Hoshizora no Shita – CapĂ­tulo 4

 

 

Hoshizora no Shita Kimi no koe Dake wo Dakishimeru

Abaixo do Céu Estrelado, Agarro-me Apenas à Sua Voz

Light Novel Online – CapĂ­tulo 04:
[A Porta Até Eina]


Parte 1

— HĂĄ cinco anos, em outubro, houve um grande tufĂŁo, Eina saiu de casa durante a noite e houve um deslizamento de terra naquele dia. VocĂȘ lembra daquele deslizamento, nĂ©?

— Lembro…

— Bom, a verdade Ă© que aquela garota estĂĄ desaparecida desde entĂŁo. Saiu atĂ© no jornal. A julgar pelo contexto da coisa toda, Ă© bem provĂĄvel que ela tenha sido soterrada.

— Entendo.

— Shuu, eu sinto muito. — Sakai estava expressando seu pesar, então eu sorri.

— Obrigado por tudo. Estou feliz por saber um pouco sobre ela. Obrigado tambĂ©m, Senpai.

— Shuu-kun…

Parecia que ela nĂŁo conseguia encontrar palavras adequadas. Era compreensĂ­vel.

Eu tambĂ©m estava o tempo todo animado, dizendo coisas como “Me pergunto que tipo de garota ela Ă©” e “Quero discutir sobre nossos livros favoritos quando nos encontrarmos”.

Me senti bem mal por não ter prestado atenção aos sentimentos deles.

Fomos até a biblioteca depois de sairmos da casa e olhamos os jornais dos tempos passados para ver se o que a prima de Eina disse era verdade.

Mesmo sendo sua prima quem disse, obviamente nĂŁo parecia verdade, eu nĂŁo desistiria.

Sakai e Ruka-senpai haviam me ajudado sem expressar qualquer resistĂȘncia.

— Estou indo para casa.

— Eu te levo — ofereceu-se Ruka-senpai.

— Obrigado, mas está tudo bem.

— Mas…!

— Quero ficar sozinho por um tempo. Desculpe ficar assim depois de arrastar vocĂȘs atĂ© aqui — disse eu, e ela nĂŁo respondeu.

Sozinho, fiz meu caminho para casa. No momento em que nos separamos, as lĂĄgrimas encheram meus olhos. Eina morreu?

Eu nĂŁo podia acreditar, nĂŁo queria acreditar.

Mas era a realidade.

Humanos morrem rĂĄpido demais. Essa Ă© uma verdade surpreendente e impiedosa.

Milagres nĂŁo existem.

NĂŁo existem coisas como magi…

— Não, existe.

Peguei meu telefone. Havia magia em minhas mĂŁos.

Meu telefone estava conectado com o passado.

Eu poderia apenas ligar para Eina.

Tenho certeza de que conseguiria.

Abri o aplicativo e pressionei o botĂŁo para ligar para ela, mas…

O nome de Eina não estava em minha lista de contatos. Mesmo ao pesquisar o nome dela, não encontrei. Meu histórico de mensagens sumiu também.

— Que estranho.

Acabei entrando em frenesi e procurei por meu telefone.

Através do aplicativo e também dos meus arquivos.

Mas nĂŁo consegui encontrar um modo de a contatar.

O feitiço foi rompido com os sinos da meia-noite.

Foi quase como se ter ido para a casa de Eina tivesse funcionado como um sinal, meu telefone agora era um normal, como qualquer outro.

Parte 2

Eu realmente nĂŁo lembro o que aconteceu depois daquilo. Quando voltei ao normal, ainda estava perto da casa de Eina.

Eu estava vagando por lugares que tinham sido fotografados e postados por ela.

Procurando por qualquer rastro.

Continuei minha busca fĂștil, imaginando se ela ainda estaria viva.

A cerejeira obviamente não estava florescendo. O ginåsio de sua escola primåria também tinha passado por uma reforma.

A cidade mudou aos poucos nos Ășltimos cinco anos.

As postagens de Eina pararam de repente hĂĄ cinco anos. Se o autor morresse, Ă© claro que os posts acabariam.

E entĂŁo eu cheguei.

Na localização do deslizamento de terra.

Era ao longo de uma trilha para animais que seguia até o penhasco. As årvores tinham sido derrubadas e o penhasco parecia ter sido raspado. Ainda existiam traços do acontecimento. Tudo fluiu para ambos os lados da trilha.

Era um lugar que nĂŁo tinha mudado nada em cinco anos.

Se vocĂȘ fosse pego no meio disso, nĂŁo conseguiria sair vivo.

— Eina… — chamei. Ela estava debaixo do chĂŁo em algum lugar por aqui, jĂĄ que nĂŁo tinha ido para casa.

— Eina!

Deve ter sido sofrido e doloroso. Como ela se sentiu? Ou aconteceu de repente, sem ter tempo para perceber?

Agarrei meu telefone.

O pingente que ela me deu ainda estava ali.

O telefone estava conectado a Eina.

Por que eu nĂŁo podia a salvar?

Por quĂȘ…?

Por quĂȘ?!

— Eina!!

O silĂȘncio voltou Ă  colina depois de meu grito, minha voz ecoou sem render frutos, e entĂŁo…

 Vzzzt, vzzzt.

 Meu celular vibrou em minha mĂŁo.

A vibração foi alta o suficiente para que eu pudesse até escutar.

Mesmo quando me perguntei quem Ă© que ligaria numa hora dessas, segui meu hĂĄbito e fitei a tela.

Era um nĂșmero desconhecido.

Uma sensação de desconforto se instalou em meu peito.

Ou talvez fosse esperança.

Mesmo quando estava apavorado com os acontecimentos, mesmo sem querer me machucar ainda mais, nĂŁo consegui parar minha mĂŁo.

A chamada completou.

 Era sua bela e adorĂĄvel voz soprano.

— Eina?!

Eu nĂŁo podia ter escutado errado, mas tive que perguntar.

Ela nĂŁo respondeu minha pergunta, mas com certeza era Eina.

O deslizamento causado pela chuva soou pelos alto-falantes, ela estava sob a tempestade.

Lembrei de sua prima dizendo que ela subiu a colina atrĂĄs de sua casa sob a tempestade e um arrepio correu pelas minhas costas.

— Eina, onde vocĂȘ estĂĄ?! Se estiver fora, volte para casa!

Beep.

A ligação caiu.

— Cacete, de todos os momentos possĂ­veis…

Agarrando meu telefone, olhei para baixo.

Liguei mais uma vez.

— Completa, por favor… — Mas nĂŁo deu nenhum sinal de que funcionaria. — Eina! Por favor, fique segura, Eina!

NĂŁo pude deixar de gritar por seu nome.

E entĂŁo, notei que o pingente em meu celular estava brilhando um pouco.

Era um tipo de mascote retratando o demĂŽnio que eu havia interpretado. Fiz uma careta e olhei para ele.

A luz estava ficando mais e mais brilhante, até que ficou tão forte que tive dificuldades para manter os olhos abertos.

Um raio de luz me envolveu e, no instante seguinte, o mundo ficou preto.



Havia um vulto em minha frente.

Era um vulto pequeno, como o de uma garotinha.

Ela nĂŁo batia nem no meu peito.

Estava encharcada, ĂĄgua pingando de seu cabelo comprido.

Segurava um telefone em frente ao peito.

 â€” Shuu-san!

 A garota… gritou.

 â€” Eina… Ă© vocĂȘ?

— Sim! Sou a Eina!

Enquanto ela falava, a garota correu até mim e me abraçou, agarrando-me.

Eu a envolvi em meus braços.

Nós nos abraçamos por um tempo, mesmo sob a chuva e ventos uivantes.

— Shuu-san, vocĂȘ estĂĄ quente…

— Obrigado deusas, vocĂȘ estĂĄ viva.

— Sim, mas como vocĂȘ apareceu aqui? — perguntou ela.

— TambĂ©m nĂŁo sei, gritei por vocĂȘ no local em que o desastre aconteceu e acabei vindo parar aqui. O desastre! — Separei-me dela e olhei em seus olhos. — Eina, aqui nĂŁo Ă© seguro, se vocĂȘ ficar aqui, serĂĄ pega em um deslizamento de terra e morrerĂĄ.

— Eh…?

— Eu te procurei no futuro. Desculpa, eu quebrei minha promessa. Mas eu nĂŁo aguentava mais nĂŁo te conhecer. EntĂŁo sua prima disse que vocĂȘ morreu. Que vocĂȘ desapareceu no dia do tufĂŁo.

Eina ficou pĂĄlida e eu agarrei sua mĂŁo.

— Está tudo bem — disse a ela, com tanta gentileza quanto possível. — Eu fiz isso, então posso te salvar.

Com isso, a expressĂŁo rĂ­gida dela relaxou um pouco.

Em meio ao alĂ­vio, jurei a mim mesmo que a salvaria.

— Certo. Vamos nos apressar e…

 Um estrondo soou, abafando minha voz. Por reflexo, puxei-a para perto de mim pela palma da mĂŁo. Logo depois disso, o chĂŁo cedeu na minha frente. Um arrepio percorreu minha espinha.

— Isso foi bem perto… — A voz de Eina estava trĂȘmula.

— De qualquer forma, vamos para casa… Eina, por qual caminho vocĂȘ veio? — Ainda trĂȘmula, ela apontou para o lugar que tinha acabado de ser devastado pela lama. — NĂŁo podemos pegar esse caminho, Ă© muito perigoso.

Tentei ligar para o 119 pedindo ajuda, mas meu telefone estava fora de serviço.

Claro que estava, era o passado.

— Eina, desculpa, mas vocĂȘ pode ligar para o 119? Precisamos de ajuda.

— A Onee-chan estragou meu telefone — disse ela desculpando-se enquanto me mostrava a situação do aparelho. Ele estava cheio de rachaduras na tela e na carcaça. — Não liga mais, acho que conseguir te ligar mais cedo foi um tipo de milagre.

Era o que ela queria dizer sobre nĂŁo se darem muito bem, e eu entendi que, por o telefone ter sido destruĂ­do, nĂłs nĂŁo poderĂ­amos mais nos falar.

— Certo, vamos tentar descer daqui então.

Começamos a andar sob a chuva. Eu estava segurando a mão esquerda de Eina com a minha direita. A chuva estava fria e eu provavelmente também estava esfriando, mais cedo ou mais tarde, começaria a sentir minha temperatura corporal caindo. O céu jå estava escuro e a chuva forte deixava tudo com uma visibilidade péssima.

Eu esperava encontrar algum lugar onde pudĂ©ssemos nos proteger da chuva e esperar por ajuda, mas nĂŁo consegui ver nada de Ăștil.

Passo a passo, progredimos com bastante cuidado.

Para ser sincero, estava com medo. Eina deve que também estava. Sua mãozinha segurava a minha com força, tremendo, e não era só por causa do frio.

Contudo…

Olhei para ela, mais e mais.

Ela olhou para mim, mais e mais.

Cada vez que nos olhĂĄvamos, sorrĂ­amos um pouco.

A situação pode ser desesperadora…

Mas nĂŁo estĂĄvamos sozinhos, encontramos a pessoa por qual cada um de nĂłs ansiĂĄvamos. SĂł isso nos encorajava.

E depois…

— Eina! Veja! Luz!

Descemos por uma estrada tangente ao penhasco.

— Nós conseguimos!

Pulamos nos braços um do outro sem pensar duas vezes. Agora só precisåvamos seguir a estrada até a cidade.

EntĂŁo, notei algo se aproximando rapidamente.

Luzes brancas brilhantes embaçaram minha visão por um momento. Era um caminhão. O barulho da chuva fez com que eu não o percebesse até então. Estava fazendo uma curva, então não vi os faróis.

Quando percebi, jĂĄ estava muito perto. O motorista nĂŁo tinha notado a gente, o que era normal, visto a visibilidade precĂĄria.

NĂŁo houve tempo para pensar.

Segurei Eina e pulei para trĂĄs.

De algum modo, eu caĂ­.

O caminhĂŁo passou pelo local em que estĂĄvamos hĂĄ instantes.

— Isso passou perto… Obrigada, Shuu-san.

— Pois Ă©, ainda bem que vocĂȘ estĂĄ…

Foi nesse momento que perdi o equilĂ­brio e pisei em falso.

No entanto, não havia solo sob o meu pé.

Meu mundo girou, e a Ășltima coisa que vi foi Eina, com os olhos arregalados, me vendo cair.

Rolei pela encosta, batendo meu corpo inĂșmeras vezes, nĂŁo conseguia nem mesmo fechar a boca enquanto girava.

— Shuu-san!!

Ouvi o grito de dor de Eina de longe, e entĂŁo desmaiei.

Parte 3

Eu estava de barriga para cima, olhando para o céu.

— Onde… estou? — murmurei, minha voz rouca.

Não estava chovendo, eu podia ver o sol através das aberturas entre as årvores.

— Voltei… para o meu prĂłprio tempo?

Tentei me levantar, mas não consegui mover meu corpo graças à dor. Eu não seria capaz de ir para casa sozinho.

Teria que pedir ajuda.

Forcei meu braço machucado até alcançar meu bolso, mas não achei meu telefone.

EntĂŁo, vi uma coisa retangular na frente de minha mĂŁo.

— Haha, só pode ser brincadeira.

Tive que rir. O telefone estava quebrado.

A tela estava trincada e o telefone todo retorcido.

Apenas o pingente de demĂŽnio estava intacto, entĂŁo com certeza era o meu telefone.

NĂŁo poderia pedir ajuda.

Eu nĂŁo consegui me mexer.

Meu corpo estava frio por causa da chuva.

Entendi, eu ia morrer.

Por incrível que pareça, não fiquei desesperado.

Era em Eina que eu estava pensando, me perguntei se ela tinha conseguido ir para casa.

Tenho certeza que sim, ela era uma garota inteligente. Iria para algum lugar que tinha gente e pediria por ajuda. Era uma pena nĂŁo podermos mais nos encontrar, mas era inevitĂĄvel, afinal, voltei para o futuro.

Não foi um final feliz para sempre, mas também não foi um final ruim.

Consegui salvar ela, isso bastava.

Fechei meus olhos.

Da prĂłxima vez que abri os olhos, a primeira coisa que vi foi uma lĂąmpada de teto.

“Que teto baixo”, pensei.

A sala aprecia estar tremendo.

— Onde…

— VocĂȘ estĂĄ em uma ambulĂąncia — falou uma voz ao meu lado.

Meu coração ficou apertado. Era a Presidente. Percebi que ela estava segurando minha mão, senti seu calor.

— VocĂȘ me salvou…? Por quĂȘ?

— Por enquanto não fale nada.

Conforme ela mandou, fechei a boca, minhas pĂĄlpebras ficaram pesadas e mais uma vez perdi a consciĂȘncia.

Quando acordei de novo, eu estava em um hospital, deitado em uma cama e todo coberto por ataduras. Meu corpo inteiro doĂ­a.

— Shuu! Ainda bem…! — Minha mĂŁe olhou para meu rosto e soltou um suspiro de alĂ­vio. Meu pai estava logo atrĂĄs dela. — Obrigada, Minekawa-san.

JĂĄ que era minha mĂŁe falando, demorei um pouco para perceber que estava se referindo Ă  Presidente quando disse Minekawa.

— O que vocĂȘ quer dizer com… obrigada?

— Minekawa-san que pediu por ajuda, ela te salvou — disse meu pai.

— Parece que ela ouviu vocĂȘ gritando onde houve aquele deslizamento de terra ontem, entĂŁo pensou que algo podia ter acontecido. E entĂŁo descobriu que vocĂȘ caiu do penhasco e nĂŁo estava se movendo, assim sendo, pediu ajuda.

Eu contestei essa explicação em minha mente.

Como ela sabia que eu estava lĂĄ? Ela ouviu algo por Ruka-senpai ou Sakai? NĂŁo, eu nĂŁo contei nada para eles.

Além disso, eu não tinha entrado em contato com ela. Em primeiro lugar, nós nem tínhamos o telefone um do outro.

Ela mentiu.

Mas por quĂȘ?

No dia seguinte, muitas pessoas vieram me visitar.

O primeiro a aparecer foi Sakai, faltando aula. Por um momento, fiquei comovido por ele estar tĂŁo preocupado comigo, mas depois:

— EntĂŁo vocĂȘ caiu do penhasco? Como foi, doeu?

Ele entrou no modo repĂłrter. Eu fiquei meio zangado com o fato de a razĂŁo dele ser meio sombria, mas foi divertido.

— É óbvio que doeu.

— Conte-me tudo que puder. Vou escrever um artigo.

— NĂŁo lembro de muita coisa. Foi bem repentino, perdi a consciĂȘncia rapidinho.

— Ah, que vergonha. Bom, estou feliz por vocĂȘ estar bem.

Ele nĂŁo muda nunca.

A prĂłxima visita foi Ruka-senpai. Parece que ela veio assim que acabaram as aulas.

— Shuu-kuuuun, vocĂȘ estĂĄ viiiiivoooo! — gritou ela assim que me viu.

— Desculpe-me por te preocupar.

— EstĂĄ tudo bem, agora vocĂȘ estĂĄ em segurança… Umm, vou fazer uma pergunta estranha. — Ela enxugou as lĂĄgrimas e olhou seriamente para mim. — VocĂȘ nĂŁo se jogou, nĂ©?

Pelo visto ela deve ter pensado que tentei me matar.

— Não! Foi um completo acidente!

— Ainda bem. Não pense nessas coisas, tá bom?

— Tudo bem, não sou tão fraco da cabeça.

Fiz o meu melhor para sorrir e esconder meu desconforto. Eu pensei que tinha visto Eina, mas serĂĄ que nĂŁo foi um sonho? Se na verdade eu sĂł tivesse caĂ­do…

Parecia bem provĂĄvel.

Mas logo pensei novamente, nĂŁo podia ser, eu ainda sentia seu calor, podia ouvir sua voz.

Ainda podia ver seus olhos, a verda…

Mas Ă© normal que as pessoas em um hospital sĂł pensem no pior. Eu teria que procurĂĄ-la assim que recebesse alta.

Nos dias que se seguiram, o resto de meus colegas e outros dois membros do clube vieram visitar. Apenas uma pessoa nĂŁo apareceu, a Presidente.

Mesmo ela sendo a pessoa com quem eu mais queria conversar.

— Talvez ela realmente me odeie…

Assim que comecei a ficar triste com esses pensamentos, ela apareceu, no quinto dia desde que fui internado.

— Presidente! — gritei feliz, já tinha quase desistido.

— AlguĂ©m veio hoje?

— Não.

— AlguĂ©m marcou de vir? Tipo alguĂ©m da nossa turma ou do seu clube?

— Não me falaram nada. Acho que já veio todo mundo.

— Entendo. Tudo bem então.

O que estava bem?

Ela puxou um banquinho para perto e sentou-se ao lado da cama.

— Desculpa, eu queria ter vindo antes, mas sempre tinha alguĂ©m aqui, entĂŁo eu nĂŁo poderia falar direito com vocĂȘ. Tem algo para me perguntar, nĂŁo Ă©, Clube de Literatura?

— Sim, nĂŁo contei para ninguĂ©m aonde eu estava indo, vocĂȘ tambĂ©m nĂŁo deveria saber, entĂŁo, como?

— Porque vocĂȘ me contou, cinco anos atrĂĄs, nĂŁo lembra? VocĂȘ gritou por mim e acabou indo parar comigo.

Cinco anos atrĂĄs?

Gritei por ela?

— Sem chances…

— É isso aí — ela mostrou um sorrisinho —, eu sou a Eina.

 Ela proclamou com sua linda voz soprano.

SĂł olhei para ela com os olhos arregalados, mudo devido ao choque.

Parte 4

— Quando vocĂȘ caiu do penhasco, vi vocĂȘ desaparecendo, Shuu-san. — A Presidente, Eina, falou comigo como sempre fazia, usando meu nome ao invĂ©s de “Clube de Literatura” e com toda educação do mundo. — VocĂȘ realmente desapareceu. Quando a chuva diminuiu eu fui verificar, sĂł por acaso mesmo, e vocĂȘ nĂŁo estava lĂĄ, entĂŁo pensei que vocĂȘ tinha voltado para o seu prĂłprio tempo.

A Presidente, sempre afiada como uma lùmina nua, agora parecia uma garota normal. Parecia uma ilusão, mas seu lado feminino era surpreendentemente fofo, e me fez sentir bem também.

— Mas eu fiquei preocupada. NĂŁo sabia se vocĂȘ tinha voltado para o mesmo lugar, ou se tinha caĂ­do de alguma encosta no seu tempo. Se nĂŁo tivesse contado para ninguĂ©m, vocĂȘ nĂŁo seria encontrado, entĂŁo decidi entrar em contato com vocĂȘ naquele dia.

— VocĂȘ se lembrou disso por cinco anos?

— Sim, não me esqueci nem por um segundo.

Eina balançou a cabeça suavemente, e eu queria perguntar algo, para ter certeza sobre o que ela pensava de mim.

— EntĂŁo eu tentei usar os registros da sala para entrar em contato com vocĂȘ, mas como pensei, nĂŁo deu certo… — Ela continuou sua explicação enquanto eu ficava em silĂȘncio. — EntĂŁo eu fui atĂ© o local e te encontrei pedindo socorro.

— EntĂŁo foi isso que aconteceu… VocĂȘ salvou minha vida, Eina, muito obrigado.

— Ehehe — riu ela timidamente. — Mas se vocĂȘ nĂŁo tivesse aparecido naquele dia, eu teria sido pega em um deslizamento de terra. Muito obrigada. — Ela baixou a cabeça para mim.

— Espera aĂ­, seu nome nĂŁo Ă© Yokota Yukino, Ă© Minekawa Yukino…? A casa que encontramos nĂŁo era a sua?

— Era a casa de minha tia e meu tio. Eu te falei, nĂŁo Ă©? Meus pais morreram e fui morar com a irmĂŁ de minha mĂŁe e o esposo dela.

Tive a sensação de que sabia disso.

— HĂŁ? Mas vocĂȘ nĂŁo mora em um orfanato?

As circunstĂąncias pareciam complicadas, fiquei intrigado com isso.

— No final, nossa relação ficou muito ruim e fui para o orfanato. Ou melhor, eu queria e fiz de tudo para não ter mais que suportar aquilo. Como consegui sobreviver, fui procurar um lugar onde poderia viver como quisesse. Eu não tinha outros tutores porque meus pais morreram, então consegui autorização depois de uma pequena investigação.

— Entendo…

— Muita coisa mudou em cinco anos.

Assentimos um para o outro. Eu senti como se tudo estivesse resolvido, mas percebi algo grande.

— Espera aĂ­, se vocĂȘ Ă© a Eina, entĂŁo nunca morreu, certo? Mas a menina Yokota, sua prima, disse que vocĂȘ morreu.

— Ahhh, quanto a isso… — Ela vacilou por um momento. E entĂŁo se curvou profundamente. — Eu sinto muito! Eu pedi para a Onee-chan mentir para vocĂȘ!

— Hã?! Mentir?!

— VocĂȘ disse, cinco anos atrĂĄs, durante o desastre, lembra? VocĂȘ me disse que tinha ouvido falar que eu me perdi e morri no dia do tufĂŁo.

— Sim.

— Se ela tivesse dito que “Minekawa Yukino Ă© a Eina”, vocĂȘ nĂŁo teria voltado no tempo, teria? Mas se vocĂȘ nĂŁo voltasse, eu provavelmente teria morrido. Eu nĂŁo queria isso, queria te conhecer, entĂŁo pedi ajuda da Onee-chan.

— C-certo.

Eu fiquei muito feliz com ela falando que queria me conhecer, e nĂŁo me importei com a mentira.

— Bem, estou feliz por ter te salvado, então sem problemas.

— Obrigada.

— Mas pensei que vocĂȘs nĂŁo se davam bem — falei, e Eina forçou um sorriso.

— Na Ă©poca… nĂŁo nos demos, era horrĂ­vel. Mas quando começamos a viver separadas, comecei a entender que ela nĂŁo queria me intimidar, sĂł estava pensando nas coisas do prĂłprio jeito, e agora ela Ă© bem mais gentil, atĂ© refletiu sobre o que fez.

Lembrei-me das palavras de sua prima.

Agora que penso sobre isso, acho que fiz algo que nĂŁo devia. Sempre a tratando mal
 Mas ela estava sempre trancada em seu quarto e usando as coisas dos outros. E tinha as discussĂ”es entre o papai e a mamĂŁe, e a preocupação


“Isso nĂŁo foi algo simples, ela realmente falou o que sentia naquela Ă©poca”, pensei enquanto meu coração se aquecia.

Muitas coisas mudaram em cinco anos.

— Ahh, mas eu realmente estou feliz por tudo ter dado certo. — Eina de repente soltou um suspiro, foi bom ver uma brecha na fachada normalmente perfeita da Presidente. — Se eu tivesse sido descoberta, tudo teria acabado, então eu realmente estava aterrorizada.

— Entendo, quando eu soubesse que vocĂȘ Ă© a Eina, eu saberia que vocĂȘ estĂĄ viva e nĂŁo voltaria no tempo. — EntĂŁo Eina seria pega no desmoronamento e morreria. Dessa perspectiva, ela estava sempre lutando por sua vida. — Foi difĂ­cil? Fingir que nĂŁo me conhece?

Porém, ela não parecia triste, só fez beicinho.

— VocĂȘ lembra do dia em que nos conhecemos? Duvido que lembre.

— Eu lembro, na biblioteca, certo?

A respiração dela parou por um momento.

— Isso, eu falei com vocĂȘ de modo muito familiar, nĂ©? Refleti sobre isso e percebi que tudo acabaria se nos aproximĂĄssemos, entĂŁo nĂŁo entrei no Clube de Literatura, e mesmo quando fomos parar na mesma sala, fiquei o mais distante possĂ­vel.

— EntĂŁo Ă© por isso que vocĂȘ era sempre tĂŁo fria? Pensei que vocĂȘ me odiasse.

— Eu nunca poderia te odiar!

— S-sĂ©rio…? — Eu nĂŁo consegui falar devido Ă  felicidade, mas seu comportamento sempre frio passou pela minha cabeça e eu nĂŁo pude acreditar em tudo de imediato. — Mas nosso clube, vocĂȘ ia…

— Eu tive que agir como um demînio para aquilo, foi muito difícil! Não pude expressar favoritismo!

— E vocĂȘ sempre parecia infeliz quando estava comigo.

— Isso foi porque eu estava dando o meu melhor para manter minha expressĂŁo. SĂł de falar com vocĂȘ eu queria sorrir, entĂŁo ficava nervosa com a possibilidade de…

Ela começou a ficar vermelha. Eu talvez também tenha ficado.

NĂłs nos encaramos por algum tempo.

— Diga, Eina.

— Umm, Shuu-san…

NĂłs dois paramos em sincronia antes de rirmos juntos.

— Eu primeiro entĂŁo… — Ela começou, mas eu falei primeiro.

— Desculpe, o homem deve tomar a dianteira nessas situaçÔes.

— Okay… — Eina ajustou-se no banquinho fazendo cerimĂŽnia.

— Eina… — Eu respirei fundo e disse: — Eu te amo. Te amo desde quando te conheci, atĂ© quando te conheci na biblioteca como Minekawa Yukino. Pensei que vocĂȘ me odiava, entĂŁo, quando Eina me mandou uma mensagem, deixei vocĂȘ sumir de minha mente, mas sempre te amei.

Seu rosto ficou vermelho, mas seu olhar nĂŁo desviou do meu. LĂĄgrimas brilhavam em seus olhos.

— Agora que sei que Eina e Minekawa Yukino são a mesma pessoa, e sabendo que eu amo ambas, estou muito feliz. Porque sei que acabei me apaixonando pela mesma pessoa duas vezes.

— Eu… — Ela começou a falar com a voz trĂȘmula. — Eu sempre te amei, Shuu-san. Cinco anos atrĂĄs, depois daquilo, e atĂ© agora! Sempre…

Enquanto ela falava, aproximou-se de mim. Coloquei meus braços em volta dela e a segurei.

— Isso nĂŁo Ă© um sonho, nĂ©?

— TambĂ©m me fiz essa pergunta, mas nĂŁo Ă©. Realmente estamos juntos — disse ela, sorrindo em meus braços, fazendo-me sorrir tambĂ©m.

Pensei que estĂĄvamos tĂŁo distantes, mas ela realmente estava ao meu lado… Estava bem na frente dos meus olhos neste exato momento. Aconteceu tanta coisa, eu queria conversar sobre tudo. Tantos lugares onde poderĂ­amos ir juntos…

Pode ser divertido trocarmos alguns livros.

Mas, por enquanto, apenas a segurei em meus braços, deleitando-me com a felicidade que senti por tĂȘ-la ao meu lado.

Fim.

PosfĂĄcio

Recebi vĂĄrias mensagens spam, e, em certo momento, diversas delas vieram quase ao mesmo tempo. Considerei todas como spam, mas havia muitos tipos.

Por exemplo:

VocĂȘ gostaria de 100.000.000 de ienes? Clique neste link e saiba mais.

VocĂȘ ficaria tentado a clicar, entĂŁo, quando o fizesse, lhe pediriam sobre detalhes da conta no banco e nĂșmero do cartĂŁo de crĂ©dito. VocĂȘ pode receber spams, mas nunca clique nos links.

Ou talvez algo como isso, com o nome de uma mulher:

Obrigada pelo seu endereço de e-mail 🙂

Eles podem te pressionar a responder, vocĂȘ conversaria por um tempo e, entĂŁo, seria convidado para um site de relacionamento.

Ou poderia ser uma cobrança falsa:

VocĂȘ foi cobrado devido a uma taxa de uso. Clique aqui.

Vejo essas coisas e penso: “Hein? NĂŁo vou cair nessa. NĂŁo vou clicar nesses links nem responder”.

EntĂŁo simplesmente deleto a mensagem, mas, certo dia, parei para pensar:

— Que tipo de mensagem eu gostaria de responder?

Pensei sobre isso sem parar.

Eu não tinha interesse algum em mensagens de garotas querendo me encontrar. E ganhar dinheiro soa bom demais para ser verdade. Tinha vontade de que soasse mais como vinda de uma pessoa


EntĂŁo, de repente, o nome Eina me veio Ă  mente. Ela gosta de romances, tem uma personalidade alegre, mas Ă© um pouco estranha, fazendo com que nĂŁo tivesse amigos. Por isso estĂĄ sozinha e começa a escrever no celular como se estivesse conversando com uma parede


Se recebesse uma mensagem tipo: “JĂĄ chega. Quero morrer” de uma garota assim, vocĂȘ responderia, nĂŁo Ă©?

Nossa geração se comunica por mensagens de texto, mas, hoje em dia, aplicativos de redes sociais tĂȘm função de bate-papo, o que gerou toda a situação.

Antes que eu reparasse, jĂĄ tinha pensado em um enredo, por isso tentei escrever, e, felizmente, consegui publicar. Obrigado, mensagem spam.

Com o advento dos celulares, nos tornamos capazes de nos comunicarmos com as pessoas que amamos, mesmo estando separados, mas não muda a sensação de solidão por não conseguirmos nos encontrar. Escrevi com esses sentimentos desoladores em mente, então espero que tenha gostado.

 Agora, meus agradecimentos finais:

Editor chefe, Shouji Satoshi-san, obrigado por toda a ajuda, seu conselho rĂĄpido e pertinente me permitiu criar este livro, muito obrigado.

Miwano Rag-san, meu ilustrador. Obrigado pelas maravilhosas ilustraçÔes. Gostei de todas, mas, em particular, do ar misterioso da capa.

Também agradeço a todos os envolvidos com a publicaçÔes deste livro.

Dou os maiores agradecimentos a vocĂȘ, que escolheu esta obra. Um livro sĂł estĂĄ completo depois de ser lido; muito obrigado.

Espero que possamos nos encontrar novamente.

Com carinho, Takahashi Bisui, maio de 2018.  


Tradução feita por fãs.
Apoie o autor comprando a obra original.

 

 

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