteve a causa? — perguntou ele.
A causa está bem na sua frente.
— Houve alguma morte por aqui? — Sitri se intrometeu.
— Nenhuma. Eles conseguiram resistir com os golens até a nossa chegada. Pelo que ouvi, você os cedeu, Ignóbil.
— Cedi. Fico satisfeita em saber que foram úteis. Não teriam sido capturados se tivessem usado desde o início, mas acho que não adianta reclamar disso agora.
Ninguém morreu. Soltei um suspiro de alívio. O ataque dos Trogloditas foi um grande golpe para a cidade e suas consequências certamente seriam sentidas por um bom tempo, mas pelo menos não houve vítimas fatais. Os mortos eram a única coisa que não podiam ser trazidos de volta.
A magia de Ansem podia curar qualquer ferimento, mas nem ele poderia ressuscitar alguém. Poções e tecnologia médica também não ajudavam nesse sentido. Se havia algo no nosso mundo que pudesse trazer alguém de volta, seria uma Relíquia, mas até nisso, eu só tinha ouvido rumores duvidosos.
A ausência de mortes era minha única esperança. Só de pensar no que me esperava no futuro, já me dava dor de cabeça. Tudo o que eu sabia era que eu tinha dito “ryu-ryu” e, de repente, os Trogloditas começaram o ataque.
Agora que nos certificamos de que todos estavam bem, um cansaço enorme tomou conta de mim.
— Isso tudo faz parte do plano? — Sitri sussurrou no meu ouvido.
O que, exatamente, aqui parecia planejado?
— Bom, fico feliz que todos estejam bem. O perigo passou, vamos nos dispersar por enquanto — eu disse.
Olhei ao redor e vi os moradores ainda apreensivos, Gilbert e seus companheiros, Névoa Caída, que ainda estavam em alerta, e, por fim, meus próprios companheiros. Agora, tudo o que restava era relaxar um pouco nos banhos (isso se eu ainda tivesse energia para isso) e depois descansar. Isso me daria tempo suficiente para pensar em uma boa desculpa para tudo o que aconteceu.
Mas, justo quando eu estava pronto para encerrar o dia, Arnold me lançou uma pergunta.
— Só um minuto. O que aconteceu com Barrel?
Barrel? Do que ele está falando?
Lembrei-me de Tino mencionando algo sobre isso mais cedo, mas eu estava tão sobrecarregado que deixei passar.
— Barrel? — Liz zombou, com um sorriso cruel no rosto. — Você acha que gente comum pode dar conta dele? Ele já deu cabo desses caras faz tempo. O Mil Truques não é como vocês, camponeses, certo, Krai Baby?
Liz, você não está me ajudando em nada.
Mesmo com minha cabeça vazia, eu ainda lembrava de Chloe mencionando esse nome antes. Tinha quase certeza de que era o nome do grupo que Lorde Gladis queria que eu eliminasse. Ouvi dizer que eram um bando de ladrões poderosos, mas não via qual a relação disso com a nossa situação atual.
Eu não estava planejando aceitar essa missão nomeada e, se bem me lembro, segundo Sitri…
— Eles não passam de um bando de covardes, não é? Já não fugiram com o rabo entre as pernas?
Ela não podia ter colocado isso de um jeito mais delicado? Mesmo estando certa.
Arnold ficou sem palavras. Gilbert e seus companheiros fizeram expressões tensas. Será que ela disse algo estranho?
— Desculpa, desculpa, acho que foi meio esquisito falar isso — eu disse. — Mas, sabe como é, eu estava ocupado lidando com os Trogloditas. Não tive tempo de me preocupar com um bando de ladrões.
Além disso, já exterminamos um monte de ladrões (e quando digo “nós”, quero dizer o resto dos Grieving Souls). Um bando de caras um pouco acima da média provavelmente não era grande coisa para Liz e os outros. Pelo que parecia, Gladis não conseguiu exterminá-los simplesmente porque eles fugiram.
— Quantos eram? Cem? Duzentos? Acho que é uma diferença trivial.
Quantos Trogloditas havia mesmo? Só para deixar claro, não é que eu não quisesse trabalhar. Não é que eu não quisesse trabalhar.
— Não me entenda mal, não estou dizendo que Barrel não é assustador. Eu também teria trabalho se fosse atacado por eles. Mas não vejo motivo para perseguir um inimigo que está fugindo. Isso seria tipo, sei lá, intimidar os fracos.
Se alguém estava sendo intimidado aqui, esse alguém era eu! Que tal essa para um estilo durão?
Senti vários olhares sobre mim.
— Está dizendo que sabe o quão forte Barrel é? — Arnold perguntou, tenso.
— Não sei. Não me interesso e não vejo necessidade de saber. Eu me tornei um caçador para explorar cofres de tesouro, não para caçar ladrões.
Não que eu tenha tido muitas oportunidades de limpar cofres…
Eu não esperava que entendessem. Só queria deixar claro que não planejava fazer mais nada, não importava o que dissessem.
— Se vocês estão decididos a lutar contra eles, não vou impedir. Até entrego a missão nomeada, mas é melhor se apressarem.
Eu não fazia ideia de onde esses bandidos poderiam estar. Os trogloditas e aquele dragão já tinham causado uma bagunça. Mesmo com minha sorte, era seguro dizer que bandidos não iriam aparecer no meio de tudo isso.
Vários olhos estavam fixos em mim. Mas eu já tinha dito o que precisava, então me virei para Sitri.
— Isso é tudo que tenho a dizer — falei para ela. — Odeio ter que fazer isso, mas posso deixar o resto com você?
— Claro! Ainda tenho negócios para tratar aqui de qualquer forma — ela respondeu.
Isso sim era dedicação ao comércio. Eu desejava sorte para ela.
Pronto, acabou! Não me importa o que digam, terminamos aqui! Fim de papo! Hora de tomar um banho e depois dormir.
Dei um grande bocejo e consegui dar apenas um passo à frente antes que alguém me chamasse.
— Segure-se aí, Mil Truques!
— Mmm?
Virei-me e fiquei surpreso com o que vi.
— Não se mexa. Qualquer movimento e matamos esses caras.
Alguns moradores estavam pressionando lâminas curtas e negras contra as gargantas de outros moradores. Cinco homens e mulheres de idades variadas tinham lâminas apontadas para seus pescoços. Era tão estranho que nem parecia real.
Hã? O que esse pessoal está aprontando?
Eu não conseguia entender nada. Os que seguravam as lâminas eram, sem dúvida, moradores normais. As vítimas pareciam brevemente chocadas antes que o sangue sumisse de seus rostos. Eu podia assumir com segurança que isso não era uma pegadinha.
— Você baixou sua guarda. A essa distância, temos a vantagem — disse um homem de rosto comum segurando uma lâmina curta.
Arnold lançou um olhar feroz para o homem, como um demônio saído diretamente do inferno.
— Vocês se esconderam entre eles?!
Eu não tinha a menor ideia do que estava acontecendo. Mas, pelo menos, parecia que eu não estava sozinho nisso. Será que alguns moradores tinham enlouquecido por causa dos trogloditas e se virado contra seus próprios vizinhos?
Olhei para Liz, mas parecia que ela não encontrava uma brecha. Mesmo sendo rápida como um raio, isso não era o bastante para resolver essa situação. Sem falar que eram cinco reféns.
— E-Espera um minuto. Calma aí — falei. — Essas lâminas não são algo que se usa sem o devido treinamento!
O rosto do homem se contorceu de raiva, assim como o dos outros sequestradores.
— Não zombe de nós!
Não estou zombando. Só… fiz algo que causou uma situação de reféns?
— O que vocês estão tentando fazer? — perguntei.
— C-Cale a boca!
Situações de reféns sempre eram estressantes, mas, dessa vez, eu estava mais perplexo do que qualquer outra coisa. Quebrei a cabeça tentando entender e logo cheguei a uma conclusão.
Será que eles são… trogloditas disfarçados?
Dei um passo hesitante à frente e tentei falar em outra língua para acalmá-los.
— Ryuu-ryuu?
Houve uma mudança nos rostos dos sequestradores — a raiva deles desapareceu num instante. Não, isso não era certo. Sobrecarregados pela emoção, suas expressões se tornaram vazias. Aquilo era a prova de sua determinação. Eram as expressões de soldados prontos para morrer.
— Glória a Barrel! — gritaram em uníssono.
Essas palavras foram inesperadas. As lâminas em suas mãos começaram a vacilar. Não houve tempo para reagir ou sequer dizer algo. Liz, Tino e Arnold começaram a se mover, mas claramente não iam conseguir a tempo.
Mas, quando os reféns estavam prestes a ter suas gargantas cortadas, as lâminas caíram no chão.
Juro pela minha honra que nem pisquei. Aconteceu de repente. Os cinco sequestradores desapareceram sem deixar rastro, bem antes que pudessem derramar qualquer sangue.
Os reféns libertos cambalearam e caíram de joelhos. Eu sentia como se estivesse sonhando, mas Arnold também olhava freneticamente ao redor, Liz tinha os olhos arregalados e Tino…
— Hm? Onde está a Tino? — perguntei.
— Eigh e os outros também sumiram. O que está acontecendo?! — Arnold gritou.
Não foram apenas os cinco sequestradores que desapareceram. Liz, Sitri, Arnold e Matadinho ainda estavam conosco, mas Tino, que estava ali um instante atrás, tinha sumido, assim como Névoa Caída, Rhuda, Gilbert e o restante do grupo dele. Ainda assim, os reféns e eu estávamos bem. Nada disso fazia sentido.
O que diabos acabou de acontecer?
Observei Sitri se abaixar e pegar algo aos seus pés. Ela soltou um pequeno suspiro e colocou o objeto na palma da mão.

— Krai, temos um problema — ela lamentou. — Lucy está furiosa. Olha o que aconteceu com a T…
— O quê?!
— Aah, então era assim que você planejava lidar com o Barrel. Achei estranho você simplesmente curar os membros feridos do Barrel e deixá-los ir — disse Liz. Ela parecia surpresa, e isso não era comum para ela.
Na palma da mão de Sitri havia um adorável sapinho preto, freneticamente olhando para todos os lados.
***
Tudo tinha saído conforme o planejado. Desde a infiltração na cidade até a forma como lidaram com a ameaça dos caçadores de alto nível, eles realizaram uma invasão perfeita. Se Geffroy e seus companheiros cometeram um erro, foi ao escolher quem enfrentar.
Eles não deveriam ter desafiado um caçador de Nível 8. Mesmo que tenham encontrado uma oportunidade tentadora, deveriam ter se mantido afastados. Deveriam ter fugido. Mas agora era tarde demais para arrependimentos.
— Nunca ouvi falar de alguém que manipulasse criaturas dessa forma — disse Geffroy, com a respiração ofegante, enquanto verificava cuidadosamente os arredores.
Eles tinham se reagrupado bem. Alguns feridos acabaram ficando para trás, mas o inimigo contra quem lutavam parecia não ter fim. Se não fosse pela excelente coordenação do Barrel, as perdas teriam sido muito maiores.
Os seres cinzentos de antes haviam desaparecido. No momento em que o dragão apareceu no céu, eles bateram em retirada. Nem sequer deixaram os corpos de seus companheiros caídos. Geffroy achou isso incrivelmente perturbador.
Os bandidos tentavam manter a postura, mas sua vontade de lutar havia sido destruída. Por um breve momento, eles tinham visto aquele homem no topo do telhado, dando ordens em uma língua bizarra. Aquilo causou mais medo do que a ameaça imediata diante deles. Até mesmo o comportamento calmo e controlado de Kardon havia se quebrado.
— Eu também nunca vi isso antes, mas é a realidade diante de nós.
— Por que ele comandou aquelas criaturas? O que ele estava tentando fazer?
A pergunta de Geffroy ficou sem resposta.
Aqueles seres cinzentos, sem dúvida, eram obra do Mil Truques. Se tivessem apenas atacado, poderia ser considerado uma coincidência. Mas eles também recuaram. Uma coincidência era improvável demais.
Eles já tinham reunido a maioria dos bandidos que estavam de guarda com os reféns. Só por precaução, alguns membros do grupo estavam infiltrados entre os reféns, mas não eram suficientes para fazer muita diferença.
Manipular aqueles seres era um poder aterrorizante. Mas o mais assustador de tudo era que Geffroy e Kardon não perceberam que estavam sendo manipulados até que começaram a recuar. Se os líderes dos bandidos tivessem percebido isso antes, poderiam ter ordenado que aqueles cinco bandidos ficassem com os reféns? Provavelmente não.
Aqueles seres demonstravam uma hostilidade clara contra a humanidade. Um ódio que fazia Geffroy ter certeza de que suas únicas opções eram matar ou morrer. Virar as costas para criaturas tomadas por ódio exigia nervos de aço ou estupidez excepcional.
Eles tinham conseguido reunir a maioria de seus membros dispersos, o que significava que o Esquadrão de Bandidos Barrel ainda estava com cerca de oitenta por cento de sua força. Isso era mais do que suficiente. E aqueles seres estranhos não estavam mais à vista.
Mas Geffroy manteve sua decisão.
— Vamos sair daqui — ele disse.
— Tem certeza? Essas perdas não serão fáceis de recuperar.
— Precisamos nos apressar. Ele não teria mandado embora aquelas criaturas sem um bom motivo.
Eles não tinham terminado o saque, perderam pessoal e gastaram Relíquias valiosas. Estavam em uma situação ruim. Se essa história se espalhasse, o nome do Esquadrão de Bandidos Barrel perderia o respeito que tinha no submundo.
Mas eles tinham crescido sabendo quando era hora de bater em retirada. A pergunta de Kardon era apenas retórica. Depois de liderar o Barrel por tanto tempo, ele e Geffroy praticamente liam a mente um do outro. Estavam sempre na mesma página.
— Você pode se recuperar de qualquer derrota, mas só se continuar respirando — disse Geffroy.
Kardon começou a dar ordens.
— Vocês ouviram o chefe! Preparem-se para recuar! Não temos tempo para ir até a saída, vamos pular os muros!
Sem quebrar a formação e atentos ao ambiente, os bandidos começaram a se mover rapidamente, exatamente como seu treinamento ensinara. A invasão do Barrel tinha sido silenciosa, e sua retirada seria ainda mais discreta.
De repente, um dos bandidos chamou:
— Chefe, tem um dos nossos ali!
Geffroy olhou na direção que seu subordinado apontava. Naturalmente, ele conhecia o rosto de cada um de seus homens. Apertando os olhos, confirmou que o homem que se aproximava era de fato um membro do Barrel. Seus membros estavam quebrados, e Geffroy foi forçado a deixá-lo para trás pelo bem do grupo. Mas não havia dúvida de que aquele homem não era um impostor.
— O que aconteceu com seus ferimentos? — ele perguntou.
— Um dos camaradas dos Mil Truques me curou com uma poção. Ele disse que não éramos inimigos.
Geffroy não respondeu. Ele não entendia, mas o próprio homem parecia ainda mais confuso. Aquilo era absurdo demais para ser apenas um descuido do vencedor. O Esquadrão de Bandidos Barrel não era tão ingênuo a ponto de ser influenciado só porque alguém curou seus aliados, e isso sem falar na recompensa por suas cabeças. O que poderia levar os Mil Truques a correr esse risco e deixá-los ir?
— Para deixar testemunhas? — sugeriu Kardon.
— Absurdo.
Kardon provavelmente não estava falando sério. Aquilo era improvável demais, sem propósito. Mas não era hora de ficar pensando nisso. Ter um companheiro de volta era algo positivo, independentemente do motivo. Se o Mil Truques estavam tentando insultar o Barrel, então eles só precisavam garantir que ele se arrependeria dessa decisão um dia.
Enquanto Geffroy ponderava sobre a situação, mais companheiros retornaram. Todos haviam sido feridos gravemente o suficiente para que um simples tratamento não fosse suficiente para colocá-los de pé novamente. No entanto, deviam ter recebido poções poderosas ou algo do tipo, pois estavam andando normalmente.
Foi uma reviravolta inesperada. Aceitar isso como um fato era a melhor resposta? Eles já haviam derrotado caçadores renomados, cavaleiros veteranos e muitos outros adversários poderosos. Receber misericórdia agora era nada menos que humilhante. Mas Geffroy e Kardon não eram tolos; não deixariam suas emoções tomarem conta. Fazia tempo que não provavam o gosto da humilhação, mas já estavam acostumados a serem jogados no chão.
Para ajudar na fuga, os shinobi rapidamente fincaram estacas na parede. Eles estavam atentos, mas não havia sinais de inimigos. Geffroy lançou um último olhar fulminante para o lugar onde tinha visto o rei dos demônios. Ergueu seu machado de batalha manchado de sangue e sussurrou uma silenciosa declaração de guerra.
— Só espere. Isso ainda não acabou. Vamos ficar mais fortes e voltaremos por você com tudo o que tivermos. Eu juro em nome do Barrel.
Hora de recuar.
Ele deu a ordem e se virou — mas então congelou. Seus subordinados, a elite que ele passou tanto tempo treinando, aqueles que estavam se preparando para a fuga, tinham todos desaparecido. Nem mesmo uma única arma ou peça de roupa restava.
— Impossível — Kardon murmurou, com a voz rouca. Ele e Geffroy eram os únicos que sobraram. O sangue havia sumido do rosto de Kardon, algo que nunca tinha acontecido, mesmo diante dos inúmeros desafios que superaram juntos.
— Kardon, o que aconteceu?
Geffroy estava olhando para o outro lado, mas Kardon deveria ter visto tudo. Só que Kardon, que sempre tinha uma resposta rápida, não disse nada.
Geffroy tentou novamente, com um tom mais severo.
— Responda! Para onde eles foram?!
Finalmente, Kardon abriu a boca, mas suas palavras saíram em pedaços.
— Sapos. Eles viraram… sapos. O quê… O que é isso?
Sapos? Sapos?!
Geffroy finalmente notou as dezenas de pequenos sapos espalhados pelo chão. Um arrepio percorreu sua espinha. Os pelos de seu corpo se eriçaram. Os sapos não coaxavam, apenas olhavam para Geffroy. Havia algo estranhamente humano naqueles olhares.
De repente, ele sentiu que estava sendo observado. Seus instintos o fizeram se virar para a origem daquele olhar, e seu coração quase parou. Seu machado escorregou de suas mãos e caiu no chão com um baque pesado, cortando levemente a terra. Mas ele estava tão atordoado que nem pensou em pegá-lo de volta.
Aquela muralha de pedra tinha mais de três metros de altura. E, bem acima dela, um elmo cinzento o observava em silêncio.
***
A magia sempre foi admirada por aqueles que não podiam usá-la. Antes de me frustrar completamente com minha falta de talento, eu também sonhava em me tornar um mago. Quando o mago local da nossa cidade me disse que eu não tinha aptidão para isso, comecei a seguir Lucia. Ela tinha talento e estava disposta a se esforçar para se tornar uma conjuradora.
Naquela época, antes de entender qualquer coisa sobre magia, eu achava que feitiços eram milagres capazes de tornar qualquer coisa possível. Mais tarde, eu descobriria que isso era um absurdo, mas, na época, eu era só uma criança. Fiz uma lista dos feitiços supremos e, para o desespero da minha irmã, entreguei a ela com entusiasmo. Construi um cajado mágico, dei a ela como presente e fiquei emburrado quando ela não quis usá-lo. Eu simplesmente fazia o que queria.
Lucia era dedicada e nunca negligenciava seus estudos, então, mesmo sem vontade, ela fez o máximo para combinar feitiços existentes e tentar recriar os feitiços do meu “Grande Grimório Definitivo”. Eu aplaudia e dizia o quanto ela era incrível, mas sempre levava um soco quando apontava pequenos erros. Olhando para trás, me sinto mal por isso.
Não acho que nossas brincadeiras infantis tenham tido um impacto direto, mas Lucia acabou se tornando uma maga poderosa e sábia. Ela dominou vários feitiços originais e se tornou uma das maiores magas de Zebrudia.
Enquanto isso, eu desisti da magia e me dediquei ao que podia usar: Relíquias.
Sitri ergueu Tino com cuidado e a colocou dentro de um frasco de poção vazio. De dentro da câmara transparente, o sapo preto me olhava com olhos lacrimejantes.
— Agora ela deve ficar bem — disse Sitri.
Não sei se dá para chamar isso de “ficar bem”…
Levantei o frasco e franzi a testa ao olhar para uma Tino minúscula e claramente perturbada.
— Então ela conseguiu? O Milagre da Bruxa, Variante Sapo.
Muito tempo atrás, vi esse feitiço em um conto de fadas e desejei vê-lo na vida real, mas Lucia disse que era impossível. No entanto, pelo que parecia, esse era exatamente o mesmo feitiço. Ele estava no volume três ou quatro do grimório que escrevi. Recebi várias objeções na época, como “Esse tipo de feitiço não existe”, “Pense com lógica. O que acontece com a mudança de massa?” e “Mesmo que eu consiga fazer a transformação, como vou desfazer?”
E agora, anos depois, eu via esse feitiço diante dos meus olhos… e sinceramente não sabia como reagir.
— Você acha que dá para reverter a transformação? — perguntei.
— RIBBIT?!
— Por enquanto, acho que está tudo bem assim, não? — respondeu Sitri. — Eu acho que ela está adorável desse jeito.
Sitri estava dizendo umas coisas bem preocupantes. Sapos eram ingredientes comuns para alquimistas. O sapo Tino batia desesperadamente contra o vidro.
— Ribbit?! Ribbit, ribbit!
— M-Mas que droga! O que aconteceu?! — Arnold gritou.
— Cuidado, se eles se misturarem, não vamos conseguir distinguir quem é aliado e quem é inimigo — avisei.
— Você só pode estar brincando!
Apesar do meu aviso, Arnold pisou forte no chão. Perto de seus pés estavam os sapos que antes eram Rhuda, Gilbert e alguns moradores da cidade.
Inferno, eu já nem consigo dizer quem é quem.
Olhei novamente para a perereca que tinha a mesma cor do cabelo da Tino.
— Mmm. Você acha que um elixir supremo poderia transformá-la de volta em humana?
Eu nem sabia por que a Lucia estava irritada e como isso resultou na Tino se tornando um sapo. Lucia e Tino se davam muito bem, quase como irmãs. Ela não era tão agressiva quanto as irmãs Smart, o que facilitava sua convivência com a Tino.
Liz ofereceu uma resposta.
— Provavelmente voltaram para a capital e ouviram falar das nossas férias. Qualquer um ficaria puto se de repente se visse envolvido nesse caos.
Fazia sentido que ela e os outros Grieving Souls tentassem nos alcançar ao saberem que saímos para uma viagem. E quem poderia culpá-los se ficassem de mau humor ao verem algo ruim acontecendo em Suls?
— Eles chegaram tarde demais. Se ao menos tivessem vindo um pouco antes — resmunguei.
— Agora posso me gabar para o Luke sobre as coisas incríveis que vi — disse Liz. Como sempre, suas prioridades eram únicas.
Lucia era poderosa. Ela era uma Maga de Nível 6, próxima do Nível 7, ficando logo abaixo de Ansem. Seu forte era lidar com múltiplos inimigos ao mesmo tempo (mas isso era quase um requisito para Magos) e ela tinha o maior número de abates no nosso grupo.
No fim, não fazia muita diferença, já que o problema havia sido resolvido. Mas se ela estivesse conosco, talvez tivéssemos conseguido lutar contra o exército de Trogloditas. Ela poderia ter feito algo sobre o dragão. Mas, novamente, isso realmente importava?!
Sitri então bateu palmas e sorriu.
— Ah, já sei! Vamos dar uma recepção calorosa para a Lucy. Talvez isso anime ela!
Tino-sapo bateu no vidro, implorando para que eu a soltasse.
***
À beira do colapso depois de forçar seu corpo ao limite, Chloe encontrou ajuda. O homem que uma vez havia destruído sua confiança em um combate simulado parecia sério, seus olhos carmesim semicerrados.
— Entendido — disse ele. — Agora, sobre esse esquadrão de bandidos. Eles têm algum Espadachim poderoso entre eles?
Grieving Souls. Houve um tempo em que um grupo de indivíduos se tornou caçador e deu ao seu grupo um nome que você esperaria estar associado a uma gangue de criminosos.
Todos os anos, na capital imperial de Zebrudia, incontáveis jovens aspirantes a caçadores se registravam. Não faltavam grupos compostos por seis jovens recém-chegados do interior, e um nome tão irritante deveria ter encerrado suas carreiras rapidamente.
No entanto, esse grupo superou cada dificuldade que enfrentou. Eles conseguiram com talento e trabalho duro. Coragem e sorte. Conhecimento raro e determinação férrea o bastante para instilar medo até em outros caçadores.
Seria mesmo coincidência que, no caminho para a cidade mais próxima, Chloe tivesse encontrado uma carruagem com três de seus membros?
Grieving Souls era composto apenas por portadores de epítetos e era um dos principais grupos da capital imperial. Eram jovens demais para serem considerados veteranos, mas seus olhos carregavam o mesmo brilho de todos os campeões.
Chloe trabalhava na Associação dos Exploradores havia algum tempo, mas os membros dos Grieving Souls raramente apareciam por lá, então ela não os conhecia bem. Estranhamente, ela não se sentia particularmente nervosa dentro da carruagem deles.
Quando Luke perguntou sobre os Espadachins, a Maga de longos cabelos negros suspirou e quebrou o silêncio. Com apenas dezenove anos, ela havia dominado uma grande variedade de magias e era uma das principais Magas da capital. Seu nome era Lucia Rogier, Nível 6, portadora do epíteto Avatar da Criação, e segurava seu cajado com os braços cruzados.
— Esse não é o problema! — ela reclamou. — Nossos planos de ir para uma fonte termal nos levaram direto para um monte de bandidos! E nós acabamos de sair de um cofre do tesouro!
— São só bandidos?
— E por que temos que limpar as bagunças do nosso líder, se ele ficou sentado enquanto fazíamos aquela longa expedição?!
Os dois pareciam bem jovens durante essa troca, nada parecidos com caçadores de elite.
— Não, isso sempre acontece! — Lucia continuou. — Além disso, se meu irmão está envolvido, então não tem como serem só alguns bandidos comuns.
— É, aham.
— Não me imite! Não pareça tão satisfeito!
— Certo, uhum?
— Não invente sua própria versão! Ansem, diga alguma coisa para ele!
Houve um estrondo quando Ansem deu uma breve resposta do lado de fora da carruagem sem cocheiro.
Parece que os rumores eram verdadeiros. Os Grieving Souls eram todos amigos de infância, como ficava claro pela maneira despretensiosa como falavam, sem qualquer cerimônia, como apenas conhecidos íntimos fazem. Mas pareciam casuais até demais. Eles realmente conseguiriam salvar Suls?
Chloe pôde ver novamente a cidade de onde havia fugido desesperadamente. Logo além da nova muralha, várias carruagens estavam abertas.
— São muitas — murmurou Lucia.
Provavelmente estavam ali como uma rota de fuga caso fosse necessário. Não pareciam ser suficientes para todos os bandidos que Chloe havia visto na cidade, mas ainda assim, esse era um passo que a maioria dos grupos de bandidos nem se dava ao trabalho de tomar. Ela não havia visto nenhum morador enquanto escapava e, considerando o quão bem treinados os bandidos eram, era provável que tivessem sido feitos reféns. Pelo menos ela não havia sentido cheiro de sangue, mas uma situação com reféns ainda era um pesadelo.
Suls não era uma cidade muito grande, mas se espalhava por uma área relativamente extensa, e Chloe não fazia ideia de onde os reféns poderiam estar. Mesmo os orgulhosos cavaleiros da capital imperial considerariam isso uma situação complicada. Como funcionária da Associação dos Exploradores, ela havia aprendido métodos de lidar com bandidos, mas essas lições básicas não seriam suficientes contra o Esquadrão de Bandidos Barrel.
Mesmo tendo sido um ataque surpresa, Barrel conseguiu pegar a Queda do Relâmpago desprevenida. Os bandidos tinham números esmagadores. Chloe tinha poucas informações e apenas três aliados.
O que poderiam fazer diante de tamanha desvantagem?
— Como devemos proceder? — perguntou hesitante.
Luke e Lucia trocaram olhares.
Ansem, o Imutável, ergueu um punho.

O mundo gemeu, a terra e o ar tremeram. Com um único golpe, a densa parede foi despedaçada. Não houve um momento de dúvida. Que plano direto era aquele.
— Vamos proceder como de costume. Lucia vai enlouquecer com os feitiços, Ansem vai enlouquecer quebrando coisas. Eu vou focar na persuasão — disse Luke.
Chloe tinha certeza de que os avisou sobre o que estavam enfrentando, mas eles simplesmente avançaram. Agora era tarde demais para detê-los.
A abordagem deles era bem diferente da de qualquer outro caçador que Chloe conhecia ou dos passos calculados dos bandos de ladrões. Barrel contava com centenas de membros e, muito provavelmente, tinha reféns. O que apenas três pessoas poderiam fazer? Eles não deveriam ter procurado ajuda em outra cidade? No entanto, Chloe logo viu seus receios se dissiparem.
Luke Sykol. A Espada Proteana e um dos maiores espadachins da capital imperial.
Lucia Rogier. O Avatar da Criação e mestra das magias de todas as regiões e eras.
E então havia aquele Paladino cuja fama talvez rivalizasse com a de Rodin. Ele era ainda maior que o gerente de filial Gark, um homem outrora temido como o Demônio da Guerra. Com cada centímetro da pele oculto pela armadura, mal parecia humano.
O gigante blindado não disse uma palavra ao socar a parede. Ele entrou na cidade apertada e escaneou os arredores. Que força avassaladora. O Imutável era conhecido por sua bondade, mas parecia mais monstruoso que qualquer monstro real.
O casaco vermelho da Espada Proteana esvoaçou quando ele seguiu Ansem pelo buraco.
— Quantas vezes eu tenho que te dizer, Krai? Um homem com um machado não é um espadachim! — disse Luke, estalando a língua.
Diante da parede destruída, um homem corpulento segurava um machado cravado no chão.
— Quem são vocês?! — ele gritou.
Chloe reconheceu aquele homem. Ele estava no relatório da missão emitido por Lorde Gladis. O líder dos ladrões que conseguiu sobreviver por tanto tempo apesar de ser procurado em inúmeros países. Geffroy Barrel.
Não era um sósia. Era o próprio homem. Mesmo de longe, ele tinha a mesma postura poderosa de um caçador veterano. Parecia justo supor que os rumores eram verdadeiros quando diziam que ele era uma força comparável a caçadores de alto nível.
Mas até sua figura imponente era diminuída pela energia ardente emanada por Luke. Os lábios da Espada Proteana se curvaram em um sorriso quando ele ouviu a pergunta do homem.
— Pensar que você não sabe o meu nome. Diga-me, velhote, você não é algum tipo de impostor, é?
Sua voz era um pouco aguda para um homem.
Depois dele, Ansem avançou, seguido por Lucia, que havia conjurado um feitiço de grande área antes de entrar na cidade. Em algum momento, eles colocaram máscaras que lembravam crânios sorridentes — o símbolo dos Grieving Souls. Luke pegou uma máscara semelhante e a colocou.
Atrás do líder dos ladrões, um homem de olhar firme murmurou:
— Grieving Souls…
— Oh, então você sabe quem somos? Apresentações não são o meu forte.
***
— Im…possível.
Gotas de suor frio brotaram no rosto de Kardon. O crânio sorridente, aquela máscara que incutia medo nos criminosos por todo o império, estava olhando diretamente para ele e Geffroy.
Havia uma figura gigantesca coberta de armadura, o espadachim ruivo de baixa estatura e a maga de cabelos negros com seu grande cajado. Geffroy e Kardon tinham ouvido rumores sobre as máscaras de crânios sorridentes, mas havia algo quase surreal em vê-los pessoalmente.
Mas uma coisa era certa — eles eram fortes, de um nível completamente diferente dos dois que Barrel encontrara nas montanhas. Não era só o gigante, os outros dois também tinham uma aura que os marcava como alguns dos caçadores mais poderosos que Barrel já havia encontrado.
— Os dois de antes… eram uma armadilha?
Geffroy era de fora do império. Ele investigou os Grieving Souls, um grupo ativo principalmente em Zebrudia, mas ainda havia muito que ele não sabia. No entanto, ao menos conseguiu obter algumas informações sobre sua estrutura e membros. Eles eram um grupo de sete. Se os três diante dele eram tão poderosos, era inconcebível que dois de seus companheiros, que presumivelmente limpavam cofres do tesouro com eles, fossem tão fracos.
O homem à sua frente era um espadachim, o que significava que ele provavelmente era a Espada Proteana.
— O que está acontecendo? Então aqueles dois realmente eram… Droga.
Geffroy pensou que aqueles dois eram fracos. Ele sabia que às vezes as pessoas se escondiam atrás dos nomes de caçadores famosos. Mas as circunstâncias haviam se alinhado perfeitamente. O medo e o pânico em seus rostos eram genuínos. Sem mencionar que esse era o tipo de artimanha que normalmente se esperaria de um grupo fantasma.
Geffroy deixou a questão de lado. Três pessoas nunca seriam o suficiente contra os quase trezentos membros de Barrel. Mas agora eram apenas Geffroy e Kardon. Pegando seu machado novamente, Geffroy sentiu-se ansioso por sua primeira luta de verdade em muito tempo. Então, ele percebeu o caçador ruivo olhando para ele.
— Espere, Lucia. Ainda tem dois — disse ele, intrigado.
— Só sobraram dois! Você pode não saber disso, Luke, mas lançar feitiços de grande área é incrivelmente exaustivo.
Observar. Avaliar a situação. Ouvir. Força e uma mente fria permitiram que Geffroy sobrevivesse a tudo que a vida jogou contra ele. Ele ainda podia vencer isso.
Aquela maga disse “grande área”. Mas quão grande? Esse não era um feitiço que ele já tinha visto antes. Será que ela quis dizer a cidade inteira? Impossível.
Não, disse a si mesmo. Isso não é o mais importante agora.
Ela era uma Maga e estava exausta. Havia lançado um feitiço que incapacitou instantaneamente centenas de homens, mas não conseguiria fazer isso uma segunda vez. Se a Maga estivesse fora da equação, Geffroy teria uma chance de sobreviver. O Esquadrão de Ladinos Barrel não estava do lado da justiça. Covardes tinham sua própria maneira de fazer as coisas.
— Foi você quem transformou nossos subordinados nesses… digamos, encantadores homenzinhos? — Kardon perguntou com espanto. Ele segurava uma lâmina curta na mão. — Fiquei realmente surpreso. Nunca vi um feitiço assim. Mas, temo que tenha sido tarde demais.
Sua voz gelada era serena e mais baixa que o normal. Geffroy percebeu que seu parceiro havia chegado à mesma conclusão que ele. Ele abafou suas preocupações e agora buscava um fio de esperança. Os três caçadores observavam a impressionante atuação de Kardon. Um sorriso cruel se formou em seus lábios.
— Esta cidade já está sob nosso controle. Se nos capturarem, levaremos todos conosco. Seus amigos, os moradores e a própria cidade serão alvos do Barrel.
Isso mesmo. Eles iam blefar. Esses três tinham acabado de chegar, não deviam ter ideia de qual era a real situação de Suls. Poderiam ser influenciados. Por mais fortes que fossem, ainda eram humanos; um machado na cabeça ainda os mataria.
— Do que você está falando? — perguntou o Espadachim ruivo.
Seu nome era Luke Sykol e suas habilidades com a lâmina estavam entre as melhores do império. Ele estudava esgrima vorazmente, absorvendo técnicas novas e antigas, de todas as partes. Seu título, a Espada Proteana, já fora ostentado por diversos renomados espadachins.
Apesar das circunstâncias, ele estava tranquilo. Não parecia afetado pelas ameaças de Kardon. Mas ele também não estava em guarda. Nem sequer havia desembainhado sua lâmina, que permanecia ao seu lado. Sem demonstrar preocupação com um possível ataque surpresa, Luke deu um passo à frente e parou a poucos centímetros de Kardon.
Uma oportunidade estava se apresentando! Geffroy estava confiante. Ele talvez não tivesse a mesma habilidade com a lâmina, mas aquilo não era um duelo. Quando se tratava apenas de atacar, ele era mais rápido. Reprimiu seus impulsos violentos e observou atentamente o caçador. Assim que ele avançasse, Geffroy o cortaria.
No momento em que se preparava para atacar, Luke lentamente removeu sua máscara e ergueu as mãos.
— Meu mal. Eu deveria ter conversado com vocês antes — disse ele.
— O quê?
Geffroy sequer respirou. Os olhos de Kardon se arregalaram de choque. A Maga pressionou as mãos contra as têmporas. O gigante permaneceu perfeitamente imóvel.
— Acalmem-se e me escutem — disse a Espada Proteana, soando completamente sério. — O Krai vive me dizendo como a comunicação é importante. Coisas tipo: “Converse com as pessoas antes de cortá-las.” É um saco, mas aparentemente isso é o que está na moda agora, e eu quero ser tanto estiloso quanto o maior espadachim vivo.
— Do que você está falando?
Geffroy não entendia. Se nada mais, aquilo definitivamente não era algo que se ouvia antes de uma batalha. Ele estava tentando enganá-los para que baixassem a guarda?
A Espada Proteana estava completamente aberto, sua guarda estava baixa. Não havia motivo para ouvi-lo. Geffroy apenas precisaria mover as mãos e acabar com ele.
Mas, por mais que tentasse, Geffroy não conseguia mover as mãos. Seus olhos se arregalaram e ele começou a suar.
Estou nervoso demais?
Então a Espada Proteana disse algo totalmente inesperado.
— E, vejam só, eu planejava conversar com vocês antes de cortá-los. Mas, ah, simplesmente não consegui me segurar.
— Hã?!
Um longo segundo se passou. Algo caiu no chão com um baque surdo. O lado direito de Geffroy parecia mais leve e uma dor intensa explodiu em seu ombro. Mas ele não teve o luxo de virar a cabeça.
Ele não estava com medo da dor, simplesmente não havia percebido. Não viu quando foi cortado, nem sequer viu aquele homem desembainhar sua lâmina. O sangue sumiu do rosto de Kardon; provavelmente ele também não havia visto nada.
— Mas acho que, no fim das contas, dá no mesmo — disse Luke. — Na próxima vez, vou me esforçar mais para lembrar disso, e é isso que importa, certo?
— Seu idiota, nós temos reféns—
— Vocês também poderiam ser mais cuidadosos no futuro, se tiverem um. Mas vocês simplesmente não servem.
Então, de maneira totalmente casual, a Espada Proteana desembainhou sua lâmina. Dessa vez, Geffroy viu claramente o brilho da lâmina. Mas evitá-la era outra história. Eles deveriam ter conseguido ver o ataque. Kardon caiu no chão assim como o braço de Geffroy havia caído.
— Não é questão de gostar ou não, mas, sempre que possível, prefiro lutar contra um espadachim. Machadeiros e caras com lâminas curtas não contam, mas o Krai simplesmente não aprende. Ah, não estou querendo menosprezar vocês nem nada, mas me diverti muito mais com aquele espadachim de seis braços lá no Palácio Noturno.
Geffroy não entendia uma única palavra do que aquele homem dizia. Luke parecia estar falando com eles, mas nada fazia sentido.
— Luke, os reféns! — Lucia repreendeu.
— Sim, eu sei. Por isso me segurei. Não os cortei, veja só?
Os joelhos de Geffroy fraquejaram. Sua mente ficou em branco ao ver a lâmina que Luke usava.
— Não, estou dizendo para você não atacar de jeito nenhum! Pelo amor de Deus!
A Maga parecia desesperada. Os sapos coaxavam em um coro barulhento. A última coisa que Geffroy viu foi a espada de madeira simples de Luke.
***
Caminhávamos pela cidade vazia. Na verdade, apenas Liz, Sitri e eu estávamos caminhando. Arnold estava pálido como um fantasma. Eu estava contando com Liz para fazer uma verificação adequada, mas não vi mais nenhum sapo por perto. Aparentemente, toda a cidade realmente tinha sido reunida na praça.
Quando parei para pensar nisso, era um feitiço aterrorizante. Até eu poderia vencer uma luta contra alguém que tivesse sido transformado em sapo. O que alguém poderia fazer contra uma magia como essa?
— O que determina se você se transforma em um sapo ou não? — perguntei em voz alta.
Eu conseguia entender por que Arnold, Liz e Sitri não haviam sido afetados. Caçadores com grandes quantidades de material de mana eram resistentes a todo tipo de coisa que pessoas normais não eram. Eu aceitava que Tino e Rhuda tivessem sido transformadas. Pelo mesmo motivo, os guardas da cidade também viraram sapos.
Mas os cidadãos e eu, pessoas com pouco ou nenhum material de mana, permanecemos humanos. Eu não conseguia entender o porquê.
Sitri me olhou com curiosidade.
— Não foi você quem criou esse feitiço?
— Bem, isso é verdade.
Eu só tinha pensado no resultado final, não no processo por trás dele. Tinha quase certeza de que tudo o que escrevi naquele grimório que empurrei para Lucia foi: “Um feitiço que transforma pessoas em sapos”. Esse era um dos muitos motivos pelos quais ela sempre reclamava de mim.
Sitri ponderou por um momento.
— Imagino que tenha sido projetado para excluir não combatentes — disse ela.
— Por que acha isso?
— Uma vez, ouvi Lucia reclamando sobre como você deu a ela a tarefa absurda de criar um feitiço que não tivesse efeito sobre civis.
Ah, sim. Fui eu mesmo. De fato, fiz isso. Foi para que eu pudesse armazenar o feitiço em um Aspiration Manifest.
O Aspiration Manifest simplesmente liberava os feitiços no mesmo estado em que foram armazenados, então não dava para ajustar o raio de efeito como em um lançamento normal. Isso me levou a pedir um feitiço que não afetasse não combatentes. O resultado desse pedido foi Tyrant’s Order, o feitiço que eu lancei sobre Arnold e seu grupo.
Ah, acho que funcionam com o mesmo princípio.
— Talvez tenha algo a ver com os níveis de material de mana? — sugeri.
— Arnold provavelmente não foi afetado porque resistência a feitiços de transformação se fortalece muito mais facilmente do que resistência a venenos. Eu sabia que você não me decepcionaria, Arnold!
— Mmm — foi a única resposta de Arnold ao elogio de Sitri.
Vou tentar animá-lo na próxima chance que tiver.
Dentro do frasco, Tino coaxou enquanto ouvia nossa conversa.
Imaginei que a resistência também poderia explicar por que Liz e Sitri não foram afetadas. E quanto a mim, bem, é porque meu material de mana estava no mesmo nível de um civil comum.
Eu não achava que havia nada com que me preocupar, afinal era um feitiço da Lucia. Mas seria péssimo se não conseguíssemos trazer todos de volta às suas formas originais. No pior dos casos, eu poderia acabar sendo alvo de uma missão nomeada. Mesmo que conseguíssemos reverter todos, eu sabia que Gark iria querer ter uma conversa comigo quando voltássemos para a capital imperial. Só de pensar nisso me dava vontade de vomitar.
Depois de andarmos um pouco, os olhos de Liz começaram a brilhar.
— Aí está você! Luuuke!
O primeiro que avistei foi Ansem. Ele tinha mais de quatro metros de altura e ainda estava crescendo. Embora fosse o membro mais tranquilo do nosso grupo, sua grande figura coberta de armadura fazia com que se destacasse.
Perto de uma parede danificada estavam Luke e Lucia, ambos usando máscaras, que removeram ao ouvir a voz de Liz. Eu não os via desde que foram ao Palácio Noturno, e isso já fazia um tempo.
— Demoraram demais! O dragão e o povo das cavernas já voltaram para casa! Azar o de vocês! — gritou Liz.
Parece que Luke não esperava ouvir isso.
— O quê?! Krai, me diga para onde eles foram!
— Azar o seu! Krai Baby já cuidou disso!
Essa realmente era a primeira coisa que você tinha para me dizer, Luke? E eu não cuidei disso. Se você quer o povo das cavernas, há um reino inteiro deles.
Palavras falharam em capturar a expressão já irritada de Lucia ao ouvir a voz de Liz.
Então, notei dois humanos no chão. Um estava com o rosto na terra, o outro em uma poça de sangue.
Luke, você acabou de sair de um cofre do tesouro!
Corri até eles. Um não tinha ferimentos notáveis, mas o mais forte dos dois havia perdido o braço direito.
— Luke! O que você está fazendo cortando civis?! Eu te disse para pelo menos pegar leve e usar uma espada de madeira!
— Eu usei uma espada de madeira.
Isso é ainda pior!
Tomei cuidado para não pisar em nenhum dos sapos enquanto me aproximava. Ajoelhei-me ao lado do homem maior e virei sua cabeça para mim. Não achei que conseguiria virá-lo completamente. Ele tinha um rosto robusto, mas isso não significava que não poderia ser um dos cidadãos. Talvez fosse um guarda? Felizmente, ele ainda parecia consciente apesar da perda de sangue e olhou para mim com olhos vazios.
A essa altura, tudo o que eu podia fazer era me desculpar.
— Sinto muito. Estou sempre dizendo para o Luke não sacar a espada a menos que tenha um bom motivo. Ansem, você pode curá-lo?
Por algum motivo, Ansem apenas observava em silêncio. Atacar civis era algo muito, muito ruim. Não tínhamos incidentes recentes, então acabei ficando complacente.
— Entendi — disse Luke com um gemido. — Se você pode curá-los, então pode continuar se divertindo! Achei uma pena não ter visto aquele machado em ação. Você é um gênio, Krai.
Você esqueceu sua humanidade naquele cofre do tesouro?
Eu havia confiscado sua espada de verdade, mas ele ainda não tinha aprendido a lição.
— Eu não estou sempre te dizendo para tentar se comunicar primeiro?! Você tentou?
Luke desviou o olhar.
— Claro que tentei — disse ele em voz baixa.
Tradução: Carpeado Para estas e outras obras, visite Canal no Discord do Carpeado – Clicando Aqui
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