Seija Musou | The Great Cleric Vol 03
– Arco 4.5: Histórias Paralelas –
Capítulo 02 [Palavras que Matam]



 Havia um homem em Merratoni com quem ninguém, em sã consciência, queria fazer inimigo. Ele não era irracional, claro. Caso seus caminhos se cruzassem, sua vida seria poupada em troca de informações. Todos que viviam nos becos sombrios da sociedade conheciam essa regra. Seu nome: o Recluso. Atualmente, ele estava no ramo da informação, mas não fazia muito tempo que lidava com vidas em vez de palavras. Em outras épocas, ele se esgueirava nas sombras, observando, ouvindo, esperando o momento certo para eliminar seus inimigos. Ou pelo menos era o que diziam os boatos. Nenhuma prova de seu passado sangrento existia.

Durante o dia, ele trabalhava como açougueiro de monstros na Guilda dos Aventureiros local, conhecido por praticamente todos os homens-fera dali. Seus traços encantadores e seu sorriso cativante haviam conquistado mulheres ao redor do mundo e eram alguns de seus melhores trunfos na coleta de informações.

O problema chegou na forma de uma garota ensanguentada da Guilda dos Curandeiros, carregada nas costas de um jovem com quem ele havia feito amizade. Tudo indicava que aquilo era obra de um curandeiro com uma rixa, então a Guilda dos Aventureiros a acolheu.

— Isso parece interessante. Talvez valha a pena investigar a conexão da Guilda dos Curandeiros com isso.

Galba seguiu para os becos da cidade.

— Tenho um trabalho para vocês — disse aos dez ou mais homens-fera ao seu redor. — Um membro da Guilda dos Curandeiros foi atacado por um mercenário com uma lâmina envenenada. Quero que espalhem boatos pela cidade. Em troca, serão tratados na Guilda dos Aventureiros.

— E se capturarmos ele?

— Eu compro de vocês pelo preço de informação. Além disso, fiquem atentos: o curandeiro envolvido nessa história é do pior tipo. Mandem qualquer um que precise de ajuda para a Guilda dos Aventureiros.

— Entendido. Não vamos te decepcionar, Recluso.

O falante parecia entender melhor a situação do que os outros, então liderou o esforço. No entanto, Galba tinha orgulho de seu talento como espião e garantiria que tudo fosse feito com precisão.

— Quero saber tudo o que descobrirem. Tudo.

— Com rapidez e discrição! — respondeu o grupo.

— Conto com vocês.

A verdade começava a vir à tona.

Dias depois, a Guilda dos Curandeiros de Merratoni enfrentava uma escassez de funcionários, e os boatos sobre a causa disso já haviam se espalhado. O falatório dizia que um dos melhores curandeiros havia tramado a morte de uma das recepcionistas da guilda após um desentendimento entre eles. A guilda tentou abafar o caso, mas palavras correm rápido, e praticamente toda a cidade já sabia da história na manhã seguinte.

O tempo passou e o suspeito acabou capturado, mas ninguém conseguiu encontrar qualquer conexão entre ele e o curandeiro em questão. O caso ficou sem solução, a guilda perdeu uma recepcionista e, ao se recusar a reconhecer a polêmica ou enfrentar a clínica responsável pelo ocorrido, só alimentou ainda mais as chamas do escândalo. As pessoas logo começaram a comentar sobre as prioridades da guilda — ou a falta delas quando se tratava da vida de seus funcionários — e, em pouco tempo, ninguém mais se sentia seguro trabalhando ali. Os problemas pareciam não ter fim.

Kururu estava inconformada.

— Deusa, o que diabos eu vou fazer? Monica era perfeita! Quem vai substituí-la?

Ela já estava acostumada com mudanças na equipe, incluindo a perda de funcionárias valiosas como Monica, mas como poderia encontrar alguém em tão pouco tempo? Por mais confortável e bem pago que fosse o trabalho na Guilda dos Curandeiros, não era o suficiente para atrair novos candidatos. No fim, coube às outras recepcionistas sacrificarem seu tempo livre para cobrir a ausência. As funcionárias imploraram para que o mestre da guilda solicitasse ajuda da sede, mas, fiel à sua ideologia conservadora, ele se recusou a tomar qualquer atitude drástica.

Forçada a arcar com as consequências, Kururu se angustiava ao revisar a nova escala de trabalho.

— Não tem espaço para folgas. Vamos continuar perdendo gente desse jeito.

Visitantes na guilda eram raros. As únicas questões que normalmente exigiam atenção eram registros, renovação de membros, impostos, compra de grimórios e autorizações para deslocamento. Era um trabalho fácil, com poucas responsabilidades, então não era surpresa que Kururu e as outras recepcionistas estivessem mentalmente exaustas... de puro tédio. Sem Monica, as demais tinham que suportar dias inteiros de absoluto nada, obrigadas a cumprir seus turnos apesar da falta de demanda.

Nos tempos áureos, quando a guilda prosperava, os curandeiros eram enviados para todos os cantos. Mas, à medida que o poder foi se inclinando para as clínicas privadas, a função da guilda foi diminuindo, até se tornar apenas uma sombra do que já fora um dia.

— Vou perguntar para as meninas o que elas acham do trabalho. Será que trabalhar na Guilda dos Aventureiros é melhor? Deve ser ótimo para conhecer caras interessantes.

A frustração de Kururu era um efeito colateral infeliz do plano de Galba. O homem-lobo ouvia suas lamúrias das sombras.

— Não sabia que havia gente aqui que realmente levava esse trabalho a sério. Que pena que acabou assim, mas acho que já é hora de parar com os boatos, por mais que isso não ajude muito. Agora... o que será que tira o mestre dessa guilda do sono?

Com esse pensamento, Galba deu início a uma investigação profunda sobre a identidade do melhor curandeiro de Merratoni e seu cúmplice na guilda. Enquanto isso, Kururu se agarrava desesperadamente ao pouco de equipe que ainda tinha e tentava treiná-los.


Tradução: Carpeado
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