Death March Web Novel Online 6 – Intermissão 01 [Lulu]

Eu sempre fui uma criança indesejada.
Minha mãe trabalhava como empregada no castelo, então, desde pequena, fui criada por minha tia, que morava na cidade ao redor. Nunca tive um pai. Quando era mais nova, ouvi alguns comentários sobre ele, mas o assunto logo foi deixado de lado.
— Você é horrorosa! Vá buscar água para eu não ter que olhar para essa sua cara!
Pelo jeito, minha tia odiava meu rosto. Ela sempre arrumava alguma desculpa para me mandar fazer trabalhos fora de casa.
Ela e o marido tinham três filhos da minha idade: Jido, Bado e Kuku.
Jido me atrapalhava chutando o balde bem na hora em que eu puxava a água do poço.
Bado aproveitava o momento em que eu estava carregando o balde para me
fazer tropeçar.
Eu geralmente ficava atenta aos dois, mas, naquele dia, não os vi por perto. Um erro. A água caiu no chão, respingando na terra e me cobrindo de lama.
Normalmente, para que uma plebeia como eu pudesse sequer se aproximar de uma princesa, teria que passar pelo menos um ano aprendendo etiqueta. Mas, como ninguém conseguia ficar com ela por mais de dois ou três dias, resolveram abreviar o treinamento.
◇◇◇
Os dias agitados se seguiram.
O que mais me surpreendeu foi descobrir que eu era irmã mais velha de Arisa, filha de um pai em comum, mas de mães diferentes. Ela ouvira isso através daquele tubo de voz, em meio às conversas das criadas. Era um segredo bem guardado, mas a princesa já estava ciente.
◇◇◇
— Olha só, Lulu toda enlameada!
— Hehe, essa maquiagem de lama ficou melhor do que o seu rosto normal, viu?
Mordi os lábios, segurando o choro. Mais do que estar suja, o que me machucava de verdade era não poder negar o que eles diziam. Era um fato que as pessoas me tratavam melhor quando meu rosto estava coberto de lama do que quando eu apenas me molhava.
Enquanto tentava me lavar ali perto do poço, Kuku apareceu. Ela estava acompanhada das amigas, como sempre, com seus comentários maldosos.
— Ah, que desperdício da sua maquiagem especial.
— É mesmo! Não seria melhor se ela usasse uma máscara o tempo todo?
— Boa ideia! Kuku, você é um gênio!
Elas não usavam violência como Jido e Bado, mas suas palavras machucavam tanto quanto.
Nessas horas, eu me perguntava o que Arisa faria para se vingar. Se fosse a Tama-chan, ela provavelmente jogaria bolas de lama nelas, para que ficassem com sua própria "maquiagem especial".
Minha infância foi basicamente assim.
◇◇◇
Quando eu tinha nove anos, minha mãe me levou para o castelo com ela. Meu trabalho seria fazer companhia e brincar com a princesa.
Pelo que diziam, a filha do rei era bastante doente e, além disso, difícil de agradar. Nenhuma jovem da nobreza conseguia suportar sua companhia por mais de três dias, então acabaram recorrendo a mim.
— É a filha de Lili dessa vez? Mou, já falei várias vezes que não preciso de nenhuma coleguinha para brincar! Se insistem tanto, pelo menos tragam um estudioso ou um burocrata para me fazer companhia!
Do outro lado da porta, ouvi uma voz infantil usando palavras sofisticadas e orgulhosas, que não combinavam nem um pouco com sua idade. Como esperado, eu não era bem-vinda ali.
A princesa que vi pela primeira vez era uma menina lindíssima, com misteriosos cabelos e olhos violeta. Além disso, seu olhar era incrivelmente sereno, como o de um adulto.
Rudy: Diferente da LN onde a Arisa possui olhos verdes, na WN seus olhos são púrpura também.
Empurrada por minha mãe, apresentei-me de maneira desajeitada. A princesa me lançou um olhar breve antes de se aproximar rapidamente e erguer minha franja. Eu sempre escondia meu rosto feio atrás dela para que ninguém o visse.
Preparei-me para os insultos que viriam. Mas, para minha surpresa, foram bem diferentes do que eu esperava.
— Tsc. Esse rosto de riajuu… Alguns já nascem vencendo.
— Arisa-sama, embora essa menina não possa ser considerada bonita, ela é muito educada para a idade. Por favor, não a despreze.
"Rosto de riajuu?" Eu nunca tinha ouvido essa expressão antes.
Arisa-sama inclinou a cabeça ao ouvir as palavras de minha mãe e murmurou:
— Aparência ruim?
Era a gentileza de uma mãe. Ela não conseguia simplesmente dizer que a própria filha era feia.
— Do que você está falando, Lili? Se me disser que esse rosto de bishoujo é ruim, então esse país simplesmente não tem nenhuma beldade digna desse nome!
Naquele momento, achei que as palavras de Arisa eram uma espécie de sarcasmo indireto, mas, mais tarde, descobri que ela estava falando sério.
E assim, tornei-me a dama de companhia da princesa.
◇◇◇
A princesa a quem eu servia era uma pessoa um tanto peculiar.
Ordenava que os criados cultivassem um campo no jardim do castelo e, ao mesmo tempo, passava horas na biblioteca e na câmara do tesouro, lendo livros difíceis.
Apesar de costurar as próprias roupas incomuns, não sabia fazer bordados nem tricô. Essas disparidades se refletiam em várias áreas. Além disso, também não era habilidosa em dança social nem em recitar poemas.
— Você viu a nova dama de companhia da princesa tabu?
— Vi, eu vi. Qual é a daquela garota feia?
— Ei, cuidado com o que diz. Se te ouvirem, você vai levar uma bronca.
Ouvi essas fofocas vindas do aposento das criadas. Pelo visto, "princesa tabu" era como chamavam a Arisa. Aparentemente, seus cabelos e olhos violetas eram considerados um mau presságio.
Não contei nada a ninguém, mas, no dia seguinte, aquelas mulheres haviam sumido.
— Fufun, é impossível que uma fofoca maldosa escape dos meus ouvidos afiados.
Foi o que a princesa disse, satisfeita. Descobri depois que existia uma ferramenta mágica chamada "tubo de voz", capaz de captar sons distantes.
No dia seguinte, a princesa Arisa me contou uma história infantil chamada O Patinho Feio.
Ela já havia me contado muitas histórias, mas essa foi a que mais gostei.
Eu não era ingênua a ponto de acreditar que, na vida real, me tornaria um cisne. Mas, pelo menos, poderia sonhar um pouco.
— Com isso, já são doze irmãos. Provavelmente há mais na cidade do castelo. Eu odiaria viver num país sem entretenimento... Ah, certo, Lulu!
— Sim, o que foi, Arisa-sama?
— Estou proibindo o "sama".
— Eh?
— Como eu disse! Quando estivermos só nós duas, não use isso. Somos irmãs, então estou proibindo os honoríficos.
O rosto da prin— não, de Arisa ficou vermelho enquanto ela desviava o olhar.
Naquele dia, deixamos de ser apenas meio-irmãs. Tornamo-nos melhores amigas.
Mas eu me preocupava. O filho do ministro apoiava os planos de Arisa, mas, segundo os rumores entre as criadas, ele não era uma pessoa confiável.
— Não tem problema. Homens não são dignos de confiança para começo de conversa, mas esse tipo ganancioso pode ser surpreendentemente útil. Além disso, este país só vê as mulheres como ferramentas para dar à luz. Se eu não tiver um fantoche como ele, como conseguirei me envolver na política?
No entanto, a partir daquele dia, as engrenagens do nosso plano começaram a sair do eixo, pouco a pouco.
A montanha secou, monstros surgiram dos fertilizantes e a colheita despencou drasticamente.
Mas, mais do que me preocupar com o país, eu me preocupava com Arisa. Até outro dia, era chamada de "A Sábia Princesa da Salvação", mas, num piscar de olhos, passaram a chamá-la de "Bruxa do Reino Perdido" e "Princesa Insana".
Por fim, o rei a confinou em uma das torres do castelo. Nosso país havia sido ocupado por outra nação, mas eu não sabia dos detalhes, pois estava presa junto dela, encarregada de cuidar de Arisa.
O rei e seus aliados foram executados, e nós nos tornamos escravas.
Arisa parecia uma boneca, com os olhos sem vida e um corpo entregue à apatia. Não era mais a Arisa forte de sempre… Mas, no fim, ela ainda era apenas uma menina de dez anos. Era inevitável.
Um ano se passou. Quando fomos transferidas da prisão para a vila real, um pouco da força em seu olhar retornou.
Numa noite de lua cheia, a capital foi consumida pelo fogo. Nós duas fugimos para as montanhas, sobrevivendo como podíamos. Tremíamos ao ouvir os uivos dos lobos, combatíamos a fome com nozes e bebíamos água recolhida das folhas.
Quando finalmente perdemos as forças na estrada entre as montanhas, um mercador de escravos nos capturou. Se não tivesse sido assim, provavelmente teríamos morrido de fome ou sido devoradas pelos lobos.
◇◇◇
— Guhehehehe~.
Senti um frio na espinha ao ouvir a risada assustadora de Arisa.
Ah! Parece que a corajosa Arisa finalmente tinha chegado ao seu limite.
Mesmo sendo desajeitada e inútil, uma irmã mais velha ainda era uma irmã mais velha. Eu não sabia que tipo de pessoa seria nosso mestre, mas protegeria Arisa até o fim.
Mesmo tendo essa determinação sombria…
Aquela Arisa, ela estava apenas rindo porque encontrou seu tipo favorito de homem! Ah, essa Arisa, ah!
Foi alguns dias depois que aquele jovem se tornou nosso mestre. Minha primeira impressão sobre ele foi: "Ele se parece comigo."
Ele não era feio como eu, mas seus traços eram similares. Seus contornos eram esguios, seus cabelos não eram claros, mas escuros como os meus. Mas eu não achava que ele era tão bonito quanto Arisa dizia.
O que será que Arisa via nele?
— Ugh… a defesa dele é bem forte...
— O que é forte?
Fiquei surpresa ao ouvir a história de Arisa.
Aquela Arisa!
Ela rastejou para dentro da cama do mestre, completamente nua, para ganhar o favor dele.
Ela era ousada demais!
Mas o mestre parecia não ter tocado nela. Ele devia ser apenas dois ou três anos mais velho que ela, então era estranho que não tivesse se aproveitado da situação, ainda mais com alguém tão linda como Arisa se oferecendo.
Será que o mestre gostava de homens?
◇◇◇
Hoje conversei bastante com o mestre sobre a Arisa.
Percebi que estava falando demais no meio da conversa, mas não conseguia me conter, já que não sentia aquela tensão que normalmente sentia com outros homens. Mas o mestre me ouviu até o final sem demonstrar nenhum incômodo, nem por um instante.
Além disso! Além disso, desu!
Ele não pareceu enojado ao ver meu rosto. Talvez tenha sido a primeira vez que isso aconteceu, exceto com Arisa.
Talvez fosse só coisa da minha cabeça, mas senti que ele me olhava com gentileza, cheio de carinho. Mesmo que fosse apenas uma ilusão, estava tudo bem.
Como apenas Liza sabia cozinhar, me ofereci para ajudá-la. Eu também tinha coisas que poderia fazer e trabalharia duro para ser útil, para ser mais do que apenas um extra de Arisa.
Ehehehe~.
O mestre me elogiou.
— O seu chá é delicioso, Lulu.
Talvez essa tenha sido a primeira vez que alguém me elogiou.
◇◇◇
— Sim, escute bem o som.
Impossível. Isso é impossível, mestre! V-você não pode sussurrar tão perto do meu ouvido!
Aah! Eu estava tão feliz que poderia ter um sangramento nasal. Como uma garota, eu não poderia viver se isso acontecesse. Eu precisava aguentar firme.
Mas não era um sussurro de afeto. Eu apenas queria muito saber o segredo daquele bife delicioso que o mestre preparou ontem.
Só que não era hora de prestar atenção no óleo quando ele me abraçava por trás, como nossas mãos juntas segurando a frigideira... Mesmo assim, de alguma forma, consegui grelhar um pedaço de carne.
Quando provei, mesmo estando muito abaixo do que o mestre havia feito, ainda era muitas vezes mais saboroso do que o que eu mesma tinha preparado no dia anterior!
Como prova de que eu não estava errada, o prato ficou vazio num piscar de olhos.
◇◇◇
Arisa descobriu.
Eu me perguntava como ela sabia que eu estava atraída pelo mestre. Era um mistério.
Mas o mestre era muito popular.
Não apenas com Arisa, mas também com Pochi-chan e as outras.
E agora, até mesmo uma princesa Elfa!
— Eu... Eu também me esforçarei para ganhar seu favor!
— Obrigado Lulu, você é adorável. Mas vamos deixar isso para quando você se refinar como uma mulher, daqui a cinco anos, pode ser?
Adorável, ele disse! Ele acabou de dizer que eu sou atraente, não foi? Ah, eu poderia morrer de felicidade…
Pensar que um dia eu ouviria isso de forma tão natural... Nem em sonho ou delírio eu teria imaginado algo assim.
Mesmo com tantas rivais, já tínhamos compartilhado a mesma cama, e até fizemos aquele "A~n" como namorados. Eu estava completamente feliz.
Ser esposa ou amante do mestre era um sonho irreal, mas se algum erro acontecesse... eu poderia ter um filho dele.
Quando falei isso para Arisa…
— Está tudo bem, Lulu! Quando eu me tornar a esposa oficial, definitivamente farei de você a segunda!
Arisa era muito confiável, mas eu não podia continuar dependendo dela para sempre.
Eu jamais poderia combinar com o mestre em aparência, não importava o quanto tentasse, mas treinava todos os dias para que meu corpo se tornasse do tipo que ele gostasse. Ainda fazia os exercícios de “Aumento de Busto”, mesmo depois que Arisa e Mia desistiram após três dias.
E também a minha culinária! Eu melhoraria até estar à altura de ficar ao lado dele.
E então, ele diria de novo: "Lulu, você é adorável." Era uma ambição ousada, mas eu definitivamente faria com que se tornasse realidade.
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