Hai to Gensou no Grimgar | Grimgar of Fantasy and Ash Volume 13 Capítulo 03
[Modo de Vida]



Hai to Gensou no Grimgar | Grimgar of Fantasy and Ash Light Novel Volume 13 Illustrations

Talvez Shihoru fosse preocupada demais. Sempre imaginando que as coisas iriam de mal a pior. Principalmente quando se tratava dela mesma, tudo dava errado. Não conseguia evitar pensar assim.

Na verdade, às vezes as coisas davam certo, às vezes não. Era um pouco de cada. Mas os momentos ruins eram os que ficavam marcados. Permaneciam com ela, sem nunca a deixar.

Se olhasse para trás, para o caminho que percorreu, nem tudo o que aconteceu fazia com que quisesse desviar o olhar. Ela entendia isso perfeitamente. Mas, mesmo quando erguia a cabeça, seu coração continuava cabisbaixo.

Por ora, seu rosto real também estava abaixado.

Uma gota d’água escorreu de seu cabelo e caiu em seu colo.

— Shihoru.

Ao ouvir seu nome, Shihoru finalmente levantou a cabeça.

A suave luz de um lampião iluminava o quarto. A própria hospedaria parecia um pequeno castelo, e, quando pusera os pés ali pela primeira vez, imaginou que tipo de princesa viveria em um lugar assim.

É claro que o quarto de uma princesa não teria quatro camas. Os móveis também eram poucos, e, observando com mais atenção, o estofamento não era especialmente luxuoso. Era um local bem construído, regularmente mantido e sempre limpo, nada além disso. Mas a cama onde Shihoru estava sentada era macia, e havia um leve aroma agradável no ar.

Há quanto tempo não ficava em um lugar assim? Talvez fosse a primeira vez.

Mary estava parada diante dela, com toalhas nas mãos.

— Seu cabelo ainda está molhado — disse.

— ...Ah. — Shihoru tocou o próprio cabelo. Ainda estava bem úmido.

Mary sentou-se ao seu lado e começou a pressionar a toalha contra sua cabeça. Seus movimentos eram cuidadosos, como sempre.

Shihoru pensou em dizer que não precisava, mas engoliu as palavras. Para ela, aceitar a gentileza dos outros era mais difícil do que rejeitá-la. Talvez fosse apenas seu jeito de ser. No entanto, aprendeu, ao conviver com seus amigos, que, se alguém queria fazer algo por ela e isso os deixava felizes, então deveria permitir, mesmo que sua vontade fosse recuar.

Yume não escondia seus sentimentos. Não mentia. Shihoru era o oposto.

Mesmo que quisesse, nunca conseguiria ser como Yume. Mas, se Yume se aconchegasse nela em busca de calor, Shihoru a abraçaria de volta e não fugiria. Se Yume dissesse que gostava dela, Shihoru conseguiria, de alguma forma, responder: “Eu também.”

Então, mesmo que tivesse dificuldade em expressar o quanto se importava com as pessoas que amava, Shihoru poderia demonstrar isso através de suas atitudes.

— Obrigada... Mary — disse devagar.

Mary esboçou um leve sorriso e continuou secando seu cabelo.

Shihoru sentia falta da animação de Yume. Agora que estava sozinha com Mary, nenhuma das duas era muito falante, então não havia muita conversa fiada.

O silêncio não era algo que incomodava Shihoru. O que a preocupava era se era certo permanecer calada e o que a pessoa ao seu lado pensaria disso. Mas Mary falava quando queria e não era do tipo que forçava uma conversa sem motivo. Por isso, quando estavam juntas, mesmo sem palavras, não era algo desconfortável. Elas diziam apenas o que queriam dizer e ouviam o que a outra tinha a dizer.

— Dá uma sensação de vazio — Mary disse de repente.

— ...Sim. — Shihoru assentiu, sentindo o peito apertar.

Mary sentia o mesmo que ela. Mas já sabia disso.

— É uma sensação realmente... solitária — Shihoru murmurou, melancólica.

— Sinto que... Yume sempre me salvava — suspirou Mary.

— Eu também. Talvez... não, com certeza... até mais do que você, Mary.

— Quando ela voltar, vamos recebê-la com um sorriso.

— Eu acho que... vou chorar...

— Mas não tem problema, né?

— Eu... estou um pouco irritada.

Shihoru não tinha a intenção de contar isso a ninguém, mas as palavras escaparam sem querer.

Mary repousou a toalha sobre o colo e passou um braço em volta de suas costas.

Yume era bem forte, mas Mary era suave. Por um tempo, Shihoru imaginou que Mary estivesse se segurando. Mas agora percebia que estava errada. Esse era o jeito de Mary, o que a tornava única.

— Eu fiquei sem palavras — disse Mary. — Pensei: “A Yume é hilária.” E percebi isso tudo de novo.

— Ela é engraçada demais. Mas, admito, essa é uma das coisas que... bem, eu adoro nela.

As lágrimas ameaçavam cair, mas não caíram. Isso porque Mary estava ali com ela.

— Então, nunca me passou pela cabeça que ela iria embora... — lamentou Shihoru. — Sou tão patética... Tenho esse lado meu. Esse jeito de me apoiar tão rápido nos outros.

— Acho que é porque a Yume confia em você, Shihoru — disse Mary, tentando confortá-la. — Mesmo estando longe por um tempo, ela tem certeza de que você vai ficar bem.

— Você acha que a Yume já duvidou dos amigos e companheiros? — Shihoru perguntou.

— Acho que não — respondeu Mary imediatamente, rindo.

Shihoru também achou graça.

— Pois é, né?

— Mesmo que ela fique mais forte, a Yume sempre será a Yume. É essa a sensação que tenho.

— Ela pode mudar mais do que imaginamos, sabia...?

— Mesmo que mude, isso seria bem a cara dela. Acho que, no fim das contas, estou bem com qualquer coisa. Contanto que a Yume esteja bem e possamos vê-la de novo daqui a meio ano, isso já é o suficiente...

A mão direita de Mary estava sobre o quadril de Shihoru. A esquerda brincava com a toalha sobre os joelhos.

— Acho que... você tem razão.

Shihoru estendeu a mão direita e segurou a esquerda de Mary. Ela não devia estar esperando por isso, pois seu corpo enrijeceu por um momento. Mas, mesmo que tentasse se soltar, Shihoru não deixaria.

— Porque você está aqui comigo assim, eu estou bem — disse Shihoru. — Não importa o que aconteça, você é você.

Mary abaixou a cabeça, pensativa.

Por mais que se entendessem, por mais que diminuíssem a distância entre si, todas as pessoas eram separadas. Shihoru não havia percebido a determinação de Yume. E, quanto ao que se passava na mente de Mary, ela só podia tentar adivinhar.

Ainda assim, podia tentar. Mesmo que não entendesse tudo, ao menos sabia que Mary estava profundamente preocupada, atormentada por algo.

Shihoru não podia resolver os problemas de Mary. Talvez fosse difícil até mesmo dar um conselho útil. Sua própria existência talvez nem fosse de grande ajuda para ela.

Mas—

Estou aqui,

pensou Shihoru. Mesmo que você diga que não precisa de mim, eu não consigo odiar a amiga em quem confiei minha vida, e, não importa o que aconteça, não vou desistir. Sou grudenta e posso ser bem esquisita, se me permitir dizer, mas não há o que fazer quanto a isso. Afinal, essa sou eu.

— Fico feliz — sussurrou Mary, apertando a mão de Shihoru de volta.

Feliz com o quê? Shihoru escolheu não perguntar, apenas imaginar.

Deveria me aprofundar mais,

pensou. Mas não faria algo além do que podia. Tinha seu próprio ritmo e não podia se tornar alguém que não era.

Quando chegou a Grimgar, nem sabia medir seus próprios passos. Mas, pouco a pouco, tropeçando pelo caminho, finalmente começava a se encontrar. Ultimamente, era assim que Shihoru se sentia.

E justamente por isso se preocupava com Mary, que às vezes parecia ter perdido a si mesma. Segurar sua mão era tudo o que Shihoru podia fazer. Para algo além disso—

Isso não pode partir de mim,

pensou Shihoru. Haruhiro-kun. Provavelmente... só você pode fazer isso. Você entende isso?

De repente, a porta se abriu, e Shihoru entrou em pânico. Mary se afastou um pouco, e Shihoru percebeu, um instante depois, que não havia motivo para tanto alarde.

Setora entrou no quarto.

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banhar primeiro. Enquanto isso, Setora ficou no quarto, depois foi tomar banho sozinha e agora estava de volta.

— V-Você... não demorou muito — disse Shihoru.

— Oh. É mesmo? — Setora secava o cabelo com uma toalha enquanto caminhava até uma cama diferente da que Shihoru e Mary estavam sentadas. Sentou-se ali.

Todas haviam trocado de roupa para vestes de algodão compradas no mercado de Vele. Eram roupas simples, abertas na frente, e que facilmente se abriam se não fossem amarradas com um cinto. Além disso, iam apenas até os joelhos, deixando o corpo um pouco exposto. Shihoru jamais sairia para caminhar vestida assim.

Setora se deitou na cama, olhando para o teto. Respirou fundo. Talvez não fosse o caso, mas Shihoru teve a impressão de saber o que Setora estava pensando.

Ela devia estar se sentindo inquieta.

Com Setora, sempre havia uma barreira entre elas. A Estalagem Peixe-Cabra Dourado era um estabelecimento bastante luxuoso, e cada quarto custava cinco pratas por noite. No entanto, tinham dinheiro suficiente para se darem a esse luxo e, em vez de pegarem apenas um quarto para os rapazes e outro para as garotas, poderiam ter alugado um para cada um. Shihoru não viu necessidade, mas Setora certamente se sentia sufocada. Talvez devessem ter feito isso.

— Só quero dizer uma coisa — Setora abriu a boca. — Quanto ao fato de eu não ter conseguido me entrosar com vocês, vocês podem pensar que isso não me incomoda muito... mas não é verdade.

Mary soltou um leve: — ...Hã? — e inclinou a cabeça para o lado.

Shihoru demorou um pouco para assimilar o que Setora havia dito.

Setora levantou as pernas. A bainha de sua roupa deslizou, revelando completamente suas pernas bem torneadas. O que ela estava fazendo? Erguia e abaixava as pernas devagar, uma de cada vez. Seria algum tipo de exercício?

— Não sou boa em me relacionar com os outros — disse Setora. — Essa é uma forma ruim de expressar isso? Nunca me esforcei para aprofundar meus laços com outras pessoas. Talvez nunca mesmo. Diferente dos golens e nyaas, os seres conhecidos como humanos são difíceis de lidar. Isso também pode ser uma forma ruim de me expressar. Sim, acho que sim. Não sou boa em ser delicada ao falar...

Shihoru pensou que, para começar, quando se tenta falar de forma delicada e atenciosa, não se avisa isso ao interlocutor. Ainda assim, parecia que Setora estava fazendo o possível para ser cuidadosa à sua maneira, e isso não lhe parecia ruim.

— Hum... — Shihoru murmurou, hesitante. — Pensando bem, onde está o nyaa?

— Kiichi? Acho que está explorando a cidade. Ele é muito curioso. O que é raro para um nyaa. Nyaas selvagens não costumam sair de seu próprio território, afinal.

— Eles não são adequados para viagens? — perguntou Mary.

Setora parou de levantar e abaixar as pernas.

— ...Não. Não em seu estado natural. Os nyaas criados na aldeia estão acostumados a se deslocar, mas ainda assim marcam o local onde dormem com seu cheiro. Parece que não conseguem relaxar sem isso.

Mary assentiu, satisfeita com a resposta. Talvez estivesse tentando pensar em outra pergunta, mas aparentemente não conseguiu. Shihoru também não tinha nada a dizer.

Setora começou a erguer as pernas novamente, mas parou no meio do movimento. Ficou ali, olhando para o teto com os joelhos dobrados.

O silêncio se prolongou por um tempo considerável. Ou talvez só parecesse longo para Shihoru, e, na realidade, não fosse tanto assim.

— Eu os trouxe da aldeia por puro capricho... e deixei muitos nyaas morrerem — Setora cobriu o rosto com as mãos e soltou um suspiro. — Sou uma péssima mestra. Também quebrei Enba. Não sei se conseguirei consertá-lo. E como não pretendo voltar para a aldeia tão cedo, as chances são mínimas.

Shihoru e Mary se entreolharam.

E agora?,

Shihoru pensou. O que... devemos fazer?

Yume teria reconfortado Setora sem hesitar. Para ela, não importava se a pessoa era uma de suas companheiras ou sequer da mesma raça. Nada disso fazia diferença. Se sentisse algo, Yume admitiria sem demora.

Shihoru, assim como Mary, não conseguia demonstrar empatia com a mesma naturalidade que Yume.

— Os humanos... — Setora estava chorando? Sua voz não tremia. Era firme e sem emoção, como sempre. — ...têm um rosto público e um privado. Escondem seus verdadeiros sentimentos atrás de uma fachada. Mentem. Com facilidade. Até para si mesmos. Quando criança, achava isso perturbador, mas agora nem tanto. Todos têm algo que querem proteger, todos estão lutando desesperadamente. Só que eu não consigo lidar com isso. Não me interessa o suficiente... ou pelo menos era o que eu pensava. Eu tinha Enba, estava cercada por nyaas, e isso era o bastante. Deveria ter sido o bastante. Será que cometi um erro? Bom, não tenho arrependimentos.

Setora fez uma pausa.

— Eu não percebia, mas ao sair da aldeia, fiquei feliz por estar livre dela. A aldeia era sufocante, mas nunca havia pensado em deixá-la. Agora, acho isso estranho. Por quê? Por que nunca tentei sair da aldeia? Eu tinha medo? Estava insegura? ...De qualquer forma, agora saí da aldeia. Não tenho desejo de voltar. Se eu não voltar, não posso reconstruir Enba. Ainda assim, não quero voltar. Sinto pena de Enba, mas não de mim. Como posso dizer isso? Sinto-me viva. Nunca me senti tão viva.

— Está se divertindo? — perguntou Mary.

Setora tirou as mãos do rosto.

— ...Me divertindo. Talvez sim, talvez não. Apesar de ter perdido Enba e os nyaas, não estou tão abatida. Não há muitas coisas que me desagradam.

— Mas... há algumas? — Shihoru perguntou, hesitante.

Setora estava apenas desabafando, e elas faziam perguntas para confirmar o que ela dizia. Era uma conversa estranha, mas talvez fosse o melhor que podiam fazer naquele momento.

— ...Sim — respondeu Setora. — Eu poderia chamar de insatisfação. Para ser direta, às vezes sinto algo parecido com uma sensação de exclusão. Acho que, na verdade, estou mesmo sendo excluída. Fui rejeitada pela casa onde nasci, então estou acostumada. Não é algo que me incomode tanto. Desde o nascimento, fui rebelde, nunca aceitei a casa como deveria. Sabia quais seriam as consequências, mas não queria ser escrava dos meus pais, nem me submeter às tradições da aldeia. Agora... não sou tão teimosa quanto naquela época. Mas, dito isso, não estou buscando um acordo com vocês.

Ela fez uma pausa e continuou: — Para dar um exemplo, acho Haru agradável, mas não peço que ele me ache agradável em troca. Isso seria a abordagem errada. Mesmo que eu o forçasse de alguma forma a me obedecer, seu coração não se voltaria para mim. Assim como eu nunca obedeci minha própria casa. Porque, sacerdotisa... Mary... Haru ama você.

Dizer isso logo agora?!

Shihoru olhou de canto para Mary.

Mary estava imóvel. Como uma estátua. Ela havia virado pedra.

Era difícil imaginar que não soubesse, mas, de certo modo, talvez Mary fosse ainda mais densa que Yume para essas coisas. Shihoru queria ter certeza.

Eu só queria dizer: “Ei, você sabe que seus sentimentos são correspondidos, né?” Se dissesse isso, como Mary reagiria? Talvez dissesse “Por quê?”, com uma expressão surpresa.

Elas estavam sempre juntas, então Shihoru às vezes esquecia, mas Mary era tão bonita que intimidava as pessoas. Seu corpo também era bem desenhado, e, sendo sincera, Shihoru sentia inveja disso. Mas ser tão diferente dos outros devia ter suas próprias dificuldades.

Parecia que Mary não tinha muita experiência com romance, não se interessava e ainda era um pouco lenta para perceber essas coisas. Haruhiro-kun também. Além de não ser muito experiente, tinha um jeito meio ingênuo, não?

Isso significava que, emocionalmente, os dois ainda eram meio infantis?

Shihoru começava a suspeitar que, se as coisas ficassem como estavam, talvez nunca chegassem a lugar nenhum.

Eu deveria fazer algo? Mas como?

Ela mesma não tinha experiência. Na verdade, só conhecia o sentimento de uma paixão não correspondida e suas próprias fantasias, então provavelmente não seria de grande ajuda.

Setora suspirou e murmurou para si mesma: — ...As coisas simplesmente não dão certo.

— Nem me fale — Shihoru concordou, olhando para Mary, que continuava completamente paralisada.

Honestamente, tantas coisas não estão dando certo. Sinto como se estivesse caminhando sobre uma corda bamba infinita, e às vezes pular dela pareceria mais fácil. Mas provavelmente nunca farei isso.

Shihoru tinha coisas demais das quais não queria desistir tão facilmente. Por mais que as valorizasse, poderia perdê-las a qualquer momento. Talvez agora fosse o único momento em que ainda pudesse segurá-las.

Yume tem seu próprio jeito de viver, então acho que ela precisava seguir seu caminho,

refletiu Shihoru. Mas eu quero te ver, Yume. Mesmo tendo acabado de nos separar, eu quero te ver tanto...

— Resumindo, cada uma de nós carrega seus próprios dilemas pessoais — disse Setora, com um leve sorriso.

Sem dizer nada, Shihoru completou mentalmente:

Sim... e estamos vivas.
Tradução: ParupiroH
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