Seija Musou | The Great Cleric
Volume 01 Capítulo 09
[O Melhor Curandeiro de Merratoni, Bottaculli]




 A Guilda dos Curandeiros, uma sociedade formada por aqueles com a habilidade de manejar Magia Sagrada, foi fundada com o único propósito de salvar vidas, fruto dos esforços do Lorde Reinstar e seus companheiros.

No início, a cura era recompensada por doações de caridade, e a população local crescia em resposta a seus serviços. Essas doações não consistiam apenas em dinheiro, mas também em frutas, vegetais, itens de necessidade diária... Qualquer coisa era aceita, desde que fosse dada com boas intenções.

Porém, conforme a população aumentava descontroladamente, os homens começaram a brigar e a entrar em guerra uns contra os outros. Os curandeiros passaram a priorizar seus serviços para os mais necessitados. Esses dois eventos se tornaram catalisadores de grandes mudanças no mundo.

A guerra levou cada vez mais pessoas à morte, a população diminuiu, e os curandeiros se tornaram nada mais do que ferramentas. Assim, Lorde Reinstar e seus companheiros decidiram fundar sua própria nação de curandeiros, um reino que prosperaria grandemente. Pelo menos, até que seus fundadores faleceram.

Os curandeiros remanescentes não compartilhavam a mesma visão. Muitos estavam furiosos e ressentidos pelo abuso e ódio que recebiam quando sua magia salvadora falhava. Assim, curandeiros de todas as partes do mundo se revoltaram entrando em greve. Como resultado, os preços passaram a ser definidos pelos próprios curandeiros, e a guilda ficou impotente, limitando-se apenas à venda de grimórios e à cobrança de impostos.

As taxas arrecadadas eram usadas para cobrir despesas e pagar os funcionários, mas não havia fundos para estabelecer novas clínicas ou manter o orfanato. Isso deu origem ao arquétipo do “curandeiro ganancioso”, uma imagem que apenas se fortaleceu com o tempo.

Foi isso que Brod me contou sobre a situação dos curandeiros no mundo. E por um bom motivo—dois meses se passaram desde que fui oficialmente contratado pela Guilda dos Aventureiros e, atualmente, minha vida estava em perigo.

— Não acredito que tem gente por aí que me odeia só por eu estar vivo.

Durante meu tempo na guilda, salvei vários aventureiros. Infelizmente, as clínicas das quais eu aparentemente estava “roubando negócios” estavam perdendo dinheiro. Elas investigaram a causa e descobriram que era eu. Como eu tinha montado base na Guilda dos Aventureiros e era um membro oficial, assassinato não era uma grande preocupação. Mas, segundo Galba, o maior mercenário da cidade estava se movendo, então qualquer coisa poderia acontecer.

— Por isso, a partir de agora, sempre que você sair, terá guarda-costas. — Brod declarou, claramente sem perceber que eu nunca havia sequer pisado fora da guilda nessas circunstâncias.

Sim, claro, como se isso fosse acontecer.

— É tão estranho pensar que, do nada, tem gente querendo me matar.

— Pois é. Mas não esqueça, tem tanta gente do seu lado quanto contra você, talvez até mais. O pessoal da guilda, os aventureiros... Você tem uma família que se orgulha de você. Todo o trabalho que fez não foi em vão. Você tá bem protegido.

Isso era, sem dúvida, um ponto positivo. Mercenários neste mundo eram basicamente assassinos e, no geral, eram bem menos numerosos que os aventureiros. Também eram considerados mais fracos. E com a Linhagem do Lobo Branco como minha guarda pessoal, praticamente ninguém poderia se aproximar de mim. Meu instrutor também era uma presença reconfortante, é claro.

— Bem, não estou fazendo nada de errado. Mas, se tem alguém atrás da minha vida, vou precisar treinar o máximo possível.

— Você é o curandeiro mais estranho que já conheci, sabia? No bom sentido. — Ele sorriu para mim como um maníaco sedento por batalha. Tive que me lembrar de não pensar nisso na próxima vez que estivéssemos lutando.

— Eu só sou eu. A propósito, onde você conseguiu a informação de que eu estava sendo alvo?

— Cidadãos, aventureiros, gente cansada dos outros curandeiros.

— Sério? Até os cidadãos?

— Exato. Mas essa informação veio com a condição de que você começasse a curar eles junto com seus pacientes habituais.

— O quê? Eu estava curando cidadãos? Desde quando? Ah, teve aquela senhora de armadura completa e o velhinho de manto... Aquilo era cosplay pesado.

Eu devia ter deixado passar, já que parei de prestar tanta atenção nas pessoas depois de aprender Cura em Área.

— O que, acha que as pessoas dão informações de graça?

Lendo nas entrelinhas, presumi que ele estava me dizendo que era preciso fazer o que fosse necessário para conseguir informação.

— Beleza, eu posso curá-los — suspirei. — Só garanta que estarei bem protegido.

— Sem problema.

Fiquei aliviado, deixando a luta nas mãos dele. Isso tinha alguma relação com minha sequência de derrotas? Talvez.

— Então, já sabemos quem está tramando contra mim?

— Sim. O diretor da maior clínica de Merratoni, Bottaculli.

O nome me soava familiar. Não demorou para eu lembrar que era o mesmo homem que suspeitávamos de tentar matar Mônica.

— O homem mais poderoso da cidade não suporta um único curandeiro novato? Isso que é complexo de Napoleão. Mas isso pode significar que Mônica está em perigo também. Ele provavelmente foi quem mandou o assassino atrás dela.

— Eu ouvi sobre isso na época, mas tudo não passava de conjecturas. Ele garantiu que o sujeito ficasse de boca fechada. Aliás, tô tentando entender o que você quis dizer com ‘Napoleão’, mas não tá vindo nada à mente.

— Gah! — Acerto crítico de uma piada ruim de pai.

— Ei, você tá bem?

Tirando o buraco no meu coração, sim. Melhor eu tomar cuidado com o que falo no futuro.

— S-Sim. De qualquer forma, não tem nenhuma clínica do meu lado?

— Aposto que algumas te apoiam em segredo, mesmo que não possam demonstrar publicamente. O fato de você cobrar um preço justo e deixar isso claro desde o começo é algo bom.

— E qual é a minha reputação, afinal?

— Você se dá bem com aventureiros. Faz bem o seu trabalho e trata todo mundo com respeito. Também recebemos vários pedidos do povo da cidade pedindo para vir aqui para receber cura.

Aparentemente, já estávamos tratando os moradores da cidade. Por outro lado, foi graças a eles que descobrimos o plano de assassinato antes que eu acabasse com uma faca nas costas. Dar e receber, como dizem.

— Espera... Então já tratei vários deles até agora?

— Percebeu, né? A notícia já se espalhou sobre um curandeiro que trata as pessoas por apenas uma moeda de prata, sem esvaziar os bolsos delas.

Por um momento, fiquei preocupado com o plano do Brod, pensando se ele tinha a intenção de esmagar completamente as clínicas, mas aquele preço era mais alto do que eu esperava.

— Uhm, não é meio caro cobrar uma prata? — Para mim, parecia um preço exagerado. Afinal, não era como se eu desse atenção exclusiva para cada um deles. Se um único curar custava uma prata, na tarifa atual, cinquenta cobres por um curar em área pareciam mais justos.

O treinador inclinou a cabeça e ergueu uma sobrancelha.

— Achei que a Nanaella e as garotas tinham te ensinado o básico do bom senso.

— Ei, posso ser um curandeiro, mas ainda sou um completo novato. Mal comecei meu segundo ano.

E que lugar excelente eu tinha encontrado para esse segundo ano. Não só para aprimorar minhas habilidades de cura, mas também para expandir meu conhecimento geral. Havia livros de todos os gêneros aqui, cobrindo todo tipo de assunto, e eu podia lê-los à vontade enquanto perguntava qualquer dúvida para os outros.

No começo, fiquei preocupado com a equipe da guilda, já que eles lidavam diretamente com os aventureiros grandalhões e assustadores que tanto me apavoravam, mas ser funcionário do escritório da guilda exigia mais do que apenas preencher papéis. Todo mundo ali tinha uma vasta experiência e conhecimento. Era um verdadeiro encontro de mentes.

E, em um mundo com poucas opções de lazer, a leitura era a minha forma de relaxar, então aprendi muito ao longo do último ano.

Apesar do treinamento árduo que passei, no fundo eu ainda era um cara medroso. Antes, eu temia pela minha vida toda vez que um daqueles aventureiros rudes vinha pedir ajuda. Mesmo já acostumado a lançar curar, eu articulava cada sílaba do encantamento com precisão, o medo de falhar e acabar morto nunca saindo da minha cabeça. Eu treinava, praticava e visualizava os feitiços todos os dias.

Então, um ano depois, esse medo desapareceu completamente. Mas eu não deixei isso subir à cabeça. Outro pensamento surgiu: e se esse for o caminho para eu ter uma vida segura? Curar aventureiros, quem precisar, com honestidade e confiabilidade.

A chama que esse pensamento acendeu em mim e o trabalho árduo que me inspirou continuavam a dar frutos até hoje. Mas, sem dúvidas, o principal motivo que me mantinha firme era o ambiente de trabalho. Nada parecido com o inferno que eu via os médicos enfrentando nos programas de TV. Não havia noites sem dormir, nem gente desmaiando de tanto trabalhar. Pelo contrário, estávamos todos juntos nisso. Todo mundo se ajudava.

Minha nova vida não era ruim. Brod entendia tudo isso, a história por trás das minhas palavras. Depois de um momento pensativo, ele sorriu.

— É, você tem razão. Acho que tenho que garantir que meus temporários sobrevivam, né? A partir de hoje, vamos aumentar a diversidade de armas no seu treinamento.

— Uhm, não precisa ficar tão animado — gaguejei. — Ei, não me puxa! Você tá me ouvindo? Treinador! Ei, Treinador!

E lá fui eu para os campos de treinamento subterrâneos, arrastado pela gola da camisa. Os funcionários e aventureiros, impassíveis, olharam sem muito interesse. Já tinham visto essa cena acontecer um milhão de vezes.

Dias depois, numa tarde como qualquer outra, eu estava focado no meu treinamento de Artes Marciais e Ambulação, levando uma surra do meu instrutor, quando uma voz autoritária chamou minha atenção.

— Você é o curandeiro desta guilda?

Me virei e vi um homem rechonchudo se aproximando, acompanhado por dois guarda-costas musculosos. Os outros aventureiros do campo de treinamento imediatamente se colocaram entre nós, bloqueando o caminho dele. Quem era esse cara? Nunca o tinha visto na vida.

— Tá surdo, garoto? — um dos mercenários gritou. Tinha coragem de falar grosso estando cercado por tanta gente assim.

— E quem seriam vocês? — respondi calmamente. — Não me lembro de ser conhecido de arruaceiros que aparecem sem avisar só para causar confusão.

Deixei minha irritação transparecer. Meu corpo doía, e eu não estava no humor certo para lidar com aquilo. Não via razão para dar atenção a alguém que nem se dava ao trabalho de se apresentar. Esse gorducho, que veio desperdiçar meu tempo valioso, só podia ser Bottaculli. Com meu instrutor e os outros por perto, não havia motivo para ter medo. Eu podia falar o que quisesse.

— Vejo que, além de insolente, também é burro, seu moleque. Escute bem, porque só vou dizer uma vez. Eu sou o diretor da maior clínica de Merratoni, Bottaculli!

— Botticelli?

— Bottaculli, seu...! Estou te dando uma ordem. Pare de curar as pessoas na Guilda dos Aventureiros. Faça isso, e eu o contratarei na minha própria clínica. Tirei tempo do meu dia cheio para vir pessoalmente te dizer isso.

Que curandeiro em sã consciência se deixaria levar pelo sorriso convencido de um velhote gordo?

— Sinto muito, mas não posso fazer isso — respondi educadamente. — Esta é minha designação oficial da Guilda dos Curandeiros. Não está sob meu controle. Mas, para ser sincero, acho que recusaria de qualquer forma, já que estou aqui por um motivo.

O rosto de Bottaculli ficou vermelho como um tomate maduro.

— Agora escute aqui, pirralho. Estou te dando essa chance por pura bondade. Se pretende me desrespeitar...

Ele não conseguiu terminar a frase. Os aventureiros ao meu redor lançavam olhares gélidos e cortantes para ele e seus guarda-costas, deixando claro o quão indesejados eram ali.

— Você me ameaça, tenta me roubar do meu trabalho e chama isso de bondade? Eu não posso acatar sua ordem, mas adoraria te oferecer um dicionário, se quiser.

Pelo visto, ele não era incapaz de falar, mas certamente sabia como lançar um olhar fulminante. O curandeiro não escondeu a fúria em sua expressão, seu rosto ficando ainda mais vermelho.

Os capangas ao lado dele esperavam ordens. A presença deles provava que Bottaculli tinha mercenários sob seu comando, validando a decisão de Brod de colocar guardas para me acompanhar quando eu saísse.

— Por que você está tão insistente para que eu vá para sua clínica?

— Desde a sua chegada à Guilda dos Aventureiros, minhas clínicas têm visto cada vez menos pacientes.

— Você está fazendo um bom marketing? Clínicas existem para ajudar as pessoas. E eu duvido que alguém queira ajuda de um lugar com má reputação. Além disso, do que você está reclamando? Você é uma criança? Eu recomendo fortemente que aprenda um pouco de senso comercial.

— Você está dizendo que minha clínica tem má reputação?! — ele gritou.

Todos os rumores diziam isso. No entanto, sua clínica ainda era a maior da cidade e não lhe faltavam pacientes.

— Eu nunca disse isso. Só acredito no bom senso. As pessoas querem ir a uma clínica onde sejam tratadas com respeito, onde possam ser atendidas rapidamente e com preços honestos e transparentes.

— Você acha que pode me dar uma lição sobre como administrar meu negócio?

— Não, de jeito nenhum. Por que eu daria uma lição a um homem que acabei de conhecer? Alguma coisa que eu disse te incomodou, talvez?

— Seu verme insignificante! Um curandeiro novato como você não é nada para mim! Eu poderia esmagá-lo num instante! — ele gritou, com as veias da testa pulsando.

No mundo dele, eu era um invasor, e ele tinha pelo menos um pouco de justificativa para pensar assim. No começo, eu me senti dividido. Eu sabia que minhas ações estavam prejudicando as clínicas por toda a cidade. Mas a extorsão, a escravidão... era o mesmo que negar a outros o direito de viver, nada diferente de rejeitar uma coexistência pacífica.

Decidi ouvi-lo. Eu tinha aliados por toda parte para me proteger, então queria aproveitar essa chance para entender a visão de Bottaculli.

— Certo, você é um curandeiro muito mais experiente do que eu e o diretor da maior clínica de Merratoni. Gostaria de ouvir um pouco da sua sabedoria, se não se importar.

— Hmph. Muito bem. — Como tirar doce de uma criança. Sua expressão convencida voltou no mesmo instante. — Para minha própria referência, que magia você usaria para tratar um paciente com ossos quebrados ou uma doença grave?

— Ouça e se maravilhe, pois minhas clínicas empregam pessoas, como eu, com a habilidade de lançar o feitiço avançado de cura, Cura Avançada. É isso que usamos. Pelo preço de apenas trinta moedas de ouro, é praticamente uma pechincha.

Ele falava tão alto sobre si mesmo que era de se esperar que saísse flutuando com tanto ar quente. Mas se ele podia usar Cura Avançada, certamente havia passado por um bom treinamento. O que o havia motivado a estudar magia no passado? E agora cobrava trinta moedas de ouro por um único feitiço? Ele estava certo sobre ser "uma pechincha", mas não no sentido que imaginava.

— E, por exemplo, um aventureiro que está sangrando após ser mordido por um Lobo da Floresta?

— Cura Avançada, é claro. O paciente, imagino, preferiria ser curado completamente.

— Mas e se ele não tiver dinheiro?

— Isso eu não posso divulgar. Temos nossas maneiras de garantir a compensação que nos é devida.

— Como vendê-los para mercadores de escravos de outros países?

A expressão de Bottaculli imediatamente azedou. Uma aura intimidadora emanou de seus mercenários. Comparada à de Brod, porém? Era como uma brisa leve.

— Bom, deixa pra lá. Cura ou Cura Intermediária não seriam suficientes para esse tipo de ferimento?

— Por que eu deveria me rebaixar a lançar uma magia tão básica? As condições financeiras dos pacientes são problema meu? Eles vêm até minha clínica em busca de ajuda, e nós a oferecemos. Eles não têm o direito de reclamar — afirmou sem um pingo de consciência.

E esse era o homem que construiu a principal clínica de Merratoni.

— Me diga uma coisa. Não seria mais lucrativo analisar cada caso, usar a magia apropriada e ajudar o maior número possível de pessoas?

— Que ingenuidade. Somos curandeiros, não escravos. Por que deveríamos nos ocupar com trabalho que não paga?

— Você só vai ganhar animosidade com esse pensamento. A magia não é um presente da Deusa para salvar vidas?

O homem em forma de ovo riu.

— Ingênuo, garoto, ingênuo. Assim como eu já fui. Você ainda não experimentou o desprezo e o abuso, não é? O clamor pela sua cura quando você está sem mana. A difamação, apesar dos seus esforços mais sinceros.

Bottaculli podia usar Cura Avançada. Ele não era um novato; havia passado pelo treinamento. Talvez, muito tempo atrás, ele tivesse sido admirado e respeitado por sua profissão. Que desperdício. Um grande desperdício.

— Não posso dizer que sim. Talvez isso realmente me fizesse perder a fé nas pessoas.

— Viu? Venha para minha clínica. Vamos tratá-lo bem.

— Mas me pergunto se você realmente foi encurralado assim. Será que realmente foi antagonizado por todas as pessoas ao seu redor? Você não tinha um único amigo? Nenhuma mão estendida para você? Já pensou nas famílias das pessoas que você jogou na escravidão?

— Não fale como se soubesse quem eu sou, verme!

Eu havia pisado em um campo minado, e Bottaculli estava furioso. Nada do que eu dissesse faria diferença agora. Mas ainda esperava encontrar algo de bom dentro dele, algo que ainda estivesse agarrado no fundo do seu coração, e continuei.

— O fato de você conseguir lançar Cura Avançada significa que claramente tem habilidade, mas ainda assim os pacientes não vêm. Então por que não considera que o problema pode estar na sua própria administração? O jeito como você faz as coisas só traz miséria para os outros.

Seguiu-se um silêncio... mas apenas temporário.

— Você já disse tudo o que precisava? Ótimo. Porque minha compaixão acabou. Você realmente me irritou. — Bottaculli se virou para os mercenários. — Matem-no! Não me importa como, quero a cabeça dele!

— Naquele exato instante, senti uma brisa passar por mim. Os mercenários haviam parado de se mover. Ou melhor, eles não conseguiam se mover. Mais rápido do que um piscar de olhos, Brod já tinha posto adagas na garganta de ambos os homens. Um único passo em falso e eles estariam acabados... e eles sabiam disso. A diferença de habilidade era imensa.

Mesmo sem Brod, não faltavam aventureiros ao meu redor, cada um emanando uma aura tão intensa que eu não precisava ser o alvo direto para sentir a hostilidade no ar.

Mas a fúria de Brod estava em um nível totalmente diferente. O rosto dos mercenários ficou completamente pálido.

— Meu nome é Brod, da Guilda dos Aventureiros. Senhor Bottaculli, que tal se eu conduzisse uma investigação sobre essas suas clínicas? Tenho um certo interesse nas suas finanças, pra falar a verdade. Quem sabe eu não encontre alguns esqueletos no seu armário — ele rosnou.

Bottaculli, tremendo como uma folha ao vento, não perdeu tempo. Soltou um grito patético e disparou escada acima o mais rápido que pôde. Os mercenários também não hesitaram, seguindo o chefe assim que Brod os soltou.

— Uau, isso foi incrível! — comemorei. — Você o espantou como se não fosse nada. Nunca deixo de me impressionar com você, Treinador. E vocês também. Obrigado por me defenderem.

Meus companheiros ainda pareciam tensos, então tomei cuidado para agradecê-los a uma distância segura. Assim que baixei a cabeça, todos voltaram aos seus afazeres como se nada tivesse acontecido.

— Então aquele era o grande chefe que odeia minha existência? Não acredito que ele simplesmente entrou aqui desse jeito. Mas tenho a impressão de que ele já foi um bom curandeiro.

— Já foi. Agora é só um miserável mesquinho que extorque as pessoas e as joga na escravidão — cuspiu Brod. — O que ele foi no passado não importa mais.

— Verdade.

Talvez algo tenha acontecido no passado para fazê-lo desconfiar dos outros, mas isso era coisa de outra época. Preços abusivos e escravidão por dívidas provavelmente aconteciam em todo o mundo agora. Então por que a sede da guilda estava de braços cruzados há tanto tempo?

— Me pergunto por que coisas assim são permitidas. Deveria haver leis contra isso — murmurei.

— Alguns curandeiros escondem os preços até que o serviço esteja feito e depois te acusam de criminoso por não pagar. É complicado.

— Vale tudo, pelo visto. Lorde Reinstar deve estar se revirando no túmulo. Não que eu tenha conhecido ele.

— Esses curandeiros doentes que fazem as pessoas se endividarem são tão criminosos quanto qualquer bandido — rosnou Brod.

Finalmente entendi por que a Guilda dos Curandeiros era tão odiada. E eu, um curandeiro, tinha acabado de aparecer na Guilda dos Aventureiros em busca de trabalho. Eu realmente devia muito a Brod.

— Parece um problema bem enraizado.

— É. Ainda bem que foi um cabeça de vento como você que apareceu aqui.

— Não sei se isso foi um elogio ou não, mas também fico feliz que você tenha me contratado.

Se eu tivesse começado a trabalhar no lugar de Bottaculli, talvez tivesse sido corrompido por ele. Ou talvez eu tivesse protestado como Mônica... e acabado assassinado.

— Bom, se antes não tinha, agora você com certeza tem um alvo nas costas.

— Por que você parece feliz com isso? — ri. — Você gosta tanto assim de lutar? Acho que é melhor ficarmos atentos daqui pra frente. Não sou fã de assassinos.

— A guilda vai te proteger. Vou manter olhos no seu quarto também, então continue fazendo o que está fazendo. Você está com a Guilda dos Aventureiros. Não poderia pedir um grupo melhor para cuidar de você.

A confiança dele era reconfortante.

— Vou deixar isso com você, então. Vamos retomar nosso treino de onde paramos, se não se importa.

— Claro. Agora que você tem gente querendo te pegar de verdade, vamos aumentar a dificuldade.

— Desde que isso não me mate, por favor e obrigado.

E assim, os gritos de agonia começaram a se tornar mais frequentes no porão da Guilda dos Aventureiros. Nos intervalos dos treinos, me peguei pensando no passado de Bottaculli. Como, se minha cura um dia deixasse de ser suficiente, o carinho das pessoas por mim poderia se transformar em ódio.

Novos pensamentos ocuparam minha mente: pensamentos sobre o melhor curandeiro de Merratoni, Bottaculli, sobre a Guilda dos Curandeiros, e sobre as clínicas e os curandeiros que trabalhavam nelas.

Bottaculli, tendo fugido com o rabo entre as pernas, descontou sua raiva nos dois mercenários e em seu escravo de confiança.

— Maldito moleque, me fazendo de idiota! Ele brandiu sua ‘justiça’ como se entendesse como o mundo funciona. Não vou deixar isso barato. Seus imbecis, descubram tudo o que puderem sobre ele, cada detalhe, não importa o quão insignificante. Se surgir uma oportunidade, matem-no.

Os mercenários não responderam. Bottaculli claramente não percebia que Brod estava sempre por perto de seu alvo. Os dois praticamente nunca se separavam, e isso por si só tornava o trabalho problemático.

— Senhor Bottaculli, ameaçá-lo ou encurralá-lo não vai ser fácil — disse um dos mercenários com cautela, para evitar mais da ira do empregador. — Ele está cercado pela guilda, e aquele monstro nunca sai do lado dele. Não conseguimos tocar no cara.

— Sim, eu sei! Apenas calem a boca e façam o que mandei!

Os dois capangas ficaram aliviados ao perceber que seu mestre ao menos entendia o problema que Brod representava. No entanto, ainda tinham poucas informações sobre Luciel. Ele era um curandeiro que se mantinha recluso na Guilda dos Aventureiros. Apesar de sua idade, suas habilidades eram excepcionais. Suas relações e conhecidos se limitavam apenas àqueles dentro da guilda. E isso era tudo o que sabiam sobre ele.

— Mas senhor, se o matarmos, o senhor será o primeiro suspeito. Mesmo que fosse inocente, os aventureiros se voltariam contra o senhor imediatamente.

— Sim, sim, eu sei!

— Bom, não é exatamente uma boa notícia, mas ele só vai ficar aqui por um ano, no máximo. Só precisamos garantir que ele seja forçado a sair da cidade depois disso.

— Idiota, acha que vou esperar todo esse tempo? Por que esse fedelho está desperdiçando seu tempo com aqueles miseráveis, afinal? Você, descubra mais sobre ele na Guilda dos Curandeiros e na dos Aventureiros.

— Entendido — respondeu o escravo, saindo imediatamente.

— Preciso perguntar ao diretor da guilda se o garoto pode ser chamado de volta antes do prazo. Mas isso não vai funcionar se a Guilda dos Aventureiros não puder ser comprada. Tem que haver outro jeito...

O curandeiro gorducho caiu em profunda reflexão.


Tradução: Carpeado
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