Seija Musou | The Great Cleric Vol 03
– Arco 4.5: Histórias Paralelas –
Capítulo 04 [Conversa de Garotas]



Cerca de vinte pessoas trabalhavam na Guilda dos Aventureiros de Merratoni, e quase todas eram mulheres. Isso não tinha tanto a ver com políticas de contratação, mas sim com a própria natureza de ser um aventureiro.

Não era surpresa que muitos aspirantes a aventureiros, especialmente jovens, idolatrassem heróis e acreditassem que seu potencial era ilimitado. Mas a realidade era bem diferente. Muitas vezes, essa confiança exagerada só os colocava em perigo ao enfrentarem monstros muito além de suas capacidades ou os levava à exaustão em missões de escolta rigorosas para as quais não tinham experiência.

Ser aventureiro era essencialmente um trabalho freelancer, o que significava que a renda não era estável. Por isso, muitos aventureiros acabavam tendo que procurar outro emprego ou recorrer a empréstimos. Mas, nesse ponto, era praticamente o mesmo que anunciar para toda a guilda o quão imprudentes eram, o que por si só já eliminava qualquer chance de conseguirem uma vaga confortável dentro da guilda.

Poderia parecer lógico que a guilda contratasse aventureiros bem-sucedidos com um bom faro para negócios, mas essa suposição estava errada. Ser um aventureiro de nível médio bem-sucedido e ser um funcionário eficiente da guilda eram duas coisas completamente diferentes. A vida de aventureiro combinava muito mais com espíritos livres, e isso era ainda mais verdadeiro para aventureiros de alto nível que ganhavam a vida sem dificuldades. Além disso, trabalhar na guilda não era fácil; exigia um vasto conhecimento e expertise, algo que apenas alguém disposto a aprender poderia lidar. E, francamente, essa descrição não se aplicava à maioria dos aventureiros.

Agora, embora isso fosse verdade para a maioria dos homens, aventureiras eram bem mais raras, o que significava que aquelas que conseguiam se firmar eram, de certa forma, excepcionais. Embora poucas alcançassem o topo da hierarquia, muitas encontravam seu lugar dentro da guilda. A verdade era que o caminho para se tornar uma aventureira era bem mais difícil do que para os homens, então as que chegavam até lá já tinham um nível de qualificação naturalmente mais alto. Alguns também diziam que as mulheres eram mais atraídas pela estabilidade do trabalho na guilda do que pela busca por fama e fortuna, que fascinava muitos homens. Outros ainda afirmavam que as Guildas dos Aventureiros eram excelentes locais para encontrar um bom partido para casamento (ao contrário das Guildas dos Curandeiros, que... bom, não tinham lá muitos pretendentes desejáveis).

Independentemente da razão, mulheres constituíam a maior parte da equipe da guilda. E um jovem curandeiro que havia começado a morar em uma guilda em Merratoni cerca de um ano antes tinha se tornado um assunto frequente entre as funcionárias.

Naquela tarde peculiar, quando a Guilda dos Aventureiros estava vazia de aventureiros, não foi diferente.

— Ei, então, qual é a fofoca? Você tem conversado bastante com o Luciel ultimamente.

— Pois é, não finja que vocês não estão ficando amiguinhos durante o almoço.

Melina e Mernell lançaram olhares maliciosos para suas colegas mais novas, Nanaella e Monica.

— Não tem nada demais nisso. Só conversamos.

— É, somos apenas amigos. E nem tão próximos assim.

— "Ainda", ela diz. Anda, conta logo. Quero saber sobre essas "simples conversas" — Melina insistiu.

— Nada especial — disse Nanaella. — Só compartilhamos como foi o dia, sabe? Coisas aleatórias.

— E você, Monica?

— Mesma coisa. Nada demais. Mas eu gosto de conversar com ele. Ele é um ótimo ouvinte.

— Ah, eu entendo o que você quer dizer — Nanaella concordou animada. — A gente conversa, conversa e conversa, e ele nunca parece entediado.

— Né? Ele é tão maduro para a idade dele.

As recepcionistas mais velhas olharam para as garotas com pura inveja. Para Melina e Mernell, Luciel era como um irmão mais novo, e elas nem cogitavam vê-lo como um possível interesse romântico. Mas homens que realmente ouviam eram raridade. A habilidade de manter uma conversa sem falar apenas sobre si mesmo era um talento raro.

— Acho que vou ter que pegar esse garoto emprestado um dia desses.

— Vocês se importam? Preciso desabafar um pouco — Mernell resmungou.

— Nenhum problema!

— Pode falar com ele à vontade!

Nem Nanaella nem Monica se atreveram a desafiar a intensidade no olhar das colegas.

Mernell assentiu, satisfeita com a boa educação das duas.

— Sabe, ultimamente sinto que não estou recebendo a mesma atenção de antes. Acho que está na hora de começar a levar a sério essa ideia de encontrar alguém para casar.

— Você acha? — Melina perguntou. — Acho que algumas de nós simplesmente já não somos tão jovens assim.

As duas olharam para suas colegas mais novas e caíram num silêncio carregado. Monica e Nanaella prenderam a respiração, torcendo para que o momento constrangedor passasse logo.

— Estamos só brincando — Melina riu. — Não adianta se apressar para encontrar a pessoa certa. Eu sou só o quê, uns três ou quatro anos mais velha que vocês?

As duas mais novas soltaram um suspiro aliviado, mas não estavam totalmente convencidas de que aquilo havia sido só uma piada.

— Então o Luciel é bom de papo, hein? — Mernell perguntou, mudando de assunto. — Sobre o que ele fala, além de quantas vezes o Brod já socou ele?

— É, também estou curiosa pra saber como vocês conseguem manter uma conversa com ele.

Todo mundo na guilda sabia como era a rotina de Luciel: comer, dormir, treinar. E só. Ou pelo menos era o que pensavam.

— Ele fala bastante, sim — Nanaella sorriu. — Ultimamente, tem contado sobre suas comidas favoritas e os tipos de roupa que gosta.

— E ele inventa umas histórias muito legais. Adoro ouvir.

— Histórias? Não sabia que ele se interessava por isso — Mernell comentou. — E peraí, ele realmente tem opinião sobre moda? Ele só usa o que dão pra ele. E sempre vejo ele por aqui vestindo farrapos rasgados.

— Pois é — Melina concordou. — E as roupas são sempre apertadas demais ou largas demais. Achei que ele tinha ido às compras com você, Nanaella.

— Ele disse que só usa essas roupas nos dias de folga. Não quer estragá-las durante o treino.

— Agora que ele está treinando com espadas e lanças, o Brod tem rasgado várias roupas dele. Então a maior parte do que ele usa são peças que outros aventureiros deram pra ele.

— Que dureza. Mas então, qual é o estilo dele? — Melina perguntou.

— Bem normal, eu diria? Achei que as roupas que escolhemos ficaram boas, mas não compramos muitas, então não sei dizer ao certo.

— Pelo menos serviram direitinho?

— Claro. Ele experimentou tudo antes.

— Ainda bem que ele tem esse mínimo de noção. Com esse garoto, nunca se sabe — Mernell suspirou. — Ah, temos clientes.

Um grupo de aventureiros entrou, e as outras três assentiram em concordância.

— Aposto que vão direto em vocês — Melina disse, rindo das mais novas.

— Ai, que tristeza — Mernell dramatizou. As recepcionistas mais velhas se divertiram vendo Nanaella e Monica ficarem nervosas.

Era só mais um dia tranquilo entre as recepcionistas da Guilda dos Aventureiros.


Tradução: Carpeado
Para estas e outras obras, visite Canal no Discord do Carpeado – Clicando Aqui
Achou algum erro? Avise a gente!
Este site tem como objetivo divulgar obras e incentivar a compra de materiais originais.
Não hospedamos, distribuímos ou promovemos links para cópias não autorizadas.
Adquira a obra original para apoiar os autores.
Comments

Comentários

Exibir Comentários