Seija Musou | The Great Cleric
Volume 01 Capítulo 08
[Uma Festa de Boas-Vindas e Sombras à Espreita]




Tolamente, achei que minha vida mudaria um pouco, mas meus dias continuaram como sempre—treinando e curando.

— As coisas não estão muito diferentes de antes, né? — murmurei para mim mesmo.

— O que você esperava? — Brod respondeu. — Seu trabalho é curar pessoas. E você queria continuar treinando, não queria?

— Claro. Qualquer coisa que me mantenha vivo por mais tempo.

Eu realmente queria dizer isso. Meu objetivo do ano passado, superar meu medo de aventureiros, tinha sido alcançado, e agora eu me sentia confortável dentro das paredes da guilda. Era verdade que as pessoas temiam o que não conheciam. Mas, ao conhecer alguém, na maioria das vezes, descobria-se que não eram tão ruins assim—como aprendi durante o treinamento no meu antigo emprego, na vida passada.

— Luciel, aguente firme este ano. Eu juro que vou te deixar ao menos forte o bastante para sobreviver a um esbarrão com um ladrãozinho de baixo nível.

O treinador era tão confiável como sempre, mas me perguntava se era realmente certo treinar durante o trabalho. Afinal, ele me contratou como curandeiro. Mas, se ele diz que está tudo bem, então não vou reclamar.

— Vou dar o meu melhor.

— Ótimo. Agora, vamos jantar.

— Sim, senhor.

Juntos, seguimos para o domínio de Gulgar, mas algo parecia estranho. Onde todo mundo foi parar? Brod não disse nada e continuou andando, então ignorei essa sensação.

No momento em que entramos no refeitório, uma voz poderosa ecoou:

— Apresentamos o curandeiro da Guilda dos Aventureiros!

Uma explosão de aplausos se seguiu.

— Hã?

No meio da multidão que me recebeu estavam os funcionários da guilda, que deveriam estar de folga, e muitos aventureiros que eu conhecia.

— Por que essa surpresa toda? Você agora faz parte da guilda, então é um membro temporário da equipe. Por que não faríamos uma boa e velha festa de boas-vindas? — Meu instrutor exibia um sorriso de orelha a orelha antes de soltar uma gargalhada animada.

O salão de jantar estava organizado em estilo buffet, mas ainda assim parecia apertado com tanta gente. Eu só conseguia sentir gratidão por todos que vieram.

— Ei, Luciel, chega aqui rapidinho — Gulgar chamou da cozinha. Perto do balcão, uma única cadeira estava esperando para ser ocupada.

O que é isso, uma festa de aniversário? Que vergonha…

— Senta aí e pega isso. — Ele me entregou o de sempre.

Ver as garotas correndo para a saída nos fundos foi bem deprimente. Elas praticamente fugiram de mim. Um cheiro pútrido subia da jarra de Substancia X que eu segurava.

— Eu realmente preciso beber isso? Nem comi ainda.

— Não, você vai tomar banho com isso. Claro que tem que beber! Como a festa vai começar se esse não for o brinde? — ele provocou. Os outros aventureiros me olhavam com a mesma expectativa.

— Beleza. Então, quem vai fazer o brinde?

— O palco é todo seu, Luciel.

Eu sabia. Eu ia ter que aguentar esse tipo de coisa o ano inteiro, não ia?

— Bom, então, permitam-me começar — comecei. — Tive muitas memórias aqui no último ano. Algumas boas, outras nem tanto. Que este ano traga apenas boas lembranças. Aventureiros, espero que voltem para casa todos os dias, mesmo que tenham que rastejar meio mortos. Eu estarei aqui para salvar vocês. Equipe da guilda, espero que consigam me aturar por mais um tempo. À felicidade e à fortuna. Saúde!

— Saúde! — a sala inteira gritou.

Inclinei a cabeça para trás e virei o veneno na minha caneca. Ninguém me acompanhou. Todos me encaravam, boquiabertos.

— Caramba… — ouvi alguém murmurar na multidão.

— Eu sabia que esse cara era masoquista.

— Será que o nariz dele também é defeituoso?

Meu nariz está ótimo, obrigado. O cheiro é horrível, mas nós, humanos, funcionamos de forma diferente, pensei. Talvez eu pudesse convencer Gulgar a forçar aqueles engraçadinhos a experimentarem o Substancia X também.

Quando finalmente consegui falar de novo, Brod já estava me dando um aviso.

— Ah, e nada de álcool pra você, Luciel.

Demorei um momento para processar o que ele disse. Desde que vim para este mundo, não toquei em uma gota de álcool, mas na minha vida passada, eu costumava beber em quase todos os jantares. Hoje, pelo menos, eu queria tomar um gole.

— Por quê? Isso aqui não é uma festa?

— Ele amplifica a Substância X tanto que você não vai conseguir sair da cama amanhã.

— Você tá brincando.

Como diabos algo já absurdamente forte podia ficar ainda pior? Era minha própria festa, e eu nem podia beber. Que absurdo.

Brod colocou um prato cheio de comida na minha frente enquanto tampava o nariz.

— Come aí pra ficar grande e forte — ele zombou, segurando o riso. — Não pode beber com a gente, mas tem toda a comida e Substancia X que quiser.

Agora ele estava só me sacaneando. Era minha festa de boas-vindas, e ninguém aguentava ficar perto de mim por meia hora, até o cheiro do meu hálito sumir. Fiquei no meu canto, comendo sozinho.

Quando já estava no meu limite, Gulgar apareceu com mais um prato enorme.

— Eu tô completamente cheio, sério.

— É? Notei que anda comendo mais ultimamente.

— Só tentando não desperdiçar nada. Ah, você viu o Galba por aí?

— Meu irmão tá num trabalho importante. Não veio hoje.

— Soa misterioso.

Um trio de aventureiros se aproximou.

— Ei, curandeiro, como é que você consegue beber essa coisa?

— É porque a língua dele é toda zoada, não é?

— Ouvi dizer que curandeiros têm os sentidos meio entorpecidos.

Eles ficaram jogando teorias um atrás do outro, mas não pareciam estar de má intenção. Enquanto tentava me defender das acusações, Gulgar voltou com três copos.

— Se vocês têm algo contra o convidado de honra, tenho algo aqui pra calar a boca de vocês — ele ameaçou.

— Eu bebo isso por um encontro com a Mônica — retrucou um dos aventureiros.

— Eu fico com a Nanaella — acrescentou outro.

— Eu aceito qualquer uma, nem ligo mais — disse o último.

— Gulgar, me traz um jarro de Substância X — pedi.

— O-Opa, claro — ele respondeu, parecendo bastante chocado.

Eles podiam dizer o que quisessem sobre mim, mas não achava certo tratarem as garotas como objetos. Um pouco daquele inferno líquido ia ensinar uma lição a eles.

— Desculpa pela demora.

— Valeu. Agora, aqui está o jogo, pessoal. Se conseguirem terminar esses copinhos, eu bebo esse jarro inteiro. Se vencerem, eu converso com as garotas por vocês.

— É bom que não esteja mentindo.

— Vamos cobrar essa.

— Beleza, tá valendo.

Eles começaram a beber.

No momento em que o primeiro gole passou por seus lábios, caíram no ato. E só para ninguém reclamar depois, virei meu próprio jarro o mais rápido que pude. Segundo Gulgar, todos tinham desmaiado.

Fiz uma reverência para Mônica e Nanaella, que riram em resposta. Se estavam rindo comigo ou de mim, nunca consegui descobrir, pois três sombras subitamente obscureceram minha visão: a Linhagem do Lobo Branco.

No começo, eu tinha medo deles, mas desde que os salvei da beira da morte, ficaram bem apegados a mim. Vieram direto até mim, apesar de eu provavelmente estar fedendo.

— Diz aí, Luciel. Tem uma coisa que eu queria te perguntar faz tempo — Bazan hesitou.

— O que foi?

— Você curte caras?

Engasguei imediatamente com a própria saliva.

— De onde diabos veio isso?! — exasperei — Não! Eu gosto de garotas!

A aleatoriedade total da pergunta me pegou completamente desprevenido. Não queria ter ficado tão nervoso, mas foi inevitável. Felizmente, ninguém mais estava prestando atenção.

— Ah, entendi. É que você anda tanto com o Brod e nunca deu em cima de nenhuma daquelas recepcionistas bonitas.

Isso porque eu não estava em posição nenhuma de testar minha sorte. Brod cairia em cima de mim mais rápido do que um piscar de olhos se tentasse algo, e sinceramente, eu não estava com disposição suicida.

Suspirei.

— Romance é importante, sim, mas a vida pode acabar num instante. Tenho me focado tanto em garantir minha sobrevivência que não sobra tempo pra mais nada.

— Caramba, moleque, você é jovem demais pra ficar filosófico desse jeito. Tem que relaxar um pouco!

Agora, parecia que todo o salão estava ouvindo nossa conversa. Minha única saída era entrar na brincadeira.

— Suponho que sim. Já me acostumei, mas onde cresci, as pessoas não andavam por aí armadas, então quando cheguei em Merratoni, passei meio ano morrendo de medo.

— Você tem coragem de beber aquela porcaria, mas os aventureiros te deixavam cagando de medo? — Bazan caiu na gargalhada. — Você tem umas prioridades bem estranhas.

— Ei, aquele troço não me mata, mas quando trombei com você no dia em que cheguei, Bazan, fiquei completamente petrificado. Desde então, morro de medo do que aventureiros podem fazer comigo se eu pisar na bola.

— Você aguenta se levantar depois de levar uma surra do Brod como se fosse um zumbi, mas tem medo de cair nas graças erradas dos aventureiros? Bom, não precisa se preocupar, ninguém aqui vai se meter contigo. Se algo acontecer, nos avise.

— Agradeço.

Bazan e eu nos dávamos surpreendentemente bem. Então, Sekiros e o taciturno Basura entraram na conversa.

— Então, você é mesmo um mulherengo, Luciel? — Sekiros provocou.

— De novo? — gemi. — Sim, eu gosto de garotas.

— Agora, agora. Não seja rabugento.

— De quem você acha que é a culpa?

Ele riu.

— Bem, senhor mulherengo, o que acha de sair com a gente pra uma noite na cidade um dia desses? Se divertir um pouco.

— Essa cidade tem esse tipo de lugar?

— Tem, sim. Interesse? Mas você se destaca como um farol, então vamos precisar de um disfarce ou os boatos vão se espalhar como fogo.

— E-Eu só fiquei curioso, tá? Como se eu tivesse tempo ou dinheiro pra isso — ri secamente de mim mesmo. O trio caiu na risada e virou suas canecas de cerveja.

A festa continuou até tarde da noite. Quando finalmente o cheiro da Substância X dissipou, foi a vez das mulheres me interrogarem. Como estavam um pouco bêbadas, não foram muito a fundo, o que me deu a oportunidade de conversar com Monica.

— Kururu perguntou de você.

Ela hesitou.

— Como estavam as coisas na Guilda dos Curandeiros?

— Meio vazia. Como se não tivessem nada pra fazer. Estão tentando contratar outra recepcionista, mas acho que ninguém quer um trabalho tão parado. Pelo menos foi essa a impressão que tive.

— Que pena... — Ela fez uma pausa. — Certamente tenho mais o que fazer aqui do que tinha lá. O salário era bom, mas não muito diferente do que ganho agora.

— Acha que foi uma boa decisão ter vindo pra cá? — perguntei.

— Acho, sim — respondeu. — Posso interagir com tanta gente, como você e os outros aventureiros. E sempre tem trabalho suficiente pra me manter ocupada. Os dias passam tão rápido que mal consigo acompanhar. Parece que estou vivendo, como se estivesse realmente fazendo algo. — Ela me olhou e sorriu. — Se você não tivesse salvado minha vida, Senhor Luciel, eu nunca teria tido essa chance. Não posso te agradecer o suficiente.

Me peguei levantando a mão para acariciar sua cabeça quando——

— Cara, que nojo, para de vomitar!

— Eu tô vomitando porque você tá vomitando! Não me culpa!

— A culpa é daquele masoquista desgraçado por fazer a gente beber aquela merda!

De repente, perdi completamente a vontade de fazer carinho na cabeça de Monica. Suspiramos ao mesmo tempo, nos olhamos e sorrimos.

Eu estava testando alguns novos feitiços depois dos meus alongamentos matinais.

Cura intermediária: cerca de três vezes o efeito de cura de Heal por oito MP.

Cura em Área: magia de cura para iniciantes que restaurava todos em um raio de dois metros com um efeito equivalente ao de uma cura normal. Quinze MP.

Barreira Física e Barreira Mágica: duas magias de barreira para iniciantes que reduziam o dano de ataques físicos e mágicos, respectivamente. Dez MP cada.

Barreira em Área: magia de barreira intermediária que aplicava tanto Barreira Fisica quanto Barreira Mágica a qualquer um dentro de um raio de dois metros. Obs.: isso não criava um campo de proteção contra monstros. Trinta MP.

— Isso é um treino pesado logo de manhã. Uma única barreira em área já me suga trinta MP. Preciso descobrir um jeito de tornar esses feitiços mais fáceis de usar.

Pensamentos sobre magia começaram a preencher minha meditação diária.

Enquanto Luciel refletia sobre seus feitiços, rugidos furiosos ecoavam pelos corredores de uma certa clínica em Merratoni.

— Alguém pode me explicar isso?! Nossa renda e as vendas de escravos caíram pela metade! Metade! — bradou um homem de meia-idade e aparência robusta, vestindo um manto branco adornado com joias e enfeites.

Os doze homens à sua frente abaixaram a cabeça, temendo sua expressão distorcida pela raiva. Um deles avançou como representante e se curvou.

— Mil desculpas, Senhor, mas como dissemos, o culpado é o curandeiro da Guilda dos Aventureiros.

A fúria do homem não diminuiu.

— E por que diabos ele ainda não foi eliminado, seus incompetentes?! Também falharam em assassinar aquela recepcionista, se não me engano! Alguém aqui está querendo morrer, hein?!

Ele pegou um copo ornamentado e caro, arremessando-o no representante, que nem tentou desviar. O vidro se estilhaçou contra sua cabeça, e com sangue escorrendo, ele continuou:

— Com todo respeito, Senhor, mas em um ano inteiro, esse curandeiro saiu de lá apenas quatro vezes. Não conseguimos nos aproximar.

— Então entrem lá!

— Veja bem... Ele treina com o mestre da guilda o tempo todo. Quando dorme, aventureiros de alto nível guardam seu quarto. Ele é intocável.

— Maldição! Essa guilda e seu curandeiro estão atrapalhando demais. Que buraco esse verme saiu? Algo precisa ser feito. Você! Chame todas as clínicas subordinadas!

— Imediatamente! — respondeu o subordinado, saindo apressado.

— Parece que deixei um inseto crescer demais. Mas pragas precisam ser esmagadas.

Os homens restantes empalideceram enquanto o riso ensandecido do homem fazia o ar vibrar.


Tradução: Carpeado
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