Hai to Gensou no Grimgar | Grimgar of Fantasy and Ash Volume 10
Capítulo 08
[O Passado Nos Persegue?]
Shihoru não sabia como chamar a pessoa do outro lado das grades.
Pelo visto, mesmo em Jessie Land, que não era um lugar grande, precisavam de uma prisão. Esta construção aparentemente tinha sido construída para cumprir essa função.
Não havia janelas, e apenas a luz do sol poente, que entrava pela porta aberta, iluminava fracamente o interior.
Grades de madeira separavam o corredor de chão de terra de três salas. Duas à direita do corredor e uma à esquerda.
Na primeira sala à direita estava Enba, com o braço único amarrado ao corpo e as pernas acorrentadas. Na sala ao fundo estava Shuro Setora, também amarrada de mãos e pés. Além disso, Kiichi, o nyaa cinza, tinha sido colocado na sala à esquerda.
Kiichi estava encolhido em um canto da sala, dormindo. Enba estava de pé no centro de sua sala. Setora estava sentada com as costas contra a parede, olhando fixamente para a parede oposta. Ela nem sequer olhou para Shihoru, que estava do outro lado das grades.
— Hum... — Shihoru olhou, não para Setora, mas para Jessie, que estava ao seu lado. — Por que só eles têm que ser confinados assim?
— Por precaução, é claro. — Jessie acariciou o queixo barbado. — Sendo uma mulher da família Shuro, eu entendo ela ser uma necromante e andar com um golem de carne. No entanto, também ser uma domadora de nyaas... Isso é suspeito, ou perigoso, por assim dizer. Apesar da aparência, os nyaas são criaturas assustadoras. Se você treiná-los, eles podem realizar assassinatos ou qualquer outra coisa que você desejar.
Setora bufou.
Jessie sorriu de leve e colocou os dedos nas grades de madeira.
— O que é tão engraçado?
— Apesar de todo o seu discurso, parece que você não entende nada sobre nós, ou sobre nossos nyaas.
— Não, remanescente de Kuzen — ele disse. — Sei tudo sobre o seu povo. Talvez mais do que vocês mesmos.
Setora virou o rosto em sua direção. Não demonstrou na expressão, mas Shihoru percebeu que ela estava surpresa.
— ...Você. Não é apenas um desertor dos soldados voluntários.
— Apenas aprendi um pouco de história, só isso — disse Jessie. — Seu povo usava nyaas para tudo. Até criavam nyaas que só comiam carne de orc. Nyaas são criaturas inteligentes, mas não têm consciência ou moralidade. Dependendo de como são criados, eles farão até as coisas mais abomináveis sem hesitar. São parecidos com golems nesse sentido. Seu povo se especializa em fugir, se esconder e criar ferramentas para assassinar pessoas. E depois as usam.
— Nosso país foi destruído, e fomos expulsos de nossa terra — retrucou Setora. — Tivemos que superar tempos difíceis.
— Eu entendo isso. Simpatizo, até. Da minha parte, pelo menos. Ainda assim, não consigo confiar no seu povo, sabe? Além disso, vocês não confiam em ninguém além de vocês mesmos, certo? É por isso que se esconderam no Vale dos Mil.
— Quando nossa pátria foi atacada, ninguém se ofereceu para nos ajudar. — Setora rebateu. — Como poderíamos confiar em forasteiros tão facilmente?
— Em outras palavras, vocês mesmos escolheram o caminho do isolamento. Como posso confiar em pessoas que não fazem nenhum esforço para se dar bem com os outros? Mesmo entre vocês, cortam relações rapidamente com qualquer um que viole suas leis.
— Eu abandonei a aldeia oculta.
— Considerando que você é uma excêntrica nascida na casa dos Shuro, mas decidiu criar nyaas, não era de se esperar que já fosse excluída?
— Hum...! — Shihoru não conseguiu se segurar mais e forçou-se a falar.
Os olhos azuis de Jessie se voltaram para ela. Havia algo estranho nos olhos daquele homem. Algo errado. Talvez não fosse apenas os olhos. Provavelmente era o rosto inteiro.
O rosto de Jessie... Se ela retirasse a pele e os músculos por baixo, tinha a sensação de que encontraria um rosto completamente diferente. O rosto dele não parecia falso, mas também não parecia real.
— Setora-san cuida muito bem de seus nyaas — disse Shihoru hesitante. — Ela não faria as coisas que você está dizendo... É o que eu acho. Certo, não ficamos juntas o tempo todo... Talvez eu nem possa chamá-la de companheira. Talvez Setora-san... nem me veja dessa forma. Mas, mesmo assim... ela nos salvou várias vezes... Não sei muito sobre a aldeia oculta, mas Setora-san é uma pessoa em quem eu posso confiar.
— Entendo. — Jessie segurou o queixo e inclinou a cabeça levemente para o lado. — Você tem um coração mole. Ah, não digo isso de forma sarcástica. É minha opinião sincera. Gosto de garotas como você. Oh, não me entenda mal. Não é afeto, é consideração positiva. Da minha parte, pelo menos.
— ...Obrigada.
— Você é direta, mas não imprudente. Isso é bom também. De qualquer forma... — Jessie bateu nas grades de madeira com as costas da mão. — Ainda não consigo confiar nela. Estou jogando este jogo com cuidado. Se você não levar a sério, não é divertido, certo?
Shihoru franziu a testa.
— Jogo...?
— Vou decidir como lidar com ela mais tarde. Venha, Shihoru.
Jessie começou a andar em direção à saída, fazendo um gesto para que ela o seguisse.
Shihoru olhou para Setora. Ela estava novamente com os olhos fixos na parede. Ia ser necessário muito esforço para que Setora a reconhecesse como uma companheira.
Ela seguiu Jessie para fora, e o céu já estava bastante escuro. Nenhum dos moradores estava passeando. Devem estar preparando o jantar. A fumaça das fogueiras de cozinha subia de cada uma das casas.
— Agora, Shihoru, você viu como estão as coisas em várias partes da Jessie Land, então... — Jessie continuou falando enquanto caminhava. — O que acha?
Kuzaku havia sido mandado para trabalhos braçais. Yume tinha sido levada para fora da aldeia por um dos homens de manto. Mary estava cuidando de Haruhiro. Setora, Enba e Kiichi estavam presos.
Shihoru tinha sido guiada por Jessie a vários lugares. Ela visitou os campos e as casas dos moradores, entrou nos celeiros e depósitos, viu o poço, o sistema de irrigação, o moinho de água e outras instalações. Jessie só respondia perguntas simples, como: “Isso é uma roda d’água?”
— O que acho... sobre o quê? — ela perguntou.
— Você acha que conseguiria viver aqui?
— É uma aldeia... — Shihoru olhou para baixo, escolhendo as palavras. — ...tranquila. Também é organizada... Enquanto tivermos comida e água, conseguimos viver.
— Bem, sim, obviamente. Mas não é entediante só viver?
— ...Acho que sim.
— Você era uma soldada voluntária, então posso entender por que não consegue deixar para trás um estilo de vida com tanta... estimulação. Da minha parte, pelo menos.
— Eu acho... que talvez esteja mais inclinada a uma vida tranquila — disse ela.
— Eu estava exausto — concordou Jessie. — Exausto? Não, não é isso. Qual era a palavra? Farto? Não sei dizer exatamente como me sentia naquela época. De qualquer forma, deixei de ser um soldado voluntário, abandonei meus companheiros e fiquei sozinho. Uma viagem solo, você poderia dizer, para onde o vento e meus sentimentos me levassem. Tem uma expressão assim em japonês, não tem?
— Uhh... japonês...
— Você é japonesa, certo? Do Japão. Embora, mesmo se eu disser isso, você não vai saber.
— Eu não...
Os pés de Shihoru pararam sozinhos. Ela sentiu como se estivesse esquecendo algo importante.
E não era a primeira vez que isso acontecia. Já tinha ocorrido antes. Muitas vezes. Tantas que perdeu a conta.
Ela balançou a cabeça suavemente. Se movesse muito rápido, sentia que poderia desabar. Onde...? Onde estava isso...?
Jessie Land.
Uma aldeia nas montanhas.
Grimgar.
Que lugar é este?
***
Um pássaro parecido com um corvo grasnava em algum lugar.
Ela odiava corvos; eram assustadores.
Se ela carregava doces, às vezes eles a atacavam.
Eles se lembravam quando os humanos carregavam coisas gostosas.
Andando pela cidade ao pôr do sol, ao se virar, sua sombra parecia desconfortavelmente longa. Isso a fazia querer correr, mesmo sem razão. Mas, corresse o quanto corresse, quando se virava, a sombra ainda estava lá. Sempre a seguia. Era sua própria sombra, então isso era esperado, mas ela a assustava.
A assustava de forma irracional.
— Você é tão medrosa, Shihoru — alguém zombou. — Sempre foi.
***
Quem está dizendo isso...?
Não sei.
Não consigo lembrar.
Esqueço.
De você.
De tudo.
Que havia alguém ali.
Ali?
Onde?
Em algum lugar que não aqui?
Isso é...
Ah...
Eu não sei.
Não sei. Não sei.
Não sei. Não sei. Não sei.
— Eu... — Shihoru cobriu o rosto com as mãos.
Eu não sei. Eu não sei. Eu não sei. Eu não sei. Eu não sei. Eu não sei.
— O que foi que eu...?
— Você está bem? — perguntou um homem.
Uma mão pousou em seu ombro.
Ela levantou o rosto.
No rosto sombrio do homem, apenas seus dois olhos azuis brilhavam intensamente.
— Eu... estou... bem — Shihoru conseguiu responder. — Eu... disse algo, agora há pouco...?

— “Eu não sei” — respondeu Jessie. — Foi isso que você disse. Você disse “Eu não sei.”
— ...Eu não sei.
— Não precisa se preocupar com isso — disse Jessie. — É normal.
— Normal...?
— Tenho certeza de que você não entende o que estou dizendo. É assim mesmo. Se algo parece sem sentido, mesmo quando você pensa sobre isso, é melhor não pensar, certo?
— Sem sentido... — ela murmurou.
Jessie se agachou próximo ao ouvido de Shihoru.
— Isso mesmo. Não há sentido algum — sussurrou ele. — Japão. Tóquio. Shinjuku. Akihabara. Você vai esquecer tudo que aconteceu depois de ouvir essas coisas. Eu não sei o motivo, da minha parte, pelo menos. não há o que fazer. Você até vai esquecer que esqueceu.
Ela sentiu como se seu cérebro estivesse sendo agitado.
Memórias.
Coisas que ela lembrava.
Elas estavam dentro de sua cabeça.
Seja qual fosse a forma, estavam gravadas em algum lugar de seu cérebro.
Era essa parte dela que as palavras de Jessie tocavam. Como dedos, beliscando suas memórias.
Torcendo, depois esmagando. Ou movendo-as para outro lugar.
Mas elas precisavam estar onde estavam. Se ele as movesse, elas deixariam de funcionar como memórias.
Isso não pode estar certo.
Afinal, Jessie tinha acabado de sussurrar algo para ela. Mas o quê?
Ele disse algo.
xx.
xx.
xx.
xxx.
xxxx.
xxxxx.
xxx■■■■.
■■■■■■■■.
■■■■■■■■■.
Não.
Eu não sei.
Eu não sei.
Eu não sei.
— Shihoru — ele disse. — Você veio do Japão para Grimgar, não foi?
Japão.
xxxxx.
■■■■■.
Veio?
Para Grimgar.
— Daquela torre que nunca se abre...
Saiu?
Da torre que nunca se abre. Torre que xxxxx xxxxx. Xxxxx que ■■■■■ ■■■■■. ■■■■■ ■■■■ ■■■■■ ■■■■■.
— x.
Torre. Daquela torre.
— Hum... Onde você acha que é isso?
Alguém estava perguntando isso.
— H-há alguém...
...Era ela?
— ...que sabe? Onde estamos?
Perguntar não ajudava.
Ninguém dizia nada.
Ninguém sabia.
Eles não sabiam.
— Você viu a lua vermelha também? — perguntou Jessie. — Quando viu a lua vermelha pela primeira vez, o que achou?
...A lua.
A lua vermelha.
Era isso. Ela tinha visto a lua vermelha. A lua estava vermelha, e ela engoliu seco sem perceber.
— Não sei como funciona — disse Jessie. — Mas vocês esquecem. Eu era assim também. Foi coincidência.
— Coincidência...
— Algo aconteceu, sabe — disse Jessie. — Quanto ao que exatamente... É algo pessoal e não te envolve diretamente, então não é tão importante. De qualquer forma, por uma série de circunstâncias especiais que coincidiram, eu me lembrei de tudo e parei de esquecer também. Fascinante, não acha?
— Você... sabe? — disse Shihoru lentamente.
— A verdade? Está perguntando se eu sei a verdade? Eu me pergunto sobre isso. Não tenho como testar, afinal. Pode ser apenas uma fantasia grandiosa que eu mesmo criei. No mínimo, é um fato para mim, e isso é tudo que posso dizer.
— O que... você é? — ela sussurrou.
— Eu?
Jessie se afastou de Shihoru e fechou um dos olhos.
— Meu nome é Jessie Smith. Eu fui um soldado voluntário.
Ele falava com um sotaque deliberadamente carregado. Normalmente, não havia nada de estranho na forma como ele falava. Ele era fluente, mas sua entonação era um pouco fora do comum às vezes.
Além disso, Jessie sempre acrescentava: “Da minha parte, pelo menos.”
— Da minha parte, pelo menos.
Parecia que ela já tinha ouvido isso várias vezes. Não havia necessidade de dizer aquilo. Era apenas um tique de fala? Isso a incomodava.
— Da minha parte, pelo menos.
— Este lugar... o que vocês chamam de Jessie Land... o que exatamente... é isso?
— É um jogo. — Jessie estufou o peito, abriu os braços e deu uma volta sobre si mesmo. — Em termos de gênero, eu era mais fã de FPS ou RPG, mas não me importava com jogos de simulação também. Eu construí essa aldeia do nada.
— F... R... Simu... O quê?
— As pessoas aqui são chamadas de gumows — Jessie continuou. — Em orcish, significa algo como “mestiço”. Basicamente, refere-se a filhos que orcs forçaram humanos ou outras raças a terem, assim como seus descendentes.
— Então... os moradores de Jessie Land são...
— Exatamente. Todos eles são gumows.
— Esses... gumows... Eles são oprimidos?
— Você é rápida para entender, isso facilita as coisas. Exatamente — respondeu Jessie. — Os orcs discriminam os gumows. E violentamente, diga-se de passagem. Os orcs valorizam muito as linhagens sanguíneas, para começo de conversa. Embora isso tenha diminuído um pouco com o tempo, os clãs ainda são importantes. Você sabe o que são clãs, certo?
— Eles têm ancestrais em comum e um sobrenome compartilhado... certo?
— Sim. Isso mesmo.
Jessie começou a andar de repente, e Shihoru apressou-se para acompanhá-lo.
— Para espalhar seu sangue e fortalecer seu clã, os orcs frequentemente raptavam e violentavam mulheres de outros clãs. Talvez este não seja o melhor assunto para conversar com uma garota.
— ...Não. Está tudo bem.
— Quando a Aliança dos Reis foi formada e quando Kuzen, Ishmal, Nananka, Arabakia, e as terras dos elfos e anões foram invadidas, os orcs fizeram o que sempre fizeram. Os humanos viam os orcs como selvagens ou bestas, escravizando-os e exibindo-os como troféus, então certamente havia um elemento de vingança nisso. Honestamente, talvez eu não devesse estar dizendo isso para uma garota, mas aposto que todo aquele assassinato e estupro foi uma ótima forma de extravasarem sua frustração. A surpresa foi que humanos, elfos e anões podiam cruzar com orcs.
— Houve filhos — disse Shihoru.
— Exato. Isso deveria ser uma surpresa. Quero dizer, gatos e cachorros são ambos mamíferos, andam sobre quatro patas e têm caudas. Se estivessem no clima certo, até poderiam copular. Embora eu duvide que isso aconteça. De qualquer forma, é possível. No entanto, isso nunca geraria descendentes. Com dois cachorros, por mais diferentes que pareçam, até mesmo um chihuahua e um São Bernardo, é teoricamente possível que engravidem.
— Chihuahua?
— É um cachorro pequeno. Uma raça de cão de porte pequeno. São Bernardos são enormes. A diferença de tamanho é inacreditável. Mesmo espécies próximas, como leões e tigres, podem cruzar. Contudo, apenas por uma geração. Bem, e quanto a humanos, elfos, anões e orcs?
— “Os filhos que os orcs forçaram outras raças a terem, e seus descendentes”... Você acabou de falar sobre isso.
— Certo, eu disse isso. Os gumows podem se reproduzir entre si. Se for um gumow com um orc, ou um gumow com um humano, essas combinações provavelmente também funcionariam. Entendeu, Shihoru? Basicamente, isso significa que humanos, elfos, anões e orcs são espécies extremamente próximas.
— ...Como cães que podem ser muito diferentes em aparência?
— É fascinante, não é? Eles divergiram por um processo de evolução? Ou suas genéticas eram semelhantes por acaso? Ou foram criados para serem assim? Seja como for, são parentes. Humanos, orcs, elfos e anões são como irmãos. Normalmente, irmãos não fazem isso, e—desculpe, essa é uma forma grosseira de dizer—embora geralmente não sejam levados pela luxúria a ter relações sexuais, isso não significa que não possam. Se decidirem fazer, conseguem. E terão filhos também.
Jessie gesticulava amplamente enquanto falava. Quando ele se empolgava com o que estava dizendo, era isso que fazia. Provavelmente era um hábito dele.
Ainda assim, como esse homem sabia tanto? Ele disse que lembrava das coisas, que havia parado de esquecer. O que isso significava?
Será que Shihoru já sabia disso também, antes de esquecer?
Ela havia esquecido as coisas que sabia. Por isso, tudo que Jessie estava falando parecia completamente novo para ela.
Jessie não parou. Continuou falando com fluidez e articulação.
— Para os orcs, o nascimento de um grande número de gumows foi um choque enorme e uma marca de vergonha. Muitos gumows foram descartados como lixo enquanto ainda eram bebês. Eu consigo entender o motivo. Os gumows carregavam o sangue dos humanos, elfos e anões que os orcs odiavam. No entanto, isso não significa que todos foram mortos. Os orcs não são tão selvagens quanto os humanos pensam. Eles não podiam esperar ser tratados de forma igual a um orc, mas muitos gumows foram autorizados a viver. Vá a qualquer grande cidade orc. Há gumows trabalhando em todos os lugares. Eles fazem trabalhos que ninguém quer, recebem comida que só serve para o gado, e de alguma forma conseguem sobreviver. São feios, insalubres, fedem, e, se se aproximam de um orc sem a devida cautela, acabam sendo xingados ou chutados até correrem para longe. Eles não têm valor algum. Vivem pela misericórdia dos orcs. Esse é o gumow padrão. Eles não têm dignidade, é claro. Você sente pena deles, Shihoru?
— Eles são diferentes por fora, mas não tão diferentes de nós... — Shihoru respondeu lentamente. — É isso que eu acho.
— Você está certa. A aparência dos gumows causa impacto. O corpo deles está entre o de um orc e o de um humano, eu diria. Eles não estão tão distantes dos humanos. Geralmente falando, são tão inteligentes quanto humanos ou orcs. Se ensiná-los, podem aprender qualquer coisa. Os gumows que vivem nas cidades orcs são mesquinhos, ardilosos e preguiçosos. Mas isso é culpa do ambiente deles, tenho certeza. Se você der dez aos gumows em minha Jessie Land, eles tentarão devolver onze ou doze. Parece que, se não puderem pagar com dez a vinte por cento a mais, não ficam satisfeitos. Há alguns com temperamento violento, sim, mas, se você os prender por um ou dois dias, eles se arrependem e ficam mais dóceis. No geral, são obedientes e trabalhadores. São basicamente os aldeões ideais. Ajuda o fato de serem fáceis de gerenciar, mas isso tira um pouco do fator diversão.
— É por isso... que você quer nos adicionar... como aldeões? — perguntou Shihoru.
Os ombros de Jessie sacudiram enquanto ele ria, mas ele não respondeu.
Eventualmente, eles deixaram a área onde as construções estavam concentradas. Havia campos à esquerda e à direita.
O sol já havia se posto.
— Shihoru. — Jessie parou.
— ...Sim?
Shihoru soltou um leve suspiro. Seu aperto no cajado se intensificou naturalmente.
— Você usa uma magia incomum. Onde a aprendeu?
Esse homem provavelmente tinha um senso de curiosidade mais forte do que qualquer um. Ele gostava de aprender coisas. Ela já tinha previsto que ele perguntaria isso eventualmente. Havia coisas que Shihoru também queria aprender.
— Você neutralizou minha magia com um Magic Missile — respondeu Shihoru. — Eu nunca imaginei que alguém pudesse usá-la dessa forma. Além disso, você... não parece um mago.
— Porque eu não sou um mago — disse Jessie com um leve dar de ombros. — Da minha parte, pelo menos.
Lá estava novamente.
Da minha parte, pelo menos.
Jessie virou-se.
— Poderia tentar usá-la de novo? Essa magia. Quero vê-la mais uma vez, de perto.
— Eu poderia tentar derrubá-lo, sabia?
— Na verdade, eu quero que tente. Está tudo bem. É muito difícil me matar. Você não é idiota, então entende isso, certo?
— Dark.
Quando Shihoru chamou, a porta invisível se abriu e ele apareceu. Não, não havia porta. Ele sempre esteve lá. Talvez fosse mais apropriado dizer que os elementais estavam sempre em todos os lugares. No entanto, eram invisíveis. Mesmo uma maga como Shihoru não podia vê-los.
Criaturas mágicas. Elementais. Na guilda dos magos, misteriosamente, nunca ensinavam exatamente o que eles eram. Mas eles definitivamente existiam, era possível senti-los, e a magia emprestava seu poder para produzir efeitos. Uma vez que isso foi mostrado claramente e ela tentou usar magia por si mesma, não teve escolha senão acreditar.
Essas coisas chamadas elementais existiam. Para Shihoru, provavelmente não tinham forma definida. Arve. Kanon. Faltz. Darsh. Essas variedades não existiam.
Eles eram, muito provavelmente, completamente diferentes do que Shihoru e os outros consideravam criaturas vivas. Invisíveis e sem massa. Se você usasse o senso comum, não diria que algo assim existia. Eles eram diferentes até na forma como existiam.
O eixo existencial dos elementais e o de Shihoru e dos outros eram paralelos e, normalmente, nunca se cruzariam. Os magos chamavam os elementais para este lado. Ao fazer isso, formava-se um ponto de conexão.
Normalmente, um mago utilizava sigilos elementais ou feitiços para fazer isso. Focando sua mente, imaginando um elemental específico e entoando um feitiço específico, era possível atrair um elemental. Shihoru acreditava firmemente nisso. Se ela seguisse o caminho daqueles que vieram antes dela, o caminho que os magos pioneiros abriram e estabeleceram, poderia usar a mesma magia que eles. De certa forma, essa era a essência da magia que ela havia aprendido na guilda e seu segredo.
O Dark de Shihoru aparecia como um vórtice sombrio, assumindo uma forma parecida com uma estrela, e flutuava logo acima de seu ombro.
Quando ela chamava o elemental para este lado, Shihoru o antropomorfizava. Era a forma mais fácil de criar uma imagem. Ele não tinha um coração capaz de se comunicar com humanos. Mesmo assim, era conveniente de muitas formas supor que ele tivesse.
— Isso é interessante. Parece magia de invocação. — Jessie desenhou sigilos elementais com o dedo indicador da mão direita. — Marc em Parc.
Magic Missile.
Uma bola brilhante se manifestou na frente do peito de Jessie.
Era grande.
No início, havia sido pequena, um Magic Missile perfeitamente comum, até que cresceu.
Baseando-se no que aprendera na guilda dos magos, Shihoru foi obrigada a considerar aquilo estranho. Seguindo um procedimento definido, desencadeava-se um efeito esperado. Isso era o que chamavam de magia. Por isso, na guilda dos magos, eles aprendiam a realizar a magia adequada da maneira correta.
No entanto, o truque de Jessie era basicamente o mesmo que o Dark de Shihoru. Era uma questão de como ele chamava o elemental para este lado e como usava seu poder. Shihoru usava o Dark como seu método. Jessie conseguia o mesmo com um Magic Missile. Podiam parecer diferentes, mas ambos eram elementais.
— ...Vá, Dark.
Com um som parecido com shuvyuuung, Dark avançou diretamente. Shihoru não hesitou. Dark acelerou, indo em direção a Jessie na máxima velocidade.
Os cantos da boca de Jessie se curvaram levemente para cima. Com um gesto, como se estivesse empurrando a bola de luz com a mão direita, ele a enviou adiante.
Logo depois, Shihoru ordenou mentalmente: Vire.
Dark, que seguia em linha reta, mudou de direção. Para a direita. Não foi uma curva acentuada, mas ele não colidiu com a bola de luz. Ele traçou um arco ao redor da bola, com a intenção de acertar Jessie.
Jessie havia pedido que ela tentasse derrubá-lo, então Shihoru fez isso deliberadamente. Mas não funcionou. Ela já sabia que não funcionaria.
Como esperado, o Magic Missile reagiu ao Dark.
Acertou-o.
Por um segundo, a luz ficou mais forte, e então houve uma rajada de vento. Não para os lados, mas uma forte corrente ascendente. Seu chapéu quase foi arrancado, e seu corpo parecia que poderia ser levantado no ar.
Dark foi engolido pela bola de luz. Por outro lado, a bola de luz também desapareceu, então talvez fosse mais preciso dizer que consumiram um ao outro.
Shihoru não conseguia respirar, nem inspirar nem expirar.
Ela sabia. Já sabia há algum tempo. Mais do que isso, sabia desde sempre.
O flamejante Arve se assemelhava a chamas ardentes.
O gélido Kanon parecia cristais de gelo.
O elétrico Falz lembrava raios.
O sombrio Darsh parecia uma massa de algas escuras.
Os quatro tipos de elementais. Elementais estavam em toda parte. Eles absorviam o poder do espírito de um mago, sua energia mágica, para se manifestarem e liberarem seus poderes.
— Eu não sou um mago — disse Jessie, com os olhos baixos, quase como se estivesse se desculpando. — Mas, por certas razões, acho que dá pra dizer que consigo usar magia. Shihoru. Com quem você aprendeu na guilda dos magos?
Shihoru finalmente conseguiu respirar novamente. Regularizando a respiração, ela respondeu: — Minha instrutora principal foi a Maga Yoruka.
— Yoruka. Ohh. Ela virou maga, hein? Impressionante, considerando o quão jovem ela ainda deve ser.
— No entanto, passei pelo treinamento básico com o Mago Sarai.
— Esse é um mago veterano de verdade — comentou Jessie.
— A Maga Yoruka me disse... que as coisas que o Mago Sarai me ensinou se tornariam um recurso inestimável. Mesmo que eu não entendesse agora... mais tarde, eu perceberia isso.
— Faz sentido — Jessie assentiu. — Nesse caso, ela disse algo sobre o motivo de todo mago aprender o Magic Missile primeiro?
Magic Missile. Não era Arve, Kanon, Falz ou Darsh. Que tipo de elemental era? Ela se lembrava vagamente dessa dúvida surgindo no final do treinamento básico.
— Não... Nada diretamente.
— Entendi. Mesmo que ela não tenha explicado claramente, ela te deu a chave, não foi?
— A chave...
Shihoru apertou seu cajado. Suas mãos... não, seu corpo inteiro... tremia.
Isso mesmo. Ela já havia recebido a chave há muito tempo.
A partir daí, só precisava encaixá-la na fechadura, girar, destrancar a porta e abri-la. Apesar disso, Shihoru mantivera a chave no bolso, sem nem ao menos olhá-la direito. De certa forma, o Mago Sarai e a Maga Yoruka já haviam lhe dito tudo.
Shihoru havia tomado um caminho incrivelmente indireto. Não achava que o esforço tivesse sido em vão, mas, se tivesse percebido mais cedo, talvez pudesse ter feito coisas naquela época que ainda não conseguia fazer agora. Quando seus companheiros estavam em situações difíceis, Shihoru poderia ter estendido a mão e os puxado para cima.
Eu sou uma idiota.
Sou inútil e uma tola.
Mas isso ela já sabia. E havia melhorado desde antes, então era melhor não pensar assim. Precisava manter isso bem claro na mente.
Ela era inferior. Por isso precisava pensar com todas as suas forças e nunca parar de caminhar. Se parasse, decidiria que não valia mais a pena, sentaria e não conseguiria mais avançar.
Shihoru olhou para cima e respirou fundo. Depois, fixou os olhos em Jessie.
— Você disse... que não é um mago.
— Eu disse.
— Apesar disso, sabe muitas coisas. Por quê?
— Não é algo que eu possa explicar rapidamente.
— Mesmo que não seja rápido, eu não me importo nem um pouco.
— Oh, você não entendeu o que eu quis dizer? — Jessie inclinou a cabeça para o lado. — Estava tentando ser indireto. Talvez tenha escolhido uma forma ruim de falar.
Em outras palavras, ele não queria dizer. Provavelmente significava que não tinha intenção de contar.
Talvez fosse melhor não confiar nesse homem, afinal. Ele não precisou de tratamento, mesmo depois de receber um Backstab de Haruhiro, e guardava muitos segredos. Parecia humano, aparentava ser um ex-soldado voluntário e sabia muito sobre Altana. No entanto, ao menos agora, ele não era humano da mesma forma que Shihoru e os outros. Era melhor pensar assim.
Por ora, ela não tinha escolha a não ser ouvi-lo. Não resistir, ganhar sua confiança, se possível, e esperar por uma oportunidade. Mas então...
— A propósito, Shihoru.
— ...Sim?
Se agisse de forma muito submissa, poderia parecer forçado, e ele perceberia. Se tentasse construir uma rede de mentiras, ela desmoronaria. Fazendo o máximo para não ser desonesta, ela precisaria enganá-lo sobre o mais importante. Será que conseguiria? Mesmo que fosse difícil, teria que tentar.
Ela não sabia quais eram as intenções dele, mas Jessie estava conduzindo Shihoru dessa maneira. Se continuassem juntos, ela teria a chance de conquistar sua simpatia.
— O que foi? — perguntou.
— Que corpo e tanto você tem.
— ...Hã?
— Será que fica ainda melhor sem essas roupas?
— Q-quê...?
Sem entender o que acabara de ser dito, ela ficou pensando profundamente.
Ah, entendi.
No momento em que percebeu, ficou assustada e deu um pequeno salto para trás.
— E-e-e-e-eu não tenho um corpo tão i-incrível assim, e-e-eu só estou g-gorda, só isso. S-se você visse, ficaria d-desapontado, e-e-então, hum, eu não posso mostrar pra ninguém!
— Era uma piada. — Jessie riu. — Você é mesmo divertida, sabia?
— P-piada...
Oh, claro. Uma piada. Sim. É óbvio que era uma piada. Quem iria querer ver o corpo feio e desajeitado dela? Não que ela deixasse, mesmo que quisessem. Mesmo que não fosse algo tão importante. Não podia. Essa era uma coisa que ela absolutamente não podia fazer.
Foi apenas uma piada. Mas será que foi mesmo? Ela não podia confiar nesse homem. Como poderia ter certeza de que ele não era um degenerado que poderia voltar suas presas venenosas, não necessariamente contra Shihoru, mas contra qualquer um que ele quisesse?
— ...D-Desculpe por isso. — Shihoru pigarreou. — Fiquei envergonhada... de levar isso tão a sério...
— Nah. Se você não se importar, podemos fazer isso a qualquer momento, sabe.
— N-Não é que eu não me importe... mas...
— Já disse, estou brincando.
— Jessie... — ela murmurou.
— Hm? Disse alguma coisa?
— Não... Nada. Acho que você deve ter imaginado.
— Sério? Eu podia jurar que ouvi alguém sussurrar meu nome com intenção assassina...
Jessie de repente girou sobre os calcanhares, olhando para o noroeste. Shihoru seguiu seu olhar.
Alguém estava caminhando pela estrada que atravessava os campos. Quem seria?
Os moradores gumows já haviam terminado seus trabalhos no campo e voltado para casa. Estava bem escuro.
Shihoru apertou os olhos. Não era apenas uma pessoa; eram duas. Uma delas acenava.
— Miau! Shihoruuuuuu!
— Yume! — Shihoru acenou de volta. — Bem-vinda de volta, Yume! Não aconteceu nada?! Que bom!
— Voltei! Yume tá indo muito bem! E você, Shihoru?!
— Ah, eu também! Estou bem, como dá pra ver!
— Oh! Isso é inflado! Não, pera! Isso é incrível!
— É mesmo!
— E como tá todo mundo?! O que tão fazendo?!
— Todos estão...! — Shihoru sentiu um aperto na garganta e segurou-a com a mão.
— Não precisa gritar tanto. — Jessie riu tanto que seus ombros tremiam. — Podem conversar à vontade quando estiverem mais perto.
— Certo...
— Shiiiihoruuuu! Yume tá indo até aí agora!
— N-Não precisa ter pressa...
— Okê! — gritou Yume. — Tuokin, hora de correr!
— ...Também não precisa correr.
Mas Yume provavelmente não ouviu a voz de Shihoru agora que ela havia parado de gritar.
Yume deu um tapinha nas costas da pessoa que estava com ela, e os dois saíram correndo.
— Elas se dão bem — murmurou Shihoru.
Se ela fosse dizer que era típico da Yume fazer isso, era mesmo, mas, embora sempre acontecesse, ainda a surpreendia. Como era que Yume conseguia se dar bem com qualquer pessoa, até mesmo cruzando barreiras raciais? Honestamente, Shihoru a invejava. Yume parecia brilhar tão intensamente. No passado, ela até sentia ciúmes. E isso não foi há muito tempo; não é como se tivesse sido há cinco ou dez anos.
Pensando bem, não fazia nem dois anos que elas tinham vindo para Grimgar. Ela não tinha lembranças concretas de sua vida antes disso. No entanto, com certeza houve todo tipo de coisa. Não era como se tivesse nascido espontaneamente em Grimgar, como num passe de mágica. Ela tinha certeza disso, assim como tinha certeza de que as memórias que deveria ter estavam ausentes.
Isso tornava esses dois anos tudo o que Shihoru tinha, e mais preciosos do que qualquer outra coisa. As pessoas que conheceu, as coisas que perdeu, queria abraçar tudo isso com força enquanto pudesse.
Yume ultrapassou o gumow de manto que a acompanhava em alta velocidade, abrindo uma grande distância.
— Shihoruuu! — Ela levantou a mão direita.
— Hã?! O-O quê...?!
Mesmo confusa, Shihoru conseguiu passar o cajado para a mão esquerda e estender a direita.
Yume declarou: — Yume miauins! — e bateu a palma da mão contra a de Shihoru.
Houve um estalo alto, que assustou Shihoru, fazendo-a fechar os olhos instintivamente. Sua palma doía, mas, de alguma forma, isso também parecia bom.
Yume seguiu saltando nela, fazendo a cabeça de Shihoru tombar para trás.
— Miahahahaha! Shihoruuu!
— Eek!
As pernas de Shihoru ficaram bambas. Antes que pudesse tropeçar, Yume a levantou e a girou de lado.
— Uwaa... Uwaa! Y-Yume, i-isso é perig...! Meus olhos estão girando...!
— Uoou! — gritou Yume. — Se é assim, vamos tentar um giro reverso no problemão!
— I-Iss... Isso não é o problema...! E também não é “no problemão”, é “imediatamente”...!
— Nwuh! Yume aprendeu mais uma coiza errada, né?!
— N-Não é “coiza”, é “coisa”...!
— Coisar, né?! Bom trabalho, Shihoru! Valeu por apontar!
— Não é “coisar”, é... Coisa! P-Por favor, me coloque no chão, Yume, meus olhos estão...!
— Entendido! Entendidíssimo! Entendidíssimo-díssimo-entendido! Paaarando!
Yume parou de girá-la e esfregou a bochecha contra a de Shihoru.
Yume sempre gostou de ser carinhosa com companheiras do mesmo gênero, mas isso não era normal. Muito provavelmente, depois de passar tanto tempo trabalhando com um gumow, Yume tinha ficado tensa à sua própria maneira. Pensando nisso, Shihoru não conseguia mais pedir para ela parar. Além disso, Shihoru se sentia relaxada quando Yume a tocava.
Embora eu fique muito envergonhada para dizer isso. Não consigo ser tão honesta comigo mesma quanto Yume é.
O gumow de manto seguiu atrás de Yume. Tuokin, era isso? Pelo que lembrava, tinha ouvido Yume chamá-lo assim.
Tuokin estava falando com Jessie sobre alguma coisa. Era em Orcish ou na língua dos gumows? De qualquer forma, Shihoru não entendia uma palavra sequer. Mas achava aquilo estranho.
Jessie cruzou os braços e olhou para o céu, onde as estrelas começavam a aparecer. Ele inclinou a cabeça para o lado com uma expressão pensativa. Isso deu a Shihoru uma sensação de presságio que ela não poderia chamar de boa.
Shihoru tinha a tendência de imaginar as coisas piorando cada vez mais, mesmo quando isso não era verdade. Esperava que fosse apenas isso.
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