Dare ga Yuusha wo Koroshita ka – CapĂtulo 4 – Volume 1
Dare ga Yuusha wo Koroshita ka
Who Killed the Hero?
Quem Matou o HerĂłi?
MangĂĄ Online â CapĂtulo 04
[CapĂtulo de Ares]
A vila nĂŁo era nem grande nem pequena, apenas uma das muitas aldeias escondidas nas montanhas.
Ficava bastante longe da capital real, levando dez dias a cavalo para chegar até lå. As pessoas viviam da agricultura e levavam uma vida pastoral.
Vila Talis. Ela se tornou famosa por produzir um herĂłi.
â Conheço o Ares? Claro! Eu era amigo dele!
Procurei por alguém da idade de Ares que ainda morasse na vila e perguntei sobre ele.
â Ares conseguia fazer de tudo desde pequeno. Ele era forte, rĂĄpido e tambĂ©m inteligente. AlĂ©m disso, era muito bonito, entĂŁo todas as meninas da idade dele tinham uma queda por ele â disse o homem, como se jĂĄ estivesse acostumado a ser questionado, começando a falar sobre Ares com facilidade.
â Ele era simplesmente incrĂvel. Dava uma espada para ele, e em pouco tempo ele jĂĄ era melhor que qualquer adulto. Ele aprendeu magia de cura com o sacerdote da igreja e conseguia lançar feitiços depois de ler os livros de magia velhos e rasgados da casa do chefe da vila. Ah, devo mencionar que nem o chefe da vila, muito menos eu, conseguĂamos entender o que estava escrito naqueles livros. Eles estavam escritos em algum tipo de texto especial estranho, nĂŁo Ă©? Mas Ares estudou e aprendeu a ler essa escrita estranha. Claro que ele se tornou o herĂłi!
â EntĂŁo Ares jĂĄ sabia usar a espada, magia e milagres divinos, mesmo quando ainda estava nesta vila?
â Claro. VocĂȘ tambĂ©m sabe, nĂŁo Ă©? O famoso herĂłi Ares conseguia usar a espada, magia e cura. Foi por isso que ele foi escolhido como herĂłi, nĂŁo Ă©? Porque ele era tĂŁo especial.
â Por que alguĂ©m tĂŁo especial se daria ao trabalho de se inscrever na Academia Pharme?
â Por quĂȘ?⊠Acho que ele precisava entrar lĂĄ para ser reconhecido oficialmente como herĂłi? Ou talvez para encontrar companheiros? Eu realmente nĂŁo sei. Provavelmente o vidente disse a ele para ir para a capital?
â Vidente? VocĂȘ quer dizer o profeta?
â Sim, esse mesmo. Um dia ele apareceu de repente na vila e disse: âO herĂłi que salvarĂĄ o mundo surgirĂĄ desta vila.â Ficamos todos maravilhados. Ah, deve ser o Ares, pensamos. Ele realmente era uma pessoa especial, afinal.
O profeta Ă© conhecido por aparecer em momentos crĂticos no mundo e fazer pronunciamentos. Embora tenha um perĂodo de atividade de mais de mil anos, hĂĄ dĂșvidas sobre se Ă© uma pessoa. Alguns sugerem que nĂŁo Ă© o mesmo indivĂduo a cada vez.
â Ares e o profeta se encontraram diretamente?
â NĂŁo tenho certeza. Esse vidente desapareceu logo depois de vir. Ele era estranho, sabe, tinha uma presença imponente, uma dignidade. De qualquer forma, uma figura misteriosa.
â EntĂŁo, depois de receber essa profecia, Ares partiu para a capital?
â Isso mesmo. Foi assim que aconteceu. Ares Ă© realmente incrĂvel, nĂŁo Ă©?
â IncrĂvel?
â Bem, agora Ă© tudo pacĂfico, mas naquela Ă©poca, os monstros estavam por toda parte. A jornada para a capital era perigosa por causa disso. As rotas comerciais eram frequentemente interrompidas, entĂŁo a vila sofria, ou pelo menos foi o que meus pais disseram.
â EntĂŁo um garoto de catorze anos fez essa jornada perigosa sozinho?
â Sim. Acho que ele pensou que os adultos sĂł atrapalhariam. Mas para ele conseguir chegar lĂĄ sozinho⊠ele realmente Ă© incrĂvel.
Me despedi do morador sincero e fui Ă casa da famĂlia de Ares. Ela pertencia ao atual chefe da vila. Ares era filho do chefe atual e neto do chefe quando ele partiu em sua jornada.
â Obrigada por vir atĂ© nossa pequena vila. Ouvi dizer que vocĂȘ quer perguntar sobre meu filho, sobre Ares?
Tendo organizado nosso encontro por carta com antecedĂȘncia, Shera, a mĂŁe de Ares, me recebeu calorosamente. Ela parecia estar no inĂcio dos seus cinquenta anos, mas se portava com graça, me fazendo pensar que deve ter sido uma grande beleza em sua juventude.
â Que tipo de criança era Ares?
â Ele era um bom menino. Brilhante desde pequeno e nunca me causou problemas. Ele estava sempre disposto a ajudar em casa. Realmente⊠um filho maravilhoso.
Shera falou lentamente, como se estivesse relembrando.
â Ouvi dizer que ele conseguia fazer de tudo?
â Em vez de tudo, ele era habilidoso. Embora seja verdade que ele se saĂa bem com a espada, conseguia realizar pequenos milagres e usar magia, nĂŁo era nada extraordinĂĄrio. Ele se destacava porque esta Ă© apenas uma pequena vila, mas se ele fosse para um lugar com mais pessoas, acho que seria avaliado como uma criança excepcionalmente talentosa, no mĂĄximo.
â Pode ser que vocĂȘ nĂŁo seja originalmente desta vila?
â VocĂȘ Ă© perspicaz. Eu sou da capital, na verdade, nĂŁo desta vila. Conheci meu marido quando estĂĄvamos estudando na capital. Nos casamos e vim com ele para morar nesta vila. Na verdade, meu marido e eu Ă©ramos os melhores alunos da capital, excelentes tanto nos estudos quanto nos esportes. Por isso, eu nĂŁo achava que nosso filho fosse algo tĂŁo especial.
Shera sorriu, como se estivesse se gabando um pouco.
â No entanto, Ares foi escolhido como o herĂłi.
â Foi intrigante. Ele era nosso orgulho e alegria, mas nĂŁo a esse ponto, eu sentia. Os aldeĂ”es estavam comemorando, pensando que a profecia certamente se referia a Ares, mas nem eu nem meu marido acreditĂĄvamos nisso.
â VocĂȘs nĂŁo acreditavam na profecia?
â Bem⊠eu nĂŁo diria que nĂŁo acreditĂĄvamos, mas nĂŁo querĂamos acreditar que era sobre Ares. Que pai quer que seu filho lute contra o rei demĂŽnio, afinal? Mais do que nĂŁo acreditar, acho que nĂŁo querĂamos acreditar.
â No entanto, vocĂȘs o enviaram como herĂłi?
â Meu sogro, que era o chefe da vila na Ă©poca, estava empolgado com isso. Os aldeĂ”es tambĂ©m. Eles ficaram encantados ao pensar que um dos seus seria o herĂłi. O aparecimento do rei demĂŽnio havia envolvido o mundo em escuridĂŁo naquela Ă©poca. Esta vila nĂŁo foi exceção. Em meio a isso, as pessoas ficaram cheias de alegria com o surgimento do herĂłi lendĂĄrio. NĂŁo podĂamos simplesmente negar. EntĂŁo, para que Ares ganhasse mais força e encontrasse companheiros para viajar com ele, o enviamos para a Academia Pharme.
â Enviar Ares para a Academia Pharme foi uma decisĂŁo de vocĂȘs?
â Minha e do meu marido. SabĂamos que a Academia Pharme treinava herĂłis. No entanto, era tambĂ©m uma academia exclusivamente para nobres. Eu disse que nĂŁo havia necessidade de forçar a entrada. Ganhar força e encontrar companheiros eram os objetivos, entĂŁo qualquer lugar que pudesse cumprir esses propĂłsitos estaria bom, pensei. Ares era flexĂvel, entĂŁo acreditei que ele lidaria bem com isso se explicĂĄssemos dessa forma, mas no final, ele entrou na Academia Pharme, ao que parece.
â O que Ares pensava sobre ser escolhido como herĂłi?
â Ele era um garoto esperto, entĂŁo acho que ele fingia estar confiante para agradar os aldeĂ”es. Mas, no fundo, devia estar ansioso. Mais do que ninguĂ©m, ele sabia que nĂŁo era tĂŁo excepcional. Ăs vezes, quando eu acordava de madrugada, via ele lĂĄ fora balançando a espada, distraĂdo. Acho que ele estava tĂŁo ansioso que nem conseguia dormir.
â E mesmo assim ele derrotou o Rei demĂŽnio.
â E entĂŁo morreu tambĂ©m. DevĂamos estar felizes que o mundo foi salvo, mas nem eu nem meu marido conseguimos ficar realmente contentes. Por que nosso filho teve que morrer? Ainda penso nisso. Havia tantas outras pessoas qualificadas, por que teve que ser eleâŠ
Shera enxugou as lĂĄgrimas que desciam por sua bochecha.
Desviei o olhar dela e observei a sala ao redor. Meus olhos caĂram sobre uma espada exposta decorativamente. Estava bem conservada, mas mostrava sinais de uso intenso.
â Aquela Ă©âŠ?
â Ă a espada dele. Apenas a espada voltou. Essa espada foi passada de geração em geração na nossa famĂlia. Embora nĂŁo saibamos sua origem, deve ter sido uma lĂąmina excepcional para acompanhĂĄ-lo atĂ© o fim. Seu retorno Ă© nosso Ășnico consolo. Ele nĂŁo deixou mais nada para trĂĄs.
â Os companheiros de Ares trouxeram a espada de volta?
â Nunca conheci nenhuma das pessoas que viajaram com Ares. Zack foi quem a trouxe.
â Zack?
â O primo de Ares, da mesma idade. Filho da irmĂŁ do meu marido, mas os pais dele eram aventureiros. Seu pai veio do Reino de Malica e, quando o reino foi invadido pelo rei demĂŽnio, seus pais foram ajudar, mas perderam a vida naquela batalha. Zack foi deixado aos nossos cuidados antes de seus pais partirem.
â Como Zack trouxe a espada de volta?
â Porque Ares foi com Zack para a capital. Depois que Ares morreu, Zack nos disse que recebeu a espada de alguĂ©m lĂĄ. EntĂŁo, ele a trouxe de volta para nossa vila.
â Dizem que Ares viajou sozinho?
â Bem, havia bagagem e outras coisas, entĂŁo nĂŁo podĂamos enviĂĄ-lo completamente sozinho. AlĂ©m disso, os dois foram criados juntos, entĂŁo se davam muito bem. Tenho certeza de que ter Zack por perto deixou Ares um pouco mais tranquilo ao partir. Os aldeĂ”es exageram nas façanhas de Ares, entĂŁo nĂŁo mencionam Zack. Ou talvez tenham realmente se esquecido dele. Ele nĂŁo era uma criança muito notĂĄvel.
â Onde Zack estĂĄ agora?
â Depois de vir para cĂĄ, ele disse que partiria âimediatamente em uma jornadaâ, e essa foi a Ășltima vez que ouvi falar dele. Eu sugeri que ele se estabelecesse nesta vila, mas ele recusou firmemente. Ele disse: âDesculpa, deixei o Ares morrer, sinto muito.â Mesmo que ele nĂŁo tenha nada pelo que se desculparâŠ
â Zack se aventurou com Ares?
â Ele sĂł o acompanhou atĂ© a capital. Ares era apenas uma criança comum, entĂŁo ele nĂŁo conseguiria embarcar em uma jornada para lutar contra o Rei DemĂŽnio e tudo mais. Ele era um garoto esforçado e se dedicava ao que fazia, mas era meio desajeitado. Mas era um Ăłtimo garoto. Acho que Ares conseguiu aprender muitas coisas porque Zack estava com ele. Quando Ares começava algo, Zack sempre ficava atĂ© o final. VocĂȘ sabe como Ă© difĂcil aprender sozinho? Ter um amigo para fazer isso junto torna tudo mais fĂĄcil.
â O que vocĂȘ acha das imagens de herĂłis que se espalharam pelo mundo?
â Elas realmente se parecem com aquele menino. AtĂ© compramos um grande quadro de um herĂłi e o penduramos em nossa casa.
De fato, havia um grande quadro de um herói com uma presença marcante exposto de forma proeminente nesta casa.
â Ares e Zack se pareciam?
â Eles se pareciam bastante, como costuma acontecer entre primos. Mas os olhos de Ares eram um pouco maiores e seu nariz, mais alto. Diferenças sutis, mas que realmente mudavam a impressĂŁo. A aparĂȘncia de Ares era frequentemente elogiada, mas diziam que Zack era comum. Ă estranho como pequenas diferenças podem ter tanto impacto.
Fragmento 1
â O fato de vocĂȘ ter vindo junto, Zack, Ă© uma grande ajuda.
Ares murmurou depois de termos caminhado uma boa distĂąncia da vila.
â Mas serĂĄ que realmente deveria ser eu? NĂŁo seria melhor um adulto de verdade?
Eu dei voz ao que vinha pensando o tempo todo. Enviar dois garotos de quatorze anos para a capital parecia um pouco imprudente.
Quando decidiram que alguém acompanharia Ares até a capital, sugeriram inicialmente alguns jovens solteiros da vila. Mas quem Ares escolheu fui eu.
Curiosamente, ninguém se opÎs à sua decisão.
â Algum adulto com quem eu nĂŁo tivesse intimidade sĂł tornaria as coisas estranhas. AlĂ©m disso, eles estariam ansiosos para me empurrar para lutar contra monstros como o herĂłi, mas sem querer correr riscos.
Ares criticou os aldeÔes de uma forma que eu nunca o tinha ouvido fazer antes. Fiquei surpreso com suas palavras. Era verdade que alguns dos homens que haviam sido considerados para a jornada ficaram visivelmente aliviados por não serem escolhidos. Eles perceberam que seria uma viagem perigosa.
Ares raramente falava mal dos outros, mas parecia nutrir algum descontentamento com a atitude dos aldeÔes.
â Bem, os monstros sĂŁo fortes. Meus pais tambĂ©m foram mortos. NinguĂ©m quer lutar.
Pensei nos meus prĂłprios pais, ambos aventureiros, que perderam suas vidas lutando contra monstros e ganhando a vida assim.
â Mas como herĂłi, terei que lutar contra esses monstros. E atĂ© derrotar o rei demĂŽnio. O que Ă© ser um herĂłi, afinal? Eu nunca quis ser um. Mas dizem que o mundo serĂĄ destruĂdo se eu nĂŁo fizer isso. Ă terrĂvel.
Ares soltou uma risada vazia.
â JĂĄ vi minha mĂŁe chorando Ă noite, Ă s vezes. Ela nĂŁo quer que eu me torne o herĂłi.
Eu sabia disso também. Os pais de Ares, meus pais adotivos, duvidavam da credibilidade da revelação do profeta. Provavelmente, eles esperavam que Ares não precisasse se tornar o herói se pudessem evitar.
Mas o avĂŽ de Ares, que era o chefe da aldeia, ficou eufĂłrico e liderou os aldeĂ”es em uma celebração por Ares ser o HerĂłi. â Vai ficar tudo bem! Ares consegue! Ele sabe usar espada, magia, atĂ© milagres! JĂĄ derrotou muitos monstros. NĂŁo hĂĄ ninguĂ©m assim na capital!
â SerĂĄ mesmo? NĂŁo hĂĄ guerreiros ou magos profissionais na Vila Talis. Somos todos amadores, no fim das contas. EntĂŁo, quem sabe quĂŁo forte eu realmente souâŠ
â AresâŠ
Fiquei surpreso com as palavras de Ares. NĂŁo fazia ideia de que ele pensava assim, apesar de estar sempre ao lado dele.
â Ah, desculpa. Fiquei um pouco levado pelas reclamaçÔes depois de sair da vila. JĂĄ decidi fazer isso como herĂłi, mas aqui estou, ficando com medoâŠ
Depois disso, Ares nunca mais expressou fraqueza. Mas aquela conversa ficou gravada em minha mente.
Nossa jornada seguiu sem problemas. Nas vilas em que parĂĄvamos pelo caminho, Ares negociava habilmente como um adulto, conseguindo ĂĄgua e comida com o pouco dinheiro que tĂnhamos.
Quando encontrĂĄvamos monstros, ele evitava lutar, se possĂvel, batalhando apenas quando nĂŁo havia outra escolha.
Mesmo assim, ele lutava com calma e de forma constante, sempre garantindo minha segurança primeiro. Ele usava bem magia de ataque e de cura, terminando as batalhas com sua espada. Sua conduta era verdadeiramente digna de um herói.
Atualmente, estamos andando por uma estrada densamente florestada.
O céu deveria estar azul e claro, mas as årvores se estendiam dos dois lados, tão altas e densas que bloqueavam o céu, me deixando com uma sensação vaga de inquietação.
Essa estrada costumava ser movimentada, com pessoas indo e vindo da capital, mas após o aparecimento do Rei DemÎnio, os monstros tomaram conta da floresta, e agora ninguém mais a usava. De fato, não vimos mais ninguém em metade de um dia de caminhada.
Por outro lado, o nĂșmero de monstros era realmente grande, e jĂĄ havĂamos encontrado alguns, mas Ares os derrotou a todos.
â VocĂȘ Ă© realmente incrĂvel, Ares. Teria lidado com tudo sozinho, nĂŁo teria?
Eu também tinha uma espada para autodefesa, mas nunca a tinha usado. Durante nossa jornada, ela serviu principalmente como parceira de treino para Ares.
â Zack, vocĂȘ me valoriza demais. Ă complicado fazer as coisas sozinho. Eu consigo seguir em frente porque vocĂȘ estĂĄ ao meu lado. Quando comecei a aprender esgrima e magia, começamos todos juntos, mas quando as coisas nĂŁo deram certo, as pessoas foram saindo uma a uma. No final, sĂł sobramos nĂłs dois.
â Bem, eu nĂŁo consegui aprender magia ou milagres divinos⊠â Respondi com um sorriso.
â Ă uma pena, mas vocĂȘ ficou comigo atĂ© o fim. Isso Ă© incrĂvel. Continuar fazendo algo que nĂŁo estĂĄ dando certo Ă© difĂcil. Fui sortudo por ser bom em muitas coisas, mas se as coisas nĂŁo tivessem dado certo, quem sabe o que teria acontecido. Eu poderia ter desistido, como todos os outros.
â NĂŁo consigo imaginar vocĂȘ nĂŁo sendo bom em algo. Mas eu queria, pelo menos, dominar uma coisa tambĂ©m.
Essa era a verdade. Eu tentava desesperadamente alcançar meu primo, que tinha a mesma idade, mas as coisas nunca pareciam dar certo.
Ares parou. Eu também parei, sentindo que algo estava errado.
Estava quieto demais. Eu nĂŁo ouvia nem os sons dos animais da floresta.
â Ah, vocĂȘ percebeu? Realmente faz jus ao nome de herĂłi.
Com um sorriso irÎnico, alguém surgiu de trås de uma grande årvore à frente. Parecia humano, mas sua pele era roxa, seu corpo robusto, com orelhas duas vezes maiores que as de um humano e olhos vermelhos brilhantes.
â Corre! Ă um demĂŽnio!
Ares gritou. Ao ouvir isso, corri imediatamente.
DemĂŽnios. Eles eram os servos do Rei DemĂŽnio e, embora tivessem aparĂȘncia humana, eram significativamente mais fortes, tanto em poder quanto em magia, do que os humanos.
O motivo pelo qual eu corri imediatamente não era apenas por medo dos demÎnios, mas também porque não queria atrapalhar Ares.
Logo, ouvi o som de espadas se chocando. Ares havia começado a lutar contra o demÎnio.
Corri para dentro da floresta e mantive uma distĂąncia segura, observando a batalha de trĂĄs de uma ĂĄrvore.
O demÎnio balançava uma espada massiva que eu nunca tinha visto antes. Ele se movia com a força de um vendaval.
â Heh, ouvi dizer que um herĂłi foi escolhido por um profeta, mas vocĂȘ ainda Ă© sĂł uma criança. Se eu te matar antes de crescer, nĂŁo vai ser nada especial.
Ares estava puramente na defensiva contra os ataques do demÎnio, que não só poderiam feri-lo, mas também ser letais.
Ares desviava calmamente dos ataques que podia e aparava com sua espada aqueles que nĂŁo conseguia evitar.
Ares resistia, e o tempo parecia passar lentamente.
Inicialmente, o demÎnio exibia confiança diante da estratégia defensiva de Ares. No entanto, com o tempo, começou a se frustrar.
â Sua defesa Ă© admirĂĄvel. Mas e quanto Ă magia?
O demÎnio, incapaz de acertar golpes facilmente, parou de usar sua espada e estendeu a mão esquerda à frente, tentando lançar um feitiço.
Ares nĂŁo perdeu essa oportunidade.
â HĂĄ!
Ele avançou com a força de um sopro liberado e desferiu um golpe råpido na mão estendida do demÎnio, que tentava invocar a magia.
Alguns dedos do demÎnio dançaram no ar.
â Giaah! Maldito pirralho!
O demĂŽnio ferido rapidamente recuperou o controle de sua espada massiva e tentou contra-atacar Ares.
No entanto, o golpe nĂŁo tinha a mesma precisĂŁo de antes.
Os dedos dele estĂŁo feridos, ele nĂŁo consegue segurar a espada direito!
SerĂĄ que Ares tinha mirado nisso? Se sim, isso era impressionante!
A partir desse ponto, Ares passou para a ofensiva, e o demÎnio foi forçado a adotar uma postura defensiva.
Ares nĂŁo buscava um golpe poderoso, mas sim atacava com precisĂŁo as vulnerabilidades do inimigo.
â Ugh, tome isso!
O demĂŽnio, coberto por inĂșmeros pequenos ferimentos, começava a enfraquecer visivelmente, atĂ© mesmo para um olho inexperiente.
A vitĂłria estava ao alcance, mas Ares continuava a luta metodicamente.
EntĂŁo, o demĂŽnio, apĂłs errar um golpe de Ares, finalmente deixou sua espada cair.
Com um estrondo, a espada do demĂŽnio caiu no chĂŁo.
Aproveitando a oportunidade, Ares balançou sua espada em direção ao pescoço do demÎnio.
No entanto, o demĂŽnio desviou o golpe com sua mĂŁo esquerda desarmada. Embora a lĂąmina tivesse perfurado o braço, ela nĂŁo o cortou ao meio. Em vez disso, parecia que o braço do demĂŽnio havia engolido a lĂąmina, enquanto ele flexionava os mĂșsculos para segurĂĄ-la.
â NĂŁo consigo puxar!
Pela primeira vez na batalha, Ares gritou.
â Pode ficar com minha mĂŁo esquerda.
O demÎnio sorriu e, com sua mão direita, fez brotar garras enormes, avançando em direção a Ares.
Ares soltou sua espada, tentando desviar do ataque, mas seu abdĂŽmen foi cortado.
Apesar da pressĂŁo contĂnua do demĂŽnio, Ares começou a entoar um feitiço.
â Vento!
Ele lançou uma magia de vento em direção aos olhos do demÎnio.
â Tch!
O demÎnio desviou do feitiço, mas Ares deu um passo para trås para aumentar a distùncia entre eles.
O demĂŽnio puxou a espada que estava cravada em sua mĂŁo esquerda e a jogou na floresta atrĂĄs de si. Sua mĂŁo esquerda pendia inutilmente, provavelmente nĂŁo conseguindo mais movĂȘ-la.
Ares murmurou algo. Provavelmente era uma encantação para lançar magia. No entanto, a magia que ele conhecia era båsica e parecia pouco eficaz contra o demÎnio.
Oh, nĂŁo!
Com esse pensamento, corri em direção a Ares, segurando minha própria espada.
O demÎnio começou a se mover. Ares conseguiu atrair a atenção do inimigo e lançou um feitiço de fogo.
As chamas envolveram a cabeça do demÎnio, mas ele avançou sem hesitar.
Ares conseguiu desviar, mas seus movimentos estavam lentos. Seria por causa do ferimento em seu abdĂŽmen?
â Ares, pega!
Joguei minha espada em direção a Ares.
O demĂŽnio ergueu suas garras da mĂŁo direita.
Ares pegou habilmente a espada giratória e, sem hesitação, mergulhou no peito do demÎnio, cravando a espada profundamente em seu ventre.
â Conseguimos!
NĂŁo consegui evitar de gritar.
No entanto,
â âŠEu te dou⊠minha vida⊠mas vocĂȘ⊠vai cair junto comigoâŠ
Com a espada atravessando seu corpo, o demÎnio cravou seus dentes enormes no pescoço de Ares.
O sangue jorrou violentamente do pescoço de Ares.
â Ares!
Meu grito ecoou pela floresta.
Fragmento 2
Quando eu tinha seis anos, Zack veio morar na nossa casa. Sua mĂŁe era irmĂŁ mais nova do meu pai, entĂŁo ele era meu primo. TĂnhamos a mesma idade e uma estatura parecida, por isso fiquei feliz de ganhar um novo companheiro de brincadeiras.
Os pais de Zack eram aventureiros, entĂŁo eles pareciam muito legais.
O pai de Zack era um guerreiro. Diferente dos outros aldeÔes, ele tinha uma expressão digna e seu corpo era todo musculoso, sem um pingo de gordura. Ele me mostrou suas habilidades com a espada algumas vezes, e eu fiquei impressionado com a graciosidade com que ele se movia. Eu pensava que talvez ele fosse o guerreiro mais forte do mundo.
A mĂŁe de Zack era uma maga. Ela era muito inteligente e havia aprendido magia sozinha, estudando por conta prĂłpria. Os livros e tomos de magia que ela deixou em nossa casa estavam surrados de tanto serem folheados. Uma vez, ela me mostrou sua magia, e foi lindo vĂȘ-la subir aos cĂ©us.
Mas Zack era tĂŁo comum em comparação a eles que me perguntava: âSerĂĄ que ele Ă© mesmo filho deles?â De certa forma, ele era meio sem graça. No entanto, embora fosse desajeitado, ele tinha essa tendĂȘncia estranha de continuar praticando alguma coisa de maneira persistente atĂ© se tornar bom, fosse brincadeira ou qualquer outra coisa.
Quando perguntei a Zack sobre isso, ele disse: â O lema da minha famĂlia Ă© continuar atĂ© conseguir.
Mas eu nĂŁo queria que ele fizesse isso e deixasse a hora de brincar chata, entĂŁo eu o interrompia no momento apropriado.
Depois de cerca de uma semana morando na nossa casa, os pais de Zack partiram em uma jornada para lutar contra o exército do Rei DemÎnio.
Ouvi dizer que o paĂs de Malica estava sendo invadido pelas forças do Rei DemĂŽnio e uma grande batalha estava acontecendo lĂĄ. Se eles conseguissem vencer essa batalha, haveria paz por algum tempo.
â Por algum tempo? Derrotar o Rei DemĂŽnio nĂŁo traria paz duradoura?
Perguntei Ă minha mĂŁe.
â Ă difĂcil ter uma paz duradoura se o Rei DemĂŽnio nĂŁo for derrotado. Mas mesmo um curto perĂodo de paz conquistado atravĂ©s da luta Ă© precioso, nĂŁo acha?
Minha mĂŁe respondeu com uma expressĂŁo triste.
â EntĂŁo eu vou derrotar o Rei DemĂŽnio!
Declarei, querendo animar minha mĂŁe.
â EntendoâŠ
Ela respondeu com uma expressĂŁo complicada.
â Ares, por favor, cuide do Zack,
Pediram os pais de Zack antes de partirem em sua jornada.
â Claro! Podem contar comigo!
Aceitei sem hesitar, jĂĄ que os respeitava muito.
Mas eles abraçaram Zack com ternura por um longo tempo.
Ao ver aquilo, pensei que talvez nunca mais os vĂssemos.
No dia seguinte, reuni as crianças da aldeia e começamos a praticar com espadas de madeira, dizendo: â Vamos derrotar o Rei DemĂŽnio!
Eu estava falando sério, e meus amigos se juntaram a mim com entusiasmo. Claro, Zack também.
EstĂĄvamos apenas balançando espadas de madeira, mas parecia que havĂamos nos tornado um grupo de aventureiros.
Nosso objetivo era alcançar a habilidade com a espada de um guerreiro como o pai de Zack. Todos nĂłs pretendĂamos nos esforçar para dominar as tĂ©cnicas de espada que ele havia nos mostrado. No entantoâŠ
â Ares, estou entediado com isso. Vamos fazer outra coisa,
Disse um dos meus amigos apĂłs cerca de um mĂȘs.
â Ă, Ares, nĂŁo tem graça jĂĄ que vocĂȘ Ă© muito mais forte que a gente,
Concordaram os outros amigos.
Parecia que eles haviam perdido o interesse quando uma diferença de nĂvel de habilidade surgiu a partir das prĂĄticas.
Certamente, eu era o mais habilidoso e muito melhor que meus amigos.
Ou talvez eles não tivessem levado a pråtica com a espada a sério desde o começo, apenas prolongando o tempo de brincadeira. Somente Zack ainda parecia motivado.
â Entendi⊠entĂŁo vamos parar com a prĂĄtica de espada.
Decidi continuar praticando apenas com Zack, enquanto interrompia as aulas em grupo.
Sendo a famĂlia do chefe da aldeia, meu pai e minha mĂŁe eram instruĂdos, entĂŁo eles ensinaram a mim e a Zack a ler e escrever. Eu rapidamente aprendi a ler os caracteres e comecei a ler os vĂĄrios livros da nossa casa. Acho que foi muito mais tarde que Zack conseguiu ler livros.
Um dos livros que li continha a histĂłria de um herĂłi, e, segundo ele, o herĂłi sabia usar magia de ataque como um mago e magia de cura como um sacerdote, nĂŁo apenas a espada.
â Beleza! EntĂŁo eu tambĂ©m devo aprender magia!
Pensei simplesmente. Aquele que derrotaria o Rei DemÎnio seria o herói. Então, eu precisaria ser capaz de usar magia também.
TĂnhamos os tomos de magia que a mĂŁe de Zack usou para estudar, mas achei que aqueles seriam difĂceis demais. Em vez disso, fui pedir ao sacerdote da aldeia, na igreja, se ele poderia me ensinar magia de cura.
â VocĂȘ quer aprender magia de cura?
O sacerdote da nossa aldeia ainda era jovem e passava uma impressĂŁo de ser gentil e tĂmido.
â Sim! Quero me tornar um herĂłi!
â Um herĂłi? Entendo, um herĂłiâŠ
O sacerdote ponderou por um momento.
â Primeiro, peça permissĂŁo ao seu pai. Depois disso, posso lhe dar algumas orientaçÔes simples. Na verdade, nĂŁo devo ensinar a ninguĂ©m, exceto Ă queles que estĂŁo treinando para se tornarem sacerdotes, mas estes sĂŁo tempos difĂceisâŠ
Ele disse com um sorriso gentil.
Corri imediatamente para casa e conversei com meu pai sobre isso.
â Magia de cura? Acho que sĂł pessoas escolhidas conseguem usar isso⊠Mas se o sacerdote disse que vai te ensinar, vĂĄ em frente e tente.
Meu pai nĂŁo parecia acreditar que eu seria capaz de aprender magia de cura.
De qualquer forma, consegui a permissão, então Zack e eu fomos à igreja receber as instruçÔes do sacerdote.
Na verdade, ele apenas nos ensinou as palavras de uma oração simples e a mentalidade adequada ao rezar.
â Primeiro, vocĂȘ precisa estar ciente da presença de Deus. Se conseguir se concentrar nisso, suas oraçÔes naturalmente ganharĂŁo poder.
O sacerdote explicou. Aparentemente, aqueles que treinam para serem sacerdotes conseguem sentir a presença de Deus. Em outras palavras, é porque eles sentem essa presença que se tornam sacerdotes.
Como eu nunca havia sentido nada parecido, apenas murmurei repetidamente as palavras da oração. Zack murmurava junto comigo. Enquanto oråvamos seriamente, nossos amigos se aproximaram.
â O que vocĂȘs estĂŁo fazendo?
â Praticando oraçÔes de cura.
â OraçÔes de cura? Ares vai virar sacerdote?
â Eu vou ser um herĂłi, nĂŁo um sacerdote.
â Se vocĂȘ disser essas oraçÔes, vai conseguir usar magia de cura?
â Se eu conseguir sentir a presença de Deus e rezar corretamente.
â Hmm, me ensina tambĂ©m.
â Por quĂȘ?
â O trabalho na fazenda da minha famĂlia Ă© muito pesado. Quero ser alguĂ©m como o sacerdote, que sĂł reza o dia inteiro.
Achei que a motivação do meu amigo era meio impura, mas ensinei a oração de qualquer forma. Depois disso, mais e mais amigos se juntaram, e começamos a rezar juntos. As razĂ”es eram sempre as mesmas; achavam que ser sacerdote era um âtrabalho respeitĂĄvel e fĂĄcilâ.
Após alguns dias, meus amigos começaram a desistir um por um.
Claro, ficar repetindo oraçÔes simples era chato e parecia sem sentido. No fim, só Zack e eu continuamos. Para ser sincero, eu também queria parar, mas Zack seguia firme. Me perguntei se Zack queria aprender a magia de cura para poder encontrar seus pais. Se fosse isso, eu não poderia fazer com que ele parasse.
Vårios meses depois, chegaram à nossa vila rumores da guerra entre Malica e as forças do Rei DemÎnio.
O exĂ©rcito liderado pelo General Muller, deste paĂs, conseguiu repelir as forças do Rei DemĂŽnio, mas, como sua chegada foi tardia, o paĂs de Malica foi destruĂdo. Parece que nenhum dos aventureiros voluntĂĄrios que lutavam na linha de frente sobreviveu.
Na noite em que soubemos dessa notĂcia, meus pais disseram a mim e a Zack: â A partir de hoje, Zack Ă© parte da nossa famĂlia.
Zack acenou com a cabeça em silĂȘncio.
Naquela noite, Zack chorou baixinho em sua cama. Do quarto ao lado, eu conseguia ouvir seus soluços enquanto oferecia oraçÔes pelos pais de Zack.
Acho que até aquele momento eu não entendia o significado das palavras da oração. Eu as recitava sem pensar.
Quando orei de verdade por alguém pela primeira vez, uma luz fraca apareceu entre as minhas mãos entrelaçadas.
Na manhã seguinte, após realizar esse pequeno, mas divino milagre, fui até a igreja para mostrar ao sacerdote.
â IncrĂvel. Para ser honesto, eu nĂŁo achava que isso fosse possĂvel, mas isso certamente Ă© um milagre de Deus.
O sacerdote colocou a mão sobre minha cabeça e me elogiou.
â No entanto⊠infelizmente, nĂŁo sinto um poder tĂŁo forte em vocĂȘ. No mĂĄximo, mesmo que vocĂȘ domine a tĂ©cnica, provavelmente serĂĄ apenas uma magia de cura bĂĄsica. Ainda quer continuar?
Eu assenti firmemente, sem hesitar.
Após mais alguns meses de instrução, consegui usar magia de cura båsica.
Infelizmente, embora Zack tivesse recebido as aulas comigo, ele nĂŁo foi capaz de realizar nenhum milagre divino.
A notĂcia de que eu podia usar magia de cura logo se espalhou pela vila. Ou melhor, meu avĂŽ, o chefe da vila, se encarregou de espalhĂĄ-la alegremente.
Segundo meu pai, quando meu avÎ descobriu que a mãe de Zack, sua filha, conseguia usar magia, ele também se gabou disso por toda a vila.
Por causa disso, os aldeÔes começaram a vir até mim para curar pequenos ferimentos. Era uma boa pråtica para a magia de cura, então também fiquei agradecido por isso.
No entanto, como o sacerdote havia dito, logo alcancei meu limite. SĂł conseguia usar magia de cura bĂĄsica e nĂŁo conseguia invocar milagres maiores de Deus.
Para ser honesto, aquilo parecia completamente inĂștil, entĂŁo decidi estudar magia de ataque.
Havia outro motivo para eu querer aprender magia de ataque; achei que seria inĂștil para Zack continuar tentando aprender mais sobre a magia de cura. Como a mĂŁe dele era uma maga, achei que seria melhor ensinĂĄ-lo magia de ataque.
Quando falei com Zack sobre isso, ele respondeu: â Tudo bem, se o Ares diz, faremos juntos.
Ele parecia um pouco relutante em desistir da magia de cura, mas começamos a estudar juntos para aprender magia de ataque. Tivemos que começar aprendendo a lĂngua antiga para poder ler os livros de magia.
LĂamos e estudĂĄvamos arduamente juntos, usando os livros que a mĂŁe de Zack havia deixado.
A notĂcia de que estĂĄvamos estudando magia de ataque logo se espalhou pela vila. EntĂŁo, nossos amigos vieram querendo estudar conosco tambĂ©m.
Eles simplesmente pensavam: âPessoas que sabem usar magia se tornam importantes.â Mas, como eles nem sabiam ler ou escrever, tiveram que começar por aĂ.
Ter que aprender a ler e escrever, depois a lĂngua antiga, e entĂŁo os livros de magia; o longo caminho pela frente fez com que nossos amigos logo desistissem e desaparecessem.
Estudar magia levou muito tempo. Era difĂcil de entender, e sĂł podĂamos fazer isso entre as tarefas domĂ©sticas e o treinamento com espadas, entĂŁo o progresso foi lento.
No final, consegui lançar meu primeiro feitiço aos doze anos. Levei mais de cinco anos. Sem Zack estudando comigo, eu nunca teria conseguido continuar. No entanto, Zack não conseguiu dominar a magia de ataque.
Por volta dessa Ă©poca, o exĂ©rcito do Rei DemĂŽnio começou a invadir novamente. O nĂșmero de demĂŽnios aumentou, e suas atividades ficaram mais intensas. Na vila, formou-se um grupo de autodefesa, e os aldeĂ”es começaram a treinar com armas.
NĂłs tambĂ©m participamos, mas, como jĂĄ treinĂĄvamos com espadas hĂĄ algum tempo, eu era muito mais forte que os adultos. Ăs vezes, atĂ© comecei a derrotar demĂŽnios que apareciam perto da vila.
Com o passar do tempo, sendo capaz de usar tanto a espada quanto magia de cura e ataque, comecei a ser tratado como um gĂȘnio. Meu avĂŽ proclamava em voz alta: â Esta criança pode ser o herĂłi!
Mas eu não pensava assim. Eu conhecia os pais de Zack. Eu era inferior com a espada em comparação ao pai de Zack, minha magia de ataque não chegava perto da da mãe de Zack, e minha magia de cura não era nada comparada à do sacerdote da vila.
Em outras palavras, tudo em mim era medĂocre. Eu nĂŁo tinha a menor ideia de como poderia derrotar o Rei DemĂŽnio desse jeito.
Foi entĂŁo que um evento desesperador aconteceu.
Um profeta apareceu na vila.
â O herĂłi que salvarĂĄ o mundo surgirĂĄ desta vila.
Diante de muitos aldeÔes, o profeta fez essa declaração.
Os aldeÔes se voltaram para mim, como um só.
Parem com isso! NĂŁo me olhem assim!
Eu queria gritar. NĂŁo hĂĄ como eu derrotar o Rei DemĂŽnio. Meu corpo tremia, minhas pernas pareciam fracas.
Olhei para Zack ao meu lado, buscando ajuda. Mas ele estava olhando fixamente para o profeta.
Ao contrårio de todos os outros que esperavam algo de alguém, Zack parecia estar tentando encontrar a possibilidade de ser o herói dentro de si. Pensando bem, mesmo sendo pior com a espada e a magia do que eu, ele nunca desistiu de si mesmo, nem uma vez.
Vendo-o daquele jeito, consegui recuperar minha compostura.
No fim, fui celebrado como o herĂłi, mas aceitei isso em silĂȘncio.
ApĂłs consultar meus pais, decidi ir para a capital e me inscrever na Academia Pharme. Felizmente, apenas meus pais estavam pensando com clareza e entendiam que eu ainda nĂŁo era um herĂłi capaz de derrotar o Rei DemĂŽnio de imediato. Na verdade, eles duvidavam que eu fosse mesmo o herĂłi, mas o clima na vila era tal que nĂŁo podiam dizer isso aos aldeĂ”es. Meu avĂŽ, o chefe da vila, jĂĄ havia começado a celebrar, dizendo: â Ares realmente era o herĂłi!
A partir daquele dia, parei de ajudar nas tarefas domésticas e me dediquei completamente ao treinamento especial com a espada e a magia. Eu liderava os combates contra os demÎnios também. Estava desesperado.
Eu estava muito inseguro, mas Zack sempre estava ao meu lado.
Não importa quantas vezes eu falhasse, ele continuava se esforçando junto comigo.
Acho que fui encorajado esse tempo todo ao vĂȘ-lo agir assim.
Eu nĂŁo sei se sou realmente o herĂłi ou nĂŁo.
Mas parece que o que Ă© necessĂĄrio para ser um herĂłi nĂŁo Ă© habilidade com a espada ou com magia.
De alguma forma, senti que Zack era mais adequado para ser o herĂłi.
Fragmento 3
No fim, Ares foi salvo de alguma forma.
Graças à morte do demÎnio, o ferimento em seu pescoço não era tão grave quanto eu pensava, e se fechou com um feitiço de cura.
No entanto, a ferida apenas se fechou, nĂŁo cicatrizou completamente. A ĂĄrea ao redor do lado esquerdo do pescoço de Ares estava roxa e tinha uma aparĂȘncia horrĂvel. AlĂ©m disso, ele tinha usado toda sua mana para curar o ferimento no pescoço, e nĂŁo conseguia nem se levantar sozinho devido Ă dor e Ă exaustĂŁo de mana.
O ferimento no abdÎmen era raso, mas não mostrava sinais de fechamento. Apliquei primeiros socorros emergenciais envolvendo-o com um pano, mas o sangue estava encharcando o tecido. Era um ferimento que deveria ser facilmente curado com magia de cura båsica, mas Ares não tinha nem força para isso agora.
Ares estĂĄ em perigo desse jeito
Não apenas o ferimento no pescoço, mas a lesão abdominal também poderia ser fatal. Minimizei nossa bagagem e ofereci meu ombro para Ares se apoiar enquanto caminhåvamos.
Encontrei e peguei a espada que Ares havia jogado fora; ele implorou desesperadamente para que eu a levasse junto.
â DesculpaâŠ
Ares, com o rosto pĂĄlido, pediu desculpas.
â NĂŁo se preocupe com isso. Agora estou tentando salvar o herĂłi que vai salvar o mundo. Isso me faz um herĂłi e tanto, nĂŁo acha?
Tentei brincar e suavizar a situação, mas o peso de nossos passos era inevitĂĄvel. Nosso ritmo era menos da metade da velocidade normal de caminhada. A esse ritmo, era impossĂvel saber quando chegarĂamos a alguma habitação humana, quanto mais sair dessa floresta.
A condição de Ares piorou com o passar do tempo.
Ou o ferimento no abdĂŽmen piorou, ou ele desenvolveu uma febre altaâem todo caso, ele nĂŁo conseguia mais andar.
Joguei fora a maior parte da bagagem e carreguei Ares nas costas.
Carregar outra pessoa do meu tamanho nas costas era difĂcil. Minha força se esgotava rapidamente.
Caminhei enquanto o carregava, mas logo precisei fazer uma pausa. A esse ritmo, nem em um mĂȘs conseguirĂamos chegar a algum lugar habitado, muito menos sair da floresta.
Enquanto descansava, recitei a magia de cura que aprendi com o sacerdote da vila para Ares. Como nunca havia conseguido realizĂĄ-la antes, como esperado, nenhum milagre divino ocorreu.
Por favor, sĂł desta vez! Cure os ferimentos de Ares!
Rezei desesperadamente a Deus, implorando, mas minhas oraçÔes não chegaram a Ele.
Pensando que Ares poderia morrer por causa daqueles ferimentos, me arrependi de nĂŁo ter me esforçado mais para aprender magia de cura. Fiquei em lĂĄgrimas por causa da minha prĂłpria impotĂȘncia.
Como Ares mal conseguia manter os olhos abertos, ele nĂŁo me viu chorar.
Carrego Ares nas costas. Mas não fazemos nenhum progresso. Estamos piores do que ontem. Não é só o meu corpo que estå mal. Além da fadiga e da fome, o pior de tudo é que não temos mais ågua. Não hå ågua para beber, nem para lavar o ferimento abdominal de Ares.
NĂŁo havia sinais de um rio ou nascente por perto, e a floresta era acidentada demais para eu me aventurar mais a fundo. Eu devia ter sabido o quĂŁo preciosa Ă© a ĂĄgua. Mas a ĂĄgua que tĂnhamos foi quase toda usada ontem para lavar os ferimentos de Ares, e agora nĂŁo havia mais nada.
â Ăgua!
Tentei entoar o encantamento de magia de ĂĄgua que Ares e eu praticamos juntos no passado, mas como eu nunca consegui fazer isso funcionar, nada aconteceu. Ares teria conseguido produzir ĂĄgua facilmente com magia.
Por que nĂŁo fui eu quem se machucou?
Por que não consigo lançar nem mesmo uma magia simples?
âĂ mais rĂĄpido tirar ĂĄgua de um poço.â
Foi o que meus amigos, que estudaram magia conosco, disseram quando viram Ares conjurar o feitiço de ågua pela primeira vez.
Talvez fosse verdade. No entanto, nĂŁo hĂĄ garantia de que sempre haverĂĄ um poço ou rio por perto. Muito menos durante uma jornada enfrentando demĂŽnios; Ă© difĂcil imaginar que teremos condiçÔes tĂŁo favorĂĄveis. E agora, eu estava percebendo isso profundamente com meu prĂłprio corpo.
A noite caiu, e eu nĂŁo conseguia enxergar nada ao meu redor. Rugidos de bestas ou demĂŽnios ecoavam de vĂĄrios lugares. Estava com medo. Eu queria fogo.
â Fogo!
Entoei o encantamento de magia de fogo, cujas palavras eu apenas conhecia, mas, claro, nada aconteceu.
Um cheiro ruim começou a emanar do corpo de Ares. Provavelmente, os ferimentos estavam começando a infeccionar. Eu estava com medo de remover o pano que cobria as feridas e confirmar isso. Se eu soubesse usar magia de fogo, poderia ter cauterizado o ferimento abdominal de Ares e fechado a ferida.
Para começar, eu nĂŁo coloquei um acendedor de fogo na nossa bagagem. Achei que nĂŁo precisarĂamos de um, jĂĄ que Ares podia usar feitiços de fogo. Mas estar nessa situação realmente me fez perceber a importĂąncia do fogo. A escuridĂŁo da floresta, onde nem mesmo a luz das estrelas chega, parece um abismo, despertando um medo primitivo.
E o pior de tudo, estava frio. Ares tinha uma febre alta, mas apenas em partes do corpo, como a cabeça e ao redor dos ferimentos; seus dedos estavam gelados e sem vida. Nos aconchegarmos juntos não adiantava nada para nos aquecer.
Eu queria poder usar magia para criar ao menos uma pequena chama.
Se eu tiver outra chance, com certeza vou aprender magia
Tremendo de medo na escuridão, fiz esse juramento em meu coração.
A manhã chegou. Não consegui dormir nada. Ares estava delirando a noite inteira. Seu rosto estava completamente sem cor, praticamente sem vida. Eu mesmo não descansei nada e não tinha mais forças ou força de vontade para carregar Ares e continuar andando.
â O que eu devo fazerâŠ? O que eu façoâŠ?
Em desespero, acabei deixando escapar essas palavras.
â Me mateâŠ
Ares gemeu.
â Eu estou acabado. Se continuar assim, Zack, vocĂȘ tambĂ©m vai se ferrar. E eu estou sofrendo demais. Ă aterrorizante sentir meu corpo apodrecendo. Por favor, Zack, me mate com a minha espada.

Com a voz quase apagada, Ares falou.
â NĂŁo hĂĄ como eu fazer isso! VocĂȘ Ă© meu irmĂŁo, meu melhor amigo, sempre estivemos juntos! NĂŁo hĂĄ como eu fazer algo assim!
Ares e eu crescemos como irmĂŁos. MatĂĄ-lo era inimaginĂĄvel, algo que eu nĂŁo conseguia nem considerar.
â Ă por isso⊠vocĂȘ deveria entender como me sinto agora. Zack, vocĂȘ nĂŁo tem outra escolha a nĂŁo ser seguir em frente sem mim. Mas se vocĂȘ me deixar aqui, vou ser devorado vivo por insetos e feras. EntĂŁo, por favor, me deixe morrer. E siga em frente sozinho.
Os olhos de Ares estavam fechados. Ele apenas distorcia o rosto, como se estivesse suportando a dor.
â O que eu vou fazer sozinho na capital? VocĂȘ Ă© o herĂłi, nĂŁo Ă©? Se o herĂłi morrer, o mundo estĂĄ perdido!
â Mas a verdade é⊠eu nunca fui o herĂłi. O profeta apenas disse que âaquele que salvarĂĄ o mundo virĂĄ desta vilaâ. Ele nunca disse nada sobre mim. E quando ouvi as palavras do profeta, por alguma razĂŁo, imaginei nĂŁo a mim, mas vocĂȘ, Zack.
â Isso nĂŁo pode ser verdade! Eu nem consigo usar magia! Se eu soubesse usar magia, eu teria curado seus ferimentos! E nem sou tĂŁo bom com a espadaâŠ
Eu desabei em lĂĄgrimas.
â Eu tambĂ©m nĂŁo entendo bem por quĂȘ, mas foi assim que me senti.
O rosto de Ares se contorceu de tanta dor.
â Ahhh⊠meu corpo inteiro dĂłi, como se estivesse sendo apunhalado. Estou sofrendo. Por favor, Zack, acabe logo com isso.
Eu podia ver que Ares estava realmente em agonia.
Percebi que precisava fazer o que era necessĂĄrio.
Chorando, eu saquei minha espada.
Coloquei a ponta no peito de Ares, que estava deitado no chĂŁo.
Com os olhos fechados, Ares fez uma expressão sorridente. Ele estava em dor, mas forçando um sorriso.
Ele estava fazendo isso por minha causa.
Minhas mĂŁos tremiam. ApĂłs um breve momento, quando o rosto de Ares se distorceu de novo em agonia, eu empurrei a espada em seu peito.
ApĂłs um impacto, a espada foi sugada para dentro do peito de Ares.
A boca de Ares se moveu levemente. Uma palavra final suave demais para ser ouvida.
â MĂŁe.
***
Oito anos se passaram desde entĂŁo.
Essa floresta nĂŁo mudou nada. As ĂĄrvores gigantescas que cobrem o cĂ©u, a sensação vaga de inquietação que essa atmosfera evocaânada mudou.
Apesar de termos derrotado o Rei DemÎnio, ainda hå muitos demÎnios, não hå viajantes, e as estradas pela floresta estão cobertas de vegetação.
Confiando em minhas vagas memĂłrias, procurei o lugar onde deixei o corpo de Ares, mas nĂŁo consegui encontrar.
Eu nĂŁo tinha força nem vontade para cavar a terra e enterrĂĄ-lo. Apenas cobri o corpo dele de forma desleixada com um manto para escondĂȘ-lo, entĂŁo, mesmo que eu me lembrasse do local exato, provavelmente nĂŁo restaria nada agora.
â O que vocĂȘ estĂĄ fazendo, Ares? NĂŁo Ă© hora de ficar vagando por aĂ. Vamos voltar logo para a capital e fazer o relatĂłrio sobre a derrota do Rei DemĂŽnio. Ouvi dizer que ainda restam muitos servos, e precisamos de sua força.
Leon me chamou enquanto eu vagava para fora da estrada e entrava na floresta.
Ele estava com pressa para voltar. Como o prĂłximo chefe de uma famĂlia nobre, ele alcançou grandes feitos. Ele deve estar ansioso para relatar orgulhosamente no palĂĄcio real. Isso Ă© natural.
Se Maria e Solon voltarem, eles também garantirão status.
â Leon, Maria, Solon. Esta Ă© uma despedida. Digam a todos que o herĂłi Ares morreu.
Minhas palavras fizeram os trĂȘs arregalarem os olhos.
â Que bobagem Ă© essa que vocĂȘ estĂĄ dizendo, Ares? NĂłs finalmente derrotamos o Rei DemĂŽnio, nĂŁo foi? Vamos voltar juntos! Depois vocĂȘ pode se casar com a princesa e se tornar rei! Se vocĂȘ se tornar rei, ficarei feliz em servi-lo!
Leon fez uma pausa por um momento, depois continuou, ponderando.
â EstĂĄ, por acaso, inseguro em se tornar rei? Ă verdade que, mesmo sendo um herĂłi, pode haver nobres que se oponham Ă ideia de um plebeu ascendendo ao trono. Mas, se for o caso, estou aqui para apoiĂĄ-lo! A famĂlia do conde o respaldarĂĄ com todas as forças. NĂŁo deixaremos ninguĂ©m levantar objeçÔes.
Quando nos conhecemos, Leon sĂł tinha insultos para mim, um plebeu de nascimento humilde, vangloriando-se de que âEu serei o herĂłi e o prĂłximo rei!â
Comparado Ă quela Ă©poca, ele mudou bastante. NĂŁo, seu nĂșcleo nĂŁo mudou.
Leon sempre foi altruĂsta, considerando sinceramente o bem do paĂsâele era um nobre e cavaleiro de alta integridade moral.
â Isso mesmo, Ares. Tornar-se rei Ă© mais uma provação para o herĂłi. Desistir agora nĂŁo combina nada com vocĂȘ.
Maria sorriu gentilmente.
â Uma vez que eu controlar a igreja, governaremos juntos.
âŠas palavras dela foram mais gentis do que o conteĂșdo.
â Ares, por quĂȘ? Nos diga sua razĂŁo.
Solon me questionou calmamente.
â Desculpem, eu nĂŁo sou Ares. Na verdade, nunca fui o herĂłi.
Eu finalmente consegui dizer o que sempre quis.
â O que vocĂȘ estĂĄ dizendo? Se vocĂȘ nĂŁo Ă© Ares, entĂŁo quem Ă© vocĂȘ?
Leon parecia confuso.
â Sou Zack. Zack Ă© meu verdadeiro nome. Sinto muito por ter enganado vocĂȘs atĂ© agora.
Eu abaixei a cabeça para os trĂȘs.
â Zack? Por que vocĂȘ usou um nome falso?
Solon continuou questionando.
â Porque Ares era o nome do verdadeiro herĂłi.
EntĂŁo, comecei a contar sobre o passado. Como o profeta apareceu em nossa vila natal e eu parti na jornada como companheiro de Ares. Como fomos atacados por um demĂŽnio no caminho, Ares foi ferido, e eu dei o golpe final. E como fui sozinho para a capital, entrei na academiaâŠ
â Derrotou um demĂŽnio aos catorze anos? NĂŁo acredito que alguĂ©m assim existiu⊠â Leon estava impressionado com o valor de Ares.
De fato, Ares era extraordinĂĄrio. Realizar tanto aos catorze anos era incrĂvel. Se ele tivesse continuado vivo, talvez pudesse ter derrotado o Rei DemĂŽnio muito antes.
â Entendi a histĂłria de Ares, mas por que vocĂȘ precisou assumir esse nome? â Solon se encostou em uma ĂĄrvore prĂłxima, como se soubesse que a conversa seria longa.
â Porque eu matei o herĂłi. EntĂŁo, tive que assumir a responsabilidade de me tornar o herĂłi. Foi por isso.
Para assumir a responsabilidade de matar o herĂłi, eu fui tĂŁo longe.
â Ares morreu por causa do demĂŽnio. NĂŁo foi sua culpa. â Maria disse.
â NĂŁo, Ares morreu por minha causa. Eu ainda sinto a sensação de cravar a espada em Ares com minhas prĂłprias mĂŁos. AlĂ©m disso, eu nĂŁo derrotei o Rei DemĂŽnio como Zack. Eu o derrotei como Ares. Se eu tivesse permanecido como Zack, de jeito nenhum teria conseguido.
â Mas Ares jĂĄ estĂĄ morto, nĂŁo estĂĄ? â Solon cruzou os braços e começou a tamborilar os dedos, frustrado.
â A mĂŁe de Ares⊠a mulher que me criou, Shera, Ă© uma pessoa muito bondosa. Eu nĂŁo posso contar a ela que âAres morreu sem se tornar um herĂłiâ. A verdade Ă© que ela nem queria que Ares se tornasse um herĂłi. Ă por isso que atribuĂ todas as conquistas a Ares, e agora estou indo embora.
â VocĂȘ vai simplesmente deixar todo o crĂ©dito que deveria ter sido de Ares e partir?
Eu podia sentir a raiva nas palavras de Solon.
â Esse crĂ©dito sempre pertenceu a Ares desde o inĂcio.
â VocĂȘ Ă© idiota, Ă©? â Solon finalmente começou a elevar a voz. Ele sempre foi um cara de pavio curto e boca suja.
â VocĂȘ Ă© o herĂłi! Ares caiu no meio da jornada! Isso Ă© a verdade! AlĂ©m disso, eu tambĂ©m conheço as palavras do profeta. âO herĂłi que salvarĂĄ o mundo desta vila aparecerĂĄ.â Isso nĂŁo se referia necessariamente a Ares. Desde o começo, vocĂȘ era o herĂłi!
Sendo um såbio, a observação de Solon estava correta. Eu sabia disso também.
â Eu sou sĂł uma pessoa comum, que nĂŁo sabia usar uma espada ou magia. Eu nĂŁo sou adequado para ser um herĂłi. AlĂ©m disso, para mim, Ares Ă© o verdadeiro herĂłi.
Sim, eu nĂŁo era digno de ser um herĂłi. Eu estava apenas perseguindo a sombra de Ares esse tempo todo.
â Sim, vocĂȘ Ă© sĂł uma pessoa comum! Provavelmente o menos talentoso da academia! E foi vocĂȘ quem derrotou o Rei DemĂŽnio! NĂłs sabemos o quanto vocĂȘ se esforçou, os sacrifĂcios que fez, as noites sem dormir, a busca incansĂĄvel por progresso, mesmo quando nĂŁo era suficiente. Certamente, vocĂȘ pode nĂŁo ter tido as qualidades de um herĂłi. Mas vocĂȘ salvou o mundo! Eu nĂŁo reconhecerei ninguĂ©m alĂ©m de vocĂȘ como o herĂłi.
Solon, com o rosto coberto pelo capuz, disse. Apesar do tom forte, suas palavras foram gentis.
â Obrigado, Solon. SĂł de ouvir vocĂȘ dizer isso, jĂĄ me sinto mais que satisfeito.
Meus esforços, que eu achava que nunca seriam recompensados, finalmente deram frutos, e eu tinha trĂȘs amigos que os reconheciam. Isso jĂĄ era o suficiente para mim.
â VocĂȘ realmente vai partir, Ares⊠digo, Zack?
Maria, sem a habitual fachada de santa, mas demonstrando seus verdadeiros sentimentos, parecia genuinamente preocupada comigo.
â NĂŁo vĂĄ, Zack. Estou pedindo que fique. Recusar meu desejo seria uma blasfĂȘmia contra Deus.
â Obrigado, Maria.
O verdadeiro rosto de Maria, que raramente ela mostrava, era indiscutivelmente o mais belo do mundo.
â Se vocĂȘ continuar dizendo isso, minha resolução pode enfraquecer. Mas eu preciso ir. Se eu continuar nesse caminho, mais cedo ou mais tarde, alguĂ©m vai descobrir que estou vivo. Quero evitar isso a todo custo. Eu tinha planejado me despedir um pouco antes, mas quis continuar viajando com todos vocĂȘs pelo mĂĄximo de tempo possĂvel.
Tinha sido uma jornada difĂcil e desafiadora, mas os dias com meus companheiros eram memĂłrias preciosas.
â Para onde vocĂȘ pretende ir? â Leon perguntou.
â Primeiro, vou voltar para a vila, relatar que Ares derrotou o Rei DemĂŽnio, e devolver esta espada aos pais de Ares. Depois disso, eu vou deixar este paĂs e embarcar em uma nova jornada.
Eu planejava encontrar Shera pela Ășltima vez e deixar este paĂs. Se eu ficasse, meu segredo poderia ser revelado algum dia.
â Sua Majestade, o Rei, ainda nĂŁo estĂĄ em uma idade em que precisemos correr para escolher o prĂłximo rei. Volte quando quiser. Ficarei feliz em recebĂȘ-lo.
â Obrigado, Leon. Acredito que vocĂȘ poderia ser um grande rei.
â Com certeza.
Leon deu uma risada.
â Sou um homem digno de ser rei. Mas nĂŁo caĂ tanto a ponto de aceitar o crĂ©dito que deveria ter sido seu.
Ele era, de fato, um homem honrado. Era uma pena que ele não tivesse intenção de se tornar rei.
â EntĂŁo, estou indo.
Virei as costas para meus amigos.
â Espere. â Solon falou.
â O que sou para vocĂȘ? Ou melhor, o que euâŠ?
Ele hesitou por um momento.
â VocĂȘ Ă© meu melhor amigo, Ă© claro.
TĂnhamos sido amigos por muito tempo, desde os dias na academia, compartilhando alegrias e tristezas. NĂŁo havia outra palavra que se encaixasse melhor.
â Entendo. VocĂȘ continua atrevido como sempre, chamando um gĂȘnio como eu de seu melhor amigo.
Solon esboçou um leve sorriso.
â Isso Ă© bom, Solon. VocĂȘ nunca teve amigos desde que era criança, nĂ©?
Maria o provocou. Solon respondeu com um olhar de reprovação.
â Eu vou te encontrar, onde quer que vocĂȘ vĂĄ, e vou te trazer de volta. VocĂȘ Ă© meu amigo. â Ele disse.
Tradução: ParupiroHPara estas e outras obras, visite o Cantinho do ParupiroH â Clicando Aqui
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