Seija Musou | The Great Cleric Vol 03
– Arco 4: O Curandeiro Que Mudou o Mundo –
Capítulo 10 [Um Encontro com o Destino]
Na manhã seguinte, saí para fazer compras. Estava só eu e uma garota chamada Rosa, que eu conhecia havia quase dois anos.
— É aqui.
— Esse é o seu lugar favorito, hein?
Por fora, a loja parecia bem comum. Fazia tanto tempo desde a última vez que eu comprara roupas que já começava a sentir uma certa empolgação.
— Vamos logo — disse Rosa, me puxando para dentro da loja.
O interior era bem iluminado, espaçoso e muito limpo.
— Bem-vindos! Oh, é você, Rosa? — chamou uma funcionária.
— Anna! Faz séculos!
— Você agora é garçonete, né?
— Sim, e estou aqui com este homem para ajudá-lo a escolher algumas roupas.
— Ah, então esse é o seu namoradinho?
— Anna, por favor! Esse é o senhor Luciel! Talvez já tenha ouvido falar de um certo Santo Estranho?
Cuidado, Luciel. Você está diante dos portões do inferno agora. Um passo em falso e nunca mais voltará vivo.
— Santo Estranho?! — Anna arregalou os olhos. — Nossa, ele é tão jovem! Espera, vai comprar conosco hoje, senhor?
— Quero encomendar algumas roupas — respondi. — Ah, e é um prazer conhecê-la. Pode me chamar de Luciel.
— Que gentileza da sua parte.
De qualquer forma, eu não tinha onde gastar meu dinheiro. Se não o gastasse em algum lugar, ele só ficaria parado na minha conta, e isso não era bom para a economia. Não que eu tivesse a intenção de sair esbanjando ou algo do tipo.
— O Santo Estranho é um homem rico — Rosa comentou com orgulho.
— Você sabe escolher bem, Rosa. Vou chamar minha filha. Que tal escolher algo para você também?
— Ah, estou bem assim.
— Por favor, Rosa, eu insisto. Você cozinha para mim há tanto tempo, deixe-me retribuir o favor — disse.
— Tem certeza, querido?
Eu não sabia que olhos podiam literalmente brilhar de antecipação. Agora não tinha mais como escapar, mesmo que quisesse. Se isso ajudaria a compensar toda a ajuda que Rosa me deu, então eu estava disposto.
— Absoluta. Não gosto de deixar dívidas sem pagar.
— Então acho que vou dar uma olhada...
— Agradeço a preferência — Anna riu.
Eu nunca imaginei que um dia estaria andando por uma loja de roupas em um encontro com Rosa, a garçonete do refeitório que tinha idade para ser minha mãe. Claro, havia um bom motivo para isso. Tudo começou quando encontrei as Valquírias no caminho de volta para os estábulos com Malto...
— Alguém quer me ajudar a escolher umas roupas? — perguntei às mulheres. — Prometo que retribuirei o favor.
Sem surpresa alguma, nenhuma delas entendia nada de compras de roupas, oferecendo-se, em vez disso, para me acompanhar na compra de armaduras ou armas. A maioria não via problema na minha túnica de sempre. E eu achando que elas não poderiam parecer mais masculinas depois de ver sua ferocidade no churrasco.
Depois precisei relatar a Catherine e aproveitei para perguntar o mesmo a ela, mas estava ocupada demais. Depois de mais uma tentativa desesperada, ela me falou sobre Rosa.
— Ela compra roupas casuais para mim e para Sua Santidade.
— Vocês mesmas não fazem isso?
— As únicas lojas em que entro são de comida, armas, armaduras ou itens mágicos. Moda não é o meu forte. Mas Rosa já foi atendente da papa, então essa é a especialidade dela.
— Entendo. Bom, vou tentar pedir a ajuda dela.
— Boa sorte.
E foi assim que tudo aconteceu.
De volta ao presente: as mulheres voavam ao meu redor, tirando minhas medidas e jogando roupas para mim. Camisas abotoadas até onde a vista alcançava, túnicas e cintos, calças tanto ajustadas quanto práticas. Meu destino na moda estava nas mãos delas até mesmo para as botas, como deveria ser, já que fazia tempo que nem via meu próprio rosto.
Rosa, Anna e a filha dela garantiram que meu estilo combinasse com a minha aparência (mesmo que às custas das minhas preferências). A filha de Anna tinha vinte e dois anos, era casada e claramente estava esperando um bebê. Ela me pediu para lançar Cura nela, algo sobre a bênção do Santo Estranho, então atendi seu pedido, canalizando minha magia através do cajado.
Antes que eu percebesse, a transformação estava concluída. Ainda levaria pouco mais de duas semanas para o ajuste final das roupas, então paguei adiantado antes de sairmos da loja.
— Obrigado por me acompanhar hoje — agradeci.
— E eu agradeço por me presentear.
— Ah, por favor, não precisa mencionar isso. Quer que eu te acompanhe de volta?
Rosa riu.
— Ora, não sou tão frágil assim. Não perca seu tempo comigo.
— Se você diz. Tome cuidado no caminho.
Com Rosa indo embora e sem nenhum escolta atrás de mim, senti-me mais livre do que nunca e fui direto para a loja de itens mágicos que Grantz havia mencionado.
— Parece que é aqui — murmurei. — Deve ter umas coisas interessantes, se ele disse a verdade.
O lugar me lembrava uma livraria de usados que frequentava em Jinbocho, lá em Tóquio. Assim que abri a porta, congelei. Um golem fez uma reverência educada e me cumprimentou com uma voz que parecia vir do nada.
— BEM-VINDO À COMMEDIA ARTIFACTS.
Passos abafados vinham dos fundos, e então uma jovem de cabelos curtos e óculos apareceu.
— Bem-vindo à Commedia Artifacts!
— Ah, oi, essa é uma loja de itens mágicos, certo?
— Isso mesmo. Alguma coisa chamou sua atenção? Ah, isso? — Ela tocou os próprios óculos. — Se chamam “óculos”. Eles ajudam a enxergar melhor de longe ou de perto, se você for um idoso com problemas de visão. Fui eu mesma quem fiz.
Eu não podia acreditar. Outra alma reencarnada? Tão perto assim? Se ela não fosse uma das reencarnadas, então pelo menos tinha envolvimento com uma. Felizmente, eu já tinha decidido há tempos como lidar com esse tipo de situação.
— Uau, isso é incrível. Ouvi dizer que vocês têm muitas invenções únicas à venda. Poderia me mostrar algumas?
— Com o maior prazer!
— A garota, que parecia ter mais ou menos a minha idade, abriu um sorriso radiante e começou a explicar suas criações com grande entusiasmo. Não demorou para que eu tivesse certeza absoluta de que ela era uma das reencarnadas. Todas as suas invenções eram eletrodomésticos convencionais da Terra, reinventados usando magia no lugar da eletricidade. Ela tinha até secadores de cabelo, máquinas de lavar e aspiradores de pó, coisas que eu realmente não precisava, mas que, admito, foram uma tentação e tanto.
Acabei comprando basicamente tudo que me chamou a atenção: um fogão mágico, um purificador de água mágico, um refrigerador mágico, um aquecedor mágico, uma banheira mágica (com aquecimento!), um triturador de lixo mágico, um colchão de ar mágico, um liquidificador mágico e um espremedor de sucos mágico, só para citar alguns. O estrago ficou em onze moedas de ouro, e eu saí de lá completamente satisfeito. A garota quase parecia pronta para se ajoelhar e me agradecer.
O que aconteceria se eu a apresentasse para Trett?, me perguntei. Então mencionei um certo item que eu tinha interesse em fazer.
— Fico lisonjeada por você me pedir isso — ela respondeu —, mas ainda tenho um longo caminho pela frente antes de conseguir fazer algo assim.
Ela explicou que criar itens mágicos exigia vários componentes, como pedras mágicas com a afinidade necessária e níveis específicos de habilidades ou profissões na classe de Artífice Mágico.
— Veja isto. Eu queria transformar habilidades de avaliação em um item, mas ainda não sou boa o suficiente para isso — disse, deixando os ombros caírem.
Não havia muito que eu pudesse fazer por ela sem saber exatamente o que ela queria avaliar, mas ao menos eu poderia ser um cliente generoso. Essa com certeza não seria a última vez que eu veria essa garota chamada Rina. Eu podia sentir isso.
Continuei visitando sua loja ocasionalmente nos dois meses seguintes.
*
A mulher velada, no salão vasto e familiar, ouviu o que eu tinha a dizer e então respondeu em seu tom suave:
— Sim, o que você diz faz sentido, embora me surpreenda que nunca tenha sequer pisado em uma clínica.
Os assistentes de Sua Santidade me encararam, chocados.
— Eu comecei na Guilda dos Aventureiros, afinal.
Eu estava fazendo tudo errado. Não dava para aprender como uma clínica funcionava sem realmente visitar uma. Ouvir sobre as diferenças entre clínicas nacionais e estrangeiras não era o suficiente. Eu precisava experimentar na prática.
— Gostaria de poder designá-lo para algum lugar próximo, mas temo que não haja clínica na Cidade Santa que não conheça seu nome. No entanto, há uma dirigida justamente pelo homem que o enviou para estas paredes. Sabe de quem falo?
— A clínica de Merratoni.
— De fato. Para Merratoni, a cavalo, é uma viagem de aproximadamente dois dias, se me lembro corretamente. Você poderá ser chamado de volta rapidamente, e os relatórios chegarão aos meus ouvidos sem demora.
Era tão perto assim? Tomei sua palavra como verdade. Meu maior receio era se fazia sentido eu voltar a curar lá, especialmente agora que meus feitiços de Cura comum estavam no mesmo nível — senão melhores — que um Cura Média de um praticante regular.
— Tem certeza de que essa é uma boa decisão? — perguntei.
— Tão sábia quanto qualquer outra. O dado foi lançado quando concedi a você o manto de Rank S. Qualquer caminho que escolhamos terá seus desafios — a serenidade mística em sua voz carregava o peso do passado. — Farei o que for necessário... para restaurar nossa glória.
— Entendido. Deixarei os preparativos em suas mãos.
— Assim será. Ah, mais uma coisa, Luciel. Seu primeiro destino dentro de um ano será Yenice. Acrescente isso aos seus estudos.
Espera, o país dos homens-besta? Eu não tinha problema com isso, mas será que a ala supremacista humana da Igreja teria?
— A Guilda dos Curandeiros já foi estabelecida por lá?
— Não como era antes. Complicações a tornaram inativa, mas eu realmente acredito que você criará uma base sólida para sua retomada. O controle da guilda e das clínicas de Yenice estará em suas mãos.
— Perdão? Oi? Sua Santidade? Eu tenho uma pergunta. O que diabos a senhora está falando?
— Assuma o comando, Luciel.
Isso não respondeu minha pergunta.
— Eu, ah… terei pessoas para me ajudar, certo? — Isso não ia acontecer só comigo. Nem pensar.
— Mas é claro. Seu dever é apenas garantir que a fundação seja estabelecida. Assim, seu conhecimento sobre clínicas e guildas será sólido, e suas habilidades estarão preparadas para a jornada que está por vir. Tenho plena confiança em você.
Sua Santidade era como uma grande mestre de xadrez, planejando dezenas de jogadas à frente. Ou eu é que era burro demais para entender.
Assenti hesitante.
— Farei o que puder.
Saí dos aposentos da papa soltando o maior suspiro da minha vida. Meu próximo destino me levaria diretamente para a toca do meu primeiro inimigo. Qual era o nome dele mesmo? Botticelli? Bottiscroogey? Sei lá. Só esperava que as coisas corressem bem. E logo depois do tal fulano, meu destino era a terra da independência: Yenice, uma vasta nação ao sul de Shurule (Illumasia e Luburk ficavam ao norte).
— Agora, vamos precisar de suprimentos e outras coisas para a viagem. Posso perguntar ao Mestre sobre isso quando chegarmos a Merratoni.
Ter uma visão clara do futuro era importante, e embora eu ainda estivesse nos estágios preliminares, já sabia quais informações precisava e o que deveria preparar. Eu não podia me perder focando em coisas que estavam fora do meu controle.
— Ah, quase me esqueci.
Jord e os outros precisariam ser informados. Mas, primeiro, decidi me aventurar no labirinto por um tempo para esfriar a cabeça. Eu vinha indo e voltando nas últimas semanas, eliminando os poucos monstros que ainda surgiam, e o Cajado da Ilusão tornava tudo uma moleza. Meu território atual de treinamento era o andar trinta.
O aumento de poder mágico proporcionado pelo Cajado da Ilusão fazia com que meus feitiços de Purificação englobassem toda a extensão das enormes salas de chefe de trinta por trinta metros. A primeira vez que tentei, quase tive um infarto. Até a Barreira de Área me surpreendeu, e tudo o que ela fazia era aumentar um pouco minhas defesas. Era assustador o quão absurdo esse cajado era.
Bloqueei o golpe com meu escudo e contra-ataquei com a lâmina agora transformada. Isso, uma vez por semana, era o máximo que minhas obrigações como exorcista exigiam.
— Tantos níveis ganhos e ainda assim não sou páreo para um paladino ou templário. Com certeza há algo mais nisso.
Cortei o espectro zombeteiro que se aproximava, absorvendo seus pontos de experiência antes de recuar. Espectros concediam uma tonelada de XP, então eu já estava no nível cinquenta e cinco. Não conseguia evitar pensar em quão mais alto meu nível estaria se eu soubesse a verdade sobre o Substância X desde o início, mas a verdade era que isso tinha salvado minha vida mais de uma vez. Sempre mantinha vários barris disso na minha bolsa mágica, por precaução. Quando parasse de subir de nível tão facilmente, voltaria a focar no crescimento dos meus atributos, habilidades e resistências.
Quatro míseros pontos nunca pareciam um grande aumento nos meus status ao subir de nível, para ser sincero, mas, por outro lado, meus atributos já tinham mais do que dobrado desde o nível um. E eu não podia esquecer a regra de ouro: números não eram tudo numa luta. Ser capaz de usar essas habilidades ao máximo era tão importante quanto, diminuindo a lacuna entre o que eu podia fisicamente fazer e o que minha mente permitia.
Quando perguntei a Catherine sobre isso e se era um fator para pessoas perderem lutas apesar de terem atributos superiores, ela me disse para parar de perder tempo pensando e passar mais tempo lutando. Em seguida, me jogou sem cerimônia em um dos eventos conjuntos dos cavaleiros, onde fui rapidamente esmagado.
— E todos disseram que a Barreira de Área era trapaça porque tornava a defesa de todo mundo forte demais.
Como resultado, o uso de Barreira de Área, Cura Média de Área e Cura Alta de Área foi estritamente proibido nos treinos em grupo. Aparentemente, as pessoas não gostavam da ideia de os Cavaleiros de Shurule se transformarem em um exército necromântico de zumbis que se curavam instantaneamente. Na verdade, foi só no mês passado que derramei algumas lágrimas com o novo apelido que isso me rendeu: Capitão Sádico. Sua Santidade também me proibiu de usar Círculo Sagrado ou Cura Extra em qualquer situação que não fosse emergência ou risco de morte.
Fiquei indeciso sobre onde gastar meus 108 pontos de habilidade—no Irmão Mais Velho do Senhor Sorte ou em mais afinidades mágicas—e, no fim, decidi perguntar ao meu mestre e saí do labirinto.
Dois meses passaram num piscar de olhos. Logo, eu e meu fiel corcel, Forêt Noire, partimos para Merratoni.
No quarto dia da nossa viagem, minha mente já estava cheia de informações sobre o estado da Guilda dos Curandeiros de Merratoni e suas clínicas, graças aos estudos dos últimos dois meses. A viagem foi tranquila e sem dificuldades, em parte devido aos estribos que mandei fabricar e ao uso constante de Cura e Purificação.
Voltamos pelo mesmo caminho que percorri na minha primeira jornada até a Cidade Santa, parando em várias vilas ao longo do trajeto. Eu queria que meus companheiros vissem pessoas e coisas além dos muros da capital.
Em cada cidade, ensinei o que pude, mostrei minha própria visão para a arte da cura e os preparei para a reformulação do curandeiro ganancioso.
Tradução: Carpeado
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