Dare ga Yuusha wo koroshita ka | Who Killed the Hero Volume 01 Capítulo 06 [Capítulo do Profeta]
— Lidamos com Shera, mas ainda não sabemos o paradeiro de Zack, não é?
De volta à mansão de Solon por meio da magia de teletransporte, nos encaramos na sala.
— Provavelmente só há uma pessoa neste país que sabe onde ele está — disse Solon, tomando o chá que seu discípulo havia trazido.
— Quem? Eu entrevistei a maioria das pessoas envolvidas com o herói, mas não acho que houvesse alguém mais próximo dele do que vocês, os antigos membros do seu grupo.
— ...O profeta. O profeta provavelmente sabe para onde Zack foi.
Ao ouvir a resposta de Solon, senti como se tivesse levado uma pancada por trás. O profeta era uma figura misteriosa de identidade desconhecida. Um ser sobrenatural e, em certo sentido, seria ainda mais difícil encontrar seu paradeiro do que o de Zack.
— Não seria ainda mais difícil encontrar onde está o profeta?
— Não, eu tenho uma ideia de qual é a verdadeira identidade do profeta — disse Solon, bebendo seu chá.
— Verdadeira identidade? O que quer dizer com isso?
— Isso é algo que investigamos depois de derrotar o Rei Demônio.
Colocando a xícara de chá na mesa, Solon começou a falar como se estivesse dando uma dica.
— O profeta é provavelmente o equivalente humano do Rei Demônio.
— O equivalente humano do Rei Demônio?... O que quer dizer?
Eu não conseguia entender nada do que ele estava falando.
— O Rei Demônio governa os demônios e é o seguidor mais próximo do deus maligno. Bem, o deus maligno só é visto assim pela perspectiva humana; do outro lado, o nosso deus é visto como o maligno.
— O nosso deus visto como maligno? Solon, você está dizendo coisas escandalosas diante de um membro da realeza.
A família real deste país tem fortes laços com o templo. Dizer coisas imprudentes poderia até levar o grande sábio a ser acusado. Claro que não pretendo fazer algo assim.
— Está tudo bem. A questão é que os conceitos de bem e mal são relativos à perspectiva de quem os expressa. Fizemos uma longa jornada para derrotar o Rei Demônio, mas os demônios também possuem suas crenças e seu próprio senso de justiça. No final, a guerra entre humanos e demônios se assemelha a uma luta por procuração entre os deuses que eles adoram. Nós percebemos isso diversas vezes ao longo de nossa jornada.
— ...
O conteúdo da história de Solon não era algo com o qual eu poderia facilmente concordar, mas como alguém que nunca havia saído do país, não podia negar as palavras de alguém que havia lutado fora dele repetidamente.
— Então, eu, com minha sabedoria, pensei: se os demônios têm um Rei Demônio, os humanos também devem ter uma existência equivalente.
— E essa seria o profeta?
— Sim. Já que o herói derrota diretamente o Rei Demônio, ele próprio seria o mais suspeito, mas nós sabemos bem que esse não é o caso. Nesse sentido, o profeta que encontrou o herói é o mais suspeito.
— Eu meio que entendo o que você quer dizer, mas... Zack não tinha o tipo de poder que o Rei Demônio tinha. O profeta só profetizou a existência do herói e não fez mais nada... Parece que tem algo estranho nisso.
Os demônios são fortes, mas os humanos são fracos. O Deus não deveria ter dado mais poder aos humanos?
— Provavelmente é só uma diferença na autoridade divina. De um jeito ou de outro, no fim, são os humanos que governam a maior parte deste mundo, e não os demônios, certo? O Rei Demônio temporariamente desequilibra essa situação, mas nunca se torna uma mudança duradoura.
Quando ele coloca dessa maneira, é verdade. O Rei Demônio nunca conseguiu controlar o mundo todo, apesar de ser tão poderoso.
— Embora não possua grandes poderes, o papel do profeta é importante nesse sentido. No entanto, o que exatamente ele faz continua sendo um mistério até para mim.
— Então o profeta é alguém próximo de Deus? Nesse caso... Maria? Ela é chamada de santa, então deveria sentir a presença de Deus mais do que qualquer outra pessoa.
Dado que a chamada santa emanava uma aura um tanto sombria, eu poderia acreditar se ela fosse o profeta.
— Não, ela só é extremamente habilidosa com milagres divinos. Ela possui um poder muito além do sacerdote médio, mas isso não significa que ela esteja próxima de Deus. Pessoalmente, acho que ela tem mais afinidade com o deus maligno.
Aparentemente, Solon conhecia Maria desde que eram crianças, mas ele parecia avaliá-la de forma bastante severa.
— Além disso, o período de atividade do profeta se estende por mais de mil anos. Não é um papel que possa ser preenchido continuamente por uma pessoa só. Há mais uma coisa. Embora não seja amplamente reconhecido, há dois tipos de deus neste país; o Deus maior, amplamente venerado em todo o mundo, e o deus indígena. O povo comum acredita que esses dois deuses são o mesmo, mas, na realidade, são diferentes. É como se intencionalmente tratassem o deus indígena como o mesmo que o Deus maior para ocultar sua existência. E há uma família neste país que há muito serve a esse deus indígena...
Enquanto dizia isso, Solon me olhava fixamente.
— Hã? Você não quer dizer que... a família real é o profeta?
Nunca poderia ter imaginado que a família real seria suspeita.
— Exatamente. A família real deste país tem suas origens nas mikos do deus indígena, e a linhagem feminina tem se mantido de maneira extraordinariamente longa. O papel de miko é sempre transmitido à próxima princesa, sem interrupções, enquanto elas fazem orações no templo. Em outras palavras, o profeta atual provavelmente é ninguém menos que a rainha atual.
— Isso não pode ser! Minha mãe é uma pessoa bondosa! Não há como ela fazer algo suspeito como ser o profeta!
Recordei-me de minha mãe em minhas memórias. Ela parecia bela, gentil e maravilhosa, até mesmo para mim quando criança.
— Quanto tempo faz desde que você viu essa sua mãe?
Solon ignorou minha objeção.
— ...Desde que ela herdou o papel de miko da minha avó, a rainha-mãe, então, mais de dez anos. Você sabe que o contato com outras pessoas é severamente restrito uma vez que se torna miko, não sabe?
— Eu sei disso. Mas não sei o que as mikos fazem no templo. Dizem-nos que elas oferecem orações ao Deus, mas o que exatamente isso significa? O que envolve oferecer orações a Deus?
Eu não sabia o que responder. Quando minha mãe morrer, eu me tornarei a próxima miko, mas nunca fui informada sobre o que, de fato, farei.
— Você não sabe, como eu imaginava.
Ao ver minha expressão, Solon pareceu entender que eu realmente não sabia de nada.
— O templo deste país é um domínio divino. A entrada é severamente restrita, e mesmo para a realeza, não é fácil entrar. Provavelmente eles restringem as informações de forma minuciosa. Não ensinar nada à princesa, que será a próxima miko, até ela entrar no templo é uma prova disso. O que é que eles precisam esconder tão cuidadosamente? Por que o profeta só aparece neste país, e por que os heróis só nascem aqui? Se pensar sobre essas questões, é imaginável que a família real, ou melhor, a linhagem da rainha, seja a dos profetas.
— Isso...
Eu não conseguia negar prontamente. Não tinha nada que pudesse refutar suas alegações. E já que quem estava argumentando era o grande sábio, também não podia descartar essa história como uma loucura.
— Vou ser claro. O motivo pelo qual revelei que Zack era o herói é porque você é a princesa. Achei que, como princesa, você poderia entrar no templo e descobrir o paradeiro de Zack.
Parece que ele pretendia me usar desde o início. Mas, considerando que eu estava usando Solon para encontrar Zack, era uma troca mútua.
— ...Por que você acha que o profeta saberia onde Zack está?
— Deve haver algum tipo de ligação entre o profeta e o herói. É por isso que o profeta encontra o herói. Na verdade, os heróis até agora sempre se casaram com a princesa e se tornaram reis deste país. O caso atual é a única exceção.
Eu não sabia como retrucar.
— O que você quer que eu faça?
— Quero que você vá ao templo e se encontre com a rainha, a miko. Isso é tudo o que peço.
***
O templo ficava no subsolo, abaixo do castelo real.
Não que o templo tenha sido construído sob o castelo, mas o castelo foi construído onde o templo estava—isso seria mais preciso, aparentemente.
Como se fosse para proteger o templo, ou ocultar sua existência.
Descendo as escadas que levavam ao templo, os pisos e paredes de mármore branco brilhavam levemente à luz tênue das tochas.
Tudo era tão inorgânico e ordenado que parecia rejeitar a entrada humana.
Comecei a sentir como se estivesse descendo em um poço sem fundo, quando finalmente a porta que levava ao templo apareceu à vista.
Em frente a essa porta, estavam duas sacerdotisas vestidas de branco puro, com véus cobrindo seus rostos.
Somente mulheres podem entrar no templo, então as atendentes também são mulheres, mas ambas carregavam espadas na cintura.
Suas formas indistintas, quase fantasmagóricas, eram honestamente assustadoras.
Elas também vinham de uma família que servia às mikos há gerações, jurando lealdade absoluta, não à família real, mas à linhagem das mikos.
Elas passam por um treinamento rigoroso e dizem que superam até mesmo os cavaleiros na esgrima.
— Por favor, permitam que eu veja minha mãe... a miko. Diga a ela que Alexia está aqui.
Disse às sacerdotisas, que não se moveram um centímetro quando me aproximei.
As sacerdotisas moveram-se para os lados, e a porta começou a se abrir lentamente por conta própria.
— Recebemos palavra da miko. Entre.
Não consegui identificar qual delas falou. Ou talvez ambas tenham falado simultaneamente.
Contrário às expectativas, elas não pareciam ter a intenção de me impedir. Parece que já sabiam de antemão que eu viria aqui.
Além da porta havia um corredor ainda mais longo, e depois de atravessá-lo, fui envolvida por uma luz inimaginável para um espaço subterrâneo, enquanto uma caverna expansiva, aproveitando a formação da rocha, se abria diante de mim.
A primeira coisa que chamou minha atenção foi a enorme estátua da deusa, esculpida com tanta precisão que parecia quase viva.
E, em frente ao altar dessa estátua, estava uma pessoa envolta em vestes brancas, como uma estátua sem vida.
— Mãe...
Uma voz rouca escapou de mim. Embora sua aparência se assemelhasse às minhas memórias, a elegância amada por todos havia desaparecido, deixando apenas uma impressão de profundo vazio.
— Alexia, eu sei por que você veio aqui. E sei que Solon a mandou.
Seu olhar para mim era frio, e eu não senti calor em suas palavras.
— Você conhece Solon?
Como ela sabia que eu tinha estado em contato com Solon, estando nesse lugar isolado do mundo exterior?
— Eu o conheço bem. Aquele garoto era esperto demais, um pouco difícil de lidar.
— Aquele garoto? Você era próxima de Solon, mãe?
Solon sempre foi famoso como prodígio desde a infância, mas não deveria ter muito envolvimento com a família real.
— O que Solon lhe disse para fazer você vir aqui?
Em vez de responder, ela me fez uma pergunta.
— ...Que você é o profeta.
— Isso é verdade.
Ela admitiu prontamente, sem sequer alterar sua expressão.
— O quê?
— Eu sou o profeta, a seguidora mais próxima do deus deste país. E você também é uma delas.
Senti uma vertigem. Embora eu estivesse preparada, ouvir isso dito de maneira tão direta ainda me chocou.
— ...Por quê?
Isso era tudo o que consegui dizer.
— Este é o destino de nossa linhagem, um destino inescapável. Você poderia até chamar de maldição divina.
Enquanto dizia isso, minha mãe lançou um breve olhar para a estátua da deusa.
— O que Solon lhe disse sobre como o profeta guia o herói?
— Ele não sabia o método...
— Entendo. Solon não sabia tanto naquela época também... Muito bem. Vou ensinar-lhe os segredos de nossa linhagem, como minha sucessora.
Minha mãe fez um sorriso cruel, como se zombasse de si mesma.
— Eu não posso ser morta.
— O quê?
Eu não entendi de imediato o que ela estava dizendo.
— Quando sou morta, o mundo acaba, e o tempo volta para o momento em que a causa da minha morte pode ser evitada.
— O que isso quer dizer...
— Você perguntou se eu era próxima de Solon, certo? Solon também foi, certa vez, um herói que eu guiei. Sua sabedoria e poder mágico eram incomparáveis na época, e, além de Zack, ele foi o herói que mais se aproximou do rei demônio. Foi então que ele descobriu a verdadeira identidade do profeta. Embora, claro, Solon não se lembre disso agora, ou melhor, é como se isso nunca tivesse acontecido.
Como se relembrasse daquele tempo, minha mãe fechou os olhos enquanto falava. Eu imaginei ter visto um leve traço de tristeza em sua expressão?
— Não foi só Solon. Leon e Maria também se tornaram heróis que eu guiei, mas morreram no meio do caminho. Solon e os outros eram, sem dúvida, pessoas talentosas, mas tinham a tendência de confiar demais em si mesmos e desprezar os outros, por isso não conseguiram se tornar verdadeiros heróis. Houve vários outros candidatos a heróis, mas nenhum deles deu certo. Para mim... O profeta, eu não tinha como saber quem era o herói. Eu apenas seguia o fluxo interminável do tempo até que surgisse alguém capaz de derrotar o rei demônio.
Minha voz não saía. Minha mente se recusava a compreender, mesmo que eu entendesse.
— Leva cerca de dez anos, desde guiar um herói até alcançar um resultado. Eu repeti esse período mais de cem vezes.
— Então, mais de mil...
Era um período de tempo inimaginavelmente longo. Será que uma pessoa poderia viver através de tanto tempo?
— Sim, mais de mil anos de jornada até que eu finalmente encontrei Zack. Embora a primeira pessoa que eu tentei guiar tenha sido Ares. Ao ouvir sobre um jovem talentoso em uma vila remota, guiei Ares com uma pontinha de esperança. Ares era um garoto de talento extraordinário, e eu tinha grandes expectativas, mas ele morreu antes mesmo de chegar à capital. Eu imediatamente considerei o suicídio e o recomeço, mas, por alguma razão, Zack, que estava com Ares, despertou meu interesse.
— ...Suicídio?
Essa era uma palavra que eu não podia ignorar.
— Quando você viveu mais de cem vidas, a sua própria morte se torna algo trivial. Minha primeira morte foi nas mãos de um demônio. Naquela época, o exército do rei demônio atacou e capturou o castelo real, massacrando todos os humanos lá dentro. Se eu tivesse que repetir essa tragédia, não hesitaria em escolher o suicídio.
Então, ao longo de mil anos, ela havia tirado a própria vida inúmeras vezes. Isso era simplesmente demais...
— Você sente pena de mim, Alexia? Mas tudo isso já faz parte do passado agora. Um garoto sem talento, sem expectativas, trouxe fim a essa longa jornada. Sua determinação de derrotar o Rei Demônio era mais forte do que qualquer pessoa que eu já havia visto, e ele possuía um espírito indomável que podia suportar qualquer humilhação ou adversidade. Ele era realmente digno do título de herói.
O herói era alguém que o profeta havia buscado por muito tempo. Não havia destino nem milagre envolvidos—aquele que conseguisse derrotar o Rei Demônio receberia esse título. Fiquei atônita por um momento, mas havia algo que me incomodava. Tratava-se de uma certa possibilidade.
— ...Mãe, hum... Ares e Zack, eu quero dizer, se Ares tivesse vivido, não poderiam Ares e Zack ter se unido para derrotar o Rei Demônio? Eu conheci a mãe de Ares, Shera, na vila Talis. Ela estava profundamente abatida pela perda de Ares. Ela também foi como uma mãe adotiva para Zack. Eu senti tanta pena dela...
Pelo que ouvi, Ares era uma pessoa de talento excepcional. Se for assim, não poderiam ter mantido Ares vivo e, juntos, ele e Zack derrotarem o Rei Demônio?
— A força de Zack vem da determinação sombria de pensar em Ares e sua mãe, Shera. Sem isso, derrotar o Rei Demônio não teria sido possível. Embora o feito de Zack ao derrotar o Rei Demônio tenha sido admirável, ele se baseou em uma possibilidade tão tênue quanto passar um fio por uma agulha. Não há garantia de que isso possa ser reproduzido novamente. Além disso, Alexia, você está sugerindo que eu deveria morrer para tentar essa possibilidade?
...Ela estava certa; pedir que minha mãe fosse tão longe seria cruel.
— Eu testemunhei inúmeras tragédias e atrocidades. À luz disso, a tristeza de Shera é apenas mais uma tragédia comum.
— Mas, mãe, não foi você quem escolheu Ares? Nem Ares nem Zack queriam ser heróis. Shera também não desejava isso.
— Vamos reconhecer isso. Embora eu não tenha intervindo diretamente, é verdade que o escolhi e o deixei morrer. Sim... Eu matei o herói Ares.
Mesmo admitindo seus erros, minha mãe não demonstrava nenhum sinal de arrependimento. Eu tinha certeza de que a mãe que eu conhecia não era assim.
— Mas você entende, Alexia? Eu nunca desejei me tornar o profeta também. Sabe o que eu pensava ao repetir esses ciclos de tempo? Eu não queria ter nascido na realeza. Isso também era algo que eu pensava de vez em quando. Por que eu? Era isso. Eu ressentia e amaldiçoava o fato de a invasão do Rei demônio ter ocorrido durante a minha vida. Se ao menos tivesse acontecido na época da minha mãe ou na época da minha filha; por que eu tinha que ser a única a sofrer tanto? O Rei Demônio provavelmente não renascerá por mais cem anos. Você poderá viver sua vida inteira sem passar por isso. Deixe-me deixar isso claro. Eu a invejo. Nascida na linhagem da profeta, mas capaz de terminar sua vida sem usar quase nenhum de seus poderes...
— Com certeza, não...
Eu senti que era injusto, mas entendia os sentimentos da minha mãe até certo ponto. A jornada de mil anos devia ter sido tão árdua e cruel que transformou alguém tão bondosa quanto ela nessa pessoa fria, a ponto de querer passar esse fardo para os outros.
— Agora entende? Até olhar para você me desagrada. Eu sei por que veio até aqui. Você quer saber o paradeiro de Zack, não é? Ele está na vila Letin, no antigo Reino de Malica, de onde é o pai dele. Vá até lá se quiser encontrá-lo.
O Reino de Malica era um país próximo ao território do rei demônio, o primeiro a ser destruído quando o rei demônio invadiu. Foi também onde os pais de Zack perderam a vida.
— Nossa conversa termina aqui. Proíbo sua entrada em meu templo enquanto eu viver. Saia deste lugar imediatamente.
Assim que terminou de falar, minha mãe fechou os olhos, como se dissesse que não havia mais nada a discutir.
Não esperava ser tão odiada assim. Curvando minha cabeça em tristeza, me virei para sair pela porta. Mas parei e olhei para trás mais uma vez.
— Mãe!
Minha chamada não gerou nenhuma reação.
— Obrigada por tudo! Graças a você, mãe, o mundo foi salvo! Não importa o quanto você me odeie, sempre terei orgulho de ser sua filha! Estou feliz por ter nascido como filha de uma mãe tão forte como você!
Lágrimas caíram involuntariamente pelo meu rosto.
Na minha visão embaçada, pareceu que a expressão de minha mãe mudou, mesmo que ligeiramente. Será que isso era apenas um desejo meu?
— Eu te amo, mãe! Vou te amar até o dia em que eu morrer! Por favor, se nada mais, lembre-se disso!
Depois de fazer uma reverência profunda para minha mãe, deixei o lugar, sentindo como se algo puxasse meu cabelo por trás.
Fragmento 2
O castelo estava em chamas. Era uma cena que eu já havia visto incontáveis vezes antes. Eu havia falhado mais uma vez.
Eu observava através de uma visão no templo subterrâneo.
Muitas pessoas morreram. Jurei inúmeras vezes que as salvaria da próxima vez. Mas esse juramento se desmanchava com facilidade. Agora, tudo o que crescia era a sensação de futilidade.
Por que sou tão impotente?
Outra pergunta que eu já me fizera tantas vezes.
Se eu fosse mais forte, poderia ter ido derrotar o Rei Demônio sozinha, sem depender de outros. Mas, como uma mulher que se aproximava da meia-idade, treinar meu corpo só me levaria até certo ponto.
Tentei pegar uma espada uma vez, mas mal conseguia levantá-la, muito menos manejá-la corretamente. Para ser honesta, eu nunca fui muito forte fisicamente.
...Eu sei, mais desculpas.
Afundava em autodesprezo, pensando que, se eu tivesse sido mais ativa como minha filha Alexia, que gostava de esgrima e equitação, talvez as coisas tivessem sido diferentes.
Infelizmente, também não tinha talento para magia. Como seguidora de outro deus, não podia usar a magia de cura, a bênção do grande Deus.
Por que minha deusa fez seus seguidores tão fracos? Olhei amargamente para a estátua da deusa.
Um rugido ressoou além da porta. O rei Demônio devia estar se aproximando. A ruína estava perto.
Bebi o veneno preparado e me despedi deste mundo fracassado.
Quando abri os olhos, a pequena Alexia estava ao meu lado.
Abracei seu pequeno corpo com força.
— Já tenho oito anos, é embaraçoso — disse Alexia, mas ainda assim me abraçou de volta gentilmente com suas pequenas mãos.
Ela não tinha ideia do que havia acontecido e estava confusa, mas ainda assim me envolveu com carinho com suas mãozinhas.
Com meu amor por essa criança como minha força motriz, sempre recomeço o mundo. Caso contrário, eu já teria desistido dele há muito tempo.
Mas tudo o que posso fazer é parasitar alguém.
Como profeta, prendo minha própria ilusão à sombra de um indivíduo escolhido e observo seu destino.
Posso mostrar uma aparência falsa e transmitir palavras. No entanto, nunca me envolvo realmente nas batalhas.
Claro, o conhecimento que adquiri até agora é transmitido: informações sobre o futuro, fraquezas dos monstros, caminhos relativamente seguros, suprimentos necessários e muito mais. Não é completamente inútil, mas é quase como se eu não tivesse feito nada em comparação com aqueles que arriscam suas vidas em combate.
E, naturalmente, apenas porque eu nomeio alguém, isso não significa que essa pessoa inevitavelmente se tornará um herói. Há pessoas que se recusam, é claro.
— Eu não quero fazer isso. É um incômodo — dizem.
Eu não posso culpá-los. É natural não querer.
Todos os heróis que guiei morreram prematuramente. Tornar-se um herói não significa que eles ganhem algum tipo de poder.
Usando a imagem ilusória chamada “Profeta” e concedendo a honra de “herói” a alguém, estou apenas forçando essa pessoa a assumir o destino de “derrotar o Rei Demônio.”
Esse poder amaldiçoado foi ativado pela primeira vez quando o exército do Rei Demônio atacou este castelo, e o próprio Rei Demônio rompeu a barreira e chegou ao templo.
O Rei Demônio tirou a vida de Alexia bem diante dos meus olhos, e depois matou a mim.
Lembro-me de ter ficado profundamente chocada com a morte de Alexia, mais do que com a minha morte iminente.
Na próxima vez que abri meus olhos, estava de volta ao mundo de dez anos atrás. Abracei a jovem Alexia, chorando. Sem entender o que havia acontecido, Alexia olhou para mim, confusa, mas gentilmente me abraçou de volta com suas pequenas mãos.
Eu jurei em meu coração que nunca deixaria essa criança morrer novamente.
Entendi o que havia acontecido comigo. Quando herdei o papel de miko de minha mãe, também herdei os registros das mikos anteriores, junto com seus poderes.
[Recompilação do Mundo]
Uma habilidade poderosa concedida pelo deus deste país à linhagem escolhida de mikos, com o intuito de preservá-lo e se opor ao Rei Demônio; a habilidade de alterar o mundo.
A miko não pode morrer, exceto por velhice. Somente quando ela morre de outras maneiras essa habilidade é ativada.
E o tempo retrocede sozinho até um ponto em que a causa da morte pode ser eliminada. Um milagre conhecido apenas pelos deuses, ao que parece.
Esse poder foi usado não apenas contra o Rei Demônio, mas também em várias outras situações.
Rebeliões de vassalos, traições de maridos e tentativas de assassinato; houve muitos exemplos de sua ativação, mesmo em tempos de paz.
No entanto, essas situações não exigiram o uso repetido de [Recompilação do Mundo].
Somente contra o Rei Demônio foi necessário repetir incontáveis vezes.
A primeira [Recompilação do Mundo] que realizei foi formar um exército aliado para se opor às forças do Rei Demônio. Pensei que mover nações seria mais eficaz para derrotar o Rei Demônio do que confiar em um herói solitário.
Convenci meu marido, o rei, e os países vizinhos, e começamos a nos preparar para lidar com o exército do Rei Demônio desde cedo. Como eu sabia as rotas de invasão e os padrões de ataque por tê-los experimentado antes, conseguimos estabelecer uma defesa perfeita.
Graças a isso, o exército aliado lutou bem e conseguiu repelir o exército do Rei Demônio.
Mas, por mais que o repelíssemos, o exército do Rei Demônio logo atacava novamente. Reunindo demônios ativados sob seu comando, eles reforçavam suas forças e lançavam ataques repetidos sem pausa. Eventualmente, o exército aliado ficou exausto, e quando as nações da linha de frente caíram, a aliança se desfez rapidamente. Foi aí que aconteceu minha segunda morte.
Na segunda [Recompilação do Mundo], considerei que o exército aliado deveria partir para o ataque. Percebi que apenas defender era inútil, e que precisávamos atacar o território inimigo.
Mas, politicamente, isso não foi bem recebido. Uma expedição distante ao território do Rei Demônio exigiria um orçamento enorme. Quase não haveria benefícios territoriais ou monetários, mesmo que vencessem. Além disso, o exército do Rei Demônio ainda não era uma ameaça direta naquele momento. O plano de expedição foi descartado, e acabamos permitindo a invasão do Rei Demônio.
Vendo o exército do Rei Demônio invadindo o reino, tomei veneno.
No final, a partir da terceira [Recompilação do Mundo], voltei ao método tradicional de buscar um herói. Se as nações não se moveriam, eu não teria escolha a não ser derrotar o Rei Demônio com uma pequena força de elite. Felizmente, havia muitos talentos promissores entre a geração mais jovem, e eu tinha grandes esperanças no Santo da Espada Leon, na Santa Maria e no Grande Sábio Solon.
Especialmente Leon; sua linhagem e habilidades eram impecáveis, tornando-o o principal candidato a herói.
No entanto, quando o enviei ao território do Rei Demônio, ele não conseguiu se adaptar à jornada de aventureiro por causa de sua criação nobre. Ele não soube lidar adequadamente com traições de pessoas que deveriam ser seus aliados; sendo traído por aqueles que deveriam protegê-lo, e assim por diante.
No fim, ele perdeu a vida apenas três meses após iniciar sua jornada.
O próximo candidato foi Maria. Eu tinha algumas reservas quanto a transformar uma sacerdotisa em Herói; sua personalidade era admiravelmente ruim, e ela era habilidosa em manipular pessoas.
Como esperado, Maria progrediu de maneira constante em sua jornada. Ela utilizava bem seus companheiros e não apenas lidava com os ataques dos demônios, como também explorava suas fraquezas. No entanto, os membros de seu grupo não conseguiam confiar uns nos outros de verdade, e a equipe foi se desintegrando aos poucos. Quando encontraram um demônio poderoso, o grupo se desfez, e Maria perdeu a vida cerca de um ano depois.
O terceiro candidato foi Solon. Ele tinha uma personalidade difícil, e eu achei que ele tinha menos chance de sucesso em comparação a Leon ou Maria, mas era dotado de grande poder mágico e intelecto. Dando a ele as informações que adquiri com minhas experiências até então, Solon conseguiu aproveitá-las de maneira excelente, penetrando profundamente no território do Rei Demônio, chegando até a confrontá-lo diretamente.
No entanto, a diferença de poder entre ele e o rei demônio era esmagadora, e no fim, ele morreu em desespero.
Depois disso, às vezes eu tentava guiar a mesma pessoa para obter um resultado melhor, outras vezes guiava alguém completamente diferente. Tentei colocar Leon, Maria e Solon no mesmo grupo uma vez, mas eles só brigavam entre si, e não deu muito certo.
Conforme repetia essas tentativas e erros inúmeras vezes, minha mente foi se desgastando. Tornei-me insensível às mortes das pessoas, aceitando facilmente até a minha própria.
Não importa, já que eu posso simplesmente refazer tudo, pensei.
Os heróis que eu havia guiado até agora eram todos da capital real, mas isso não tinha funcionado, então agora busquei talentos nas regiões rurais.
O candidato desta vez era um garoto chamado Ares.
Eu tinha ouvido falar dele na [Recompilação do Mundo] anterior. Havia rumores sobre um jovem talentoso que se destacava na espada e na magia em uma vila remota chamada Talis. Graças aos seus feitos, os aldeões conseguiram escapar do exército do Rei Demônio. Ele parecia muito promissor.
Decidi enviar o fantasma do profeta em direção à Vila Talis. O fantasma pode se tornar um doppelgänger da pessoa alvo e se mover por aí. Eu a transferiria de pessoa para pessoa até que se tornasse o doppelgänger daquele que se tornaria o Herói.
No entanto, o problema era que não havia absolutamente ninguém indo em direção à Vila Talis. A rota direta tinha se tornado bastante perigosa por causa dos ataques de demônios. Ainda assim, eu estava determinada a apostar em Ares desta vez, então liberei o fantasma do profeta.
No fim, levou quase um ano para o fantasma do profeta chegar à Vila Talis. Tive que tomar uma rota bastante indireta, finalmente chegando ao me tornar o doppelgänger de um comerciante viajante.
Ares provavelmente estava na metade da adolescência agora. Cabelos castanho-claros e olhos castanhos. Apesar de sua idade, ele tinha um físico bem treinado. Ele tinha um olhar alerta e claramente exalava um ar diferente dos outros aldeões.
Imediatamente comecei a observá-lo.
Enquanto ajudava nos trabalhos da casa, ele treinava arduamente com a espada todas as manhãs e noites. Quando chovia, ele lia tomos de magia e se encontrava regularmente com o sacerdote da igreja para aprender sobre os milagres de Deus. Ele também tinha bons relacionamentos com aqueles ao seu redor.
Ele era a pessoa ideal.
Sua esgrima provavelmente não se comparava à de Leon, e sua magia estava longe de ser como a de Maria ou Solon, é claro, mas eu acreditava que sua mentalidade intelectual e flexível era o elemento mais necessário para derrotar o Rei Demônio.
Foi por isso que decidi fazer de Ares o herói.
Não havia efeitos diretos em transformar alguém no herói, mas, ao fazê-los se conscientizar de seu papel e receber as expectativas dos outros, surgiam efeitos indiretos, como motivá-los a treinar ainda mais ou facilitar o acesso a fundos e equipamentos.
Em uma reunião da vila, materializei o fantasma e declarei: — O herói que derrotará o rei demônio surgirá desta vila.
Os aldeões ficaram extasiados. Eles sabiam; Ares era o herói. E todos olharam para ele simultaneamente. Mas ele… tinha ficado pálido.
Ah, que criança verdadeiramente sábia.
Senti uma dor no meu coração.
Ares compreendeu a essência do que significava ser o herói. Aquele papel difícil e doloroso.
Mas Zack, primo de Ares, que estava ao seu lado, olhou fixamente para mim. Como se proclamasse que ele próprio era o herói.
Para ser honesta, Zack não era nada especial. Ele estava sempre com Ares, praticando espada com ele e estudando magia juntos, mas não se comparava a Ares em nada.
Era um garoto que nunca poderia se tornar o herói. Ainda assim, seus olhos deixaram uma forte impressão em mim.
Depois de olhar para Zack, Ares recuperou a compostura e aceitou silenciosamente as felicitações dos aldeões.
Após voltar para casa, ele discutiu com seus pais e tomou a decisão de ir para a capital real. As coisas estavam indo como eu esperava. Na capital, ele poderia aperfeiçoar ainda mais suas habilidades e reunir companheiros para formar um grupo. Tudo necessário para derrotar o rei demônio.
No entanto, ao ver Ares brandir sua espada durante a noite, incapaz de dormir depois de se tornar o herói, senti algo trágico naquilo.
Assistir a mãe de Ares, Shera, chorar pensando em seu filho era doloroso para mim como mãe, mesmo sabendo que eu havia causado isso.
Quando as preparações foram concluídas, Ares partiu em sua jornada com Zack como seu ajudante.
E... ele perdeu a vida no caminho.
foi algo que eu não previ de forma alguma.
Foi uma morte muito prematura.
— Esta tentativa também terminou em fracasso.
Imediatamente considerei morrer. Ares tinha potencial.
Embora tivesse morrido, provavelmente não havia muitos outros tão jovens que pudessem lutar de igual para igual contra demônios.
Se eu pudesse evitar essa tragédia, pensei que ainda poderia haver esperança para ele.
No entanto, por alguma razão, fiquei inquieta com Zack, que havia viajado com Ares. Aquele garoto sem talento ou habilidade discerníveis.
Transferi o fantasma para sombra de Zack e decidi observar seu curso.
Zack entrou na Academia Pharme fingindo ser Ares e fez esforço após esforço para se tornar o herói. Não importava quão pequenos fossem os resultados ou quão inúteis fossem os esforços, ele continuava avançando. Nele, vi um reflexo de mim mesma.
Mesmo que não conseguisse igualar a habilidade de esgrima de Leon, ele ainda brandia a espada em silêncio. Mesmo enquanto Maria o submetia a provações absurdas, ele despertava para os milagres de Deus. Ao final de um intenso treinamento com Solon, ele adquiriu magia.
Todos eles estavam longe de ser de primeira classe, mas Zack acumulou pequenos milagres.
E antes que eu percebesse, ele havia se tornado o herói. Não guiado por mim. Ele conquistou o título por seu próprio poder.
O herói fraco, desajeitado, coberto de lama.
Zack formou um grupo com Leon, Maria e Solon e partiu em uma jornada para derrotar o Rei Demônio.
E ele harmonizou o grupo de forma admirável. Em vez de tentar usá-los, ele buscava extrair o melhor de cada um deles.
Eu também forneci a Zack todas as informações que tinha em cada oportunidade, e ele superou muitas adversidades e provações.
— Será que Zack pode derrotar o Rei Demônio?
Minhas expectativas por ele cresceram. Mas, ao mesmo tempo, um conflito surgiu dentro de mim.
Era sobre Ares. Zack estava lutando em nome de Ares, sacrificando-se para tomar o lugar de Ares. Isso era algo que eu sabia melhor do que ninguém.
Mas, se ele derrotasse o Rei Demônio do jeito que as coisas estavam, o mundo seguiria em frente com Ares permanecendo morto.
Depois de agonizar sobre isso, falei com Zack. Foi quando eles estavam a um passo de chegar ao castelo do Rei Demônio.
— E se você pudesse voltar para um mundo onde Ares está vivo? O que faria?
Os olhos de Zack se arregalaram.
— Voltar? Não ser revivido, mas voltar no tempo?
— Você só voltaria para antes dele morrer e começaria tudo de novo.
— Minhas memórias?
— Não permaneceriam. Só eu me lembraria. Mas eu poderia guiar as coisas para que Ares não morresse.
Zack me encarou em silêncio por um tempo antes de abrir a boca.
— E o Rei Demônio? Chegamos até aqui, mas eu conseguiria voltar a esse ponto?
— Eu… não sei.
Respondi honestamente. Parecia um milagre termos chegado tão longe, e eu não tinha confiança de que conseguiria reproduzir isso novamente.
— Então está tudo bem.
— Hã?
— Seria muito difícil refazer tudo de novo, né? Mesmo se me dissessem “você pode viver sua vida de novo”, eu não conseguiria. Não quero passar por tanta dificuldade de novo.
Ele disse com um sorriso.
— Mas, então, Ares…
— É uma pena sobre Ares, e claro que eu gostaria que ele fosse revivido se possível, mas se tudo até agora se tornasse como se nunca tivesse acontecido, acho que isso estaria errado. Não só para mim. O esforço de todos se tornaria sem sentido. Então, vou continuar avançando assim.
— Tem certeza?
— Sim, essa é a minha escolha. Eu vi Ares morrer.
— Eu matei Ares.
— Então, você não precisa fazer essa expressão de dor.
Expressão? Devido ao poder de miko, minha forma projetada do templo para o território do Rei Demônio não passa de uma ilusão, e nem sequer deveria diferenciar entre jovem e velho ou homem e mulher. Não há como entender expressões. Só posso observar do templo, e sou um ser sem poder.
— Você não poderia entender nada sobre mim.
— De alguma forma, eu entendo. Talvez seja o sentimento? Parecia que você se parecia com a Sra. Shera. Achei que pudesse ser uma figura maternal e gentil.
Shera… a mãe de Ares. Ela não aprovava exatamente seu filho se tornar um herói. E quem poderia culpá-la? Mesmo eu não gostaria de enviar minha filha em uma jornada tão dura e perigosa. Mas eu forcei isso no filho de outra pessoa, e, como resultado, deixei Ares morrer.
— Eu… eu não sou gentil.
— É mesmo? Eu não acho isso. O propósito do Profeta é derrotar o Rei Demônio, certo? Mas mesmo estando a um passo de conseguir isso, você está propondo recomeçar. Você não faria isso sem gentileza.
— …
— Mas, se eu morrer sem derrotar o Rei Demônio, se tiver que recomeçar, quero que você me guie para poder usar magia antes de eu começar a jornada de novo. Não sou muito bom nisso porque sou desajeitado, mas vou contar com você. Assim, da próxima vez, posso viajar com Ares sem deixá-lo morrer, acho.
Como se estivesse fazendo uma piada, Zack revelou seu verdadeiro desejo e concluiu a conversa, então deixou o lugar.
Depois disso, Zack e os outros derrotaram o Rei Demônio em uma batalha feroz, e minha longa jornada de mil anos chegou ao fim.
Finalmente liberta do longo ciclo de reencarnação, tremi de alegria. Eu finalmente poderia encontrar meu fim, finalmente poderia morrer como humana, pensei.
Mas essa alegria desapareceu na manhã seguinte, quando acordei.
Os mortos não voltam.
Não era só Ares. Tantas outras pessoas morreram por causa das minhas escolhas.
No início, com a [Recompilação do Mundo], eu me esforcei para salvar o máximo de vidas possível, mas em algum momento negligenciei isso. Não faz diferença, é inútil de qualquer forma, pensei.
Mas desta vez eu havia conseguido derrotar o Rei Demônio. Quando eu deveria ter sido capaz de salvar muito mais pessoas.
Depois disso, continuei a me culpar. Eu só desejava que minha vida acabasse rapidamente.
Alguns anos depois, quem apareceu diante de mim desejando a morte foi Alexia.
Depois de muito ir e vir com as sacerdotisas do templo, ela entrou à força no templo.
Parece que minha filha tinha vindo aqui, persuadida por Solon, para perguntar sobre o paradeiro de Zack.
Certamente, o fantasma do profeta ainda estava agindo como sombra de Zack.
No entanto,
Que filha tola.
Entrar imprudentemente no domínio sagrado por mera curiosidade, sem saber da minha angústia ou dos sentimentos de Zack.
Uma escuridão surgiu em meu coração. Depois de contar tudo a Alexia, ofereci-lhe o vinho envenenado que eu estava usando para cometer suicídio.
— Se você também é da linhagem oracular, mostre sua determinação. Se conseguir superar o medo da morte, eu lhe contarei onde está Zack.
Era apenas uma ameaça. Pensei que a menina mimada voltaria depois de ouvir isso.
Mas Alexia respondeu: — Entendo, mãe.
Então ela bebeu o vinho envenenado.
E olhando diretamente para mim, sem mostrar uma única expressão de dor, ela morreu com um sorriso suave no rosto.
Ao testemunhar a morte de Alexia, lembrei-me do motivo pelo qual estava realizando a [Recompilação do Mundo].
Não era para salvar esta criança? Pensei.
Ela havia vindo aqui com sua própria determinação. E eu tinha transformado isso em uma válvula de escape para meus próprios sentimentos reprimidos.
Apertei um punhal contra minha garganta e colapsei sobre o corpo de Alexia, realizando uma última [Recompilação do Mundo].
Quando recuperei a consciência, senti um alívio tênue e culpa por não ter voltado antes da derrota do Rei Demônio.
Parece que eu havia retornado a um dia antes de Alexia chegar.
Instruí as sacerdotisas a deixarem-na entrar quando ela viesse, e esperei pela segunda visita de minha filha.
***
Após ouvir a porta se fechar, abri os olhos e confirmei que Alexia havia partido.
O silêncio retornou ao santuário.
— Obrigada, Alexia. Minha amada filha.
Não importava o que eu fizesse, não importava o que acontecesse, cada vez que se repetia, todos esqueciam. Era uma jornada solitária, sem recompensa.
Ver pessoas morrerem por causa da minha orientação, por causa das minhas escolhas,
Sem palavras de agradecimento; eu achava isso um papel amaldiçoado.
— Mas eu realmente queria que alguém dissesse isso...
As palavras de Alexia penetraram nas profundezas do meu coração.
Minhas pernas não podiam mais me sustentar, e eu me apoiei no altar enquanto lágrimas de alegria e tristeza se misturavam.
Eu nunca mais encontraria aquela criança. Essa era a única expiação que eu havia me imposto.
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