Hai to Gensou no Grimgar | Grimgar of Fantasy and Ash Volume 11
Capítulo 02
[Por Que Eu Nasci?]
Silêncio.
Antes de tudo, silêncio.
Não deixe meus passos fazerem barulho.
Avance centímetro por centímetro.
Ranta não era um ladrão nem um caçador, mas sua habilidade em rastejar já devia estar no nível de um mestre. Isso seria um caso de “a necessidade é a mãe do desenvolvimento”?
O quê? Não era assim o ditado? Era “a necessidade é a mãe da invenção”? Bem, tanto faz, era uma habilidade que ele precisava desesperadamente, então, é claro que iria melhorar com a prática.
Bom, bom.
Só mais um pouco.
Estava ali, na grama.
Sua pele viscosa era pontilhada de verde e marrom. Suas pernas traseiras estavam dobradas, e as dianteiras erguiam seu corpo. Seus olhos arredondados não estavam olhando para ele.
Está tudo bem, Ranta disse a si mesmo. Não está se mexendo. Isso significa que ainda não me notou.
Mesmo assim... é enorme.
De qualquer ângulo que olhasse, aquilo parecia um sapo. Ele apostaria oito ou nove em dez chances de que era definitivamente um sapo, mas era um sapo do tamanho de um punho—não, do tamanho de um bebê.
É um grandalhão, pensou. Sim. De qualquer forma, isso não está grande demais...?
De repente, uma dúvida passou por sua mente. Era mesmo um sapo?
Será que poderia existir um sapo tão grande? Ele não era especialista em sapos, mas não seria tão estranho se existisse. Pelo menos, era o que ele achava. Até com cães havia raças pequenas e grandes. Com aquela silhueta tão de sapo, tinha que ser um sapo. Só era enorme, só isso.
Mas e quanto a veneno?
Veneno, huh... Ele não tinha pensado nisso até agora.
Ele não se lembrava muito bem, mas não existiam sapos venenosos também? Bem, a maioria dos seres vivos venenosos tinha uma aparência que os denunciava.
Certo? Talvez não, né? Com cobras, venenosas ou não, elas não pareciam tão diferentes, certo? Cogumelos também. Os cogumelos que pareciam venenosos às vezes eram comestíveis, e os que pareciam inofensivos às vezes eram problemáticos. Não que cogumelos fossem animais. Mas, ainda assim, eram seres vivos.
Não, não, não! disse a si mesmo. Não vacile. É, agora não é hora de hesitar. Estou com fome aqui.
Se ele não comesse, morreria. Bem, talvez não, mas sabia que seria melhor comer alguma coisa agora enquanto ainda tinha forças.
Quando ele já não conseguisse mais se mover direito, até conseguir comida seria difícil. Ele conseguia se mover agora, mas não era um especialista em sobrevivência como um caçador, então não era tão fácil encontrar coisas comestíveis.
Pássaros e animais eram estupidamente cautelosos, e quando ele tentava se aproximar, fugiam. Ele provavelmente conseguiria pegar insetos de algum jeito, mas, se possível, queria evitar comer isso, deixando como último recurso.
Então, que tal sapos? Pensando bem, ele não tinha muitas dúvidas. Na verdade, eles pareciam ser uma verdadeira refeição.
Se ele simplesmente pulasse no sapo a um metro de distância e mordesse de uma vez, seria nojento, mas se ele tirasse a pele primeiro, não poderia ser saboroso?
Sua boca começou a salivar.
Tudo bem, disse a si mesmo.
Se fosse venenoso, ele lidaria com isso depois. Se sua língua formigasse, ele simplesmente cuspiria fora. Ele tinha confiança em seu senso de perigo e reflexos.
Eu vou comer, decidiu. Vou pegar e comer. Comer bem.
Ele quase gritou o nome de uma de suas habilidades por hábito, mas se conteve.
Aqui vou eu. Sem barulho! Leap Out Silencioso!
Ele pulou direto para frente e estendeu as duas mãos. Foi exatamente nesse momento que aconteceu.
O sapo pulou também.
— O quê...?
Suas mãos colidiram uma com a outra, agarrando o vazio. Como isso era possível? Ele tinha deixado escapar?!
A reação rápida ao perigo e a habilidade de salto incrível o deixaram chocado. Com um único pulo, o sapo havia se movido dois metros inteiros. Não era um sapo comum, afinal.
— Droga! Você não vai escapar! — gritou.
Se é assim que vai ser, vou levar isso a sério. Sim. Sem perceber, eu o estava subestimando, aquele sapo. Por maior que fosse, eu achava que era apenas um sapo. Não pense nessa coisa como um sapo. Pense nela como um inimigo a ser derrotado.
— Ngh! Você tá morto! Leap Out! — Ele pulou.
— Leap Out! — Ele pulou de novo.
— Leap Out!
— Leap Out!
— Leap Out!
Ele continuou pulando, sem dar tempo para si mesmo ou para o sapo respirar.
— Leap Out, Leap Out, Leap Out!
Pulava, pulava e pulava atrás dele. Cada vez que se aproximava com o Leap Out, estendia a mão para capturá-lo. Mas, toda vez, o sapo escapava no último segundo e nem parecia estar olhando para ele. O sapo sempre mantinha a traseira voltada para ele, como se tivesse olhos nas costas.
No momento em que pensou nisso, percebeu que aquelas marcas perto da traseira eram, na verdade, pálpebras.
Sem dúvida. Eram pálpebras. Ele tinha olhos nas costas, ou melhor, na bunda.
— Que nojo! — gritou. — Vou usar o Leap Out como finta e então...?! Então...?!
Quando fingiu que ia pular, mas não pulou, o sapo também começou a saltar, mas parou no meio do movimento.
— Heh! Te peguei!
Ele desestabilizou o timing do sapo e usou o Leap Out. Aquilo devia resolver.
Ou, pelo menos, deveria. Mas o sapo ainda escapou por entre seus dedos.
— Mas que habilidade é essa?! — rugiu.
Isso não é um inimigo qualquer, ele pensou, furioso. Que inimigo poderoso. Tenho que vê-lo como meu rival agora. Não vou deixar ele escapar. Eu juro que vou derrotá-lo. Vou comê-lo, custe o que custar. Como posso viver sem comer? Estou tão faminto que meu estômago parece até achatado. O que isso significa? Não sei, maldito sapo! Maldito seja, sapo! Você é só um sapo! Um sapo maldito!
Assim, ele saltou dezenas... não, centenas de vezes. Sério.
Estava exausto. Sério, sério. Claro que estava.
— Mas, cara, no fim das contas — murmurou... — Bwah!
Ele tentou soltar uma gargalhada, mas só conseguiu uma risada curta.
Na floresta quente e úmida, ele estava sozinho, suado, parado ali com um sapo grande demais preso em suas mãos. O que alguém poderia pensar dessa situação?
— Droga, eu sou foda... — murmurou.
Huh?
Era isso?
Difícil dizer, mas, seja como for, ele havia alcançado seu objetivo. O grande sapo, que até pouco tempo atrás agitava freneticamente as pernas, finalmente desistiu e ficou quieto. No entanto, aqueles olhos na bunda eram, no mínimo, assustadores. Piscaram. Estavam olhando para ele.
— N-Não olhe — disse. — Eu vou te comer agora...
O grande sapo coaxou. Estava implorando por sua vida? Isso era inútil, claro. No final, este mundo era baseado na sobrevivência do mais forte e na cadeia alimentar. Ranta não podia lutar de estômago vazio.
— Não guarde rancor de mim... Na verdade, acho que pode guardar, se quiser. Se quiser me odiar, me odeie. Por mim, tudo bem. Não é como se eu estivesse tentando bancar o durão ou algo assim.
Com essa frase incrivelmente legal e meio fofa, ele usou sua faca reserva para rapidamente encerrar a vida do sapo, tirar sua pele, arrancar os olhos, remover os órgãos internos e... O que pensar daquilo?
Embora fosse em formato de sapo, mesmo que um grande, por dentro, havia um pedaço de carne rosada e apetitosa. Ele gostaria de cozinhá-la, mas acender uma fogueira seria arriscado. Também não tinha água para lavar.
Parece que vou ter que comer assim mesmo, né? Lá vai. Não tenha medo. Não há nada para temer. O mundo é assim mesmo?! Nenhum tempero é melhor que a fome! Vou comer. Comer. Comer isso. Comer!
Lá vai! Que tal isso?!
Ele comeu. Comeu mesmo. Cuspiu os ossos, mas devorou todo o resto.
— Honestamente, sim — murmurou.
Jogando as duas mãos no chão, semicerrava os olhos sob a luz fraca que atravessava as folhas.
— O gosto... É. Não foi bom nem nada assim. Foi mais como: “Bem, pelo menos comi alguma coisa.” Isso é importante, né. Sim. Não deixou minha língua dormente e minha barriga não dói. Por enquanto, pelo menos. Aposto que consigo me mexer por dias com isso. Provavelmente...
Ele arrotou, franzindo a testa sem querer. Um cheiro cru e rançoso de sapo veio à tona.
— ...É prova de que ainda estou vivo.
Sim.
Estou vivo. Quero gritar isso bem alto.

Estou vivo!
Estou vivendo intensamente!
Que tal isso?!
Olha como minha vida parece brilhar!
Ele não ia gritar, claro.
— Ranta! — uma voz gritou.
Ao ouvir seu nome, Ranta quase pulou, mas não, ele definitivamente não podia fazer isso. Em momentos como aquele, ao invés de entrar em pânico e agir de forma desesperada, era melhor estar preparado para se mover imediatamente, se necessário.
Ele não se levantaria. Ficaria agachado, mais ou menos pela metade, com o corpo inclinado para frente.
De onde vinha aquela voz?
Não parecia perto. Pelo som, o falante estava a dezenas de metros de distância, talvez uns cem metros.
Já fazia mais de dez dias que Ranta estava perambulando pelo Vale dos Mil. Ele não tinha ideia de onde estava agora. Pelo menos havia saído da densa névoa. Naquela área, havia apenas uma neblina matinal, e agora quase não havia mais nenhum vestígio dela. No entanto, as árvores densas e o terreno irregular dificultavam a visibilidade.
— Ranta! Eu sei que você está aí, Ranta!
Lá estava aquela voz novamente. Estava mais próxima desta vez? Bem... Não dava para ter certeza.
— Maldito seja esse velho — murmurou Ranta, cobrindo a boca com a palma da mão.
“Eu sei que você está aí”, Takasagi tinha dito.
Sério? Isso não era um blefe? Diferente do sapo que ele acabara de comer, aquele era um velho astuto. Sua intuição era afiada, então ele podia ter uma ideia vaga de onde Ranta poderia estar, mas provavelmente não sabia a localização exata.
Se ele soubesse exatamente onde estava, não precisaria gritar para alertá-lo. Bastaria se aproximar sorrateiramente. Se ele não estava fazendo isso, significava que Takasagi ainda não o tinha encontrado.
Além disso, era certo que Onsa não estava trabalhando com ele. Aquele goblin mestre das feras tinha domesticado lobos negros e nyas. Os nyas de Onsa tinham sido devastados, sobrando apenas alguns, mas a matilha de lobos negros, liderada por seu grande lobo negro, Garo, permanecia intacta. Se Onsa estivesse por perto, os lobos negros já teriam farejado Ranta e estariam se aproximando.
Era só Takasagi e alguns orcs ou mortos-vivos. Ele poderia escapar. Ou, pelo menos, ainda achava que tinha uma chance de fugir.
Ele precisava agir com calma. Isso era o principal.
Eles estavam esperando que ele entrasse em pânico e saísse do esconderijo. Então ele não se moveria. Ficaria onde estava por enquanto. E observaria a área ao redor.
Abriria bem os olhos. Esticaria os ouvidos.
A cerca de três metros à sua frente, havia uma árvore estranhamente retorcida, a ponto de parecer uma massa de tentáculos emaranhados. Ranta caminhou até aquela árvore, mantendo os passos silenciosos. Era uma única árvore? Ou um emaranhado de várias árvores? Bem, que diferença fazia?
Ranta encostou-se àquela árvore. Silenciosamente, respirou fundo.
— Ranta! — Takasagi gritou. — Apareça, Ranta! Faça isso agora, e eu não vou te matar, Ranta!
Dessa vez, estava um pouco mais perto—talvez?
Takasagi provavelmente estava se aproximando pouco a pouco. Mas ainda não estava tão perto assim.
“Faça isso agora, e eu não vou te matar”, Takasagi tinha dito.
Será que ele o perdoaria por ter se juntado à Forgan e depois fugido? Se Takasagi o perdoasse, Jumbo provavelmente não diria nada. Ele poderia até aceitá-lo como camarada novamente.
Não, não—Ranta disse para si mesmo. Takasagi só disse que não me mataria. Mesmo que ele não tire minha vida, ainda deve estar planejando fazer algo terrível comigo, certo? Não tem como ele simplesmente dar risada e deixar isso pra lá. Bem, claro que não, né? Quero dizer, eu traí ele, afinal.
— Ranta...!
Quantas vezes aquela voz já tinha gritado por ele? Ele tentou lembrar...
※ ※ ※
— Vou usar este galho — disse o velho, pegando não um galho qualquer, mas um pedaço fino, seco e retorcido, antes de fazer um gesto com o queixo para Ranta. — Você usa a sua própria espada, Ranta.
— Isso é uma desvantagem bem grande, hein, velho... Você acha que pode me subestimar!
Apesar da raiva, Ranta sacou RIPer como foi instruído e se preparou.
Ele havia conseguido essa arma na Vila do Poço, em Darunggar, ou melhor, a comprara do ferreiro. Era uma espada de duas mãos, mas a lâmina não era tão longa, e era mais leve e fácil de usar do que aparentava. A base da lâmina tinha uma protuberância no ricasso, e Ranta gostava da aparência ameaçadora da espada. Não seria exagero dizer que ele havia derrubado muitos inimigos com essa espada que tanto amava.
Você acha que pode vencer com esse galho? Não seja tão presunçoso, velho—não era algo que ele realmente pensasse, no entanto.
Takasagi abaixou levemente a mão esquerda, que segurava o galho, ficando em pé com os joelhos retos.
Ele estava a cerca de dois metros de distância de Ranta.
Se Ranta avançasse, um corte ou uma estocada o alcançaria. Além disso, como cavaleiro das trevas, Ranta era especializado em movimentos rápidos. Ele poderia reduzir aquela distância a nada num instante.
Takasagi nem sequer levantou o braço, e, afinal, ele só tinha um galho. Mesmo que acertasse Ranta, não deveria doer. Não deveria ser assustador de forma alguma.
Ainda assim, a respiração de Ranta havia ficado irregular. Seus pés... não, seu corpo inteiro estava hesitante.
Esse velho podia me matar a qualquer momento.
Não, isso não podia ser verdade. Era só um galho, certo? Um galho. E aquela expressão no rosto dele... Seu único olho estava meio aberto, o pescoço levemente inclinado e a mandíbula relaxada.
Era uma expressão que fazia Ranta querer reclamar. “Eu me humilhei pedindo para você me treinar, e você aceitou, mesmo que a contragosto. Vamos lá, leve isso a sério. Se controle.”
Esse homem tinha acabado de acordar? Estava de ressaca ou algo assim? Apesar disso, por quê...?
Ranta não podia vencer.
Não importava como atacasse, ele não podia vencer.
Era apenas uma impressão? Takasagi podia ver através de Ranta completamente. Isso era superestimá-lo?
Ranta poderia testar. Se testasse, saberia com certeza.
— O que foi? — Takasagi ergueu o galho, finalmente, mas então apenas girou o pulso, rodando-o no ar. — Venha, Ranta. Você quer ficar forte, certo? Se continuar aí parado, hesitando, nunca vai progredir.
— ...Sim, eu sei disso. — A voz de Ranta tremeu levemente ao responder.
— Você realmente entende? — Takasagi abriu um leve sorriso. — Isso é duvidoso.
Agora é o momento!
Não foi algo que ele decidiu. Pode-se dizer que foram seus instintos selvagens. O corpo de Ranta percebeu algo e reagiu.
Parecia perfeito. Leap Out seguido de Hatred. Basicamente, ele saltou e desferiu um golpe de cima para baixo. Era simples, mas um ataque mortal. Ele não hesitou nem um pouco.
Se Takasagi estivesse segurando uma espada, talvez mal pudesse bloquear. Mas com um galho, nem pensar. Também não poderia esperar desviar. Este golpe era inevitável. Ranta podia dizer com confiança que era um Hatred perfeito.
Takasagi deu um passo para a esquerda e simplesmente deixou RIPer passar. Ele roçou levemente em RIPer com o galho e, em seguida, atingiu o rosto de Ranta com ele.
— Gah?!
Ele previu isso?!
— Está escrito no seu rosto. — Takasagi deu um chute na parte de trás do joelho de Ranta, desequilibrando-o, e depois empurrou suas costas com o pé.
Ranta caiu para frente.
— Whoa!
— Você é fraco.
— Urgh! — Ranta rolou para frente. — Droga!
Ele se virou instantaneamente, apenas para ser acertado no rosto novamente com o galho.
— Ack!
— Você é previsível — disse Takasagi.
Ranta levou uma série de golpes antes de cair no chão, e quando tentou se levantar novamente, foi atingido mais uma vez. RIPer não estava mais em suas mãos. Ele havia soltado em algum momento. Não conseguia nem encostar em Takasagi.
Ele caiu de costas, batendo as costas e o quadril no chão. Enquanto se contorcia deitado, Takasagi sentou-se em seu estômago.
— Gwuh! — Ranta gemeu.
— Você não tem controle nenhum. O que quer dizer com “quero ficar mais forte”? Não me faça rir, seu fracote.
— Você mesmo disse... que nem sempre foi forte... não foi...?
— Foi, sim — Takasagi respondeu com um sorriso debochado. — Mas, pensando bem, acho que nunca fui tão patético quanto você.
— Se fosse o você de dez anos atrás... você disse... até eu teria conseguido te derrotar...
— Não leve aquela besteira a sério, seu idiota. Mesmo o “eu” de dez anos atrás era obviamente cem vezes mais forte que o você de agora.
— I-Isso... foi cruel...
— Você faz muitos movimentos desnecessários. — Takasagi jogou fora o galho que segurava, colocou o cachimbo na boca e começou a fumar.
Desgraçado, fumando tranquilamente enquanto está sentado no estômago de outra pessoa. Quem ele pensa que é, caramba? Se eu tentasse jogá-lo para fora, até conseguiria. Mas aposto que levaria outra surra logo em seguida. O que eu faço...?
— Perder um olho e um braço me ensinou uma coisa — disse Takasagi. — Humanos... Bom, acho que isso vale para orcs e outras raças também. A gente acaba carregando um monte de coisas desnecessárias sem perceber. Ficar mais forte não é sobre aumentar a quantidade de movimentos que você faz. É sobre eliminar o excesso e aperfeiçoar o que você já tem. É sobre fazer o que precisa ser feito, sem fazer nada desnecessário. Ranta, você não parece ser bom nisso.
— Não diga... que tudo em mim... é desnecessário...
— Depois de perder meu braço... — Takasagi soltou uma baforada de fumaça e recuou o braço esquerdo. Então, balançou-o silenciosamente para baixo.
Droga!
Takasagi tinha apenas balançado o braço esquerdo. No entanto, a trajetória da katana em sua mão esquerda... Ranta podia imaginá-la claramente. Ela não existia, mas ele conseguia vê-la.
— Eu não fazia outra coisa além de balançar minha katana — disse Takasagi. — Eu era destro, afinal. Percebi que, se fosse viver com apenas o braço esquerdo, teria que treiná-lo. Todo dia, todo santo dia, eu balançava e balançava até desmaiar.
— Está dizendo para eu trabalhar duro? — Ranta perguntou.
— Trabalho duro é inútil.
— Não, mas você acabou de dizer...
— Por que eu continuei balançando minha katana tanto assim? Simples. No começo, eu não conseguia usá-la tão bem quanto com a mão direita, e isso me irritava. Mas, sabe, em algum momento, aquilo começou a ficar interessante.
— ...Sério?
— Ver o que estava errado, como eu podia melhorar, e coisas do tipo. Perceber os erros, corrigi-los, testar coisas novas. Essa repetição era interessante.
— Isso é um fetiche bem estranho — murmurou Ranta.
— Você acha que, sem pensar, apenas continuando a balançar a katana, eu conseguiria fazer meu braço esquerdo tão bom quanto o direito era? Claro, mesmo que eu fosse um idiota e só fizesse isso, teria algum crescimento. Mas só até certo ponto.
— Está dizendo que eu não penso? — acusou Ranta.
— Não o suficiente, com certeza. Pessoas normais têm que usar o corpo até o limite para finalmente ver a diferença entre elas e um gênio.
— Eu já sei disso — murmurou Ranta.
— Você deve conhecer um ou dois caras realmente fortes — disse Takasagi. — Mas, do jeito que está agora, tudo o que você sabe é que eles são incríveis. Como exatamente eles são diferentes de você? O que você poderia fazer para derrubá-los? Você não tem ideia, certo?
— Tenho uma ideia, pelo menos...
— Eu já pensei em mil maneiras de derrotar o nosso chefe, e tenho confiança de que três delas funcionariam.
— Derrotar o Jumbo? — Ranta perguntou, incrédulo.
— O chefe sabe disso, mas meu objetivo é matá-lo.
Ranta não conseguia acreditar.
— Por que você quer matar o Jumbo?
— Foi o chefe quem arrancou meu braço, sabe. Eu não guardo rancor, mas, se puder, quero matá-lo antes de morrer. Se eu pudesse matar o chefe, seria incrível. Ficaria feliz, sem arrependimentos. Seria incrível, e... tenho certeza de que depois disso só restaria morrer.
— Você é realmente maluco.
— Você acha? — perguntou Takasagi. — É meu objetivo de vida. Ter um me proporciona algo pelo qual lutar.
— ...Objetivo de vida... — Ranta refletiu. Eu tenho um desses? Quando se fez essa pergunta, rostos surgiram em sua mente.
Não apenas um. Vários rostos.
Não pode ser, ele pensou. Por que os rostos deles? Isso é loucura. Eles são meu objetivo de vida? Que droga é essa? Não faz sentido algum.
Eu só os conheci por acaso e trabalhei com eles por um breve período na longa, longa vida que ainda tenho pela frente. Claro, em Darunggar, pensei algumas vezes que poderia estar com eles até o dia da minha morte. Mas isso era só porque a situação fazia parecer apropriado pensar assim. Havia gente amigável em Darunggar, então talvez eu tivesse encontrado alguém como o Unjo encontrou, e talvez tivesse me separado deles. Quem escolheria ficar com aquelas pessoas para sempre? Moguzo era diferente. Ele era meu parceiro, mas os outros, eles eram só companheiros.
Podia-se dizer que nos conhecíamos apenas pelo trabalho. Com eles, eu nunca me senti à vontade, ou como se pertencesse a algum lugar, para ser honesto. Tínhamos um nível básico de confiança, mas eu não gostava deles, e eles não gostavam de mim. Não era reconhecimento mútuo, era mais como se apenas nos tolerássemos.
Aqui não é assim. Forgan é diferente.
Apenas alguns deles entendiam a língua humana. Eles não eram pegajosos, e ele era deixado, na maior parte do tempo, à própria sorte. Era estranho como raramente ele se sentia excluído. Naturalmente, tinha que haver alguns que não gostassem dele. Ele não era confiável. Apesar disso, ele estava sendo aceito.
O que ele deveria pensar sobre isso? Ele não era confiável, e não havia como eles confiarem nele, mas ainda assim o tratavam como um companheiro comum. Talvez essa abertura, essa profundidade, fosse o que criava essa sensação única de que era bom estar ali.
Provavelmente, tudo dependeria de como ele agisse dali em diante. Ele só precisava agir de forma a dizer: “Eu sou definitivamente um de vocês.” Se fizesse isso, todos acabariam confiando nele aos poucos. Eventualmente, ele entraria no círculo de amizades deles. Era uma pena não haver mulheres, mas isso também significava que ele não precisava se preocupar em ser atencioso com os sentimentos de nenhuma, então havia vantagens e desvantagens nisso.
Ele fechou os olhos.
Conseguia facilmente imaginar um futuro ali.
Ele se encaixaria cada vez mais, vivendo cada dia com bom humor. Mesmo que ocasionalmente se rebelasse, haveria pessoas para segurá-lo e fazê-lo pedir desculpas. Também teria chances de se soltar e fazer o que quisesse.
Aquele traje que Jumbo usava... ele gostava. Era estiloso. Se conseguisse colocar as mãos em algo assim, usaria sobre a armadura.
Não, talvez nem precisasse de armadura. Jumbo não usava, afinal. Sim. Sua maior vantagem era a mobilidade, então era melhor sem armadura pesada, honestamente.
Não importava o ataque; se não acertasse, ele estaria seguro. Só precisava desviar, certo? Ele podia aprender a desviar. O que precisaria fazer para chegar nesse ponto? Havia pessoas ali que ele podia perguntar sobre isso.
O que ele sempre quisera... Não conseguia colocar exatamente em palavras o que era, mas, fosse o que fosse, sentia que estava ali.
— Ranta! — Takasagi chamou seu nome.
— ...Sim?
Não importava como olhasse, nunca parecia que ele seria capaz de ter isso. Por isso ele tinha meio que... não, praticamente desistido disso.
Não havia lugar para ele, e ninguém poderia entendê-lo. Por que se sentia assim? Não sabia. Houve algum gatilho, e depois disso ele começou a pensar assim? Mesmo que houvesse, deveria ter sido antes de vir para Grimgar. Ele não conseguia se lembrar.
Não parece certo, pensou. Nada nunca parece. Não importa onde eu esteja. Meu coração está sempre inquieto. Ou estava, né? Agora, talvez nem tanto.
— O que foi? — Ranta perguntou.
— Você realmente quer se tornar forte?
Esse era o objetivo da sua vida? Era isso que Takasagi estava perguntando.
Por exemplo, se ele quisesse ficar mais forte, isso era o objetivo? Ou ficar mais forte era apenas um meio para um fim, e ele queria realizar algo com essa força? Ou será que o desejo de se tornar mais forte era uma forma de fuga, uma tentativa de desviar os olhos do que realmente precisava enfrentar?
O que eu quero fazer? Qual é o meu desejo? ele se perguntou. Eu não faço ideia. Como se eu soubesse.
— Sai logo de cima de mim, velho — murmurou. — Por quanto tempo vai ficar sentado no meu estômago? Eu não sou uma cadeira, tá?
— Não quero. — Takasagi deu uma risada baixa. Colocou folhas no cachimbo e acendeu com algo que parecia um isqueiro. Era preciso habilidade para fazer isso com apenas um braço. — Seja como for, se você quer ficar mais forte, não me importo de treiná-lo, mas-
— Por favor, faça isso. — Ranta ficou surpreso ao perceber que disse aquelas palavras facilmente e sem hesitação.
Takasagi pareceu um pouco surpreso também, mas, depois de um breve silêncio, disse: — Bom, então tá.
Era uma resposta que talvez fizesse sentido. Ou talvez não.
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