Seija Musou | The Great Cleric Vol 03
– Arco 4: O Curandeiro Que Mudou o Mundo –
Capítulo 12 [O Pico da Montanha na Festa de Boas-Vindas]



 Outra recepção caótica nos aguardava na Guilda dos Aventureiros. Meus companheiros estavam tão perplexos que nem sabiam o que fazer.

— Senhor, o que está acontecendo nesta cidade? — um deles perguntou. — Por que estamos recebendo esse tratamento também?

— É isso que acontece quando você mora em um lugar por alguns anos. Esse lugar é como um lar para mim — respondi. — Aposto que outros curandeiros se dariam muito melhor com os aventureiros se passassem um tempo curando nas guildas como eu fiz.

De repente, avistei um par de orelhas familiares e sua companheira.

— Bem-vindo de volta, Luciel — disseram juntas.

— Valeu, Nanaella, Monica. Como vocês estão?

— Indo bem — Monica sorriu.

— Você não tem escrito ultimamente, já estávamos começando a ficar preocupadas — Nanaella fez um biquinho.

— Foi mal, tinha tanta coisa que queria contar, mas sempre que tentava escrever, nunca conseguia pensar em nada. Mas fico feliz que vocês estejam bem.

— E eu, hein? Nenhuma palavra gentil pro seu mestre?

— Você é a menor das minhas preocupações. Se tiver algo pra lutar, você se vira bem em qualquer lugar — respondi sem rodeios.

— Tá aprendendo a falar grosso, hein? Quer descer pra resolver isso? — Brod desafiou.

— Opa, opa, opa! Pelo menos deixa eu dar um show pra todo mundo que veio nos ver.

— Dia do Santo Esquisito, né?

— Exato. Primeiro, vou cuidar dos feridos.

— Quanto?

— Hoje é de graça. Tô aqui pra mudar a imagem do curandeiro ganancioso. Ordem do Papa. Mas um jantar cairia bem.

Brod bufou.

— Beleza, monta seu posto no campo de treinamento.

— Valeu.

Não tive muito tempo pra conversar com as garotas naquele momento, mas teria várias chances a partir de agora. Segui Brod para o andar de baixo.

***

Uma luz pálida brilhou no círculo mágico sob mim e meus pacientes, selando lacerações e realinhando ossos. Todos os espectadores, incluindo o Pentagrama dos Curandeiros, ficaram completamente boquiabertos. O Cajado da Ilusão reduzia meu consumo de mana e elevava minhas habilidades a um nível muito acima do normal.

— Desde quando ficou tão bom em magia? — Brod perguntou.

— Ei, eu não sou só conversa. Aconteceu muita coisa, e eu gosto de pensar que melhorei um pouco como curandeiro — respondi. — Agora, esse era o último?

— Parece que sim. Sabe, você tem uma equipe bem esquisita.

— Como assim?

Meses viajando com eles me dessensibilizaram um pouco. Parei de notar as pequenas mudanças na minha equipe.

— Nunca pensei que veria curandeiros tratando gente fera com consideração. Me lembra você de uns anos atrás.

— Pra nós, eles são só pacientes. E todos sabemos que você tá aqui pra nos proteger caso alguém apronte.

— Hm. Acabou? Vem cá e olha pra frente.

— Pra quê?

Me virei com Brod para um grupo de jovens aventureiros mais ou menos da minha idade.

— Ei, novatos! Esse aqui é o curandeiro que trabalhou aqui uns anos atrás. Se vocês não estavam por aqui na época, provavelmente nunca o viram, mas quero que todos prestem atenção. Vamos ver o quanto nosso velho amigo ficou forte.

— O quê? Agora? E a comida?

— Relaxa, terminamos antes da hora do jantar, e o Gulgar já sabe que vamos nos atrasar. Não sabem que o herói sempre aparece no último segundo?

— Você é impossível às vezes, Mestre. Mas já que estamos aqui, quero que você ajude meu guarda a melhorar na luta.

— É mesmo? Vou testar ele depois, mas você é o primeiro.

— Não tem como fugir dessa, né?

— Nem ferrando. Vamos lá, combate corpo a corpo. Vem pra cima.

— Ah, então é agora.

Ativei Reforço Físico, senti a magia girando dentro de mim e lancei Barreira de Ataque antes de me lançar direto contra Brod. Então, o mundo virou de cabeça para baixo e um estrondo violento ecoou pelas paredes.

— Investida nada mal, mas se não derrubar o cara, vai ficar completamente exposto.

Uma dor latejante percorreu minhas costas. Aquilo tinha sido um baita de um soco de direita.

— C-cura!

Me abaixei e ataquei suas pernas, empurrando com força. Aos poucos, ele começou a ceder. Toda força do mundo não servia de nada contra a boa e velha gravidade. Rapidamente, enfiei meu braço direito sob sua cintura, agarrei seu ombro direito com minha mão esquerda e o ergui. Estava pronto pra jogá-lo no chão, mas algo se enrolou no meu pescoço e, antes que percebesse, era eu quem estava com a cabeça no chão.

Lancei Cura em silêncio e imediatamente contraí o abdômen ao notar a sombra de Brod no chão, esperando um chute. O que quer que fosse, me jogou do outro lado da sala. Só parei depois de quicar algumas vezes no chão.

— Ugh, por que diabos você jogou minha cabeça direto no chão? — reclamei entre gemidos. — Isso é jeito de matar alguém! Eu não posso curar a morte!

Um golpe daqueles no wrestling profissional te baniria na hora. Cabeça e chão duro não combinam.

— Para de frescura. Sei que você ainda tá pronto pra lutar. E parece que realmente ficou mais forte. Agora sim podemos nos divertir.

— Você é maluco.

— Se prepara!

— Tá, tá.

Brod desapareceu, e eu instantaneamente fui arremessado para cima. Bom, pra ser exato, ele não desapareceu, só se moveu rápido pra caramba. Ou pelo menos era nisso que eu queria acreditar. Olhei pra baixo e achei que tinha conseguido pegá-lo, mas foi só por um segundo. No instante seguinte, ele segurou minhas pernas e me lançou ao chão, finalizando com um chute direto pra baixo. O cara era um monstro, do jeito que se movia tão rápido no ar.

A dor de bater no chão sumiu com uma Cura enquanto eu rolava para o lado.

— Bom ver que você ainda sabe reagir aos golpes que pode e não pode levar. Sabia que você era meu aprendiz por um motivo.

Onde diabos ficava o botão de desligar desse cara? E como evitar ligá-lo de novo no futuro? Eu sabia que ele ainda estava se segurando.

— Treinei tanto e ainda estou anos-luz atrás. Até onde mais eu tenho que ir? Mestre, qual é o seu nível? Só por curiosidade, claro. Pura referência.

— Para com isso. Não te falei pra não se focar em números?

— Certo, e eu prometo que não estou. Só pensei que saber disso tornaria mais fácil encontrar um objetivo para perseguir.

— Um objetivo? Tudo bem. Eu estou no nível 451.

Que monstro absoluto. Catherine e Lumina não chegavam nem perto dele.

— Uau. Bem, quanto mais alta a montanha, melhor é a sensação ao chegar no topo.

Brod soltou uma gargalhada e então disse:

— Já chega de papo. Venha com tudo o que tem e mais um pouco.

— Você pediu por isso!

Joguei-me contra a muralha que era Brod por mais de uma hora e perdi a conta de quantas vezes precisei recastar Cura e Barreira de Ataque. Depois disso, sacamos as lâminas e duelamos com espadas. Os espectadores estavam um pouco agitados, mas sabendo que um segundo de hesitação poderia significar a diferença entre a vida e a morte, consegui manter o foco (e até melhorei minha capacidade de fazer isso no processo).

No final, saí apenas com um corte particularmente feio, que imediatamente curei com Cura Avançada.

— Acho que esse é um bom ponto para encerrar. Vamos para a festa.

— Parece uma ótima ideia para mim.

Conversei com minha equipe de rostos pálidos depois. Eles provavelmente perceberam que o treinamento aqui não teria nada a ver com o que enfrentaram na sede. Os novatos aventureiros que assistiram à nossa luta pareciam estar em choque, com suas concepções sobre curandeiros completamente destruídas.

O Pentágono dos Curandeiros também estava impressionado com o quão longe um dos seus havia chegado. Mas, durante a luta, notei um jovem de expressão amarga entre alguns dos aventureiros mais velhos que me conheciam. Ele claramente não teve uma boa impressão da batalha.

— Ser humilhado por um maldito curandeiro — ouvi ele resmungar. — Eu fui escolhido. Não ele. Pode bancar o certinho o quanto quiser; você nunca vai me vencer numa luta.

Virei-me em direção à voz carregada de veneno, mas o homem já havia desaparecido.

A festa foi realizada no refeitório. A comida foi disposta em estilo buffet e todas as cadeiras foram removidas para liberar espaço para o maior número de pessoas possível. Alguns funcionários da Guilda dos Curandeiros que passaram por lá ficaram um pouco incomodados por terem que comer em pé, mas mantiveram suas reclamações para si diante de mim.

— Muito bem, pessoal — chamou Brod —, o seu curandeiro favorito está de volta pra casa, e isso significa que ser curado vai ficar mais fácil. Mas ele veio estudar as clínicas, então não estará por aqui à tarde. Ele vai trabalhar no lugar do Bottaculli.

A multidão explodiu em vaias. Eu nem sabia que vaias existiam neste mundo.

— Ele não vai estar aqui o dia todo, mas vai morar no salão da guilda por enquanto. Se estiverem em apuros, sintam-se à vontade para vir até ele.

As vaias se transformaram em aplausos.

— Muito bem, Luciel, o palco é seu. Mas sem álcool para você.

— Hã, oi. Eu sou Luciel — comecei. — Foi uma longa jornada da Sede da Igreja até aqui, então agradeço muito a todos vocês por estarem nos recebendo com essa festa. Quando olho para trás, percebo o quão importantes esses dois anos foram para mim. Eles foram a base que tornou possível que alguém tão mediano quanto eu se tornasse um curandeiro de Rank S. É engraçado, porque foi o medo que me trouxe aqui. Eu tinha tanto medo dos aventureiros que não conseguia viver minha vida sem pensar em todas as formas possíveis de morrer. Foi esse medo, o medo do que poderia acontecer se eu falhasse em curar alguém, que me motivou a continuar melhorando.

Fiz uma pausa antes de continuar.

— Mas então percebi que eu não era o único com medo de morrer. Todos nós temos. E comecei a enxergar como as pessoas eram gentis. Me deram roupas, presentes, e o mundo deixou de ser tão assustador. Teve momentos em que me senti praticamente um prisioneiro aqui, pra ser honesto, mas, no fim, foi aqui que tudo começou para mim. Um brinde a todos os funcionários da guilda e aventureiros que me deram um lar. Vou continuar seguindo em frente, e talvez um dia eu consiga retribuir tudo que fizeram por mim. Até lá, espero que aguentem minha presença e a da minha nova equipe. Sei que estou encurtando um pouco, mas, mais uma vez, muito obrigado. A todos.

— Não, já foi o bastante! — Brod interrompeu. — Agora, ergam suas canecas! Saúde!

— Saúde! — a sala rugiu.

As coisas ficaram agitadas rapidamente depois disso. Gulgar atraiu minha equipe e os novos aventureiros que assistiram à minha luta mais cedo com canecas de uma versão mais leve (presumivelmente diluída) da Substância X, dizendo:

— Ei, querem ficar mais fortes?

Enquanto os aventureiros iam caindo um a um, minha equipe permaneceu firme, já acostumada com aquilo.

Gulgar sorriu.

— Olhem só, perdendo para curandeiros. Eu devia saber que o time dele já teria tomado umas antes.

— Pelo menos uma por dia.

O chef continuou servindo copo atrás de copo, e o salão rapidamente começou a feder, então tive que salvar todo mundo com um feitiço de Purificação. Gulgar não conseguiu esconder sua empolgação ao encontrar tantas novas cobaias para seus experimentos. Ele também estava especialmente satisfeito consigo mesmo por ter conseguido acabar com as reclamações sobre a falta de assentos graças à sua comida inigualável.

Por todo o salão, teorias começaram a surgir sobre o significado do meu apelido, “Santo Esquisito”. Era quase demais para minha pobre mente aguentar.

— Obviamente, significa que ele é um esquisitão que usa magia sagrada. “Santo”, “sagrado”, combina.

— Nada disso, acho que é mais pelo fato de ele ser simplesmente estranho mesmo.

— Você acha? Eu achei que era mais sobre, sei lá, os fetiches dele. Tipo, ele é um cara ótimo, super santo, mas, mano, que doido.

— E se for...

As suposições continuaram noite adentro, trazendo à tona até os apelidos de outras pessoas. Como “O Furacão” e “O Instrutor Demônio” de Brod, “O Urso Chef” e “O Imóvel” de Gulgar, e “O Recluso” de Galba.

Falando nesses três, me convidaram para beber com eles.

— Você tem treino amanhã — disse Brod. — Pode tomar uma comigo quando for a hora de partir.

— Ele tem razão. E você vai entrar direto na boca do lobo também. Precisa estar pronto — acrescentou Galba.

Gulgar empurrou um prato na minha direção.

— Esquece a bebida. Tenho um prato novo! Come aí!

Relutantemente, levei uma mordida à boca, um pouco frustrado com o atraso para finalmente experimentar minha primeira bebida, e imediatamente me arrependi.

— Isso é o que eu tô pensando, não é?

— Acertou! Queria ver se dava pra transformar isso em comida ou não, e como você é o único que pode beber essa coisa, achei que também seria o único que poderia comer.

— Eu sou sua cobaia agora?! Você nem consegue beber isso, então para de tentar transformar em comida!

— Às vezes, é preciso quebrar alguns ovos pra fazer uma omelete.

— Isso não é uma omelete.

— Apenas coma. O cheiro já tá começando a ficar insuportável — Brod fez uma careta.

— Eu acredito em você — acrescentou Galba.

— Eu juro... — murmurei com um suspiro. — Tá bom, vou tentar de novo.

Cortei mais um pedaço da carne regada com Substância X e coloquei na boca.

— E aí? — Gulgar perguntou ansioso. — Dá pra comer?

— Nem em um milhão de anos. O calor só piora o gosto. Parece uma explosão de ruindade na boca.

— Ah, bom. Agora experimenta esse aqui.

— T-tem mais?

— Nove, na verdade.

— Talvez a gente possa fazer um acordo. Você me ensina algumas das suas receitas, e eu continuo comendo.

— Então é assim que você quer jogar, hein? — G-Gulgar? — Beleza, fechado. Uma receita por prato. E ainda tenho muito mais de onde esses vieram.

— Esse brilho louco nos seus olhos me lembra demais o Brod.

— Gulgar sempre teve uma mente curiosa — comentou seu irmão mais novo. — Acho que ele só está feliz por ter alguém pra testar os experimentos sem desperdício.

Tudo bem, mas Galba não parecia nem um pouco disposto a impedir as loucuras do irmão.

— Estamos indo pra casa por hoje, pessoal — ouvi alguém dizer. Quando me virei, vi Nanaella e Monica.

— Obrigado por ajudarem com tudo isso. E por limparem meu quarto — falei.

— Não podemos fazer muita coisa por você, mas sua presença já torna a guilda um lugar melhor. Espero que ainda possamos te ver por aqui quando não estiver trabalhando.

— Nos avise se precisar de qualquer coisa — disse Nanaella.

— Obrigado. Ah, tem uma coisa. Vocês se importariam de cortar meu cabelo algum dia?

Elas sorriram e assentiram.

— Claro!

— Vocês estão me matando aqui — meu mestre interrompeu. — Já terminaram de trocar olhares?

— Quer um pouco de Substância X pra descer melhor? — ofereceu Gulgar.

— Ah, a juventude — suspirou Galba nostalgicamente.

As garotas se apressaram em se despedir e saíram envergonhadas.

— Você parece bem tranquilo — Brod comentou, irritado por suas provocações não surtirem efeito.

— Não tem motivo pra nervosismo. Eu conheço todo mundo aqui. — Já tinha passado da fase adolescente constrangedora. Uma puberdade tinha sido mais do que suficiente, obrigado.

Ele ficou em silêncio por um momento.

— Você mudou.

— Mudei? Acho que o tempo faz isso com as pessoas, mas o que me surpreende mais é como vocês mudaram.

— Você tem razão. O tempo muda as pessoas. Mas nem todas — disse Galba. — Não pessoas como Bottaculli.

— Na verdade, eu queria perguntar sobre ele. O que vocês sabem?

Galba sorriu e olhou para Brod.

— Bom, ele não quer a sua cabeça, pelo menos, mas toma cuidado perto dos escravos dele — Brod explicou.

— Como ele tem escravos nesse país? — O tráfico de escravos era proibido em Shurule, mas eu nunca tinha visto nenhum pessoalmente e não sabia se isso acontecia de forma clandestina.

— Você tem razão em se surpreender, mas o fato é que, segundo as fontes do Galba, ele compra mais a cada ano. Trata eles como lixo, e o líder deles está planejando uma revolta.

Lembrei de algo que tinha lido no passado: um escravo se revoltar era o mesmo que assinar sua própria sentença de morte. Um incômodo vago surgiu no fundo da minha mente.

— Espera, eles não são obrigados por magia a obedecer ordens? — Por algum tipo de colar, eu achava.

— Sim — Galba confirmou. — Normalmente, sim. Mas andam circulando boatos sobre escravos que estão desafiando seus mestres. E pra complicar, não são pessoas de algum mercado clandestino. Eles foram vendidos legalmente.

— Isso não quebra o contrato dos escravos?

— Normalmente, sim. Mas, de alguma forma, eles conseguem violar o pacto de servidão sem que ele seja anulado.

— Isso é possível?

— É o que estou tentando descobrir. De qualquer forma, Bottaculli já ficou sabendo, então ele tem recrutado mercenários, e a paranoia tem afetado a saúde dele, pelo que parece. Ele anda comprando remédios para pressão alta.

— Remédios? Não é algo que ele possa curar com magia? Será que ele está doente? — Cura Extra provavelmente poderia curar desde tumores até danos cerebrais, mas... hesitei.

— Acho que ele deve estar tendo dificuldades pra dormir, já que os servos mais confiáveis podem esfaqueá-lo pelas costas a qualquer momento. Bom, o que posso dizer com certeza é que ele desmaiou quando soube que você estava voltando.

— Sério? — Ri meio sem graça. — Pra deixar claro, não fui eu quem escolheu a clínica dele. Foi Sua Santidade. Acho que eu não me opus, exatamente, mas ainda assim.

— Eu acredito em você. Só tome cuidado e fique alerta, entendeu? Não aceite nenhuma refeição que ele oferecer.

Estava claro que Galba era alguém com quem eu não queria travar uma guerra de informações.

— Não me preocupo com veneno fazendo efeito em mim, mas devo ficar de olho na minha equipe. — Não queria ser responsabilizado por algo enquanto tivesse o poder de curar pessoas.

— Certo. Mas tem uma coisa que me incomoda. O que mais me assusta nisso tudo é que, em todos os casos de escravos atacando seus mestres, nenhum deles se lembra de como conseguiu fazer isso. Estamos andando no escuro.

— Eles simplesmente esqueceram?

— Tudo e qualquer coisa relacionada ao incidente.

Então, quem estava por trás disso não poderia ser uma pessoa. Quem teria esse tipo de poder? Se já tivessem ocorrido casos assim no passado, a Igreja com certeza saberia.

— E como foi que você encontrou esse seu esquadrão, hein? — Brod entrou na conversa com um sorriso descontraído que não combinava nada com o tom da conversa. Pelo jeito animado dele, dava pra ver que tinha decidido colocar meus companheiros à prova, mas se ele não soubesse pegar leve, eu podia dar adeus à minha equipe.

— Eles só simpatizaram com as minhas ideias, só isso.

— Eles parecem bem resistentes.

— Foram alguns meses de Substancia X e um treinamento infernal com cura sem parar até chegarem nesse ponto.

— Tô surpreso que eles não tenham fugido.

Não podia contar que tinha usado garotas e churrascos como isca, ou eu corria o risco de despertar a ira do demônio. Nunca se sabia quando ele poderia aparecer. Precisava pensar numa forma decente de dizer isso.

— Peguei uma página do seu livro. Assim como a comida do Gulgar me ajudou a sobreviver ao seu treinamento, fiz eles passarem pelo deles com sessões conjuntas junto aos cavaleiros mais fortes.

Pronto. Tecnicamente, não era uma mentira.

Meu mestre suspirou.

— Você realmente cresceu, moleque. Lembro quando o Bottaculli ainda valia alguma coisa, como você, mas o dinheiro deixou ele maluco. Goste ou não dele, o cara montou uma baita empresa com aquela clínica. Mas ainda me dá ânsia chamá-lo de curandeiro.

Graças aos deuses, ele acreditou.

— Sabia que ele não podia ter nascido assim.

— Não mesmo. Na verdade, ele já nos tratou antes, lá nos tempos de aventura.

— Bom, isso parece interessante.

Histórias reais e experiências de um aventureiro prestes a alcançar o rank SS não eram algo que qualquer bardo saía por aí cantando.

— Isso já faz tempo.

— Suponho que sim. Mas quero ver o que posso fazer sobre Bottaculli. Talvez eu consiga ajudar de alguma forma.

— Você não deveria estar indo dormir? Vai querer estar acordado pro treinamento amanhã.

— Logo de manhã?

— Quer me superar ou não? Seu mestre tem muito pra ensinar e pouco tempo pra isso.

Foi nesse momento que entendi o verdadeiro significado de enfiar o pé na própria boca. E como eu ainda era arrogante. Mas não adiantava chorar pelo leite derramado. Conversamos durante o resto da festa de boas-vindas, até que ela finalmente chegou ao fim.

No caminho para o meu quarto no andar de baixo, passei pela recepção e cumprimentei a recepcionista, que se assustou e respondeu com uma leve reverência. Mas por que tanto medo?

O salão de descanso (ou melhor, meu quarto improvisado) estava exatamente como eu tinha deixado, perfeitamente limpo. Isso me deixou um pouco emocionado.

— Melhor eu dormir. Primeiro dia na clínica do Bottaculli amanhã.

Peguei meu travesseiro de anjo e me joguei na cama.

— Tantas recepcionistas se casando tão rápido. E a nova tem medo de mim por algum motivo. Tanto faz, hora de dormir.

Fechei os olhos e repassei os acontecimentos do dia no curto tempo que levou para o sono me dominar.


Tradução: Carpeado
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