Seija Musou | The Great Cleric
Volume 01 Capítulo 07
[Retorno Inesperado]




Cheguei à Guilda dos Curandeiros alguns minutos depois, onde me perdi em pensamentos por um momento antes de entrar.

— É estranho. Sou um curandeiro, mas a Guilda dos Aventureiros me parece mais como um lar do que este lugar.

Abri a porta, mas nenhum animado “Bem-vindo!” me recebeu. Por um instante, me perguntei se havia alguém ali, até ver uma recepcionista no balcão. Ela estava olhando para o chão e ainda não tinha me notado.

— Com licença, eu gostaria de renovar meu ranking. Espera... Kururu? Quanto tempo!

— Oh? Luciel? — Ela desviou o olhar. — O que você veio fazer aqui?

Será que eu a ofendi de alguma forma? Ela parecia estar bem abatida.

— Ahm, sim, sou eu. Fiz algo para te chatear?

— Não diretamente, mas não pense que eu não sei que você arrastou a Mônica para a Guilda dos Aventureiros.

— Você entendeu errado. Eu nunca a pressionei para ficar. Ela não estava mais em perigo e decidiu trabalhar lá por conta própria. Pelo menos, foi o que ouvi — expliquei sinceramente.

Ela suspirou.

— Sim, eu sei. Só que as coisas ficaram difíceis desde que ela saiu. Nenhuma única pessoa sequer apareceu para uma entrevista, e estamos tentando contratar gente esse tempo todo.

Ela realmente parecia cansada, mas será que estavam tão ocupados assim? O lugar parecia uma cidade fantasma. E a Mônica sempre dizia que a Guilda dos Aventureiros tinha muito mais trabalho para ela fazer. Imagino que só ficar esperando pode ser bem exaustivo.

— Que tal uma cura? Por minha conta.

Ela riu.

— Tô de boa, valeu. E você, como tem passado? Nossa, espera... Você ficou mais forte ou eu tô imaginando coisas?

— Bom, passei o último ano treinando feito um louco — brinquei, flexionando os bíceps.

— Que tipo de clínica faz isso? Onde você tá trabalhando agora?

— Eu sei que fui meio vago da última vez que nos vimos, mas a verdade é que nunca trabalhei em uma clínica.

— O quê?! Você nunca conseguiu um emprego? A gente não te arranjou um lugar? — ela exclamou, completamente chocada.

Era uma reação compreensível. Eu realmente tinha perguntado sobre arranjar um emprego na época, mas nunca voltei para dar um retorno.

— Ouvi falar sobre como vocês fazem a mediação entre clínicas, mas depois de pensar um pouco no meu futuro, decidi me estabelecer na Guilda dos Aventureiros por um tempo.

— Você virou um aventureiro? Então qual foi o sentido de ser um curandeiro? — ela perguntou, agora parecendo totalmente exasperada.

Ela tinha um repertório bem variado de expressões faciais. Como diabos uma pessoa tão expressiva tinha acabado trabalhando como recepcionista num lugar como esse?

Eu ri.

— Quero dizer, tudo que eu sabia fazer era o feitiço Cura básica. Achei que a melhor forma de aumentar minha Magia Sagrada seria ganhando experiência prática.

— Você é maluco, Luciel. Mas e aí, deu certo?

— Não sei o que é considerado normal para níveis de habilidade, então não sei dizer. Mas eu tinha comida e uma cama enquanto estive lá, então acho que me saí melhor do que se tivesse ido para uma clínica.

— Olha só pra você. A Guilda dos Aventureiros, hein? E a Mônica, como tá?

— Bem. Parece que ela gosta do que faz.

— Que bom. Mas por que exatamente você escolheu a Guilda dos Aventureiros?

— Bom, meu lema é "Não morra". Foi por isso que passei o último ano aprimorando minhas habilidades de autodefesa o máximo possível. Quando cheguei lá, tinha certeza de que um único tapa de um aventureiro seria o suficiente para me mandar pro além.

— Você é muito esquisito, sabia? Mas enfim, isso é bem a sua cara. Bom, vou checar sua habilidade de Magia Sagrada quando renovar seu ranking e ver em qual nível você se encaixa.

— Por favor, faça isso.

— Depois que seu ranking for definido e você pagar as taxas, podemos falar sobre grimórios. Me mostra sua carta.

— Certo.

Entreguei a carta para ela.

— Beleza, vamos ver o quanto você se esforçou. E se sua escolha de ir para a Guilda dos Aventureiros ao invés de uma clínica foi realmente inteligente——

Ela nem conseguiu terminar a frase antes de seu rosto se contorcer em completo espanto.

— O quê... Espera aí! Luciel, que diabos é isso?!

— Hã... Tem algum problema?

— Ah, sim! Um problemão! Em nome da Deusa, que tipo de treinamento foi esse que você fez?! O que diabos você andou aprontando?! Explica isso agora! — ela praticamente gritou.

Caramba, ela tá furiosa!

— Kururu, você tá me assustando um pouco. Eu falo, mas calma aí, você fica muito mais bonita quando não tá com essa cara de quem quer me matar.

Ela pigarreou para se recompor, depois me lançou um olhar gelado, me forçando a continuar.

— Ahm... Bom, depois que aprendi Cura...

E então, comecei a contar tudo sobre o último ano para ela.

Quando terminei, Kururu me encarou e, com o tom mais sem expressão possível, disse:

— Luciel, você é algum tipo de masoquista?

— Ai, nossa, isso foi meio pesado. Eu só estou tentando evitar morrer, só isso. E queria melhorar minha Magia Sagrada o máximo possível. Não dizem que é melhor começar cedo? Foi por isso que fui para a Guilda dos Aventureiros, pra encontrar um lugar onde pudesse fazer as duas coisas. Tenho certeza de que fiz a escolha certa.

— Mas existem várias clínicas para escolher. Você poderia ter começado com trabalhos menores e feito contatos. Não precisava se matar pra aprender a lutar.

Talvez fosse uma abordagem estranha, mas funcionou, e não era como se eu estivesse prejudicando alguém.

— Fiz vários contatos, mesmo que sejam só aventureiros. Isso é só minha filosofia, mas acho que a coisa mais importante para melhorar como curandeiro é lançar os feitiços o maior número de vezes possível. Se você quer ser bom em algo, precisa investir tempo e esforço de verdade.

O rosto de Kururu ficou rígido e meio desconfortável. Ela provavelmente sabia que, mesmo se eu estivesse certo, não podia apoiar oficialmente minhas ações, dado o estado atual da guilda e suas clínicas.

— Além disso, acho que existe uma diferença entre curar por dinheiro e pedir compensação depois que o paciente fica satisfeito com o serviço — continuei. O que aconteceu com Mônica foi culpa da falta de liderança e direção da guilda. Esse detalhe parecia se perder entre os curandeiros. — Queria aprender a me defender neste último ano. Dinheiro não compra isso.

— Você... você está certo. Eu peço desculpas.

Percebi imediatamente que tinha falado demais. Nenhuma das falhas da guilda eram culpa dela. Mas havia algo na Guilda dos Curandeiros que simplesmente... não me agradava.

— Não, me desculpe por agir de forma pretensiosa. Só para constar, não sou um masoquista, ok? Só estou tentando sobreviver.

Depois de deixar bem claro meu ponto — e minha inocência —, sorri.

Ela finalmente sorriu de volta.

— Você é um homem de ideais, Luciel. Fico surpresa ao ver que alguém que a senhorita Lumina arrastou para cá realmente tem a cabeça no lugar.

Hum... Isso quer dizer que os outros são todos malucos? Ela podia criticar Lumina o quanto quisesse, mas precisava me usar como referência? Pelo jeito, todos tinham achado que eu era um completo esquisitão por um ano inteiro. E agora eu estava meio deprimido.

— Sabe, eu nunca mais a vi depois daquele dia — comentei.

— Ela deixou a cidade faz um tempo. Voltou para a Sede da Igreja na Cidade Santa.

— Cidade Santa? Então ela é uma daquelas da elite?

Que sorte você tinha que ter para não apenas ser bonita, mas também viver como uma das mais privilegiadas da sociedade? Neste mundo, onde esforço e dedicação eram tudo, talvez um dia eu conseguisse estar no mesmo nível que ela.

— Algo assim. Então, se quiser vê-la de novo, é melhor continuar se esforçando. De qualquer forma, você pode subir até o rank C. Até onde quer ir?

Ela me lançou um sorriso desafiador, como se estivesse me testando. Mas eu não ia cair nessa.

— Antes disso, posso comprar algum grimório sem subir de rank?

— Claro, podemos vender alguns — ela respondeu, parecendo entediada com minha resposta —, mas isso vem com um grande asterisco. Livros de magia acima do seu rank atual custam dez vezes o preço normal, então eu não recomendaria. Os mais caros podem chegar a dez vezes o valor da sua anuidade.

Que preços extorsivos. Achei que eram os curandeiros que tinham fama de gananciosos. Reduzir as opções por necessidade parecia uma escolha inteligente.

— Pode me explicar quais tipos de grimório estão disponíveis em cada rank?

— Rank F permite comprar grimórios com feitiços de cura contra veneno, paralisia e sono. Rank E tem curas de nível intermediário. Rank D traz magia de barreira, e no rank C você pode aprender cura em área.

— Certo. E quanto custariam os grimórios de rank E, D e C juntos?

— Um momento... Se comprar agora, fica um ouro e vinte e quatro pratas. Mas se esperar até alcançar o rank C, sai por apenas noventa pratas.

Eu não tinha nem de longe o suficiente. Levando em conta minha anuidade, levaria três meses para juntar essa quantia — isso assumindo que eu me esforçasse ao máximo. Não, provavelmente até mais. Na verdade, não sei o que eu esperava, já que só tinha três pratas comigo.

Eu precisava que ela me indicasse a clínica mais bem paga da cidade.

Assim que abri a boca para falar, um baque pesado soou no balcão entre mim e Kururu, seguido pelo tilintar metálico característico de moedas.

Light Novel Seija Musou | The Great Cleric Ilustrações Volume 01

— Olhei para baixo e vi uma bolsa de couro, segurada por ninguém menos que o treinador Brod. — Seu pagamento. Duas moedas de ouro e trinta e uma de prata — ele resmungou com aquela voz rouca de sempre.

— Ah… o que você está fazendo aqui, treinador?

— Quase me esqueci de te pagar — ele abriu um sorriso e então olhou para Kururu. — Agora, senhorita, pago uma moeda de ouro para você despachar o Luciel aqui para a Guilda dos Aventureiros. Vamos cobrir os honorários dele.

— Hum, e quem seria o senhor? — A recepcionista parecia completamente confusa.

— Ah, meu erro. O nome é Brod, da Guilda dos Aventureiros. Pergunte ao mestre da guilda quem eu sou, isso deve esclarecer as coisas.

Uau, que arrogância. Brod continuava impiedoso como sempre.

Então esse é o sistema de que ouvi falar… Como a Guilda dos Curandeiros costumava mandar gente para a Guilda dos Aventureiros.

Kururu me olhou nervosa.

— Certo, esse é o Brod, Kururu. Ele é meu instrutor de combate — esclareci. — Prometo que ele não veio causar problemas ou ameaçar ninguém. E quando você diz “despachar”, treinador, quer dizer o que estou pensando?

— Estou oficialmente contratando você como curandeiro residente da guilda, Luciel — ele afirmou.

Ele provavelmente estava completamente confiante de que eu não tinha como recusar a oferta. E, por mais que eu quisesse brincar um pouco com ele, esse não era o momento certo. Especialmente porque Kururu parecia um tanto apavorada.

— Bem, eu ainda não consegui te acertar nenhuma vez, então se você está disposto a me pagar, eu seria louco de recusar.

— Tem certeza? Tem certeza de que está tudo bem? — Kururu sussurrou ansiosa. A preocupação dela aqueceu meu coração.

— Está tudo bem. Como eu disse, ele é meu instrutor, eu juro. Eu adoraria ser designado para a Guilda dos Aventureiros.

— Se você diz… Então vou começar a processar tudo. Continue com o bom trabalho e ganhe dinheiro este ano, entendeu?

— Sim, entendi. Obrigado pelo conselho.

Depois disso, terminamos a papelada oficial para o meu novo cargo. Comprei todos os grimórios disponíveis para mim, paguei as taxas do ano e então voltei para a familiaridade da Guilda dos Aventureiros.

Assim que saímos, resolvi falar.

— Você me assustou pra caramba, treinador. Não acredito que simplesmente apareceu assim do nada.

A possibilidade disso acontecer nem tinha passado pela minha cabeça.

— Treinar com você aumentou minha habilidade em Artes Marciais para o nível oito. Crédito onde é devido — ele me lançou um olhar convencido. — Vou te ensinar tudo o que sei, inclusive os trabalhos que mantêm a guilda funcionando. Ah, e nada de relaxar na sua Magia Sagrada também.

Deixando de lado de onde vinha essa atitude triunfante, fiquei surpreso ao saber que a habilidade dele estava no nível oito. Isso nem parecia humano. Não é de se admirar que ele sempre me tratasse como uma criança.

Mas um dia… um dia eu ainda ia conseguir acertar um golpe nele.

Menos de uma hora depois de sair, chegamos de volta à guilda. Respirei fundo, me preparando para o furacão de provocações que certamente me aguardava, e entrei.

Mais tarde, voltei para o meu quarto, onde a placa que antes dizia “Sala de Descanso” agora tinha uma nova etiqueta: “Sala do Curandeiro — Luciel.”

— É, agora é meu, sem dúvida.

De alguma forma, um quarto que já estava cheio das minhas coisas há meses parecia mais pessoal do que nunca. No entanto, nada tinha mudado desde aquela manhã.

— Acho que só fiquei fora por uma hora. Será que o treinador já estava planejando isso há muito tempo? — Esse homem era um enigma.

Coloquei meus livros na mesa e dei uma olhada ao redor do quarto.

— Parece que estamos nessa por mais um ano, velho amigo.

Depois de organizar algumas coisas, tive meu treinamento da tarde, seguido da leitura dos grimórios recém-comprados. Havia uma tonelada de pontos importantes listados, além de várias dicas e truques. Por exemplo, dizia que a habilidade de Lançamento Nulo era mais eficiente em termos de gasto de mana do que o Lançamento Curto ou o Impulso Mágico, que aumentava a eficácia mágica ao utilizar conscientemente uma quantidade maior de energia. Eu nunca tinha ouvido falar desse tipo de conselho antes, e parecia bastante útil.

O que os livros não mencionavam, no entanto, eram as desvantagens ou efeitos colaterais de qualquer coisa que descreviam. Para dar um exemplo, tentar usar Lançamento Nulo sem a habilidade de Lançamento Livre aumentaria o consumo de MP em oito vezes. Esse tipo de detalhe simplesmente não era explicado.

Na verdade, seria menos eficiente para mim praticar Lançamento Livre porque minha reserva de mana ainda era relativamente baixa. Talvez eu pudesse dedicar um tempo extra para estudar isso no futuro.

Também comecei a desejar mais do que tudo a habilidade de Redução de Custo Mágico, apesar de todos os outros feitiços que eu tinha acabado de adquirir. Provavelmente ela não ativaria sem primeiro aumentar o Controle Mágico e a Manipulação Mágica, mas eu só queria ter menos limitações na hora de conjurar meus feitiços.

Reprimindo esses impulsos impacientes, concentrei minha mente e estabeleci um objetivo. Dentro do próximo ano, eu chegaria à linha de partida e me tornaria forte o suficiente para sair por conta própria.


Tradução: Carpeado
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