Seija Musou | The Great Cleric
Volume 01 Capítulo 11
[Convocação]




 Meio ano havia se passado desde que meu “treinamento como curandeiro” havia se tornado meu “treinamento como aprendiz”. Bottaculli havia sumido da minha mente ou, melhor dizendo, eu não tinha espaço para ele nos meus pensamentos.

O metal cortou a superfície da minha pele a uma velocidade imperceptível ao olho humano. A dor veio depois da surpresa, que foi seguida pelo pânico. O medo congelou meu corpo, enquanto meu cérebro, finalmente percebendo o ferimento, intensificou a dor. Durante tudo isso, eu ainda me surpreendia com a habilidade e o controle necessários para ferir alguém de forma tão leve e precisa.

Eu só tinha um pequeno problema.

— Mestre, eu estou me defendendo direito, então por que continua mirando nos meus braços e pernas?

— Porque eu já tava de saco cheio de ver você se gabando de que conseguia ler meus ataques. — Brod desviou o olhar, parecendo uma criança emburrada.

— Não é digno de um mestre sentir inveja do talento do seu pupilo. — Sorri. — E, aliás, velhos emburrados não são fofos.

— Pois esse velho aqui vai te cortar por mais uma hora.

Imediatamente me prostrei, cheio de arrependimento.

— Mil desculpas.

— Aff, não seja tão chorão. Vamos, já tá na hora de comer. Vamos ver o Gulgar.

— Sim, senhor.

Meu corpo havia mudado consideravelmente nesses seis meses. Eu podia sentir isso.

— Cedo hoje. — Gulgar comentou.

— Pois é, alguém aqui se cansou de ser fatiado. — Brod respondeu.

— Acho que é um motivo bem razoável. — Retruquei.

Gulgar já estava no refeitório com minha comida e a infame Substância X, como fazia todos os dias. Algumas coisas nunca mudam.

Dei a primeira mordida.

— Quando chegou aqui, ele era o rei dos fracotes. — comentou o chef de orelhas de lobo. — Mas olha pra ele agora.

— E não é? Se a gente tivesse treinado naquela época do jeito que treinamos agora, eu provavelmente teria decepado o braço do coitado sem querer. — Brod acrescentou.

Fiz uma careta.

— Não me dê essa imagem.

— Aposto que ninguém mais diria que você é um curandeiro, Luciel. — Gulgar disse.

— Eu mesmo não conheço nenhum que treine assim. — Brod acrescentou.

— Vocês já perderam o timing pra zoar. Já fui tanto cortado ultimamente que lâminas nem me assustam mais.

Gulgar me encarou.

— Elas não deviam assustar?

— Já errei e fui cortado um monte de vezes, mas continuo vivo. O que quero dizer é que agora me sinto mais confiante de que posso sobreviver a alguns golpes.

— Você aprende de uns jeitos bem estranhos. Às vezes, do nada, você consegue prever meus ataques e me faz errar o golpe. Me dá arrepios toda vez. — Brod comentou.

— Um zumbi masoquista e um instrutor demoníaco. Vocês são um par perfeito, viu. — Gulgar zombou. — Os dois já perderam completamente o juízo.

— Por favor, imploro, para de me chamar de zumbi masoquista.

— Como assim eu sou um demônio? Eu sou um professor gentil, não sou?

Gulgar e eu apenas olhamos para ele... julgando.

— Que diabos é esse olhar? Chega disso. Gulgar, cadê minha comida?

— Já vai sair.

No meio da refeição, Nanaella apareceu segurando um papel.

— Luciel, você tem uma carta. Algo da Sede da Guilda da Igreja de Saint Shurule?

— Ah, obrigado por trazer. — Peguei o envelope e, de fato, era da Sede da Guilda. — O que será?

— Não sei muito sobre a Guilda dos Curandeiros. Abre logo. — Brod sugeriu.

"Por ordem da Igreja de Saint Shurule, Sede da Guilda dos Curandeiros,

O curandeiro conhecido como Luciel, da Guilda dos Curandeiros de Merratoni, está transferido para a Sede da Guilda, localizada na Cidade Santa de Shurule.

Estamos cientes de que essa decisão é altamente irregular; no entanto, fomos informados por uma recomendação altamente favorável sobre sua pessoa. Nos relataram seu talento excepcional e seus esforços, demonstrados pela sua obtenção do nível cinco de Magia Sagrada em tão tenra idade, além de sua admirável devoção à causa de salvar vidas.

Levando em consideração sua posição atual na Guilda dos Aventureiros local, esperamos sua chegada assim que cumprir suas obrigações, no início do sexto mês do ano.

Papisa Fluna Alludelli de Shurule."

— É uma ordem. Estou sendo transferido para a Sede da Igreja, aparentemente.

— Eles nos pegaram. Maldito desgraçado sorrateiro. — Brod rosnou.

— O que você quer dizer?

— Bottaculli. Ele sabe que você nunca sairia daqui por vontade própria e que está protegido aqui, então armou pra te transferirem pra Sede da Guilda.

— Por que ele faria isso?

— Ele nunca quis sua morte necessariamente. Só quer que você pare de curar aqui em Merratoni.

— E a solução dele foi me mandar direto pra Sede?

— Exatamente. E como tá assinado pela própria Papisa, provavelmente vão te dar uma posição da qual você não vai conseguir sair tão cedo.

— Isso é... uma promoção? Tô subindo na vida?

— Basicamente. Que cara generoso. — Brod debochou.

— Me sinto meio mal com isso.

— Já era. Pelo menos temos meio ano. Vamos dobrar a carga de pacientes além do seu treinamento. Entendido?

— Entendido.

— Dá uma olhada nas suas habilidades agora.

Obedeci na hora e encontrei uma enxurrada de novas aquisições: Pensamento Paralelo, Encantamento Rápido, Espadas, Escudos, Lanças e Arco e Flecha.

Senti um alívio enorme. Esses seis meses não tinham sido em vão. A felicidade transbordou e escorreu pelos meus olhos em forma de lágrimas. Brod, ao ver minha fraqueza, não perdeu a chance de me zoar.

No dia seguinte, a guilda suspendeu as restrições no número de pacientes e na gravidade dos ferimentos que eu podia curar. Desde aquele dia, comecei a lançar quantidades absurdas de magia de cura, todos os dias, até praticamente desmaiar. Aí me davam Substância X, que recuperava uma mísera quantia de mana, e eu voltava ao trabalho. O que eu não percebi na época foi que, junto com a intensidade do treinamento, eles também tinham aumentado a concentração daquela droga.

Os dias passaram, ganhei novas habilidades, continuei preso no nível um e, eventualmente, meu período de um ano na Guilda dos Aventureiros chegou ao fim.


Tradução: Carpeado
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