Nageki no Bourei wa Intai shitai | Let This Grieving Soul Retire Volume 04 – Capítulo 7 [História Paralela: Os Primeiros Passos de Tino Shade]
Para nós, da Grieving Souls, Tino Shade era alguém um tanto especial.
Chegamos à capital por volta dos quinze anos. Essa era a idade em que éramos considerados adultos. Decidimos que esse seria o marco inicial de nossas carreiras como caçadores.
No entanto, na terra sagrada da caça ao tesouro, havia muitos caçadores que ainda nem haviam chegado à idade adulta. Era parte da cultura da capital. Havia aqueles que foram criados desde cedo para serem caçadores e começaram a treinar antes mesmo de sonharmos com isso. Nós treinamos apenas um pouco em nossa cidade natal antes de vir para cá. Quando chegamos, descobrimos que tínhamos rivais tanto mais velhos quanto mais novos do que nós.
No começo, mal tínhamos tempo para pensar em qualquer um além de nós mesmos. Todos do nosso grupo estavam lutando desesperadamente para ficar mais fortes, e eu me esforçava mais do que nunca para evitar a morte certa.
Tino foi a primeira jovem caçadora com quem fizemos amizade. Não lembro muito bem de nosso primeiro encontro, mas acho que a resgatamos de alguns desafiantes indesejados. Naquela época, Liz e os outros sempre partiam para a briga sem hesitar, então estavam sempre se metendo em confusões.
Inicialmente, Tino era apenas uma conhecida que encontrávamos ocasionalmente. Às vezes, esbarrávamos com ela depois de nossas aventuras e contávamos algumas histórias sobre nossas façanhas. Lembro-me de ter ficado surpreso quando, de repente, ela declarou que queria se tornar uma caçadora.
Tentei impedi-la. Tentei com todas as minhas forças. Para mim, ela representava a normalidade. Mas sua decisão já estava tomada. Então, ela me perguntou como se tornar uma excelente caçadora.
Para ser franco, eu não acreditava nem por um segundo que ela tinha o necessário para prosperar como caçadora. Mas eu tinha uma responsabilidade. Da mesma forma que havíamos sido inspirados pelas histórias contadas pelos caçadores que passavam por nossa cidade natal, nós a inspiramos. Era culpa nossa que ela quisesse seguir esse caminho.
Fiz de Tino a aprendiz de Liz para que ela ficasse mais forte, para que Liz aprendesse algumas habilidades sociais e, com sorte, para que Tino desistisse antes de acabar morta. Não há nada mais difícil do que tentar ser um caçador quando você simplesmente não nasceu para isso. Liz, claro, não era do tipo que sabia ensinar. Ela só sabia como ficar mais forte sendo a primeira a ignorar seus próprios ferimentos e se lançar de cabeça no perigo.
Pode parecer cruel, mas eu esperava que Tino desistisse imediatamente. Em vez disso, ela sobreviveu ao treinamento brutal de Liz. Superou-me rapidamente e se tornou uma caçadora solo ativa.
Em certo momento, desisti de convencê-la a parar. Se eu continuava sendo um caçador apesar da minha total incompetência, não fazia sentido tentar convencer alguém com talento a desistir.
Sentado na carruagem, percebi o quanto isso já fazia tempo. Cinco anos se passaram mais rápido do que Liz poderia lançar uma pedra, mas tudo parecia tão distante.
Enquanto viajávamos, olhei para o rosto sereno da minha jovem companheira adormecida.
— Você realmente ficou forte, Tino — sussurrei. — Não acredito que já foi a Pequena Tino.
A máscara, sem dúvida, permitiu que ela enfrentasse Arnold, mas sua própria força fez a diferença. Eu não teria conseguido lutar contra Arnold, nem mesmo com a máscara.
Foi então que Sitri disse algo completamente inesperado.
— De fato. Hmmm, no entanto, se esse for o máximo que ela consegue apesar de todo o treinamento que recebeu, acho que talvez fosse melhor desistir.
— Hã?
Com a cabeça ainda no meu colo, Tino se contraiu levemente.
***
Ela está certa, Mestre, Tino pensou, fingindo estar dormindo.
Era uma lembrança antiga, uma que ela preferia esquecer. Um tempo em que ainda era apenas a Pequena Tino.
— Hã? Você quer que eu treine a Tino? Mas, Krai Baby, você sabe que eu não entendo nada de... contenção? — disse Liz.
Tino adorava seu mestre (embora, naquela época, eles tivessem acabado de formar o clã, então ele ainda não era chamado de Mestre). Ele a havia salvo dezenas de vezes, e seu nome era o primeiro que vinha à mente quando perguntavam se ela admirava algum caçador. Aproveitava todas as oportunidades para falar dele e queria vê-lo todos os dias.
Ele era um deus, mas um deus feroz e exigente. Naquela época, Lizzy não estava exatamente animada com a ideia de aceitar uma aprendiz. E Tino ainda se via presa à incerteza e às expectativas de entrar em um mundo novo.
— Não precisa pegar leve — disse o Mestre com seu habitual sorriso inofensivo. — A determinação de Tino é genuína. Só certifique-se de que ela não morra.
— Eu realmente não sou qualificada para ensinar ninguém, sabe?
— Acho que sempre há algo a se ganhar ensinando.
— Hmmm. Mas acho que ela pode realmente morrer se eu não pegar leve. Tipo, Tino nem tem tanto mana material assim.
Tino costumava imaginar caçadores de tesouros como figuras ao mesmo tempo divertidas e rigorosas, e suas experiências até então haviam confirmado essa visão. Mas bastou um dia ao lado de seu mestre para que todas essas ilusões fossem destruídas.
— Bem, então por que não treiná-la em cofres de tesouro? Assim, ela também pode absorver mana material — ele disse, como se tivesse acabado de ter uma ideia brilhante.
— Isso é genial...
Em retrospecto, Tino tinha certeza de que Lizzy ficou ligeiramente chocada ao ouvir isso. E também percebeu que aquele era apenas o começo de seus dias repletos de desafios e alegrias.
O Mestre era um deus; ele não pertencia ao mundo dos mortais. Nenhum homem podia compreender o coração de um deus. Desde que foi colocada sob a tutela de Lizzy, Tino sempre sentiu que poderia morrer a qualquer momento. Os caçadores eram feitos de algo diferente dos seres humanos normais. Os métodos de ensino de Liz eram um tanto... peculiares. Mas demoraria um tempo até que Tino percebesse isso.
Ela nunca teve tempo de sobra para pensar, guardar rancor ou ter arrependimentos. Era um milagre que tivesse sobrevivido aos seus treinos. Grieving Souls tinha um curandeiro excepcional chamado Ansem, então consideravam qualquer ferimento ou lesão apenas mais uma coisa a ser consertada. Na verdade, alguns até achavam conveniente que mais ferimentos dessem a Ansem mais chances de aprimorar suas habilidades.
Todos os dias, seu mestre dizia com uma voz gentil:
— Caça ao tesouro não é só diversão e jogos. Há caminhos mais seguros e agradáveis à sua disposição. Fique à vontade para desistir quando quiser.
Com certeza, ele dizia isso por pena. Se ela tivesse cedido à tentação e concordado, provavelmente estaria vivendo em paz, e não como uma caçadora.
Dito isso, ela só queria uma coisa: que seu mestre não pegasse tão pesado com ela.
Mantendo os olhos bem fechados, Tino ouviu Siddy e seu mestre conversando.
— Hã? Eu fiz alguma coisa? — ele disse.
Siddy permaneceu em silêncio.
— Não, não, foi a Liz que a treinou. Eu não fiz nada!
O treinamento de Lizzy tinha sido brutal, mas Tino acreditava que sua mentora pelo menos tomava cuidados para garantir que ela não morresse. Não era divertido, nem de longe, e isso não mudou com o tempo. Ainda assim, Tino era grata à sua mentora e nunca a odiou. Provavelmente.
Como uma pessoa comum que nunca foi muito ativa, o treinamento de Lizzy foi transformador para Tino. O mana material que ela absorvia e seu treinamento moldaram seu corpo de forma ideal para uma Ladina. Ela também teve todo o conhecimento essencial enfiado em sua cabeça. Qualquer erro durante o treinamento prático significava mais dor e hematomas.
Dia e noite, ela se dedicava a se tornar uma caçadora. Às vezes, Lizzy não estava por perto, mas isso apenas significava que Tino treinaria sozinha nesses dias. Faltar era impensável.
Depois de meio ano, isso mudou.
Um dia, após terminar seu treinamento, seu mestre veio falar com ela. Ele sempre fazia isso.
— Hã? Você não tira folga, Tino? — ele disse. — Isso não é bom. Treinar bastante é bom, mas também é importante pegar leve. É uma questão de equilíbrio. Você devia descansar pelo menos uma vez por semana.
Tino se lembrava nitidamente da confusão que sentiu ao ouvir aquilo. Como poderia se tornar uma boa caçadora tirando folgas?
Olhando para trás, o treinamento interminável quase a quebrou. Ao chegar tão longe, ela mostrou ao seu mestre o quão determinada era, o que apenas trouxe uma nova fase do treinamento. Agora, combate real fazia parte da sua rotina. Não era mais treinamento com combate, era puro e simples combate.
Se ela começou como Pequena Tino, agora tinha ascendido a Média Tino. Passaria menos tempo treinando, mas não esperava que seus dias ficassem mais fáceis. Seu mestre provavelmente apenas viu retornos decrescentes após tantas horas de treinamento.
Ele havia dito que também era importante pegar leve e cumpriu isso trazendo um pouco de "cor" à sua vida cinza. De fato, cor. Ele claramente tinha boas intenções, mas qualquer observador externo veria aquilo como pura maldade.
A esperança é o que aprofunda o desespero. Sentimos tensão porque sabemos o que é relaxar. A cor que foi adicionada à vida de Tino tanto acalmava seu corpo e alma quanto lhe ensinava o que era necessário para ser uma caçadora. Seu mestre adorava dar esperança às pessoas antes de destruí-la. Provavelmente era a forma dele de ajudá-las a crescer. Tino não se importava se ele erguesse suas esperanças até o céu, mas aquele não era o caminho de um deus.
Isso aconteceu no seu primeiro dia de folga, um dia inesquecível. Ela não sabia o que fazer com sua primeira pausa em tanto tempo, mas seu mestre a convidou para comer doces. Sentindo-se como se estivesse em um sonho, ela o acompanhou. Então, foi sequestrada.
Tino mais tarde descobriu que o culpado era um criminoso temível que estava espalhando o caos pela capital. Ela havia se dedicado ao treinamento, mas apenas por seis meses, e ainda nem era adulta; não tinha esperança alguma de vencer contra um profissional. Se Siddy não tivesse seguido os dois, algo terrível poderia ter acontecido com Tino.
Sim, ela errou ao baixar a guarda, deveria ter ficado atenta, mas quem poderia prever ser sequestrada durante um encontro? Contudo, isso foi apenas o prelúdio da sua longa jornada rumo à grandeza. Média Tino aprendeu a lição importante de que a complacência mata.
Lizzy havia dito isso inúmeras vezes durante o treinamento, mas a verdadeira cautela só se aprende pela experiência. Tino se veria sendo atacada, emboscada e envenenada. Claro, às vezes nada acontecia. Isso era o que seu mestre queria dizer com a importância dos "altos e baixos", e ele deixou isso bem claro.
Quando se trata de memórias, qualidade supera quantidade. A maioria dos traumas desaparece; os humanos não sobreviveriam de outra forma. No entanto, memórias felizes não desaparecem tão rapidamente porque podem motivar os humanos a superarem dificuldades. Assim, Tino continuou aceitando praticamente qualquer convite que recebia de seu mestre. Ela se agarrava à esperança de criar uma boa memória.
Lizzy, aliás, aparentemente acreditava que até mesmo lutas e dificuldades se tornavam boas lembranças depois que você se acostumava. Tino não queria descobrir se isso era verdade.
— Tino é uma boa aluna, obediente, e não havia muito que eu pudesse ensinar a ela.
— Bem, Krai, isso é verdade.
Siddy havia superado sua exasperação e apenas concordava com Krai. Ela estava tentando agradá-lo. Se Lizzy estivesse presente, talvez dissesse algo, mas estava de guarda do lado de fora.
Porém, seu mestre estava certo, de certo modo. Ele não ensinou muito a Tino. Não era do tipo que instruía com palavras, mas sim que fazia seus pontos através de ações.
Tino naturalmente ficou mais forte com seu treinamento infernal e batalhas ferozes. A essa altura, o nome Grieving Souls já era bem conhecido. Ser discípula deles incitava outros caçadores de sua idade a desafiá-la, mas ela nunca perdeu. Sem perceber, tornou-se mais forte do que qualquer outro caçador de sua idade. Fazia sentido; quem mais havia sido forjado por um deus?
Tino acabou ficando um pouco convencida. Todo aquele treinamento tornava prazeroso usar sua força. Não era talento, mas camadas de esforço que a levaram até ali, então era impossível não desenvolver um pouco de orgulho. Claro, ela não ia se comparar ao seu mestre e sua mentora, pois ambos estavam muito além dela.
Então, um dia, seu mestre fez uma proposta.
— Você viria conosco até o próximo cofre do tesouro?
Isso nunca havia acontecido antes. Na época, seu mestre estava limpando cofres de nível cada vez mais alto em um ritmo acelerado. Incerta, Tino perguntou por que estava sendo convidada.
— Você ficou mais forte, acho que pode ser a hora de se juntar a nós — ele disse.
Que doces foram aquelas palavras. Tino concordou, não que tivesse escolha para começo de conversa.
Como esperado, ela foi jogada no inferno. O cofre do tesouro era um desafio até mesmo para Grieving Souls. Não havia nada que Tino pudesse fazer. Os outros caçadores estavam ocupados lutando e não tinham planos de protegê-la. No fim, ela gastou toda a sua energia correndo de um lado para o outro como uma barata.
Graças a essa experiência, Tino aprendeu o quão impotente ainda era e que não havia sentido em se comparar a caçadores mais fracos. Mas, mesmo assim, ela não conseguiu evitar de reclamar depois do ocorrido. Seu mestre parecia profundamente arrependido.
— Desculpe, eu tinha certeza de que você conseguiria lidar com aquele cofre do tesouro. Acho que calculei errado — ele disse.
Seu mestre era um deus, e um deus feroz.
— Mas errei feio dessa vez — Krai disse com significado. — Achei que ela fosse apenas uma novata, mas na verdade é uma caçadora de verdade.
Tino, de alguma forma, sentiu-se um pouco envergonhada com isso.
— Bem, ela já é uma adulta. Mas nem pense em tocar nela, ela é minha.
Tino quase não conseguiu segurar o impulso de se manifestar e contestar pertencer a Siddy.
Na verdade, Siddy não estava interessada em Tino, seus olhos estavam em Krai. Ela não estava preocupada com Tino sendo tomada, estava preocupada com Tino tomando Krai. Mas essa era uma diferença mínima para Siddy. Ela estava atenta a Tino, e Siddy não era alguém que se queria como inimiga.
Tino passou por todo tipo de provação, e tudo só piorou depois que começou a explorar cofres do tesouro.
Ela foi envenenada, atingida por raios, incendiada e teve seus membros arrancados. Tino aprendeu sobre a durabilidade do corpo humano. Aprendeu a resistir à dor e a superar o medo. Ela se tornou a Grande Tino. Seu mestre talvez ainda a visse como Média Tino, ou talvez até como Pequena Tino, mas ela queria acreditar que agora era a Grande Tino.
Seu treinamento ainda era exaustivo e ela ainda teve encontros próximos com a morte, mas agora sabia que isso não era suficiente. Para entrar em Grieving Souls, não bastava seguir seu regime de treinamento, ela precisava avançar. Precisava se colocar em perigo. Estava certa de que a grande diferença entre ela e Lizzy era a quantidade de provações que cada uma havia superado. Seu mestre, o deus que era, deu a Tino desafios para enfrentar. Mas Lizzy caminhava ao lado desse deus.
Tino teve que refletir. O Evolve Greed não apenas lhe deu um aumento temporário, mas mostrou o que era possível para ela. A Super Tino era o futuro que a aguardava. A Super Tino seria o fruto de seus esforços. Isso significava que seu esforço e determinação ainda não eram o bastante. Quão profundo era o mundo da caça ao tesouro!
Quando Tino decidiu se tornar uma caçadora, sentia apenas uma leve admiração pela profissão. Mesmo após todas as provações e tribulações que passou, essa admiração não diminuiu nem um pouco.
Um dia, ela seria a melhor caçadora. Então caminharia ao lado de seu mestre como uma igual. Ela faria qualquer coisa para alcançar esse objetivo. Não podia se permitir hesitar.
A propósito, o que “Pequena Tino” e “Super Tino” e esses outros nomes sequer significavam?
Tino fortaleceu sua determinação enquanto continuava fingindo dormir. Sentiu uma mão roçar em seu cabelo, fazendo seu coração disparar. Então, seu mestre disse algo alarmante.
— Oh, talvez seja hora de ela aprender a Sombra Sufocada? Ela talvez consiga vencer o Arnold se usar isso.
Tino congelou. A Sombra Sufocada era o nome de uma técnica de combate criada por um famoso Ladino. Ela permitia que alguém se movesse tão rápido que nem deixava sombra para trás. O problema era que a técnica era difícil e arriscada. Poucas pessoas a conheciam.
Lizzy detinha o título de mesmo nome porque aprendeu a técnica com seu mentor. A Sombra Sufocada era tão difícil que só aprendê-la já garantia um título. Mas também era uma técnica em que uma falha resultava em um coração rompido. O uso excessivo também podia levar à morte.
— Ela pode morrer — Siddy disse após um breve silêncio.
— Você está exagerando. Tino deve ficar bem. Ela pode estar em perigo se algo assim acontecer de novo. E, hã, talvez Ansem consiga dar um jeito se o mantivermos por perto?
Mestre, isso é demais, pensou Tino. Isso é absurdo. Nem mesmo Ansem pode curar um coração rompido.
Alheia ao terror silencioso de Tino, Siddy bateu palmas.
— Muito bem. Se você acha que está tudo certo, suponho que podemos tentar. Não se preocupe, pode ser uma pena perdê-la, mas não deixarei a morte da T ser em vão.
Siddy, tente um pouco mais, por favor.
Resignada ao seu destino, Tino abriu os olhos e lentamente se sentou.
Tradução: Carpeado
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