I Parry Everything: What Do You Mean I’m the Strongest? I’m Not Even an Adventurer Yet!
Volume 01 — Capítulo 26
[O Dever da Princesa]



 Depois de ver o Instrutor Noor derrotar o Dragão da Morte Negra, Ines e eu começamos a usar feitiços de purificação e vento juntos para dissipar a sua névoa maligna da área. Em pouco tempo, podíamos nos mover livremente de novo.

Embora estivéssemos presos no lugar antes, protegendo nossa carruagem e o cavalo, conseguimos assistir à batalha inteira de longe, do começo ao fim. Foi impressionante—essa era a única palavra para descrever. O dragão devastou o solo com sua fúria, suas garras atacando repetidamente em uma velocidade insana, como se tivesse enlouquecido. Mas o Instrutor Noor aparou cada golpe, cada impacto reverberando como um terremoto, até que as garras da criatura se estilhaçaram.

Eu ainda estava tentando aceitar o que havia visto; essa luta entre homem e dragão não aconteceu como deveria. O Instrutor Noor, mesmo em desvantagem por precisar proteger o garoto atrás dele, enfrentou o monstro de frente sem recuar um único passo. E quando a poeira baixou, foi o homem—não o dragão—quem permaneceu de pé.

Quem acreditaria numa coisa dessas?

Para minha surpresa, enquanto o Instrutor Noor caminhava de volta até nós após a batalha, trazendo o garoto salvo consigo, seu andar era calmo e controlado. Ele estava agindo como se nada de importante tivesse acontecido.

— Instrutor! — chamei. — Você está ferido?!

— Oh, não — respondeu ele. — Estou bem.

— M-Mas você está coberto de sangue!

Quando ele se aproximou, pude ver que ele estava completamente encharcado de sangue—a ponto de ser um milagre ainda não ter desmaiado por perda de sangue. Não tinha nada de "bem" ali. Eu precisava tratá-lo imediatamente.

— Ah, você diz isso aqui? — perguntou o Instrutor Noor. — Não é nada. Só deixar assim que deve se resolver sozinho. Bem, digo "deve"… mas já se resolveu.

— O-O quê? Isso não faz sentido... Não se preocupe, Instrutor, eu vou te curar agor—

Corri até ele e coloquei minhas mãos sobre seu corpo, pronta para começar a cura... mas, por mais que eu verificasse, não encontrei nenhum corte.

— Você está certo... Você não tem um único ferimento...

— Te falei, não falei? Estou bem.

Eu não conseguia acreditar. Além disso, ele também não parecia sentir nenhum efeito da perda de sangue. Não havia qualquer sinal de que a névoa maligna sequer o havia tocado. Por mais inacreditável que fosse, a verdade estava bem diante dos meus olhos.

— P-Por favor, me perdoe por duvidar de você — falei. — Você... realmente está ileso.

— Sim — respondeu o Instrutor Noor. — Não quero me gabar, mas sou bem resistente a venenos.

Ele deu um sorriso casual, como se fosse algo trivial, mas eu sabia que a explicação não podia ser tão simples assim.

Ele havia sido coberto por névoa maligna letal—o veneno supremo—tão potente que corroía até o solo. Era algo aterrorizante, semelhante a uma maldição impregnada com mana dracônica. Não havia como um ser humano entrar em contato direto com isso e sair ileso.

Então, tive uma súbita realização: havia uma possibilidade que eu ainda não havia considerado.

Observando mais de perto, percebi que uma aura estranhamente serena emanava do Instrutor Noor. Eu já havia visto um fenômeno parecido antes, há muito tempo, quando ainda era aluna nas escolas de treinamento. O Instrutor Sain, o Soberano da Salvação, me mostrou uma aura da mesma natureza.

O que me levou a pensar… será que o Instrutor Noor também possuía um espírito sagrado?

Um espírito sagrado era algo que aguardava aqueles que aprimoravam corpo e mente com uma dedicação quase santa. Ele permitia purificar qualquer coisa que tocasse e curar qualquer tipo de ferimento instantaneamente.

No entanto, ao contrário das habilidades, um espírito sagrado não era algo simples de se obter. Requeria que a pessoa suportasse um nível absurdo de treinamento entre a vida e a morte. Era o ápice de um ideal que apenas um punhado de santos na história já havia alcançado. Até mesmo meu instrutor Sain, chamado de lenda viva por aqueles que dedicavam suas vidas ao divino, precisou de mais de quarenta anos para dominar verdadeiramente seu espírito sagrado.

E, ainda assim, o Instrutor Noor havia feito o mesmo em sua idade jovem?

Contive minha descrença. Esse era o Instrutor Noor; é claro que isso era possível para ele. Mas… quão intenso teria sido o seu treinamento...?

— Lynne, pode verificar se esse garoto está bem? — perguntou o Instrutor Noor, interrompendo meus pensamentos. Ele colocou uma mão no ombro do menino ao seu lado. — Ele parece um pouco mal.

Esse menino não era…?

— Está tudo bem... — disse o garoto hesitante. — Eu... estou bem...

— Tem certeza? — perguntou o Instrutor Noor. — Você está muito pálido.

Ao ouvir as palavras do meu instrutor, tudo finalmente fez sentido. Analisei melhor as feições do garoto. Antes, eu estava longe demais para perceber, mas agora...

— Sempre fui pálido — disse o garoto. — Eu sou... um membro do povo demônio.

— É mesmo?

Minhas suspeitas foram confirmadas; o garoto era um demônio. Pele pálida, cabelo azul-claro com tons prateados e olhos de um negro profundo, como se fossem te engolir quanto mais você os encarasse. Ele fazia parte de uma raça que o mundo inteiro via com desconfiança por sua capacidade de controlar monstros—um povo marcado como inimigo do divino nos últimos cem anos pelo seu inimigo, a Santa Teocracia de Mithra. Eu tinha ouvido que quase nenhum deles havia sobrevivido...

— Então é verdade? — perguntei. — O garoto é um demônio?

— Sim — respondeu o Instrutor Noor. — Você entende das coisas, hein, Lynne.

— Sim. Mas... nunca encontrei um antes.

O Instrutor Noor parecia bem ciente de que o garoto era um demônio. Será que ele sabia desde o começo e mesmo assim correu para resgatá-lo?

— Instrutor — continuei —, o que... pretende fazer com ele agora?

— Eu estava pensando em deixá-lo viajar com a gente—se estiver tudo bem para vocês.

Fiquei um pouco surpresa. O povo demônio era considerado tão perigoso que a maioria dos países recomendava que fossem capturados ou eliminados à primeira vista. Mesmo que o Instrutor Noor o tivesse salvado, tudo o que aguardava aquele garoto era...

— Tem certeza? — perguntei. — Ele é um demônio... E o monstro que ele trouxe com ele acabou de...

— Sim, eu sei — respondeu o Instrutor Noor. — Mas nenhum de nós saiu ferido, certo? É uma pena que parte do trigo daqui tenha sido destruída... mas agora ele está sem trabalho por minha causa. Gostaria de fazer algo para compensar isso, se possível.

— Trabalho...? Que trabalho ele estava fazendo?

— Ele disse que estava trazendo aquele sapo venenoso para a cidade.

— Ele estava trazendo o Dragão da Peste Negra para...?!

Da mesma forma que chamou o Imperador Goblin de “apenas um goblin”, o Instrutor Noor chamou o Dragão da Peste Negra de “sapo venenoso”. Para alguém com a força dele, talvez não houvesse tanta diferença... mas se aquele dragão tivesse sido solto no meio da cidade, pessoas teriam morrido. No entanto, o garoto também teria se colocado em risco. Então, por que ele...?

O Instrutor Noor voltou-se para o garoto.

— Agora que penso nisso, você disse que alguém lhe deu esse trabalho, certo? Quem?

O garoto abaixou os olhos e balançou a cabeça diante da pergunta afiada.

— Eu... não sei. Ele não me disse quem era.

Esse parecia ser o máximo que ele estava disposto a revelar, pois se calou logo em seguida.

Ines deu um passo à frente.

— Nessas circunstâncias, não há vantagem em esconder informações. Agradeceríamos se dissesse a verdade.

Suas palavras firmes fizeram o garoto estremecer, seus ombros começaram a tremer.

As próximas palavras dele saíram hesitantes, como se temesse a reação de Ines.

— Eu... realmente não sei. Fomos criados assim...

O olhar assustado e sua postura tímida confirmaram minhas suspeitas—ele era um escravo.

Embora a escravidão fosse proibida no Reino de Clays e raramente discutida pelos cidadãos, em outros países, ela era parte do cotidiano. Se minha hipótese estivesse correta, o mestre do garoto provavelmente aproveitou o fato de ele ser um demônio para usá-lo como um soldado descartável.

— Você tem um lar para onde voltar? — perguntou Ines. — Consegue fazer a viagem sozinho?

— Eu... não sei — respondeu o garoto. — Me vendaram no caminho até aqui...

— Então você não pode voltar, mesmo que queira.

Ele assentiu.

— Está aí — disse o Instrutor Noor. — Acha que podemos levá-lo junto? Quero levá-lo para um lugar seguro.

Finalmente entendi as intenções do Instrutor Noor. Ele salvou esse garoto mesmo sabendo que ele era um demônio, uma raça odiada por muitos. Era um ato que faria inimigos de todos os lados, mas o Instrutor Noor escolheu fazê-lo mesmo assim.

Senti vergonha da minha própria mente fechada; o simples fato de esse garoto ser um demônio me fez agir como uma covarde. Como eu poderia me chamar de realeza sendo assim? Eu já deveria ter aprendido essa lição—sabia que era propensa demais a confiar em conhecimento teórico. Meu pai sempre me repreendeu por isso.

"Não permita que boatos o enganem. Confie no que está diante dos seus olhos."

Estudei o rosto do garoto mais uma vez. Nada nele se assemelhava à raça de malfeitores das histórias que ouvi. Tudo o que vi foi uma criança magricela sem lugar para ir. Provavelmente nunca teve uma refeição decente na vida. Se eu não podia ajudar nem um pobre garoto, como poderia me chamar de filha do Rei Aventureiro?

O Instrutor Noor voltou-se para o garoto demônio, que tremia.

— Qual é o seu nome? Acho que nunca perguntei.

O garoto olhou para cima e murmurou:

— É... Rolo.

— Rolo, hein? — O Instrutor Noor sorriu, como se estivesse fazendo uma piada. — Curto, direto e fácil de lembrar. Gostei!

— Ines... — eu disse. — Quero reforçar o pedido do Instrutor. Podemos levar esse garoto—podemos levar o Rolo com a gente?

— Lady Lynneburg... — Ines respondeu. — Entendo como se sente, mas nossa situação atual...

Ela parecia dividida. Seu dever principal era garantir minha segurança—disso eu estava bem ciente. Mas ainda assim, eu...

— Ainda há espaço na carruagem — disse o Instrutor Noor. — Mas, se não houver, ele pode ficar com o meu lugar.

— Há espaço — respondeu Ines, franzindo a testa. — Concordo que temos a obrigação de proteger órfãos, sejam eles demônios ou não. No entanto, considerando nossa situação atual, teremos dificuldades em levá-lo conosco. Para começar, os demônios são proibidos de entrar na Santa Teocracia de Mithra. Além disso, dói dizer isso, mas... deixá-lo em uma das cidades pelo caminho seria o mesmo que condená-lo à morte. Nossa melhor opção pode ser nos separarmos dele aqui, longe de olhares curiosos.

A lógica de Ines era impecável; a raça do garoto não podia ser ignorada. A Santa Teocracia de Mithra ainda carregava as memórias da guerra contra os demônios e via todo o povo deles como inimigos do divino. Qualquer um que o encontrasse tentaria capturá-lo e aprisioná-lo.

O país ainda mantinha recompensas ativas pelos demônios. No pior dos cenários, se o levássemos conosco para Mithra, também seríamos marcados como pecadores e atacados pelos soldados da Teocracia. Não podíamos nos arriscar a tanto, mas mesmo assim, eu—

— Estranho... Jurava que ele já estaria morto...

Foi então que percebi que havia um homem atrás de nós, envolto nos últimos resquícios da substância negra e esfumaçada que anunciara sua chegada.


Tradução: Carpeado 
Para estas e outras obras, visite Canal no Discord do Carpeado – Clicando Aqui
Achou algum erro? Avise a gente!
Este site tem como objetivo divulgar obras e incentivar a compra de materiais originais.
Não hospedamos, distribuímos ou promovemos links para cópias não autorizadas.
Adquira a obra original para apoiar os autores.
Comments

Comentários

Exibir Comentários