Hai to Gensou no Grimgar – Capítulo 18 – Volume 13
Hai to Gensou no GrimgarGrimgar of Fantasy and Ash
Light Novel Online – Capítulo 18:
[Magia]
A vasta área montanhosa estava coberta de flores, flores e mais flores de todos os tamanhos.
Aquela colina tinha flores vermelhas desabrochando. A encosta oposta tinha uma mistura de flores amarelas e laranjas. Havia flores roxas. Havia flores azuis, também. Havia flores brancas, e havia flores cor-de-rosa.
Quanto a vestígios duradouros das ruínas, havia apenas os escombros de construções aparecendo entre as flores aqui e ali. Eram principalmente muros desmoronando, muitas vezes apenas pilares, cobertos de musgo, envoltos em hera, e que haviam se tornado um com a paisagem.
— Quando era uma cidade, chamava-se Imagi, acho — disse Alice. — Parece que me lembro de ter ouvido esse nome.
Alice havia alertado Haruhiro para ter certeza absoluta de não pisar em nenhuma das flores.
Essas flores não cresceram ali sozinhas. Elas foram coletadas de todos os lugares, plantadas, cultivadas, mantidas e organizadas.
Era impossível perceber à distância, mas esse jardim tinha caminhos estreitos de cerca de cinquenta centímetros de largura correndo por toda a sua extensão. Os dois seguiam esses caminhos enquanto avançavam pela colina.
— Uuh… Se eu pisar em uma flor, o que acontece? — perguntou Haruhiro.
— Ela vai ficar brava.
— Quem?
— A pessoa que estamos indo ver.
Aparentemente, chamava-se Jardim Bayard, mas era a Ruína Nº 2, um lugar imutável. O número de colinas não aumentaria nem diminuiria. Ou pelo menos não deveria.
Eles cruzaram sete—não, oito—daquelas colinas suaves cobertas de flores. Ou seriam nove? Talvez mais.
No começo, Haruhiro ficou impressionado com a beleza delas. Agora, não sentia nada.
As flores, as colinas, que diferença isso fazia?
— Alice — disse ele.
— O quê?
— Não sei por quê, mas há um tempo… não sei quando começou… enfim, os nomes dos meus companheiros, eles não vêm à minha mente. Os rostos deles, sim.
— Que tal pensar nos rostos deles e depois passar por todos os sons que os nomes poderiam começar? A, i, u, e, o, ka, ki, ku, ke, ko, e assim por diante.
— A, i, u, e, o…
Ele foi até “wa, wo, n”, mas nada veio à mente.
— Estranho — disse ele. — Não tem como eu esquecê-los.
— Você pode esquecer qualquer coisa — disse Alice. — Eu, por exemplo, não consigo lembrar os nomes ou rostos dos meus pais.
— Eu nunca me lembro dos meus pais pra começo de conversa, no entanto…
— Ah, você quer dizer como não sabe nada sobre sua vida antes de acordar naquele lugar chamado Grimgar, né? Bom, então não é tão estranho que você esqueça os nomes dos seus companheiros.
— Se eu realmente esquecê-los… vai ser como se nunca tivessem existido.
— Shihoru. Kuzaku. Mary. Setora? Ah, e como era mesmo? Kiichi? Yume. Hmm, também Ranta? E Manato. Moguzo?
Haruhiro encarou Alice.
— Por que você sabe?
— Você me contou, lembra? Bom, não posso garantir que estejam corretos, no entanto.
— Tá tudo certo — disse ele lentamente. — Sem erros. Você acertou todos.
Foi bom que ele tivesse percebido que estava começando a esquecer seus companheiros. Do jeito que as coisas estavam indo, a própria existência deles teria desaparecido de sua cabeça.
De qualquer forma, eles eram insubstituíveis, então por que ele esteve prestes a esquecer seus companheiros, que significavam mais do que qualquer coisa para ele?
Haruhiro pretendia encontrá-los custe o que custasse, mas, por outro lado, talvez quisesse esquecer. Se pudesse simplesmente esquecer completamente, seria mais fácil.
Isso não é verdade, ele queria pensar. Mas esse tipo de desejo pode ter estado borbulhando dentro dele, sem que ele nunca percebesse.
Claro, em Grimgar, mesmo que quisesse esquecer algo, não seria fácil. Mas em Parano, até as coisas que deveriam ser inesquecíveis poderiam deslizar para o esquecimento.
— Segure firme as coisas que importam pra você, ou você vai perdê-las num piscar de olhos — disse Alice. — Neste lugar, um momento e uma eternidade são a mesma coisa. Mas a verdade é que tudo o que temos é o “agora”. É isso que significa. Uma eternidade e um instante, eles têm essencialmente o mesmo valor. Haruhiro, se você soubesse que talvez nunca mais encontrasse seus companheiros, se soubesse disso desde o início, o que teria feito?
Enquanto caminhavam pelas colinas de flores, um pássaro amarelo estava pousado no meio do caminho estreito. Ele tinha penas longas no topo da cabeça. Seria isso chamado de crista? Suas bochechas eram redondas, vermelhas e adoráveis.
— Um papagaio? Ou um periquito, talvez? — perguntou Haruhiro. — O que tá fazendo aqui…?
— Suzuki-san — disse Alice ao pássaro.
— Oi, Alice — respondeu o pássaro chamado Suzuki-san, com uma voz um pouco clara demais para soar como uma imitação de fala humana. Se não fosse um pássaro, mas um homem de meia-idade ou um pouco mais velho, teria combinado melhor. Era esse tipo de voz. — Veio visitar nossa garota das flores, Haname?
— Bom, sim — disse Alice. — Relaxando aqui, como sempre, Suzuki-san?
— É um lugar confortável. — Suzuki-san chilreava e ocasionalmente inclinava a cabeça para o lado enquanto falava. Sua boca se movia rápido demais, e era difícil dizer se combinava com suas vocalizações. — Se você não irritar Haname, é adorável aqui.
— Tô pensando em me instalar com ela por um tempo, também.
— Vejo que trouxe um novato a reboque — notou Suzuki. — Não vá começar nenhum problema. Sou pacifista, sabe.
— Então não chegue muito perto de mim.
— Só quis dar um oi. Você me conhece. Sempre sou educado. — Então Suzuki-san bateu as asas e voou para algum outro lugar.
— Isso era um meio-monstro? — perguntou Haruhiro. — Ou algo assim? Não parecia um monstro dos sonhos. Seria um desvirtuado, talvez?
— Suzuki-san é humano. Esse é o doppel dele.
— Um tipo de magia?
— Sim. Autoestima, acho que é assim que chama? Pra quem não tem muita, ou se odeia, é comum ganhar a habilidade de invocar um doppel. Pra pessoas com muito amor-próprio, elas geralmente usam narci, que só as torna mais fortes. É o tipo de magia mais chato. Basicamente, é uma projeção da sua consciência, ou da sua disposição geral.
— Então, Haname é…
— Ela é uma desvirtuada — disse Alice. — A mestra do Jardim Bayard.
— Er… uma desvirtuada? Vamos encontrar uma? Agora?
— Ela geralmente é uma pessoa quieta e agradável. Deve ser tranquilo, acho.
Haruhiro redobrou o cuidado com onde pisava. Ele já estava sendo cauteloso desde o aviso inicial de Alice, mas Suzuki-san sugeriu que Haname era assustadora quando irritada, então um cuidado extra não faria mal.
— Pessoalmente, eu gostaria de procurar meus companheiros rápido — suspirou Haruhiro.
— Não vou apressar. Se quer ir, por que não vai sozinho?
— Mesmo que eu agisse por conta própria, honestamente… não saberia por onde procurar.
— Agora que você conhece a Torre de Ferro do Céu, pode ir a qualquer lugar e voltar.
— Então foi por isso que você me levou lá.
— Posso ser gentil assim às vezes, sim.
Haruhiro parou. Ele se virou, pensando, Talvez eu devesse ir sozinho.
Se ele dissesse, “Vou embora”, Alice poderia impedir Haruhiro. Alice poderia inventar algum motivo ou outro e fazer com que ele continuasse seguindo. Provavelmente era isso que Haruhiro estava esperando.
Quando ele ficou tão fraco? Não, ele sempre foi assim. Como soldado voluntário em treinamento, nunca fez nada por si mesmo sem a aprovação de Manato.
Se ele tivesse levado a sério naquela época, dando o seu melhor, talvez não o tivessem perdido?
— Alice — chamou ele, mas não para parar a outra pessoa. — Alice C.
Ele já estava de costas para Alice. Não ouvia nenhum passo, então Alice provavelmente tinha parado.
Sem se virar, Haruhiro disse: — Vou embora. Vou encontrar meus companheiros.
— É mesmo?
— E talvez minha magia, também.
— Bem, dá o seu melhor.
Se eles se separassem ali, nunca mais se encontrariam. Ele tinha esse pressentimento. Isso o deixava um pouco solitário, mas não havia hesitação.
Não. A razão pela qual ele não se virou era porque sentia que isso enfraqueceria sua determinação. Ele estava hesitando. Tinha que pensar que não estava, ou não conseguiria avançar, então disse a si mesmo que não sentia hesitação.
Haruhiro tocou a máscara cobrindo sua boca.
— Obrigado pela máscara.
— Não foi nada, sério.
Ele estava prestes a dizer, “A gente se vê por aí”, mas Haruhiro engoliu as palavras e deu um passo à frente.
Se ele pudesse agir por impulso, poderia deixar isso levá-lo até onde desse.
A partir dali, ele estaria sozinho. Talvez sozinho para sempre.
Seu peito apertou.
Era assustador, mas se seus pés se movessem através do medo, ele poderia avançar um pouco mais. Ele se viu querendo chamar os nomes de seus companheiros. Não podia tê-los esquecido de novo, né?
Tá tudo bem, ele se tranquilizou. Eu sei quem são. Mas segura por enquanto. Pelo menos até sair do Jardim Bayard. Até onde tenho que caminhar? Talvez eu devesse correr.
Mesmo sem correr, ele acelerou um pouco o passo.
Aconteceu logo depois disso.
Havia algo se movendo na colina à frente. Estava a várias centenas de metros de distância, talvez mais, então ele não conseguia ver bem. Mas estava percorrendo os caminhos estreitos.
Era humano? A primeira ideia que veio à mente foi Ahiru. Mas não era ele. Pela forma, não parecia humano. Um monstro dos sonhos, talvez?
Com Alice tão perto? Os monstros dos sonhos deveriam temer Alice. Isso significava que era um meio-monstro, um humano absorvido por um monstro dos sonhos, né? Ou talvez o doppel de alguém.
Haruhiro sacou sua adaga e se preparou.
Era… uma aranha. Mas as pernas eram como as de um polvo. Uma aranha-polvo-humana.
Seu movimento não era de forma alguma lento; na verdade, era bem rápido. Já tinha se aproximado a uns quarenta, cinquenta metros.
Era maior que uma pessoa, com muitas pernas, então, com uma manipulação habilidosa daquelas numerosas pernas de polvo, conseguia correr por um caminho de não mais que cinquenta centímetros de largura.
— Hahahahahaha! Hahahahahahahahahaha! Hahahahah! Hahahahahahahahahaha!
Estava rindo de algo, também. Tinha uma cabeça humana, afinal. Talvez não fosse surpreendente que pudesse.
A voz era insana.
— Calma aí…? — Haruhiro já conseguia distinguir claramente os olhos e o nariz da aranha-polvo-humana.
Aquele cabelo duro. Os óculos. O nariz achatado. O rosto anguloso. E aquela voz.
— Hihihiiii! Heehah! Ehihiohohohohohoh! Gyahahahahbyohohogyuheheeh!
— …Kejiman?
— Doppooooooooooooooooooooooooooooooo…! — As pernas de polvo se retraíram, depois se estenderam rapidamente, e a criatura saltou. Kejiman saltou.
Não, era Kejiman? O rosto parecia com Kejiman. Tipo, eram idênticos. Era exatamente como Kejiman.
A criatura não tinha apenas pulado para cima. Em outras palavras, não era um salto vertical; estava vindo na direção dele. Estava pulando para cima dele, não é? Se não saísse do caminho, ia acertá-lo em cheio, né?
Naturalmente, Haruhiro não era tão cabeça-oca a ponto de ficar parado numa situação dessas. O lugar onde ele esperava que a aranha-polvo-humana que parecia Kejiman aterrissasse e sua posição atual eram o mesmo, então ele podia evitar problemas se movendo.
Em vez de recuar, sim, era melhor avançar. Se fosse um lugar onde ele tivesse liberdade de movimento, teria dado um rolamento à frente, mas não podia perturbar o jardim de flores, então correu pelo caminho estreito com a postura baixa.
Kejiman passou voando sobre a cabeça de Haruhiro.
Não, ele não sabia ao certo se era Kejiman, no entanto.
Havia um som estranho e úmido de aterrissagem atrás dele. Quando fez um giro, a aranha-polvo-humana que parecia Kejiman estava se virando, e ele viu Alice correndo na direção deles pelo outro lado.
— Ei, não pisa nas flores! — gritou Alice.
Alice provavelmente não estava dizendo isso para Haruhiro, mas para a aranha-polvo-humana que parecia Kejiman. Ele tinha que questionar se ela entendia o que estavam dizendo, mas já era meio tarde.
Soltando um “Shaaaaaaaa…” ou algum outro som, a aranha-polvo-humana que parecia Kejiman virou na direção dele. Suas pernas de polvo estavam fora do caminho, pisoteando cruelmente as flores brancas puras.
— Haruharuharuharuharuharuharuhirorororororororororororoooooooo…
— Não, cara… — murmurou Haruhiro.
Aquela coisa era Kejiman. Ou, pelo menos, originalmente tinha sido Kejiman.
Não havia muitos caras que pudessem ser tão incômodos, sabe? Além disso, o jeito como a língua dele se movia enquanto fazia “Rororororororororororo” era extremamente nojento.
Espera, ele estava pisando nas flores. E agora?
— Como você pôde…! — Alice avançou contra Kejiman.
A pá havia descascado, e dezenas de tiras pretas de pele envolveram Kejiman. Nem precisava dizer, mas aquelas coisas não eram apenas pele. Elas protegeram Alice e Haruhiro do redemoinho de destroços. Eram resistentes, mas também afiadas.
Dezenas daquelas tiras pretas de pele cortaram Kejiman em pedaços. Mesmo apenas roçando, elas cortavam Kejiman com facilidade, como se ele fosse feito de geleia.
— Caramba… — Haruhiro recuou apesar de si mesmo.
O torso de Kejiman era como o de uma aranha gigante, e as pernas eram como as de um polvo. A cabeça de Kejiman se projetava do topo da seção do torso. As tiras de pele cortavam selvagemente não apenas o torso, ou apenas as pernas, mas todo ele, sem nenhuma piedade. Não demoraria muito para que a cabeça de Kejiman fosse arrancada.
Mas, bem antes que isso pudesse acontecer…
…Kejiman escapuliu.
Como se tivesse sido lançado do torso, um Kejiman nu voou.
Parecia que Kejiman tinha acabado de nascer de uma aranha-polvo.
— Eek! Eeeeeeeek! — gritou Kejiman.
Tendo caído no caminho estreito, o homem agora rastejava na direção de Haruhiro.
Haruhiro recuou ainda mais. O cara estava nu, afinal. Também estava todo coberto de muco, pegajoso e viscoso. Mesmo que não estivesse assim, esse não era um homem com quem Haruhiro quisesse se aproximar.
— Haruhirororororo! — choramingou Kejiman. — Haruhirorororororororororoooo! Rorororororororororororo!
— Não! Fica longe!
— Isso é meio frio da sua parteee…
Kejiman se levantou. A aranha-polvo já tinha se despedaçado e estava espalhada por aí.
Alice pulou sobre os restos, com a pá pronta.
— Um humano saiu de um monstro dos sonhos? O que é esse cara? Haruhiro, ele é seu amigo?
— Não, ele não é meu amigo…
— Se não somos amigos, o que somos, Haruhiro? — choramingou Kejiman. — Diga meu noooome.
— É Kejiman, né?
— Eu sou Kejimananan? O quêquêquêquêquê? Quêquêquêquêquêquêquê.
A língua dele estava para fora, movendo-se para frente e para trás em uma velocidade incrível. Os olhos de Kejiman giravam rapidamente em suas órbitas. Suas veias estavam todas saltadas, pulsando. Ele claramente não estava em um estado normal. Estava acabado.
Podia ser cruel, mas eles tinham que acabar com ele. Fosse ele um meio-monstro ou algo que Haruhiro não conhecia, Kejiman tinha se tornado algum tipo de monstro.
Mas era questionável se Haruhiro conseguiria fazer isso. Ele não tinha confiança.
— A-Alice…
Ele sentia muito por isso, mas teria que recorrer à ajuda de Alice. Embora, mesmo que Haruhiro não tivesse pedido, a pá nas mãos de Alice já estava descascando.
Adeus, Kejiman, pensou ele. Que nunca nos encontremos novamente. Quer dizer, se eu nunca tivesse te conhecido em primeiro lugar, não estaríamos nem nessa confusão.
— ΩΩΩΩχχχχχχχχΩΩΩχχχχχχχΩΩχχχχχχχχΩΩΩχχχχχχχχχΩΩΩχχχχχχχχχΩΩχχχχχχχχχΩΩΩχχχχχχχΩΩχχχχχχχχχχχΩΩΩΩΩχχχχχχχΩΩΩΩχχχχχχχχ…!
Haruhiro cambaleou. Isso era um som? Era ultrassônico, ou uma ultra-vibração, ou algo assim. Havia uma dor em seus ouvidos, mas também desequilibrava seu equilíbrio, fazendo-o tropeçar feio.
Não era só Haruhiro. O Kejiman nu estava segurando a cabeça, e até Alice estava parcialmente encolhida.
Alice gritou “…name!” ou algo assim.
…name…
…name…
Haname, né. A mestra do Jardim Bayard. Uma desvirtuada.
Não se deve pisar nas flores neste lugar, Haruhiro se lembrou.
Kejiman havia quebrado esse tabu. Ele incorrera na ira de Haname. Era esse o resultado?
Da borda da terra, algo se espalhava gradualmente pelo céu. Ficava cada vez maior, cobrindo o céu de bolinhas, expandindo, ocupando-o. Não era uma cor simples, e era difícil dizer quais cores eram. A coloração mudava a cada momento, e brilhava também, quase como uma aurora. No entanto, era claramente diferente de um fenômeno envolvendo descarga elétrica. Estava ali como um objeto sólido.
Era um objeto, ou, como estava se movendo, seria uma criatura? Era tão grande que “enorme” não começava a descrevê-lo. Era como um pássaro, ou uma borboleta, ou uma mariposa, ou algo com as asas abertas, tentando apagar o céu.
Será que… era ela?
— …Haname? — sussurrou Haruhiro.
Não, não podia ser. Era claramente grande demais para isso. Provavelmente não era a própria Haname, mas um fenômeno causado pelo poder de Haname. Essa provavelmente era uma forma melhor de pensar.
Naturalmente, ainda era impressionante o suficiente para ele querer rezar para que fosse algum tipo de engano. O que ia acontecer agora? Ele não conseguia imaginar, mas Haname, ou a coisa que era o poder de Haname, que tentava preencher o céu, parecia estar formando ondas. Se fosse algum tipo de borboleta ou mariposa gigante, talvez estivesse tentando bater as asas.
Ele sentiu um vento. Não era doce. Cada vez mais, a atmosfera estava sendo sugada.
— Uhoh! Uhoh! Uhoh! Uhohoh! Uhohohohohoh! — Kejiman estava de quatro, agarrando-se ao chão.
— Ah! — O corpo de Haruhiro foi erguido.
Oh, que merda.
Ele estava voando.
Espera, elas estavam sendo levados pelo ar.
As flores.
As flores do Jardim Bayard, incontáveis pétalas vermelhas, amarelas, laranjas, roxas, azuis, brancas e cor-de-rosa estavam sendo arrancadas.
— Não! O que?! — Haruhiro se debateu desesperadamente, tentando voltar ao chão.
Mas ele estava flutuando.
Haruhiro já estava no ar.
Talvez não houvesse nada que ele pudesse—
— Haruhiro! — Logo abaixo dele, Alice havia fincado a pá no chão.
A pá descascou, e as tiras pretas de pele alcançaram Haruhiro. Talvez Alice estivesse tentando salvá-lo. Mas isso não o cortaria? Era seguro?
As tiras pretas de pele abraçaram e envolveram Haruhiro com uma surpreendente suavidade.
Tendo puxado Haruhiro para baixo, Alice o forçou ao chão.
— Kyaaaaaaaa! — Kejiman gritava. — Kyuuuuuuuu! Kyoooooooooooo…?!
O Kejiman nu foi sugado para o céu. Espera aí, por que ele estava nadando? Bem, mesmo que tivesse se transformado em um monstro, ele não podia nadar pelo céu. Estava apenas movendo os braços e pernas como se estivesse nadando.
Alice desdobrou a pele da pá como uma tenda. Em pouco tempo, dezenas daquelas peles estavam firmemente coladas, sem deixar nem a menor fresta. Alice isolou o exterior do interior, selando-o. As correntes de ar violentas lá fora podiam soprar tão forte quanto quisessem, mas apenas o som do vento chegava ao interior.
— Espero que isso seja suficiente pra acalmar a raiva dela — disse Alice. — Não tô contando com isso, no entanto.
— Não me diga — Haruhiro engoliu em seco. — Aquela coisa grande, é Haname?
— Ela nem sempre é assim. Parece uma mulher bonita. Sem rosto, no entanto.
— Ah… Entendi, então ela não tem rosto…
— Isso tudo é porque aquela coisa nojenta pisou nas flores.
— Mas a própria Haname está bagunçando elas também…
— Quando ela fica brava, perde o controle, mas, entre os desvirtuados, ela é uma das melhores.
Uma das melhores.
Essa era uma das melhores?
Sério? Desvirtuados eram assustadores. Ele não queria ter nada a ver com eles.
— Haruhiro — disse Alice.
— …Sim?
— Aposto que é um mistério pra você por que vim até o lugar da Haname.
— Bom… sim, é, honestamente.
— Mesmo que ela seja uma conexão incrivelmente problemática, é melhor que nada — disse Alice. — Se você acha que pode se virar na vida sem se envolver com pessoas, tá errado.
De repente, o rosto de Ranta passou pela sua mente. Mesmo que o cara fosse um idiota, se estivesse aqui agora, seria um pouco—não, muito—reconfortante. Ele pretendia procurar seus companheiros sozinho, mas essa resolução já estava vacilando.
Deveria fazer algo sobre essa fraqueza insuportável, tentar jogá-la fora de alguma forma? Ou teria que aceitar seu eu fraco e continuar se virando de algum jeito?
Quando estava com seus companheiros, o papel de Haruhiro era claro, escolher objetivos era simples, e ele só precisava avançar em direção a eles. Quando estava sozinho, ele não conseguia se manter firme nas decisões que tomava, e logo vacilava.
— É quem você é, suponho — sussurrou Alice de repente. A mão direita ainda segurando a pá nua, Alice agarrou Haruhiro pelo colarinho com a mão esquerda. — Levanta.
— Hã?
Obedecendo à ordem de Alice, embora estivesse desconfiado, Haruhiro ficou chocado quando Alice colocou a mão em sua cintura.
— …Hã? O quê? Por quê…?
— Achei que tinha algo estranho. Eu podia sentir — disse Alice. — Usar magia é bem cansativo, mas quando tô do seu lado, meu corpo parece leve de alguma forma. Basicamente, minha magia fica mais forte.
A pá nua piscava um vermelho fraco. Se Alice tirasse a máscara, como Alice pareceria?
Talvez Alice pudesse dizer o que ele estava pensando.
— Tudo bem — disse Alice em um sussurro. — Minha máscara, você pode tirar. Quer ver, né?
Suas mãos tremiam. Não hesitaram. Haruhiro deslizou a máscara de Alice para baixo do queixo.
— Sou bem normal — disse Alice. — Decepcionado?
— …Não.
— A busca pelos seus companheiros — disse Alice. — Deixa eu te ajudar com isso, Haruhiro. Se você puder me ajudar com sua magia, claro.
— Minha… magia?
— Existem quatro tipos de magia. Te disse isso, não disse?
— Philia, narci, doppel… Só ouvi falar de três.
— Isso porque é a primeira vez que vejo o quarto. Ressonância.
— …É esse o meu?
— Sim. A questão da ressonância é que ela torna a magia das outras pessoas mais forte. Só isso.
— Então, basicamente… não posso fazer nada sozinho?
— Perfeito pra você, né? — disse Alice com um leve sorriso.
Seu coração estava acelerado há um tempo. Ele não queria que isso fosse notado. Mas Alice já sabia com certeza.
Não sou feia, Alice tinha dito.
Isso exigia coragem. Ia muito além de não ser feia.
Havia uma elfa chamada Lilia na party de Soma, que liderava os Daybreakers. Sendo uma elfa, sua estrutura facial era fundamentalmente diferente da dos humanos, dando a ela uma beleza de outro mundo.
Se fosse forçado a descrever, Alice era como Lilia. Não exatamente comparável a outros humanos. O nariz, os olhos, os lábios… era estranho que aquelas formas, aqueles tamanhos, conseguissem fazer ele pensar que Parano, afinal, não era tão ruim?
Era como se um deus criador tivesse cuidadosamente aperfeiçoado o rosto de Alice ao nível de mícrons. Como se o menor suspiro pudesse fazer tudo desmoronar, mas era valioso demais para destruir.
Alice tinha falado sobre ser gravemente intimidada. Fisicamente ou mentalmente, ele não conseguia entender o que aqueles que machucaram Alice estavam pensando.
Se fosse Haruhiro, provavelmente teria ficado assustado demais para sequer se aproximar. Se possível, ele não queria estar nem perto. Vê-la ocasionalmente de longe era o suficiente.
Alice era realmente real?
Isso era um sonho, afinal?
Mesmo depois disso, Haruhiro pensaria nisso muitas vezes.
Ele também pensaria: Se ao menos tudo pudesse ser um sonho.

Tradução: ParupiroHPara estas e outras obras, visite o Cantinho do ParupiroH – Clicando Aqui
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