Nageki no Bourei wa Intai shitai |
Let This Grieving Soul Retire
Volume 01 Capítulo 04:
[Mil Truques]




Já sei, Krai. Você só precisa de um arsenal de Relíquias poderosas.

Luke, todo o equipamento do mundo não vai me salvar se eu não tiver talento para usá-los.

Uma conversa que tive com Luke uma vez ecoava na minha mente. Na velocidade em que eu estava voando, nem mesmo um caçador endurecido pela mana teria sobrevivido a um impacto. No fundo do meu coração, eu sabia que estava morto.

Eu vou morrer! Eu vou morrer, droga!

A Toca do Lobo Branco era muito maior do que eu imaginava para um covil de monstros, mas os corredores eram estreitos demais para que eu pudesse voar livremente com o imparável Night Hiker.

A disposição regular das pedras luminosas era suficiente para iluminar meu caminho pela caverna escura, reforçada pelo Olho da Coruja — uma Relíquia que concedia visão noturna — no meu polegar direito. Era um consolo, mas fraco, diante da tempestade que eu enfrentava.

A cada poucos segundos, eu me via indo de encontro a uma parede, me forçando a virar puxando meu casaco. Essa caverna escura e sombria era um lugar onde eu nunca pisaria em circunstâncias normais. Agora, o único pensamento na minha cabeça era como parar de me mover. Eu tinha um mapa do cofre comigo, mas, a essa altura, não fazia ideia de onde estava.

Não havia como fazer curvas fechadas com o Night Hiker, então eu estava sendo arremessado contra as paredes, o teto e o chão durante todo o trajeto. Minha visão tremia. Eu me sentia como uma bola de borracha, sem ter plena consciência de para onde estava indo.

Meu rosto estava rígido de tanto esforço. Pensando bem, eu deveria ter feito de tudo para parar antes de entrar no cofre. Deixei a adrenalina do voo em alta velocidade me dominar e agora estava prestes a vomitar, com ninguém além de mim mesmo para culpar.

Passei voando por um fantasma gigante que bloqueava quase todo o corredor. Não era de se surpreender que ele não tivesse conseguido me pegar, já que nem eu sabia qual era minha trajetória. Quando a criatura me notou, eu já estava passando sobre sua cabeça, repetindo para mim mesmo que definitivamente não estava sobrevoando um lobo bípede.

Onde está a Tino?!

Diferente dos fantasmas, caçadores deixavam cadáveres quando morriam. Mesmo que o grupo de Tino tivesse perdido, não havia chance de os fantasmas terem devorado até o último osso e gota de sangue de seus frágeis corpos humanos. Pelo menos, era nisso que eu queria acreditar. No mínimo, minha visão ruim não encontrou nenhum corpo que pudesse pertencer a Tino e sua turma. Isso tornava improvável que tivessem sido exterminados.

Se Tino e companhia nem sequer tivessem saído da capital, eu seria motivo de piada. Tino tinha um forte senso moral (ao contrário de mim), então eu não esperava que ela simplesmente abandonasse a missão, mas, sendo aprendiz da Liz, ela também sabia ser manipuladora. Havia a possibilidade de—

Minha cabeça bateu forte contra o teto, sem dor, mas o impacto me fez ver estrelas. O fantasma lupino no final do corredor estreito avistou o míssil humano vindo em sua direção e arregalou os olhos.

Num instante, passei zunindo por ele. No caminho, meu ombro atingiu o lado da cabeça da criatura, me arremessando contra a parede oposta. Embora eu tenha ficado momentaneamente atordoado, de alguma forma ainda consegui fazer a curva fechada à frente, raspando pela parede da caverna. O fato de eu ainda não ter virado uma mancha no meio do caminho já era praticamente um milagre. Bem, usar outra Relíquia para me ajudar a controlar a direção também deu uma força. Graças aos céus pelas Relíquias!

Mas minha sorte não duraria para sempre. Se eu não encontrasse uma maneira de pousar logo, estaria tão morto quanto um prego. E então seria lembrado pela eternidade como o idiota que caiu de cara dentro de um cofre do tesouro, um "Incidente do Míssil Humano" parte dois. Só de imaginar isso, eu sentia um arrepio. Nem eu merecia um fim tão patético.

Não, eu já tinha decidido. Eu precisava parar — de algum jeito, de alguma forma.

Antes que eu percebesse, o corredor se alargou à minha volta enquanto eu avançava rapidamente em direção às costas de um fantasma enorme. Com minha vida em jogo, tomei a decisão crucial de usá-lo como minha pista de pouso. Tudo o que eu precisava fazer era me comprometer. Abracei a cabeça, fechei os olhos e rezei pela minha vida.

O impacto mais brutal do dia até então sacudiu meu corpo até os ossos.

***

Recuperei a consciência e o brilho em meus olhos foi desaparecendo aos poucos enquanto eu me recuperava da colisão. Pelo visto, sobrevivi à aterrissagem. Ao abaixar os braços da cabeça, percebi que já estava de pé. Apesar do impacto violento, de alguma forma, escapei sem um arranhão — exceto pelo fato de que meu equilíbrio estava totalmente desregulado. Por pouco não vomitei ao tentar me ajustar ao chão firme, mas segurei a onda.

Balancei a cabeça para não apagar de novo. Mesmo evitando a linha de frente como a peste há anos, eu não havia esquecido que, se um caçador desmaiasse dentro de um cofre, perderia a vida junto com a consciência.

Tirei a poeira dos ombros e soltei um suspiro pesado. Meu coração ainda martelava um solo frenético, prestes a explodir no meu peito se eu não me acalmasse logo. Meu rosto estava congelado, mas depois de ver minha vida passar diante dos meus olhos, considerei meus sintomas leves uma vitória.

O Night Hiker era uma relíquia defeituosa — e mortal, para dizer o mínimo. O inventor devia ter parafusos soltos na cabeça, assim como meus amigos. Como frear não foi a primeira coisa que passou na mente desse sujeito?

O fantasma que, sem querer, se ofereceu como meu amortecedor estava cravado na parede da caverna, de cabeça para baixo. Pelo visto, não era o único por ali. Havia dois fantasmas caídos, completamente imóveis.

Nenhum fantasma de Nível 3 sobreviveria a um míssil humano nas costas. A armadura negra e espessa de um deles estava amassada e rachada. No chão, ao lado da parede, havia um arco gigante e uma espada, que deviam pertencer aos fantasmas misteriosos.

Digo "misteriosos" porque esses fantasmas tinham um formato, tamanho e cor completamente diferentes dos que eu esperava. Os fantasmas desse cofre deviam ser lobos comuns, mas os que estavam jogados no chão vestiam armaduras resistentes, dignas de cavaleiros de alto escalão. Uma baita surpresa — e não do tipo bom.

No passado, quando fui arrastado contra a vontade para um cofre de Nível 3, os fantasmas pareciam muito mais fracos. Mas, quem sabe, as coisas mudaram nos anos em que eu joguei a toalha. Também era possível que esses fantasmas só parecessem assustadores, mas ainda assim, eu estava pronto para vomitar.

Por fim, decidi observar meu entorno conforme minha visão ficava mais nítida. Durante a aterrissagem desastrosa, eu não tinha notado que estava em uma câmara mais espaçosa que o corredor anterior. O teto era extraordinariamente alto para uma caverna em um covil subterrâneo, e as paredes e o chão eram lisos demais para terem sido escavados por lobos. O lugar teria sido um espetáculo, não fosse a falta de janelas e luz... e, claro, os fantasmas.

Foi então que avistei um rosto familiar emoldurado por cabelos negros bagunçados — o rosto pálido de uma garota que não parecia ferida, mas estava muito mais desarrumada do que quando eu havia jogado a missão para ela. Tino estava de pé, tendo sobrevivido à tarefa miserável que, sem querer, coloquei em suas mãos. Ela e o resto do grupo me encaravam, ofegantes e confusos. O mais importante: todos estavam vivos.

Mestre?!

Aí está você, Tino — respondi, casualmente.

Ponto para mim!

Espera aí. "Aí está você?" No meio da confusão, agi naturalmente, mas definitivamente devia um pedido de desculpas. Embora Tino parecesse ilesa, todo o sangue havia sumido de seu rosto. Ela parecia mais exausta do que nunca. Enfrentar esse cofre de Nível 3 claramente foi um desafio enorme para ela. Chegou a hora de estrear minha especialidade: minha incrível habilidade de me humilhar. Só me restava rir.

Enquanto eu sorria, Gilbert me puxou de volta à realidade.

V-Vira pra trás, velho!

O quê?

Velho? O fato de eu querer dar um sermão no Pequeno Gilbert era um sinal de quanto tempo passei longe do combate. Nenhum caçador respeitável baixaria a guarda em um cofre de tesouro.

Girei lentamente, feito um idiota sem cérebro, e me deparei com um fantasma colossal idêntico ao que amortecera minha queda. Meu instinto covarde entrou em ação na hora, me fazendo colar na parede. Ao inspecionar melhor a cena, vi outro fantasma segurando um porrete gigantesco sobre o Pequeno Gilbert. Somando com os dois que ainda estavam no chão, o total de fantasmas enormes era quatro.

Agora que eu não estava me esborrachando em um deles, pude notar que os fantasmas tinham cabeças de lobo, metade da direita coberta por um crânio humano. Seus olhos vermelho-sangue brilhavam na penumbra, analisando o intruso mal-educado. Seus ombros subiam e desciam ao ritmo de suas respirações pesadas, e a baba viscosa pingava de seus focinhos.

Se eu ainda fosse um caçador ativo, teria caído de joelhos e vomitado as tripas só de olhar para aqueles olhos. Mas, como estava há tanto tempo longe dos perigos da caça, outro pensamento dominou minha mente.

Hmm. Fantasmas de Nível 3 ficaram desse tamanho agora? Os tempos mudaram. Nem quero imaginar que tipo de pesadelo nasce em cofres de Nível 8. Ainda bem que parei de arriscar minha vida. O eu do passado era brilhante, parecia até um gênio estrategista.

O lobo com a arma enorme rosnou para meu sorriso e recuou um passo. Então o fantasma com o porrete, que estava sobre Gilbert, se moveu para proteger seu companheiro. Eles estavam farejando o ar e me analisando com cautela.

Meu sorriso desapareceu quando a realidade me atingiu. Eu estava a segundos de encontrar meu criador. Por algum motivo, os lobos ainda não haviam me atacado, mas eu não tinha chance contra fantasmas que tinham deixado Tino naquele estado miserável. O que diabos eu podia fazer?

Enquanto vasculhava meu cérebro por uma saída, o Grande Greg exclamou, apavorado.

I-Isso não pode ser... Os chefes... Estão com medo!

Como é que é?

Medo? — repeti, incrédulo. Ridículo. Se eles eram lobos, eu era um cordeiro pronto para o abate. A maior parte do mana que acumulei havia se dissipado, e tudo o que eu tinha era meu nível de caçador carimbado no papel.

Eu apenas fiquei parado ali, sem entender o que estava acontecendo, e mesmo assim os cavaleiros-lobo deram mais um passo para trás. Seus narizes tremiam furiosamente enquanto seus olhos permaneciam fixos em mim. Do que eles estavam com tanto medo? O Grande Greg devia ser muito mais intimidador.

Seguindo os olhares dos lobos, finalmente notei para onde eles estavam realmente olhando. Aqueles olhos carmesim não estavam focados no meu rosto, mas sim na cápsula metálica pendurada no meu pescoço—a cápsula que continha o slime de Sitri.

Dei um passo à frente. Os cavaleiros-lobo recuaram. Seus olhos continuavam congelados na minha direção, mas eles não estavam olhando para mim. O que diabos tinha ali dentro para deixá-los tão apavorados? O que exatamente eu estava carregando no meu pescoço?

Dei mais um passo e as feras recuaram mais dois. Para eles, esse cordeiro era venenoso. Minha sorte tinha virado. Pelo visto, eu não ia morrer ali embaixo, afinal.

Sem desviar os olhos dos cavaleiros-lobo, chamei para trás:

Consegue correr, Tino?

Por trás da minha fachada fria, meu coração martelava descontrolado no peito.

Ah, s-sim, claro! — Tino respondeu, saindo do transe.

Havia três passagens saindo da câmara, uma delas bloqueada pelos lobos à minha frente. Não havia chance de passarmos por todos de uma vez. Por mais assustados que estivessem, nada garantia que não descobririam logo que a cápsula venenosa no meu pescoço valia o risco. O melhor era recuar por enquanto e dar um tempo para que Tino e seu grupo se recuperassem antes de tentarmos fugir desse lugar juntos.

Por ali. — Apontei para a passagem à direita, a mais próxima de nós. Agora que o lobo com o porrete havia se afastado, o caminho estava livre.

Hã, mestre, não deveríamos derrotá-los? — Tino perguntou, parecendo culpada.

Claro, Tino, eu queria dizer. Com certeza devíamos acabar com eles... Mas como diabos você espera que eu faça isso?!

Eu poderia jogar a cápsula de slime neles e rezar para que morressem, mas apostar nossas vidas em um slime do qual eu não sabia nada era arriscado demais. Como aquela coisa já estava servindo como um bom dissuasor dentro da cápsula, eu continuaria aproveitando esse fato.

Soltei um suspiro e adotei um tom sábio:

Não perca de vista o que é importante, Tino.

Oh! Você quer dizer...

Isso mesmo. A coisa mais importante era a vida dela. Lutar até a morte era burrice. Boa sorte para quem se arrisca assim, mas eu tô fora.

Foi então que ouvi um movimento vindo de algum lugar. Tino prendeu a respiração. Antes que eu percebesse, tudo que conseguia ver era uma armadura negra me cobrindo como uma sombra. Um dos cavaleiros-lobo havia se recuperado da minha aterrissagem desastrosa e saltado para cima de mim. Quando me dei conta do que estava acontecendo, uma espada maior do que eu estava descendo em minha direção.

Meus sentidos foram inundados pelo uivo furioso e pelo fedor bestial. Eu simplesmente fiquei ali, congelado, incapaz de me mover. A lâmina caiu como uma guilhotina, pesada e rápida o suficiente para me partir ao meio—antes de me atingir e ricochetear sem deixar um arranhão.

O quê...? — O Grande Greg murmurou.

O cavaleiro-lobo que me atacou ficou atônito. Ele tropeçou para trás alguns passos e examinou sua grande espada, aparentemente surpreso demais para queimar de ódio.

Um poderoso disparo de flecha soou como um tiro de canhão, atingindo minha testa... e sendo desviado do mesmo jeito.

Aparentemente, os dois fantasmas nos quais eu tinha me chocado ainda estavam bem vivos. E muito, muito irritados. Eu também ficaria se algum idiota trombasse em mim e me jogasse contra uma parede.

Todos os quatro cavaleiros-lobo me fuzilaram com os olhos. Eu forcei um sorriso. Ei, o que mais eu poderia fazer? Eu já estava morto de qualquer jeito.

Mas então, finalmente tive uma ideia de como reagir. Estendi meu dedo indicador, apontando para os lobos como se fosse uma arma, e ativei o Anel de Disparo Elétrico no meu dedo mindinho esquerdo. Uma esfera de luz azul queimou na ponta do meu dedo, formando uma bala mágica.


Let This Grieving Soul Retire! Woe Is the Weakling Who Leads the Strongest Party | Nageki no Bōrei wa Intai Shitai: Saijaku Hunter ni Yoru Saikyō Party Ikusei-jutsu Volume 01 Ilustrações

Pouco antes de disparar a bala, soltei uma frase de efeito daquelas:

Boa tentativa, mas eu tenho dezessete vidas.

***

Os humanos eram fracos. Fisicamente falando, éramos uma das criaturas mais frágeis do nosso tamanho. O corpo humano não foi feito para sobreviver às perigosas câmaras do tesouro ou enfrentar os monstros e espectros que habitavam nelas. Por isso, para ganhar a vida como caçador, era necessário ter algum talento natural.

A indústria da caça ao tesouro era repleta de indivíduos talentosos. Entre as habilidades mais valiosas, a principal era a alta taxa de absorção de mana. Assim, nunca houve um excesso de caçadores, mesmo nos dias atuais, quando os caçadores de tesouros eram adorados pelo público.

Infelizmente para mim, só percebi isso depois de me tornar um caçador. A parte boa era que todos os meus amigos compensavam a falta de talento natural que eu tinha. Eles eram habilidosos o suficiente para limpar a maioria das câmaras do tesouro sem precisar da minha ajuda. A fortuna e a reputação que nosso grupo acumulou fizeram com que eu me sentisse um pouco menos inútil como caçador — ou melhor, graças a esses espólios, consegui sobreviver até agora sem talento, coragem, motivação, objetivos, esperança ou sorte.

Os Anéis de Segurança, assim como os Anéis de Disparo, eram Relíquias bem conhecidas do tipo anel. Quando seu portador era atacado, um Anel de Segurança ativava automaticamente uma barreira de força predefinida por um tempo limitado. Resumindo, cada um protegia seu usuário de um ataque — uma única vez.

A resistência e a duração da barreira dependiam do anel. Quanto mais forte e duradoura fosse a barreira, mais raro e caro o anel se tornava. Como eu queria evitar morrer a todo custo, gastei uma pequena fortuna — o suficiente para comprar a sede do clã várias vezes — para adquirir todos os Anéis de Segurança disponíveis no mercado. No fim, eu carregava nada menos que dezessete anéis.

Eu duvidava que houvesse alguém na capital usando um número sequer próximo desse de Anéis de Segurança. Normalmente, eles só apareciam nos dedos dos caçadores de elite, que os guardavam para emergências. Naturalmente, eu só tinha dez dedos, mas os anéis funcionavam tão bem dentro da minha bolsa quanto nos meus dedos. Sem eles, eu jamais teria ousado tocar no Night Hiker.

Claro, os Anéis de Segurança não eram infalíveis. A barreira que criavam durava, no máximo, um segundo — geralmente, uma fração disso. Uma única ativação drenava toda a mana do anel, transformando a Relíquia em um mero enfeite. Como meus anéis já haviam me protegido de ser esmagado contra as paredes da caverna, eu tinha certeza de que seria achatado depois de alguns golpes dos cavaleiros lobo. Ou seja, eu precisava sair dali de qualquer jeito antes que isso acontecesse. Dizer que eu tinha dezessete vidas foi um leve exagero.

O cavaleiro lobo com a espada reagiu rapidamente à bala mágica, abaixando-se o suficiente para que ela passasse zunindo acima de sua cabeça. Era como se ele tivesse previsto o disparo. Isso não me pareceu certo.

Ele desviou! — Rhuda gritou.

Então, a luz azul mudou de direção no ar e acertou o lobo na parte de trás da cabeça. O espectro caiu no chão, e a caverna tremeu com o impacto. Isso definitivamente pegou os outros lobos de surpresa.

Mantendo os olhos na matilha, gritei:

Corre, Tino!

O-Okay! — Tino disparou em uma corrida, seguida pelo resto do grupo.

Os cavaleiros lobo mantiveram a atenção total em mim, escolhendo não perseguir os outros.

Um Anel de Disparo era qualquer Relíquia em forma de anel que disparava balas mágicas. O Anel de Disparo de Choque, por exemplo, podia — quando totalmente carregado — disparar até sete balas que explodiam ao impacto. No entanto, apesar do efeito chamativo, não passava disso. Na verdade, causava pouquíssimos danos. O cavaleiro lobo no chão provavelmente estava apenas atordoado pelo ataque surpresa.

Havia uma grande variedade de Anéis de Disparo por aí, mas nenhum deles era forte o suficiente para derrotar um espectro. No máximo, serviam como distração.

O lobo caído se levantou. Como esperado, a bala mágica não deixou nem um arranhão. Os lobos se reorganizaram em um semicírculo ao meu redor — dois na frente e dois atrás —, um movimento incrivelmente coordenado para lobos de Nível 3.

Observei a formação e então me voltei para o lobo que carregava uma arma de fogo, que eu, até aquele momento, vinha ignorando. Aquilo não era brincadeira. Minha bolsa cheia de Anéis de Segurança não adiantaria nada contra tiros em rajada.

O medo dos lobos em relação à gosma de Sitri havia sido suprimido pela fúria. Seus olhos agora brilhavam com uma parte de medo, três de raiva, três de ódio e três de cautela, se fosse para chutar alguns números.

Em primeiro lugar, eu precisava dar tempo para Tino fugir. Assim que estivesse sozinho contra os lobos, poderia me mandar voando se fosse necessário. Pensando que exibir uma arma poderia mantê-los afastados por um pouco mais de tempo, mantive um sorriso estúpido e alcancei a Relíquia em minhas costas... mas ela não estava lá.

Continuei tateando em busca da espada e só encontrei minha besta Relíquia: Nunca Erre um Tiro 9000. Ela me permitia controlar a trajetória de qualquer projétil disparado, incluindo eu mesmo quando usava o Night Hiker, além da bala mágica que acabara de disparar. Vale ressaltar que eu mesmo dei esse nome à Relíquia, e sua precisão estava longe de garantir que o projétil atingiria o alvo.

Não me diga que eu deixei cair, pensei. Eu tinha uma bainha presa às costas, mas ela estava vazia. Revisei mentalmente meu trajeto até ali, mas não consegui lembrar quando a perdi, já que estava ocupado demais tentando minimizar meus choques contra as paredes da caverna. E era uma Relíquia cara... Não que tivesse alguma habilidade que pudesse me tirar dessa enrascada.

Pelo menos os cavaleiros lobo permaneciam onde estavam, cautelosos diante dos meus movimentos erráticos.

Mestre, o que você está fazendo? — Tino, que eu achava que estava correndo para salvar a própria pele, me observava do corredor. O resto do grupo estava parado ao lado dela, aparentemente esperando por mim. Que parte de “corram” eles não entendiam?! O que eu estava fazendo? Isso que eu queria saber! Perder uma Relíquia dentro de uma câmara do tesouro não era só azar — era idiotice. Eu não era um durão, era um completo imbecil.

Um dos espectros, segurando seu porrete com ambas as mãos, soltou um uivo para afogar o próprio medo e avançou contra mim.

O Alerta Vermelho, a Relíquia no meu mindinho direito, ficou quente, sinalizando o perigo iminente.

É, como se eu pudesse desviar disso.

O porrete que teria me transformado em uma folha de papel bateu contra outra barreira. Isso era ruim. Eu estava ainda mais ferrado do que imaginava. Eu simplesmente não conseguia me mover. Mesmo sabendo que um Anel de Segurança me protegeria, eu estava apavorado.

Os espectros recuaram diante do humano que permanecia ileso após um golpe colossal. Eu também estava apavorado, só que por dentro.

Minha fiel Corrente de Perseguição chacoalhava no meu cinto, sentindo o perigo mortal que eu enfrentava. A corrente era valiosa o suficiente para me fazer chorar se quebrasse. Mas tempos desesperados exigiam medidas desesperadas. Com sorte, ela seguraria os lobos por tempo suficiente.

Soltei-a do cinto. A corrente, recém-recarregada, saltou e deslizou em direção ao cavaleiro lobo com o porrete. Não era forte o bastante para derrubar um cavaleiro lobo, mas causava um incômodo considerável ao fantasma gigante. A corrente se enrolou nas pernas do lobo e o derrubou. Os outros três lobos mantiveram distância cautelosamente, aparentemente sem nunca terem lidado com uma corrente como essa antes.

Claro que a coisa os assustava. Ela também me assustou na primeira vez que a vi em ação, mas a Corrente de Perseguição não conseguiria segurá-los todos. Aquele arco e aquela arma me aterrorizavam. Por que o mundo estava cheio de trevas e terror? Eu me perguntava se os lobos me perseguiriam caso eu simplesmente saísse correndo dali.

Os cavaleiros lobo estavam muito atentos a mim... Bom, pelo menos atentos ao limo ao redor do meu pescoço. Ainda assim, seus olhos ardiam de raiva, prontos para me atacar a qualquer momento. Tudo o que eu queria era correr. Eu não me importava mais com os caçadores que supostamente deveríamos resgatar. Eu só queria ir para casa.

Praguejando minha sorte, estendi as duas mãos e ativei meus Anéis de Disparo. Relíquias em forma de anel eram relativamente conhecidas, mas poucas pessoas sabiam que existiam dois tipos: os que só funcionavam quando colocados no dedo e os que funcionavam desde que o usuário os carregasse de alguma forma. Os Anéis de Disparo pertenciam à segunda categoria.

Pequeno Gilbert observava com olhos arregalados enquanto inúmeras balas de luz flutuavam acima das minhas mãos. Eu havia ativado todos os Anéis de Disparo guardados no meu saquinho preso ao cinto. Relíquias em forma de anel eram muito leves, e os Anéis de Disparo eram baratos para os padrões das Relíquias, então qualquer pessoa com um pouco de dinheiro e tempo poderia fazer algo assim.

O tipo de Anel de Disparo determinava a cor da bala que disparava, criando um caleidoscópio de cores brilhando nas minhas mãos. Era bem chamativo, se me permitem dizer, mas também era muito fraco.

Os cavaleiros lobo se agitaram, receosos de que eu fosse lançar outro ataque, mas não havia como escaparem. Não tinham a menor chance de desviar de todas aquelas balas. Enquanto anéis normais de disparo só atiravam em linha reta, eu tinha comigo o Nunca Erre um Tiro 9000.

As esferas subiram e, conforme meu comando, atacaram os lobos de todas as direções. Eles tentaram desviar, mas eu manipulei os projéteis e os persegui implacavelmente. Nem sequer lhes dei tempo para pegar suas armas.

Percebendo que não poderiam escapar das balas — ou talvez acreditando que o feitiço as rastreava automaticamente —, os lobos se jogaram no chão e se encolheram como tartarugas. Sem piedade, despejei a saraivada mágica sobre suas costas.

Uau — disse pequeno Gilbert, claramente impressionado com meu truque de salão.

Rhuda parecia compartilhar do mesmo sentimento.

Então é isso que um nível 8 pode fazer...

Tino assistia com admiração nos olhos. Eu não recusaria elogios. Tampouco recusaria uma gorjeta pelo meu espetáculo, mas me contentaria se eles finalmente fugissem como eu havia mandado.

A magia choveu sobre os fantasmas, atingindo suas cabeças, braços, ombros, olhos e até mesmo os crânios que usavam como meio-máscaras. A variedade de balas queimava, congelava, faiscava e explodia ao contato. Cada um dos Anéis de Disparo que eu havia trazido era único, produzindo um tipo diferente de magia.

Os fantasmas soltaram rosnados baixos. Assim que todas as balas mágicas explodiram, a escuridão retornou. Minha estratégia, por mais chamativa e impressionante que parecesse, tinha uma falha terrível: era péssima.

O grupo assistia, prendendo a respiração, enquanto os cavaleiros lobo se levantavam de suas posições defensivas. Nenhum deles tinha sequer um arranhão.

Depois de tudo isso... — lamentou Rhuda, quase chorando.

Os fantasmas rosnaram, intrigados.

Ei, não era culpa minha! A maioria das Relíquias não era projetada para matar. Relíquias de armas eram outra história; dependiam da habilidade do usuário para serem eficazes. Nas mãos de alguém como eu, que não tinha talento algum para combate, eram completamente inúteis.

Depois de se certificarem de que estavam ilesos, os fantasmas me encararam com um olhar coletivo de fúria por ter desperdiçado o tempo deles com aquele ataque ridículo.

Acho que não funcionou, afinal.

Alguns dos anéis tinham efeitos que poderiam paralisar temporariamente o alvo ou colocá-lo para dormir, mas parece que esses efeitos foram anulados. Pelo que eu sabia, os Anéis de Disparo foram originalmente projetados para serem usados contra humanos. Não era surpresa que não tivessem surtido muito efeito contra os cavaleiros lobo.

Agora, eu estava sem opções. Restava-me apenas uma carta na manga. Era hora de encarar a realidade. Se a batalha se arrastasse por mais tempo, os lobos venceriam.

Ah, droga. Eu realmente não queria usar isso hoje, mas...

Dane-se.

Tirei a cápsula do tamanho de um dedo do meu pescoço. Os cavaleiros lobo arregalaram os olhos e recuaram alguns passos. Eu sabia que estavam com medo da cápsula, não de mim. Se eu fosse morrer, pelo menos levaria aqueles malditos lobos comigo.

Eu já estava morto, de qualquer jeito. Pelo menos assim, eu os levaria junto na catástrofe do slime de Sitri — um tipo de slime maluco criado pela minha amiga Sitri. Eu não sabia muito sobre essa coisa, e sinceramente, não queria saber.

Tremendo de apreensão, retirei a tampa e olhei cuidadosamente para dentro da cápsula. Então esfreguei os olhos e chequei de novo. Franzi a testa, hesitante, e enfiei o dedo dentro. Tino e os outros me observavam com uma preocupação crescente.

Sem nada a perder, dei um aceno firme, recoloquei a tampa e joguei a cápsula em direção aos lobos, disparando uma bala mágica contra ela. Os lobos rapidamente se dispersaram, apavorados com o projétil vindo em sua direção.

Assim que me certifiquei de que a bala que eu controlava estava indo em direção à cápsula, corri na direção de Tino.

Corre, Tino!

Tino e seu grupo despertaram do choque e dispararam para dentro do corredor. A cápsula explodiu atrás de mim. Os lobos uivaram em agitação, mas não havia tempo para olhar para trás. Precisávamos sair dali antes que os fantasmas percebessem que a cápsula estava completamente vazia.

Para onde o conteúdo foi, afinal? Só de pensar nisso, um calafrio percorreu minha espinha.

***

Canalizei cada gota da minha força para controlar minha respiração e continuar movendo as pernas. Já fazia um bom tempo desde a última vez que corri daquele jeito, e eu não podia me dar ao luxo de olhar para trás.

Corríamos pelos túneis escuros e estreitos, o ar frio roçando no meu rosto. O Grande Greg, Gilberzinho, Rhuda e Tino estavam alguns passos à minha frente. Mesmo correndo no meu limite, eu não os alcançava, o que significava que eles estavam reduzindo o ritmo para que eu conseguisse acompanhar.

Gilberzinho se virou enquanto corria, segurando sua grande espada como se não fosse nada. Apesar da expressão séria, ele parecia bem mais relaxado do que quando cheguei. Ele estava se recuperando enquanto corria? Que monstro.

Eles vão nos alcançar desse jeito — ele disse. — Precisamos acelerar.

Seu idiota! Krai tá cuidando do ferimento da Tino! — Rhuda repreendeu.

Ah, não tinha percebido — Gilbert respondeu. — Desculpa.

Espera, a Tino tá machucada? E eu ainda assim mal consigo acompanhar ela? Vamos lá, eu não era tão lento assim. Me comparar com a Tino era simplesmente injusto. Talvez eu estivesse, inconscientemente, indo mais devagar por causa dela. Ninguém podia provar o contrário.

O comentário do Rhuda me incomodou um pouco, mas pelo menos me trouxe de volta à realidade. Certificando-me de que não havia nenhum uivo assustador vindo de trás, parei. Eu não tinha as habilidades de um Ladrão, mas se ainda estivéssemos sendo perseguidos, a Tino teria avisado. Parecia que os tínhamos despistado.

Os outros entenderam minha parada como um sinal para também desacelerar. Devem ter criado um laço durante essa missão, porque agora estavam bem mais cooperativos.

Estamos seguros? — perguntou Gilberzinho.

Acho que sim. Essa foi por pouco. — O Grande Greg se virou para mim. — Você realmente salvou nossas peles ali atrás.

Eu não merecia o agradecimento dele, na verdade, eu é que devia implorar pelo perdão deles. Mas, por enquanto, precisávamos nos recompor. Segurando o impulso de vomitar, tentei regular minha respiração e olhei para Tino.

Tino abraçava os próprios ombros e se encolhia.

M-Mestre...

Krai, a Tino deu tudo de si — disse Rhuda, se intrometendo.

Sem ela, já estaríamos todos mortos quando você chegou para nos salvar. — Por algum motivo, ela parecia se desculpar.

Certo, certo — eu disse pensativo. — Se um pedido de desculpas resolvesse tudo...

Ninguém precisava me dizer que Tino estava no seu limite. Eu via isso claramente. Seu cabelo, normalmente impecável, estava bagunçado, e seu rosto estava completamente pálido. Seu short preto estava rasgado, revelando uma boa parte da pele clara da coxa direita, o que me fez... cof... a visão era bem chamativa.

Tino percebeu meu olhar e puxou a perna do short para cima o máximo que pôde. O que ela estava fazendo? Esse definitivamente não era o momento para me dar um vislumbre de sua roupa íntima. Ela olhava para o lado, parecendo envergonhada, com os lábios bem cerrados.

Fiquei encarando até que Gilberzinho quebrou o silêncio.

Você pode curar pessoas, Mil Truques?

Ah, então era ali que ela estava machucada. A Tino realmente precisava melhorar sua comunicação. Achei que ela só estivesse aprontando das suas de novo. O motivo de termos parado era para eu cuidar do ferimento dela.

Examinei a coxa pálida que ela estava me exibindo tão orgulhosamente. Não vi nenhum ferimento ou cicatriz, mas não dava para negar que ela estava bem machucada, já que mal conseguia correr mais rápido do que eu.

Naturalmente, eu tinha trazido meus Relíquias de cura. Como poderia não ter? Peguei a cruz de prata — uma Relíquia chamada Fé Curativa — que estava pendurada no meu pescoço e a encostei na coxa da Tino. Uma luz azul emanou da cruz e se dissipou na pele dela. Ela relaxou um pouco.

Desculpa não ter percebido antes, Tino.

Obrigada, Mestre. Já não dói mais — ela disse.

Bom, a Tino ainda teria que carregar meu peso por muitos anos.

Ao ver o processo de cura, Gilberzinho suspirou aliviado.

Ah, é só uma Relíquia de cura.

Só uma Relíquia de cura? E daí? Esse ingrato tinha algum problema com o fato de eu depender de Relíquias para absolutamente tudo? Se estivéssemos em qualquer outro lugar que não fosse um cofre do tesouro, eu já teria voltado para a sede do clã.

Krai, você deu cabo dos cavaleiros-lobo? — perguntou o Grande Greg, mantendo um olho no caminho de onde viemos.

Se eu tivesse que dar uma resposta, seria: “Nem a pau.” Lobos têm um olfato apurado. Aqueles cavaleiros-lobo provavelmente temeram o cheiro deixado na cápsula. Eu não fazia ideia se slimes tinham cheiro, mas não conseguia pensar em outra explicação. Agora, aqueles cães deviam estar furiosos. Haviam sido enganados por uma cápsula vazia e deixaram sua presa escapar bem debaixo do nariz.

Nosso único foco agora era sair daqui. Nem mesmo aqueles fantasmas horríveis deveriam conseguir nos seguir para fora do cofre. Além disso, a missão de resgate já era. Não tinha como aqueles caçadores terem sobrevivido tanto tempo. Não estaríamos ajudando ninguém se morrêssemos tentando salvá-los.

Soltei um longo suspiro e me espreguicei. Perder minha espada foi uma pena, mas uma Relíquia insignificante não valia minha vida. Já que era improvável que a Corrente Farejadora voltasse para mim sozinha, eu simplesmente mandaria alguém buscá-la depois.

Não derrotei, mas essa foi a melhor decisão para nós lá atrás — eu disse. — Isso não é o que importa agora. Vamos continuar andando.

O-Okay — respondeu o Grande Greg.

Restavam duas perguntas: onde estávamos e onde ficava a saída?

***

Seguimos em silêncio, comigo na frente. Dessa vez, não havia conversa fiada—todos estavam exaustos.

De acordo com o mapa que eu tinha visto antes, a Toca do Lobo Branco era como um formigueiro, com passagens estreitas se cruzando por toda parte—ou seja, tudo parecia igual. Embora a toca não fosse um labirinto tão grande, era totalmente possível que estivéssemos refazendo o mesmo caminho repetidamente.

Por que eu tô liderando a marcha, afinal? Não era trabalho de Ladino? Esse grupo tem dois, pelo amor de Deus!

Tentei parar por um momento pra deixar Tino ou Rhuda assumirem a frente, mas eles apenas pararam logo atrás de mim, esperando.

Eu achava que a Tino era mais proativa que isso...

Cada vez que olhava pra ela, ela virava o rosto como se estivesse de saco cheio de mim. Como se nunca mais quisesse falar comigo. Como se quisesse que eu morresse. Nunca pensei que veria o dia em que Tino me desprezaria. Talvez eu devesse ter implorado por perdão quando tive a chance. Mas ainda estávamos em um cofre de tesouro perigoso. Xeque-mate.

Não tive escolha senão seguir em frente às cegas. De vez em quando, pegava um caminho aleatório. O único ponto positivo era que não encontramos nenhum inimigo pelo caminho. Talvez esse cofre não estivesse tão infestado, afinal. Ou, mais provavelmente, Tino estava nos guiando sutilmente para longe dos inimigos. Ocasionalmente, ouvíamos uivos ecoando pela toca labiríntica, mas eles sempre pareciam distantes. Pelo menos, eu achava que estavam distantes. Eu esperava que estivessem.

Andamos por um bom tempo, mas ainda não havia sinal da saída. Eu tinha quase certeza de que estávamos indo na direção certa, mas é por isso que eu odiava cofres subterrâneos.

Justo quando eu estava pensando se era o momento certo para me ajoelhar e implorar pelo perdão de Tino, pequeno Gilbert falou:

Ei, desculpa se você não tá nos contando de propósito, ou algo assim, mas pra onde estamos indo? A saída?

Ele tinha ficado estranhamente mais humilde ao longo do dia. Infelizmente, eu não fazia ideia. A saída era nosso destino, pelo menos.

Quando estava prestes a dizer isso, Tino se adiantou apressadamente:

Gilbert, interpretar as intenções do nosso mestre faz parte do treinamento. E não estamos indo para a saída. O caminho que pegamos depois da sala do chefe não tem saída. Precisamos passar pela sala do chefe de novo para sair daqui.

S-Sério? Ainda estamos treinando? — disse Gilbert.

S-Sério? Não pude evitar repetir mentalmente a reação de pequeno Gilbert. Eu estava totalmente indo pra saída. Pelo menos, estava tentando, mas aparentemente peguei o túnel errado. Espera, aquela era a sala do chefe? Não é à toa que aqueles fantasmas pareciam muito mais fortes do que eu esperava. Então, e agora? Isso significa que temos que voltar tudo? E a Tino ainda estava tratando isso como treino? Pra onde mais eu tentaria ir além da saída?! É por isso que eu odeio gente que se cobra demais.

Mas, Krai — perguntou Rhuda timidamente —, não pode pelo menos nos dizer pra onde estamos indo?

Me senti patético. Pra onde eu estava indo? Eu sempre estive perdido—não só nesse cofre de tesouro, mas na vida em geral. Não havia nenhum ponto de referência, então não dava pra saber o que era o quê, mas o grupo ainda agia como se eu fosse o guia deles.

Na primeira chance que eu tiver, vou dar uma meia-volta casual. Aqueles cavaleiros-lobos já terão ido embora quando voltarmos pra sala do chefe. Se ao menos eu pudesse dar uma meia-volta na minha vida... Engoli o choro e fiz cara de durão.

Virei em uma passagem. Mais uma virada na mesma direção basicamente daria no mesmo, mas seria seguro voltar pra sala do chefe?

Marchamos por vários minutos. Justo quando eu estava considerando fazer a segunda curva, o Grande Greg arfou. Virei-me para vê-lo me encarando como se eu fosse algum tipo de aberração.

Não pode ser — ele murmurou. — Não havia rastro. Ele nem estava olhando. Como...

Eu te disse. O mestre sempre faz as coisas por um motivo.

Guardem isso pra depois, vocês dois! Precisamos ajudá-los! — gritou Rhuda, correndo à frente.

Finalmente, avistei algumas silhuetas caídas mais à frente, pequenas demais para pertencerem a fantasmas. Depois de observá-las por alguns momentos, percebi que estavam se mexendo um pouco.

O Grande Greg os viu daqui?! Esses caras têm uma visão incrível. Eu poderia ter simplesmente virado para outro túnel sem notar nada.

São os caçadores desaparecidos que viemos resgatar? Não esperava que estivessem vivos. Sortudos. Talvez essa sorte deles passe um pouco pra mim.

Tino estufou o peito, olhando pra mim com admiração:

Viu? Eu disse que estava tudo dentro do plano.

Não, não. Isso foi obviamente coincidência — rebati. Nem com todas as minhas relíquias juntas eu conseguiria ver o futuro.

Pequeno Gilbert suspirou:

Por que você diria isso, se foi você quem nos trouxe aqui?

Nos aproximamos dos caçadores que viemos resgatar. O mais próximo era um homem ainda maior que o Grande Greg. Ele vestia uma armadura cinza opaca e carregava um enorme escudo verde nas costas. Ao seu alcance, havia uma lança cônica gigantesca que nunca teria sido usada em batalhas humanas. Seu brilho distinto indicava que era uma Reliquia.

O homem era Rudolph Davout. Antes dessa missão, eu nunca tinha ouvido esse nome, mas sua estrutura física fazia jus ao seu nível 5. Tino e o Grande Greg claramente o conheciam, o que só provava que aceitaram essa missão sabendo que um caçador nível 5 estava encurralado. Que bando de esquisitos.

Rudolph aparentemente tinha um osso quebrado, pois Tino e os outros correram para remover sua armadura e lhe deram uma poção. Eu nem teria ideia de como desamarrar aquela armadura.

Os outros membros do grupo estavam espalhados por perto, completamente exaustos. Alguns pareciam gravemente feridos, mas, pelo menos, estavam vivos. Era um milagre não terem sido aniquilados nesse buraco.

Como está a dor? — perguntou Tino.

Rudolph arfou. Seu rosto estava magro, mas seus olhos ainda tinham um pequeno, mas inconfundível, brilho de vida.

Estou bem. Obrigado. Vocês nos salvaram.

O mestre é quem você deve agradecer.

Eu não fiz nada — protestei. Não havia como negar que fui tão inútil quanto sempre. A única coisa que fiz foi mandar a Tino e os outros... O que, pensando bem, era um bom motivo para ser agradecido, né?

Com olhos vacilantes, Rudolph olhou para mim. Ele estava completamente sem forças depois de três dias preso aqui. Pelo que valia, entreguei-lhe uma barra de chocolate que sempre carregava comigo. Ele devorou o doce.

Tem comida? — perguntei.

Lá fora... — Rudolph murmurou.

Assim como a nossa, mestre. Planejamos acampar do lado de fora do cofre.

Ah, entendi. Sempre acampamos dentro — comentei.

Meus amigos tinham o péssimo hábito de ver cofres de tesouro perigosos como campos de treinamento convenientes.

***

Mestre, o senhor é a luz na escuridão!

Tino estava tomada pela emoção ao ver seu adorado mestre tirar barra após barra de chocolate de sua pequena bolsa de couro e entregá-las aos companheiros. Ela tinha certeza de que, entre todos os caçadores da capital, nenhum superava Krai Andrey. Sua coragem e bondade eram as qualidades que Tino mais admirava nele.

Por que diabos você tem tudo isso? — Gilbert perguntou de forma rude.

Isso é confidencial — Krai respondeu.

Rhuda o observou, exasperado. — Você não tem nada além de chocolate aí?

Nope. Mas tem o suficiente pra todo mundo. — Ele parecia completamente despreocupado com as reclamações, continuando a aliviar a tensão com cada barra que entregava.

A mentora de Tino, Lizzy, era uma caçadora (absurdamente) poderosa, mas havia algo no querido mestre dela além da força. Ele havia sido gentil ao salvá-la no último momento, quando ela não conseguiu superar o teste dele, e sua frieza permitiu que ele priorizasse salvar os caçadores perdidos—o verdadeiro objetivo da missão que Tino negligenciou—ganhando minutos preciosos ao simplesmente se afastar dos fantasmas que poderia ter derrotado com facilidade.

Usando habilidades de rastreamento que rivalizavam até mesmo com as de um Ladrão, ele encontrou os caçadores perdidos por conta própria e não perdeu tempo até resgatá-los. O fato de não terem encontrado nenhum fantasma no caminho sugeria que ele havia sentido a presença deles—ou talvez os cavaleiros lobos temessem tanto Krai quanto os próprios chefes fantasmagóricos. Mas o mais impressionante era que Krai estava disposto a sacrificar seu orgulho e fazer o papel de bobo.

Muitos consideravam Ark o caçador mais forte de sua geração, mas ele não conseguia fazer nem metade do que o mestre dela realizava com tanta facilidade. Para Tino, Krai era a personificação do caçador perfeito, alguém que merecia mais do que qualquer um o título de Nível 10.

Claro, havia o problema dele impor provas impiedosas aos discípulos, mas mesmo isso era uma forma de amor severo—ele só esperava dos seus pupilos o mesmo nível de dedicação que exigia de si mesmo. E, no fim das contas, ele sempre aparecia para resgatá-los quando realmente chegavam ao limite. Tino não chegaria ao ponto de chamar isso de um defeito.

E agora? — Greg perguntou.

Vamos sair daqui assim que possível. Já fizemos o que viemos fazer.

Para os caçadores, lutar e derrotar inimigos temíveis era uma honra, mas Krai nem sequer hesitou na resposta. Ele devia estar preocupado com o estado dos caçadores resgatados. Por mais nutritivas que as barras de chocolate fossem, os seis ainda estavam longe da força total. É claro que também era possível que o mestre de Tino considerasse aqueles cavaleiros lobos indignos do esforço de uma luta.

Só de observar seu mestre, Tino encontrou forças para continuar movendo seu corpo exausto. Ela não queria mais decepcioná-lo. Já havia falhado em seu teste. Mesmo sentindo uma imensa felicidade ao ser salva por ele, ainda queria ganhar seu respeito—mesmo que jamais chegasse aos pés de sua habilidade.

Foi então que Krai olhou para Tino. Apenas isso foi o suficiente para fazer seu coração disparar. Um sorriso gentil surgiu no rosto dele.

Bom, a líder dessa missão é a Tino. Vou seguir as ordens dela.

O quê?! Mas eu sou nada comparada a você — ela disse, fraquejando.

Poucos caçadores poderiam se igualar ao brilhante Mil Truques, que, lá da capital, percebeu que havia um problema. Tino encolheu-se enquanto seu mestre continuava.

A questão é ganhar experiência — ele disse com seriedade. — Eu te ajudo quando você realmente precisar.

Agora que ele tinha falado isso, não dava mais para simplesmente empurrar a responsabilidade de volta para ele. Tino pensou cuidadosamente e falou, lançando um olhar em busca de aprovação do mestre.

Como o mestre disse, devemos priorizar sair do cofre o mais rápido possível.

Você vai liderar o caminho, certo? — ele perguntou.

Ela assentiu sem hesitar.

Como qualquer caçador minimamente competente, Tino havia memorizado o mapa do cofre do tesouro antes de embarcar nessa missão. Na verdade, ela sabia exatamente onde estavam agora. Não havia risco de se perder. Ela não se permitiria depender das direções de Krai.

Claro — disse. — Mas talvez eu não consiga evitar todos os fantasmas como você fez.

O quê? Ah, é, certo. Mas tente o máximo que puder evitar eles, tá? Isso é bem importante.

Absolutamente, mestre. Minha dor já passou, então não vou mais atrasar ninguém.

É... certo. Estávamos indo um pouco devagar antes, mas essas pessoas estão presas aqui há dias. Não se esqueça disso.

As bochechas de Tino coraram de vergonha. Ela tinha esquecido dos caçadores resgatados, distraída demais com a presença do mestre. Isso não aconteceria de novo.

É claro, os caçadores resgatados eram bem capazes, então não precisariam reduzir tanto o ritmo quanto na ida, mas não valia a pena mencionar isso agora. Seu mestre estava passando uma lição.

Tino reprimiu a vergonha avassaladora que sentia. Não era hora para isso. Ela também sabia muito bem que Krai poderia apontar centenas de coisas nela que ainda não estavam à altura dos padrões dele. Só podia mostrar a ele sua melhor performance como caçadora e líder.

Sustentando o olhar expectante de seu mestre, Tino disse:

E, só por precaução, embora isso possa ser desnecessário com o mestre aqui, talvez seja melhor perguntar a Rudolph sobre o cavaleiro lobo humanoide que o atacou.

***

O cavaleiro lobo prateado ergueu a cabeça lentamente quando uma pequena silhueta entrou sem fazer som algum. Sob sua pata, jazia um pedaço retorcido de metal exalando um cheiro que o lobo não reconhecia. Ainda assim, desde o momento em que sentiu aquele odor, seu instinto o alertou para ter cautela.

Agora, no entanto, o cavaleiro lobo bípede—tão inteligente quanto os antigos Luas Prateadas—sabia que aquilo era inofensivo e que havia sido enganado. Também sabia, com absoluta confiança, que poderia destroçar cada um de seus inimigos humanos.

A corrente bizarra que havia detido os lobos agora repousava no chão, impotente. Mesmo que uma arma semelhante fosse usada contra eles, o cavaleiro lobo já sabia como lidar com isso.

Ergueu a imensa espada, tão longa quanto ele próprio, e se virou quase com preguiça. Atrás da máscara de meio-crânio que usava, seu olho carmesim ardia com um ódio ainda mais intenso do que antes.

Os outros dois lobos que permaneceram na sala levantaram o rosto. Seus olhos recaíram sobre uma figura muito mais baixa que eles—uma figura mascarada por um crânio sorridente. O recém-chegado não usava uma armadura pesada como os cavaleiros lobos, mas sim uma vestimenta mais leve, feita para movimentos ágeis. Era quase humano em seu traje, exceto pelas brilhantes botas até os joelhos, que resplandeciam com uma luz prateada. Embora a figura não alcançasse sequer um terço da altura do imponente cavaleiro lobo, sua presença exalava uma aura de morte muito mais densa e opressora que a dos próprios lobos.

Em sua mão, a pequena criatura segurava uma espada de tamanho mediano com uma lâmina quase translúcida, bem diferente das lâminas dos cavaleiros lobos. Era Silent Air, a Relíquia Espada. A lâmina emitia um brilho peculiar enquanto pendia despreocupadamente na mão da figura. Os fantasmas não faziam ideia de que essa espada havia caído exatamente neste cofre, das costas de um caçador de Nível 8.

A Toca do Lobo Branco era o resultado de uma maldição deixada pelos Luas Prateadas à beira de sua extinção. Seus sentimentos viscerais em relação à humanidade exerceram uma forte influência sobre o mana material do cofre—ódio e admiração, dois lados da mesma moeda. Os lobos invejavam os humanos por seu poder, aparência e inteligência.

Essas emoções haviam se manifestado nos cavaleiros lobos prateados através de sua postura bípede, suas armas e os crânios que cobriam metade de seus rostos. Mas, se eles eram a personificação dos sentimentos contraditórios dos Luas Prateadas, então quem era essa figura inteiramente mascarada por ossos?

A Toca do Lobo Branco, que antes carecia de mana material para concretizar a maldição dos Luas Prateadas, agora se tornara uma caverna perigosa o suficiente para derrotar e aprisionar caçadores de Nível 5.

A figura sombria, com seu crânio risonho, deu um passo à frente diante do trio de imponentes cavaleiros lobos. As feras uivaram e investiram, carregadas com o ódio ancestral que nutriam pela humanidade.

***


Tradução: Carpeado
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