Suspirei ao notar o quanto meu braço estava flácido. — Talvez eu devesse me exercitar um pouco...

Por anos, evitei os cofres do tesouro porque não suportava ver o quão talentosos meus amigos eram em comparação comigo. Achei que já tinha aceitado minha fraqueza, mas quando estive na Toca do Lobo Branco e percebi o quão fora de forma eu estava, levei um baque tão forte que, pela primeira vez, realmente quis melhorar.

Caçadores de tesouros só conseguiam manter seu imenso poder enquanto continuassem explorando os cofres. Tragicamente, o mana material vazava rapidamente dos caçadores quando eles relaxavam. Ainda assim, não conseguir acompanhar a Tino—mesmo ela estando com a perna machucada—foi um choque de realidade difícil de engolir.

E não foi só isso. O resto do grupo da Tino era formado por caçadores que não eram exatamente novatos, mas estavam longe de serem veteranos, e mesmo assim, todos eles me superaram. Já tinha passado muito tempo para que eu pudesse alcançar os outros Grievers, mas meu desempenho na Toca foi simplesmente patético.

— O que foi, Krai Baby? — perguntou Liz, esparramada no sofá.

— Só estava pensando que faz tempo que não treino — respondi.

Ao menos eu tinha me certificado de não engordar, mas nunca tinha feito um treino de verdade. Fugir feito um louco não ia me manter vivo nos cofres de alto nível que os Grievers exploravam atualmente. Qualquer um sem talento ou dedicação não tinha a menor chance em um lugar assim.

Liz inclinou a cabeça. — O quê? Você já é perfeito do jeito que é.

Grunhi. A verdade era que um treino meia-boca aqui e ali não ia mudar muita coisa. Claro, eu nunca chegaria ao nível do Grande Greg ou do Pequeno Gilbert, nem seria tão rápido quanto a Tino ou o Rhuda, mas era uma questão de orgulho. Ver a Tino e o grupo dela me fez sentir um fracasso.

Liz se agarrou ao meu braço. Era difícil acreditar que, apesar das curvas macias pressionando contra mim, ela era muito mais forte do que eu. — Além disso, se você ficar ainda mais forte, o que sobra pra gente fazer? — perguntou, sorrindo.

Não sabia se ela estava sendo convencida ou simplesmente puxando o meu saco. Talvez os dois.

— Se você tem todo esse tempo livre, por que não brinca comigo? — disse ela, esfregando o rosto no meu braço. Eu odiava admitir, mas essas interações definitivamente tinham culpa no meu sedentarismo.

Cerrei os punhos e me levantei, com Liz ainda agarrada em mim. — Vou treinar do zero.

— Isso não tem nada a ver com você.

Quão ruins eram minhas perspectivas para que até uma caçadora de elite conseguisse enxergar o quanto eu não servia para esse trabalho? E, falando nisso, por que diabos eu ainda era um caçador?

— Mas se você insiste, vou montar um treino pra você! — disse ela. Então, com um sorriso radiante, começou a listar opções de treinamento pensadas para caçadores de alto nível. — Primeiro, você corre o máximo que puder—até desmaiar! Isso aumenta a resistência e te deixa mais rápido.

— Aham... Pera, o quê?

— Depois, você balança sua arma—até desmaiar! Isso te deixa mais forte. E conforme for se acostumando, adiciona pesos!

— Hã...

— Depois disso, você luta—até desmaiar! Assim, aumenta sua resistência à dor e treina o corpo inteiro! Eficiente, né? Esse é o básico!

Aparentemente, a palavra "moderação" não existia no vocabulário da Liz. Como assim treinar "até desmaiar"? Isso significava que, por mais que eu treinasse, nunca ia ficar mais fácil. E tudo isso era só o básico?

— Mas não vai ferrar com o corpo treinar desse jeito? — perguntei. Sinceramente, minha sanidade ia quebrar bem antes do meu corpo. Isso era loucura.

Liz juntou as palmas das mãos e inclinou a cabeça. — Claro que sim. Mas relaxa, temos um estoque gigante de poções de cura. Eu não tinha muito dinheiro quando treinava, mas agora isso não é um problema.

O problema continuava sendo um problema. Lancei para ela um sorriso tão grande quanto o dela e disse: — Acho que isso não combina muito comigo.

— Né?

Não conseguia imaginar que tipo de pessoa aguentaria um treino tão sádico. Um arrepio percorreu minha espinha ao lembrar da Tino correndo mesmo com a perna ferida.