Hai to Gensou no Grimgar â CapĂtulo 1 â Volume 11
Hai to Gensou no GrimgarGrimgar of Fantasy and Ash
Light Novel Online – CapĂtulo 01:
[Por Que Eu Nasci?]
SilĂȘncio.
Antes de tudo, silĂȘncio.
NĂŁo deixe meus passos fazerem barulho.
Avance centĂmetro por centĂmetro.
Ranta nĂŁo era um ladrĂŁo nem um caçador, mas sua habilidade em rastejar jĂĄ devia estar no nĂvel de um mestre. Isso seria um caso de âa necessidade Ă© a mĂŁe do desenvolvimentoâ?
O quĂȘ? NĂŁo era assim o ditado? Era âa necessidade Ă© a mĂŁe da invençãoâ? Bem, tanto faz, era uma habilidade que ele precisava desesperadamente, entĂŁo, Ă© claro que iria melhorar com a prĂĄtica.
Bom, bom.
SĂł mais um pouco.
Estava ali, na grama.
Sua pele viscosa era pontilhada de verde e marrom. Suas pernas traseiras estavam dobradas, e as dianteiras erguiam seu corpo. Seus olhos arredondados nĂŁo estavam olhando para ele.
EstĂĄ tudo bem, Ranta disse a si mesmo. NĂŁo estĂĄ se mexendo. Isso significa que ainda nĂŁo me notou.
Mesmo assim… Ă© enorme.
De qualquer Ăąngulo que olhasse, aquilo parecia um sapo. Ele apostaria oito ou nove em dez chances de que era definitivamente um sapo, mas era um sapo do tamanho de um punhoânĂŁo, do tamanho de um bebĂȘ.
Ă um grandalhĂŁo, pensou. Sim. De qualquer forma, isso nĂŁo estĂĄ grande demais…?
De repente, uma dĂșvida passou por sua mente. Era mesmo um sapo?
Serå que poderia existir um sapo tão grande? Ele não era especialista em sapos, mas não seria tão estranho se existisse. Pelo menos, era o que ele achava. Até com cães havia raças pequenas e grandes. Com aquela silhueta tão de sapo, tinha que ser um sapo. Só era enorme, só isso.
Mas e quanto a veneno?
Veneno, huh… Ele nĂŁo tinha pensado nisso atĂ© agora.
Ele nĂŁo se lembrava muito bem, mas nĂŁo existiam sapos venenosos tambĂ©m? Bem, a maioria dos seres vivos venenosos tinha uma aparĂȘncia que os denunciava.
Certo? Talvez nĂŁo, nĂ©? Com cobras, venenosas ou nĂŁo, elas nĂŁo pareciam tĂŁo diferentes, certo? Cogumelos tambĂ©m. Os cogumelos que pareciam venenosos Ă s vezes eram comestĂveis, e os que pareciam inofensivos Ă s vezes eram problemĂĄticos. NĂŁo que cogumelos fossem animais. Mas, ainda assim, eram seres vivos.
NĂŁo, nĂŁo, nĂŁo! disse a si mesmo. NĂŁo vacile. Ă, agora nĂŁo Ă© hora de hesitar. Estou com fome aqui.
Se ele não comesse, morreria. Bem, talvez não, mas sabia que seria melhor comer alguma coisa agora enquanto ainda tinha forças.
Quando ele jĂĄ nĂŁo conseguisse mais se mover direito, atĂ© conseguir comida seria difĂcil. Ele conseguia se mover agora, mas nĂŁo era um especialista em sobrevivĂȘncia como um caçador, entĂŁo nĂŁo era tĂŁo fĂĄcil encontrar coisas comestĂveis.
PĂĄssaros e animais eram estupidamente cautelosos, e quando ele tentava se aproximar, fugiam. Ele provavelmente conseguiria pegar insetos de algum jeito, mas, se possĂvel, queria evitar comer isso, deixando como Ășltimo recurso.
EntĂŁo, que tal sapos? Pensando bem, ele nĂŁo tinha muitas dĂșvidas. Na verdade, eles pareciam ser uma verdadeira refeição.
Se ele simplesmente pulasse no sapo a um metro de distĂąncia e mordesse de uma vez, seria nojento, mas se ele tirasse a pele primeiro, nĂŁo poderia ser saboroso?
Sua boca começou a salivar.
Tudo bem, disse a si mesmo.
Se fosse venenoso, ele lidaria com isso depois. Se sua lĂngua formigasse, ele simplesmente cuspiria fora. Ele tinha confiança em seu senso de perigo e reflexos.
Eu vou comer, decidiu. Vou pegar e comer. Comer bem.
Ele quase gritou o nome de uma de suas habilidades por hĂĄbito, mas se conteve.
Aqui vou eu. Sem barulho! Leap OutSilencioso!
Ele pulou direto para frente e estendeu as duas mĂŁos. Foi exatamente nesse momento que aconteceu.
O sapo pulou também.
â O quĂȘ…?
Suas mĂŁos colidiram uma com a outra, agarrando o vazio. Como isso era possĂvel? Ele tinha deixado escapar?!
A reação rĂĄpida ao perigo e a habilidade de salto incrĂvel o deixaram chocado. Com um Ășnico pulo, o sapo havia se movido dois metros inteiros. NĂŁo era um sapo comum, afinal.
â Droga! VocĂȘ nĂŁo vai escapar! â gritou.
Se é assim que vai ser, vou levar isso a sério. Sim. Sem perceber, eu o estava subestimando, aquele sapo. Por maior que fosse, eu achava que era apenas um sapo. Não pense nessa coisa como um sapo. Pense nela como um inimigo a ser derrotado.
â Ngh! VocĂȘ tĂĄ morto! Leap Out! â Ele pulou.
â Leap Out! â Ele pulou de novo.
â Leap Out!
â Leap Out!
â Leap Out!
Ele continuou pulando, sem dar tempo para si mesmo ou para o sapo respirar.
â Leap Out, Leap Out, Leap Out!
Pulava, pulava e pulava atrĂĄs dele. Cada vez que se aproximava com o Leap Out, estendia a mĂŁo para capturĂĄ-lo. Mas, toda vez, o sapo escapava no Ășltimo segundo e nem parecia estar olhando para ele. O sapo sempre mantinha a traseira voltada para ele, como se tivesse olhos nas costas.
No momento em que pensou nisso, percebeu que aquelas marcas perto da traseira eram, na verdade, pĂĄlpebras.
Sem dĂșvida. Eram pĂĄlpebras. Ele tinha olhos nas costas, ou melhor, na bunda.
â Que nojo! â gritou. â Vou usar o Leap Out como finta e entĂŁo…?! EntĂŁo…?!
Quando fingiu que ia pular, mas não pulou, o sapo também começou a saltar, mas parou no meio do movimento.
â Heh! Te peguei!
Ele desestabilizou o timing do sapo e usou o Leap Out. Aquilo devia resolver.
Ou, pelo menos, deveria. Mas o sapo ainda escapou por entre seus dedos.
â Mas que habilidade Ă© essa?! â rugiu.
Isso nĂŁo Ă© um inimigo qualquer, ele pensou, furioso. Que inimigo poderoso. Tenho que vĂȘ-lo como meu rival agora. NĂŁo vou deixar ele escapar. Eu juro que vou derrotĂĄ-lo. Vou comĂȘ-lo, custe o que custar. Como posso viver sem comer? Estou tĂŁo faminto que meu estĂŽmago parece atĂ© achatado. O que isso significa? NĂŁo sei, maldito sapo! Maldito seja, sapo! VocĂȘ Ă© sĂł um sapo! Um sapo maldito!
Assim, ele saltou dezenas… nĂŁo, centenas de vezes. SĂ©rio.
Estava exausto. Sério, sério. Claro que estava.
â Mas, cara, no fim das contas â murmurou… â Bwah!
Ele tentou soltar uma gargalhada, mas sĂł conseguiu uma risada curta.
Na floresta quente e Ășmida, ele estava sozinho, suado, parado ali com um sapo grande demais preso em suas mĂŁos. O que alguĂ©m poderia pensar dessa situação?
â Droga, eu sou foda… â murmurou.
Huh?
Era isso?
DifĂcil dizer, mas, seja como for, ele havia alcançado seu objetivo. O grande sapo, que atĂ© pouco tempo atrĂĄs agitava freneticamente as pernas, finalmente desistiu e ficou quieto. No entanto, aqueles olhos na bunda eram, no mĂnimo, assustadores. Piscaram. Estavam olhando para ele.
â N-NĂŁo olhe â disse. â Eu vou te comer agora…
O grande sapo coaxou. Estava implorando por sua vida? Isso era inĂștil, claro. No final, este mundo era baseado na sobrevivĂȘncia do mais forte e na cadeia alimentar. Ranta nĂŁo podia lutar de estĂŽmago vazio.
â NĂŁo guarde rancor de mim… Na verdade, acho que pode guardar, se quiser. Se quiser me odiar, me odeie. Por mim, tudo bem. NĂŁo Ă© como se eu estivesse tentando bancar o durĂŁo ou algo assim.
Com essa frase incrivelmente legal e meio fofa, ele usou sua faca reserva para rapidamente encerrar a vida do sapo, tirar sua pele, arrancar os olhos, remover os ĂłrgĂŁos internos e… O que pensar daquilo?
Embora fosse em formato de sapo, mesmo que um grande, por dentro, havia um pedaço de carne rosada e apetitosa. Ele gostaria de cozinhå-la, mas acender uma fogueira seria arriscado. Também não tinha ågua para lavar.
Parece que vou ter que comer assim mesmo, né? Lå vai. Não tenha medo. Não hå nada para temer. O mundo é assim mesmo?! Nenhum tempero é melhor que a fome! Vou comer. Comer. Comer isso. Comer!
LĂĄ vai! Que tal isso?!
Ele comeu. Comeu mesmo. Cuspiu os ossos, mas devorou todo o resto.
â Honestamente, sim â murmurou.
Jogando as duas mĂŁos no chĂŁo, semicerrava os olhos sob a luz fraca que atravessava as folhas.
â O gosto… Ă. NĂŁo foi bom nem nada assim. Foi mais como: âBem, pelo menos comi alguma coisa.â Isso Ă© importante, nĂ©. Sim. NĂŁo deixou minha lĂngua dormente e minha barriga nĂŁo dĂłi. Por enquanto, pelo menos. Aposto que consigo me mexer por dias com isso. Provavelmente…
Ele arrotou, franzindo a testa sem querer. Um cheiro cru e rançoso de sapo veio à tona.
â …Ă prova de que ainda estou vivo.
Sim.
Estou vivo. Quero gritar isso bem alto.

Estou vivo!
Estou vivendo intensamente!
Que tal isso?!
Olha como minha vida parece brilhar!
Ele nĂŁo ia gritar, claro.
â Ranta! â uma voz gritou.
Ao ouvir seu nome, Ranta quase pulou, mas não, ele definitivamente não podia fazer isso. Em momentos como aquele, ao invés de entrar em pùnico e agir de forma desesperada, era melhor estar preparado para se mover imediatamente, se necessårio.
Ele nĂŁo se levantaria. Ficaria agachado, mais ou menos pela metade, com o corpo inclinado para frente.
De onde vinha aquela voz?
NĂŁo parecia perto. Pelo som, o falante estava a dezenas de metros de distĂąncia, talvez uns cem metros.
JĂĄ fazia mais de dez dias que Ranta estava perambulando pelo Vale dos Mil. Ele nĂŁo tinha ideia de onde estava agora. Pelo menos havia saĂdo da densa nĂ©voa. Naquela ĂĄrea, havia apenas uma neblina matinal, e agora quase nĂŁo havia mais nenhum vestĂgio dela. No entanto, as ĂĄrvores densas e o terreno irregular dificultavam a visibilidade.
â Ranta! Eu sei que vocĂȘ estĂĄ aĂ, Ranta!
LĂĄ estava aquela voz novamente. Estava mais prĂłxima desta vez? Bem… NĂŁo dava para ter certeza.
â Maldito seja esse velho â murmurou Ranta, cobrindo a boca com a palma da mĂŁo.
âEu sei que vocĂȘ estĂĄ aĂâ, Takasagi tinha dito.
Sério? Isso não era um blefe? Diferente do sapo que ele acabara de comer, aquele era um velho astuto. Sua intuição era afiada, então ele podia ter uma ideia vaga de onde Ranta poderia estar, mas provavelmente não sabia a localização exata.
Se ele soubesse exatamente onde estava, nĂŁo precisaria gritar para alertĂĄ-lo. Bastaria se aproximar sorrateiramente. Se ele nĂŁo estava fazendo isso, significava que Takasagi ainda nĂŁo o tinha encontrado.
Além disso, era certo que Onsa não estava trabalhando com ele. Aquele goblin mestre das feras tinha domesticado lobos negros e nyas. Os nyas de Onsa tinham sido devastados, sobrando apenas alguns, mas a matilha de lobos negros, liderada por seu grande lobo negro, Garo, permanecia intacta. Se Onsa estivesse por perto, os lobos negros jå teriam farejado Ranta e estariam se aproximando.
Era sĂł Takasagi e alguns orcs ou mortos-vivos. Ele poderia escapar. Ou, pelo menos, ainda achava que tinha uma chance de fugir.
Ele precisava agir com calma. Isso era o principal.
Eles estavam esperando que ele entrasse em pĂąnico e saĂsse do esconderijo. EntĂŁo ele nĂŁo se moveria. Ficaria onde estava por enquanto. E observaria a ĂĄrea ao redor.
Abriria bem os olhos. Esticaria os ouvidos.
A cerca de trĂȘs metros Ă sua frente, havia uma ĂĄrvore estranhamente retorcida, a ponto de parecer uma massa de tentĂĄculos emaranhados. Ranta caminhou atĂ© aquela ĂĄrvore, mantendo os passos silenciosos. Era uma Ășnica ĂĄrvore? Ou um emaranhado de vĂĄrias ĂĄrvores? Bem, que diferença fazia?
Ranta encostou-se Ă quela ĂĄrvore. Silenciosamente, respirou fundo.
â Ranta! â Takasagi gritou. â Apareça, Ranta! Faça isso agora, e eu nĂŁo vou te matar, Ranta!
Dessa vez, estava um pouco mais pertoâtalvez?
Takasagi provavelmente estava se aproximando pouco a pouco. Mas ainda nĂŁo estava tĂŁo perto assim.
âFaça isso agora, e eu nĂŁo vou te matarâ, Takasagi tinha dito.
Serå que ele o perdoaria por ter se juntado à Forgan e depois fugido? Se Takasagi o perdoasse, Jumbo provavelmente não diria nada. Ele poderia até aceitå-lo como camarada novamente.
NĂŁo, nĂŁoâRanta disse para si mesmo. Takasagi sĂł disse que nĂŁo me mataria. Mesmo que ele nĂŁo tire minha vida, ainda deve estar planejando fazer algo terrĂvel comigo, certo? NĂŁo tem como ele simplesmente dar risada e deixar isso pra lĂĄ. Bem, claro que nĂŁo, nĂ©? Quero dizer, eu traĂ ele, afinal.
â Ranta…!
Quantas vezes aquela voz jĂĄ tinha gritado por ele? Ele tentou lembrar…
â» â» â»
â Vou usar este galho â disse o velho, pegando nĂŁo um galho qualquer, mas um pedaço fino, seco e retorcido, antes de fazer um gesto com o queixo para Ranta. â VocĂȘ usa a sua prĂłpria espada, Ranta.
â Isso Ă© uma desvantagem bem grande, hein, velho… VocĂȘ acha que pode me subestimar!
Apesar da raiva, Ranta sacou RIPer como foi instruĂdo e se preparou.
Ele havia conseguido essa arma na Vila do Poço, em Darunggar, ou melhor, a comprara do ferreiro. Era uma espada de duas mĂŁos, mas a lĂąmina nĂŁo era tĂŁo longa, e era mais leve e fĂĄcil de usar do que aparentava. A base da lĂąmina tinha uma protuberĂąncia no ricasso, e Ranta gostava da aparĂȘncia ameaçadora da espada. NĂŁo seria exagero dizer que ele havia derrubado muitos inimigos com essa espada que tanto amava.
VocĂȘ acha que pode vencer com esse galho? NĂŁo seja tĂŁo presunçoso, velhoânĂŁo era algo que ele realmente pensasse, no entanto.
Takasagi abaixou levemente a mão esquerda, que segurava o galho, ficando em pé com os joelhos retos.
Ele estava a cerca de dois metros de distĂąncia de Ranta.
Se Ranta avançasse, um corte ou uma estocada o alcançaria. Além disso, como cavaleiro das trevas, Ranta era especializado em movimentos råpidos. Ele poderia reduzir aquela distùncia a nada num instante.
Takasagi nem sequer levantou o braço, e, afinal, ele só tinha um galho. Mesmo que acertasse Ranta, não deveria doer. Não deveria ser assustador de forma alguma.
Ainda assim, a respiração de Ranta havia ficado irregular. Seus pĂ©s… nĂŁo, seu corpo inteiro estava hesitante.
Esse velho podia me matar a qualquer momento.
NĂŁo, isso nĂŁo podia ser verdade. Era sĂł um galho, certo? Um galho. E aquela expressĂŁo no rosto dele… Seu Ășnico olho estava meio aberto, o pescoço levemente inclinado e a mandĂbula relaxada.
Era uma expressĂŁo que fazia Ranta querer reclamar. âEu me humilhei pedindo para vocĂȘ me treinar, e vocĂȘ aceitou, mesmo que a contragosto. Vamos lĂĄ, leve isso a sĂ©rio. Se controle.â
Esse homem tinha acabado de acordar? Estava de ressaca ou algo assim? Apesar disso, por quĂȘ…?
Ranta nĂŁo podia vencer.
NĂŁo importava como atacasse, ele nĂŁo podia vencer.
Era apenas uma impressão? Takasagi podia ver através de Ranta completamente. Isso era superestimå-lo?
Ranta poderia testar. Se testasse, saberia com certeza.
â O que foi? â Takasagi ergueu o galho, finalmente, mas entĂŁo apenas girou o pulso, rodando-o no ar. â Venha, Ranta. VocĂȘ quer ficar forte, certo? Se continuar aĂ parado, hesitando, nunca vai progredir.
â …Sim, eu sei disso. â A voz de Ranta tremeu levemente ao responder.
â VocĂȘ realmente entende? â Takasagi abriu um leve sorriso. â Isso Ă© duvidoso.
Agora Ă© o momento!
NĂŁo foi algo que ele decidiu. Pode-se dizer que foram seus instintos selvagens. O corpo de Ranta percebeu algo e reagiu.
Parecia perfeito. Leap Out seguido de Hatred. Basicamente, ele saltou e desferiu um golpe de cima para baixo. Era simples, mas um ataque mortal. Ele nĂŁo hesitou nem um pouco.
Se Takasagi estivesse segurando uma espada, talvez mal pudesse bloquear. Mas com um galho, nem pensar. Também não poderia esperar desviar. Este golpe era inevitåvel. Ranta podia dizer com confiança que era um Hatred perfeito.
Takasagi deu um passo para a esquerda e simplesmente deixou RIPer passar. Ele roçou levemente em RIPer com o galho e, em seguida, atingiu o rosto de Ranta com ele.
â Gah?!
Ele previu isso?!
â EstĂĄ escrito no seu rosto. â Takasagi deu um chute na parte de trĂĄs do joelho de Ranta, desequilibrando-o, e depois empurrou suas costas com o pĂ©.
Ranta caiu para frente.
â Whoa!
â VocĂȘ Ă© fraco.
â Urgh! â Ranta rolou para frente. â Droga!
Ele se virou instantaneamente, apenas para ser acertado no rosto novamente com o galho.
â Ack!
â VocĂȘ Ă© previsĂvel â disse Takasagi.
Ranta levou uma série de golpes antes de cair no chão, e quando tentou se levantar novamente, foi atingido mais uma vez. RIPer não estava mais em suas mãos. Ele havia soltado em algum momento. Não conseguia nem encostar em Takasagi.
Ele caiu de costas, batendo as costas e o quadril no chĂŁo. Enquanto se contorcia deitado, Takasagi sentou-se em seu estĂŽmago.
â Gwuh! â Ranta gemeu.
â VocĂȘ nĂŁo tem controle nenhum. O que quer dizer com âquero ficar mais forteâ? NĂŁo me faça rir, seu fracote.
â VocĂȘ mesmo disse… que nem sempre foi forte… nĂŁo foi…?
â Foi, sim â Takasagi respondeu com um sorriso debochado. â Mas, pensando bem, acho que nunca fui tĂŁo patĂ©tico quanto vocĂȘ.
â Se fosse o vocĂȘ de dez anos atrĂĄs… vocĂȘ disse… atĂ© eu teria conseguido te derrotar…
â NĂŁo leve aquela besteira a sĂ©rio, seu idiota. Mesmo o âeuâ de dez anos atrĂĄs era obviamente cem vezes mais forte que o vocĂȘ de agora.
â I-Isso… foi cruel…
â VocĂȘ faz muitos movimentos desnecessĂĄrios. â Takasagi jogou fora o galho que segurava, colocou o cachimbo na boca e começou a fumar.
Desgraçado, fumando tranquilamente enquanto estĂĄ sentado no estĂŽmago de outra pessoa. Quem ele pensa que Ă©, caramba? Se eu tentasse jogĂĄ-lo para fora, atĂ© conseguiria. Mas aposto que levaria outra surra logo em seguida. O que eu faço…?
â Perder um olho e um braço me ensinou uma coisa â disse Takasagi. â Humanos… Bom, acho que isso vale para orcs e outras raças tambĂ©m. A gente acaba carregando um monte de coisas desnecessĂĄrias sem perceber. Ficar mais forte nĂŁo Ă© sobre aumentar a quantidade de movimentos que vocĂȘ faz. Ă sobre eliminar o excesso e aperfeiçoar o que vocĂȘ jĂĄ tem. Ă sobre fazer o que precisa ser feito, sem fazer nada desnecessĂĄrio. Ranta, vocĂȘ nĂŁo parece ser bom nisso.
â NĂŁo diga… que tudo em mim… Ă© desnecessĂĄrio…
â Depois de perder meu braço… â Takasagi soltou uma baforada de fumaça e recuou o braço esquerdo. EntĂŁo, balançou-o silenciosamente para baixo.
Droga!
Takasagi tinha apenas balançado o braço esquerdo. No entanto, a trajetĂłria da katana em sua mĂŁo esquerda… Ranta podia imaginĂĄ-la claramente. Ela nĂŁo existia, mas ele conseguia vĂȘ-la.
â Eu nĂŁo fazia outra coisa alĂ©m de balançar minha katana â disse Takasagi. â Eu era destro, afinal. Percebi que, se fosse viver com apenas o braço esquerdo, teria que treinĂĄ-lo. Todo dia, todo santo dia, eu balançava e balançava atĂ© desmaiar.
â EstĂĄ dizendo para eu trabalhar duro? â Ranta perguntou.
â Trabalho duro Ă© inĂștil.
â NĂŁo, mas vocĂȘ acabou de dizer…
â Por que eu continuei balançando minha katana tanto assim? Simples. No começo, eu nĂŁo conseguia usĂĄ-la tĂŁo bem quanto com a mĂŁo direita, e isso me irritava. Mas, sabe, em algum momento, aquilo começou a ficar interessante.
â …SĂ©rio?
â Ver o que estava errado, como eu podia melhorar, e coisas do tipo. Perceber os erros, corrigi-los, testar coisas novas. Essa repetição era interessante.
â Isso Ă© um fetiche bem estranho â murmurou Ranta.
â VocĂȘ acha que, sem pensar, apenas continuando a balançar a katana, eu conseguiria fazer meu braço esquerdo tĂŁo bom quanto o direito era? Claro, mesmo que eu fosse um idiota e sĂł fizesse isso, teria algum crescimento. Mas sĂł atĂ© certo ponto.
â EstĂĄ dizendo que eu nĂŁo penso? â acusou Ranta.
â NĂŁo o suficiente, com certeza. Pessoas normais tĂȘm que usar o corpo atĂ© o limite para finalmente ver a diferença entre elas e um gĂȘnio.
â Eu jĂĄ sei disso â murmurou Ranta.
â VocĂȘ deve conhecer um ou dois caras realmente fortes â disse Takasagi. â Mas, do jeito que estĂĄ agora, tudo o que vocĂȘ sabe Ă© que eles sĂŁo incrĂveis. Como exatamente eles sĂŁo diferentes de vocĂȘ? O que vocĂȘ poderia fazer para derrubĂĄ-los? VocĂȘ nĂŁo tem ideia, certo?
â Tenho uma ideia, pelo menos…
â Eu jĂĄ pensei em mil maneiras de derrotar o nosso chefe, e tenho confiança de que trĂȘs delas funcionariam.
â Derrotar o Jumbo? â Ranta perguntou, incrĂ©dulo.
â O chefe sabe disso, mas meu objetivo Ă© matĂĄ-lo.
Ranta nĂŁo conseguia acreditar.
â Por que vocĂȘ quer matar o Jumbo?
â Foi o chefe quem arrancou meu braço, sabe. Eu nĂŁo guardo rancor, mas, se puder, quero matĂĄ-lo antes de morrer. Se eu pudesse matar o chefe, seria incrĂvel. Ficaria feliz, sem arrependimentos. Seria incrĂvel, e… tenho certeza de que depois disso sĂł restaria morrer.
â VocĂȘ Ă© realmente maluco.
â VocĂȘ acha? â perguntou Takasagi. â Ă meu objetivo de vida. Ter um me proporciona algo pelo qual lutar.
â …Objetivo de vida… â Ranta refletiu. Eu tenho um desses? Quando se fez essa pergunta, rostos surgiram em sua mente.
NĂŁo apenas um. VĂĄrios rostos.
NĂŁo pode ser, ele pensou. Por que os rostos deles? Isso Ă© loucura. Eles sĂŁo meu objetivo de vida? Que droga Ă© essa? NĂŁo faz sentido algum.
Eu sĂł os conheci por acaso e trabalhei com eles por um breve perĂodo na longa, longa vida que ainda tenho pela frente. Claro, em Darunggar, pensei algumas vezes que poderia estar com eles atĂ© o dia da minha morte. Mas isso era sĂł porque a situação fazia parecer apropriado pensar assim. Havia gente amigĂĄvel em Darunggar, entĂŁo talvez eu tivesse encontrado alguĂ©m como o Unjo encontrou, e talvez tivesse me separado deles. Quem escolheria ficar com aquelas pessoas para sempre? Moguzo era diferente. Ele era meu parceiro, mas os outros, eles eram sĂł companheiros.
Podia-se dizer que nos conhecĂamos apenas pelo trabalho. Com eles, eu nunca me senti Ă vontade, ou como se pertencesse a algum lugar, para ser honesto. TĂnhamos um nĂvel bĂĄsico de confiança, mas eu nĂŁo gostava deles, e eles nĂŁo gostavam de mim. NĂŁo era reconhecimento mĂștuo, era mais como se apenas nos tolerĂĄssemos.
Aqui nĂŁo Ă© assim. Forgan Ă© diferente.
Apenas alguns deles entendiam a lĂngua humana. Eles nĂŁo eram pegajosos, e ele era deixado, na maior parte do tempo, Ă prĂłpria sorte. Era estranho como raramente ele se sentia excluĂdo. Naturalmente, tinha que haver alguns que nĂŁo gostassem dele. Ele nĂŁo era confiĂĄvel. Apesar disso, ele estava sendo aceito.
O que ele deveria pensar sobre isso? Ele nĂŁo era confiĂĄvel, e nĂŁo havia como eles confiarem nele, mas ainda assim o tratavam como um companheiro comum. Talvez essa abertura, essa profundidade, fosse o que criava essa sensação Ășnica de que era bom estar ali.
Provavelmente, tudo dependeria de como ele agisse dali em diante. Ele sĂł precisava agir de forma a dizer: âEu sou definitivamente um de vocĂȘs.â Se fizesse isso, todos acabariam confiando nele aos poucos. Eventualmente, ele entraria no cĂrculo de amizades deles. Era uma pena nĂŁo haver mulheres, mas isso tambĂ©m significava que ele nĂŁo precisava se preocupar em ser atencioso com os sentimentos de nenhuma, entĂŁo havia vantagens e desvantagens nisso.
Ele fechou os olhos.
Conseguia facilmente imaginar um futuro ali.
Ele se encaixaria cada vez mais, vivendo cada dia com bom humor. Mesmo que ocasionalmente se rebelasse, haveria pessoas para segurĂĄ-lo e fazĂȘ-lo pedir desculpas. TambĂ©m teria chances de se soltar e fazer o que quisesse.
Aquele traje que Jumbo usava… ele gostava. Era estiloso. Se conseguisse colocar as mĂŁos em algo assim, usaria sobre a armadura.
NĂŁo, talvez nem precisasse de armadura. Jumbo nĂŁo usava, afinal. Sim. Sua maior vantagem era a mobilidade, entĂŁo era melhor sem armadura pesada, honestamente.
NĂŁo importava o ataque; se nĂŁo acertasse, ele estaria seguro. SĂł precisava desviar, certo? Ele podia aprender a desviar. O que precisaria fazer para chegar nesse ponto? Havia pessoas ali que ele podia perguntar sobre isso.
O que ele sempre quisera… NĂŁo conseguia colocar exatamente em palavras o que era, mas, fosse o que fosse, sentia que estava ali.
â Ranta! â Takasagi chamou seu nome.
â …Sim?
NĂŁo importava como olhasse, nunca parecia que ele seria capaz de ter isso. Por isso ele tinha meio que… nĂŁo, praticamente desistido disso.
NĂŁo havia lugar para ele, e ninguĂ©m poderia entendĂȘ-lo. Por que se sentia assim? NĂŁo sabia. Houve algum gatilho, e depois disso ele começou a pensar assim? Mesmo que houvesse, deveria ter sido antes de vir para Grimgar. Ele nĂŁo conseguia se lembrar.
Não parece certo, pensou. Nada nunca parece. Não importa onde eu esteja. Meu coração estå sempre inquieto. Ou estava, né? Agora, talvez nem tanto.
â O que foi? â Ranta perguntou.
â VocĂȘ realmente quer se tornar forte?
Esse era o objetivo da sua vida? Era isso que Takasagi estava perguntando.
Por exemplo, se ele quisesse ficar mais forte, isso era o objetivo? Ou ficar mais forte era apenas um meio para um fim, e ele queria realizar algo com essa força? Ou serå que o desejo de se tornar mais forte era uma forma de fuga, uma tentativa de desviar os olhos do que realmente precisava enfrentar?
O que eu quero fazer? Qual é o meu desejo? ele se perguntou. Eu não faço ideia. Como se eu soubesse.
â Sai logo de cima de mim, velho â murmurou. â Por quanto tempo vai ficar sentado no meu estĂŽmago? Eu nĂŁo sou uma cadeira, tĂĄ?
â NĂŁo quero. â Takasagi deu uma risada baixa. Colocou folhas no cachimbo e acendeu com algo que parecia um isqueiro. Era preciso habilidade para fazer isso com apenas um braço. â Seja como for, se vocĂȘ quer ficar mais forte, nĂŁo me importo de treinĂĄ-lo, mas-
â Por favor, faça isso. â Ranta ficou surpreso ao perceber que disse aquelas palavras facilmente e sem hesitação.
Takasagi pareceu um pouco surpreso tambĂ©m, mas, depois de um breve silĂȘncio, disse: â Bom, entĂŁo tĂĄ.
Era uma resposta que talvez fizesse sentido. Ou talvez nĂŁo.
Tradução: ParupiroHPara estas e outras obras, visite o Cantinho do ParupiroH â Clicando Aqui
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