Hai to Gensou no Grimgar – Capítulo 9 – Volume 10

 

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Hai to Gensou no GrimgarGrimgar of Fantasy and Ash

Light Novel Online – CapĂ­tulo 09:
[Por que vocĂȘ
?]


…EntĂŁo, percebi uma coisa.

VocĂȘ estĂĄ tomando refrigerante, nĂŁo Ă©? Mesmo reclamando que sua garganta dĂłi, vive tomando bebidas gaseificadas, nĂ©?

Esse refrigerante, o que vocĂȘ estĂĄ bebendo. Me dĂĄ um pouco. SĂł um gole.

Estou com sede.

Minha garganta estĂĄ tĂŁo seca que chega a ser desconfortĂĄvel.

VocĂȘ estĂĄ sentado na frente daquela mĂĄquina de vendas, como sempre, tomando refrigerante.

É noite?

Talvez jĂĄ seja bem tarde da noite.

EstĂĄ escuro, afinal.

Completamente escuro.

Para onde quer que eu olhe… Ă© um breu total, ou melhor, um vazio escuro.

Exceto por aquela mĂĄquina de vendas.

VocĂȘ estĂĄ iluminado pela luz da mĂĄquina de vendas.

Mas eu nĂŁo consigo ver seu rosto. É a Ășnica coisa que nĂŁo consigo enxergar.

Estranho. Eu deveria saber como Ă©. EntĂŁo, por quĂȘ?

Quem Ă© vocĂȘ…?

Estou perguntando. Tenho perguntado hĂĄ um bom tempo. Repetidamente.

VocĂȘ nĂŁo me ouve?

E vocĂȘ, estĂĄ com a cabeça baixa? É por isso que nĂŁo consigo ver seu rosto?

VocĂȘ estĂĄ tomando refrigerante, como sempre. Continuamente bebendo. SĂł refrigerante.

Por causa disso, hĂĄ latas vazias espalhadas por aĂ­. Dezenas, centenas, talvez mais.

Aqui, ali, por toda parte. NĂŁo estĂŁo apenas jogadas; sĂŁo tantas que parece que vocĂȘ e a mĂĄquina de vendas vĂŁo ser soterrados por elas.

Ei, vocĂȘ. É perigoso ficar aĂ­.

Levanto minha voz para alertĂĄ-lo.

É perigoso, tá ouvindo?

As latas vazias. Elas sĂŁo estranhas. Continuam aumentando em nĂșmero.

De onde essas latas vazias estĂŁo surgindo?

Heeeey.

Heeeey, eu disse.

Por favor, me responda.

Por que serĂĄ? NĂŁo sei, mas sĂł consigo chamar vocĂȘ daqui.

Não consigo ir até aí.

VocĂȘ sabe, nĂŁo sabe?

Ao ouvir uma voz familiar, viro para olhar.

Hå alguém ali.

Na escuridão absoluta, hå alguém.

Eu sei que estĂĄ ali. Mas nĂŁo consigo vĂȘ-lo. Ele fala:

Esse nĂŁo Ă© o seu lugar.

É verdade, diz outra pessoa. VocĂȘ nĂŁo pode ir para lĂĄ. Ainda nĂŁo. E nĂŁo pode vir para cĂĄ tambĂ©m.

O que Ă© isso?

O que vocĂȘs querem dizer?

EntĂŁo, eu tenho que ficar aqui…?

Se vocĂȘ quiser vir, pode.

NĂŁo. Isso nĂŁo Ă© bom.

Sim, vocĂȘ tem razĂŁo. É cedo demais.

Sim. Não vå para lå. Também não deveria vir para cå.

VocĂȘs dizem isso, mas me deixam completamente sozinho.

EstĂĄ tĂŁo escuro.

NĂŁo hĂĄ nada.

Ficar aqui sozinho pode nĂŁo ser impossĂ­vel, mas eu nĂŁo consigo suportar.

Venha, vocĂȘ diz, da frente da mĂĄquina de vendas.

Quando olho, vocĂȘ estĂĄ se levantando.

VocĂȘ estava olhando para baixo, mas nĂŁo mais. VocĂȘ levanta o rosto e olha para mim.

Com uma das mĂŁos, segura um refrigerante, e seu rosto estĂĄ negro, como se borrado.

O lĂ­quido escorre da boca da lata. Um fluido negro, negro como tinta.

A prĂłpria escuridĂŁo.

Venha para cĂĄ, vocĂȘ diz. Mesmo sem ter algo que se assemelhe a lĂĄbios.

Estou sozinho. Venha.

Estou assustado.

Apavorado, mas tĂŁo triste que nĂŁo consigo aguentar.

Eu quero ir.

Quero ir atĂ© vocĂȘ.

NĂŁo quero deixĂĄ-lo sozinho.

VocĂȘ nĂŁo pode ir, vocĂȘ diz. Espere. NĂŁo vĂĄ.

Por que estĂĄ me impedindo?

Eu nĂŁo quero te deixar sozinho, e tambĂ©m nĂŁo quero ficar sozinho. VocĂȘ sabe disso, certo?

Quero dizer, este lugar…

Onde Ă©?

Oh…

Choco.

Manato.

Moguzo.

Eles nĂŁo estĂŁo aqui.

Nenhum deles.

É isso mesmo. A máquina de vendas.

Ela nĂŁo estĂĄ aqui.

Nenhuma luz.

SĂł a escuridĂŁo.

Essa escuridĂŁo completa e esmagadora.

Escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, escuro, 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Ouviu o som de alguém engolindo seco.

Logo percebeu que nĂŁo estava escuro.

Estava em um lugar fechado. Sim, não era ao ar livre. Estava sob um teto. Além disso, era macio. Não estava deitado no chão, ou no piso, mas em uma cama de verdade.

Quando tentou se levantar, alguém chamou seu nome.

— Haru?!

— Huh… Mary…?

Mary. Era definitivamente Mary.

Parece que Haruhiro estava deitado em algum tipo de cama. Mary estava sentada em uma cadeira colocada bem ao lado dele. Ela se levantou com tanta força que quase derrubou a cadeira, então se jogou sobre ele. Não, ela não se jogou exatamente. Mas veio com tanta rapidez que parecia que poderia, colocando a mão esquerda ao lado da cabeça dele para se apoiar, enquanto usava a mão direita para tocar a bochecha e o pescoço de Haruhiro.

O cabelo de Mary caiu sobre o rosto de Haruhiro. Ele podia sentir o perfume dela.

Provavelmente era noite. Estava escuro de um jeito estranho, mas havia uma janela, e um pouco de luz entrava por ela, permitindo que ele visse vagamente o rosto de Mary. Seus olhos, em especial. NĂŁo encontravam os dele. Mary o tocava aqui e ali, e entĂŁo olhava em seus olhos, como se quisesse confirmar se ele estava bem.

Ele queria dizer “Estou bem”, mas não conseguia.

Haruhiro não conseguia tirar os olhos de Mary. Talvez isso fosse impróprio da parte dele, mas, mesmo que não precisasse ser para sempre, queria que ela continuasse o tocando por mais um tempo. Se estendesse os braços, poderia abraçå-la. Esse pensamento lhe ocorreu. De algum modo, sentia que Mary não o rejeitaria. Quando essa ideia tola cruzou sua mente, sentiu-se desesperadamente patético.

— Estou bem, Mary — disse Haruhiro com um sorriso. Será que ele estava mesmo sorrindo? Não conseguia dizer com certeza e não tinha confiança. Sempre era assim.

— …Entendi. — Mary respirou fundo, levantou-se e acabou sentando-se na borda da cama. As mĂŁos de Mary se afastaram de Haruhiro, e o perfume dela ficou mais fraco. A ponto de ele mal poder senti-lo.

Não sabia se sentia decepção ou alívio. Talvez fosse um pouco dos dois.

De qualquer forma, estava tudo bem. Assim, ele conseguia manter a sanidade. Precisava haver uma distĂąncia apropriada entre companheiros. Muito provavelmente, isso era ainda mais verdadeiro quando confiavam suas vidas uns aos outros.

— …Desculpa — acrescentou ele.

— Por que está pedindo desculpas? — perguntou ela.

— Bem, Ă© que… NĂŁo sei. Hm, sobre o que aconteceu pra tudo ter chegado a esse ponto… Eu realmente nĂŁo sei. Mas, tipo, dĂĄ pra dizer que Ă© culpa minha estarmos nessa situação.

Mary balançou a cabeça silenciosamente. Haruhiro jå sabia. Era culpa dele. Ele tinha tomado a decisão errada. Mesmo assim, seus companheiros não o culpavam unilateralmente. Ele sabia disso, então quantas vezes ainda ia passar por essa mesma situação?

NĂŁo havia tempo para desculpas. Havia muitas coisas que precisava perguntar. Por que nĂŁo conseguia dizer nada?

Mary permanecia calada.

O silĂȘncio pesava sobre ele. Principalmente sobre seu coração e estĂŽmago. Eles doĂ­am.

Eventualmente, Mary fungou.

Haruhiro ficou surpreso.

— …Mary?

— Me desculpe. — Mary cobriu o rosto com a mão esquerda. Pressionando a área ao redor dos olhos, talvez estivesse tentando conter as lágrimas.

— NĂŁo… Mas isso…

— NĂŁo Ă© nada. SĂł… fiquei aliviada.

— Entendo. Se for sĂł isso, bem…

— Idiota. — Mary deu um leve soco no peito de Haruhiro e entĂŁo riu. Sua mĂŁo direita tentou se afastar, mas nĂŁo conseguiu. Ficou suavemente sobre o peito de Haruhiro. — …NĂŁo. A idiota sou eu.

— Huh?

— Deixa pra lá. Provavelmente não estou dizendo nada com sentido.

— VocĂȘ… nĂŁo estĂĄ?

— Não sou muito esperta, então às vezes faço isso.

— Eu nĂŁo acho que seja verdade que vocĂȘ nĂŁo Ă© esperta.

— Tenho medo de ser menosprezada, então só escondo isso — Mary apertou levemente sua mão direita. — Mas tenho certeza de que fica evidente.

Haruhiro soltou um “Ah…” soando como um idiota. Em momentos como aquele, ele se amaldiçoava por nĂŁo conseguir dizer algo inteligente e atencioso. Mas que tipo de momento era aquele? Que tipo de situação era essa?

— Mary, vocĂȘ Ă©…

O que ela era? Mary era… o quĂȘ?

Haruhiro inspirou, expirou.

Palavras, apareçam, ele implorou. Por favor, venham.

Por favor, por favor… apareçam.

Vamos lĂĄ. Estou implorando. NĂŁo importa quais palavras sejam neste ponto.

— …insubstituĂ­vel… — ele concluiu. — Para todos nĂłs… Sim. VocĂȘ nos salvou. A mim… Meu rosto estava um desastre, nĂŁo estava? Quem consertou isso foi vocĂȘ, nĂŁo foi, Mary?

— Porque sou uma sacerdotisa — ela respondeu.

— VocĂȘ Ă© necessĂĄria, Mary. Um… para todos nĂłs… sem dĂșvida.

— Esse Ă© vocĂȘ, Haru — disse ela. — Sem vocĂȘ, estarĂ­amos em apuros. Todos nĂłs.

— Todos nĂłs… Sim.

— EntĂŁo…

— Então?

— Estou feliz, Haru. Que… vocĂȘ estĂĄ aqui. Que eu pude te conhecer.

— NĂŁo, eu sou quem… quem deveria dizer isso…

— Dizer o quĂȘ? — Mary perguntou.

— Huh?! Oh… bem… Que estou feliz por ter te conhecido… Espera—

O que Ă© isso?, ele pensou freneticamente. Essa conversa?

Estamos agradecidos por termos nos conhecido. Isso nĂŁo Ă© estranho, por si sĂł. É um fato, afinal. Eu sou grato, sabe? Mas, de alguma forma, isso parece diferente. Huh?

NĂŁo parece?

Estou interpretando demais? Demais? Como?

Huhhhhhh? NĂŁo sei mais de nada.

— Whuh? — ele começou a vocalizar, mas Haruhiro nĂŁo tinha ideia do que estava tentando dizer. — Whuh. Whuh. Whuh…?

— Whuh? — Mary repetiu, inclinando a cabeça para o lado.

— Whuh…

Droga.

Sua mente estava em branco. Apesar de estar escuro. Pensando bem, eles estavam dentro de uma construção, mas não havia nenhuma luz.

Uma construção.

Uma construção?

— Whuh…?

Onde ficava essa construção? Naquela aldeia? Se sim, por quĂȘ? Haruhiro nĂŁo parecia exatamente estar amarrado de pĂ©s e mĂŁos. Parecia que o mesmo valia para Mary. O que havia acontecido depois que ele desmaiou?

Mary estava ali. Onde estavam Shihoru? Yume? Kuzaku? Setora, Enba e Kiichi?

— Whuh…

Aquele “Whuh.” Quantas vezes ele já tinha dito isso?

Mary começou a rir um pouco, depois retirou a mão que tinha deixado sobre ele.

— Vou te dar um resumo do que aconteceu.

— P-Por favor. Ah, certo… Posso me levantar? Tudo bem?

Mary riu novamente e disse: — Vá em frente.

Quando ele se levantou, sentiu-se um pouco tonto, mas nada parecia estar fora do normal. Considerando que seu rosto tinha sido esmagado antes de desmaiar, bem, era uma melhora.

Mais que isso, pelo comportamento de Mary, parecia que todos os seus companheiros estavam bem. Mary explicou a Haruhiro os eventos que levaram ao homem que se chamava Jessie capturå-lo, forçar seus companheiros a se submeterem e depois levå-los para Jessie Land.

Depois, mesmo que esperassem ser presos juntos, nĂŁo foi isso que aconteceu. Mary foi designada para cuidar de Haruhiro, enquanto o restante de seus companheiros recebeu ordens para fazer outras coisas em lugares diferentes.

Shihoru foi com Jessie para observar como as coisas eram. Setora, Enba e Kiichi estavam aparentemente confinados em algo parecido com uma prisão. Yume e Kuzaku pareciam ter sido designados para trabalhos também. Shihoru estava sendo forçada a acompanhar Jessie e perguntava a ele vårias coisas sobre Jessie Land.

— Quer dizer que ele está revelando o estado real das coisas para a Shihoru? — Haruhiro perguntou.

— Sim. Segundo ela, Ă© isso. Mas pode estar escondendo algo.

— Nunca se sabe… — ele murmurou.

— Para começar, aquele homem levou um golpe direto do seu Backstab, mas ficou bem.

— Ele parece nĂŁo ser nada alĂ©m de humano, mas nĂŁo Ă© — Haruhiro disse. — Gumows, era isso? Os bebĂȘs que os orcs obrigavam os humanos a terem?

— NĂŁo ouvi muitos detalhes sobre eles — disse Mary. — Mas, basicamente, na guerra em que a Aliança dos Reis derrotou a humanidade, os orcs…

— Ahm, Ă©… Eu meio que sinto pena dessas pessoas. Ah, acho que nĂŁo sĂŁo pessoas. NĂŁo, mas eles tĂȘm sangue humano, entĂŁo… É, comparados aos orcs puros, eles deveriam ser mais parecidos conosco.

— Os que estĂŁo guardando este lugar sĂŁo gumows de manto verde — disse Mary. — Esta Ă© uma aldeia de gumows, entĂŁo era de se esperar. Eles sĂŁo relativamente gentis. Oh, certo.

Mary levantou-se da cama. Havia um mĂłvel parecido com uma mesa perto da parede. Mary voltou segurando algo que estava em cima dele.

— Comida e ĂĄgua. Os gumows trouxeram isso tambĂ©m. Eu experimentei. NĂŁo acho que tenham colocado nada estranho.

— Oh… — O estĂŽmago de Haruhiro roncou de repente, e sua boca encheu-se de ĂĄgua.

— Espere. — Mary sentou-se novamente na beira da cama. — A comida está embrulhada. Vou abrir agora. Tome isso primeiro.

Haruhiro levou Ă  boca o cantil de couro que havia recebido e bebeu. A ĂĄgua era morna e levemente ĂĄcida. NĂŁo era uma acidez desagradĂĄvel, como algo estragado. Era fĂĄcil de beber. Ele nĂŁo conseguiu evitar engolir tudo de uma vez.

— Aqui — disse Mary, oferecendo algo achatado. Obviamente, ele deveria pegar com as mãos, mas, movido pela fome, Haruhiro inclinou o pescoço para morder diretamente o que Mary segurava.

Ela pareceu surpresa, soltando um pequeno grito.

— Eek!

Antes que ele pudesse se desculpar, uma sensação como um choque elétrico percorreu seu cérebro.

— Droga, isso Ă© bom! — exclamou.

— N-NĂ©? Isso aqui Ă© delicioso.

— Isso está me trazendo de volta à vida.

— Apesar de vocĂȘ jĂĄ estar vivo.

— Bem, sim, mas, sabe…

— Ainda tem mais.

— Ah, claro.

— Aqui.

Ele abriu a boca, e o restante daquela coisa achatada, parecida com um bolinho, foi para dentro. Ele hesitou um pouco, mas nĂŁo sabia quando teria outra chance de comer, e queria comer, entĂŁo mastigou e engoliu.

Era realmente delicioso. E ele tinha a sensação de que não era só porque estava com fome.

Primeiro, a textura mastigåvel era boa. Também tinha um leve sabor salgado. Muito bom.

Além disso, havia algo dentro. Carne moída e vegetais saborosos combinados em um sabor agridoce. Era esse tipo de recheio. Isso também era delicioso. Tinha gosto de civilização. Afinal, ele não comia nada decente hå algum tempo. Mas, mesmo sem isso, era provavelmente delicioso. Um sabor de que ele não se cansaria.

Se tivesse que dizer mais, o sabor deixava uma sensação de nostalgia. Como comida caseira. Mas de onde? Ele não sabia, mas era incrível.

— Quer mais um? — perguntou Mary.

Ele nĂŁo poderia recusar. Mesmo que nĂŁo fosse Mary oferecendo, ele teria pedido outro. Sem dĂșvida. Dois, trĂȘs, comeria tudo que ela tivesse.

— Por favor.

— Diga “Ah”.

— TĂĄ bom. Ah…

Hm?

Com a boca aberta, Haruhiro olhou nos olhos de Mary.

Seus olhares se encontraram.

— Ah…! — Mary desviou o olhar. — D-Desculpe. Eu meio que me deixei levar. N-NĂŁo tinha nenhum… significado mais profundo…

— C-Claro. — Haruhiro abaixou os olhos, coçando o ombro mais do que o necessário. — Eu sei disso.

— Pode comer — disse ela, atrapalhada.

Ele mordeu hesitante o bolinho achatado que ela lhe estendeu. Tão bom. Ele podia sentir aquilo se infiltrando em si. O sabor era gentil. Combinaria com qualquer coisa. Sentia que, se essas pessoas comessem isso todos os dias, poderia se dar bem com elas, mesmo sendo de outra raça.

Naturalmente, era apenas uma sensação. Ele não levaria o sabor da comida em consideração ao tomar decisÔes. Mas era difícil ter uma må impressão. Afinal, jå tinha comido o segundo.

— Vamos parar por aqui… tĂĄ bom? — disse ele. — Se eu comer tudo de uma vez, meu corpo pode reagir mal.

Mary riu.

— Isso Ă© tĂŁo a sua cara, Haru.

— SĂ©rio? Por quĂȘ?

— O jeito como vocĂȘ tenta se controlar calmamente. Sempre penso que preciso aprender com o seu exemplo.

— NĂŁo sou nada de especial… sabe? NĂŁo, sĂ©rio.

— O jeito como vocĂȘ Ă© modesto tambĂ©m.

— Hmm… — Haruhiro começou a se coçar todo.

Ele nĂŁo era bom em aceitar elogios. NĂŁo que nĂŁo ficasse feliz, mas eles o deixavam envergonhado, e ele nĂŁo queria se tornar arrogante.

Quero dizer, Ă© Ăłbvio, nĂŁo Ă©? Fico nas nuvens quando a Mary me elogia tanto. É por isso que quero que ela pare. NĂŁo quero ficar feliz demais. Quando coisas boas acontecem, começo a me preocupar. HĂĄ momentos bons e ruins. Para cada subida, hĂĄ uma descida logo Ă  frente. Dizem que vivemos em uma teia de fortuna e infortĂșnio.

— Mary — ele chamou.

— Sim?

— Eu sinto que…

A janela deste quarto estava posicionada em um ponto elevado, com a persiana de madeira aberta e sustentada por varas. Do lado de fora, estava tudo silencioso.

Até que não estava mais.

To, to, to, to, to, to, to, to, to, to, to, to, to, to, to…

Esse foi o som que ele ouviu.

De jeito nenhum, ele pensou. No fundo, nĂŁo queria acreditar, mas o corpo de Haruhiro reagiu rapidamente.

Ele se levantou rapidamente da cama e tentou olhar pela janela. Sem sucesso. Estava escuro, e ele nĂŁo conseguia ver nada. Mas aquele som distinto de: to, to, to, to, to, to, to continuava ecoando Ă  distĂąncia.

— É um redback.

— NĂŁo pode ser… — Mary ficou sem palavras.

Ele entendia. Haruhiro sentia exatamente o mesmo.

Os guorellas eram incrivelmente persistentes. Haruhiro havia matado o redback lĂ­der do bando. Mesmo assim, eles continuavam os perseguindo. Parecia que aquele era um bando excepcional, com vĂĄrios redbacks. A party tinha conseguido escapar arriscando suas vidas e pulando de um penhasco. Era para ter terminado assim.

Não era só as batidas. Ele ouvia outros sons também. Gritos. Não entendia o que estavam dizendo. Era no idioma Gumowan? Havia luzes indo de um lado para o outro. Tochas, aparentemente.

A porta se abriu, e o quarto se iluminou.

— Mary! Haruhiro-kun?!

Era Shihoru. AtrĂĄs dela, estava um homem loiro carregando uma tocha. Jessie.

— EstĂŁo acordados, hein. Perfeito. Parece que vou precisar da ajuda de vocĂȘs — disse Jessie, calmamente.

Ele falava como se não estivesse nem um pouco tenso. Sua expressão também era serena.

Haruhiro se armou com seu estilete e a faca com guarda-mão, além do manto e outros equipamentos que estavam em um canto do quarto, e saiu da casa junto com Mary. Ele estava um pouco inståvel, mas se continuasse se movendo, ficaria bem. Era uma boa coisa ter comido algo antes.

A aldeia estava surpreendentemente calma. Os moradores nĂŁo estavam em pĂąnico, saindo correndo de suas casas em desespero.

— Dei ordens para não saírem de suas casas — explicou Jessie enquanto caminhavam. — Parece que estão obedecendo por enquanto. A propósito, os gumows com mantos verdes como o meu são diferentes. Eu os chamo de Esquadrão Ranger. São como minhas mãos e pernas, por assim dizer. São tão bons quanto os soldados voluntários de Altana.

A casa onde Haruhiro e Mary estavam ficava na extremidade da aldeia. Não havia mais construçÔes ao redor por um bom tempo. Aquela estrada jå estava no meio dos campos. Havia vårias chamas à distùncia. Não pareciam grandes, mas aparentemente eram torres de vigia.

— Quantos sĂŁo? — perguntou Haruhiro. — Hum… Desses rangers, quero dizer.

— Vinte e quatro — respondeu Jessie.

Jessie liderava o caminho, Haruhiro vinha logo atrĂĄs, e Shihoru e Mary caminhavam lado a lado, fechando o grupo.

To, to, to, to, to, to… To, to, to, to, to, to… To, to, to, to, to, to, to, to, to…

O som das batucadas não parava. Vinham de um lado, e do outro também.

— Algum dano? — perguntou Haruhiro.

— NĂŁo… — Jessie começou, mas balançou a cabeça. — NĂŁo tenho certeza. Ainda nĂŁo.

Era culpa deles?

Haruhiro e os outros haviam trazido os guorellas para Jessie Land. Isso poderia ser verdade, mas Jessie também tinha sua parcela de responsabilidade. Ele poderia ter expulsado Haruhiro e os outros, ou matado todos. Não era claro o motivo, mas ele não fez isso. Este era o resultado. Então, podia-se dizer que ele havia causado isso a si mesmo.

Jessie entrou em uma trilha estreita. Havia uma pequena cabana adiante.

Na frente da cabana, alguĂ©m gritou alto: — Ahhh!

E começou a balançar uma tocha.

— É o Haru-kun! Shihoruuu! Mary-chan tambĂ©m!

— Yume! — gritou Haruhiro.

Além de Yume, havia outro gumow ranger de manto verde na cabana.

Jessie disse: — Este Ă© Tuoki. — EntĂŁo apresentou Haruhiro e os outros. O ranger de rosto pĂșrpura acenou com a cabeça.

— Uh, olĂĄ… Eu sou Haruhiro.

— O Tuokin aqui Ă© um cara bem capaz, sabia?! — Yume deu um tapa nas costas de Tuoki, fazendo-o tossir.

— Yume, vocĂȘ Ă© amiga dele? — Haruhiro perguntou, surpreso.

— Meio que. Yume acabou de conhecĂȘ-lo, sabe? Mas talvez Yume e Tuokin estejam virando amigos. NĂ©, Tuokin?

— Ha-Ah…

— Parece que ele tĂĄ meio confuso com isso… — comentou Shihoru.

Yume gritou: — MiauquĂȘ?! — Seus olhos se arregalaram, e ela girou para olhar bem para o rosto de Tuoki. — Tuokin, Yume tĂĄ te incomodando? É cedo demais pra chamĂĄ-la de amiga?

— …Wah.

— Yume… — Mary balançou a cabeça. — Ele provavelmente nĂŁo entende vocĂȘ.

— Nuoh, entĂŁo Ă© isso! — Yume cutucou Jessie nas costelas. — Jessie, se for assim, interpreta o que Yume tĂĄ dizendo por um tempo!

— É… NĂŁo, nĂŁo temos tempo pra isso… — respondeu Jessie.

— Funya! É verdade! Haru-kun, estamos numa baita ameixa aqui!

— Encrenca, vocĂȘ quis dizer. É encrenca, nĂŁo ameixa

Bem, honestamente, isso era sĂł Yume sendo Yume, entĂŁo talvez estivesse tudo bem como estava. Haruhiro realmente nĂŁo tinha tempo para corrigir isso.

A cabana parecia ser um depósito ou um abrigo de descanso, mas havia uma escada do lado de fora da construção, com uma torre de vigia simples incorporada ao telhado. Jessie pediu que Tuoki e Haruhiro o acompanhassem e subiu até a torre de vigia.

Era apertado lĂĄ em cima. No mĂĄximo, caberiam quatro pessoas. A torre ficava sĂł um pouco mais alta que um segundo andar, mas nĂŁo havia obstĂĄculos, entĂŁo era possĂ­vel enxergar uma grande distĂąncia.

Excluindo a torre onde estavam agora, havia um total de outras oito torres com algum tipo de fogo aceso. Elas pareciam posicionadas nos pontos cardeais e intercardeais: norte, sul, leste, oeste, nordeste, sudeste, noroeste e sudoeste.

— Aquela direção Ă© o norte — disse Jessie, apontando e explicando.

Como Haruhiro imaginava, as torres estavam localizadas nas direçÔes cardeais e intercardeais.

To, to, to, to, to, to, to, to…

Se ouvissem com atenção, havia batucadas de guorella vindo de trĂȘs direçÔes: norte, oeste e sudoeste.

— Isso Ă© uma situação excepcional — disse Jessie, dando de ombros. — Em um bando de guorellas, sĂł o macho dominante faz esses sons. Para ser preciso, nĂŁo Ă© que nunca aconteça, mas, se um macho que nĂŁo seja o dominante o fizer, Ă© visto como um desafio. Normalmente, as fĂȘmeas e os jovens se aliam ao dominante, e o macho desafiador Ă© esmagado.

— Ouvi o mesmo — Haruhiro assentiu.

— Daquela mulher da aldeia oculta? — perguntou Jessie.

— VocĂȘ quer dizer Setora, nĂ©? Sim, Ă© isso. EstĂĄvamos em Darunggar, um mundo diferente de Grimgar, e…

— JĂĄ ouvi o resumo disso pela Shihoru. A Montanha do DragĂŁo de Fogo, nĂ©? Parece interessante. VocĂȘs encontraram Unjo em Darunggar, pelo que ouvi?

— Ele Ă©… alguĂ©m que vocĂȘ conhecia?

— Não. Não o conheço. Pelo menos não da minha parte.

— …Huh?

— Jessie! — Tuoki gritou. Ele estava olhando para o nordeste.

Olhando naquela direção, uma das fogueiras nas torres se apagou.

— Ah, droga — Jessie bufou. — Os barulhos eram uma distração? Impressionante.

Ele tinha razĂŁo, era impressionante. Os guorellas usaram as batucadas para demonstrar sua presença, dizendo: “Estamos aqui, e vamos atacar vocĂȘs agora.” Era intimidação. Enquanto faziam isso, se esgueiraram e atacaram por outra direção.

— Huh, nĂŁo sei se esse Ă© o momento para se impressionar — comentou Haruhiro.

— Justo. Tuoki.

Jessie deu alguma ordem a Tuoki. Ele assentiu e desceu a escada apressado. Provavelmente iria interceptar os guorellas que vinham do nordeste.

As sete fogueiras restantes permaneciam acesas. Os barulhos de batucadas continuavam.

— NĂŁo pode ser que aquele fosse o principal alvo deles… certo? — disse Haruhiro.

— Haruhiro, se fosse vocĂȘ no lugar deles, o que faria com a linha de frente? — perguntou Jessie, assentindo.

— Em vez de usar um ataque leve para nos conter, eu entraria o mais fundo possĂ­vel. Isso mesmo, os mais jovens… Se eu fosse os guorellas, enviaria os machos jovens, cheios de vigor, para atacar.

— Concordo. Parece que vamos nos dar bem.

— NĂŁo tenho tanta certeza disso…

— Não pode simplesmente dizer que vamos nos dar bem, por enquanto?

— Não precisa me ameaçar. Farei o que puder. Mesmo que não fosse nossa intenção, acabamos trazendo os guorellas para cá, no fim das contas.

— SĂŁo um bando bem inteligente — comentou Jessie. — Eles sabiam que vocĂȘs eventualmente iriam para uma aldeia humana, entĂŁo os deixaram livres. VocĂȘs mataram um redback. Aquele tamborilar… Devem haver vĂĄrios redbacks. E um grande chefe liderando vĂĄrios bandos.

— Onde está Kuzaku? — perguntou Haruhiro.

— O grandalhão? Acho que logo estará aqui. Pedi que o trouxessem.

— Setora e Enba?

— Pessoalmente, não confio em pessoas da aldeia oculta.

— Podemos usĂĄ-los — disse Haruhiro. — Kiichi tambĂ©m.

— É o nyaa, nĂ©? Vou considerar.

— Os aldeĂ”es que nĂŁo sĂŁo rangers… nĂŁo sabem lutar?

— Nunca ensinei. SĂŁo criaturas tĂŁo bondosas. Os rangers sĂŁo os Ășnicos que carregam armas. Acho que hĂĄ uma faca ou algo do tipo em cada casa. Ferramentas agrĂ­colas tambĂ©m.

— Que lugar Ă© este? — perguntou Haruhiro.

— Jessie Land — respondeu Jessie, com um sorriso satisfeito que parecia completamente fora de lugar. — O campo principal do jogo que estou jogando.

— Jogo…?

Uma vez, Manato tinha deixado escapar essa palavra. Ele tinha dito que isso era como um jogo. No entanto, embora a palavra fosse a mesma, parecia diferente quando Jessie a dizia. NĂŁo, nĂŁo um pouco, completamente diferente.

— VocĂȘ parece distante, Haruhiro.

— …Eu pareço?

— Parece. NĂŁo importa a vida que levemos, no fim, Ă© como um jogo. VocĂȘ entende isso, nĂŁo Ă©?

— VocĂȘ e eu talvez nĂŁo nos demos bem.

— NĂŁo — disse Jessie. — VocĂȘ sĂł pensa assim porque ainda nĂŁo sabe de nada. Se aprender, verĂĄ claramente o que quero dizer.

— NĂŁo importa o que eu aprenda, isso nĂŁo vai mudar. NĂŁo Ă© um jogo. NĂŁo estamos brincando.

Haruhiro nĂŁo encarou Jessie com raiva. Suas emoçÔes estavam Ă  flor da pele. Parecia estar irritado. No entanto, mesmo que discutisse alto, nĂŁo poderia provar que estava certo, e nĂŁo queria realmente provar que Jessie estava errado ou convencĂȘ-lo.

Ainda assim, mesmo que nĂŁo tivesse significado, sentia a necessidade de dizer isso.

Haruhiro respirou fundo.

— Se morrermos, acabou tudo, e perdemos tudo. Podemos nos sentir pequenos e insignificantes. Pode ser um incĂŽmodo, pode ser doloroso, e podemos nos cansar disso. Mas atĂ© eu penso, de vez em quando, que estou feliz por estar vivo. Afinal, isso significa que podemos rir e chorar.

— EntĂŁo vocĂȘ estĂĄ dizendo que a vida Ă© importante?

— NĂŁo Ă© questĂŁo de ser valiosa ou nĂŁo. NĂŁo sei qual Ă© o valor da vida. De qualquer forma, enquanto eu puder pensar, nĂŁo quero deixar o que tenho. NĂŁo tenho escolha a nĂŁo ser me agarrar a isso. Quando comecei a fazer isso, eventualmente me vi cercado por tantas coisas que nĂŁo era mais tĂŁo fĂĄcil simplesmente jogar tudo fora.

— Na verdade, se vocĂȘ simplesmente se desfizer delas, verĂĄ que Ă© surpreendentemente fĂĄcil.

— É mesmo? — disse Haruhiro. — Bem, tenho certeza de que vocĂȘ tambĂ©m nĂŁo quer perder esta aldeia.

— Se os aldeĂ”es da minha Jessie Land, que eu tanto me esforcei para construir, fossem exterminados pelos guorellas, talvez eu ficasse um pouco triste, acho.

— Faremos de tudo para evitar que isso aconteça. É melhor preparar todos para uma batalha defensiva.

— Vamos fazer isso — Jessie ergueu a sobrancelha esquerda. — Ainda nĂŁo Ă© game over.

Pouco depois, Kuzaku foi trazido para a cabana por uma ranger feminina. O fogo na torre ao norte apagou-se em seguida.

Esta cabana ficava a cerca de duzentos metros da aldeia. A torre norte estava a cerca de um quilĂŽmetro.

— Haruhiro, vĂĄ vocĂȘ — aparentemente, Jessie nĂŁo pretendia sair da cabana por enquanto.

Quando Haruhiro assentiu, Jessie deu uma ordem Ă  ranger feminina que trouxera Kuzaku. Provavelmente estava dizendo para ela acompanhĂĄ-los e observĂĄ-los, ou algo assim.

Quando ele desceu a escada, Kuzaku gritou: — Hey! — e estendeu o punho. Haruhiro deu um leve toque com o seu. — É bem mais fĂĄcil com vocĂȘ por perto, Haruhiro — disse Kuzaku. — Quero dizer, sem vocĂȘ eu fico tĂŁo inquieto. É difĂ­cil, cara.

— Tá me assustando um pouco — respondeu Haruhiro.

— HĂŁ?! É assim que vocĂȘ responde?!

— Nah, tĂŽ brincando. Ou talvez nĂŁo…

— Cruel, cara. Mas meio que fiquei feliz, acho.

— Huh? Por quĂȘ?

— Quero dizer, vocĂȘ tĂĄ sendo um pouco mais rude comigo do que antes. Isso nĂŁo Ă© bom?

— VocĂȘ Ă© um total masoquista — murmurou Shihoru.

— NĂŁo sou! — Kuzaku negou imediatamente, mas inclinou a cabeça de lado. — Ahhh. Mas tambĂ©m nĂŁo sou sĂĄdico. Isso nĂŁo combina comigo. Talvez eu nĂŁo seja um total masoquista, mas, se for pra falar de S e M, bem, talvez eu seja um pouco M…

— A Yume Ă© L, nĂ©? Ou talvez F?

— F…? — Mary franziu a testa, parecendo pensar seriamente no assunto.

LĂĄ no alto da cabana, na torre, Jessie ria de forma contida.

— Wolla! — A ranger feminina deu um tapa no traseiro de Kuzaku.

— Sim, senhora! — Kuzaku empurrou Haruhiro pelas costas. — Haruhiro, vamos nessa! A Yanni-san Ă© gente boa, mas dĂĄ medo quando fica brava!

A mulher de rosto creme, aparentemente chamada Yanni, gritou: — Waouf! — Sim, ela era uma gumow assustadora.

— Certo, vamos lĂĄ — disse Haruhiro. — Se carregarmos tochas, seremos um alvo fĂĄcil, entĂŁo vou contar com vocĂȘ, Kuzaku. VĂĄ na frente. Yume, fique bem atrĂĄs, cuidando da Mary e da Shihoru. Isso pode ser uma batalha longa, entĂŁo economize energia por enquanto, Shihoru. Eu vou ficar logo atrĂĄs do Kuzaku.

— Tá!

— Miau!

— Certo!

— …Entendido!

Quando começaram a caminhar, Yanni rapidamente passou por Haruhiro e foi até Kuzaku. Diferente de Kuzaku, o tanque da party, Yanni não usava armadura nem elmo. Não era perigoso estar na linha de frente? Claro, ela provavelmente tinha sido designada para vigiå-los, mas poderia fazer isso de trås. No entanto, mesmo que dissesse isso, era provåvel que ela o ignorasse ou até lhe desse uma bronca. De qualquer forma, ela não entenderia suas palavras.

Haruhiro pretendia cortar caminho pelos campos, mas Yanni seguiu pela estrada, e, se Kuzaku tentava se afastar dela, ela gritava: — Wolla!

Andar pelos campos era difĂ­cil, e Yanni provavelmente conhecia melhor o terreno em Jessie Land. Haruhiro decidiu deixar a escolha do caminho por conta dela.

To, to, to, to, to, to, to, to, to, to, to, to, to… To, to, to, to, to, to, to, to, to… To, to, to, to, to, to, to, to…

O som agora vinha do leste, oeste e sudeste. Se bem lembrava, originalmente vinha do norte, oeste e sudoeste.

Eventualmente, eles ouviram os “Uho, uho, uho, uho!” dos guorellas. Provavelmente haviam notado Haruhiro e os outros.

— Parem! Estão vindo, Kuzaku! — gritou Haruhiro.

— Okay!

Yanni gritou: — Seinea! — e arrancou a tocha da mão de Kuzaku. Ele imediatamente sacou sua grande katana. Aqueles dois estavam estranhamente sincronizados.

Haruhiro empunhou seu estilete também. Respirou fundo, relaxando os ombros e quadris.

— Ho! Ho! Ho! Ho! Ho! Ho!

— Direita, esquerda e à frente! — gritou Yume, disparando uma flecha para a direita.

Ela acertou? Errou? NĂŁo estava claro.

— Dark! — gritou Shihoru, invocando o elemental.

— Ó Luz, que a proteção divina de Lumiaris esteja sobre vocĂȘ. Protection! — Mary entoou seu feitiço, e um hexagrama brilhante apareceu nos pulsos esquerdos deles.

Haruhiro percebeu. NĂŁo tinha uma base concreta, mas provavelmente nĂŁo era um redback. JĂĄ tinham sido atacados muitas vezes antes, entĂŁo ele conseguia perceber. Era um macho jovem.

— Shihoru, à esquerda! — ele chamou.

— Certo!

— Está aqui — murmurou Haruhiro.

Primeiro, Ă  frente. Era um guorella. Um macho jovem, como ele esperava.

Quando o Macho A saltou em sua direção, Kuzaku gritou: — Ragh! — e o empurrou com o escudo. Kuzaku não perderia em uma disputa de força quando tinha uma boa pegada no escudo. Não contra um guorella que não fosse um redback.

— Miauuu! — gritou Yume, disparando outra flecha antes de imediatamente descartar o arco e sacar sua katana. Ela desferiu dois golpes contra o Macho B, que avançava ferozmente, e rapidamente circulou para o lado dele.

— Chai, chai, chai!

Yume desferiu golpes poderosos contra o Macho B.

Mas os golpes foram repelidos pela pele semelhante a uma carapaça do Macho B, portanto ele não sofreu dano algum. No entanto, devido aos movimentos incessantes e ataques de Yume, o Macho B estava claramente desorientado. Eventualmente, o Macho B recuperaria o controle, mas, se necessårio, Mary ajudaria Yume. Não, antes que chegasse a isso, Haruhiro acabaria com a situação.

Um Macho C vinha diagonalmente pela frente, pela esquerda, pisoteando as plantas parecidas com cevada enquanto avançava. Apesar de ser macho, era menor que um redback e, em vez de andar ereto, caminhava com os nós dos dedos no chão, parecendo menos intimidador.

Ainda assim, se Haruhiro fosse atingido de frente, não sairia ileso, e, com um pouco de azar, poderia até morrer. Ele não era resistente como Kuzaku. Não tinha intenção de enfrentå-lo de frente.

Por isso, Haruhiro correu para a esquerda.

O Macho C rugiu, perseguindo-o de perto.

— Vai! — gritou Shihoru, lançando Dark.

Shuvwooooooooong. Dark voou com um som sobrenatural, e o Macho C nĂŁo conseguiu desviar.

Foi um acerto.

O Macho C gritou e começou a se contorcer. Era isso que Haruhiro esperava. O momento perfeito para agir.

Haruhiro saltou sobre o Macho C, envolvendo seu braço esquerdo ao redor do pescoço do guorella. Os chifres peludos que cresciam densamente da parte de trås de sua cabeça até as costas o espetavam dolorosamente, mas ele ignorou. Segurando o estilete na posição invertida, Haruhiro o cravou no olho direito do Macho C.

Fundo. Mais fundo. O mais fundo que conseguisse.

Ele retirou a lĂąmina, ajustou o Ăąngulo levemente e cravou novamente. Repetiu o processo. Uma, duas, trĂȘs… Oito vezes. Depois disso, o Macho C desabou e parou de se mover completamente.

Haruhiro afastou-se rapidamente do Macho C e deu uma olhada nos outros inimigos. Kuzaku estava golpeando o Macho A com sua grande katana, afastando-o. Yanni o chutava e batia nele com a tocha, enfrentando-o em igualdade de condiçÔes. Apesar da dificuldade de acertar um golpe fatal em um guorella, aqueles dois não pareciam ceder tão cedo.

Yume estava um pouco mais distante. Saltando para lĂĄ e para cĂĄ, ela tentava manter o Macho B longe de Shihoru e Mary.

Mary segurava seu cajado, parecendo indecisa. Deveria apoiar Yume ou ficar ao lado de Shihoru?

Shihoru olhou para Haruhiro. Seus olhos pareciam perguntar se deveria lançar outro Dark.

Haruhiro balançou a cabeça. Stealth. Ele imaginou-se afundando nas profundezas da terra.

Ele estava na mentalidade certa.

Abaixou a cabeça e avançou.

Yume continuava seus movimentos frenéticos, indo para a direita, para a esquerda e para trås.

— Geh! Nyah! Hnghyah! Nyoh! — ela exclamava, balançando sua katana.

Os movimentos de Yume nĂŁo tinham perdido vigor, e ela nĂŁo parecia cansada. No entanto, o Macho B parecia ter se acostumado ao padrĂŁo dela. Em vez de ser ela quem brincava com o inimigo, agora o Macho B parecia persegui-la. A qualquer momento, poderia pegĂĄ-la.

Claro, não vou deixar isso acontecer— era algo que Haruhiro tentava evitar pensar. Ele precisava apenas continuar fazendo o que era necessário. Estava estranhamente desapegado.

Talvez houvesse alguma verdade nisso. Ele achava que tinha de haver.

As emoçÔes tinham grande impacto na percepção e no controle manual. Haruhiro sabia disso. Às vezes, as emoçÔes podiam trazer uma explosĂŁo de força, mas, em muitos casos, o efeito era o oposto. Sentimentos abalados causavam erros e deslizes.

— Caramba! — gritou Yume.

O Macho B afastou a katana de Yume com o braço. A espada quase voou de suas mãos, mas Yume tentou firmar os pés. Por causa disso, parou de se mover. Por um momento, ela entrou em pùnico. O Macho B não perdeu tempo, aproximando-se e envolvendo-a com seus dois braços.

Haruhiro se lançou sobre as costas do Macho B, enlaçando seu braço esquerdo em torno do pescoço da criatura. Os chifres peludos penetraram em sua carne, mas ele não sentiu dor real.

Ah, estĂŁo me espetando, foi sua Ășnica reação. Ele poderia reclamar da dor depois.

Haruhiro cravou seu estilete no olho direito da criatura. O mesmo método de antes: crava o estilete e tira, repetidamente, sem nenhuma hesitação.

— Funyaaa…! — Yume empurrou o Macho B com as duas pernas. Isso fez o Macho B rolar, e Haruhiro quase acabou por baixo dele.

Ele pulou para o lado, evitando o impacto, levantando os ombros, soltando o ar e relaxando enquanto se afastava. Ao mesmo tempo, inclinou a cabeça para o lado.

Seus olhos deviam parecer incrivelmente cansados naquele momento. Embora, na verdade, ele nĂŁo estivesse tĂŁo exausto assim.

— H-Haru-kun, obrigada!

— Tudo bem… — Haruhiro respondeu, acenando vagamente, mas entĂŁo os olhos de Yume se arregalaram.

— V-VocĂȘ tĂĄ sangrando! TĂĄ pingando por todo lado!

— Estou bem.

Ele jå havia previsto que os chifres peludos poderiam acertå-lo, e não havia ferimentos particularmente graves. Embora doesse. Seu peito e braços começavam a sentir a dor gradualmente, mas isso não o atrapalharia em combate, e ele achava que poderia aguentar. Bastava pedir para Mary curå-lo mais tarde.

— Yume, volte para onde Mary e Shihoru estão. Podem aparecer novos inimigos.

— C-Certo! E vocĂȘ, Haru-kun?

— Parece que sou o mais rápido para acabar com os guorellas.

Respire fundo. Solte o ar.

Afunde. Stealth.

SerĂĄ que ele tinha pegado o jeito? Algo assim? Estava conseguindo entrar no ritmo mais facilmente do que antes.

Melhorar era algo estranho, não era como escalar uma encosta gradualmente. Em vez de ganhos lentos e incrementais, parecia acontecer em saltos. Ele praticava dia após dia, testando vårias estratégias, mas parecia que nada mudava. Então, depois de um tempo assim, de repente, ele subia um degrau. Algo que antes o frustrava por não conseguir fazer, de repente, ele conseguia.

Serå que ele tinha subido um degrau? Mesmo que fosse isso, não podia deixar isso subir à cabeça. Precisava manter a cautela.

Kuzaku usava Block para defender os ataques do Macho A, ocasionalmente usando Bash e Thrust para contra-atacar. Yanni, por sua vez, usava Kuzaku como um escudo humano enquanto focava em desestabilizar o Macho A.

Eles nĂŁo pareciam improvisados. Quanto mais Haruhiro observava, mais pareciam uma boa dupla. Mas faltava-lhes a capacidade de desferir um golpe decisivo.

Sabendo da força de Kuzaku, não seria impossível para ele penetrar a pele semelhante a uma carapaça de um guorella com sua grande katana. Porém, ele precisaria de um golpe com bastante impulso ou um balanço incrivelmente forte para conseguir. Para fazer isso, precisaria primeiro imobilizar o guorella ou, ao menos, desequilibrå-lo.

O estilo de luta de Kuzaku era confiåvel. Ele atraía o måximo de inimigos possível, forçava-os a atacå-lo, resistia a todos os golpes e protegia seus companheiros. Ele estava dando tudo de si em seu papel como tanque.

Isso, por si só, não era ruim, claro. Na verdade, era algo digno de elogio. Ele havia crescido muito até aqui.

Gostaria de poder elogiĂĄ-lo sem reservas, mas… pensou Haruhiro. Honestamente, ainda nĂŁo Ă© o suficiente.

Se fosse ousar dizer, Moguzo cumpria seu papel como tanque enquanto ainda tinha poder para decidir o desfecho das batalhas. Moguzo era um guerreiro, enquanto Kuzaku era um paladino defensivo.

Ainda assim, apesar dessa diferença, Kuzaku tinha altura, braços longos e uma força incomum que superava a de Moguzo. Ele deveria ser capaz de fazer mais. Agora que sua defesa estava quase completamente sólida, isso deveria dar vida aos seus ataques. Conhecendo sua personalidade, Kuzaku certamente queria contribuir mais para a party. Além desse desejo, ele tinha capacidade.

Kuzaku era focado ao ponto de ser obstinado. Isso era uma força. Porém, uma vez que escolhia um caminho, ele avançava como um javali enfurecido, sem olhar para os lados.

Haruhiro era o líder, então cabia a ele segurå-lo pelas rédeas, direcionando Kuzaku para cå ou para lå. Se Kuzaku começasse a estagnar, a culpa seria de Haruhiro. Por mais pretensioso que fosse dizer isso, não era dever de Haruhiro desenvolver Kuzaku em um paladino que fosse mais do que apenas um tanque? Mesmo assim, não seria bom se Kuzaku se esforçasse demais, e por enquanto, as coisas estavam bem como estavam.

Eu vou terminar isso.

Haruhiro nĂŁo estava sendo excessivamente entusiasmado. Sentia que era algo natural e inevitĂĄvel que ele faria.

Haruhiro se moveu pelo campo, circulando por trĂĄs do Macho A.

Não era apenas o Macho A; todos, inclusive seus companheiros, haviam parado de prestar atenção em Haruhiro. Por isso, o Macho A não se virou.

Weruu, ruu, ruuuu, ruu, ruu, weruuuuuu!

Houve um som que eles ainda nĂŁo tinham ouvido antes. Provavelmente, nĂŁo estava muito longe.

O som não vinha de algumas dezenas de metros; estava a pelo menos cem, ou algo em torno disso. Pelo timing, no instante em que o Macho A ouviu, ele fez uma curva brusca—e seus olhos cruzaram com os de Haruhiro.

Haruhiro nĂŁo conseguiu evitar ficar atordoado com isso. NĂŁo havia como prever tal coisa.

Mas, bem, a vida era assim. Coisas desse tipo aconteciam. Se ele conseguisse evitar morrer com um Ășnico golpe, nĂŁo estava sozinho, tinha seus companheiros, eles dariam um jeito.

Haruhiro abaixou o corpo, assumindo uma postura defensiva. Tudo bem, venha, pensou ele.

No entanto, o Macho A não foi em direção a Haruhiro. Ele passou ao lado, embora não muito perto, correndo com os punhos no chão em alta velocidade até um ponto mais afastado.

Nesse caso, isso nĂŁo Ă© andar com os punhos, Ă© correr com os punhos, nĂ©? Bem, Ă© muito trabalho diferenciar isso, entĂŁo “andar” estĂĄ bom, pensou Haruhiro para si mesmo.

Ele sequer tinha sido considerado uma ameaça. O Macho A recuou sem nem ao menos lançar um olhar para Haruhiro. Provavelmente, aquele som era o grito de um guorella, um sinal de retirada.

— Ele… fugiu? — Kuzaku disse, com os ombros subindo e descendo a cada respiração. — VocĂȘ acha que foi isso?

Yanni se moveu lentamente, segurando a tocha, enquanto olhava ao redor, inquieta.

Weruu, ruu, ruuuu, ruu, ruu, weruuuuuu!

LĂĄ estava aquela voz de novo.

Haruhiro pensou por um instante, pediu a Mary para curĂĄ-los e decidiu ir atĂ© a torre de vigia ao norte. É claro que ele nĂŁo baixaria a guarda, mas provavelmente nĂŁo encontrariam inimigos.

Isso nĂŁo era complacĂȘncia. Havia um fluxo nas coisas. Os guorellas haviam recuado. Eles provavelmente nĂŁo atacariam novamente tĂŁo cedo.

Embora fosse chamada de torre, era alta o suficiente apenas para alguém pular sobre ela, sem telhado, mais parecendo uma plataforma simples. A torre de vigia ao norte havia desmoronado, e as pernas de suporte e a cesta que segurava a fogueira tinham sido destruídas, ficando jogadas no chão por perto.

Havia um Ășnico ranger caĂ­do de bruços ao lado da madeira queimada da fogueira, que nĂŁo tinha sido completamente apagada. Mary correu atĂ© ele, tentando erguĂȘ-lo, mas parou no meio do movimento, com os ombros caĂ­dos.

Yanni virou o ranger no lugar dela. Ele nĂŁo tinha rosto. Fora atacado de surpresa pelos guorellas e teve o rosto arrancado a mordidas. Obviamente, o ranger estava morto.

Eles ouviram aquele mesmo “Weruu, ruu, ruuuu!” cinco vezes, e entĂŁo o som cessou. Depois disso, começaram a ouvir, ou nĂŁo ouvir, batucadas vinda de todas as direçÔes.

Eles voltariam para Jessie ou ficariam ali? Era uma decisĂŁo difĂ­cil, mas Yanni nĂŁo se afastava do corpo do ranger morto. Haruhiro nĂŁo se sentia confortĂĄvel em deixĂĄ-la ali, e, se quisesse que voltassem, Jessie provavelmente enviaria um mensageiro.

Ele e os outros decidiram permanecer nos restos da torre ao norte e observar o que o inimigo faria. Mas Haruhiro tinha certeza de que eles nĂŁo se moveriam.

Ele nĂŁo achava, por um momento, que aquilo era o fim, mas provavelmente os guorellas os intimidariam com as batucadas durante a noite e nĂŁo os atacariam. Por alguma razĂŁo, Haruhiro estava quase certo disso.

Como ele previu, as batucadas pararam quando o cĂ©u começou a clarear, e, no fim, os guorellas sĂł realizaram aquele Ășnico ataque naquela noite.

Pouco depois do nascer do sol, Jessie apareceu. Alisando a barba, ele perguntou a Haruhiro: — O que acha?

— Acho que eles vão voltar.

Seria Ăłtimo se nĂŁo fosse o caso, mas ele teve que dar essa resposta. NĂŁo tinha nenhuma prova concreta, entĂŁo nĂŁo tinha certeza se deveria dizer isso com tanta certeza. De certo modo, era sua intuição. PorĂ©m, em sua mente, Haruhiro imaginava um Ășnico guorella com trĂȘs ou quatro redbacks sob seu comando, liderando um grande bando de mais de cinquenta.

Um redback entre redbacks. Era excepcionalmente grande, forte, mas, acima de tudo, astuto e ardiloso. Estava se divertindo com a caça. Seguiu Haruhiro e sua party enquanto faziam o måximo para fugir, e ficou exultante ao encontrar um novo campo de caça em Jessie Land. Ele decidiu fazer seus subordinados descansarem, como se estivesse se preparando.

Essa cena poderia ser toda imaginação de Haruhiro, mas isso era bom. Se vissem que o inimigo era mais assustador e numeroso do que esperavam, os guorellas fugiriam. Haruhiro quase rezava para que fosse assim.

— Denko — disse Jessie, lançando um olhar para os restos do ranger. — Incluindo ele, perdemos trĂȘs rangers. Isso nos deixa com vinte e um rangers, eu, e vocĂȘs.

— VocĂȘ nĂŁo vai libertar a Setora? — perguntou Haruhiro. — Ela seria uma aliada valiosa em combate.

— NĂŁo consigo imaginar alguĂ©m da aldeia oculta lutando por Jessie Land.

— Isso não se aplica só à Setora. Nós somos iguais.

— Por que vocĂȘs nĂŁo fugiram? Se tivessem matado ou imobilizado a Yanni, poderiam ter feito isso.

— Honestamente, isso nunca me passou pela cabeça, mas isso significaria deixar a Setora para trĂĄs, certo? NĂŁo tenho certeza se conseguiria fazer isso. AlĂ©m disso, o nosso Kuzaku parecia estar se dando bem com a Yanni-san.

— Uh, olha só — interrompeu Kuzaku. — Só pra deixar claro, eu e a Yanni-san não temos esse tipo de relação.

— …Nem achei que tivessem, cara.

— Quer dizer, a Yanni-san pode nĂŁo parecer, mas ela tem seu lado fofo, sabe? Acho que Ă© meio rude dizer que ela nĂŁo parece.

Yanni pareceu captar o rumo da conversa.

— Ahh?! — Ela deu um chute no quadril de Kuzaku.

— Ai! Ei, para com a violĂȘncia, Yanni-san! Isso nĂŁo Ă© nada fofo!

Shihoru sorriu de canto.

— VocĂȘs dois parecem realmente prĂłximos.

— Basicamente, isso significa que ele tem boas habilidades de comunicação, diferente de mim… — Mary murmurava para si mesmo.

— A Yume tambĂ©m fez amizade com o Tuokin. — Yume inflou uma das bochechas. — Jessie, o Tuokin nĂŁo tĂĄ machucado, nĂ©? Ele tĂĄ bem?

— Tuokin estĂĄ ileso — respondeu Jessie com um leve dar de ombros. — Ele Ă© o lĂ­der dos rangers. Pode ser pequeno, mas Ă© inteligente.

— Fuuu — disse Yume, impressionada. — Yume sabia que o Tuokin era bom no que faz. Ele consegue resolver as coisas quando se esforça.

— Por sinal, o ranger em quem mais confio depois do Tuokin Ă© a Yanni — continuou Jessie.

— Ela Ă© forte, afinal — disse Kuzaku.

— Nara! — gritou Yanni imediatamente, dando outro chute na bunda de Kuzaku. Ele estava usando armadura, mas parecia ter doído.

— Oh, tambĂ©m… avisem os moradores para… — começou Haruhiro, mas parou e olhou para o sul. NĂŁo era que tivesse ouvido algo… Ele achava. No entanto, sĂł podia dizer que algo o incomodava.

— Foi descuido meu — disse Jessie, virando-se e indo embora. — Yanni! Afta ewa!

Yanni olhou para o corpo de Denko, demonstrando alguma hesitação. Mesmo assim, imediatamente respondeu: — Yai! — e saiu correndo.

— Haruhiro-kun?! — gritou Shihoru.

Haruhiro chamou seus companheiros: — Vamos! — e seguiu atrás de Jessie e Yanni.

Jessie parecia calmo, mas Yanni estava inquieta. De vez em quando, tentava apressar o passo, sĂł para ser repreendida por Jessie.

— Yanni-san… — Kuzaku parecia extremamente preocupado com Yanni. — Ei, Haruhiro, vocĂȘ nĂŁo acha que…?

Antes que Haruhiro pudesse responder, provavelmente, Yume disse: — Gworellons?! — Algo que poderia não fazer sentido, mas parecia fazer. — Yume parou de ouvir as vozes deles, então tava toda relaxada!

— …Isso pode ter sido a armadilha — disse Shihoru.

Ela provavelmente estava certa.

— Setora! — chamou Mary.

Não era como se Haruhiro não estivesse pensando na Setora e em seu grupo. Mas foi um pouco surpreendente. Não apenas Mary, nenhum dos seus companheiros tinha uma boa relação com Setora.

— Haru! Se a Setora tá na prisão, ela não pode fugir! Temos que nos apressar e salvá-la!

— Uh, sim.

— Tenho certeza de que a Setora estĂĄ esperando vocĂȘ ir buscĂĄ-la!

— T-Talvez vocĂȘ tenha razĂŁo…

O que era isso? Haruhiro pressionou a mĂŁo contra o peito. Essa sensação desagradĂĄvel. Mary nĂŁo estava dizendo nada de errado. Apesar disso… ele estava irritado? Mas por que Haruhiro estaria irritado? NĂŁo, parecia que ele nĂŁo estava exatamente irritado. Contudo, se alguĂ©m perguntasse o que ele estava sentindo, nĂŁo saberia dizer.

Kuzaku levantou a voz, por alguma razão: — A Setora importa mesmo?!

— É claro que importa! — Mary retrucou imediatamente.

— TĂĄ, dizer que ela nĂŁo importa pode ser exagero, mas ainda assim! Ela Ă© mesmo tĂŁo prioritĂĄria assim? Quero dizer, ela nem Ă© uma de nĂłs, sabe?!

— Ela salvou nossas vidas vĂĄrias vezes! AlĂ©m disso, a Setora ama o Haruhiro! — retrucou Mary.

— Isso Ă© problema dela, nĂŁo Ă©?! O Haruhiro sĂł estĂĄ sendo obrigado a fingir ser o namorado dela, ou amante, ou seja lĂĄ o que for, porque ele nĂŁo teve escolha! NĂŁo faz diferença qual dos dois seja!

— Então está dizendo para simplesmente abandoná-la?!

— Eu nĂŁo estou dizendo isso! SĂł que…

— SĂł que o quĂȘ?!

— Ah, tanto faz! Eu nĂŁo quero brigar com vocĂȘ! Eu nem entendo por que vocĂȘ estĂĄ tĂŁo a favor dela!

— Nem eu!

Se a discussĂŁo continuasse, Haruhiro poderia intervir para parĂĄ-la. Ou talvez nĂŁo. Talvez ele nem conseguisse dizer nada, no fim das contas. Ele se perguntava o que teria feito. NĂŁo sabia.

De qualquer forma, era bom que a discussĂŁo tivesse terminado. Aquilo lhe dava um nĂł no estĂŽmago. Por que Kuzaku e Mary estavam discutindo por causa da Setora? Ele conseguia entender o lado de Kuzaku, mas, enquanto nĂŁo era Kuzaku, nĂŁo fazia sentido para Haruhiro que Mary defendesse Setora.

Talvez Mary realmente ache que eu deveria ficar com Setora? NĂŁo preciso que ela decida isso por mim, no entanto…

Bem, nĂŁo que eu pretenda abandonar Setora.

Ele conseguia ouvir o que pareciam ser gritos. Estavam a uns trezentos metros da aldeia. O que estava acontecendo lĂĄ? Algo estava acontecendo? Eles ainda nĂŁo conseguiam ver, mas aquilo nĂŁo era bom. Parecia ruim.

Haruhiro de repente percebeu que algo estava errado. Ou melhor, finalmente caiu a ficha de que algo estava errado com ele. Quando ele acordou, sozinho com Mary, sentiu-se meio eufĂłrico. Quando os guorellas apareceram, ele poderia estar mais tenso.

Ele estava calmo. Calmo demais, talvez. Não era do tipo que se envolvia profundamente nas coisas, mas parecia haver uma pequena, muito sutil, distorção entre ele e a realidade.

Os gumows nĂŁo eram tĂŁo diferentes dos humanos. Mesmo que pensasse nisso, Haruhiro provavelmente sĂł tinha visto os restos do ranger que caiu na torre norte como um objeto. Ele se solidarizou, mesmo que minimamente, com Yanni, que havia perdido um dos seus? Quase nada. NĂŁo, absolutamente nada. NĂŁo parecia real, de alguma forma. Como se ele estivesse em um jogo.

Mas isso nĂŁo Ă© um jogo.

Ao longe, Haruhiro viu um guorella arrombar uma porta e invadir uma casa. Aquele grande guorella, que andava com os nĂłs dos dedos de casa em casa, provavelmente era um redback. Quantos guorellas tinham entrado na aldeia?

— Haruhiro! — Jessie jogou algo para ele. — Tire aquela mulher Shuro daqui!

A chave da prisĂŁo. Era a chave da prisĂŁo.

— Certo — disse Haruhiro, pegando-a. — Onde ela está?!

— Shihoru deve saber! Yanni, wolla!

— Yai!

Jessie levou Yanni consigo e parecia que ele agiria separadamente de Haruhiro e os outros a partir dali.

— Eu lidero! — Shihoru tentou seguir à frente.

— NĂŁo! — Haruhiro a deteve. — Kuzaku, vocĂȘ vai na frente! Shihoru, fique atrĂĄs de mim e nos guie!

— Entendido! — gritou Kuzaku.

— …Certo!

— Yume, fique de olho ao redor! Mary, proteja Shihoru e Yume!

— Miau!

— Certo, pode deixar comigo! — respondeu Mary.

— Haruhiro-kun, por ali! — Shihoru apontou à frente e para a direita.

Haruhiro hesitou. Eles chegariam Ă  aldeia em breve.

Havia gritos e berros dos gumows e rugidos dos guorellas. Alguns gumows estavam caídos na estrada. Todos ensanguentados. Seus braços e pernas haviam sido arrancados, e seus rostos estavam esmagados. Havia até gumows com a cabeça destroçada.

A maioria deles não se mexia. Provavelmente não estavam respirando. Não eram só adultos; havia crianças também. Por que não estavam dentro de suas casas? Aquilo não era bom. Serå que pensaram que a crise havia acabado quando o sol nasceu? Jessie não deveria ter dito que era seguro sair ainda.

NĂŁo—Justo quando pensou nisso, um grupo de gumows correu para fora de uma das casas. Em seguida, um guorella os perseguiu. O guorella havia entrado naquela casa, entĂŁo eles nĂŁo tiveram escolha a nĂŁo ser fugir. Era isso? Mas, mesmo fugindo…

Ohh. Aquilo era terrĂ­vel.

O menor gumow, provavelmente equivalente a uma criança humana de cinco ou seis anos, foi pego pelo guorella. Era um jovem macho. O jovem macho derrubou a criança gumow e mordeu sua cabeça, esmagando-a com os dentes. Não a comeu, apenas cuspiu os restos. Em seguida, arrancou um braço e começou a mastigå-lo.

A mãe gumow soltou um grito e tentou avançar contra o guorella, mas o pai gumow a segurou, prendendo seus braços para trås.

O que aconteceria com aquela famĂ­lia? Haruhiro nĂŁo sabia.

Haruhiro e os outros precisavam contornar a direita da aldeia e encontrar a prisĂŁo onde Setora estava sendo mantida. NĂŁo podiam salvar aquela famĂ­lia, e tampouco tinham tempo para assistir ao desfecho deles. Haruhiro nĂŁo tinha certeza se se sentia mal por isso ou nĂŁo.

Mas, se sentisse, deveria salvå-los sem hesitar. Ou melhor, não teria tentado? No fim, gumows não eram humanos. Eram feios e, além disso, embora ele não pudesse dizer que aquilo não tinha nada a ver com ele, era uma crise. Não podia se compadecer por todos eles.

Ao mesmo tempo, pensou que estava errado. Sentiu pena deles. Mas o que poderia fazer? Nada.

— Ali! — apontou Shihoru.

A porta da construção indicada por Shihoru estava quebrada, e havia atĂ© dois guorellas no telhado. Eram pequenos, claramente diferentes dos machos. Aqueles dois eram fĂȘmeas.

Kuzaku estava intimidado pela voz aguda: — I-Isso nĂŁo Ă© brincadeira!

— Chame a atenção delas! — Haruhiro deu um leve tapa no braço de Kuzaku. — Vou olhar lá dentro!

— Isso Ă© loucura, Haruhiro! Nem consigo imaginar que ela esteja bem!

— Tanto faz, sĂł faça! NĂŁo saberemos atĂ© verificarmos! — Haruhiro respirou fundo e se acalmou. — Pessoal, deem suporte ao Kuzaku! Por enquanto, sĂł eu preciso entrar! Se eu precisar de vocĂȘs, vou gritar!

— NĂŁo, mesmo que vocĂȘ grite…! — Kuzaku bateu no escudo com a mĂŁo que segurava a grande katana. — Droga! Ei, venham aqui, suas guorellas fĂȘmeas! Vou acabar com vocĂȘs! NĂŁo desse jeito, claro! SĂł avisando!

Parecia que as duas fĂȘmeas estavam interessadas em Kuzaku. Aproveitando essa brecha—

Afunde. Stealth.

Aparentemente, a construção não tinha janelas. Ele teria que entrar pela porta.

Yume disparou uma flecha contra as fĂȘmeas, e Shihoru lançou Dark.

Haruhiro escorregou para dentro da construção pela entrada.

Havia trĂȘs celas Ă  esquerda e Ă  direita de um corredor separadas por grades. Aquele que batia nas barras da cela frontal Ă  direita era Enba. O nyaa emitia gritos agudos.

— Goooohhh! Gaaahhhh! Oooohhhh! — Um guorella soltava rugidos incríveis enquanto sacudia violentamente as grades da cela ao fundo, à direita. Setora devia estar lá.

As grades pareciam ser uma mistura de ferro e madeira, mas um dos guorellas parecia prestes a derrubĂĄ-las a qualquer momento. Infelizmente, o cabelo daquele guorella era vermelho. Um redback.

NĂŁo hesite.

Haruhiro sacou o estilete e o segurou de forma invertida. O redback ainda não o tinha notado. Ele avançaria assim.

Quando tentou dar um passo à frente, o redback olhou em sua direção, com as mãos ainda nas grades.

Haruhiro engoliu em seco. Todo o seu corpo enrijeceu. O coração disparou, e ele sentiu uma pulsação aguda.

Era bizarro, mas o redback estreitou os olhos, exibiu dentes pontiagudos como presas… e sorriu. Foi o que pareceu.

Agora que tinha sido detectado, ele nĂŁo conseguiria derrotĂĄ-lo. Zero chances. Haruhiro sabia disso. Se nĂŁo fugisse, seria morto.

Naquele momento, ele nĂŁo pensou nem um pouco em Setora. No final, isso provavelmente foi o melhor.

Haruhiro se virou imediatamente. Foi no mesmo instante em que o redback começou a correr, ou talvez Haruhiro tenha sido um pouco mais råpido.

Assim que saiu pela porta, Haruhiro saltou para o lado direito. Sentiu algo como uma explosão bem atrås dele. O redback tinha avançado, ao que parecia.

— Gah?! — gritou Kuzaku.

Kuzaku tinha sido jogado para longe pelo redback?

Haruhiro rolou, levantou-se e olhou para o telhado. As guorellas fĂȘmeas ainda nĂŁo haviam descido. Yume nĂŁo estava tĂŁo longe.

— Yume, aqui está a chave! Pegue a Setora! — gritou Haruhiro.

— Certonya! — Yume pegou a chave que Haruhiro jogou para ela e correu para a entrada da prisão.

— Whoa… — disse Kuzaku. O quĂȘ?

O redback.

O redback estava girando Kuzaku no ar. Pelo pé. Ele havia agarrado a perna de Kuzaku e o estava rodopiando em círculos.

— Kuza—!

— Zaaaaaaaaahhhhhhh! — O redback arremessou Kuzaku.

Ei.

Qual foi.

Como consegue fazer isso?

Kuzaku estava voando. Ele desenhou uma parĂĄbola suave no ar antes de colidir com uma casa a nĂŁo dez, mas vinte metros de distĂąncia.

— Mary! — gritou Haruhiro, tentando avançar contra o redback.

E entĂŁo? Ele questionou a si mesmo. O que vou fazer? Esse Ă© um inimigo que consigo enfrentar de frente?

Inspire.

Expire.

Bom. Agora relaxe.

Afrouxe os joelhos. Os cotovelos. Os pulsos e os tornozelos. Solte todas as articulaçÔes. Incline-se um pouco para frente. Assim estå bom.

Ele lambeu os lĂĄbios.

Mary estava correndo em direção a Kuzaku agora.

Shihoru estava escondida atrĂĄs de uma casa prĂłxima.

Yume jĂĄ estava dentro da prisĂŁo.

As duas fĂȘmeas ainda estavam no telhado, como sempre.

O redback enrugou o rosto coberto por uma pele semelhante a uma carapaça e, então, sorriu novamente.

Isso quase fez Haruhiro sorrir também. Mas, claro, não porque achasse engraçado. Não era isso.

Aquele desgraçado. Estå tirando sarro de mim?

— Qual Ă© o seu problema, cara? — rosnou Haruhiro.

— Ohh. — O redback estreitou a boca e emitiu um som. Ele estava claramente zombando.

Mesmo assim, nĂŁo precisava se irritar. Haruhiro respirou fundo mais uma vez.

Era difĂ­cil demais derrubar as fĂȘmeas, sem falar no redback, mas ele precisava ganhar tempo de alguma forma. Havia poucas coisas que Haruhiro podia fazer, mas, bem, ele faria o que pudesse. Daria cem por cento disso.

O redback virou as costas para ele.

— …HĂŁ? — disse Haruhiro.

Imediatamente, ele pensou: NĂŁo fique desapontado. No momento em que relaxasse, ele poderia atacĂĄ-lo.

Mas suas preocupaçÔes foram em vão.

O redback virou o rabo para ele e fugiu, e as duas fĂȘmeas tambĂ©m foram embora.

— NĂŁo faço ideia do que acabou de acontecer…

Seja como for, aquilo tinha salvado sua pele. Isso era o mais importante agora. Ele precisava mudar o foco.

Shihoru saiu do esconderijo e correu até ele.

— Agora hĂĄ pouco… — foi tudo o que ela disse.

Setora, Enba, Kiichi e Yume saíram da prisão. Setora abaixou a cabeça, parecendo cabisbaixa. Pelo menos, era o que parecia, mas não era isso.

— Haru — ela disse —, obrigada… VocĂȘ tambĂ©m, Yume.

— Oh… — Haruhiro respondeu de forma desajeitada. — N-NĂŁo foi nada.

— Nyeh! — Yume fechou um olho e levantou o polegar.

Todos se apressaram para onde Kuzaku e Mary estavam. Kuzaku estava ferido, com alguns ossos quebrados, hematomas e um corte, mas Mary nem precisou usar o Sacrament. Ela conseguiu curĂĄ-lo apenas com Cure.

— Cara, às vezes fico impressionado com o quão resistente eu sou — disse Kuzaku.

— Isso nĂŁo Ă© algo ruim — Mary lançou-lhe um olhar ligeiramente severo. — Mas nĂŁo fique confiante demais.

— Tá. Desculpa por todo o trabalho. Eu me desculpo.

— Não precisa fazer isso. É meu trabalho.

— E então? — Setora parecia ter voltado ao seu estado habitual. — Vamos sair daqui?

Haruhiro trocou olhares com Shihoru.

Aproveitar o caos e escapar de Jessie Land. Não seria impossível. Era essa a sensação que ele tinha. Talvez fosse até o que eles deveriam fazer. Se considerassem apenas o que era benéfico para eles, ou sua própria segurança, provavelmente era o melhor a se fazer.

Shihoru abaixou os olhos primeiro. Ela nĂŁo conseguia decidir. Isso devia ser o que ela estava pensando. Provavelmente se sentia culpada por nĂŁo conseguir expressar uma opiniĂŁo.

Mas tudo bem. Shihoru estava tentando aliviar o peso de Haruhiro. Isso jĂĄ era suficiente. Realmente ajudava.

Por que precisavam de um líder? Para tomar decisÔes em qualquer situação. Era isso que um líder fazia, e esse era o papel de Haruhiro.

Ele podia errar. Podia se arrepender das escolhas. Mas, ainda assim, se chegassem a uma bifurcação, à esquerda ou à direita, ele precisava escolher.

— Precisamos afastar os guorellas. — Haruhiro ajustou levemente o aperto no seu estilete, respirando superficialmente. Ele olhou de canto de olho para a direita. — De qualquer forma, se não nos livrarmos deles, podemos correr, mas não vamos conseguir escapar.

— É… — Kuzaku deu uma risadinha dentro do elmo, entĂŁo completou: — Sim! — Foi claramente um grito para se animar.

— Vamos manter a atenção enquanto avançamos. — Mary levantou seu cajado e ficou ao lado de Shihoru, fazendo o sinal do hexagrama. — Ó Luz, que a proteção divina de Lumiaris esteja sobre vocĂȘ. Protection.

Shihoru olhou para o hexagrama que apareceu em seu pulso e assentiu.

— Um de cada vez… e com certeza!

— Por enquanto… — Yume encaixou uma flecha e a disparou. — Comecem por ali!

A flecha disparada por Yume acertou um guorella macho jovem, a cerca de cinquenta metros, que estava devorando um gumow, mas ricocheteou.

— Enba, ajude-os. — Setora segurava Kiichi nos braços e deu ordens ao golem. — Não tem escolha. Estamos todos no mesmo barco aqui.

O macho jovem avançou em uma fĂșria desenfreada diretamente na direção deles.

Um de cada vez, e com certeza. Era algo simples, mas Shihoru estava certa. Os guorellas eram inimigos assustadores, mas não sozinhos. O método de Kuzaku, Yume e Enba atraírem a atenção do inimigo para que Haruhiro se aproximasse com Stealth e desse o golpe final funcionava até mesmo contra um redback. Por isso, evitavam enfrentar dois ou mais ao mesmo tempo sempre que possível.

Se fossem obrigados a lutar contra vĂĄrios guorellas, usariam o Dark de Shihoru para imobilizar um, e Haruhiro o eliminaria rapidamente. Nesse intervalo, Kuzaku e os outros aguentariam o mĂĄximo possĂ­vel, reduzindo o nĂșmero de inimigos um a um. Podiam ser cinquenta ou cem. O princĂ­pio era o mesmo.

Os guorellas haviam cometido um erro fatal: o local. Eles atacaram a aldeia. Talvez tenham pensado que era um campo de caça ideal. Mas, para a party, podiam usar as construçÔes para separå-los. Os guorellas estavam embriagados pela matança, focados apenas em devorar, o que tornava tudo mais fåcil.

Mesmo agora, um gumow apĂłs o outro estava sendo morto. Diante dos olhos de Haruhiro e sua party, vĂĄrios gumows perderam suas vidas. Quem sabia quantas vĂ­timas jĂĄ havia?

Vamos fazĂȘ-los pagar. Eles estĂŁo ferrados. Vamos matĂĄ-los.

Haruhiro se esforçava para nĂŁo pensar assim. NĂŁo podia deixar seu coração se inflamar. Por ora, apenas reduzir o nĂșmero dos guorellas, um por um. Esse era o Ășnico foco.

Ele nĂŁo podia eliminar erros. PorĂ©m, podia reduzir o nĂșmero que cometia. NĂŁo, mas…

Isso estĂĄ quase perfeito, nĂŁo estĂĄ?

Ele percebeu que, tirando seu próprio ferimento causado pelos chifres peludos dos guorellas, ninguém estava precisando da ajuda de Mary. Até mesmo Kuzaku, o tanque da party, estava com mais espaço para manobrar graças a Enba, e não sofria ferimentos que precisassem de cura com magia de luz.

Haruhiro matou catorze machos e trĂȘs fĂȘmeas. Pelo que parecia, Jessie estava liderando um grupo de rangers habilidosos para eliminar os guorellas um a um, e eles se cruzaram vĂĄrias vezes.

Não havia mais aldeÔes circulando do lado de fora. Todos os sobreviventes deviam estar dentro de casa.

Agora, os guorellas estavam começando a fugir ao ver Haruhiro e sua party.

Eles não haviam eliminado nenhum redback ainda. Na verdade, nem estavam vendo um. Isso chamou sua atenção como algo estranho.

— …Achei — disse Haruhiro. — Ali estĂĄ um.

Estava praticamente de pé no meio de um cruzamento, olhando na direção deles.

Quando seus olhos encontraram os de Haruhiro, aquele guorella abriu a boca e mostrou a língua, vocalizando algo como “Wuehh”.

Haruhiro soube imediatamente. Era aquele redback.

— Eu vou matá-lo! Kuzaku, vai!

— Beleza!

Quando Kuzaku avançou com sua armadura rangendo, o redback entrou calmamente na construção à esquerda deles. Estava agindo descaradamente, como se fosse o dono do lugar.

Kuzaku deu uma olhada para trås, mas continuou avançando.

Por que eu não o parei? Haruhiro pensou. É isso. Preciso pará-lo. Algo está errado. Precisamos tomar cuidado com esse redback.

— Kuzaku, pa—

Era tarde demais. Kuzaku foi jogado para fora como se tivesse sido arremessado por uma explosĂŁo. Sem perder tempo, um guorella saltou sobre ele.

Era um guorella. Mas o que havia de errado com aquele guorella? Era grande, mas seus chifres peludos… Eram longos, mas tinham muito volume tambĂ©m. Pareciam uma juba de leĂŁo. Eles eram vermelhos.

NĂŁo, mais que vermelhos. Vermelho profundo.

Era um Redback.

Não. Comparado aos Redbacks que tinham visto até agora, era metade maior e tinha o dobro de chifres peludos. Era claro que não era um Redback comum.

Seria ele? O Redback entre os Redbacks? Era isso?

— Dark! — Shihoru chamou Dark e imediatamente o mandou. — Vai!

O grande Redback saltou, esmagou Kuzaku e tentou devorĂĄ-lo.

Dark voou com um som sobrenatural, shuvwoooong, atingindo o grande Redback bem na lateral.

— Guhh… — O grande Redback gemeu por um momento, com o corpo inteiro tremendo, e parou. Mas sĂł por um instante.

— Haaaaaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhh! — O grande Redback levantou os dois braços e os abaixou com toda a força.

Kuzaku nĂŁo estava apenas recebendo pancadas. Ele tentava se defender com o escudo. Mas conseguiria se defender completamente?

Bum, bum, bum, bum. O grande Redback parecia ter confundido o escudo de Kuzaku com algum tipo de instrumento de percussĂŁo. Haruhiro sĂł podia assumir que sim. Ele estava golpeando o escudo com as duas mĂŁos, batendo loucamente.

Se Kuzaku estava recebendo tantos golpes, mesmo com o escudo, devia ser difĂ­cil. Seria difĂ­cil mesmo que nĂŁo fossem sequenciais. Haruhiro nĂŁo suportaria nem um Ășnico golpe.

— Kuza… Kuzaku! — Haruhiro gritou e tentou pular sobre o grande Redback.

Mas foi jogado para trås com apenas um braço. O impacto foi tão forte que ele pensou que seu corpo tinha sido rasgado ao meio. Que poder incrível.

Haruhiro caiu de braços e pernas abertos.

— …Ohhhh… — gemeu. Estava doendo, ou melhor, sentia como se cada nervo de seu corpo tivesse se desfeito, e era impossĂ­vel se mover.

Eu nĂŁo tenho tempo para isso. Levanta. Fica de pĂ©. RĂĄpido, levanta e se acalma. Isso nĂŁo vai funcionar. Preciso esfriar a cabeça e fazer isso direito. DĂĄ para dizer que Ă© a minha Ășnica arma aqui.

— Haru-kun! — Yume o ajudou a se levantar.

Mary estava correndo em sua direção.

Kuzaku. E o Kuzaku?

— Ugaaaahhh, gooooohhh! — e — Oh-booooohhhh, duaaaaaahhhh! — rugia o grande Redback.

— Hungh! Gahh! Hyagh! — Kuzaku gritava.

Kuzaku estava em apuros. O grande Redback o tinha Ă  sua mercĂȘ.

Que diabos Ă© aquilo? É loucura demais. Que se dane! NinguĂ©m falou nada sobre isso! NĂŁo dĂĄ. Preciso me acalmar. Como se eu pudesse. Mexe. Meu corpo nĂŁo se move. Por quĂȘ? Estou com medo? Sim, estou com medo. Claro que estou com medo. Reconheço isso. Mas, mesmo com medo… ainda estou vivo. HĂĄ coisas que posso fazer. O quĂȘ? O que estou dizendo que posso fazer?

— Ó Luz, que a proteção divina de Lumiaris esteja sobre vocĂȘ. Cure! — Mary curou os ferimentos de Haruhiro. Mas nĂŁo dava para saber exatamente quais eram suas lesĂ”es.

Pensa.

Enba apareceu. Ele nĂŁo lutou corpo a corpo com o grande Redback, nem desferiu um chute voador, mas subiu para o topo do corpo massivo do Redback. Ele podia fazer coisas assim?

Enba conseguiu subir no grande Redback. Ele se agarrou ao corpo dele. Enba tinha apenas um braço, mas ainda tinha duas pernas. Contudo, se ele ia se segurar assim, obviamente os chifres peludos o espetariam.

Haruhiro conseguia lidar um pouco com aquilo, mas nĂŁo chegaria tĂŁo longe. Parecia que os golems nĂŁo sentiam dor, entĂŁo talvez Enba estivesse bem.

Também parecia que aquilo era problemåtico para o grande Redback. Ele interrompeu seu ataque a Kuzaku e levantou os dois braços. Tentou sacudir Enba de cima dele.

Haruhiro olhou para Setora. Ela segurava Kiichi com força, uma expressão intensa no rosto.

Seus olhos se encontraram com os de Shihoru. Shihoru assentiu.

— Dark!

— Yume, salve o Kuzaku! — ordenou Haruhiro. — Mary, prepare-se para curar!

— Miau!

— Okay!

Eles conseguiam fazer isso, e iriam fazer. Provavelmente sĂł teriam uma chance. NĂŁo podiam errar o momento.

O grande Redback finalmente pegou Enba.

— Enba! — gritou Setora.

Sua força era absurdamente poderosa. Aconteceu em um instante. Carne, ossos e armadura voaram por todos os lados. Parecia que Enba tinha sido despedaçado.

Ao presenciar aquilo, por mais cruel que fosse, Haruhiro conseguiu confirmar para si mesmo: Bom. Estou calmo.

— Vai! — Shihoru lançou o Dark.

Mas nĂŁo era um Dark comum. Era um Dark pequeno, muito pequeno, que tinha sido refinado ao mĂĄximo possĂ­vel. O menor Dark, com poder total.

Se isso não funcionar, nada vai, Haruhiro disse a si mesmo. É o nosso máximo agora. Vai, vai, vai, vai!

O grande redback ainda não tinha notado o Dark mínimo, mas de poder måximo. Ele acertou o pescoço do guorella.

Shwoop! Foi absorvido pelo pescoço do grande redback.

— Agora! — Haruhiro deu a ordem.

Corra. Corra. Corra!

— Hah… — o grande redback inspirou. — Koh! — fez um som estranho. — Ah! — arqueou para trĂĄs e começou a se contorcer de dor. — Na-goaaahh! — tropeçou, afastando-se de Kuzaku.

Haruhiro correu para chegar ao lado de Kuzaku. Ele estava caĂ­do sob o escudo.

Ele estĂĄ vivo? Por favor, esteja vivo.

Haruhiro enfiou as mãos debaixo das axilas de Kuzaku e começou a puxå-lo. Yume também estava ajudando.

— Mary! — Ele nem precisava ter chamado. Mary já estava ali.

— Ó luz, que a proteção divina de Lumiaris esteja sobre vocĂȘ! Sacrament!

Luz, flua, brilhe em Kuzaku, cure seus ferimentos, estou contando com vocĂȘ—

Haruhiro voltou Ă  realidade. Ele se virou.

Shihoru. Ela estava sozinha. Shihoru estava. Eles a tinham deixado sozinha.

Depois de usar o Dark mĂ­nimo e de poder mĂĄximo, ela devia estar exausta. Talvez nem conseguisse se mover direito. Mas eles a tinham deixado sozinha. Mesmo sabendo que havia outro redback. Eles tinham esquecido? Que erro. Um erro terrĂ­vel.

O redback sorridente. Quando ele tinha saĂ­do da construção? Haruhiro queria gritar: “AtrĂĄs de vocĂȘ!” E avisĂĄ-la. Mas parecia que nĂŁo daria tempo. Afinal, ele jĂĄ estava bem ao lado de Shihoru, se aproximando por trĂĄs. Por isso, honestamente, Haruhiro desistiu, achando que era impossĂ­vel.

— Marc em Parc! — uma voz gritou.

E foi por isso… que, sĂł desta vez, Haruhiro nĂŁo poderia estar mais agradecido. Ele estava tĂŁo agradecido que poderia jurar lealdade Ă quele homem para o resto da vida.

Jessie. Ele chegou no momento exato.

Jessie lançou seu Magic Missile contra o lado do rosto do redback sorridente, forçando-o a recuar.

— Ho?! — o redback sorridente tropeçou, tentando olhar na direção de Jessie.

— Marc em Parc! — Outra esfera de luz voou, acertando a nuca do redback sorridente dessa vez.

Yume entrou em ação, puxando Shihoru pela mão. Shihoru tropeçava, mas conseguiu acompanhar Yume de alguma forma.

Jessie disparou uma série de Magic Missiles contra o redback sorridente, que finalmente fugiu para um beco.

— Shihoru Ă© a minha favorita, sabia? — gritou Jessie. — NĂŁo gostaria que ela fosse morta!

Jessie deu ordens aos rangers que o seguiam, incluindo Tuoki, Yanni e outros, com um tom incomumente afiado para ele. Parecia que planejava mandar os rangers atrĂĄs do redback sorridente. Mas a party ainda precisava lidar com o outro.

— Ufa… Gah…! — Kuzaku se levantou com um salto.

Do, do, do, do, do, do, do, do, do! O grande redback batia no peito com as duas mĂŁos. O som ecoava, fazendo os estĂŽmagos deles vibrarem.

Mas—ele era enorme! Quando se levantou, era absurdamente grande! Fazia Kuzaku, com seu escudo e grande katana, parecer uma criança.

— Marc em Parc! — Jessie tentou acertar um Magic Missile nele, mas o grande redback balançou o braço e o dissipou.

Shihoru estava recuando, sendo puxada por Yume. Não retornaria para a linha de frente tão cedo. Eles teriam que matar aquela coisa com apenas Haruhiro, Kuzaku, Mary e Jessie? Não, havia outros também.

— Eeeeeeeeahhhhhhh! — Setora soltou um grito de batalha e avançou contra o grande redback. Ela não estava com Kiichi. Ela estava segurando algo que parecia uma vara extremamente longa, talvez um pedaço de material de construção, com as duas mãos. O grande redback sequer parecia estar prestando atenção nela.

Setora se aproximou com facilidade e enfiou a ponta da vara na garganta dele.

— Deeeeeeyahhh!

Claro, era apenas uma vara comum que ela havia pego de alguma casa desmoronada. O grande redback mal se moveu, a vara quebrou, e Setora foi arremessada para trĂĄs. Por que Setora fez algo assim?

— Como ousa fazer isso com Enba?! — ela gritou.

Oh, era por isso.

Haruhiro achava que aquilo era uma estupidez. Mas ele não podia culpar Setora. Além disso, isso lhe deu uma ideia.

— Ataque! — Haruhiro ordenou a Kuzaku. — VocĂȘ nĂŁo consegue se defender totalmente, entĂŁo ataque com tudo que tiver, Kuzaku! VocĂȘ tem uma força que nenhum de nĂłs tem!

— TĂĄ bom! — Kuzaku jogou o escudo de lado e desenhou um hexagrama com sua grande katana. — Ó Luz, que a proteção divina de Lumiaris esteja sobre vocĂȘ! Saber! — Em um instante, ele segurou a grande katana envolta em luz com ambas as mĂŁos e avançou contra o grande redback.

NĂŁo, eu sei que disse para atacar, mas isso foi direto demais, pensou Haruhiro. VocĂȘ nĂŁo podia ter pensado em algo mais engenhoso?

Mas talvez truques fossem desnecessårios. Kuzaku avançou contra o grande redback, curvou o corpo para trås o måximo que pÎde e então desferiu um golpe com a grande katana. O grande redback não recuou nem tentou desviar.

Foi pego de surpresa? Ou confiava que sua pele, semelhante a uma carapaça, o protegeria? Cometeu um grande erro.

— Uau! — Jessie gritou.

SĂ©rio? Caramba. Kuzaku, cara, quanta força bruta vocĂȘ tem? Haruhiro claramente o havia subestimado. Nunca pensou que Kuzaku fosse tĂŁo forte.

— Zweeeeeeeeeaaaaaaaaaaeeeeeeeeeh!

A grande katana de Kuzaku cortou a pele em forma de carapaça do grande redback, penetrando profundamente em seu ombro esquerdo. O corte foi tão fundo que continuou diagonalmente até o meio do torso, talvez um pouco abaixo, tudo de uma só vez.

— Ohh-ah… Uhhh… Goh… — parecia que o grande redback nĂŁo entendia o que tinha acontecido com seu corpo. Talvez Kuzaku tambĂ©m nĂŁo entendesse. Ele estava completamente encharcado pelo sangue do grande redback. O sangue nĂŁo escorria; ele jorrava como uma erupção.

— HĂŁ? QuĂȘ? S-Sangue?! — gritou Kuzaku.

Haruhiro suspirou.

O grande redback. O redback entre os redbacks. O lĂ­der aterrorizante e excepcional desse bando de guorellas. Honestamente… É. Eu nĂŁo achava que era possĂ­vel. Achei que talvez nĂŁo pudĂ©ssemos derrotĂĄ-lo. Kuzaku. Foi o Kuzaku, hein. Kuzaku conseguiu. Eu achava que ele precisava melhorar seus ataques, mas, pensar que ele tinha tanto potencial nĂŁo explorado assim. Foi um erro feliz de cĂĄlculo. NĂŁo, o grande redback ainda nĂŁo morreu. A grande katana de Kuzaku provavelmente alcançou seu coração. Mesmo assim, ele nĂŁo caiu ainda. Embora pareça que estĂĄ prestes a desabar, continua de pĂ©. Acho que Ă© sĂł uma questĂŁo de tempo. Esse ferimento poderia tĂȘ-lo matado instantaneamente. Logo, o bando de guorellas vai perder o grande guorella. Seu lĂ­der. Quando isso acontecer…

Algo caiu do céu. Haruhiro, reflexivamente, deu um salto para trås, desviando.

A coisa que atingiu o chĂŁo usava um manto verde. Era um ranger gumow. Os braços, pernas e pescoço do gumow estavam dobrados de maneira estranha. Haruhiro achava difĂ­cil distinguir os rostos dos gumows, mas reconheceu a pele pĂșrpura.

Ele se virou, olhando para cima, lançando o olhar na direção de onde o ranger havia sido arremessado. No topo de uma construção próxima, estava lå. No momento em que estreitou os olhos e sorriu, Haruhiro percebeu que havia entendido errado. O grande redback não era o líder do bando.

— …É vocĂȘ, hein.

— Fooo, fooo, fooo — começou a assobiar.

Estava zombando deles novamente—

NĂŁo.

NĂŁo.

Haruhiro gritou: — Inimigos! — Foi tudo que conseguiu dizer.

Do topo daquela construção, daqui, dali, do beco à frente, de trås, os guorellas apareceram de uma só vez.

Era um sinal. Aquele assobio. Era provavelmente um chamado para que viessem.

De algum lugar, ouviram uma voz gritar: — Tiarg! Jessie! — Provavelmente era Yanni. Yanni ainda estava viva. Ela estava avisando Jessie sobre algo. Tinha que ser sobre isso.

Os guorellas eram inteligentes. Mas ainda eram apenas bestas, entĂŁo poderiam ser eliminados um por um. Era o que Haruhiro havia pensado.

De fato, tinha sido assim até então, e quando derrotaram o grande redback, Haruhiro estava setenta ou oitenta por cento certo de que tinham vencido.

E, ainda assim, em algum momento, foram cercados.

Os guorellas avançaram de todas as direçÔes.

— Todos! — Haruhiro ordenou. — Fiquem juntos, não se separem! Yume, Shihoru! Venham para cá!

— Droga, Haruhiro! Meu escudo…! — gritou Kuzaku.

— Esquece isso! Balance a espada!

— Shihoruuu, vocĂȘ tĂĄ bem? — gritou Yume. — Vem com a Yume!

— Sim, estou bem!

— Setora, levanta! — chamou Mary. — Vamos, vocĂȘ tem o Kiichi, nĂŁo tem?! E o Haru tambĂ©m!

— SilĂȘncio, sacerdotisa! NĂŁo preciso que vocĂȘ me diga o que fazer!

— Haruhiro! Use a prisĂŁo! — gritou Jessie. — Se vocĂȘ estiver lĂĄ dentro…!

— E vocĂȘ, Jessie-san?! — ele gritou de volta.

— Vou procurar a Yanni e os outros! Vá!

Kuzaku estava balançando sua grande katana como um louco. Haruhiro conseguiu, de alguma forma, se juntar a Shihoru, Yume, Mary e Setora, e seguiu em direção à prisão. Mas serå que conseguiriam chegar?

— Kuzaku, por aqui! — ele chamou.

— Sim, eu sei!

Claro, ele sabia, mas se Kuzaku parasse de balançar sua grande katana por um instante que fosse, seria derrubado na mesma hora.

Por sua parte, Yume e Mary estavam fazendo o possível, claro, mas até Shihoru usava seu cajado, e Setora ameaçava os guorellas com aquela vara quebrada que havia encontrado em algum lugar; eles mal conseguiam aguentar.

É por isso que depende de mim, Haruhiro disse a si mesmo. Eu preciso fazer isso. Eu vou. Eu. Nesta situação, cercado por inimigos? Sim. Faça. Afunde. Stealth.

Quando era encurralado, ele realmente conseguia fazer.

SilĂȘncio… NĂŁo era exatamente isso, mas nenhum dos ruĂ­dos o incomodava. Porque nĂŁo precisava ouvi-los, sem dĂșvidas.

Haruhiro afastou-se de seus companheiros, caminhando sozinho entre os guorellas.

Ele podia ver a linha. Brilhando vagamente. Ele não se movia, apenas a seguia. Jå estava decidido que Haruhiro seguiria aquela linha. Direção, ùngulo, velocidade, ele não precisava pensar em nada disso.

Seu campo de visĂŁo subitamente se elevou. Como se estivesse olhando de cima, num Ăąngulo. Ele mesmo, seus companheiros, os guorellas, Jessie, Yanni e os outros. Ele sabia onde todos estavam, talvez nĂŁo como a palma de sua mĂŁo, mas quase isso.

Primeiro, este aqui. O jovem macho que Mary acabou de atingir com seu cajado. Vou envolver meu braço esquerdo em seu pescoço e cravar o estilete em seu olho direito.

Depois, este. O que Kuzaku fez recuar ao balançar sua grande katana. Também um jovem macho. Vou matå-lo.

Depois, este que estĂĄ tentando atacar Shihoru. Seus chifres peludos tĂȘm um pouco de vermelho. Ele tambĂ©m morre.

Com isso, abriu-se um caminho estreito.

— Corram para a prisão! — gritou Haruhiro para seus companheiros e imediatamente afundou novamente.

Stealth. Eu tenho que remover os obstáculos, aqueles que atrapalham meus companheiros. É possível. Para mim. Só eu posso fazer isso.

NĂŁo acho que tenho poderes especiais. NĂŁo tenho. É sĂł porque Ă© agora. Neste momento, estou desempenhando o papel que me foi dado. SĂł isso. Se me encher de mim mesmo, vou tropeçar. JĂĄ falhei inĂșmeras vezes assim. É por isso que sei.

Eles estavam quase na prisĂŁo onde Setora tinha sido mantida.

— Entrem primeiro! Eu entro por Ășltimo! — gritou Kuzaku, ainda balançando sua grande katana. Sua resistĂȘncia e determinação eram admirĂĄveis.

Shihoru, Setora, Mary e entĂŁo Yume correram para dentro da prisĂŁo. Kuzaku estava se atrapalhando na entrada.

Eu posso ajudar, pensou Haruhiro. O macho, aquele que estava teimosamente avançando e recuando, atacando Kuzaku. É um redback. Se eu derrubá-lo, Kuzaku terá mais facilidade. Sem problemas. Posso lidar com isso. Veja.

Haruhiro jå estava atrås dele. Agarrou-o, envolveu o braço esquerdo em seu pescoço e cravou repetidamente seu estilete em seu olho direito. Como de costume.

EstĂĄ bem. VĂĄ. Ele nem precisou dizer antes que Kuzaku entrasse correndo na prisĂŁo.

Haruhiro o seguiu.

Ele foi tomado por tontura. Estava ficando sem forças. NĂŁo conseguia se manter de pĂ©. Caminhar estava fora de questĂŁo…

Mas ele ainda continuou pelo corredor, ajoelhando-se em frente a Mary. Ele se apoiou de quatro. O que Kuzaku estava fazendo?

— Oraah! Rahh! — Pelo que parecia, ele estava segurando os guorellas que tentavam entrar na prisão com sua grande katana. Nada bom. Mary e os outros diziam algo.

Oh, certo. Sangue. Cada vez que matava um guorella, era ferido pelos chifres peludos deles e perdia sangue.

— Mary, cura… desculpa — ele disse de forma fragmentada. Sentia que ia desmaiar. NĂŁo podia deixar isso acontecer.

Mary usou magia de luz nele. Cure.

Ele se sentiu um pouco melhor. Ou pelo menos pensou. No mínimo, conseguia ficar de pé. Mas ainda era difícil respirar.

— Droga! — gritou Kuzaku. — É difícil usar minha katana! Tá tão apertado que só consigo estocar aqui dentro!

— E agora? — alguĂ©m gritou.

…Shihoru, nĂ©? Kuzaku. EstĂĄ ruim? Quem foi mesmo que disse pra gente vir atĂ© a prisĂŁo? Jessie, nĂ©? Aquele cara. Mas, em um lugar mais aberto, poderĂ­amos fazer mais. SerĂĄ que Ă© hora de pensar nisso? NĂŁo, nĂ©? Precisamos agir.

— …Aquele ali — murmurou ele.

Certo. Precisamos matá-lo. É o líder. Se o derrubarmos, isso acaba. Se não, nunca vai terminar.

— Eu vou fazer isso… — ele murmurou. — Um ataque, com tudo que tenho. Vou… sair. Vou encontrĂĄ-lo… e acabar com isso. Por mim mesmo…

— Certo, mas…! — Yume tentou argumentar.

— Eu vou fazer! — ele gritou, interrompendo-a. — NĂŁo temos escolha. Se continuar assim, seremos exterminados. Todo mundo vai morrer. Eu vou fazer isso. Escutem, todos contra-atacam juntos. Nesse tempo, eu saio. Um, dois…!

— Zuooooahhh! — Kuzaku se jogou contra vários guorellas, derrubando-os. Ele chutou o guorella à sua frente e balançou sua grande katana. Kuzaku provavelmente estava usando o restante de suas forças. Sua katana grande cortou a cabeça de um guorella.

Ao ver os guorellas recuarem assustados, Yume gritou: — Miaurrr! — e foi atrás de Kuzaku.

Shihoru mandou um Dark. Setora jogou algo. Haruhiro tentou se concentrar.

Stealth

Ele nĂŁo conseguiu usar. O que estĂĄ acontecendo? Estranho.

Deslizando pela brecha entre Yume e Kuzaku, um guorella macho entrou na prisĂŁo. Ele precisava detĂȘ-lo. Precisava lutar. O guorella estava vindo em sua direção. Por que ele nĂŁo tinha força na mĂŁo que segurava o estilete? O inimigo estava bem ali.

— Não! — Mary avançou, acertando a cabeça do guorella com seu cajado. Ele achou que a viu imediatamente recuar o cajado, tentando desferir outro golpe.

Ela nĂŁo conseguiu.

O guorella segurou o cajado com as duas mĂŁos, puxando-a para si.

Shihoru gritou: — Mary! — e Setora berrou: — Solte-o!

Isso mesmo, Mary. VocĂȘ tem que soltar.

Com o cajado ainda em mãos, Mary caiu em direção ao guorella.

Foi entĂŁo que, finalmente, Haruhiro conseguiu se mover.

— Ohh… — Ele gemeu, e ouviu um som de algo se quebrando.

Mary fez o que Setora disse e soltou o cajado. Mas o guorella não tinha interesse no cajado e agarrou outra coisa, ou melhor, a abraçou.

— Ahh! — Shihoru deixou escapar um grito fraco.

Naquela mesma posição, o guorella mordeu a årea entre o ombro e a nuca de Mary.

Logo depois, Haruhiro o agarrou. Ele praticamente se pendurou no guorella enquanto cravava seu estilete no olho direito da criatura.

Os olhos de Mary se arregalaram, e ele conseguiu ver.

Eu preciso me apressar. Depressa. Depressa. Tenho que matĂĄ-lo. Ou serĂĄ tarde demais. Tarde demais? Para o quĂȘ…?

Quando o guorella morreu, Mary caiu no chão com ele. Foi difícil tirar o guorella de cima dela. A força—Ele não tinha força. Nem nos braços, nem nas pernas, nem em lugar algum.

Enquanto fazia algo…

— Como ela está?! — Setora perguntou.

Haruhiro nĂŁo respondeu.

Os olhos de Mary estavam semicerrados, e ela tremia. Tossiu, e sangue saiu.

— Magia! — Haruhiro chamou por ela. — Mary, use magia. VocĂȘ precisa se curar. Depressa. Mary.

Mary tentou levantar a mĂŁo direita. Parecia que nĂŁo conseguia movĂȘ-la. Era uma lesĂŁo? Os ossos? Estavam quebrados? Onde? Como?

Haruhiro largou o estilete e levantou a mão direita dela com as suas. Mary gemeu e balançou a cabeça.

Estava doendo? Muito? O que ele podia fazer?

Magia. O sinal do hexagrama. Para isso, ela precisava da mĂŁo. O encantamento. NĂŁo dava certo sĂł com o canto? Se ela nĂŁo podia mover a mĂŁo, nĂŁo conseguia usar magia de luz? Que droga. Como isso funcionava?

— Mary? Mary?! — ele gritou. — O q-que eu devo…?

Algo. Mary estava tentando dizer algo. Haruhiro aproximou o ouvido dos lĂĄbios dela.

— Mary? O quĂȘ? Mary, o que vocĂȘ estĂĄ dizendo?!

— Ha.

— Sim. O quĂȘ?

— …Haru.

— Hein?

— Eu…

— Sim.

— Haru… vocĂȘ Ă© quem… eu…

— Quem o quĂȘ? O que foi, Mary…?

Mary inalou profundamente.

Mary estava tentando respirar? Ou dizer algo? Haruhiro afastou o rosto um pouco e olhou para ela.

Por quĂȘ? Por que ela estava sorrindo? NĂŁo estava sofrendo? NĂŁo doĂ­a? NĂŁo estava com medo?

Por que vocĂȘ estĂĄ sorrindo?

Mary.


Prévia do Próximo Volume

O que eu quis dizer com subir um degrau?

O que eu quis dizer com vou desenvolver o Kuzaku?

O que eu quis dizer com minha intuição estå afiada?

O que eu quis dizer com consigo ver o redback entre os redbacks na minha mente?

Eu nĂŁo entendi nada.

NĂŁo consegui fazer nada.

NĂŁo fui capaz de fazer nada.

E foi assim que isso aconteceu.

EstĂĄ tudo acabado. Ou deveria estar.

Aquele homem diz: — Existe um caminho. Apenas um.


Tradução: ParupiroHPara estas e outras obras, visite o Cantinho do ParupiroH – Clicando Aqui


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