Seija Musou | The Great Cleric
Volume 01 Capítulo 06
[Crescimento e Partida]




Passei meus dias da maneira mais eficiente possível, fazendo tudo o que podia para garantir minha sobrevivência a longo prazo neste mundo. Dizer isso em voz alta parecia estranho. Nunca tinha pensado em precisar "sobreviver" na minha vida passada, mas neste mundo qualquer dia poderia ser o meu último.

Vários dos aventureiros que vieram até mim em busca de cura já haviam sido mortos. Às vezes, me pegava pensando: E se eu estivesse lá? Mas minha classe, curandeiro, era a mais fraca que alguém poderia ter neste mundo. Se eu me juntasse a um grupo, seria apenas um peso morto.

Descontava essa frustração nas minhas lutas de treino com Brod. Atacava com tudo o que tinha. Pelo menos, podia ter a certeza de que não morreria dentro das paredes da guilda. Isso, claro, assumindo que eu não fosse cortado ao meio onde estivesse parado.

Brod continuava sendo um verdadeiro demônio durante os treinos. Quando começava, desferia golpe após golpe em mim, segurando a força apenas o suficiente para que eu não desmaiasse de imediato—mas inevitavelmente eu sempre acabava apagando. Só depois que eu acordava ele redescobria sua humanidade. Nunca parei de perseverar, mas ainda assim não conseguia acertar um único golpe nele. Isso me irritava profundamente.

Seis meses se passaram na Guilda dos Aventureiros. As aulas com Nanaella terminaram um mês depois de começarem, então usei meu tempo livre para ajudar Galba a retalhar monstros, auxiliar o pessoal da guilda com tarefas diversas ou simplesmente treinar por conta própria.

Os ensinamentos de Galba foram muito informativos. Ele me ensinou várias coisas, como o fato de que monstros mortos não exalavam miasma de imediato, então podiam ser consumidos se fossem cozidos rapidamente. Além disso, se você esfolasse um logo após derrotá-lo, o couro manteria as propriedades da criatura.

As tarefas e pequenos trabalhos que ajudava a fazer eram coisas mundanas, como listar aventureiros por classificação ou ganhos. Curiosamente, os maiores ganhadores eram um trio de homens-fera que eu conhecia—A Linhagem do Lobo Branco. Segundo os rumores, agora eram Rank A e haviam feito um acordo com as recepcionistas: as garotas aceitaram sair para jantar com eles assim que subissem de patente.

Mernell riu até não poder mais, dizendo que provavelmente estavam atrás de Nanaella, a única mulher-fera entre as recepcionistas. Ainda assim, não entendi muito bem o ponto dela ao me contar isso. Sim, Nanaella era linda, mas eu já tinha preocupações demais. Não estava preparado para começar a sustentar mais alguém. E não adiantava chorar pelo passado, pensando "Se ao menos fosse na minha vida anterior...".

Falando nisso, estava me dando bem com Nanaella e as outras garotas, embora nunca tivesse passado do papel de irmãozinho do grupo. Ultimamente, no entanto, Mernell e Melina estavam ficando bem mais toque-toque comigo, alegando ser skinship. Normalmente, Nanaella ficava vermelha e mandava elas pararem, mas às vezes acabava se deixando levar e hesitava antes de entrar na brincadeira também.

Pelos padrões deste mundo, todas já tinham idade para casar, então era inevitável que certos pensamentos passassem pela minha cabeça. Me lembrei de um episódio específico dessas provocações.

— Luciel, suas roupas estão meio apertadas, hein, grandão? — Melina brincou.

— Você também parece mais alto. E olha esses músculos novos. — Mernell comentou.

— Senhor Luciel, acho que você deveria usar algo mais adequado. — Nanaella sugeriu.

— Eu não tenho um espelho, mas acho que realmente estou meio desleixado só vestindo qualquer coisa que encontro por aí. — admiti. — Mas não tenho dinheiro para comprar roupas novas. Talvez eu devesse falar com o treinador.

Num dos meus dias de folga, toquei no assunto com Brod quando ele voltou dos negócios à noite.

— Treinador Brod, queria te perguntar uma coisa, se tiver um tempinho.

— Que formalidade toda é essa?

— Cresci bastante nos últimos meses e queria comprar algumas roupas novas. Posso sair um pouco para trabalhar e conseguir dinheiro para isso?

— Se for dinheiro que você quer, temos de sobra. Fique por aqui.

— Eu realmente gostaria de comprar pelo menos umas roupas de baixo novas.

— Espera um pouco. Nanaella! — ele chamou.

Ela veio correndo. — Sim?

— O Luciel precisa comprar roupas novas. Quero que leve ele.

— Certo! — Ela olhou para mim e assentiu. — Só vou me trocar rapidinho.

Ah, droga... Isso tá parecendo um encontro. Minha vida (ou vidas?) passou diante dos meus olhos.

— Nem pense nisso. Considere isso trabalho da guilda, senão você vai colocar a vida do garoto em perigo. — Brod riu. O comentário dele provavelmente me salvou, porque já conseguia imaginar o Clube dos Fãs da Nanaella vindo atrás do meu pescoço.

— Me diz onde fica a loja que eu vou sozinho.

— As coisas têm andado meio agitadas ultimamente, então Nanaella vai te acompanhar. Ela conhece o caminho. Estou saindo agora.

Seja lá o que ele quis dizer com "agitadas", só fez com que eu quisesse ficar dentro da guilda, mas quem sabe por quanto tempo eu ficaria sem roupas novas se fizesse isso. No fim, decidi aceitar.

— Tudo bem, então. Obrigado, Nanaella.

— Considere essas roupas compradas! — Ela sorriu, colocando a mão no peito com orgulho.

Brod entregou o dinheiro para Nanaella e subiu as escadas. Depois de vê-lo sair, nós também partimos.

O pôr do sol tingia o céu de laranja escuro.

— O céu está lindo, mas é melhor a gente se apressar antes que escureça. Tem certeza de que não se importa de vir junto? — perguntei.

— De jeito nenhum. Quando cheguei a Merratoni pela primeira vez, também tive gente que me levou para fazer compras.

— Sério? Acho que você é de Yenice, não é?

— Não. Grandol, nascida e criada.

— Ah, desculpa por isso. Fui meio presunçoso.

— Não precisa se desculpar, tá tudo bem.

— Isso quer dizer que você já foi uma aventureira?

Ela sorriu.

— Talvez.

A loja de roupas ficava a três minutos a pé do guilda. Dentro, as peças estavam penduradas de maneira organizada por todos os lados. Pelo que eu tinha ouvido, essas lojas costumavam ser bem bagunçadas, então talvez esse lugar fosse considerado sofisticado.

Eu examinei várias peças, mas como não havia um espelho por perto, confiei principalmente na opinião da Nanaella. Exceto para as roupas íntimas, é claro. Com a ajuda dela, minha pequena saída foi um sucesso.

— Por que será que algo tão mundano me deixa tão feliz?

O atendente da loja me olhou com pena quando Nanaella pagou a conta. Só então me lembrei—era a primeira vez que eu fazia compras nesse mundo. Senti toda a tensão se esvair do meu corpo.

— Fico feliz que você tenha conseguido roupas novas — minha companheira sorriu.

— Obrigado mais uma vez pela ajuda.

A felicidade genuína dela só me deixou envergonhado. Nossa saída durou cerca de vinte minutos, e o sol ainda não havia se posto completamente. Estávamos voltando para casa quando o destino interveio.

Um grito estridente de uma mulher rasgou o ar ali perto. Antes mesmo de perceber, meu corpo já estava em movimento. As habilidades que eu vinha treinando nos últimos seis meses agora tinham um novo propósito com aquele único grito—não eram mais apenas para garantir minha própria paz, mas para salvar outra vida. Para falar a verdade, esse não era o único motivo que me fez agir tão rápido, mas não havia tempo para pensar nisso naquele momento.

Corri por uma rua lateral e entrei em um beco, onde vi uma garota caída no chão, coberta de sangue. Depois de olhar ao redor e confirmar que não havia mais ninguém por perto, coloquei minha mão sobre ela com cuidado. Ela ainda estava viva.

— Vamos ver o ferimento.

Segui o rastro de sangue nas roupas dela, encontrei a origem e lancei Cura sem hesitar. Uma vez, duas, três, quatro. A pele finalmente se fechou e o sangramento parou, mas sua respiração continuava irregular.

— Por que não está funcionando? — murmurei.

Examinei suas roupas em busca de uma pista e vi manchas adicionais que não eram de sangue. Imediatamente, lancei Purificação nela também. Sem saber se o veneno já havia sido neutralizado, usei a magia uma segunda vez, e depois fiz mais uma rodada de Cura para garantir.

Soltei um suspiro.

— Acho que ela vai ficar bem.

— Você conseguiu salvá-la?

Virei-me e vi Nanaella parada atrás de mim junto com dois rostos familiares.

— Sim, de alguma forma. Magia de cura não pode restaurar o sangue que ela perdeu, então precisamos levá-la para um lugar seguro.

Olhei para o rosto da mulher ferida e percebi que a conhecia.

— Vamos levá-la para a Guilda dos Aventureiros — sugeriu Nanaella.

— Espera, eu conheço ela. O nome dela é Monica. Ela é recepcionista da Guilda dos Curandeiros.

— O que uma recepcionista da Guilda dos Curandeiros teria feito para ser atacada? — comentou o aventureiro ao lado de Nanaella.

— Recepcionistas não são curandeiros. Talvez seja alguma rixa pessoal — disse a garota ao lado dele.

Lembrei do que Monica havia me contado sobre alguns membros suspeitos da guilda.

— O culpado pode ser um mercenário contratado por um curandeiro. Ela é contra a corrupção no meio dos curandeiros, então é possível que alguém tenha descoberto isso — arrisquei.

— O que vamos fazer com ela? — perguntou Nanaella.

— A Guilda dos Aventureiros pode ser a opção mais segura, mas vamos passar na Guilda dos Curandeiros primeiro. Podemos descobrir mais lá.

Não podia dizer na frente deles, mas havia uma chance real de que o agressor fosse um aventureiro. E o Brod não estava por perto para manter a ordem no momento.

Como eu não servia para lutar, carreguei Monica nas costas e confiei em nossos companheiros para nos proteger.

— Vocês chegaram rápido — comentei para os dois aventureiros que estavam conosco. — Eram meus seguranças secretos?

O segundo motivo pelo qual eu tinha conseguido reagir tão rápido era porque achei que alguém estava me vigiando. O homem desviou o olhar, confirmando minha suspeita.

Eu ainda tinha dúvidas se eles estavam ali para me proteger ou me manter sob controle, mas isso não importava.

— O mundo exterior é assustador — lamentei. Eu ficaria perfeitamente feliz só ficando dentro de casa e nunca saindo. — Vocês acham que vamos encontrar o culpado?

— Saberemos mais quando ela acordar — respondeu Nanaella.

— É...

Apesar de haver muitas pessoas na rua naquela noite, ninguém nos parou enquanto seguíamos para a Guilda dos Curandeiros.

Kururu estava no balcão. Aliviado por ver alguém conhecido, levei Monica até lá. Ela hesitou ao ver os aventureiros, mas logo percebeu que eu estava junto.

— Bem-vindo à—espera, Luciel? E essa não é a Monica?

— Quanto tempo, Kururu. Como você tem passado?

— Estou bem, mas podemos pular as formalidades e ir direto para a parte em que você explica por que está carregando ela?

Devíamos estar com uma aparência bem suspeita. Um grupo formado por aventureiros, uma mulher-coelho, um curandeiro e uma recepcionista quase morta.

— Resumindo, encontramos ela num beco, coberta de sangue. Alguém a atacou, mas o culpado já tinha sumido quando chegamos. Eu curei ela, então viemos direto para cá — expliquei.

— O quê?!

Kururu ficou paralisada de choque.

— Só a encontramos porque ouvimos alguém gritar. Não sabíamos quem era no começo.

— Como... como ela está?

— Quando cheguei, ela estava inconsciente e sangrando muito. A lâmina que a feriu devia estar envenenada também. Acho que consegui curá-la completamente, felizmente.

Kururu olhou para Monica em minhas costas.

— Graças aos céus. Não tenho palavras para agradecer por tê-la salvado.

Ela abaixou a cabeça em sinal de gratidão.

— Você tem alguma ideia do motivo do ataque? Alguma pista?

A expressão de Kururu ficou sombria e seu silêncio me disse tudo. Meu palpite não estava longe da verdade.

— Imagino que saiba, mas não pode nos contar os detalhes?

— O que você faria com essa informação? Não tem provas para acusar ninguém.

— Quem atacou Monica fez isso com intenção de matá-la. Por que outro motivo teria usado veneno? Baseado nisso, só posso concluir que foi um profissional. Nenhum aventureiro faria algo assim, então deve ter sido um mercenário. E um mercenário pode virar um assassino se for bem pago. O único candidato com tanto dinheiro seria um curandeiro.

— Você é esperto, Luciel. Não acredito que ele foi tão longe. Isso não foi intimidação, foi uma tentativa de assassinato.

— Parece que alguém tem uma rixa com a Monica. Você sabe quem, não sabe?

— Isso é só um palpite meu, mas provavelmente foi o Bottaculli, dono da maior clínica de curas de Merratoni. Uma amiga da Monica foi até ele para receber tratamento, mas não conseguiu pagar a taxa, então foi vendida como escrava, e Monica protestou publicamente. Bottaculli ficou furioso. Isso provavelmente foi vingança.

Eu nunca tinha ouvido falar desse homem, mas esse Bottaculli devia ser o mandante do ataque. Por que ele oferecia tratamento para pessoas que não podiam pagar? E a escravidão não era ilegal aqui? Eu tinha muitas perguntas sem resposta.

— Você não pode escravizar pessoas neste país, pode? — Pelo que eu sabia, esse era o único lugar do mundo onde tal prática era proibida. Vender alguém como escravo não podia ser algo tão simples.

— Não, mas isso não impede que sejam vendidas para outros países.

Toda lei tem suas brechas, mas isso era absurdo.

— Você acha que conseguimos provar que ele cometeu um crime? — Não estava muito esperançoso sem uma análise forense de ponta. Identificar o criminoso não seria nada fácil.

— Sinto muito, mas eu não contaria com isso. A menos que esteja planejando invadir a clínica dele.

Isso era perigoso demais. Fora de questão. A segurança da Monica era a prioridade.

— Você pode protegê-la aqui na guilda?

— Enquanto ela estiver dentro dessas paredes, ele não pode tocá-la abertamente, mas...

— E se, por exemplo, envenenassem a comida dela?

— Eu não descartaria essa possibilidade.

Ou seja, ela não estava completamente segura ali. E se esse caso envolvia o chefe da maior clínica da cidade, havia uma chance de que isso chegasse até o próprio mestre da guilda local. Para jogar pelo seguro, o melhor seria deixá-la sob a proteção da Guilda dos Aventureiros até as coisas esfriarem.

— Nanaella, a Guilda dos Aventureiros tem quartos para mulheres ficarem? — perguntei.

— Sim, tenho certeza de que conseguimos acomodá-la — ela respondeu.

— Então, vamos voltar. — Não havia mais motivo para ficarmos ali.

Kururu nos interrompeu.

— Luciel, ela é funcionária da Guilda dos Curandeiros. Você não pode estar falando sério sobre levá-la para a Guilda dos Aventureiros.

— Está tudo bem, Kururu. Não é tão perigoso quanto você imagina. Nunca tive problemas lá.

Infelizmente, isso não foi o suficiente para convencê-la. As duas guildas tinham uma relação conturbada, para dizer o mínimo.

— Acho que seria melhor deixá-la na clínica onde você está trabalhando — ela insistiu.

Eu havia me esquecido de que ela não sabia sobre minha vida na Guilda dos Aventureiros, o que, no fim, foi conveniente para conseguir sua permissão.

— Tudo bem. Pensei que os aventureiros que conheço poderiam protegê-la, mas se você diz isso, vou levá-la para onde estou trabalhando agora.

— Obrigada. Onde fica exatamente? Quero visitá-la depois.

— Estou preocupado com vazamento de informações e não quero incomodar meus colegas, então, desculpe, mas não posso dizer. Espero que você não se importe em considerar isso como uma espécie de licença para ela.

Ela respirou fundo.

— Tudo bem. Vou confiar em você, Luciel.

— Vamos mantê-la segura. Nos vemos novamente quando eu precisar renovar minha associação.

Enquanto saíamos, ouvi uma voz logo atrás de mim.

— Me desculpe por tudo isso, senhor Luciel.

Era Monica.

— Fico feliz que esteja de volta conosco.

— Acordei faz um tempo — ela murmurou. Sua voz estava fraca, mas ela estava consciente. Decidi contar a verdade enquanto podia.

— Você deve ter ouvido tudo agora, mas na verdade estamos indo para a Guilda dos Aventureiros. É o lugar mais seguro para você.

Senti seu corpo enrijecer.

— Não se preocupe, eu tenho treinado e trabalhado lá o tempo todo, não em uma clínica.

— Mas curandeiros e aventureiros não se dão bem... — ela protestou fracamente.

Pelo visto, isso era conhecimento comum, exceto para mim, que só descobri depois de me tornar um aventureiro.

Forçando um sorriso torto, respondi:

— Gostaria de ter sabido disso há meio ano, antes de me tornar um.

Depois, mudei o tom.

— Mas, como eu disse, nunca tive problemas lá. Vai ficar tudo bem. Eu prometo.

Ela soltou um suspiro e seu corpo relaxou.

— Tudo bem. Vou confiar em você.

Senti o peso em meus braços aumentar.

— Ela desmaiou de novo — observou Nanaella.

— Ah, entendi.

Chegando à Guilda dos Aventureiros, demos de cara com um muro—ou melhor, um grupo de aventureiros chocados que nos cercaram assim que entramos. Quando terminamos de explicar, e eles viram as roupas rasgadas e manchadas de sangue de Monica, começaram a me encher de elogios.

Brod desceu para ver a confusão e nos deu permissão para abrigá-la depois de ouvir o que aconteceu. Os outros homens estavam nas nuvens com a chegada de uma nova garota bonita para interagir. Eu, obviamente, não tinha intenção de me envolver nessa bobagem, mesmo que isso significasse que Monica e eu nunca nos tornaríamos próximos.

Entreguei Monica para Nanaella e voltei para o meu quarto com minhas novas roupas. Os funcionários e aventureiros me lançaram olhares curiosos e, ao mesmo tempo, cheios de pena, provavelmente especulando sobre meu passeio com Nanaella e como minha primeira saída havia terminado em confusão.

Decidi ignorá-los e fui para o andar de baixo, onde encontrei os dois aventureiros que me protegeram durante a viagem.

— Obrigado de novo, pessoal. Precisam de algum tratamento?

Eles se entreolharam, sorriram e então se voltaram para mim.

— Se precisar de qualquer coisa, nos avise — disse o homem.

— Ou se houver algo que queira — acrescentou a mulher.

Eles não disseram mais nada, apenas me olharam com um olhar caloroso, como se eu fosse um irmão mais novo, e subiram as escadas.

Pensei sobre o que acabara de acontecer.

— Acho que ainda depende da pessoa, mas não senti medo desses dois.

Mudanças estavam acontecendo dentro de mim, e eu começava a notá-las.

Voltei para o meu quarto e quase me joguei na cama, até me lembrar de que minha camisa ainda estava coberta de sangue da Monica. Trocar de roupa parecia uma boa ideia.

Olhar para as manchas me fez lembrar da fragilidade da vida neste mundo e do poder que eu tinha para protegê-la. Eu não era um médico. Não tinha conhecimento técnico. Mas podia curar pessoas. Eu tinha o poder de impedir mortes injustas. E isso me deixava feliz.

O treinamento era difícil—muito difícil—mas eu estava melhorando, minhas habilidades aumentavam e não pareciam diminuir com o tempo.

— Sei que meu treinamento ainda vai durar um bom tempo, mas parece até trapaça conseguir ver meu progresso.

Um sorriso surgiu em meu rosto.

— Se ao menos eu tivesse tido essa habilidade de Avaliação de Maestria na Terra...

— Eh, não que isso tivesse mudado muita coisa — murmurei, enquanto começava meu treinamento noturno de magia.

Quando terminei, fui jantar no refeitório como de costume. No meio da refeição, Nanaella apareceu junto com Monica, que já tinha trocado de roupa.

— Está se sentindo bem? — perguntei a ela.

— Sim. Você salvou minha vida, senhor Luciel. Muito obrigada.

Seu rosto estava bem pálido. Por que Nanaella a trouxe aqui? Olhei para minha amiga de forma inquisitiva, mas só recebi um aceno de cabeça em resposta. O que diabos isso significava? Resolvi seguir em frente.

— Por favor, não foi nada. Fico feliz por ter podido ajudá-la, depois de tudo que fez por mim quando eu estava aprendendo magia.

— Então... — ela hesitou. — Quanto acha que vai me custar?

Agora fazia sentido ela estar tão abatida. Eu ainda não entendia completamente como as coisas funcionavam nesse mundo, mas se houvesse um momento ideal para extorquir dinheiro de um paciente, seria esse.

— Monica, pode até ter sido o seu trabalho, mas você foi muito gentil comigo nos meus dias na Guilda dos Curandeiros. Considere isso como meu agradecimento. Vamos dizer que você pagou minha taxa adiantado.

— O quê? — Ela me olhou completamente incrédula. Eu, no entanto, jamais me rebaixaria ao ponto de cobrar algo em uma situação dessas.

— Se isso não for suficiente, pode me acompanhar em uma refeição, se quiser. Gulgar faz a melhor comida.

Monica começou a chorar e se curvou profundamente.

— Obrigada. Obrigada. Muito, muito obrigada.

Nunca alguém tinha me agradecido com tanta intensidade — e chorando, ainda por cima —, então eu fiquei completamente sem reação. Felizmente, Gulgar apareceu para salvar o dia.

— Passou por um sufoco, hein, mocinha? Aqui, toma isso e volta a ter um pouco de ânimo — disse ele animado, colocando um copo de sopa no balcão.

— Obrigada, senhor.

Nós quatro passamos o jantar conversando. Expliquei que ela não poderia voltar para casa e teria que ficar aqui por um tempo. No entanto, precisaria fazer uma última viagem de volta com um grupo de aventureiros para pegar suas roupas. Sem surpresa, o grupo que aceitou a missão era composto inteiramente por mulheres.

Estávamos nos divertindo jogando conversa fora, mas eu tinha começado a comer antes e a Substância X estava por perto, o que deixaria meu hálito horrível por meia hora. Por consideração, me despedi, mesmo que um pouco relutante.

Nanaella e Monica me desejaram boa noite enquanto eu saía, o que manteve meu ânimo alto. Como eu sou fácil de agradar, pensei comigo mesmo.

Depois de mais um pouco de prática com magia, caí no sono.

Um mês depois, o mercenário que atacou Monica foi capturado. Diziam que o cara estava completamente nu quando o pegaram. No entanto, nenhuma conexão foi encontrada entre ele e qualquer curandeiro. Com as coisas tão ambíguas como estavam, Monica enfrentou uma escolha difícil e decidiu se juntar à equipe da Guilda dos Aventureiros.

— Sempre ouvi dizer que aventureiros eram brutamontes e encrenqueiros, mas os de Merratoni têm sido maravilhosos — ela comentou animada. Sem que ela soubesse, esse comentário acabaria desencadeando a formação de seu próprio fã-clube.

Em contraste com essa tranquilidade, minha frustração no treinamento com Brod só aumentava. Eu continuava dando tudo de mim para acertar um golpe, qualquer golpe, nele, mas era como bater a cabeça contra uma parede de tijolos.

Então, nove meses depois do início do meu treinamento, um enorme terremoto sacudiu a cidade. Monstros saíram em enxames de uma mina a sudeste de Merratoni, bem no meio da floresta. Nenhum deles era particularmente perigoso sozinho, mas o número avassalador os tornava uma ameaça real. Todos os aventureiros, exceto eu, foram chamados para ajudar a conter a invasão. Tudo o que pude fazer foi ficar quieto e rezar com o restante da equipe.

Eu assumi que haveria muitos aventureiros feridos, mas certamente não haveria fatalidades. De alguma forma, eu tinha me convencido disso. Mas a realidade — a fragilidade da vida neste mundo — foi jogada em minha cara mais uma vez.

Aquele dia foi a primeira vez que perdi amigos, incluindo os dois guarda-costas que ajudaram a resgatar Monica. Pelo que ouvi, um monstro que amplificava miasma havia se aliado a uma fera que ficava mais forte à medida que absorvia as toxinas do parceiro. Relatos indicavam que o grupo Linhagem do Lobo Branco foi quem finalmente derrotou a dupla letal.

Antes que eu pudesse sequer soltar um suspiro de alívio, Brod apareceu coberto de sangue de monstro e agarrou meu braço.

— Todos os membros da Linhagem do Lobo Branco estão à beira da morte. Preciso da sua ajuda para salvá-los.

Eu imediatamente assenti e corri atrás dele. Chegamos a uma estalagem, se é que aquilo podia ser chamado de estalagem. Como os aventureiros mais bem pagos da guilda podiam estar se hospedando em um lugar tão miserável? Antes que eu pudesse continuar esse raciocínio, entramos no quarto e eu fiquei paralisado de choque.

Eles estavam morrendo.

— Luciel, esses dois foram envenenados. Os ferimentos de Basura são profundos, mas fora isso, ele parece normal.

Priorizei Basura. Minha magia podia regenerar a pele e consertar ossos, mas sangue perdido era sangue perdido. Mesmo sem conseguir ver direito no escuro, meu instinto dizia que ele corria o maior risco.

Após várias conjurações de Cura, seus ferimentos estavam completamente fechados. Procurei por ferimentos nos outros dois, mas não encontrei nada.

— Eles inalaram gás venenoso. Agiu rápido, já que quase não têm resistência a isso — explicou Brod.

Lancei Cura em cada um deles e, em seguida, mudei para Purificação, cobrindo seus corpos inteiros — cabeça, ouvidos, nariz, boca, coração — rezando para que a toxina desaparecesse.

— Que monstro foi esse? — perguntei.

— Um Gastle. Provavelmente mutado.

Se bem me lembrava, o veneno do Gastle causava febre, vômito, paralisia e imunidade reduzida. Purificação servia para desintoxicação, então, enquanto o veneno fosse a causa dos sintomas, o feitiço deveria ser suficiente para aliviá-los. Agarrei-me a essa esperança e continuei conjurando até minha magia se esgotar e o cansaço me dominar.

Brod me entregou duas poções mágicas, o que me permitiu rapidamente retomar o trabalho. Conjurei, e conjurei, e conjurei, até que finalmente, quando a fadiga começou a me atingir novamente, eles pareceram estabilizar.

Quando tive certeza da recuperação deles, voltei para Basura para avisá-lo.

— Eles devem ficar bem agora. Se algo mais acontecer, por favor, traga-os... para a... guilda...

Isso foi tudo o que consegui dizer antes de perder a consciência.

Na manhã seguinte, vi a lista dos que morreram, aqueles que eu não consegui salvar. Chorei por eles. Eu sabia que não era onipotente, mas ainda assim minha impotência me corroía por dentro.

Para afastar um pouco da tristeza, jurei aos falecidos que me esforçaria mais do que nunca.

O progresso começou a acelerar como resposta ao fogo reacendido dentro de mim.

— Artes Marciais nível três. Bom trabalho, garoto.

Era o nível básico para a maioria dos aventureiros de rank F. Nesse nível, geralmente era possível enfrentar vários goblins de uma vez em combate, e goblins não eram de se menosprezar. Cerca de um quarto dos aventureiros novatos acabavam fugindo de encontros com eles.

Abri um sorriso. Eu tinha trabalhado duro para isso, mesmo que não fosse uma conquista que eu pudesse sair exibindo. Qualquer pessoa com aptidão suficiente teria passado a vida e alcançado o nível três naturalmente ao chegar na idade adulta. E, de acordo com um livro que eu tinha lido, treinar com seriedade por um longo período com um instrutor adequado permitiria até mesmo um leigo sem ocupação obter tais habilidades.

Eu havia dado o exemplo e, conforme os aventureiros ficaram mais unidos depois do incidente da mina, mais deles começaram a aparecer no campo de treinamento. Brod e eu continuamos nosso treinamento entre eles, até que um dia um homem reclamou do tratamento preferencial do treinador e decidiu testar a sorte.

Meu instrutor prontamente o nocauteou, e voltamos a treinar.

Se eu queria acertar um golpe em Brod, precisava me mover mais rápido, ser mais afiado, traçar estratégias. Não podia simplesmente confiar no meu corpo; tentei usar meus olhos ou magia para enganá-lo, mas foi em vão. O homem era um monstro. Nem mesmo quando a Linhagem do Lobo Branco se juntou a mim para um combate conseguimos arranhar ele.

Meu pedido para observar um dos duelos deles foi recebido com uma recusa educada, embora tenham elogiado minha rápida ascensão ao nível de um aventureiro de verdade. Isso me deixou tão feliz que acabei esquecendo de insistir.

Quanto ao funcionamento das estatísticas, as vocações de linha de frente e as classes de suporte eram assuntos completamente diferentes. Resumindo, cada uma tinha certos atributos que eram mais fáceis ou difíceis de aumentar a cada subida de nível. Isso significava que, se um espadachim de nível dez lutasse contra um curandeiro de nível vinte em combate corpo a corpo, o curandeiro perderia na maioria das vezes. Era assim que as classes funcionavam. Eu não podia mudar isso, então aceitei a realidade.

Levou uma eternidade só para eu conseguir levar minha habilidade em Artes Marciais ao nível três, e eu estava curioso para saber quais seriam os status de um monstro como Brod. No entanto, temia a resposta e nunca perguntei.

— Não teria chegado tão longe sem você, treinador — eu disse.

— Guarda a bajulação. Foi você quem se esforçou... Luciel.

— Isso significa muito para mim.

— Só não fique mole — ele alertou. — A partir de agora, vai ser ainda mais difícil subir de nível nas suas habilidades.

Assenti. Cada nível exigia uma quantidade significativamente maior de experiência. Brod sabia disso por experiência própria.

— Luciel, você veio aqui porque queria sobreviver, certo?

— Sim, senhor.

— Certo. Hoje vamos adicionar uma nova habilidade ao seu repertório: Ambulação.

— Ambulação? Vou treinar caminhada? — perguntei, ligeiramente confuso.

— Isso mesmo. Você pode usá-la para abafar seus passos e se manter leve nos movimentos. Também vai te ajudar a manter uma postura baixa sem se cansar tanto.

Como um ninja. Legal. Agora só faltava uma habilidade de invisibilidade para completar o pacote. Mas Brod nunca me treinaria em algo que não fosse imediatamente prático, então descartei a ideia.

— Estou pronto para começar quando você quiser — declarei com entusiasmo.

— Certo. Se você dominar essa técnica, vai fortalecer bem suas panturrilhas e coxas, mesmo sem a habilidade. Assim, seus chutes ficarão mais afiados; nada mais daquela porcaria desajeitada que você faz agora.

Música para os meus ouvidos. — Sim, senhor!

O treinamento de Ambulação começou e, pela primeira vez em muito tempo, os berros de Brod ecoaram pelo campo de treino novamente.

— Eu consigo ouvir cada um dos seus passos, droga! Tá arrastando os pés por quê? Ensaiando para um recital de dança? Sua postura está alta demais! Ótimo trabalho, se quiser ser atropelado por um javali selvagem!

"Javali selvagem" trouxe à tona lembranças daquele monstro do tamanho de um carro que Galba havia retalhado no meu primeiro dia de açougueiro. Suor frio escorreu pelo meu rosto ao imaginar uma criatura daquelas vindo direto para mim.

Temendo que Brod transformasse essa sessão de treino em um exercício de campo se eu não aprendesse rápido, concentrei-me totalmente para dominar a técnica o mais rápido possível.

Minha rotina passou a ser a seguinte: acordar, treino de magia, café da manhã com uma dose de Substância X, treino de Arremesso, sparring de Artes Marciais, almoço com mais Substância X, mais treino de Arremesso, mais sparring de Artes Marciais, jantar e ainda mais Substância X, e por fim, mais um pouco de treino de magia.

Todos os dias, eu conjurava Cura pelo menos dez vezes, às vezes mais de cinquenta nos dias mais agitados ou para tratar ferimentos mais feios, mas todos saíam da minha clínica satisfeitos.

Passei a fazer mais e mais refeições com Monica e Nanaella, e teríamos uma ótima convivência se não fosse pela Substância X, que Gulgar ainda me forçava a ingerir como um louco.

Ainda assim, meu tempo com elas me proporcionava algum alívio em meio ao treinamento. Isso me mantinha são. E graças a isso, consegui arranjar uma hora extra de treino de Ambulação de manhã e à noite.

Depois que Brod me pegou praticando sozinho, começou a reduzir o tempo dos nossos sparrings para dedicar mais tempo à Ambulação, embora eu não tivesse tanta certeza se valia a pena cortar o sparring por essa nova técnica.

— Não estou treinando Ambulação demais? — perguntei.

— Essa habilidade é a mais importante para você agora. Entendeu? Ótimo. Vamos começar.

Eu não estava convencido, mas duvidava que ele fosse explicar mais. Talvez ele achasse que eu estava na idade de começar a me achar e querer testar minhas recém-desenvolvidas Artes Marciais. Uma preocupação razoável, mas eu não era tão infantil nem tão imprudente. Contudo, dado o meu corpo atual, não havia muito que eu pudesse argumentar.

Pensando pelo lado positivo, talvez meu corpo estivesse fraco demais para desenvolver ainda mais minhas Artes Marciais e precisasse ser recondicionado primeiro. De qualquer forma, só me restava confiar no meu treinador. Talvez eu ainda não conseguisse entendê-lo bem, mas sonhava com o dia em que suas intenções se tornariam claras para mim.

A vida seguiu, os dias passaram e, antes que eu percebesse, já fazia um ano desde que eu havia chegado a Merratoni.

Status aberto.

Nome: Luciel

Ocupação: Curandeiro III

Idade: 16

Nível: 1

HP: 320 — MP: 100

FOR: 34 — VIT: 38

DES: 35 — AGI: 32

INT: 42 — MAG: 50

RMAG: 48 — SP: 0

Afinidade Mágica: Sagrada

HABILIDADES

Domínio de Avaliação I — Sorte Monstro I — Artes Marciais IV

Manipulação Mágica IV — Controle Mágico IV — Magia Sagrada V

Meditação IV — Concentração IV — Recuperação de Vida II

Recuperação Mágica IV — Recuperação de Força IV — Arremesso III

Açougueiro II — Detecção de Perigo II — Ambulação II

Resistências e Títulos mantêm os mesmos valores.

Como resultado de todo o suor, sangue e lágrimas que derramei ao longo do ano, meus atributos aumentaram cerca de uma vez e meia, alguns até mais.

Não tinha base para saber se isso era bom ou ruim. Mas, apesar disso, estava orgulhoso. Eu era inegavelmente mais forte do que há um ano; passei por tantas coisas nesse período. Fui socado, chutado, arremessado, cortado, explodido e jogado no chão, e ainda assim, estava aqui. Vivo.

— O que está murmurando aí?

— Ah, bom dia, treinador. Nada demais. Só estava pensando que já faz um ano e ainda não sei se melhorei tanto assim.

— Para de se preocupar. Você está melhorando — ele disse, sem rodeios.

— É mesmo? Ainda não consigo ver seus ataques às vezes, não consigo te tocar, e as únicas magias que posso usar são Cura e purificar.

— Você e eu estamos em ligas completamente diferentes em termos de experiência e status. Eu morreria de choque se você conseguisse me acertar.

— Isso é verdade.

Enfrentar até mesmo um inimigo de nível médio enquanto se está no nível um em um jogo resultaria em um “game over” mais rápido do que um piscar de olhos.

— Anda logo, levanta esse queixo, caramba. — Ele me deu um tapa nas costas.

— Ai! Isso dói, sabia? — resmunguei. — Bem, acho que me saí bem, aguentando firme e vendo isso até o fim por um ano inteiro. Obrigado por tudo, treinador. Acho que agora pelo menos conseguiria fugir se encontrasse um monstro.

— Nah, acho que você conseguiria encarar um de frente. O que acha? Você realmente aguentou firme. Bom trabalho por não desistir no meio do caminho.

— Pra ser honesto, eu quis desistir várias vezes... Mas fui eu quem começou isso. Eu decidi que precisava passar por isso para sobreviver.

Além disso, eu não tinha para onde ir, pensei, mas guardei essa parte para mim.

— Ei, Luciel, por que não fica por aqui? Torna isso oficial? Olha a Mônica, ela tá se virando muito bem.

Ele tinha mesmo que me colocar nessa situação? Aqui? Com todos esses aventureiros, incluindo a própria Mônica, olhando?

— Ah, bem, não sei. Digo, sou uma pessoa pragmática. Quero ganhar algum dinheiro e aprender qualquer magia nova que puder.

Brod pausou por um momento.

— Faz sentido.

— E você pagou minhas despesas no ano passado. Além disso, não posso comprar novos grimórios sem começar a economizar. Quanto mais eu aprender, mais vidas poderei salvar.

Ninguém tinha morrido enquanto eu os tratava, mas algumas pessoas que conheci já se foram para sempre, e isso doía. Morrer quando chegava a hora era uma coisa, mas eu não suportava mortes de outro tipo—prematuras, injustas ou qualquer outra. Eu realmente precisava aprender novos feitiços.

— Bom, parece que você já tomou sua decisão — cedeu Brod. — Ainda assim, considere trabalhar aqui, como te ofereci. Pense nisso.

— Vou pensar. De qualquer forma, pretendo continuar na cidade, então voltarei para mais treinamento. E me chama sempre que precisar de um curandeiro. Te faço um preço especial.

Nunca imaginei que chegaria o dia em que conversaria tão casualmente com Brod.

— E agora, qual é o seu plano?

— Vou para a Guilda dos Curandeiros procurar uma clínica, onde espero economizar dinheiro suficiente para comprar alguns novos livros de magia.

— E depois?

— Estudar e trabalhar duro até conseguir conjurá-los perfeitamente, juntar dinheiro para pagar minhas despesas e, um dia, abrir minha própria clínica, com preços acessíveis para as pessoas.

A principal coisa que aprendi neste ano foi a importância de levar uma vida tranquila.

— Hah. Isso combina com você — Brod riu.

— Ainda tenho algumas coisas no meu quarto, então voltarei para limpar tudo.

— Entendido. E ei, foi divertido, Luciel. — Ele sorriu para mim.

— Muito obrigado por tudo. — Sorri de volta e trocamos um aperto de mão firme.

Fiz minhas despedidas, agradecendo a equipe e me despedindo dos aventureiros. Ninguém tentou me impedir. Pelo contrário, todos me viram partir com um sorriso. Minha vida na Guilda dos Aventureiros chegava ao seu fim agridoce.

Saí e olhei para o céu azul e claro.

— Clima perfeito.

Lágrimas se acumularam nos meus olhos, mas segurei. Contanto que continuássemos vivendo, nos encontraríamos novamente. Encarei o caminho à frente e dei meus primeiros passos de volta à Guilda dos Curandeiros.


Tradução: Carpeado
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