Hai to Gensou no Grimgar | Grimgar of Fantasy and Ash Volume 07 Capítulo 01 [O Cume Embaçado]




Os gremlins conversavam em um tom melódico ao redor deles.

Nafushuperah, toburoh, furagurashurah, purapurapuryoh.

Anabushoh, fakanakanah, barauarafurenyoh, kurakoshoh.

Kachabyuryohoh, kyabashah, chapah, ryubaryaburyah, hokoshoh.

Uma luz azul vazava de buracos espalhados por todo lugar. Quantos gremlins viviam ali? Centenas? Milhares? Talvez dezenas de milhares?

Essas criaturas, que pareciam uma mistura de morcego com goblin, eram basicamente inofensivas. Mesmo sabendo disso, eles ainda eram um pouco assustadores. Se algo desse errado e eles atacassem, a party não teria a menor chance.

Depois de atravessarem as tocas dos Gremlins, chegaram ao Depósito de Ovos.

A disposição do lugar era simples. Havia um único caminho com uma série de salas oblongas ao longo dele, onde os gremlins colocavam seus ovos. A party não tinha interesse nos ovos, então seguiram o caminho, ignorando as salas.

Podemos simplesmente continuar, certo? pensou Haruhiro.

Ele olhava repetidamente para Ranta, Kuzaku, Yume, Shihoru e Mary, certificando-se de que ainda estavam lá, enquanto se perguntava se deveriam continuar ou voltar. Por mais que perguntasse a si mesmo, nunca chegava a uma resposta. Não fazia ideia do que deveria fazer.

A dominatrix, Lala, e seu servo, Nono, estavam mais à frente, avançando em um ritmo cuidadoso, mas confiante. Nono carregava uma lanterna, cuja luz iluminava a aparência ousada e extrema de Lala.

Honestamente, ela não precisava acentuar tanto suas partes femininas e se expor tanto; mal escondia as partes que absolutamente não podia mostrar em público. Não é que Haruhiro quisesse ver essas partes. Mas... ele simplesmente não conseguia deixar de olhar. Será que ela gostava de se exibir? Talvez estivesse buscando todo tipo de reação possível por se mostrar daquele jeito.

Nono, com seu cabelo branco e máscara negra cobrindo a parte inferior do rosto, permanecia em silêncio. Na verdade, Haruhiro ainda não o tinha ouvido falar. Sempre que faziam uma pausa, Nono servia de cadeira para Lala. Isso era, bem... no mínimo, estranho.

Eles eram uma dupla peculiar, para dizer o mínimo.

Eram capazes. Terrivelmente capazes. Confiáveis também. Mas, era seguro confiar neles? Isso era um tanto duvidoso. Haruhiro sentia que, se confiassem demais neles, a party acabaria sendo enganada e sofrendo as consequências.

Eventualmente, chegaram ao final do depósito de ovos. Dali em diante, era realmente um caminho reto. O trajeto fazia uma curva suave para a direita antes de virar bruscamente naquela direção.

Chegaram a uma bifurcação em forma de T.

Haruhiro teve uma sensação de déjà vu. Era quase idêntica à entrada do depósito de ovos no Buraco das Maravilhas. Lá, as bifurcações em T se encontravam de novo, quer fossem para a esquerda ou para a direita, e o Buraco das Maravilhas sempre estaria do outro lado.

Será que podemos voltar por aqui?

Por um momento, ele pensou nisso. Mas, naturalmente, não era o caso.

Lala e Nono viraram à direita na bifurcação. Outra curva. Como esperado, o caminho se dividiu novamente. Viraram à direita, então caminharam por um longo trecho. O caminho apertado e sinuoso, com seu teto baixo, parecia interminável.

Os dois caminhos eram parecidos, mas isso não era como a entrada no Buraco das Maravilhas. Onde exatamente sairiam? Haruhiro e os outros poderiam voltar para casa?

Estamos perto da saída — disse Lala, sussurrando.

Agora que ela mencionava, o ar estava levemente fluindo. A temperatura havia caído um pouco. Quando Nono cobriu a lanterna, ficou subitamente tudo escuro. Não havia sinal de luz à frente.

Está de noite...? — Ranta sussurrou, engolindo em seco.

Ouviu-se o som de alguém suspirando. Passos. O farfalhar de roupas. O tilintar de armaduras. Respirações.

A tampa da lanterna não foi levantada. Apenas uma pequena quantidade de luz vazava pelas frestas da cobertura.

Lala parou, fazendo um gesto para Nono. Haruhiro e a party também pararam. Parecia que Lala queria que Nono fosse investigar a situação sozinho.

Nono sabia usar Sneaking (Furtivo). Como ladrão, Haruhiro reconhecia isso. Nono o fazia em um nível bastante alto, também.

Nono deixou a lanterna com Lala, então se fundiu à escuridão, sem fazer um único som, e logo desapareceu de vista. Provavelmente cerca de cinco minutos depois, Nono retornou.

Nono se aproximou de Lala, talvez para sussurrar algo em seu ouvido, mas Haruhiro não conseguiu ouvir sua voz. De qualquer forma, Lala acenou uma vez com a cabeça, devolveu a lanterna a Nono e começou a andar. Haruhiro e os outros não tiveram escolha a não ser segui-los.

A lanterna ainda estava coberta, e tudo permanecia completamente escuro, como antes, mas eles claramente se aproximavam da saída.

Só mais um pouco, Haruhiro disse a si mesmo. Estamos quase lá.

Mrrrr... — Yume soltou um som estranho.

Lá fora, o ambiente era úmido, envolto em uma escuridão fria. Havia ruídos, mas de quê?

Ou, ou, ou...

Esse som se repetia incessantemente—seria o grito de algum animal? Havia também um som contínuo e agudo. Esse parecia o bater de asas de algum inseto.

Outro som parecia o rápido estalar de uma língua. Era assustador e desconfortável.

Onde estamos...? — sussurrou Kuzaku, com a voz fraca.

Alguém estava chorando. Tinha que ser Shihoru.

Vai ficar tudo bem — Mary tentou encorajá-la, mas sua voz tremia.

Noite... — Haruhiro teve um pensamento repentino. — Será que esse é aquele lugar? O Reino da Noite?

Lala e Nono foram os que descobriram que as tocas dos Gremlins acessíveis pelo Buraco das Maravilhas estavam conectadas a outro mundo, além do Reino do Crepúsculo. No Reino do Crepúsculo, nunca havia manhã ou noite, mas nesse outro mundo, era sempre noite; o dia nunca chegava. Por isso, era chamado de Reino da Noite.

Espera, se for verdade... — Ranta fez uma pequena dança. — ...a gente pode voltar, né?!

Talvez — Lala resmungou. — Talvez não. Esse lugar é perigoso de sua própria maneira. Nós mal o exploramos. Muito perigoso.

Haruhiro esfregou o estômago. Estava doendo. Intensamente. Até mesmo o animado Ranta ficou quieto.

Mesmo naquele exato momento, alguma criatura desconhecida poderia aparecer da escuridão e atacá-los.

Então, a propósito, nós vamos indo — disse Lala bruscamente.

Lala e Nono começaram a se afastar deles. Demorou um momento para Haruhiro entender o que aquelas palavras e essa ação significavam.

...Hã?! Espera, espera, espera! Pera aí?! — ele gritou.

O quê? — perguntou Lala.

Não, vocês estão indo—O que isso quer dizer... Hã? Hã...? Só vocês dois... Sozinhos?

Não temos ideia do que há pela frente, afinal de contas — ela respondeu.

N-Não, nós também não temos ideia, obviamente, mas... Mas, ainda assim...

Quando estamos em um lugar desconhecido, minha experiência me diz que nós dois sozinhos é o melhor. Sempre trabalhamos assim, e pretendo continuar desse jeito.

N-Não, m-mas...

Não...! — Ranta se ajoelhou e fez uma dogeza. — Não me deixem aquiiiiii! Por favor, por favor! Eu imploro! Não me deixem aqui!

Até mesmo Haruhiro, que achava que sabia bem que tipo de pessoa, ou melhor, que tipo de lixo Ranta era, ficou chocado com essa exibição. Ele simplesmente não podia acreditar.

Como ele não tem vergonha de si mesmo? Ele é realmente sem-vergonha. E o que é esse “me” aí? Ele só se preocupa consigo mesmo. Eu já sabia disso, ele continua sendo horrível...

Adeus — Lala talvez tenha acenado para eles, ou talvez não. De qualquer forma, já não podiam mais vê-la.

A dominatrix e seu servo se foram.

O-O que... fazemos agora? — Kuzaku perguntou num sussurro.

Ah, droga. Isso é horrível, pensou Haruhiro. Não consigo acreditar quão escuro está. Não vejo nada. É total escuridão.

Haruhiro sentiu como se estivesse preso dentro de uma massa escura. Não conseguia se mover, não conseguia escapar. Esse era o fim.

...Não, isso não é verdade. Era tudo uma ilusão.

C-Certo, primeiro de tudo, precisamos de luz... — Haruhiro remexeu em sua bolsa e tirou uma lanterna. Quando a acendeu, sentiu-se um pouco mais calmo.

Yume tirou sua própria lanterna e tentou acendê-la também.

Haruhiro a deteve. — Só precisamos de uma. A minha, por enquanto. Quero economizar óleo.

Ohhh. Faz sentido, né...

Maldita — Ranta socou o chão e rangeu os dentes. — Nunca vou perdoá-la.

Não chora, cara... — disse Haruhiro.

E-Eu não tô chorando! Você é estúpido, estúpido, Haruhiro estúpido! Urgh...

Mary estava abraçando Shihoru com força. Se não estivesse, Shihoru parecia prestes a desabar a qualquer momento.

Haruhiro respirou fundo, forçando-se a relaxar. Preciso manter a calma. Sou o líder, afinal. Preciso apoiar todo mundo. Preciso guiá-los. Não vou deixar ninguém morrer. Vamos sobreviver. Todos nós vamos sair dessa vivos.

Vamos continuar — ele disse. — Um passo de cada vez. Vai dar tudo certo. Eu vou fazer dar certo. Eu... Ou melhor, todos nós estamos aqui. Só tenham cuidado para não fazer muito barulho. Se perceberem algo vindo, me avisem imediatamente. Então, vamos agir com cautela e... É, tá bom. Vamos lá.

Estou apenas viajando nos meus pensamentos. Eu sei disso. O que estou pensando? No que deveria pensar? Não sei. Mas ficar aqui não é bom, certo? Ou talvez eu só não queira estar aqui. Pode ser que eu tenha medo de ficar parado. Mas, quero dizer, Lala e Nono saíram logo. Então, sim, não devemos ficar aqui.

Haruhiro e os outros estavam com as costas contra uma parede de pedra. O buraco que levava ao Depósito de Ovos se abria naquela parede rochosa.

Lala e Nono haviam desaparecido para a esquerda. Havia uma leve inclinação para baixo à frente deles.

O chão era irregular. Rochoso. Para a direita, para a frente ou para a esquerda?

Ele não hesitou muito. Haruhiro decidiu seguir Lala e Nono. Provavelmente não conseguiriam alcançá-los, mas aqueles dois tinham ido para a esquerda. Seria um pouco mais seguro do que ir para a direita... talvez?

Verificando os passos, eles seguiram com cuidado ao longo da parede de pedra à esquerda. Caminhavam como se estivessem cruzando uma ponte estreita.

Estamos indo devagar demais? Deveríamos apressar o passo? Que bem faria se apressar? Seria útil se clareasse logo. Será que amanhece neste mundo?

Shihoru soluçava convulsivamente.

Ah, fica quieta, vai! — Ranta estalou a língua. — Ai!

Cala boca, seu idiota! — Parecia que Yume tinha dado um tapa em Ranta.

Se eu abrir a boca, acho que vou começar a reclamar, pensou Haruhiro. Tempo. Quanto tempo passou? Nem consigo imaginar. Quanto mais precisamos andar? Deveríamos descansar? Meus companheiros estão cansados? Devo perguntar? Eles estão com fome? Com sede? Precisamos de água. Comida também. O que fazemos? Como conseguimos isso? Todo mundo vai sobreviver? Isso é realista, nessa situação?

Em algum momento, Shihoru parou de chorar. A parede de pedra antes estava em quase noventa graus, mas agora era muito menos íngreme. Parecia que ele poderia escalá-la, mas não tinha vontade de subir.

À direita, havia escuridão, escuridão, uma escuridão infinita. Mesmo erguendo a lanterna naquela direção, ele não conseguia ver nada.

Os gritos de animais, o bater de asas, os estalidos... Ouvia sons que pareciam vir de animais aqui e ali periodicamente.

De repente, o vento soprou contra eles.

Esperem. — Haruhiro ergueu a mão, sinalizando para seus companheiros pararem.

Ele avançou cautelosamente. O chão à sua frente logo desapareceu. Era um penhasco. Havia um penhasco ali.

Quão alto era? Agachando-se, ele abaixou a lanterna o máximo que pôde. Não conseguia ver o fundo. Era longe demais.

Ele escutou com atenção. Aquilo era... o som de água? Havia um rio lá embaixo?

Água. Se tivesse um rio, teria água. Mas eles não podiam descer o penhasco nem pular.

Ele pegou uma pedra e a jogou para baixo. Logo, ouviu um som de respingo. Não parecia ser uma queda de dezenas de metros; devia estar a cerca de dez.

Tem água lá embaixo — disse Haruhiro.

Mas não houve reação. Nem mesmo de Ranta. Todos deviam estar exaustos, tanto física quanto mentalmente.

Vamos continuar pela borda do penhasco e procurar uma forma de descer — Haruhiro disse. — Se conseguirmos água...

...Sim — Kuzaku respondeu brevemente.

Shihoru, você está bem? — perguntou Haruhiro, e Shihoru apenas acenou com a cabeça.

Ela não parecia bem. Isso o preocupava, mas se conseguissem encontrar água potável, até mesmo Shihoru se sentiria um pouco mais segura. Mas, será que a água do rio era potável? Provavelmente não, do jeito que estava. Mas, se a fervessem... Certo, teriam que acender uma fogueira...

Também teriam que tomar cuidado para não cair do penhasco. Ele não achava que alguém fosse tão estúpido, mas, só para garantir.

Havia um vento forte e úmido ao longo do penhasco, que era desagradavelmente frio. Se eles não se aquecessem em algum momento, não seria apenas o frio que sentiriam; começariam a tremer.

Eventualmente, uma névoa começou a se formar também. O chão não era mais rochoso. Parecia que algo como grama estava crescendo sobre a terra. Aquela coisa parecida com grama não era verde, era branca. Seria realmente grama?

Whoa! — Ranta pulou de repente. — O que, o que, o que...!

O que foi? — perguntou Haruhiro.

E-Eu pisei em algo! Acho que não estava vivo, mas... Ahh! — Ranta pegou algo. Era um objeto branco. — Olha só! Ossos!

Shihoru gritou.

Por que tá pegando isso? — perguntou Yume.

Você é inacreditável... — murmurou Mary.

Com aquele ataque concentrado das garotas, Ranta ficou na defensiva e começou a balançar o objeto branco ao redor.

Por que estão com medo de uns ossos? Suas idiotas! O que tem pra temer? Eu tô totalmente de boa. Porque eu sou eu!

Que tipo de ossos são esses? — Haruhiro perguntou, apertando os olhos para examiná-los.

Uma mão, pelo visto. Parecia uma mão esquelética. Se não tivesse se desfeito depois do tratamento desrespeitoso que Ranta estava dando, devia haver carne seca ou algo assim mantendo tudo junto.

Hmm? — Ranta aproximou o rosto e inspecionou mais de perto. — Pelo tamanho, pode ser humano... mas os dedos são longos demais. É, muito longos. Espera, tem dedos demais. Tipo, oito?

Kuzaku se agachou ao lado de Ranta. O resto dos ossos aparentemente estava ali, escondido pela longa e branca grama parecida com capim.

... É, não parece humano — concordou Kuzaku. — Deve ser de alguma outra criatura.

Yume, Shihoru e Mary recuaram. Haruhiro se aproximou de onde estavam Ranta e Kuzaku e se agachou também.

Está usando algo que parece algum tipo de armadura metálica. Dois braços, duas pernas. Tem um rabo, então provavelmente não é humano. Nenhuma cabeça à vista. Talvez nunca tenha tido uma ou algum animal a levou. Parece estar de bruços. O objeto longo e fino parece uma espada. O redondo, isso é... um escudo, talvez? A coisa branca parecida com grama está enrolada nele.

Kuzaku agarrou a borda do escudo e puxou. A coisa branca parecida com grama se rompeu enquanto ele fazia isso.

Acho que posso usar isso?

Um paladino sem escudo é tão útil quanto uma larva, afinal de contas — concordou Ranta. — Leva isso.

Ranta jogou a mão esquelética de lado e pegou a espada. — Esta aqui não presta. Está enferrujada demais.

Haruhiro lançou um olhar desaprovador para a mão que Ranta havia jogado fora, então olhou para o corpo do homem. Bem, o corpo podia muito bem ser de uma mulher, e não de um homem, mas Haruhiro ia presumir que ele era homem por conveniência.

O homem estava armado, então isso provavelmente significava que ele era um ser consciente desse mundo. Quanto tempo havia se passado desde que ele morreu? Parecia improvável que tivesse sido apenas alguns dias. Meses? Um ano? Alguns anos? Ou talvez décadas?

Ranta, vira ele de costas — Haruhiro ordenou.

De jeito nenhum. Por que eu deveria fazer o que você manda? Vai se lascar.

Eu faço. — Kuzaku ergueu o homem e o virou. — Pronto...

Haruhiro examinou o homem de perto agora que ele estava de frente. A cabeça definitivamente havia sido cortada ou algo assim. Haruhiro conseguia ver o que pareciam ser os ossos do pescoço.

Havia caixinhas presas ao cinto do homem. Haruhiro abriu uma e tirou o conteúdo. Era escuro, duro e redondo... Isso era uma moeda? Também havia várias coisas que pareciam sementes e uma adaga enferrujada. Aquilo era uma chave, talvez? Algum tipo de ferramenta. Estava pendurada em uma corrente ao redor do pescoço do homem.

Essa corrente é bonita, pensou Haruhiro. Parece que pode ser de ouro. Mas com certeza não deve ser ouro puro.

Quando ele limpou a sujeira da parte frontal da armadura, percebeu que havia algo gravado ali, um padrão ou uma escrita. Provavelmente era escrita. O mesmo tipo de caracteres estava no objeto preto parecido com uma moeda.

Aliás, em Grimgar, ele havia ouvido que os orcs tinham sua própria linguagem única, enquanto os mortos-vivos usavam uma que se assemelhava à língua usada por elfos, anões e humanos. Provavelmente era melhor presumir que essa raça era inteligente, provavelmente no mesmo nível que Haruhiro e os outros, ou perto disso.

Haru-kun. — Yume puxou a capa de Haruhiro. — ...Sabe, Yume acha que tá ouvindo um barulho de algo se mexendo.

Ranta reagiu com um sobressalto e olhou ao redor. Mary e Shihoru se agruparam, prendendo a respiração. Kuzaku segurou o escudo do homem em posição, agachado com uma mão no cabo de sua espada longa.

Haruhiro rapidamente jogou todos os pertences do homem em sua mochila. Ele escutou atentamente.

...Farfalhar. Farfalhar. Farfalhar. Farfalhar. Farfalhar...

Ele definitivamente ouvia algo. Vinha da direção oposta ao penhasco. Deveriam ficar de olho? Fugir? Haruhiro decidiu instantaneamente. Foi um compromisso entre as duas opções. Eles recuariam, mas ficariam atentos.

Vamos nos manter em alerta enquanto avançamos — ordenou. — Ranta, Kuzaku... — Ele acenou com as mãos para que eles entrassem em formação.

Haruhiro tomou a dianteira, Mary, Yume e Shihoru formaram uma coluna atrás dele, enquanto Ranta e Kuzaku se posicionaram ao lado oposto ao penhasco. Carregar uma luz aqui seria como dizer: Venham atrás de nós. Mas, se apagassem a lanterna, ficariam na escuridão total. Também havia o risco de caírem do penhasco.

Haruhiro e os outros começaram a se mover.

Farfalhar... farfalhar... farfalhar...

Ele ainda ouvia aquele som. Estava os seguindo? Não parecia muito longe. Estava bem perto. Dentro de dez metros? Não, provavelmente menos. Estava mais perto do que isso.

Ele sentiu a necessidade de ver o que quer que fosse com seus próprios olhos. Não seria uma boa ideia? Não. Ele não conseguia decidir.

Enquanto continuava atento ao penhasco, ele ouvia qualquer sinal de mudança no som...

Isso está me deixando louco. Eu não aguento mais, pensou repetidas vezes. A cada poucos minutos. E nos piores momentos, a cada poucos segundos.

Ele queria jogar tudo para o alto e correr. Correr? Para onde...?

O fogo da lanterna está enfraquecendo. No momento em que pensou isso, a chama se apagou.

Waaah?! Parupiro, qual é! Não consigo ver nada, seu imbecil! Seu lixo! — Ranta gritou.

O óleo acabou, tá bom? Bem, agora vamos usar a lanterna da Yume—

Espera aí — disse Mary em voz abafada. — O céu...

Haruhiro olhou ao longe, além do penhasco. Ela tinha razão. Havia algo diferente no céu.

Está... amanhecendo? — Haruhiro perguntou lentamente.

Havia um cume ao longe queimando levemente. Era vermelho, ou talvez laranja. Era estranho. Normalmente, quando o sol nasce, a escuridão vai gradualmente desaparecendo da borda do céu. Ele ficaria azul ou roxo, e depois mais avermelhado. Nunca parecia assim, como se o céu tivesse pegado fogo de repente.

Ele sabia que havia mundos como o Reino do Crepúsculo. Se o céu desse mundo mudasse de maneiras estranhas, isso não seria suficiente para surpreendê-lo neste ponto.

Mas, pelo menos, isso não parece ser Grimgar ou o Reino do Crepúsculo. A constatação o atingiu com força.

Hã...?

Haruhiro inclinou o pescoço. Ele não ouvia mais o som de farfalhar. Tinha ido embora? Ou estava apenas esperando? De qualquer forma, parecia uma boa ideia sair dali enquanto tivessem a chance. Haruhiro fez um sinal para seguirem em frente.

Foi então que aconteceu.

Miuagh! — Yume fez um som estranho e caiu. Não. Ela não havia caído. Ela foi derrubada. Havia algo em cima de Yume. “Algo”, essa era a única forma que ele conseguia descrever. Ele não conseguia ver.

Ohhhhhh?! — Ranta tentava arrancar aquilo de cima de Yume.

Droga, tá muito escuro! — gritou Kuzaku.

Yume! Yume! Yume...! — Haruhiro gritou o nome da companheira enquanto corria em direção à coisa. Por estar apressado, quase perdeu o equilíbrio e caiu do penhasco, o que o deixou em pânico.

Ele podia ouvir sons de socos, golpes. Yume estava chorando e gritando.

Ele fugiu! — Ranta gritou.

Havia uma luz de vela. Era um castiçal portátil. Era Shihoru.

Shihoru se ajoelhou ao lado de Yume com o castiçal.

Yume! Aguenta firme!

O inimigo! Aquele desgraçado! Onde ele tá?! Droga! — Ranta balançava sua espada para todos os lados.

O que era aquilo?! — Kuzaku estava com o escudo pronto, ofegante.

Yume estava no caída, segurando a garganta. Havia sangue. Sangue no pescoço dela. Havia atingido o pescoço dela. Era muito sangue.

Kuh. Fuh. Fuh. Hah. Kuh. Fuh. Hah.

A respiração de Yume estava rápida, rasgada e irregular. Haruhiro ficou paralisado.

Isso não pode ser verdade. Não faça isso comigo. Que inferno é esse? Alguém, por favor, me diga que é mentira. Não, isso está errado. É uma mentira. Não pode ser real. Isso não faz sentido. Não faz sentido nenhum.

Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaah! — Haruhiro gritou.

Seu senso de responsabilidade. Seu autocontrole. Sua razão. Sua capacidade de pensar. Tudo aquilo foi destruído.

Haruhiro nem sequer se agarrou a Yume. Ele apenas ficou ali, gritando. Ele sabia de uma coisa: que não aguentava mais. Ele havia chegado ao seu limite.

Acabou. Só deixe acabar. Não, eu não posso deixar acabar, mas o que eu posso fazer? Não tenho nada em mãos, não é? Está tudo perdido, né? A Yume vai morrer.

Luz...! — Mary tocou os cinco dedos na testa, formando um pentagrama, e depois encostou o dedo médio no centro da sobrancelha para completar o hexagrama. Então, correndo até Yume, ela pressionou a palma da mão na garganta. — Que a proteção divina de Lumiaris esteja sobre você! Sacrament!

O quê? Haruhiro pensou, entorpecido. O que você tá fazendo? Você ficou maluca? Isso não vai funcionar. A magia de luz não funciona no Reino do Crepúsculo! Mesmo que aqui não seja o Reino do Crepúsculo, também não é Grimgar, então o poder de Lumiaris não deveria funcionar aqui e...

Sem dúvida, Mary sabia de tudo isso. Será que ela não conseguia desistir, mesmo sabendo? Ela havia decidido apostar em um fio de esperança?

...Ahh... Hah... — Yume piscava repetidamente. — Hã...?

O corpo dela estava envolto por uma luz fraca.

Mary rangeu os dentes. Seus ombros, seus braços, suas mãos, seu corpo inteiro tremia.

Isso não pode ser real, né? Haruhiro pensou, atordoado. Sério? Não é mentira?

...Suas feridas! — Shihoru arregalou os olhos. — Yume! Suas feridas estão fechando!

Ranta parou de balançar a espada e ficou ali, olhando para Yume, boquiaberto.

Haha! — Kuzaku riu como um louco. — Hahahaha!

Haruhiro queria rir junto. Como não querer? O que mais ele poderia fazer além de rir? Mas, por alguma razão, ele chorou.

Yume ainda não havia se levantado. A cura de Mary ainda não tinha terminado. Estava levando um tempo surpreendentemente longo para o Sacrament.

Haruhiro se ajoelhou ao lado de Yume. Finalmente, Mary puxou a mão de volta e caiu sentada. Sua respiração estava pesada. Ela parecia exausta.

Yume olhou para ela, então sorriu suavemente.

Obrigada, Mary-chan. Hã? Haru-kun, por que você tá chorando...?

Yume! — Haruhiro abraçou Yume sem realmente pensar. — Ainda bem! Ainda bem, Yume! Ainda...! Desculpa! Eu achei que você fosse morrer, então...!

Ohhh — disse Yume. — Se você apertar tão forte assim, Haru-kun, vai acabar se sujando de sangue, sabia?

Quem liga?! — ele gritou.

Tá bom então. Mas, sabe, quando você tá apertando ela assim tão forte, Yume fica feliz, mas também dói um pouquinho, viu?

D-D-D-D-Desculpa! — Quando Haruhiro tentou se afastar apressadamente, alguém deu um tapa forte na parte de trás da sua cabeça. — Ai?! Hã?! R-Ranta?! Por que fez isso do nada?!

Por nada, seu idiota de merda! — Ranta o encarou, tentando intimidá-lo.

Sério, o que foi isso? Ele era um imbecil? Um completo idiota?

Desculpa interromper, mas... — Kuzaku disse hesitante. — ...não acha que seria uma boa ideia sairmos daqui? Quero dizer, a coisa de antes conseguiu fugir...

Oh! — Haruhiro passou as mãos pelo rosto. Ah, certo. Ele tem razão. Eu perdi totalmente a cabeça. Preciso refletir muito sobre isso, mas pode esperar. Por enquanto, é melhor fazer o que Kuzaku sugeriu.

Y-Yume, consegue se levantar?! — Haruhiro exclamou. — Mary, e você? Ah, certo, alguém acende uma lanterna! Okay, agora vamos!

Antes de partirem, ele olhou mais uma vez para a cume que queimava em laranja.

O sol estava nascendo?

Ele não conseguia imaginar que esse fosse o caso.


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