Seija Musou | The Great Cleric Vol 03
– Arco 4: O Curandeiro Que Mudou o Mundo –
Capítulo 06 [Lord Reinstar]
Meu colega e superior estava arrumando suas coisas.
— O senhor vai mesmo deixar a empresa?
— Bem, já fiz o que me propus a fazer. Mas ainda me preocupo com você.
Eu estava sonhando. Memórias que queria esquecer, mas nunca conseguiria.
— Vou ficar bem. Sempre dou um jeito no final.
Ele suspirou.
— É bom ser positivo, mas ouça, você sempre se joga nas coisas sem pensar direito. Às vezes, o que parece certo à primeira vista não é tão certo assim na segunda. Entende o que quero dizer? Não dá para negligenciar a preparação.
— Por favor, senhor, eu sei disso. Quando foi que eu já cometi um erro por descuido?
Meus números só cresciam, e meu ego não poderia estar mais inflado.
— Eu só queria que você entendesse que há pessoas ao seu redor que se importam com você, e que você tem sorte por isso. Alguém sempre esteve ao seu lado, te apoiando, e é por causa dessa pessoa que você chegou onde está. Você não é mais uma criança, então sei que é esperto o bastante para perceber isso.
— Alguém me apoiando? O senhor quer dizer no trabalho? Mas o próprio senhor disse: no mundo dos negócios, o que importa são os resultados.
— Sim. Sim, eu disse. — Ele fez uma pausa. — Só quero que se lembre de uma coisa, caso pretenda continuar aqui. "Negócios" não são tudo nesse trabalho. Abra os olhos para o que está ao seu redor, certo?
Eu o desprezava. Quem ele achava que era para se preocupar com o meu trabalho enquanto estava saindo do dele? Eu era tão ingênuo.
— Pelo ritmo que estou indo, é provável que eu tenha uma promoção no próximo trimestre. O senhor não precisa se preocupar comigo.
Eu era arrogante. Você é quem está indo embora. Se preocupe com você mesmo, pensei.
— Talvez um dia você veja a verdade. Quando isso acontecer, não perca tempo sentindo pena de si mesmo. Seja a melhor pessoa que puder ser. Tente isso, e acho que vai perceber que o mundo é um lugar mais gentil e menos solitário para se viver.
Nenhuma das palavras do meu colega fazia sentido para mim. Inclinei a cabeça enquanto ele deixava a sala e, no instante em que a porta se fechou, meus olhos se abriram.
Nenhum teto desconhecido, nenhum estranho na minha cama. Apenas o meu velho e simples quarto em uma manhã qualquer.
— Esse sonho não pode ser um bom presságio — murmurei. — Ou talvez tenha sido uma epifania. Sim, ser gentil com os outros, ser firme comigo mesmo e ser meticuloso. Deve ser isso.
Fazia muito tempo desde a última vez que eu sonhara com minha vida passada. A história de Grand, combinada com o puro cansaço, deve ter provocado isso. Eu tinha sido um subordinado terrível naquela época, mas agora não havia ninguém para testemunhar no que minhas lutas tinham me transformado. Finalmente entendia o que meu superior tentava me dizer—que eu havia vivido uma vida afortunada e que a vida que estava vivendo agora era igualmente sortuda. De Brod a Lumina e suas Valquírias, até todos em Merratoni, eu era realmente abençoado e precisava me esforçar se quisesse ser essa força positiva para os outros.
Dei tapinhas firmes no rosto para me despertar e comecei minha rotina matinal de alongamento e exercícios mágicos, enquanto pensava na noite anterior. Antes de me reunir com Jord e minha equipe preocupada, eu tinha assumido o papel de responsável sóbrio, enquanto os outros três se entregavam à bebedeira. Esse papel incluía, entre outras coisas, ouvir eles repetirem a mesma coisa um milhão de vezes. Embora provavelmente todos tivessem esquecido que revelaram seus segredos mais obscuros, só de lembrar já me dava dor de cabeça. Pelo menos, consegui algumas informações interessantes.
Ainda não acreditava que Catherine estava no nível 312 e, mesmo assim, nem ela conseguira superar o labirinto. Graças a Deus pela Substância X—e pelo fato de eu ter percebido cedo que ela estava na minha lista de pessoas com quem não se deve mexer. Ainda assim, segundo a própria Catherine, meu mestre era ainda mais forte que ela. E ela parecia absolutamente certa disso.
Quanto aos Pontos de Habilidade, o próprio número parecia ser de conhecimento comum, mas apenas aqueles reencarnados como eu tinham liberdade para gastar pontos em qualquer habilidade disponível. Pessoas normais não podiam usar os pontos para obter afinidade com magia, por exemplo, então gastar pontos para conseguir uma nova afinidade teria sido uma maneira certeira de revelar que eu era diferente.
Outra informação extremamente interessante que eu infelizmente absorvi foi que o Dragão da Terra dormia em uma mina perto de Rockford. Catherine, bêbada, acabou soltando algumas lendas sobre dragões, o que fez Grand e Trett enlouquecerem e me levou a falar um pouco mais do que deveria. Quando fui forçado a elaborar, peguei um mapa, e os dois artesãos apontaram para um certo local. Meu coração disparou. Naquele instante, sem sombra de dúvida, eu soube que ali era onde o Dragão Eterno dormia.
Eu ouvira seu pedido de socorro em minha mente, mas não podia responder. Só podia garantir que estava fazendo tudo ao meu alcance.
Consegui disfarçar meu comportamento estranho, mas não consegui afastar a sensação pesada que aquilo me deixou. Minha cabeça girava com a ansiedade de ter que encarar mais um labirinto.
Percebendo minha súbita depressão, Trett se ofereceu para fazer qualquer item mágico útil que eu quisesse assim que terminasse seus projetos atuais. Eu já queria um espelho há algum tempo, e ele concordou sem pensar duas vezes. Mas não seria um espelho qualquer. Seria um "espelho de transformação", um tipo de bolsa mágica simplificada que permitia vestir e remover roupas instantaneamente apenas tocando o espelho. Dava até para salvar conjuntos inteiros de roupa, incluindo armaduras (embora apenas dez de cada vez).
Como eu poderia continuar deprimido depois disso? As únicas duas desvantagens eram que, se o espelho quebrasse, todas as roupas armazenadas sairiam de uma vez, e que ele não podia guardar armas.
Catherine me chamou de menina por querer um espelho, mas eu não precisava da opinião dela. Armaduras eram pesadas, duras e um inferno para dormir. Eu só queria poder tirar tudo num piscar de olhos, tá bom?
O Trett bêbado realmente se esforçou por mim. Por mais caótica que aquela noite tenha sido, decidi que conhecer aqueles dois malucos tinha sido algo positivo.
Deixei esses pensamentos de lado (especialmente a parte sobre os dragões) e me lembrei de que precisava entregar uma carta para o Mestre na Guilda dos Aventureiros. Como não treinaria com as Valquírias naquela manhã, considerei arrastar comigo meus guardas e o Quinteto de Curandeiros.
Falando no quinteto... Que nome criativo, Jord.
Acho que eu, o sexto curandeiro, não fazia parte dessa equação, mas deixei de lado a pontada de isolamento por enquanto. Tudo que eu precisava deles era a determinação para aguentar o Substância X. Contanto que conseguissem lidar com isso, cresceriam como grupo e aprenderiam a se dar bem com os aventureiros. E ei, eu não era o vilão aqui. Jord é que começou com essa ideia de nomear sua pequena tropa de curandeiros e me deixar de fora.
Depois de terminar meus alongamentos, achei que seria uma boa ideia descer até o labirinto para ganhar mais alguns níveis, já que ir até a Guilda dos Aventureiros significava tomar Substância X. Deixei um bilhete para minha equipe e segui caminho.
Nada no labirinto havia mudado desde minha última visita, então o relatório que eu pretendia entregar para Sua Santidade continuava o mesmo. Os monstros ainda eram difíceis de encontrar, e aquela sensação estranha que tive no dia anterior ainda não tinha sumido. Normalmente, eu limparia minha mente treinando com Lumina, mas um certo par de velhos tornou isso complicado.
— Hora do treino!
Atravessei o labirinto num piscar de olhos, indo direto do décimo andar para o vigésimo. Algumas lutas contra os cavaleiros da morte finalmente ajudaram a organizar meus pensamentos. E então me dei conta: eu estava me tornando igual aos meus mestres... um lunático obcecado por batalhas.
Saí do labirinto desanimado e encontrei Jord me esperando do lado de fora.
— Bom dia, senhor. Sempre o madrugador.
— Bom dia. Só queria ativar a circulação um pouco. Aliás, obrigado por vir me encontrar todo dia.
— É um prazer servir. Mas espero que nem sempre seja na frente de um labirinto — disse ele, franzindo o nariz.
Percebi que talvez tivesse esquecido de me limpar antes de sair, então lancei rapidamente Purificação.
— Pronto, desculpa por isso. Já tomou café da manhã?
— Estava indo agora.
— Se importa se eu te acompanhar?
— Nem um pouco. Tem algum plano para hoje?
O cara já era praticamente meu secretário. Um dia, eu deveria agradecer de verdade.
— Nada em particular. Por quê?
— Está aceitando sugestões?
— Sugestões, talvez. Mas vamos ver se eu concordo com elas depois.
Seguimos juntos para o refeitório.
— Ouvi dizer que você quer ler a história de Lorde Reinstar. É verdade? — Jord perguntou com um olhar estranhamente presunçoso ao entrarmos no salão.
— Sim, quero algo um pouco mais fundamentado em fatos. Nada dessas dramatizações que ficam contando por aí. — Era inadmissível que o único curandeiro de rank S da Igreja de Saint Shurule não soubesse nada sobre seu fundador.
— Hmm, pessoalmente, não acho que tenham exagerado tanto assim.
Fiquei paralisado.
— Ah, qual é — ri nervoso. — Ele criou toda a cidade flutuante de Neldahl, derrotou o Lorde Demônio completamente por acidente e expulsou o Maligno com o poder combinado dos dragões e espíritos? Isso é coisa de mito.
Se tudo isso fosse verdade, Lorde Reinstar seria um deus, ou um emissário de um... ou algo assim. Pensei na possibilidade de ele ter sido reencarnado como eu, mas atingir um nível de poder tão absurdo exigiria um esforço irreal, sorte e sabe-se lá mais o quê.
— Bom, eu entendo o que você quer dizer. Por que não pergunta ao Papa? Reinstar foi nosso fundador, então aposto que ela sabe de coisas que ninguém mais sabe.
— Boa ideia. De qualquer forma, eu preciso entregar um relatório para ela, então posso aproveitar a oportunidade.
— E não se esqueça de me contar tudo que puder, senhor.
Fazia sentido que até Jord estivesse curioso. Lorde Reinstar não parecia ser alguém sobre quem se pudesse aprender detalhes sem falar com o Papa.
— Claro. Ah, e acho que não vou demorar muito. Pode reunir o grupo quando terminarmos de comer?
— Sem problemas. Vamos...
— Sim, vamos sair.
— Eu sabia que você ia ceder!
Continuamos conversando durante o café da manhã.
Depois de me despedir de Jord, fui até os aposentos do Papa para entregar meu relatório.
— Hm, creio que podemos presumir que a presença do labirinto está enfraquecendo — disse Sua Santidade.
— Acho que sim, mas continuarei verificando regularmente, só para garantir.
— Isso me deixaria mais tranquila. Se precisar de algo que possa ajudá-lo, não hesite em me informar.
Ela parecia animada hoje. O momento perfeito para pedir um favor.
— Obrigado, Vossa Santidade. Desculpe a repentina solicitação, mas há algo que eu gostaria de saber. A Igreja mantém algum documento histórico sobre Lorde Reinstar?
— Sim, mantém. Qual o seu interesse nele?
— Sou um curandeiro de rank S que nada sabe sobre o fundador de Saint Shurule, e essa ignorância só traria vergonha para mim e para a Igreja. Quero aprender o que puder enquanto ainda tenho tempo.
Ela hesitou por um momento.
— Prezo muito pela biografia de Lorde Reinstar. Você deve jurar que irá devolvê-la, ou eu o privarei de suas aulas. Ainda deseja pegá-la emprestada?
Depois de uma ameaça dessas? Não tinha mais tanta certeza. Mas eu tinha minha bolsa mágica, e devolver um livro não era pedir tanto assim.
— Eu juro.
— Muito bem. Veja que ela me seja devolvida rapidamente. Entendido?
— Sim, Vossa Santidade.
Consegui obter uma cópia de A Lenda de Reinstar Gustard, mas no fim, só acabei me deprimindo.
Aquele homem simplesmente não era humano.
Tradução: Carpeado
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