Hai to Gensou no Grimgar | Grimgar of Fantasy and Ash Volume 06 Capítulo 08 [Transceder o Limite]
Eu sei, pensou Haruhiro. Deveria fazer um discurso mais impactante, algo cheio de energia.
Claro que Haruhiro adoraria fazer isso, mas nada lhe vinha à cabeça, então não havia muito o que ele pudesse fazer a respeito. Além disso, dessa vez, não parecia necessário.
— O, o, o, o, o, o, o, o, o, o, o, o, o, o, o, o, o, o...!
— O que você tá fazendo?! — Haruhiro agarrou Ranta, que estava simplesmente parado, pelo braço e começou a correr. Enquanto corria, gritou: — Sai do caminho! Não fica bem na frente dos cachorros, sai da frente!
Mesmo sem o incentivo de Haruhiro, Kuzaku, Yume, Shihoru e Mary já estavam fugindo. E não eram apenas eles. Os soldados voluntários se espalharam para a esquerda, direita e para trás, dispersando-se em todas as direções.
Ducky havia dito para não darem as costas, mas isso não era uma opção. Havia gigantes brancos com mais de quatro metros de altura correndo direto para eles. Se fossem atingidos de frente por um desses, seriam atropelados com certeza. Ou seriam pisoteados ou arremessados. Se tentassem enfrentá-los de frente, como Ranta estava prestes a fazer, seria ainda pior. Enquanto tentassem se preparar, os gigantes brancos se aproximariam, e enquanto ainda estivessem pensando: Droga, droga, o que eu faço? em pânico, seriam esmagados até a morte.
Mas, mesmo que corressem...
— Ha-Ha-Haruhiroooo! — Ranta gritou. — Tá vi-vindo um na nossa direção!
— Já sei disso!
Um dos gigantes brancos estava perseguindo Haruhiro e Ranta. Haruhiro soltou o braço de Ranta e correu ainda mais rápido. Mas logo à frente havia outro gigante branco. Onde estavam os outros? Ele não tinha tempo para olhar.
Um gigante branco atrás de mim. Outro na frente. Vou para a direita? Ou para a esquerda?
Não, não dá. Não posso ir nem para a direita, nem para a esquerda. Mas isso é só minha intuição—não, não duvide dela.
— Avança e passa por ele! — gritou.
— O quê?! Sério?! — Ranta gritou.
— Sério! — Haruhiro correu em direção ao gigante branco à sua frente.
As mãos virão primeiro. As duas mãos. Tentando me agarrar. Elas não são tão rápidas—Não devem ser, certo? Vai para o lado direito. Desvia da mão esquerda do gigante branco. Vai. Tenho que ir. Vai. Eu consigo. Esquiva!
— Yuh...!
Virando o corpo de lado, ele conseguiu evitar por pouco a mão esquerda do gigante branco. Mas que diabos foi esse “Yuh”? Haruhiro nem sabia o que isso significava.
— Ranta?! — gritou.
— Tô aqui!
De alguma forma, Ranta havia passado pela mão direita do gigante branco e parecia ter conseguido ficar atrás dele. Não era algo planejado, mas eles ouviram os dois gigantes brancos se chocarem atrás deles.
— Há! Bem feito! — Ranta rugiu.
Haruhiro não conseguia compartilhar do entusiasmo de Ranta. Pelo contrário, ele queria descontar sua frustração nele.
— Ah, merda! Aqueles também?! — gritou Haruhiro.
Claro, os que ele tinha visto no começo não eram todos. Ainda havia mais gigantes brancos vindo. E não eram só gigantes. Algo mais estava misturado com eles—ou melhor, seria mais preciso dizer que os gigantes brancos estavam misturados com outra coisa. Afinal, claramente havia mais deles.
Não, se ele não dissesse que havia muito mais deles, seria uma mentira descarada. Esses não eram os cultistas de um olho só, com ponchos brancos, avançando em massa?
Haruhiro queria se reagrupar com seus companheiros. Mas, primeiro, queria verificar se eles estavam bem. Ele verificou, e...
Como?! Ele queria gritar.
— Não se separa, Ranta!
— Ei, heyyyyyyyy?! — Ranta gritou de volta. — Isso é ridículo, sabia?!
Ele nem estava ouvindo. A atenção de Ranta estava totalmente focada nos cultistas. Bem, talvez fosse difícil culpá-lo por isso. Afinal, os cultistas comuns estavam avançando com suas lanças apontadas.
O que a gente faz? Pensou Haruhiro, desesperado.
Não havia tempo para pensar. O tempo estava muito, muito limitado. Se parassem, seria o fim. Eles tinham que seguir em frente. Mas para onde? Para onde iriam?
Ele ouviu vozes. Vozes de pessoas. Sons. Presenças. Respirações. A sua própria respiração.
À sua frente, havia cerca de dez cultistas comuns, Pansukes, ou algo em torno disso. Também havia dois cultistas de elite, Tori-sans, empunhando Lightning Sword Dolphins e escudos, talvez três? Havia mais cultistas além desses, mas esses eram os que Haruhiro precisava se preocupar imediatamente. E também havia um gigante branco, da classe de quatro metros.
Atrás deles estavam os outros gigantes brancos. Os dois que haviam colidido antes estavam se levantando. Havia alguns gigantes que tinham parado—ou sido forçados a parar? Estavam em combate? Havia soldados voluntários lutando contra os gigantes brancos?
Sim. Havia. Bem ali.
— Vamos, Ranta! — Haruhiro gritou.
— Wahhh?!
Mesmo correndo, Haruhiro não parava de olhar ao redor. Ranta estava acompanhando.
Esses são os Berserkers, né, pensou. Incrível. Mesmo nessa situação, já derrubaram um dos gigantes brancos. Não, não só um. Dois, hein.
Ducky e os Berserkers estavam trabalhando no terceiro gigante branco. Eles estavam usando ferramentas. Cordas. Com pesos nas pontas, provavelmente.
Eles jogavam as cordas, enrolando-as ao redor do pescoço do gigante. Então, puxavam em grupo, derrubando-o. Descrever era fácil, mas seria difícil jogar as cordas e fazer com que fossem para o lugar certo. Era preciso muita força para derrubar um gigante. E o timing precisava estar em perfeita sincronia.
Apesar do nome do clã, que faria você esperar que os Berserkers avançassem sem medo de contra-ataques, eles lutavam com habilidade e técnica.
Ao lado dos Berserkers, com suas três equipes, dezessete pessoas, praticamente se movendo como um único grupo, ele avistou Yume. Ou ela estava assistindo os Berserkers em admiração, ou estava olhando para o nada, porque estava simplesmente parada.
Mesmo correndo em direção a Yume, Haruhiro continuava observando. Não eram apenas os Berserkers que estavam contra-atacando. Havia soldados voluntários cercando um gigante branco de oito metros um pouco mais à frente. Um deles, corajoso e imprudente, escalava o gigante, subindo em seus ombros e acertando seu rosto.
Max. Era o Max “One-on-One”.
Max era baixo, mas carregava uma espada grossa em cada mão e golpeava, ou melhor, esmagava o gigante branco com elas. Ele desferia uma chuva de golpes no gigante.
O Iron Knuckle estava massacrando o gigante de oito metros.
Ele viu as capas brancas de Orion também. Eles haviam se espalhado em equipes individuais. Não parecia que estavam atacando ativamente. Mas também não estavam fugindo em pânico.
Os Tokkis.
Tokimune estava bem na frente de um gigante branco, com Tada atacando de lado. Kikkawa e Mimorin também estavam lá. Inui. E Anna-san.
Essa é a Mary ao lado da Anna-san, né, pensou Haruhiro. Kuzaku está lá também.
Lide com Yume primeiro.
— Aquela garota! — Ranta gritou. Parecia que Ranta também tinha avistado Yume. — Ei, Yume! Não fica aí parada!
Yume se virou na direção deles. — ...O quê?
— Vem aqui! — Haruhiro a chamou.
Ela fez um grande aceno de cabeça e começou a correr em direção a eles. Os cultistas chegariam logo, e essa área provavelmente cairia em caos total.
— Mary! Kuzaku! — Haruhiro gritou.
Ele se virou enquanto corria em direção aos Tokkis. Os cultistas já haviam chegado. Kuzaku e Mary notaram Haruhiro e os outros.
— Onde tá a Shihoru?! — gritou.
— Me desculpa! — Mary fez uma careta e balançou a cabeça.
— Não temos tempo! — Ranta berrou.
— Ela é nossa prioridade! — Haruhiro gritou de volta.
Enquanto pensava nisso, ele olhou em volta. Ele analisou a situação enquanto tomava sua decisão. Enquanto observava, Haruhiro formulou sua estratégia básica.
Bom, seremos parasitas, por assim dizer. Me sinto mal por isso, mas vamos agir como parasitas nos lutadores mais fortes enquanto procuramos pela Shihoru. Estranhamente, estou calmo, né? Talvez eu simplesmente não tenha espaço para entrar em pânico.
— A Shihoru tá desaparecida! — gritou. — Anna-san, cuidado!
Depois de gritar, Haruhiro mudou de direção e seguiu na direção do Iron Knuckle. Seus companheiros estavam atrás dele. Ranta, Yume e Mary, com Kuzaku fechando a retaguarda.
Shihoru, pensou ele. Onde você está? Shihoru. Onde você está?
Por um momento, ele temeu o pior, mas rapidamente afastou essa ideia. Os cultistas haviam se juntado à batalha entre os soldados voluntários e os gigantes brancos, o que tornaria ainda mais difícil encontrar qualquer coisa.
Mesmo assim, vou procurar. Vou procurar. Procurar por ela. Procurar por Shihoru.
— Ah, seu...! Eu também vou! — Ranta avançou para atacar um Pansuke próximo.
— Isso não vai dar certo! — Haruhiro parou Ranta, mas ele mesmo não parou de se mover.
— Eu consigo lidar com esse sozinho! — Max gritou enquanto se agarrava ao rosto do gigante da classe de oito metros, cravando sua espada no olho dele. — Massacrem os cultistas, meus irmãos!
Ele consegue lidar com isso sozinho? Do que ele está falando? Mas os caras do Iron Knuckle estão fazendo o que ele diz. Sério?
Todos os membros do Iron Knuckle, exceto Max, se afastaram do gigante branco de oito metros e começaram a atacar os cultistas.
Havia um homem que se destacava. Ele estava levemente equipado, sem capacete, e tinha um pequeno cavanhaque. Era o braço direito de Max, Aidan. Ele empunhava uma lança, algo incomum para um soldado voluntário. Ele derrubava um cultista com a haste da lança e depois o empalava no único olho com a ponta. Além disso, ele usava uma variedade de chutes para derrubar os cultistas. Ele parecia mais um artista marcial do que um guerreiro. A falta de armadura podia ser um sinal de sua confiança. E essa confiança não parecia fora de lugar. Até um Tori-san, com sua espada e escudo prontos, caiu com um chute-surpresa e uma estocada da lança de Aidan. Ele era incrível.
Os outros irmãos estavam esmagando os cultistas. Iron Knuckle já havia destruído duas bases de cultistas. Eles conheciam seus inimigos. Parecia que achavam que simples cultistas não poderiam derrotá-los. Eles não pareciam que iriam perder.
Haruhiro agiu como um total parasita. Ele se juntou ao Iron Knuckle, olhando ao redor, mas tomando cuidado para não atrapalhá-los. Ele procurava por Shihoru.
— Shihoruuuu! — Yume lamentou.
Os cultistas e os gigantes brancos continuavam chegando. Estavam se reunindo de todo o Reino do Crepúsculo?
Não seria um erro ficar aqui e lutar? Por enquanto, estavam conseguindo se manter, mas eventualmente os soldados voluntários ficariam cansados. Quando isso acontecesse, seria xeque-mate. O fim.
Mas o deus gigante estava na colina inicial. Eles poderiam passar por ele e fugir de volta para o ninho—não, para as Planícies dos Gremlins?
Shihoru. Antes de mais nada, ele tinha que pensar em Shihoru.
Shihoru.
— Não tem como ela não estar aqui! — Mary gritou.
Ela estava certa. Shihoru estava aqui. Ela tinha que estar. Em algum lugar. Ele só não conseguia vê-la.
Ele não conseguia vê-la.
Ela está em algum lugar que eu não consigo vê-la...?
— O vale! — Haruhiro gritou.
Ele podia estar errado, mas era uma possibilidade.
O assentamento dos soldados voluntários no Reino do Crepúsculo havia sido construído ao redor de um vale com uma fonte no fundo. Não era um vale profundo, mas também não era raso. Pelo menos, ele não conseguia ver o fundo daqui. De jeito nenhum. Se ela tivesse se separado dos companheiros, fugido e tentado se esconder em algum lugar, não seria esse o lugar que ela escolheria?
O fundo do vale era um beco sem saída. Não era garantido que fosse seguro. Se o inimigo a encontrasse, ela estaria em perigo imediato. Mas se ela fosse pressionada a tomar uma decisão, ela não pensaria tanto nisso.
Enquanto corria em direção ao vale, Haruhiro continuava observando. Olhando para todos os lados, ele tentava ter a melhor noção possível da situação dos seus aliados. Parecia sua obrigação naquele momento. Era assustador olhar e descobrir o que estava acontecendo. A ignorância era mais fácil para a mente, mas também era assustador à sua própria maneira.
Ele morreria de olhos fechados ou abertos? De qualquer forma, seria assustador. No entanto, se seus olhos estivessem abertos, ele poderia encontrar uma maneira de evitar sua morte iminente. Se seus olhos estivessem fechados, ele nem conseguiria resistir em vão.
Na retaguarda da party, Kuzaku foi atacado por um cultista. Era um Pansuke. Apenas um.
Haruhiro imediatamente fez meia-volta. — Kuzaku, pare aí!
— Khhh!
Kuzaku parou a lança do Pansuke com seu escudo, depois usou Thrust (Estocada). Com a espada longa de Kuzaku cravada em seu peito, mas sem perfurá-lo por causa do poncho, o Pansuke vacilou. Nesse ponto, Haruhiro já havia passado correndo ao seu lado.
Com uma parada repentina, ele se colocou atrás do Pansuke. Ele o agarrou, enfiando sua adaga no único olho do Pansuke com um golpe reverso. Ele a arrancou e correu em direção ao vale.
— Seu idiota! — Ranta gritou.
Ranta, cala a boca.
— Deixa isso comigo!
— Na próxima! — Haruhiro respondeu.
Se você resolvesse as coisas rápido e bem, eu gostaria que o fizesse. Bem, tanto faz. Estamos aqui. Esse é o vale.
— Lá está ela! — ele gritou. — Shihoru!
Shihoru estava encolhida perto da borda da fonte. Ela levantou o rosto e olhou na direção de Haruhiro.
— D-Desculpa! Eu... Eu não consegui encontrar nenhum de vocês, e fiquei com medo!
— Bem, quem pode te culpar! — Ranta gargalhou. — Vou deixar passar dessa vez, então me deixa apertar esses peitões seus!
— Ughh... — Kuzaku estava incrédulo.
— Você é o pior. Não podia ser mais baixo do que isso — disse Mary, e Haruhiro teve que concordar.
— Sua idiota! — Ranta riu alto. — Eu sempre posso ser mais baixo! É ser o mais desprezível que me faz o pior! Idiotas!
Esse é o problema dele.
— Shihoru! — Yume desceu a encosta correndo, como se estivesse rolando.
Haruhiro estava prestes a segui-la, mas então se virou e olhou. Ainda bem que o fez. — Yume! Traga a Shihoru para cá!
— Miautendido!
Isso era pra ser um “entendido”? Seja como for, estou contando com você. Temos nossos próprios problemas para resolver. Inimigos. Cultistas chegando. Cinco Pansukes. Um Tori-san. Isso é bastante. Mas se eles nos alcançarem enquanto estivermos no vale, estaremos em desvantagem porque eles terão a vantagem do terreno elevado. Vamos enfrentá-los aqui.
Até que Yume e Shihoru chegassem até eles, restavam quatro: Haruhiro, Ranta, Kuzaku e Mary.
— Kuzaku, faça o que puder! — ordenou Haruhiro.
— Entendido! Vou atraí-los para mim!
— Ranta, use ataques rápidos!
— Não precisava nem dizer!
— Mary, não se esforce demais!
— Estou bem!
— Rahhhhhhhhhhhhhhhhhhhh! — Com um rugido nada característico, Kuzaku avançou contra os cultistas. Os Pansukes estenderam suas lanças, tentando barrar o avanço.
Kuzaku usou seu escudo para bloquear—não, para desviar as lanças. Não era o Block que ele usava. Era o Bash. Além disso, ele fazia grandes balanços com sua espada longa e escudo.
— Ngahhhh! Rahhhhhhhh! Yahhhhhhhh!
A espada longa e o escudo de Kuzaku apenas desviavam as lanças dos Pansukes ou causavam golpes superficiais em seus ponchos. Ele não estava causando dano. Mas os Pansukes não conseguiam avançar. Kuzaku estava segurando cinco Pansukes sozinho. Obviamente, ele não poderia continuar assim. Além disso, havia aquele cara. Empurrando os Pansukes para o lado, o Tori-san avançou. Tori-san empurrou a espada longa de Kuzaku para trás com seu Escudo Espelhado e, em seguida, cortou imediatamente com sua Lightning Sword Dolphins.
— Leap Out! — gritou uma voz.
Era Ranta. Ele saltou de lado a uma velocidade incrível, acertando um chute no Escudo Espelhado de Tori-san. Mesmo enquanto Tori-san se desequilibrava, ele virou sua Lightning Sword Dolphins em direção a Ranta. Ranta estava tentando atacá-lo, mas seria ruim se ele fosse atingido por aquela arma. Mesmo um arranhão o deixaria atordoado. Ranta recuou com a Betrayer Mk. II. Sua forma oscilou de maneira misteriosa.
— Missing!
O golpe de Tori-san parecia ter sido enfraquecido. Ele ficou fascinado pelos movimentos misteriosos de Ranta. Ranta evitou facilmente a Lightning Sword Dolphins e se distanciou.
— Há! Droga, sou incrível! — Ranta riu.
— Nem tanto! — Haruhiro respondeu.
Haruhiro saiu pelo lado direito do grupo de inimigos, mirando nas lanças dos Pansukes com sua adaga e porrete. Mary também assumiu uma posição diagonal atrás de Kuzaku, usando seu cajado curto para interferir nas lanças.
— Dahhhh! Tahhhhhh! Nwahhhhhh! — Kuzaku balançava seu escudo e espada longa com movimentos imprudente enquanto avançava. Os Pansukes começaram a recuar, mas Tori-san avançou e atingiu a espada longa de Kuzaku com sua Lightning Sword Dolphins.
— Ngh! — O corpo inteiro de Kuzaku estremeceu. O Tori-san avançou para um golpe de seguimento. Kuzaku podia ter a melhor armadura da party, e talvez estivesse usando um elmo também, mas nem mesmo ele sairia ileso se recebesse um golpe forte de uma Lightning Sword Dolphins. Aqui, no Reino do Crepúsculo, onde a magia de luz não funcionava, ferimentos graves podiam ser fatais.
— Hah! — Mary gritou.
Se Mary não tivesse golpeado a Lightning Sword Dolphins com Knock Off (Interromper), as coisas poderiam ter ficado bem ruins.
Mary gritou, — Augh! — e caiu de costas, tremendo, mas o Tori-san quase deixou cair sua Lightning Sword Dolphins também. No final, ele não chegou a soltar, mas Kuzaku conseguiu usar aquele tempo para se recuperar.
— Por pouco! — Kuzaku desviou as lanças dos Pansukes com sua espada longa e escudo. — Ainda tenho um longo caminho pela frente!
— Você está indo muito bem! — encorajou Haruhiro.
Haruhiro tentou contornar os Pansukes por trás. Venham até mim. Ótimo. Funcionou. Haruhiro conseguiu afastar alguns dos Pansukes de Kuzaku. — Ranta, mostre sua coragem!
— Não me faça parecer... — Ranta avançou de novo, fechando a distância com um dos Pansukes. — ...tão fácil, droga! Reject!
O Pansuke avançou com sua lança. Ranta a afastou com a Betrayer Mk. II e recuou. O Pansuke caiu na armadilha e tentou perseguir Ranta.
— Avoid! — Ranta gritou.
Quando seu oponente tentou avançar, Ranta fez uma estocada em um ponto vital enquanto recuava. A habilidade de Ranta acertou em cheio. Betrayer Mk. II perfurou o único olho do Pansuke, que desabou no chão.
— Faço isso com a maior facilidade! — Ranta gritou. — Afinal, sou eu!
— Lá vai você, ficando convencido! — Haruhiro retrucou.
Haruhiro desviou as lanças de dois Pansukes com Swat, uma, duas, três vezes. Ranta havia derrotado um dos Pansukes e já estava indo atrás de outro, então Kuzaku só precisava lidar com um Pansuke e o Tori-san. Mas o Tori-san era o problema.
— Nuh! — Kuzaku usou Bash para afastar a lança do Pansuke e tentou fechar a distância entre eles rapidamente, mas o Tori-san balançou sua Lightning Sword Dolphin, forçando Kuzaku a pular para trás.
— Eu cuido de um deles! — Mary gritou.
Recuperada do efeito paralisante da Lightning Sword Dolphin, Mary tentou fazer o Pansuke se virar para ela. No entanto, mesmo em um combate um contra um, o Tori-san seria difícil. Sua Lightning Sword Dolphin era perigosa demais. Tudo o que Kuzaku podia fazer era manter a distância e ficar correndo.
— Droga! Isso é patético! — Kuzaku gritou.
— Não tenha pressa! — Haruhiro gritou enquanto continuava a usar Swat nas lanças que vinham em sua direção. Ele disse isso para Kuzaku, mas estava, em parte, falando para si mesmo.
Certo. Não posso me apressar. Olhe bem. Veja com atenção. Há reforços inimigos? Não agora. Mas não seria estranho se eles aparecessem a qualquer momento. E quando isso acontecer, eu não posso começar a entrar em pânico, pensando: “Ah, droga, estamos ferrados!”
Kuzaku estava totalmente focado em evitar a Lightning Sword Dolphin. Mary estava jogando na defensiva e Ranta não conseguia desferir o golpe decisivo. Será que ele estava esperando a oportunidade perfeita para fazer isso de uma vez? Haruhiro continuava apenas desviando as lanças. Eles estavam se segurando, mas se isso continuasse por muito tempo, poderiam acabar desmoronando. No entanto, isso não duraria muito mais.
Uma flecha voou. Essa ia acertar. O Tori-san levaria bem no rosto. Infelizmente, o Tori-san pulou para o lado para evitar.
Haruhiro olhou para trás. Yume. Ela havia subido o vale. Já estava com a segunda flecha engatilhada. Atirou. E, praticamente ao mesmo tempo...
— Ohm, rel, ect, nemun, darsh!
Logo atrás de Yume, Shihoru estava recitando e desenhando sigilos elementais com seu cajado.
A segunda flecha de Yume também errou. O Tori-san a esquivou. No entanto, ao sair do caminho da flecha, um elemental sombrio se prendeu ao chão onde ele estava prestes a pisar.
Shadow Bond.
O pé do Tori-san foi pego pelo elemental sombrio, e ele não conseguiu se mover. O Tori-san estava visivelmente agitado. Foi nesse momento que Kuzaku avançou para finalizar.
— Rahhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!
Punishment (Punição). Era fundamentalmente a mesma habilidade de Moguzo, a técnica Rage Blow (Golpe de Fúria) dos guerreiros, também conhecida como Thanks Slash (Corte de Agradecimento). Kuzaku desferiu um golpe diagonal com toda sua força. No entanto, na versão do paladino, ele se protegeria com o escudo enquanto atacava. Pelo menos, normalmente.
Kuzaku atacou com tanta força que parecia que ele ia arremessar o escudo longe, mas ele não o fez, e acertou sua espada longa na Lightning Sword Dolphin do Tori-san com toda sua força. Claro, quando ele tocou na arma, foi atordoado.
— Agh!
O corpo de Kuzaku estremeceu, e ele acabou caindo sentado. Ele sabia que isso aconteceria. Mesmo assim, ele correu o risco.
O plano de Kuzaku era derrubar a arma das mãos do Tori-san. Funcionou.
O Tori-san se abaixou e tentou alcançar sua arma caída. Ela estava a apenas alguns centímetros de distância. Graças ao Shadow Bond (Ligação Sombria), ele não conseguia se mover.
Mesmo assim, o Tori-san se esticou mais para tentar pegar a Lightning Sword Dolphin. Poderia ter conseguido, se ninguém tivesse interferido. Se Mary não tivesse atingido o punho da espada com seu cajado, arremessando-a para longe.
— Você é a melhor! — Kuzaku se levantou, então ergueu sua espada longa acima da cabeça. O Tori-san tentou cobrir a cabeça com seu Escudo Espelho. No entanto, Kuzaku não desferiu o golpe. Era uma Feint (Finta).
— Rahhhh!
Kuzaku chutou o Escudo Espelho para longe e então esmagou sua espada longa na cabeça desprotegida do Tori-san. Não apenas uma vez. Duas, três, quatro vezes ele bateu com força no topo da cabeça. Mesmo que não pudesse cortar por causa do poncho, aquele era um golpe mais forte do que o Tori-san poderia suportar. Mesmo depois que ele desabou e ficou deitado no chão, Kuzaku o atacou mais duas, três vezes, para garantir que estivesse realmente morto.
— Exhaust! Exhaust! Exhaaaauuuust! Gwahahahahahahahaaa! — Enquanto isso, Ranta se movia rapidamente com seus movimentos esquisitos para pegar a Lightning Sword Dolphin. Com a Betrayer Mk. II na mão esquerda e a Lightning Sword Dolphin na mão direita, ele empunhava duas armas ao mesmo tempo.
Espera aí... considerando a falta de força do Ranta, aquela Lightning Sword Dolphin é bem longa e pesada. Isso vai dar certo...?
— Toma essa! — Como Haruhiro havia esperado, por mais que Ranta tentasse balançar as duas armas, ele não acertava nada. Os Pansukes facilmente se esquivavam. Ele era um completo idiota.
— Escolhe uma das duas! — gritou Haruhiro.
Haruhiro ainda estava ocupado usando Swat para desviar as lanças dos dois Pansukes. Queria dizer a Ranta que não tinha tempo para essas brincadeiras.
Quero dizer, eu preciso ficar atento ao redor enquanto faço isso. É difícil. Estou me virando por um triz. Acaba logo com os seus e vem me ajudar, cara. Mas tudo bem, realmente.
— Yah! — Alguém veio, pelo menos.
Era Yume. Ela avançou ferozmente. Com uma cambalhota, desferiu um golpe poderoso com seu facão. Um dos dois Pansukes que atacavam Haruhiro foi atingido no ombro e, embora não tenha caído, sua cabeça recuou com a dor.
Raging Tiger (Tigre Enfurecido). Era uma habilidade de combate com facão.
— Tau! Tau! Tauuuu! — Com esses gritos de batalha estranhos, Yume combinou as técnicas Brush Clearer (Limpador de Mato), Diagonal Cross (Cruz Diagonal) e Brush Clearer novamente, encurralando o Pansuke.
Ela é corajosa como sempre. Esse tipo de coragem é o que se espera de um tanque. Não, com sua armadura leve, ela é ainda mais corajosa que um tanque. Dá medo assistir. Preciso apoiá-la.
Na próxima vez que desviou uma lança com o Swat, Haruhiro simultaneamente chutou o joelho do Pansuke. O impacto do Shatter (Quebrar) impediu o inimigo de se mover por um momento, o que Haruhiro aproveitou para se aproximar e acertar o queixo dele com seu porrete.
A habilidade Hitter (Batedor) originalmente servia para acertar o queixo do inimigo com a palma da mão após usar o Swat, mas Haruhiro havia aprendido a aplicá-la de outra forma. Ele estava na defensiva todo esse tempo, então provavelmente o Pansuke não conseguiu se adaptar ao ataque surpresa. Naturalmente, isso fazia parte dos cálculos de Haruhiro, por isso ele foi completamente para o contra-ataque.
Depois de acertar um Swat, Shatter e Hitter com precisão, não foi difícil derrubar o oponente. E foi exatamente isso que Haruhiro fez. Ele montou sobre o Pansuke caído, cravando sua adaga no único olho do cultista. Quando torceu e cavou a lâmina, o Pansuke logo parou de se mover.
— Haruhiro-kun! — gritou Shihoru para alertá-lo.
Quando ele olhou, mais quatro Pansukes e um Tori-san estavam vindo em sua direção. Haruhiro soltou um suspiro profundo, então arrancou sua adaga e se levantou.
Atualmente, Ranta e Yume estavam cada um lidando com um Pansuke. Kuzaku e Mary estavam atacando outro em conjunto. Havia um total de cinco reforços inimigos, e um deles era um Tori-san. Os únicos livres para agir eram Haruhiro e Shihoru. Shihoru não podia lutar de perto, e Haruhiro só conseguiria, no máximo, se defender de dois Pansukes com Swat.
— Ohm, rel, ect, el, krom, darsh!
Mas Shihoru tinha um trunfo. Um elemental negro, como uma névoa, foi em direção aos cultistas que se aproximavam. Shadow Mist (Névoa sombria). Era a versão aprimorada de Sleepy Shadow (Sombra sonolenta), que causava uma sonolência intensa no alvo.
Normalmente, seja Sleepy Shadow ou Shadow Mist, o feitiço não funcionava se fosse lançado diretamente contra um inimigo que estivesse se aproximando. Era um feitiço que só funcionava se pegasse o oponente desprevenido. No entanto, Shihoru havia descoberto que a magia Darsh era especialmente eficaz contra os cultistas.
Quando o elemental das sombras os envolveu, os cultistas começaram a cair como moscas. Ela conseguiu colocar todos os Pansukes para dormir, mas o Tori-san apenas vacilou um pouco. Ele tinha resistido, huh.
O Tori-san chutou o Pansuke que tinha desmoronado aos seus pés. Parecia que ele estava tentando acordá-lo.
— Ohm, rel, ect, el, vel, darsh! — Shihoru imediatamente lançou Shadow Echo (Eco das Sombras). Vuuuon, vuuuon, vuuuon. Com aquele som característico, três elementais das sombras, que pareciam bolas de alga negra, voaram em direção ao Tori-san. No entanto, mesmo que acertassem, provavelmente ele não cairia.
— Kuzaku! — Haruhiro gritou enquanto corria.
— Okay! — Kuzaku deixou o Pansuke para Mary e foi atrás de Haruhiro. Dois dos três elementais das sombras atingiram o Tori-san e pareciam causar algum dano, mas estava longe de ser fatal. Além disso, o Pansuke que o Tori-san havia chutado se levantou.
Se mais inimigos aparecerem agora, estamos completamente ferrados, pensou Haruhiro. Bem, ele não tinha tempo para se preocupar com isso. Foco. Tenho que focar. Focar, focar, focar.
Haruhiro repetiu isso para si mesmo enquanto avançava em direção ao Pansuke e ao Tori-san. O motivo pelo qual ele não estava tão assustado era porque não planejava lutar. Enfrentá-los diretamente estava além de suas capacidades.
Primeiro, o Pansuke avançou com a lança. Haruhiro pulou para o lado esquerdo, e dessa vez foi o Tori-san quem seguiu com outro ataque.
Estou fora de alcance, então estou seguro, pensou. Mesmo que o Tori-san desferisse um golpe com sua Lightning Sword Dolphin, ela não o atingiria. Provavelmente.
— Vem, vem, vem! — Haruhiro gritou, mais para encorajar a si mesmo do que para provocar o inimigo, enquanto esquivava da Lightning Sword Dolphin do Tori-san e da lança do Pansuke.
Logo Kuzaku chegou e usou Bash na lança do Pansuke. Quando o fez, Haruhiro previu que o Tori-san avançaria em Kuzaku. Ou melhor, esperava que isso acontecesse, mas não foi assim. Enquanto Kuzaku atacava o Pansuke com Thrust, o Tori-san começou a chutar os outros Pansukes.
Droga, pensou Haruhiro.
Nesse ritmo, os três restantes iriam acordar. Mas, se ele fosse impedi-los, teria que atacar o Tori-san. Se tentasse enfrentá-lo diretamente, sua vida estaria em risco. Era o momento de arriscar assim?
No momento em que hesitou para pensar nisso, perdeu a chance de fazer essa escolha. Já era tarde demais. Os Pansukes estavam despertos e começando a se levantar. Como já havia uma mistura caótica de aliados e inimigos por perto, eles não podiam contar com a magia de Shihoru.
— Zeahhhhhhh! — Kuzaku empurrou o Pansuke com força, mas não conseguiu desferir o golpe final. Isso porque o Tori-san interveio. Kuzaku não teve escolha a não ser fugir da Lightning Sword Dolphin.
Onde está o Ranta? A Yume? A Mary? Haruhiro tentou olhar. Não consigo olhar.
Os Pansukes que o Tori-san tinha acordado começaram a avançar em sua direção. O coração de Haruhiro acelerou, e sua respiração ficou ofegante. A pressão era intensa. Ele sentia que estava prestes a entrar em pânico. No entanto, se ele ainda percebia isso, talvez não fosse tão ruim. Seu campo de visão estava tão estreito.
As lanças. Elas estão vindo. Swat. Swat. Swat. Não, não consigo. Sinto que vou errar. Não posso me dar ao luxo de me ferir. Ahh— Uwah...
Haruhiro se jogou no chão instintivamente e rolou.
— O que você tá fazendo?! — Ranta chegou voando. Ele varreu duas lanças ao mesmo tempo com sua Lightning Sword Dolphin. Naturalmente, os dois Pansukes que as seguravam caíram, se contorcendo. Ranta tinha guardado a Betrayer Mk. II e agora estava empunhando a Lightning Sword Dolphin com as duas mãos.
— Eu te disse pra fazer isso desde o começo! — Haruhiro gritou.
Haruhiro usou Swat na lança de outro Pansuke, depois seguiu com Shatter e Slap. Sua adaga e o porrete eram armas de alcance curto, então era bem difícil acertar as mãos do oponente com elas.
Slap não era uma habilidade que ele usava com frequência, mas dessa vez funcionou bem. Os Pansukes seguravam suas lanças com as duas mãos. Quando Haruhiro acertou a mão direita de um dos Pansukes com seu porrete, ele soltou a lança. Sem perder tempo, Haruhiro usou o pomo de sua adaga para acertar o queixo do inimigo com Hitter. As pernas do Pansuke cederam, e ele caiu. Haruhiro rapidamente deu a volta, agarrou-o e usou Spider. Sua adaga afundou no único olho do Pansuke.
— Cale-se! Parupirori inútil! — Ranta gritou, preparando-se para finalizar os Pansukes que havia atordoado, levantando exageradamente a Lightning Sword Dolphin acima da cabeça. Foi quando suas mãos pararam. — Espera, tem um gigante branco vindoooooo?!
— Ranta! —Haruhiro gritou.
— O quê?! — Ranta usou Exhaust para recuar com um impulso de velocidade. Os Pansukes que ele havia atordoado avançaram com suas lanças.
Kuzaku estava correndo e evitando o Tori-san e um Pansuke. Mary e Yume estavam lidando com um Pansuke cada, e não conseguiam se mover.
Shihoru havia notado o gigante branco que se aproximava e parecia pensar no que poderia fazer com sua magia. No entanto, era pouco provável que pudesse fazer algo. Um gigante branco da classe de seis metros era praticamente impossível de ser parado pela magia de Shihoru.
Os Pansukes que haviam falhado em perfurar Ranta agora mudaram seu alvo para Haruhiro. Enquanto usava Swat contra suas lanças, Haruhiro estava horrorizado com sua própria tentativa de escapar da realidade focando apenas no Swat. Mas não conseguia pensar em nada que pudesse fazer, e não sentia que seria capaz de pensar em algo.
Era uma loucura lutar. Eles não tinham chance de ganhar.
Então, o que fazer? Fugir? Podiam ser mortos no momento em que virassem as costas para o inimigo. Alguns deles, pelo menos. Estavam cercados por todos os lados.
Era por isso que ele estava usando Swat, Swat e Swat.
Está certo?
Não havia como estar. Ele precisava tomar uma decisão.
Se se mantivessem e continuassem a batalha, estavam garantidos a morrer. Se fugissem, alguns poderiam sobreviver.
Claro, Haruhiro ficaria até o final, lutando para garantir que o maior número possível de seus companheiros escapasse. Afinal, ele era o líder. Tinha que fazer isso, pelo menos. Sim, provavelmente morreria. Não que quisesse. Não poderia fazer a coisa admirável e dizer que estava preparado para isso, mas faria o que sabia que deveria fazer.
Não importava o que acontecesse com ele. Se a vida de Haruhiro pudesse garantir a fuga de todos os seus camaradas, ele estava bem com isso. Mas não era assim que funcionaria. Mais de uma pessoa seria sacrificada. Estava especialmente ruim para Shihoru.
Além disso, mesmo que conseguissem abrir um caminho para sair dali, depois disso—Não, ele precisava focar no presente. O que era o melhor a fazer no momento? Se começasse a pensar no que viria a seguir, não conseguiria decidir nada. Mesmo que fosse apenas um deles que escapasse, ele queria que essa pessoa sobrevivesse.
O gigante branco estava a cerca de dez metros de distância. Haruhiro não tinha tempo a perder.
Enquanto desviava uma lança, Haruhiro gritou. — Fu— —
Ou começou a gritar, mas rapidamente fechou a boca.
Sem chance. Isso é simplesmente legal demais. Haruhiro usou Swat em mais um Pansuke, então gritou algo diferente. Desta vez, um nome. — Tada-san!
— Tornado Slam! (Golpe Tornado) — Tada entrou com uma velocidade incrível, girando horizontalmente e atingindo o tornozelo esquerdo do gigante branco com seu martelo de guerra. O impacto fez o gigante branco parar e olhar para Tada.
— Go, go... — disse o gigante.
— Ei, pequena porcaria. — Tada apoiou o martelo de guerra no ombro e então levantou o dedo médio da mão direita. — Vou enfrentar você. Venha.
— Ohm, rel, ect, nemun, Darsh! — Shihoru gritou.
Shadow Bond. Shihoru fixou um elemental das sombras no chão, impedindo Tori-san de pressionar Kuzaku junto com um Pansuke que o seguia.
— Haaaaa! — Kuzaku imediatamente atraiu o Pansuke para longe do Tori-san e foi atacá-lo. Usou Block contra a lança do Pansuke. Então, avançando após um Thrust, usou Bash para atingir o Pansuke no rosto com seu escudo. Depois, o empurrou, cravando sua espada longa no olho do Pansuke.
— Ranta, pegue o Tori-san! — Haruhiro chamou.
Quando Haruhiro chamou, a resposta de Ranta foi: — Morra!
Quem você está dizendo para morrer?!
Mesmo assim, Ranta começou a cruzar espadas com o Tori-san. Quando era Lightning Sword Dolphin contra Lightning Sword Dolphin, nenhum dos dois seria atordoado. O Tori-san também tinha seu Escudo Espelhado, então Ranta não conseguiria ultrapassar facilmente suas defesas, mas até um total idiota como Ranta (esse pedaço de lixo) poderia ser usado para ganhar tempo. Sem que Haruhiro precisasse dizer o que fazer, Kuzaku foi apoiar Yume e Mary.
Haruhiro usava Swat, Swat e Swat novamente para se defender das lanças dos dois Pansukes à sua frente.
O gigante branco de seis metros perseguia Tada, socando e tentando pisoteá-lo com estrondos ensurdecedores, mas, até então, sem sucesso. Tada, ainda com o martelo de guerra apoiado no ombro, desviava dos ataques com o mínimo de esforço possível. Não era exatamente ágil, mas agia com uma coragem incomum. Parecia que Tada se achava invencível, movendo-se com confiança absoluta. Mesmo que o gigante conseguisse matá-lo, não parecia que isso seria o suficiente para derrotá-lo de verdade.
Logo em seguida, Tokimune apareceu, com seus dentes brancos brilhando.
— Ainda está vivo, hein? — gritou Tokimune.
Kikkawa também estava lá. Inui, Mimorin e Anna-san estavam junto com eles. Tada e Tokimune se posicionaram de lados opostos do gigante branco, provocando-o alternadamente e o guiando habilmente.
— Yahoo, Ranchicchi! Cheguei para minha entrada triunfal! — declarou Kikkawa, desferindo um golpe contra o Tori-san.
— Seu idiota! Quem você está chamando de Ranchicchi?! — Ranta avançou imediatamente para o ataque. — Eu não deixo que as pessoas me obriguem a ficar em dívida com elas!
— Você simplesmente não consegue mostrar gratidão, Ranchicchi! Todo tsun, tsun, tsu, dere, é tão adorável!
— Cala boca! Vou te matar, Kikkawa!
— Cala a boca e mata todos eles! — disse Inui, por algum motivo com um brilho no olho não coberto pelo tapa-olho. Ele riu para si mesmo, vagando pelo campo de batalha sem rumo.
O que você está fazendo, cara? Haruhiro ficou tão perplexo que quase perdeu o timing do seu Swat.
— Ah!
— Hahh! — gritou Mimorin.
Se Mimorin não tivesse desferido um golpe com toda a sua força na cabeça de um Pansuke, ele certamente teria sido ferido, ou pior. Após o golpe com o cajado, a espada de Mimorin acertou o topo da cabeça do Pansuke com força.
Aproveitando sua constituição incomum, as técnicas de espada de Mimorin eram incrivelmente poderosas, mesmo que ela usasse mais do que apenas uma espada. Não havia técnica cuidadosa envolvida—basicamente eram golpes amplos e brutais, deixando várias aberturas. No entanto, quando acertava, seus ataques tinham força suficiente para derrotar os inimigos com um único golpe.
Aliás, elementais, que normalmente não eram visíveis ao olho humano, detestavam a maioria dos metais, então os magos precisavam evitar ferro e cobre. Contudo, se utilizassem um processo especial chamado revestimento elemental, aparentemente não havia problema. A espada de Mimorin possuía um revestimento elemental, e isso supostamente era bem caro. Apesar disso, ela não dava muita importância ao cuidado com a espada.
Mimorin chutou o Pansuke em que ela havia acabado de acertar o combo de dois golpes no chão com um “Hmph!” e depois atacou o outro Pansuke com seu cajado e sua espada.
— Você não pode machucar o Haruhiro! —gritou Mimorin. — De jeito nenhum!
Será que Mimorin está... com raiva? Pensou Haruhiro. Parece que sim.
Embora estivesse com a mesma expressão de sempre, seu rosto estava vermelho. O Pansuke tentou atacá-la com sua lança, mas Mimorin o ignorou e o golpeou com seu cajado e espada, sem piedade. Era aterrorizante a força com que ela o espancava.
Eventualmente, o Pansuke não conseguiu mais se manter em pé, caindo no chão onde estava, mas Mimorin continuou a bater nele, sem parar, até que ele estivesse completamente esmagado. Ele estava à beira da morte, se já não tivesse morrido.
Mimorin se virou para Haruhiro.
— Eu estava preocupada.
—...Isso é, uh... bem... De...s...culpa...?
— Está tudo bem. — Mimorin balançou a cabeça. — Fico feliz de ver você de novo, são e salvo.
—...Eu também.
— Sim. Isso é ótimo.
Haruhiro começou a entrar em pânico.
— Uh, uhhhh, espera, ainda tem inimigos!
— Tem.
— Precisamos matá-los.
— Eu vou matá-los.
— V-Vamos fazer isso — disse Haruhiro.
— Eu vou fazer isso.
— M-Mas... — Haruhiro olhou ao redor.
Kuzaku, Mary e Yume estavam lutando juntos contra dois Pansukes. Ranta e Kikkawa estavam dominando o Tori-san. No ritmo em que as coisas estavam indo, eles resolveriam a situação ali em breve.
Inui ainda vagava sem rumo.
Sério, o que você está fazendo, cara?
Ignorando aquele desvio sem sentido por um momento, o problema, obviamente, era o gigante branco.
— Venha! — Tokimune bateu sua espada no escudo.
— Go, go... — O gigante branco se abaixou e balançou seu braço direito.
— Haha! — Tokimune se esquivou do braço que avançava, evitando-o maravilhosamente.
— Aqui! — Tada chamou o gigante branco.
O gigante branco olhou para Tada, e o encontrou. Ao invés de usar as mãos, ele tentou chutar Tada. Foi por pouco. Tada rolou para a esquerda, escapando por pouco do pé direito do gigante branco.
A primeira coisa que Tada havia feito foi acertar o martelo de guerra na canela direita do gigante branco. Embora houvesse uma clara marca de impacto, os movimentos do gigante não mostravam sinais de estar realmente ferido.
— Matem ele! Matem de uma vez, yeah?! —gritou Anna-san. Anna-san podia gritar e encorajá-los até ficar rouca, mas seria um pouco difícil cumprir isso.
Shihoru segurava seu cajado, olhando em volta inquieta. Parecia que não havia nada que ela pudesse fazer, nenhum feitiço que pudesse lançar.
Se fosse um gigante branco da classe de quatro metros, talvez ela pudesse fazer algo, mas contra um gigante de seis metros, seria muito difícil. Se houvesse mais obstáculos ou algo em que ela pudesse subir, talvez ela pudesse pensar em algo melhor... quem sabe? De qualquer forma, na situação atual, ela não conseguia encontrar uma maneira de atacar.
— Haru?! — Mary gritou seu nome. Haruhiro estava sendo questionado sobre o que fazer.
Não me pergunte. Ele ficou frustrado. Calma, calma, calma. Olhe, e pense. Isso mesmo. Olhe.
Seu corpo de repente flutuou.
Não. Não era que Haruhiro estivesse realmente flutuando. Isso era óbvio. Nunca poderia acontecer. Era uma coisa mental, por assim dizer. A mente de Haruhiro saiu do corpo—uma experiência extracorpórea, talvez? Ele nunca havia experimentado uma antes, então não podia dizer com certeza que era isso o que se sentiria, mas estava vendo coisas que não deveria ser capaz de ver enquanto estava em pé no chão.
Durou apenas um instante.
Talvez fosse uma alucinação. Ou melhor, tinha que ser, certo? Mas... eu consegui ver. Ou, pelo menos, senti que consegui.
Naquele instante, Haruhiro estava olhando de cima para o gigante branco da classe de seis metros. Os vários cultistas, os outros gigantes e os outros soldados voluntários também—ele conseguiu ver toda a área.
Era uma maneira estranha de enxergar as coisas. Não era como se estivesse vendo claramente com os olhos, mas também não era vago ou embaçado. Era como um desenho, ou um diagrama detalhado. O que quer que fosse, ele teve um lampejo de inspiração graças a isso.
Era o tipo de ideia que o fazia pensar: Por que isso não me ocorreu antes? Não que ele pudesse evitar.
— Bem, sabe, eu sou só um cara comum, afinal de contas — murmurou Haruhiro.
— Você é especial, Haruhiro — disse Mimorin com uma expressão abatida. — Para mim.
— ...Obrigado.
Eu fui e agradeci sem pensar. Não acho que seja bom fazer isso. Preciso dar um corte mais firme nela. Vou ser mais cuidadoso da próxima vez. Por enquanto, vou me concentrar em fazer o que precisa ser feito. É isso.
— Vamos derrubá-lo no vale — disse Haruhiro, ao que Mimorin assentiu, mas depois inclinou a cabeça de lado, confusa.
— Como?
— Sim. Esse é o problema...
— Você consegue se tentar — ela o encorajou. Mimorin estava agindo como sempre, e isso era estranhamente calmante.
Quando Haruhiro e Mimorin se moveram, Kuzaku, Mary e Yume os acompanharam. Ranta e Kikkawa pareciam precisar de mais tempo para derrubar o Tori-san. Anna-san havia se movido para perto de Shihoru em algum momento. Além disso, Inui também estava ali.
Haruhiro encontrou o olhar de Tokimune. — Para o vale! — tentou comunicar com essas poucas palavras e um gesto.
Tokimune lhe deu um sorriso largo e cheio de dentes, então ele devia ter entendido—certo? Provavelmente estava tudo bem.
— Venha, venha, venha! — Tokimune estava batendo no escudo e tentando atrair o gigante branco para ele, como vinha fazendo o tempo todo, mas agora claramente direcionava o curso para o vale do assentamento.
Tada era um esquisitão, mas de forma alguma lento, então ele certamente entenderia o plano.
— Mimorin, proteja a Anna-san! — Haruhiro disse a ela e acelerou. Ele precisava avançar e encontrar um bom lugar. Ele tinha uma ideia.
Naquele vale com a nascente, havia algumas encostas que eram suaves e fáceis de subir ou descer, mas também havia outras íngremes que poderiam ser chamadas de penhascos. Primeiro, precisavam conduzir o gigante até a borda do penhasco. Será que ele conseguiria...? Bem, segundo Mimorin, ele conseguiria se tentasse. Ele ia fazer isso.
Ele analisou por conta própria a localização do penhasco que tinha em mente. Ali tinha cerca de dez metros de profundidade, talvez. Isso não era tão raso; seria suficiente.
O gigante branco estava se aproximando, conduzido por Tokimune e Tada. Ranta e Kikkawa pareciam ter derrotado o Tori-san também.
Havia mais sete ou oito cultistas e um gigante branco de quatro metros vindo na direção deles. Ele preferia que não viessem, mas não ficou surpreso. Era sempre muito evidente onde os Tokkis estavam.
Isso fez Haruhiro perceber mais uma vez que sua party, sozinha, não era suficiente. E não apenas por uma pequena margem. Estavam longe de ser o bastante.
Ele já estava ciente disso, é claro. Mas será que não estava começando a se enganar? Se algo acontecesse, não havia garantia de que os Tokkis estariam lá para ajudá-los. Na verdade, até um momento atrás, eles estavam à beira da derrota. Os Tokkis só apareceram por acaso. Foi por isso que sobreviveram. Foi um pouco de sorte. Ou, colocando de outra forma, se não tivessem tido um pouco de sorte, teriam havido baixas.
A diferença entre a vida e a morte era fina como papel. Um erro, ou até mesmo um pouco de má sorte, e poderiam tropeçar e atravessar essa barreira fina entre uma e outra.
Foi assim que Manato e Moguzo os deixaram. Eles se foram para longe, para um lugar onde Haruhiro e a party não poderiam alcançá-los. Não seria estranho que qualquer um dos outros os seguisse para lá. Muitas vezes antes, eles já haviam se encontrado nesse ponto de decisão. Era apenas porque, de alguma forma, os caminhos que Haruhiro escolhera os levaram à “vida” que ele e o resto da party ainda estavam aqui. Desta vez, havia sido o mesmo.
Se escolhessem o caminho errado e fossem para a “morte”, não haveria volta.
Era um pensamento vertiginoso. Ele não queria mais fazer isso. Queria viver em paz. Provavelmente, não seria impossível se ele tentasse. Poderiam encontrar algum tipo de trabalho em Altana, ganhar dinheiro dessa forma. Haruhiro havia mudado desde que se alistara como soldado voluntário. Se tentasse agora, com certeza não seria impossível para ele.
Eu vou pensar seriamente nisso.
Depois, claro.
Se eu sair dessa inteiro.
— Haruhiro! — Tokimune correu até ele. — Saia daí! Deixe isso comigo!
— Okay! — Haruhiro correu para a direita. Enquanto cortava o caminho por entre as tendas que os mercadores haviam abandonado, ele manteve os olhos em Tokimune, que estava prestes a alcançar a borda do penhasco.
— Go, go, go! — O gigante branco perseguia Tokimune.
Tokimune parou abruptamente, virando-se para enfrentar o gigante branco. O penhasco estava logo atrás dele naquele ponto. — Eiii! Me pega se puder!
— Go... — O gigante branco, no entanto, parou.
Ah... ele percebeu?
— Seu idiota, é óbvio demais! — Ranta zombou de Haruhiro.
Ele poderia até aceitar isso de qualquer outra pessoa, mas quando aquele pedaço de lixo dizia, doía. Ou melhor, Haruhiro ficou em choque.
Mas ainda não acabou.
— Plano B! — alguém gritou.
Sim. Ele também estava ali. O sacerdote que um dia fora guerreiro, que ainda era quase um guerreiro. O homem com o grande martelo de guerra. Ele, que não conhecia o medo, o Sr. Devastador dos Tokkis.
Tada.
Tada investiu contra o gigante branco por trás e deu uma cambalhota. — Somersault Boooooooooomb!
Seu martelo de guerra explodiu no tendão de Aquiles do gigante branco—ou onde ele estaria, se gigantes brancos tivessem tendão de Aquiles—e fez pedaços da sua carne, ou seja lá do que ele fosse feito, voarem por todos os lados.
Plano B.
Espera, o que é isso? Haruhiro pensou, atordoado.
Se tivesse que adivinhar, atrair o gigante até a beira do penhasco era o Plano A, e arrastá-lo ou empurrá-lo para fora era o Plano B. Haruhiro, honestamente, só havia pensado no Plano A. No entanto, com a força de Tada...
— Go, go! — O gigante branco tentou se virar enquanto cambaleava. Foi quando aconteceu.
— Delm, hel, en, balk, zel, arve! — Mimorin gritou.
— Jess, yeen, sark, kart, fram, dart! — Shihoru acrescentou.
Houve um clarão de luz e uma explosão de fumaça no peito do gigante branco, enquanto vários raios atingiam seu rosto e ombros. Blast e Thunderstorm. Elas haviam combinado seus feitiços ou era coincidência? Mimorin e Shihoru lançaram seus ataques mágicos simultaneamente. Mesmo o grande gigante branco da classe seis metros teve que se curvar para trás com isso.
Ah, claro, Haruhiro percebeu. Faz sentido. Se o poder de um feitiço não é suficiente, elas podem simplesmente combiná-los. Essa é uma forma de fazer, huh.
— Vuuush! — Yume usou Rapid Fire, disparando várias flechas em rápida sucessão, mirando no único olho do gigante branco. Em uma ocorrência notavelmente rara, Inui seguiu o exemplo e disparou sua própria flecha.
— Aieeeeeeee! — Anna-san gritou e pulou no ar. — Vai se foder!
— Tokimune-san! — Haruhiro começou.
Sem que Haruhiro precisasse dizer mais nada, Tokimune se afastou da beira do penhasco.
— Delm, hel, en, balk, zel, arve!
— Jess, yeen, sark, kart, fram, dart!
Mais um disparo. Não, dois disparos. Blast de Mimorin e Thunderstorm de Shihoru deram o último empurrão, forçando o gigante branco a se curvar ainda mais para trás. Nesse ponto, ele não conseguiu mais se segurar. Não conseguiu manter-se de pé.
O gigante branco parecia estar ciente do penhasco, mas precisava mover sua perna esquerda naquela direção para se apoiar. No entanto, não havia chão ali. Afinal, era um penhasco.
Caindo. O gigante branco estava caindo.
![Hai to Gensou no Grimgar | Grimgar of Fantasy and Ash Light Novel Volume 06 Illustrations](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi8IJTe36kxQJeoyW23Bloh2PsoLfBar_5JbBI4Qz0WXa_YJ3kppsownRtSSVm-3wC-GnZpzyr_DhHzGEeFVhlkBTCAvWjdbTOf8Ym6oKuz5lZBQoRw2_mI4C9JhapDvpbYp3rUH2kh6wqE8hurx5mgD2XvyGQi7hZIRKZKxxzv77xrfW92QH5lSw-Slx0/s1600-rw/Hai%20to%20Gensou%20no%20Grimgar%20Ilustra%C3%A7%C3%B5es%20Vol%2006_11.webp)
Boa! — Kuzaku ergueu o braço com entusiasmo.
Mary colocou a mão sobre o peito, olhou para o céu e soltou um suspiro de alívio.
— É isso aí! — Yume sorria de orelha a orelha.
— Viu, eu falei! — Ranta gritou, tão empolgado que já estava falando besteira.
— Feliz Ano Novo! Uau! — Kikkawa disse algo que fazia ainda menos sentido.
Por que de repente é Ano Novo?
Haruhiro não queria acabar com a animação deles, mas aquilo não era o fim. Ele respirou fundo.
— Próxima rodada! Seis Pansukes, dois Tori-sans, e um gigante da classe quatro metros! Estão vindo!
— Hahahahaha! — Tada riu, empurrando os óculos com o dedo indicador esquerdo. — É ótimo não faltar inimigos pra esmagar.
— Podemos enfrentá-los com alegria e bom humor, hein! — Tokimune parecia estar realmente se divertindo. — Vamos nessa, pessoal! Anna-san, estamos contando com você pra nos animar!
— Podem deixar comigo, tá?! — Anna-san estufou o peito com orgulho e estendeu o punho para frente. — Enquanto o sol estiver no céu e Anna-san estiver no chão, a vitória será de vocês! Todo mundo, fight for Anna-san!
Então agora tudo é por causa da Anna-san? Haruhiro não tinha certeza se concordava com isso, mas os outros estavam vibrando, e parecia que a moral deles estava melhorando, então ele decidiu deixar passar.
— Ranta, pegue um dos Tori-sans! — ele gritou. — Kuzaku, lide com o máximo de Pansukes que conseguir!
— Eu vou, então é bom me respeitar, Parupiro! — Ranta berrou.
— Tá! —Kuzaku respondeu.
— Mary, Yume, Shihoru, fiquem juntas por enquanto!
— Entendido!
— Miau!
—...Okay!
— Tada! — Tokimune saiu correndo. — Vamos pegar o gigante branco!
— Eu posso fazer isso sozinho — Tada se gabou.
— Me inclui nessa também! *Sinal de paz, *sinal de paz! Yay, yay, yay! — Kikkawa gritou.
Tada e Kikkawa seguiram Tokimune. Parecia que Mimorin ficaria protegendo Anna-san. Enquanto isso, Inui vagava sem rumo perto de Shihoru.
Sério, qual é a desse cara?
Kuzaku podia lidar com três dos Pansukes, enquanto Haruhiro, Mary, Yume e Shihoru cuidariam rapidamente do restante. Um dos Tori-sans iria para Ranta, mas e o outro?
Haruhiro provavelmente podia contar com Tokimune, Tada e Kikkawa para cuidar do gigante branco. Ele deu uma olhada em direção ao vale. Eles não tinham exatamente derrotado o gigante de seis metros, então era certo que ele subiria de volta ali eventualmente. Precisavam acabar com os reforços antes disso e dar o fora dali o mais rápido possível.
Rápido. Mas sem pressa.
Tada avançou contra o gigante branco.
É impressionante ele fazer isso sem medo.
Kuzaku corajosamente, usou Bash nas lanças dos Pansukes, desviando-as com sua espada longa. O paladino da party não era um louco como Tada. Por causa disso, Haruhiro pensou: Caramba, Kuzaku é incrível. Ele é demais, sério. Talvez ele tivesse Mary a agradecer por isso. É, ele provavelmente não queria parecer patético na frente da pessoa que ama.
De qualquer forma, Haruhiro não deixaria o esforço de Kuzaku ser em vão.
Ele podia ver a linha.
Aquela linha tênue e brilhante.
Não era reta. Ela se curvava e torcia várias vezes. Era uma proposta oferecida pela sua consciência situacional, que surgia de suas observações, combinada com suas previsões baseadas na experiência.
Ei, se eu fizer isso agora, não vai dar certo? dizia. Se ele atrasasse um décimo de segundo, não serviria mais. No caso de Haruhiro, felizmente, seja por hábito ou outra força, ele nunca hesitava quando via a linha—ou melhor, quando ele a via, já estava em movimento.
Com passos suaves, ele passou por um dos Pansukes, enterrando sua adaga no único olho do cultista enquanto fazia isso.
Ao puxá-la, ele realizou um Shatter no Pansuke ao lado, e em seguida, usou seu porrete em sua mão esquerda para aplicar um Hitter no queixo de outro Pansuke.
Para finalizar, ele acertou mais um Shatter em outro Pansuke. Depois, recuou.
— Ohhhhhhhh! — Kuzaku dispersou os Pansukes com sua espada longa e escudo. Um Pansuke estava morto, e três haviam sido pegos de surpresa por Haruhiro, o que os desorganizou, impossibilitando que eles parassem Kuzaku.
Devemos nos jogar neles agora? Não, Haruhiro pensou.
— Ah! —Kuzaku recuou rapidamente. Quando alguém balançava a Lightning Sword Dolphin na direção dele, tudo o que ele podia fazer era evitar.
Era um Tori-san. Dois deles, na verdade. O que Ranta estava fazendo?
— Exhaust!
Lá estava ele. Até que enfim.
Ranta saltou e atacou um dos Tori-sans pelo lado. Houve um grande impacto quando a Lightning Sword Dolphin se chocou com a do Tori-san. Ranta venceu o embate e desequilibrou o oponente. Mas havia dois Tori-sans. O outro fez uma investida contra Ranta.
— Exhaust! — Ranta disparou para trás a uma velocidade incrível.
Se os Tori-sans o perseguissem, estariam caindo diretamente na armadilha de Ranta. Infelizmente, eles não caíram. Os dois Tori-sans concentraram seus ataques em Kuzaku.
— Droga! Não consigo lidar com dois deles! —Kuzaku foi forçado a correr de um lado para o outro.
Os Pansukes aproveitavam essa abertura para tentar se reagrupar.
— Rantaaaa! — Haruhiro gritou, sem conseguir se conter.
— Estou só começando, tá bom? — Ranta contorceu o corpo todo e assumiu uma pose estranha, com a Lightning Sword Dolphin de lado. — Óh, Escuridão! Óh, Senhor dos Vícios! Dread Wave!
Talvez sua pose ridícula tenha chamado a atenção, porque não foi só Haruhiro—os Pansukes e os Tori-sans também ficaram olhando para ele.
Bem, como se algo fosse acontecer, né.
Era óbvio. Não era só o Deus da Luz, Lumiaris, que não tinha poder no Reino do Crepúsculo. O Deus das trevas, Skullhell, também não tinha.
— Huh? — Haruhiro observou surpreso e desanimado. — O quê? Como assim?
— Hmph... — Ranta olhou para o chão. —Esqueci completamente que não posso usar magia aqui.
— Seu estúpido, Rantaaaa! — Yume gritou.
Ranta era mesmo um completo imbecil, e um lixo, além de irremediável, mas o inimigo havia parado de se mover. Mesmo que fosse um efeito inesperado da idiotice dele, como soldados voluntários, eles deveriam aproveitar ao máximo.
— Ohm, rel, ect, el, nemun, darsh!
Shadow Bond. Shihoru prendeu um elemental das sombras no chão onde os dois Tori-sans estavam. Eles não se moveriam daquele lugar por um tempo.
— Vamos pegar os Pansukes! — Haruhiro ordenou imediatamente, e Kuzaku avançou contra eles.
— Zeeah! Rahhh! Oryahhhhh! — ele gritou.
Haruhiro circulou por trás dos Pansukes. Yume sacou o facão e veio na direção deles, desferindo golpes. Mary não saiu de perto de Shihoru.
De repente, apesar de Haruhiro não ter visto a linha, ele teve a sensação de que poderia derrubar um deles. Tenho que matá-los quando posso, ele pensou. Okay, agora é a hora... Mas, quando ele foi para um Backstab, alguém inesperadamente roubou sua chance.
— Heh! — Era Inui. Aquele devasso Inui aterrissou com um chute nas costas do Pansuke, derrubando-o, e então pisou com força no maxilar do cultista.
Crack. Houve um som desagradável, e o pescoço do inimigo se curvou em uma direção que não deveria.
— Eu sou Inui! Aquele que traz a destruição dos céus!
Certo, foi impressionante e tudo, mas veio do nada. Você me assustou.
Inui se virou para Shihoru, com um brilho misterioso no único olho que não estava coberto pelo tapa-olho.
— Óh, minha noiva predestinada, trilhe o caminho da carnificina comigo!
— De jeito nenhum. — Foi uma resposta imediata, e em um tom bastante firme para Shihoru. Bem, é claro que seria.
— Heh... — Inui se virou e foi embora. — Por enquanto, me despeço...
Espera, como assim? Você está indo? Para onde, inferno?
Não estava claro, mas Inui correu para longe.
Bem... Talvez devêssemos apenas deixá-lo fazer o que quiser? Quero dizer, ele não precisa voltar se não quiser. Temos problemas suficientes para cuidar de nós mesmos.
Tokimune, Tada e Kikkawa circulavam o gigante branco enquanto o atacavam. Parecia que Tokimune e Kikkawa estavam distraindo e servindo de isca, enquanto Tada era o responsável pelos golpes pesados. O gigante branco já tinha danos em ambas as pernas. Pelo ritmo das coisas, parecia que os três conseguiriam derrubá-lo, mas não seria rápido.
Ainda havia tempo antes que os Tori-sans se libertassem de Shadow Bond ou que o efeito acabasse. Nesse tempo, se conseguíssemos eliminar os quatro Pansukes...
Mas, enquanto Haruhiro pensava nisso...
— Delm, hel, en, balk, zel, arve!
...Os Tori-sans foram lançados ao chão. Era o feitiço Blast.
Eles foram jogados contra o solo, rolando um pouco—mas estavam se levantando. Não parecia que estavam completamente ilesos, mas também não pareciam ter sofrido ferimentos graves.
Miiiimoriiiin, Haruhiro lamentou em silêncio. Droga, esses ponchos são realmente resistentes.
— Ah, tá bom... — Haruhiro murmurou para si mesmo, tentando mudar seu estado mental. Não havia como mudar o que já tinha acontecido. Kuzaku, Haruhiro, Ranta, Yume, Mary, Shihoru e Mimorin teriam que lidar com os dois Tori-sans e os quatro Pansukes.
Temos até a Anna-san nos apoiando, então temos a vantagem numérica, sabe. Podemos fazer isso. Devemos conseguir. Tenho certeza. Provavelmente.
Kuzaku mantinha três dos Pansukes sob controle, enquanto Yume lidava com o outro. Ranta parecia estar mirando em um dos Tori-sans. Se ele não o fizesse, estariam encrencados.
Enquanto mantinha os Tori-sans sob vigilância, primeiro teriam que reduzir rapidamente o número de Pansukes, e então—
Haruhiro deu uma olhada em direção ao vale, só para garantir.
Ele olhou de novo para confirmar o que estava vendo.
—...Já?
Isso é terrível.
Não era aquele gigante branco da classe de seis metros tentando subir do vale?
Foi um choque, mas Haruhiro não perdeu a cabeça. Ele não podia afirmar que isso estava dentro de suas expectativas. Estava focado em outras coisas, afinal. Mas eles só tinham que lidar com isso.
Os soldados voluntários estavam recuando.
Eles estão fugindo?
Para onde vão correr?
E por quê?
— Aquilo, hein... — ele percebeu. Desta vez, ele não conseguiu evitar perder a calma.
Do sul.
Algo estava vindo.
Era grande, branco e se contorcia.
Bom, claro. Claro que eles fugiriam. Eu também quero correr. Não há escolha a não ser fugir dessa coisa.
A altura não era tão enorme, embora parecesse maior do que o gigante de seis metros. O problema era o comprimento. Era de vinte metros de comprimento, talvez vinte e cinco. Talvez até chegasse a trinta metros. Quem sabe até mais.
A hidra.
Era uma criatura gigantesca e inquietante, que parecia com nove cobras de dois a três metros de diâmetro todas emboladas juntas. Se ela os atacasse, o que fariam?
Haruhiro, claro, fugiria até os confins do mundo. Essa seria a reação normal.
Parecia que Iron Knuckle, os Berserkers e Orion concordavam com Haruhiro. Eles também eram humanos. Ainda bem. Isso era bom? Não? Não era particularmente bom.
Haruhiro não perdeu tempo para pensar no que fazer.
— Tokimune, é a hidra! Temos que correr!
— Whoa...! — Tokimune tomou sua decisão rapidamente. — Okay, todo mundo corra! Protejam a Anna-san!
— Justo quando estávamos quase terminando aqui. Droga. — Apesar de reclamar enquanto fazia isso, Tada colocou o martelo de guerra no ombro e começou a correr.
— Corram, corram, corraaaam! Corram! —Kikkawa estava animado até em um momento como aquele.
Apesar de Anna-san ser a líder de torcida do grupo, ela estava rangendo os dentes de frustração de forma audível.
— É hora de uma retirada estratégica, yeah, droga! Não temos escolha, entendeu?!
— Vamos. — Mimorin agarrou Anna-san pela nuca e a arrastou.
— Miau...! — Yume se virou e fugiu.
— Justo quando eu ia mostrar o quanto sou incrível! — Ranta também saiu correndo.
Mary hesitou.
— Eu vou ficar bem, então vá! — Kuzaku não recuou. Ou melhor, ele não podia. Se tentasse, os Pansukes o cercariam e o espancariam até a morte.
— Haruhiro-kun...?! — Shihoru olhou para Haruhiro.
— Vai, Shihoru! Você também, Mary! — Haruhiro correu o mais rápido que pôde, tentando forçar-se a ver, ver!—Aquela linha. Era em momentos como esse que ele realmente queria ver.
Mas, claro, nada era tão conveniente assim.
Haruhiro não era um herói. Era apenas um líder. É por isso que não tinha escolha a não ser fazer o que deveria e o que podia como líder.
— Kuzaku, detona eles! — gritou.
— Entendido! Rahhhhhhhhhhhhhhhhhhh! — Kuzaku usou sua espada longa para afastar várias lanças e então usou Bash no Pansuke à sua frente. — Dahhhhh! Gahseahhh! Rahh! Nwahhhhhhhh!
Sem parar, Kuzaku balançava sua espada enquanto se protegia com o escudo, avançando. Mesmo quando as lanças dos Pansukes acertavam sua armadura, ele as ignorava e continuava avançando.
Kuzaku estava usando uma armadura de placas robusta. Dito isso, quando ele recebia um golpe forte, ainda tinha que doer. Pelo menos ficaria com hematomas.
Aguenta firme. Aguenta firme, por favor, Kuzaku.
— Aí! — Haruhiro agarrou um dos Pansukes, não por trás, mas de lado, e o estrangulou com o braço esquerdo enquanto cravava sua adaga no único olho do cultista.
Isso foi forçado agora, não foi? Se eu tivesse errado o tempo, teria ficado em perigo. Que medo...!
Ele sentia uma massa gelada de medo se agarrar ao estômago. Mas e daí? Que diferença fazia?
Haruhiro se aproximou de outro Pansuke, desferindo um combo com Shatter e Hitter. Mais um Pansuke tentou acertá-lo com sua lança, mas ele saltou para evitar. Mesmo gritando internamente Ah, droga, ah, droga, me dá um tempo, ele rebateu a lança duas vezes com Swat.
Enquanto gritava em pensamento: Sério, me dá um descanso, argh!, ele avançou e usou Arrest (Detenção) para segurar o braço do Pansuke, seguido de uma rasteira para derrubá-lo.
— Assuh! — Kuzaku soltou um grito misterioso para se animar e usou Bash para derrubar um Pansuke.
Agora, vamos correr, pensou Haruhiro.
Ele não precisava dizer nada para que essa mensagem fosse entendida. Haruhiro e Kuzaku começaram a correr ao mesmo tempo.
— Ha ha! — Kuzaku ria enquanto corria. — Isso é incrível! Ha ha ha! Simplesmente incrível!
Não, doido, agora não é hora de rir. Bem, não é que eu não entenda como ele se sente. Kuzaku também deve ter ficado com bastante medo. Agora que está livre disso, ele está sentindo um certo êxtase. Mas será só isso? Ele está aproveitando essa situação horrível a ponto de não conseguir se conter. Será que isso faz parte? A adrenalina disso tudo é viciante. Eu quero viver em paz. É como eu realmente me sinto, mas a questão é se posso. Como seria uma vida sem coisas assim? Surpreendentemente, menos entediante do que eu poderia imaginar...?
Os Pansukes, os Tori-sans e o gigante branco de quatro metros os perseguiam. Atrás deles havia soldados voluntários, cultistas, gigantes brancos e até mesmo a hidra.
Para onde estavam indo era o vale, onde o gigante branco de seis metros estava prestes a sair.
Isso é terrível. Me sinto péssimo. Queria que isso fosse apenas um sonho. Alguém pode me substituir? Eu quero uma ajuda aqui, sabe? Não estou brincando. Se alguém nos salvar e garantir a segurança dos meus camaradas e a minha, eu farei qualquer coisa. Sério. Não importa o que for.
Eu não quero passar por isso. É estressante demais, entende? Cara, estou de saco cheio disso. Não tem nada de divertido nisso, certo?
Eu acho que podemos morrer também. Dessa vez, talvez seja o nosso fim. O que acontece quando morremos? Vamos para o céu? Ou para o inferno, talvez? Deixamos de existir? Voltamos ao nada?
Eu não quero morrer. Tenho medo de morrer. Não quero. Não, não, não quero isso.
É. Eu sabia. Não preciso disso. Esse tipo de situação. Não me importo com um pouco de emoção de vez em quando, mas não preciso desse negócio extremo de vida ou morte. Haruhiro sentia isso com bastante clareza. Eu quero viver em paz!
Tokimune e os outros que tinham ido à frente pareciam estar fazendo um desvio ao redor do vale para alcançar a colina inicial.
Será que vão conseguir evitar o gigante de seis metros por esse caminho? Pensou Haruhiro. Ou não? Não sei, talvez possa ir para qualquer lado.
Não parecia que seus perseguidores iriam alcançá-los por enquanto.
Mesmo que a rota fosse um pouco questionável, eles tinham que segui-la.
O gigante de seis metros já estava fora do vale até a cintura. Ele se apoiava com o braço esquerdo e balançava com o direito.
— Go, go, go, go, go! — gritava o gigante.
Ele estava tentando esmagar Tokimune e Tada com sua mão direita.
— Cuidado! — Haruhiro gritou.
Eles não precisavam que ele dissesse isso. Tokimune, Tada e até mesmo Kikkawa se jogaram no chão para escapar da mão direita do gigante branco.
O gigante branco se apoiou com os dois braços e ergueu o corpo. Enquanto fazia isso, Mimorin e Anna-san, Ranta, Yume, Shihoru e Mary passaram na frente dele.
Inui estava desaparecido. Mas quem se importava com aquele depravado?
Haruhiro e Kuzaku ficaram parados, incapazes de se mover.
— Whoaaaaaa? — Haruhiro gritou.
— O q-qu-qu-qu-quê...? — Kuzaku gaguejou.
O gigante branco de seis metros de altura levantava-se bem diante de seus olhos. Para ser mais preciso, ele acabara de sair do vale, então ainda estava de joelhos, mas ainda assim, era imenso. Enorme. Se eles parassem ali, os inimigos que estavam atrás os alcançariam. Seria como dizer: Sim, por favor, tentem nos acertar, tanto para o gigante branco quanto para os outros inimigos.
Haruhiro deu um tapa nas costas de Kuzaku. Era uma questão de vida ou morte.
— V-Vai! Corre! Temos que ir!
— Guhsuh!
O que diabos “guhsuh” quer dizer?
Isso não ficou claro, mas Kuzaku saiu correndo. Sua forma de correr era um tanto desajeitada, no entanto. Não que a de Haruhiro fosse muito melhor.
Como poderíamos correr direito agora?
— Go, go...!
O gigante branco tentou socar Kuzaku e Haruhiro com a mão esquerda, ainda de joelhos, ou talvez estivesse tentando agarrá-los e esmagá-los.
— Bwuh...! — Kuzaku se jogou no chão de cabeça, evitando a mão direita do gigante.
— Ah...! — Haruhiro rolou para evitar o golpe.
— Go, go, go!
Agora era a mão esquerda. Ela desceu sobre eles.
— Uwahhhhhhhhhhh?! — Kuzaku largou o escudo e continuou a rastejar. Estava desesperado.
Claro, Haruhiro também corria feito um louco com fogo no rabo.
— Nnnngh! — ele grunhiu.
Vai me acertar? Vou ser esmagado?
Quando o chão tremeu violentamente, ele soltou um grito estranho. Parecia que ele havia escapado.
— M-meu escudo! — Kuzaku arfou.
— N-n-n-n-não vale sua vida, tá?! — Haruhiro gritou.
Ele levantou!
O gigante branco levantou!
— Go! Go, go! Go! Go, go! Go! Go, go, go! — O gigante branco de seis metros de altura se levantou e dançou. Não, talvez não estivesse dançando, mas a forma como vinha em direção a Haruhiro e Kuzaku parecia seguir os passos de algum tipo de dança.
Eu nem sei mais o que está acontecendo. Está indo em direções aleatórias. De qualquer forma, precisamos evitar os pés dele. Isso é o máximo que podemos fazer. Precisamos alcançar os outros. Eu adoraria fazer isso, e estamos mais longe do vale do que antes, mas em que direção eles foram? Não, isso não importa—
— Somersault Booooooooomb!
Hã?
O gigante branco parou de se mover. Ou melhor, ele tropeçou. Isso aconteceu porque alguém havia acertado seu tornozelo esquerdo com um martelo de guerra, a perna que estava sustentando-o no momento.
Tada.
Por que Tada está aqui?
Não era só o Tada.
— Hah...! — Tokimune exclamou.
Quando Tada acertou o Somersault Bomb, Tokimune o atingiu com um Bash. Bem, não exatamente um Bash, parecia mais um simples empurrão. Ainda assim, ele estava enfrentando um gigante branco de seis metros, sabe? Isso não ia sequer abalar a criatura. Se não fosse pelo fato de que o Somersault Bomb de Tada o fez tropeçar, claro. O ataque combinado deles funcionou. E, além disso...
— Del, hel, en, balk, zel, arve!
Houve um flash de luz e, por algum motivo, uma explosão perto da virilha do gigante branco. Era a Blast de Mimorin.
O gigante branco perdeu totalmente o equilíbrio e deu um, dois passos para trás.
— Haruhiro! — Tokimune se virou com um sorriso exibindo os dentes brancos. — Estávamos devendo essa! Não podíamos deixar você morrer!
— Pare de falar! — Tada girou em círculo, então bateu o martelo de guerra com força na canela esquerda do gigante branco. — E ataque! Tornado Slaaaaaaaaaam!
— Gohhhhh?! — O gigante branco balançou de novo. Que poder.
— Caramba, ele é impressionante — Kuzaku sussurrou.
Haruhiro sentia o mesmo, mas orava para que ninguém começasse a aspirar a ser como ele. Se os membros de sua party começassem a agir assim, seu coração nunca aguentaria o estresse, mesmo que tivesse mais de um. E, fundamentalmente, os humanos só têm um coração, então ele provavelmente morreria de ataque cardíaco em pouco tempo.
Além disso, embora Haruhiro e Kuzaku tivessem sobrevivido graças a isso, estava realmente tudo bem?
Não era só Tokimune e Tada. Havia Mimorin, que havia conjurado o feitiço antes, e Anna-san. Kikkawa estava dando meia-volta e voltando. Mary, Yume, Shihoru e Ranta também estavam lá. E quanto a Inui? Haruhiro não se importava muito com ele, mas eles haviam perdido a chance de fugir.
Os cultistas e os gigantes brancos de quatro metros logo os alcançariam. Os soldados voluntários e a hidra também. Isso resultaria em uma confusão generalizada, e eles estariam envolvidos no meio do tumulto.
Não havia garantias de que as coisas seriam melhores para onde estivessem correndo. Ainda assim, havia uma grande diferença entre tudo terminar aqui e haver um próximo destino para o qual poderiam correr. Se fossem apanhados por aquela onda de inimigos e aliados, estavam praticamente condenados. Ele não conseguia evitar esse pensamento.
Parece que este é o fim. Eu posso sentir minhas forças me abandonando. Bem, claro que está. Isso é difícil. Como eu deveria virar o jogo aqui? Quero dizer, mesmo que eu conseguisse nos colocar de volta nos trilhos, e daí? Tenho certeza de que ainda estaríamos ferrados.
Eu queria poder simplesmente desistir.
FIM DE JOGO
Aquele texto passou pela sua mente.
O que foi isso?
Já vi isso em algum lugar antes...?
FIM DE JOGO
Fim de jogo ou continuar? Sim / Não
Vai continuar? S/N
DESEJA TERMINAR O JOGO NOVAMENTE?
Fim de jogo
Um jogo, hein? Haruhiro pensou. Mas isso não é um jogo.
— Não é, certo? Manato, Moguzo? — murmurou.
É por isso que eu não posso desistir. Não até o final. Desistir está fora de questão.
Primeiro, preciso olhar ao redor. Isso mesmo. Olhe. Olhe direito, e veja.
Iron Knuckle e os Berserkers estavam, em certo grau, ao menos, se movendo juntos como um grupo. Orion estava mais espalhado, mas nenhum dos mantos brancos estava completamente isolado. Pareciam estar se movendo como grupos.
Havia dezenas—não, facilmente mais de uma centena de cultistas. Várias centenas. Quanto aos gigantes brancos, a olho nu, havia cerca de dez da classe de quatro metros, dois da classe de seis metros e um ridiculamente enorme que parecia ser da classe de oito metros.
E então havia a hidra. Aquela coisa era uma má notícia. Sério.
— Kuzaku, você está sem o escudo, então não faça nada muito louco — Haruhiro alertou.
— Tá. Nem se eu quisesse, conseguiria.
— Venha comigo!
Haruhiro levou Kuzaku com ele e se juntou a Ranta, Yume, Shihoru e Mary. Kikkawa, Anna-san e Mimorin também estavam com eles. Logo depois, os cultistas os alcançaram.
— Kikkawa, conto com você como o tanque principal! — Haruhiro chamou.
— Beleza! Pode deixar comigo!
— Todos, fiquem juntos!
Todos deram sua própria resposta, mas Haruhiro estava mais focado em observar do que em ouvir. Ele precisava fazer isso.
Kikkawa balançou sua espada ao redor e atraiu os inimigos para si. Kuzaku e Ranta reforçaram sua defesa em cada lado, atacando os inimigos ali. Se houvesse inimigos que os três não pudessem parar, então Yume, Mary, Mimorin e, finalmente, Haruhiro os suprimiriam. Até Anna-san tinha uma espécie de arma em forma de bastão pronta, enquanto torcia para o resto do grupo.
Shihoru estava bastante exausta. Ela estava recuperando o fôlego e procurando o momento certo para usar magia. Os outros soldados voluntários também pararam de fugir perto de onde Haruhiro e os outros estavam.
Era a hidra. Ela havia alcançado a retaguarda do grupo de soldados voluntários que fugiam.
O cabelo vermelho de Ducky balançava violentamente enquanto ele gritava algo. Um dos Berserkers foi socado por um gigante branco e girou no ar.
Oh, Haruhiro percebeu. É, aquele cara já era. Mas agora não é hora de se preocupar com os outros.
— Ahhh! — Yume gritou, e seu corpo estremeceu. Era um Tori-san. Ela havia desviado a Lightning Sword Dolphin do Tori-san com seu facão.
O Tori-san avançou e tentou cortar Yume.
Ele vai matá-la—Não, eu não vou deixar.
Haruhiro avançou e, ao invés de se colocar entre eles, ele derrubou o Tori-san pelos quadris. Ele usou seu porrete para golpear a mão que o Tori-san segurava a Lightning Sword Dolphin.
Consegui. E aí?
Mas o Tori-san não soltou sua Lightning Sword Dolphin. Ele apenas puxou de volta. Pior ainda, ele estendeu seu Escudo Espelhado.
Ah, droga. Isso não é bom. Não vou conseguir desviar.
— Urgh! — Haruhiro recebeu o golpe do escudo diretamente e foi arremessado.
Será que vou morrer? Ele pensou por um segundo.
— Aí! — Mimorin gritou.
— Pegue isso! — Mary gritou.
Graças aos seus companheiros, ele não precisou morrer. Foi por pouco. Mimorin e Mary atacaram juntas o Tori-san e o fizeram recuar. Enquanto isso, Yume ajudou Haruhiro a se levantar.
— Desculpa, Haru-kun! — ela disse.
— Tá tudo bem! — ele respondeu.
Haveria erros. Não era possível reduzir a taxa de falhas a zero. O importante era apoiar quem errava, evitar que se machucassem e sobreviver. Quando os buracos começassem a aparecer, eles precisavam preenchê-los ou cobri-los para que não se tornassem notáveis. Se eles conseguissem apenas repetir esse processo de forma constante, poderiam sair dali vivos de alguma forma. Se era só isso que precisavam, bem, mesmo que não fosse o ponto forte de Haruhiro, ele poderia tentar pelo menos.
Embora, naturalmente, houvesse limites.
Tokimune e Tada ainda estavam lutando contra o gigante branco de seis metros. Kikkawa, Kuzaku e Ranta estavam indo bem na linha de frente, e Haruhiro, Yume, Mary e Mimorin estavam mantendo uma posição relativamente estável na retaguarda. Graças a isso, Anna-san e Shihoru não precisaram fazer nada até agora. Do jeito que as coisas estavam, provavelmente poderiam contar com a magia de Shihoru quando fosse necessário. Eles poderiam sustentar esse sistema por enquanto.
Pelo que ele podia ver, Iron Knuckle, os Berserkers, Orion e os outros soldados voluntários haviam formado suas próprias formações e estavam conseguindo repelir os inimigos em grupo.
Se os inimigos fossem apenas gigantes brancos de seis metros, talvez não fosse impossível derrotá-los um por um e depois eliminar o inimigo.
O problema seria o gigante branco de oito metros e a hidra.
Os movimentos do gigante de oito metros pareciam lentos, até em comparação com os outros gigantes brancos, mas só o fato de ele estar lá já atrapalhava. Claro, ele também representava uma ameaça.
A hidra estava balançando cinco de seus tentáculos para atacar os soldados voluntários, enquanto os outros quatro se arrastavam, pressionando-a para frente.
Quando o gigante branco de oito metros ou a hidra atacavam, os soldados voluntários não conseguiam lutar. Isso dava uma brecha para os cultistas e outros gigantes brancos atacarem. Eles estavam transformando o campo de batalha em um caos.
O modo como as coisas funcionariam aqui era simples. Se fizessem algo sobre o gigante de oito metros e a hidra, os soldados voluntários venceriam. Isso, se conseguissem fazer algo.
No mínimo, essa tarefa estava além das capacidades de Haruhiro e sua party. Mesmo os Tokkis teriam dificuldade com isso. Não, provavelmente seria impossível para eles também. Quanto a Iron Knuckle, os Berserkers e Orion, se fossem capazes, já teriam feito algo a essa altura. As coisas chegaram a esse ponto porque não conseguiram.
Ainda assim, as coisas não tinham desmoronado ainda. Sempre que algum soldado voluntário era pego pelos tentáculos da hidra, ou jogado no ar pelo gigante de oito metros, e sua party parecia prestes a fugir, alguém rapidamente entrava para ajudar. “One-on-One” Max, “Red Devil” Ducky e Shinohara estavam correndo por todo o campo de batalha para auxiliar seus companheiros.
Com grande esforço, os soldados voluntários mantinham suas linhas e recuavam lentamente. Haruhiro e sua party estavam fazendo o mesmo. Era um recuo gradual.
Mesmo sendo pressionados, resistiam o melhor que podiam.
Haveria um momento de ruptura, sem dúvida.
Eventualmente, seria demais para suportarem, e eles desmoronariam.
Mas era estranho. Mesmo sendo claramente perseguidos, os soldados voluntários mais experientes não pareciam perturbados, apenas faziam o melhor que podiam. Ninguém tinha se entregado ao desespero, e ninguém transmitia um senso de derrota também.
Será que todos haviam parado de pensar em coisas desnecessárias para que pudessem focar na tarefa em mãos?
No fim, as pessoas só podiam fazer o que era possível. Podiam dar o seu melhor. Não podiam controlar a situação além disso. Mesmo que quisessem que as coisas acontecessem de determinada forma, por mais que desejassem e rezassem, as coisas só aconteceriam do jeito que tinham que acontecer.
— Concentre-se. Concentre-se. Concentre-se... — Enquanto sussurrava isso para si mesmo, Haruhiro olhou em volta. Ele observou e entendeu a situação. Ele desviou a lança de um Pansuke.
Havia uma lacuna se formando entre a linha de frente e a retaguarda, então ele ordenou que a retaguarda avançasse. Outro Pansuke estava se aproximando pela retaguarda, então ele ordenou que Yume e Mary recuassem para ficar atrás de Anna-san e Shihoru.
Kuzaku estava bastante exausto. Haruhiro queria deixá-lo descansar, mas isso não era uma opção.
— Continue firme! — ele gritou para Kuzaku.
Ele desviou a lança de um Pansuke. Queria seguir com um Shatter, mas isso era apenas seu desejo. Não era algo que ele tivesse julgado como viável naquele momento. Precisava mostrar moderação.
O gigante de oito metros não havia se aproximado muito mais, mas a hidra tinha. Tokimune e Tada, que estavam saltando ao redor do gigante branco de seis metros, iriam ficar bem?
— A hidra está vindo! — Haruhiro gritou.
Pelo menos ele os havia avisado. Então, desviou a lança de um Pansuke. Ordenou que Kikkawa, Ranta e Kuzaku se movessem duas posições para a esquerda.
Swat, Swat, Swat.
Ele olhou ao redor. Estamos indo para o oeste, pensou. Eles estavam se movendo em direção à colina inicial. O deus gigante estava lá.
Em outras palavras, do jeito que as coisas estavam, eles acabariam sendo encurralados entre a hidra e o deus gigante. Isso, claro, se conseguissem durar tanto.
Não, não. Não pense nisso. Não se distraia. Concentre-se, concentre-se, concentre-se, concentre-se.
— Gahhh! — Kikkawa acidentalmente atingiu a Lightning Sword Dolphin de um Tori-san e ficou atordoado.
— Seu idiota! — Ranta defletiu a Lightning Sword Dolphin com sua própria Lightning Sword Dolphin para proteger Kikkawa.
A linha de frente se desfez, e parecia que os cultistas iriam atravessá-la.
Por um momento, Haruhiro ficou assustado, mas eles conseguiriam passar por isso.
— Kikkawa, continue e troque de lugar com o Ranta! Mimorin, apoie o Kikkawa!
— Certo! — Kikkawa balançou a cabeça para clarear a mente enquanto passava por Ranta.
— Aye! — Mimorin se posicionou diagonalmente atrás de Kikkawa, desviando a lança de um Pansuke com seu cajado.
Eu sei que tinha outro Tori-san por aqui, pensou Haruhiro, escaneando a área. Lá está! Ele deu a volta por trás de nós.
— Mary!
Reagindo ao aviso, Mary torceu o corpo a tempo de evitar a Lightning Sword Dolphin.
— Ohm, rel, ect, el vel, darsh!
Shihoru usou Shadow Echo. Três elementals das sombras voaram em direção ao Tori-san. Estavam relativamente próximos.
Eles iam acertar. Não, o Tori-san bloqueou dois com seu Escudo Espelhado. Mas um atingiu seu rosto.
A cabeça do Tori-san recuou como se ele tivesse levado um soco. Mary golpeou o Escudo Espelhado dele com seu cajado curto, forçando-o a recuar ainda mais. No entanto, ela não podia se concentrar apenas no Tori-san.
Mary e Yume estavam cada uma lidando com um Pansuke. Com o Tori-san se envolvendo também, elas estavam tendo dificuldades. Mesmo que Anna-san se juntasse a elas, seria pouco e tarde demais, e Shihoru não era capaz de lutar de perto. O próprio Haruhiro já estava ocupando dois Pansukes com o Swat.
Devo mandar Mimorin recuar? Ele se perguntou. Ou tiro alguém da linha de frente para ajudar? Decida. Agora.
— Kuzaku, vá para a retaguarda!
— Tá! — Kuzaku começou a recuar imediatamente.
Kuzaku provavelmente estava desesperadamente preocupado com Mary. Seria mais fácil para ele se estivesse ao lado dela, sem dúvida. Agora, como preencher o buraco que ele deixou?
Ranta estava completamente ocupado lidando com o Tori-san à frente, enquanto Kikkawa estava enfrentando vários inimigos também. Mimorin estava lidando com apenas um Pansuke por enquanto. Se Haruhiro lidasse com esse, liberaria Mimorin...
Foco. Eu preciso focar. Foco, foco.
A hidra.
Está perto.
Está bem perto. Ou não? Não sei. Mas... parece estar meio perto.
— Uou! — Tokimune estava pendurado na espada, que havia sido cravada no gigante branco perto da cintura, e parecia prestes a ser jogado para fora.
O que diabos ele está fazendo? Embora, os gigantes brancos tenham corpos bastante duros. Acho que é impressionante ele ter conseguido enfiar a espada ali, né?
Calma. Eu tenho que ficar calmo. Swat, Swat.
— Haaaaaze! — Tada gritou.
Tada ergueu seu martelo de guerra na diagonal, acertando a canela esquerda do gigante branco. O corpo massivo do gigante branco tremeu. Pensando bem, Tada estava teimosamente focado em acertar aquele mesmo ponto. Ele estava sério. Tada realmente queria derrubar o gigante branco. Junto com Tokimune, isso talvez fosse possível.
Se tivessem mais tempo, aqueles dois poderiam ter lidado com o gigante branco de seis metros. Naquele instante, algo deve ter acontecido, mas Haruhiro não tinha certeza do que exatamente. Ou melhor, por que aquilo aconteceu? E isso seria mesmo possível?
Ele duvidava de seus olhos.
A cabeça do gigante branco de seis metros simplesmente explodiu. Como uma melancia sendo esmagada com um bastão. Não era incomum que uma melancia fosse esmagada, mas aquela era a cabeça de um gigante branco. Não era estranho ela estourar daquele jeito, com os pedaços voando para todos os lados? Era esquisito, não era? Ou será que Haruhiro era o estranho por pensar assim?
— Waaaaaaaah?! — Tada rugiu. — Essa era minha presa! Quem fez isso?!
Isso mesmo. Não poderia ser um fenômeno natural, então alguém devia ter feito isso. Foi magia? Quem fez isso?
Não demorou muito para a resposta se tornar clara.
— Ohhhhh?! — Ranta saltou para trás.
Sim, não posso culpá-lo por estar surpreso.
A cabeça do Tori-san havia sumido.
Um machado. Era um machado. Empunhado por uma figura baixa e robusta. O anão de barba espessa havia se aproximado do Tori-san por trás e o decapitado com seu machado.
Não pode ser, pensou Haruhiro. Não deveria ser possível cortar os ponchos deles. Isso não se aplica a esse anão—ao Branken?
— Wahahahaaaaaah! — Branken soltou uma risada rouca e perturbadora enquanto cortava cultistas ao meio, um após o outro, com o machado aterrorizante que segurava. Ele os cortava com facilidade.
É uma pergunta meio simples, mas esse machado é leve? Parece meio pesado, sabe? Como Branken consegue balançar um machado maior que ele tão facilmente? Porque ele é absurdamente forte? É assim que funciona?
Haruhiro estava distraído com Branken, então demorou um pouco para perceber, mas ele não era o único que tinha aparecido. Não muito longe, havia uma mulher grande balançando uma espada massiva e, claro, derrubando cultistas um após o outro, ignorando completamente a propriedade de resistência às lâminas dos ponchos. Aquela era Kayo.
Também havia um número misterioso de cultistas caindo como moscas, embora não tivessem sido cortados. Haruhiro se perguntou o que poderia ser, mas eram flechas. Elas estavam sendo disparadas diretamente no único olho deles.
De onde estão vindo as flechas? Ele se perguntou. Oeste, hein.
Provavelmente estavam vindo do oeste. Quando olhou naquela direção, avistou-o. O belo garoto elfo, com seu arco pronto para disparar. Era Taro.
O ex-mago baixinho, Gogh, e a bela maga, Miho, estavam atrás de Taro, com uma expressão de serenidade. O feitiço que havia sido lançado podia ter vindo de Gogh. Ou talvez fosse de Miho.
E então...
— Desculpem. Estamos atrasados.
Aquele homem entrou. Desembainhando sua espada, era o ex-soldado voluntário mais forte, o homem que era uma lenda indiscutível.
— Aquele cara tem uma aura e tanto... — Ranta disse, com um gemido admirado.
Com certeza, pensou Haruhiro.
As pessoas costumam dizer que alguém com muita presença tem uma aura, mas isso pode ser como realmente seria uma aura.
— Akira-san! — Alguém chamou o nome dele.
— É o Akira-san!
— Akira-san está aqui!
— Akira-san!
— Woo! Akira-san!
— Temos o Akira-san!
A atmosfera mudou num instante. Akira-san. Era o Akira-san. Toda a área foi tingida pelas cores de Akira-san! Envolvida pela sua aura!
Os cultistas estavam sendo derrotados em uma luta unilateral contra Branken, Kayo e Taro, e estavam em completo pânico.
Oh, oh? O que é aquele gigante branco de quatro metros? Ele está se virando para o Akira-san, não está?
Akira-san era um homem grande, mas a diferença de tamanho entre ele e o gigante branco ainda era maior do que a de uma criança e um adulto. Mesmo assim—droga, Akira-san parecia enorme. Por algum motivo, ele parecia maior que o próprio gigante branco.
Bem, isso é imprudente, pensou Haruhiro.
O gigante branco estupidamente tentou atacar Akira-san. Naturalmente, nunca teria chance de acertar. Akira-san se virou e evitou o golpe com tanta facilidade quanto ele poderia ter evitado uma borboleta voando, deixando o punho direito do gigante branco passar por ele. Com um leve movimento, de alguma forma, ele conseguiu se colocar logo atrás do gigante branco.
— E... agora! — Akira-san subiu no gigante branco. Ele não escalou. Com a facilidade de quem sobe uma colina, Akira-san chegou aos ombros do gigante branco bem diante dos olhos deles.
Haruhiro estava assistindo aquilo acontecer, mas não conseguia entender. Pode não ter sido completamente vertical, mas foi um ângulo incrivelmente íngreme. Não era insano que ele conseguisse escalar assim?
— Descanse em paz, tá bom? — Akira-san enterrou sua espada profundamente no único olho do gigante branco. De uma maneira bem despreocupada, também. Era como se ele quisesse dizer: Ei, ao menos lute um pouco.
Não que o gigante pudesse ouvi-lo se ele dissesse isso. Era tarde demais para isso.
O gigante branco desabou.
Pouco antes das costas do gigante branco tocarem o chão, Akira-san deu um salto no ar e aterrissou graciosamente.
— Bem, isso supera tudo — Tokimune riu, espantado. — Ele está em uma dimensão completamente diferente da nossa, não é?
Realmente é outra dimensão, concordou Haruhiro. Existe tanta diferença assim entre nós?
— E daí?! — Tada ajustou os óculos com o dedo indicador esquerdo, depois correu e desferiu seu martelo de guerra no Tori-san mais próximo. — Eu vou criar uma nova dimensão por conta própria!
A cabeça do Tori-san e o Escudo espelhado com o qual ele tentou se defender foram esmagados, e ele desabou no chão.
— Yahoo! — Kikkawa pulou de alegria. — Não só outra dimensão, mas uma nova, hein?!
Com essas palavras como sinal—não, isso definitivamente não foi o que aconteceu—os soldados voluntários começaram sua retaliação. Mas não era uma simples retaliação. Era um ataque violento, uma contraofensiva massiva.
Afinal, a lendária equipe composta por Akira-san, Branken, Kayo, Taro, Gogh e Miho estava dizimando cultistas e gigantes brancos como se fossem ervas daninhas. Embora fosse menos perceptível com os gigantes brancos, os cultistas pareciam ter emoções e estavam claramente em choque e pânico. Muitos deles já estavam prestes a fugir. Os soldados voluntários, encorajados pela chegada de Akira-san, se uniram e avançaram contra os inimigos.
As lanças dos Pansukes começaram a quebrar uma após a outra. As Lightning Sword Dolphins dos Tori-sans não pareciam tão assustadoras quando todos os atacavam ao mesmo tempo. Suas armas eram arrancadas de suas mãos e seus escudos espelhados eram esmagados. Gigantes brancos, tanto da classe de quatro metros quanto da classe de seis metros, estavam sendo abatidos um após o outro.
Haruhiro e os outros também derrotaram vários cultistas. Especialmente Ranta e Kikkawa, que se empolgaram e começaram a agir de forma descontrolada.
Onde estava a batalha difícil que eles estavam enfrentando até agora? Haruhiro não conseguia deixar de pensar que o problema não era o inimigo em si, mas o fluxo dos acontecimentos. Com uma mudança de vento, tudo podia mudar drasticamente, como havia acabado de acontecer. Sendo assim, era totalmente possível que eles fossem repentinamente empurrados de uma posição de vantagem esmagadora para uma desvantagem da qual não conseguiriam se recuperar.
Isso está... realmente certo? Haruhiro não conseguia simplesmente ir com o fluxo e não sabia o que fazer com aquilo. Bem, acho que está tudo bem. Quando as coisas não estão indo tão mal, talvez eu deva tentar seguir o ritmo.
— Vejo que você ainda está inteiro, Haruhiro-kun — disse uma voz.
Haruhiro ficou chocado ao perceber que Akira-san estava bem ao seu lado. Akira-san guardou sua espada na bainha e cruzou os braços com uma expressão tranquila.
— Ah, é, estamos b-bem, to-todos nós... — Haruhiro respondeu, gaguejando. — Bem, pelo menos a minha party está...
— Estamos testando algumas coisas com a party do Soma para ver se conseguimos fazer algo contra o deus gigante.
— Ah, é? E...?
Akira-san balançou a cabeça. — Desde que ele ocupou aquela posição no meio da colina inicial, quase não se moveu. Aquela coisa é dura.
— Mesmo pra vocês?
— Ainda somos soldados voluntários, assim como vocês. A única diferença é que sobrevivi muito mais tempo do que você. Quando você vive o dobro do tempo, acaba ficando um pouco melhor em algumas coisas.
— É assim que funciona?
— Claro que é. — Akira-san sorriu e acenou com a cabeça.
Esse cara estava emanando uma aura que pressionava todo o ambiente momentos atrás, mas agora parecia apenas um velho simpático. Claro, isso não era verdade.
— Sou apenas um velho — disse Akira-san. — Por causa da minha idade, sinto vontade de me intrometer—Kuzaku-kun, olhe para isso por um momento.
Akira-san chamou Kuzaku, preparou seu escudo e sacou sua espada. Ele avançou, cobrindo metade do corpo com o escudo e, em seguida, desferiu um golpe diagonal em um Pansuke próximo. Até Haruhiro conseguiu entender o que ele estava fazendo. Era a habilidade Punishment do paladino. Mas Akira-san propositalmente interrompeu o movimento da espada pela metade e a puxou de volta. O Pansuke ficou encolhido, como se estivesse paralisado.
— Viu isso? Com a repetição suficiente, você também poderá fazer isso — disse Akira-san.
— Certo... — Kuzaku estava completamente imóvel, observando atentamente.
Eu mesmo poderia ter dito melhor, pensou Haruhiro.
Akira-san usou Punishment no Pansuke mais uma vez, mas dessa vez deixou o golpe acertar. Pelo menos, provavelmente era Punishment, mas parecia completamente diferente.
Não sei, parecia que era tudo um movimento só.
Defender-se com o escudo, avançar e desferir o golpe com a espada. As três ações haviam se fundido completamente em uma só.
A espada de Akira-san cortou limpidamente o Pansuke, do ombro esquerdo até o quadril direito. Parecia que, ao atingir o nível de Branken, Kayo ou Akira-san, os ponchos supostamente impenetráveis já não faziam diferença. Isso era algo que realmente poderiam alcançar apenas com repetição? Era difícil aceitar essa realidade de maneira simplista, mas Akira-san não parecia ser o tipo que inventaria coisas para enganar os mais jovens e menos experientes.
— Tudo se resume ao que você constrói ao longo do tempo. — Akira-san guardou sua espada novamente. — É experiência. Sinta as coisas por si mesmo e construa com base nisso. Se tudo o que você fez foi aprender uma habilidade, ela é apenas uma habilidade e nada mais. O verdadeiro poder está em algum lugar além disso. Agora, quanto a como você vai desenvolver esse instinto, bem, realmente, a repetição no campo é a única maneira.
— Hmm — Gogh resmungou. — Ora, você está soando bem convencido.
A bela maga Miho também estava lá. Mesmo que a situação estivesse a favor deles, ainda era uma batalha caótica, então por que aquelas pessoas estavam tão tranquilas, como se estivessem passeando no jardim de casa?
— Dar palestras não combina com você, Akira-san — disse Gogh. — Você nem é o tipo de seguir teorias. O fato de querer ensinar essas coisas para os mais jovens pode ser uma prova de que você está ficando velho.
— Pois é — Akira-san deu de ombros. — Eu mesmo tenho consciência disso.
— Ele ainda é jovem — Miho riu, com um sorriso divertido.
— Bwuh! — Ranta pode ter imaginado algo estranho.
— M-Magia! — Shihoru se aproximou, segurando o cajado com força. — O-O que tem... a magia? Tem algum truque?
— Eu quero saber — Mimorin assentiu.
— Ei, espera aí — Anna-san olhou em volta, inquieta. — É mesmo seguro ficar tagarelando?! Ainda tem muitos, muitos inimigos por aqui, né?!
— Bem, acho que é hora de trabalhar um pouco — disse Gogh, lançando um olhar para Shihoru e Mimorin. — Eu vou responder à sua pergunta enquanto isso. Vocês só estão na linha de partida da magia quando aprendem adequadamente todos os símbolos elementais que podem pagar para a guilda ensinar. A partir daí, depende de vocês... Miho.
— Certo.
— Vamos lá.
Gogh e Miho começaram a caminhar. Akira-san os seguiu silenciosamente. Se algum inimigo os atacasse, Akira-san os derrubaria imediatamente.
Logo, os três pararam. Eles estavam olhando para o gigante branco da classe de oito metros.
Gogh e Miho começaram a traçar o que pareciam ser símbolos elementais com as pontas de seus cajados.
— De, he, lu, en, ba, zea, ruv, dag, na, mitoh, la, we, swa, va.
— Ne, ve, lu, shia, rass, fe, de, ge, hi, mina, sheh, kweh, du, il.
— Eu nunca vi isso antes — sussurrou Shihoru.
Era verdade. Haruhiro nunca tinha visto símbolos elementais como aqueles antes, e o cântico também era desconhecido. Parecia que a entonação era diferente das invocações que Shihoru ou Mimorin usavam, também.
O gigante branco da classe de oito metros, percebendo Gogh e Miho, olhou para baixo na direção deles. Logo em seguida, houve um som retumbante thuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuun que parecia tanto agudo quanto grave, e sua cabeça foi explodida.
— ...Com um só golpe — Mary ficou boquiaberta.
— Miau... — Yume piscou repetidamente.
— E, bem, há inúmeros pontos que eu poderia cobrir, mas... — Gogh girou para encará-los, passando a mão pelo cabelo com uma elegância artística. — Mesmo depois de mudar de classe para sacerdote, consegui alcançar isso com bastante estudo. Mas, sozinho, eu não teria conseguido o que acabamos de fazer. Libertamos um elemental e, em seguida, ativamos um poder alternativo. Essas coisas não são ensinadas na guilda. Você tem que estudar por conta própria, fazer descobertas e refinar suas habilidades... Ufa, estou exausto.
De repente, Gogh abaixou a cabeça e colocou uma mão na testa. Parecia que ele poderia desabar a qualquer momento.
— Oh, céus — Miho estreitou os olhos e cobriu a boca com as mãos.
— Estamos ficando velhos — Akira-san ofereceu apoio a Gogh. — Mas, no seu caso, seu corpo sempre foi fraco.
— ...Cala a boca — resmungou Gogh. — Me deixa em paz.
— Queriiiidoooo...! — Kayo correu na direção dele, deixando um rastro de névoa de sangue por onde passava. — O que aconteceu?! Você está bem?! Querido?! Eu nunca vou te perdoar se você morrer antes de mim!
— Papai?! O que aconteceu com o senhor, papai?! Não morra! — Taro também correu para perto, com o rosto contorcido de angústia.
— Escutem! Eu não vou morrer tão facilmente! — Gogh gritou para eles, mas seu grito foi abafado pelo estrondo ensurdecedor do gigante branco de oito metros caindo pesadamente no chão.
Quem diria que o gigante branco da classe de oito metros, que tinha sido um problema tão grande, seria derrotado tão facilmente?
Os soldados voluntários soltaram uma salva de palmas.
— Gwah, hah, hah, hah, hah! — Com uma risada aterrorizante, Branken apontou seu machado em direção ao outro problema. — Agora é a sua vez! Prepare-se para morrer!
Haruhiro tentou engolir a saliva, mas sua boca estava seca, então seu pomo de Adão apenas se moveu inutilmente.
A hidra também parecia ter sentido algo, pois ficou parada onde estava, com seus tentáculos se contorcendo. Não, não estavam apenas se contorcendo. Seus tentáculos se espalharam amplamente, como se estivesse tentando fazer seu já enorme corpo parecer ainda maior.
— Muito bem. — Akira-san afastou-se de Gogh e sacou sua espada. — Primeiro, vamos ver do que ela é capaz.
Iron Knuckle. Os Berserkers. Orion. Todos eles estavam entre os voluntários de elite, mas não se moveram, ou não conseguiram se mover. Apenas Akira-san, Kayo e Branken se aproximavam da hidra.
Os cinco tentáculos dispararam contra eles de uma vez. Três em direção a Akira-san, e um em cada um dos outros, Kayo e Branken.
Eles são rápidos. Mesmo com esse tamanho, são tão rápidos assim?
Aos olhos de Haruhiro, parecia que estavam se movendo com uma velocidade comparável a de uma pessoa brandindo uma espada. Ele pensou por um momento que não havia como desviar.
Mas Akira-san deu apenas dois passos rápidos, Kayo avançou e Branken rolou para o lado, cada um evitando os tentáculos à sua maneira.
Akira-san foi para a direita da hidra, enquanto Branken foi para a esquerda. Kayo estava se aproximando diretamente, encurtando a distância.
A hidra balançava seus tentáculos. Parecia ter dois tipos de ataques com eles: balanços e estocadas verticais.
As estocadas pareciam possíveis de esquivar, mas os balanços seriam mais difíceis. Os tentáculos tinham mais de dois metros de diâmetro. Se algo tão grosso e longo viesse contra eles àquela velocidade intensa, não havia realmente para onde correr. Como Akira-san e os outros conseguiam desviar? Haruhiro não conseguia imaginar.
Talvez eles consigam prever. pensou Haruhiro. Devem saber onde os tentáculos não podem alcançá-los. Provavelmente. Mas como descobriram isso? É um mistério. Um grande mistério. Sem observar por muito tempo e estudar, isso não seria impossível?
— Não, a menos que você seja o tipo de gênio que este mundo raramente vê — disse Gogh, parecendo ter lido o processo de pensamento de Haruhiro. — No fim das contas, a experiência é o que mais importa. Quando estamos enfrentando um inimigo que nunca vimos antes, claro que não sabemos essas coisas também. No entanto, sempre há algumas semelhanças, pontos em comum, com inimigos que enfrentamos antes. O que é semelhante? O que é igual? Você não pode lidar com eles se ficar se agonizando com essas questões. O que eu faço aqui? Qual a melhor chance? Seu corpo precisa se mover sozinho antes que você comece a debater consigo mesmo sobre o que fazer.
— E-Essa coisa... — Ranta resmungou. — Eles já enfrentaram muitos inimigos parecidos com ela? É por isso que conseguem lutar assim, sem se importar?
— Tenho a impressão de que vai ser bem difícil. — Gogh deu de ombros. — Eles terão dificuldades. Sem acesso à magia de luz, estarão menos dispostos a arriscar.
— Você diz isso como se não fosse seu problema. — Miho franziu a testa, mas Haruhiro não pôde deixar de notar que ela também parecia completamente tranquila com a situação.
— Não tem onde atacar. — Taro abaixou seu arco, uma expressão de desagrado distorcendo seu belo rosto. — Odeio inimigos grandes. Queria poder ajudar a mamãe...
Taro parecia mais jovem que Haruhiro e sua equipe, mas devia ter uma experiência considerável. Dado que estava viajando com Akira-san e sua party, isso era natural.
— Posso fazer uma pergunta? — Kuzaku perguntou hesitante.
Gogh olhou para Kuzaku, indicando com a expressão que ele deveria continuar.
— Você disse “a menos que fossem gênios”, mas... — Kuzaku perguntou exatamente o que Haruhiro queria saber. — Não seria um pouco exagerado dizer que Akira-san e os outros não são gênios?
Embora isso fosse verdade para Branken e Kayo também, era incrivelmente difícil acreditar nas coisas que Akira-san estava conseguindo. Ele começou focando em desviar dos tentáculos atacantes, mas agora estava fazendo mais do que isso. Depois de desviar, ele atacava com sua espada. Além disso, não estava se aproximando da hidra lentamente? Provavelmente estava. Não, não era apenas uma suposição, ele definitivamente estava se aproximando.
— Akira não é gênio — Gogh afirmou categoricamente, então soltou uma risada maliciosa.
Ele só pode estar mentindo, Haruhiro pensou, incrédulo. Será que o relacionamento deles está distorcendo sua percepção?
— Você está certo — disse Miho instantaneamente.
Haruhiro começou a pensar que talvez não fosse o caso.
— Quando o conheci, ele era um covarde sem esperança.
— O cara ainda é meio tímido, sabia? — Gogh concordou.
— Pode ser.
— Mesmo na nossa época, havia muitos caras mais fortes que ele.
— Eu diria que Kayo era bem mais corajosa.
— Isso não mudou.
— Minha mãe é a mais corajosa do mundo, e meu pai o mais sábio — declarou Taro com uma expressão tão séria que era assustadora. — E eu sou o mais sortudo.
— Você realmente os ama, não é? — Yume comentou com sinceridade.
— Claro que amo! — Taro gritou, arregalando os olhos. — Meu amor por mamãe e papai não perde para nada! Nunca! Jamais!
— Não acho que seja uma questão de ganhar ou perder — Gogh deu uma risada irônica enquanto afagava a cabeça de Taro. — De qualquer forma, a única coisa que posso te dizer com certeza é que Akira não é um gênio. Mas ele sobreviveu. Isso graças a mim, Kayo, Branken, Taro e aos muitos amigos e camaradas que perdemos pelo caminho. Muitos guerreiros e paladinos talentosos e abençoados com aptidão caíram, enquanto ele continuou. Ele não sobreviveu porque era forte. O que o favoreceu? Se eu tivesse que resumir em uma palavra, seria sorte, acho. Porque ele teve sorte, sobreviveu e conseguiu se tornar forte.
Não foi apenas um ou dois casos—foram mais de duas décadas acumulando sorte. Isso foi o que criou Akira-san.
O quão sortudo ele era? Mesmo uma única ocorrência de azar poderia ter sido o suficiente para matá-lo, assim como aconteceu com Manato ou Moguzo.
Pensando por esse lado, se Manato ou Moguzo não tivessem morrido quando morreram, teriam tido a chance de se tornar como Akira-san. Na verdade, tanto Manato quanto Moguzo tinham mais aptidão do que Haruhiro. O que significava que não havia garantias de sucesso. Se um soldado voluntário tivesse um pouco de azar, já era. Ele morreria.
De qualquer forma, Akira-san era um dos poucos escolhidos.
— ...Eu não sou assim — murmurou Haruhiro.
Akira-san, Branken e Kayo estavam praticamente tocando a hidra. Os cinco tentáculos pareciam incapazes de alcançá-los.
Então, de repente, os quatro tentáculos que ela usava para se mover atacaram Akira-san e os outros. Enquanto Haruhiro foi pego de surpresa, Akira-san e os outros pareciam ter antecipado. Esquivando-se e tecendo entre os tentáculos, Branken e Kayo recuaram, mas... Akira-san cravou sua espada na base dos tentáculos.
Com isso como apoio, ele subiu. Era aquele mesmo estilo de escalada, como se estivesse andando por uma colina. Ele correu ao longo do tentáculo.
— Ohh — Gogh estalou os dedos. — Havia uma força que Akira sempre teve. Seu senso de equilíbrio. Isso é uma coisa em que ele sempre foi acima da média.
— Ele também gostava de lugares altos — Miho riu.
— Deve ser um idiota. — Os cantos dos lábios de Gogh se curvaram para cima. — Está quase na hora, né?
— É, você está certo.
Hora de quê?
O tentáculo tentou sacudir Akira-san. Akira-san saltou. Ele se impulsionou de um tentáculo para outro e depois para mais outro. Akira-san desapareceu atrás dos tentáculos.
— E-E-E-E-Ele vai ficar bem?! — Kikkawa gritou.
O corpo inteiro da hidra estremeceu.
— Gyahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh! — Ela soltou um grito tremendo.
Se uma mulher de mais de dez metros de altura soltasse um grito, poderia ser tão alto quanto aquele. O som saiu da parte inferior da hidra junto com uma rajada de ar, agitando os tentáculos e fazendo-os balançar.
Akira-san rolou para fora de uma brecha entre os tentáculos.
Gogh e Miho desenharam sigilos elementais com seus cajados e entoaram seus feitiços.
— Ea, zu, fa, nwe, meu, hoa, rahi, kweh, ba, ju, sai, le, cthu.
— Ni, fau, shin, dza, wao, iki, le, vu, duma, gis, qua, zu.
— Tá quente?! — Haruhiro cobriu o rosto sem querer e se abaixou. O vento quente o atingiu como uma rajada. Ou talvez fosse mais preciso dizer que o varreu violentamente.
A hidra estava no centro disso. A hidra estava queimando—Não, não era isso. Não havia chamas subindo dela. Mas estava quente. Havia um incrível redemoinho de ar quente atormentando os tentáculos da hidra. Esse redemoinho parecia estar indo em direção ao núcleo da hidra. Haruhiro e os outros estavam sendo pegos apenas no rastro. Mesmo assim, estava quente e assustador.
O que estava acontecendo? O que ia acontecer agora? O rastro mudou de direção de repente. Não estava mais soprando em sua direção. Agora estava sugando.
— Uwahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh?! — Ranta gritou.
— Yahooooooooooooooooooooooooooo?! — Kikkawa berrou.
Ranta, Kikkawa, calem a boca.
Eu sei como vocês se sentem, mas ainda assim.
— Kyaaaah?! — Shihoru gritou.
— Funyaaaaaaaaaaaaa?! — Yume choramingou.
— Yahhhhhhh?! — Mary gritou.
Shihoru, Yume e Mary estavam se abraçando.
— Que diabos?! — Kuzaku se jogou no chão.
— What the heeeeeeeeeell?! — Anna-san gritou.
Mimorin segurou a apavorada Anna-san, e por alguma razão, ela também tinha uma pegada firme em Haruhiro.
— Não, eu vou ficar bem, okay? — ele disse.
— Só por precaução!
Eu realmente vou ficar bem, e na verdade, é mais difícil para mim quando você me segura assim. Pensando bem, Tokimune e Tada estão bem? Além disso, onde está Inui?
— Oh!
O vento mudou de direção novamente. Desta vez, não os empurrou nem puxou. Estava soprando de cima para baixo. A massa de ar quente estava pressionando e esmagando-os.
Haruhiro e sua party só estavam sendo atingidos com força suficiente para forçá-los a ficar de quatro, mas a hidra no centro da tempestade estava muito pior.
Sério?
A hidra estava sendo esmagada.
Os nove tentáculos estavam prensados contra o chão, revelando a parte central—seu corpo principal, talvez? Ou o tronco? Seja o que for, aquela parte que parecia uma enorme planta carnuda branca havia sido exposta, e o topo dela estava rangendo e afundando cada vez mais a cada segundo.
Que tipo de magia era essa? Magia Arve? Não pode ser magia Kanon, certo? Também não parecia ser magia Falz ou Darsh. Então, o que era? Lembro que o Gogh disse algo sobre liberar elementais e depois ativar um poder alternativo. Seria essa a verdadeira natureza dessa magia de redemoinho super quente e esmagadora?
Eventualmente, o vento quente diminuiu.
A enorme coisa branca que parecia uma planta carnuda parecia ter encolhido para metade do seu tamanho original. Não era possível confirmar dali, mas o meio dela provavelmente estava bastante afundado.
A hidra não se movia mais.
— Ela... morreu? — Ranta caiu de costas, meio fora de si.
— Estou exausto... — Gogh cambaleou.
— Papai! Aqui! — Taro colocou o arco e a aljava debaixo do braço, então se agachou na frente de Gogh e lhe ofereceu as costas.
— Agora, ouça... Eu sou seu pai, entendeu? — Mesmo soltando o que parecia ser uma reclamação, Gogh descansou nas costas de Taro. Ele devia estar passando por maus bocados.
— Hee hee. — Miho, sorrindo, parecia não estar tendo nenhuma dificuldade. Será que ela era durona, além de ser incrivelmente bonita? Ou o Gogh é que era fraco demais?
— Acabou...? — Shihoru se agarrava a Yume, tremendo.
— Talvez? — Yume esfregou as costas de Shihoru de forma reconfortante.
— Eu espero que sim. — Mary se juntou a Yume para acalmar Shihoru.
— Ufa... — Kuzaku olhou para cima timidamente.
— Já está seguro? — Mimorin perguntou.
Anna-san, que estava mexendo no peito exageradamente farto de Mimorin por algum motivo, inclinou a cabeça de lado, questionando-se.
Será que é aceitável quando garotas fazem isso umas com as outras? Haruhiro se perguntou. Não que ele estivesse com ciúmes nem nada. — Q-Quem sabe...
Mas será que realmente estava?
Haruhiro não tinha certeza, mas talvez tivesse gostado se Mimorin o soltasse. Ele estava prestes a falar isso, sentindo os seios de Mimorin pressionados contra ele, quando, não muito longe, Tada começou a gritar.
— Não, isso não é divertido! Eu me recuso a deixar que acabe assim tão fácil! Eu nem fiz nada ainda! Não morra, volte à vida já!
Gyahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!
— Kyaaaaaaaaaa! — Mimorin soltou um grito nada característico e apertou Haruhiro e Anna-san com força. Ou melhor, estava o estrangulando. Ele não conseguia respirar.
Socorro, Haruhiro pediu silenciosamente. Mas, bem, ele não podia culpá-la por estar surpresa. Ele mesmo tinha ficado surpreso.
A hidra, que ele achava estar morta, soltou de repente outro rugido do fundo daquela grande parte branca que parecia uma planta carnuda. E, além disso, o som era mais alto e violento do que da primeira vez. Então, os tentáculos começaram a balançar loucamente.
Akira-san, Branken e Kayo estavam se afastando. Não era surpresa, porque a situação parecia bem perigosa. Os outros soldados voluntários também estavam em pânico, assim como Haruhiro e sua party.
— Hahahahahahahahaha! — Tada parecia empolgado. — Bom! É assim que eu queria! Me entretenha mais!
— Agora começa a segunda rodada, hein! — Tokimune parecia estar se divertindo.
Eles são idiotas...?
— Kwa, do, roh, wo, su, eck, lue, rah, va, le. — Enquanto isso, Miho começou a lançar um feitiço.
Se tivesse que descrever com uma cor, seria roxa. Essa coisa roxa, que não era nem uma chama nem um raio, explodiu na gigantesca parte branca da hidra, a parte que parecia uma planta carnuda, com um som rasgante. Ela foi cortada e dilacerada, espalhando uma substância parecida com muco por toda parte, e a hidra começou a convulsionar, mas você poderia dizer que foi só isso. Mesmo assim, Miho parecia confiante. Ela não apenas não recuou, como avançou.
— Ah, lua, de, muo, su, vi, gwa, pa, le, tu, kia.
Dessa vez, era um verde escuro. A luz verde-escura piscava repetidamente e atingia a enorme parte branca. Ela perfurava. Riscava. Os tentáculos se contorciam. A hidra se contorcia, espalhando muco por todos os lados, e então...
— Ta, tu, rua, fa, yek, nie, she, la, stoa, ryu, kweh, wana.
Hã? Mais? Você vai lançar mais?
Um ponto rosa se formou acima da enorme parte branca da hidra que parecia uma planta carnuda. Então ele caiu.
Shishishishishishishishishishishishishishishishishishishishishishishishi...
Espera, que tipo de som era aquele? O que era isso? Não estava claro, mas aparentemente vinha do ponto rosa que havia feito contato com a parte branca da hidra. O que era esse ponto rosa, afinal? Ele estava ficando maior.
O ponto não era mais um ponto. Agora era uma esfera. Estava crescendo mais e mais.
Os tentáculos se agitavam loucamente. Suas pontas batiam no chão. Como se estivesse dizendo, Espera, espera, espera, e tentando pedir um tempo.
Naturalmente, os soldados voluntários não iam esperar. Dar uma pausa era impensável.
A esfera rosa estava apagando a parte branca da hidra, como se estivesse derretendo-a. Por fim, a esfera rosa entrou na parte branca da hidra.
Os nove tentáculos ficaram moles. A parte branca da hidra também parecia ter amolecido.
Miho parou e soltou um suspiro. Então, ela deu uma risadinha. — Era teimosa e atrevida, então eu a puni um pouco.
Haruhiro ficou chocado e se agarrou a Mimorin sem querer. Ela é uma total sádica?
— Qual foi! — Tada gritou na cara de Miho. — Quando finalmente estava ficando interessante, você teve que estragar tudo!
— Oh, meu caro. Desculpe.
— Desculpe não é suficiente! Agora escute aqui—Murgh?!
...Uau. Haruhiro sabia que não podia se surpreender com qualquer coisa, mas isso era realmente espantoso.
Os tentáculos da hidra de repente ficaram cheios de força. Os nove tentáculos se empurraram para fora do chão, e a hidra saltou para o céu.
Ela saltou.
Hã, ela pode saltar?!
— Ah, droga! Afastem-se! — Akira-san gritou.
Era a primeira vez que ele ouvia uma urgência na voz de Akira-san.
Akira-san, Branken, Kayo, Miho e Taro, que estava carregando Gogh—nenhum deles hesitou quando chegou a hora de correr. Foi quase estonteante a forma incrível com que eles fugiram.
A hidra saltou. Voou no ar, balançando seus tentáculos.
Tokimune e Tada também recuaram.
— Mimorin, solte! — Haruhiro se soltou do aperto restritivo de Mimorin. — P-P-P-P-Precisamos sair daqui rápido!
— Precisamos, sim! — Anna-san gritou.
— Sim! — Mimorin começou a andar, carregando apenas Anna-san.
O restante de seus companheiros também fugiu. Era como uma competição para ver quem poderia correr primeiro. Eles precisavam se afastar da hidra.
Haruhiro continuou movendo as pernas enquanto expressava todos os sentimentos que não conseguia converter em palavras dentro da sua cabeça. Ranta, Mary, Kuzaku, Yume, Shihoru. Todos estão bem. Kikkawa, Tokimune e Tada, também. Inui ainda está desaparecido, mas quem se importa com ele? E quanto Iron Knuckle, os Berserkers e Orion? Parece que se dispersaram, talvez?
Por sua vez, Haruhiro ainda estava seguindo Akira-san e os outros. Isso estava certo? Não estava? Ele não tinha ideia. Não conseguia decidir.
De repente, a hidra parou de pular.
Ela está vindo.
Ela cravou todos os seus nove tentáculos no chão com força, avançando em uma investida desenfreada.
— Wawawawawawawawaaaaa?! — Haruhiro surtou e começou a balbuciar incompreensivelmente em pânico.
Ferrou? Deu merda, né? Hein? Eu estraguei tudo? Fiz a coisa errada? Quero dizer, parece que a hidra está vindo para cá. Ela está mirando na party de Akira-san? Se estiver, deveríamos nos separar deles?
— De, he, lu, en, ba, zea, ruv, ah, tu, la! — Gogh, que estava sendo carregado por Taro, virou-se e começou a entoar encantamentos enquanto desenhava o que pareciam ser sigilos elementais com seu cajado.
Boooooooom!
Houve uma explosão diretamente sob a hidra, lançando uma enorme quantidade de grama e terra no ar.
A hidra perdeu o equilíbrio. Isso foi porque seu ponto de apoio foi destruído com magia. Eles precisavam ganhar o máximo de distância possível dela agora. Mas de que adiantaria essa distância? O que iria acontecer? Ela não iria eventualmente alcançá-los? O que fariam se isso acontecesse?
Por enquanto, tudo o que podemos fazer é correr o mais rápido que pudermos, pensou Haruhiro. Se a hidra realmente está atrás da party de Akira-san, isso não é bom. Não sei como explicar, mas, sabe, existem maneiras melhores de lidar com isso. Tipo, se eu estou pensando na nossa segurança, poderia dizer que só há uma opção.
Se Haruhiro fosse totalmente honesto, ele achava que o melhor seria não seguir a party de Akira-san. Do jeito que as coisas estavam agora, eles estavam na linha reta entre a hidra e a party de Akira-san, e não queriam estar lá. Talvez fosse melhor mudarem de rota e agirem de forma independente.
Eu me sentiria culpado por fazer isso, no entanto. Além disso, não é absolutamente certo que Akira-san e os outros sejam o alvo da criatura. E se não forem? Se ela se virar e nos seguir quando nos afastarmos de Akira-san e os outros, seria um desastre total. Akira-san e sua party não poderiam ajudar, e, bem, seria o nosso fim.
Dito isso, eu tenho quase certeza de que a hidra está atrás de Akira-san e sua party.
Devemos arriscar?
Não parece uma má aposta, mas eu não consigo me comprometer totalmente com isso. Eu deveria decidir mais cedo ou mais tarde. Sou tão indeciso. Odeio isso.
No final, Akira-san e sua party não vão resolver as coisas de alguma forma? É isso que estou pensando? Não posso dizer que essa ideia não passou pela minha cabeça. Isso é basicamente deixar os meus problemas para outra pessoa, não é? Acho que há algo de errado nisso. Isso está certo? Não posso dizer que está, né?
Mesmo em sua indecisão, ele continuava correndo diligentemente quando algo passou na direção contrária.
— Hã? — Haruhiro percebeu. A outra... direção?
Sim. Não havia dúvida. Algo correu em sua direção e então passou direto por Haruhiro.
Haruhiro se virou para olhar.
Aquela coisa estava coberta por uma armadura preta.
Ela era justa, parecia leve e era toda preta, mas o que era aquela luz alaranjada que saía aqui e ali? Como isso funcionava? Havia uma espada curta e curva, ou melhor, uma katana, em um dos quadris da figura, e uma katana bem longa em suas costas. A pessoa alcançou a katana com uma mão enquanto continuava correndo. Indo direto em direção à hidra.
— Soma... — Haruhiro acidentalmente disse o nome dele, sem o honorífico.
Ele ficou ali parado, em transe.
Era Soma.
A hidra estava avançando em direção a eles, e Soma corria na direção oposta, então era certo que os dois se encontrariam.
Será que... ele vai ficar bem?
Seria mentira dizer que não estava preocupado, mas por algum motivo, Haruhiro não conseguia imaginar Soma sendo morto.
A hidra levantou seu enorme corpo com os tentáculos e então se lançou contra Soma.
Soma não parou, nem sequer diminuiu o ritmo.
Ele sacou a katana.
Haruhiro conseguiu ver tudo até esse ponto. Mas o que ele fez depois?
Os olhos de Haruhiro estavam bem abertos, e ele observava atentamente, mas ainda assim, não conseguia entender.
Só sabia que dois dos tentáculos da hidra foram cortados e voaram pelo ar.
A hidra aterrissou com um baque ensurdecedor—mas e quanto a Soma?
Haruhiro foi finalmente tomado pela incerteza. Será que Soma foi esmagado?
Os tentáculos da hidra se contorciam e se enrolavam enquanto a criatura tentava virar-se. Isso significava que Soma estava ali? Será que ele deslizou por debaixo da hidra? Ou algo assim?
Enquanto Haruhiro ainda estava em suspense, sem saber ao certo o que havia acontecido, a hidra saltou para a esquerda.
Ali.
Aquele é Soma.
Ele estava balançando sua katana. Aquela katana é longa. Por que ela parece tão mais longa do que quando estava presa às suas costas?
Seja como for, os golpes de Soma estavam fazendo a hidra hesitar. Ele estava enfrentando aquela criatura gigantesca em um combate corpo a corpo, e era ele quem a estava empurrando para trás.
É estranho. Isso simplesmente não parece certo. O que está acontecendo?
— Agora, veja, quando você usa a palavra “gênio”... — A próxima coisa que ele notou foi Gogh ao seu lado, ainda sendo carregado nas costas de Taro. — Esse é o tipo de cara de quem você está falando. Ele só está ativo por um quinto do tempo que nós estamos. E mesmo assim, ele consegue fazer isso. Talento é uma coisa cruel e aterrorizante.
Incrível, pensou Haruhiro. Os rumores sobre ele não eram apenas conversa fiada. Soma já havia salvado suas vidas antes, também. Ele não era chamado de o mais forte à toa.
Haruhiro sabia disso. Ou achava que sabia. Mas deve ser que ele não entendia verdadeiramente o que isso significava.
Aquela katana devia ser especial de alguma forma. Sua armadura parecia esconder algum poder secreto que transcendia o conhecimento humano. Mesmo assim, Soma era um ser humano de carne e osso. Ele tinha que ser.
Ele era realmente humano, igual a todos eles? Era difícil de acreditar.
Soma estava empurrando a hidra para trás com uma única katana. Como ele estava cortando aqueles tentáculos de mais de dois metros de espessura? Haruhiro não tinha ideia. Era claramente impossível. Mas Soma estava fazendo isso.
É provável que Haruhiro não estivesse alucinado; o que presenciava era, de fato, a realidade. Uma realidade que ultrapassava sua compreensão e sua capacidade de imaginação. Na verdade, não havia como ele conceber algo desse tipo.
Se ele dissesse: Um dia, eu vou empunhar uma katana e derrubar um monstro do tamanho de um prédio de dois andares, as pessoas com certeza ririam dele. Haruhiro faria o mesmo, é claro. Se alguém ao seu redor dissesse algo assim, ele pensaria: Que idiota.
Será que pessoas como Soma, que tornavam esses sonhos ridículos realidade, eram os verdadeiros gênios?
Gogh estava certo—era cruel. Não havia como fechar essa lacuna, muito menos superá-la. Era como a diferença entre a lua e uma bola. Claro, ambas eram redondas, mas tentar comparar as duas era inútil. Simplesmente eram diferentes demais.
![Hai to Gensou no Grimgar | Grimgar of Fantasy and Ash Light Novel Volume 06 Illustrations](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhHfADrid0YX3MK2t-FHzVj0NJ6KxhckhZO1RoicjayAiPw887Tn_svAi7foQBD9FexN89FOc_Ufl09Xrkci3MxGAVu0IrGbXlPKo0wdAsot_h2bn4G7pgcGJhcvxfjiEvToG4BGd5BqQKWRRpdtboVqmbxsJQcL7znJykKOGJ5iS6Uyjc6t1Ga3qMJQ-8/s1600-rw/Hai%20to%20Gensou%20no%20Grimgar%20Ilustra%C3%A7%C3%B5es%20Vol%2006_12.webp)
Mesmo as coisas que vinham à mente quando ele pensava sobre isso eram tão ordinárias que Haruhiro só queria desaparecer. Ele sempre soube que era comum, então não ficava frustrado com isso, mas ainda assim o fazia se sentir vazio. Se ele tivesse pensado que tinha potencial para ser alguém e estivesse mirando o topo, o choque provavelmente o deixaria incapaz de se recuperar.
Ele estava feliz por ele e todos os outros reconhecerem sua mediocridade. Graças a isso, ele só precisava lidar com esse sentimento de impotência.
— Soma! — gritou uma criatura de beleza e elegância sobre-humanas enquanto passava correndo por Haruhiro.
Era natural que ela parecesse inumana. Ela não era humana.
Ela é uma elfa. Bem, Taro também é um garoto extraordinariamente bonito. Talvez a raça élfica só tenha gente bonita? De qualquer forma, a beleza dela se destacava. Aquela pele clara dela deveria ser contra as regras. E ela tinha cabelo prateado também. O jeito que os olhos dela brilhavam, pareciam exatamente como joias. Quanto ao seu corpo, ou melhor, sua figura e musculatura, elas não eram nem humanas. Tipo, a cabeça dela é tãoooo pequena. O jeito que ela corre também é diferente. Os passos dela são muito mais leves do que os de um humano. É menos como se ela estivesse impulsionando-se do chão, e mais como se estivesse deslizando sobre ele.
— Você está correndo sozinho de novo! — Lilia sacou uma espada fina que combinava bem com ela e investiu direto contra a hidra.
Ela era uma dançarina de espada. Era realmente como se ela estivesse dançando. Lilia rodopiava ao redor dos tentáculos, fazendo sua espada dançar. Em vez de cortar os tentáculos com a espada, parecia que ela os cortava com o movimento da espada e de seu corpo. Mesmo que ela não conseguisse cortá-los completamente como Soma, Lilia definitivamente estava ferindo os tentáculos que atacava. Naturalmente, eles não conseguiam tocá-la. Ela nunca deixava nada chegar perto dela.
Enquanto Haruhiro prendia a respiração, observando intensamente as magníficas e sublimes técnicas de espada da elfa, ele ouviu alguém soltar um suspiro que parecia um bocejo. Quando olhou para o lado, o homem grande com dreads passou por Haruhiro com passos relaxados, mas incrivelmente largos.
Kemuri era um paladino, assim como Akira-san, Tokimune ou Kuzaku. Naturalmente, isso significava que ele tinha um escudo nas costas, mas a espada muito longa que ele carregava diagonalmente sobre as costas chamou a atenção de Haruhiro primeiro.
Kemuri se aproximou da hidra lentamente, puxando a espada com as duas mãos.
Não importa o quão bom ele seja, isso não é um pouco descuidado demais?
Um dos tentáculos mirou em Kemuri. De cima e de lado, desceu diagonalmente em direção a ele.
— Lá vai! — Kemuri não se esquivou. Ele encontrou o tentáculo com sua espada. — Ho!
Quando colidiu com a espada, o tentáculo foi rasgado ao meio. Como aquilo funcionava? Ele havia acabado de vencer uma disputa de força bruta contra um tentáculo de mais de dois metros de espessura.
— Se ele faz essas coisas, fico surpreso que suas costas não doam. — Akira-san estava acariciando o queixo, já em modo espectador.
Esse é o problema aqui?
— Você tem dores nas costas, afinal. — Miho esfregou as costas de Akira-san.
— Hmph! Eu também poderia fazer isso... — Branken estava com o machado no ombro, parecendo que estava fazendo uma pausa também.
— Eu passo, Obrigada. — Kayo caminhou até Gogh, pegou seu marido e o carregou nos braços como se ele fosse uma princesa. — Você fez um bom trabalho. Deve estar cansado de usar tanta magia, não é, querido?
— ...Nem estou tão cansado assim, então pare de me carregar desse jeito.
— Nessa idade, o que você tem para se envergonhar? — Kayo perguntou.
— É exatamente por causa da minha idade que isso é tão embaraçoso. Me põe no chão!
— Eu não quero.
— Droga!
Enquanto observava aquele casal tão próximo que fazia qualquer um que visse se sentir envergonhado por eles, o filho élfico deles usava um sorriso verdadeiramente satisfeito.
— Oh, minha nossa. É a Shima-chan — disse Miho. Olhando na mesma direção que ela, Haruhiro viu a sensual oneesan caminhando graciosamente em sua direção.
— Olá — disse Shima com um aceno de cabeça. — Como está a situação aqui?
— Está mais difícil do que pensávamos. — Akira-san inclinou um pouco a cabeça para o lado. — Parece que não conseguiremos apenas atingir o ponto fraco e terminar rapidamente. Vamos ter que desgastá-la. Onde está o Pingo-kun?
— Ele está seguindo de perto o deus gigante. Zenmai também. Ele está com Pingo desde que voltou, quando não conseguiu mais liderar a hidra.
— Você acha que Lala e Nono fugiram? — Akira-san perguntou.
— Eu me pergunto — Shima disse. — Não dá para prever esses dois.
— Acho que teremos que cuidar da hidra primeiro.
— Se algo acontecer, eu te curo — disse Shima. — Não que eu ache que vá acontecer.
— Não, eu vou contar com você. Quero dizer, já estou ficando velho, afinal. Eu poderia escorregar a qualquer momento.
— Só pode estar brincando.
— Estou falando sério. — Akira-san deu um longo suspiro. — Branken, Kayo, hora de voltar ao trabalho.
— Muito bem. — Branken acariciou a barba, com um fogo queimando em seus olhos.
— Querido, me espere, tá? — Kayo colocou Gogh no chão, então girou os braços em círculos para aquecer.
— Eu também vou ajudar! — Taro preparou seu arco.
Eles estão realmente fazendo isso... Bem, acho que era de se esperar, né? Quer dizer, parece que Soma, Lilia e Kemuri conseguiriam derrotar aquela coisa sozinhos, pensou Haruhiro. Não havia nada que ele e os outros pudessem fazer, então talvez fosse melhor ficar apenas assistindo o final da luta de camarote. Ou melhor, eles não tinham outra escolha a não ser fazer isso.
Tada falou: — Vamos roubar o brilho deles, Tokimune.
— Vamos nessa, Tada!
Tada e Tokimune estavam prontos para agir, e Iron Knuckle, os Berserkers e Orion também pareciam ver esse como o momento para virar o jogo, mas Haruhiro não tinha a menor intenção de se meter.
Apesar disso, Ranta disse: — O-O-O-O-Okay, eu também! — com a voz trêmula. Ele era um caso perdido.
— Tá bom, vai lá então — respondeu Haruhiro.
— Espera, você não vai me impedir?! Droga, seus olhos de peixe morto! — gritou Ranta.
— Meus olhos não têm nada a ver com isso...
— Claro que têm, seu idiota! Esse seu olhar me dá arrepios! — gritou Ranta.
— Akira-san e os outros estão indo sem você, sabia? — disse Haruhiro.
— Uou, é verdade! Perdi a chance! Cara, já era. Que pena, né? Não posso ir mais. Tudo culpa sua, Parupiro.
— Minha culpa, né...
Enquanto pensava, Por que você não vai logo e se joga contra a hidra, Haruhiro olhou ao redor. Não havia como ele lutar contra a hidra, mas ainda poderia haver cultistas ou gigantes brancos vindo. Se necessário, eles poderiam lidar com alguns desses.
É isso mesmo. Tenho que me concentrar. Nós, pessoas normais, precisamos fazer coisas normais. Isso é o suficiente, ou melhor, é tudo o que podemos fazer. Mesmo sendo medianos, não vamos deixar nossas habilidades enferrujarem, sabe? Quero dizer, se deixássemos, seríamos ainda piores que medianos.
— ...Espera? Aquilo é...? Hã...? Espera aí... Yume?
— Miau? — perguntou Yume.
— Ei, ali... — Haruhiro apontou para o sul. — Quer dizer, pode ser coisa da minha cabeça, mas...
— Hã? Puxa vida. Tem algo ali — concordou Yume. — Não tenho certeza, mas talvez seja uma hidra?
— É, eu também pensei isso. Parece... — Haruhiro entrou em pânico e olhou novamente. — I-Isso parece uma hidra, né?! Parece uma h-h-hidra, certo?! Não é?!
— Outra?! — Mary estremeceu.
— Não pode ser... — Shihoru estava tremendo.
— Hã? Isso não é ruim? — Talvez por causa do cansaço, a postura de Kuzaku estava pior do que o normal.
— Você tá brincando... — Ainda sob o braço de Mimorin, Anna-san protegeu os olhos com uma mão e olhou para a distância. — Mas que droga?! No way!
— Ah, não, não, não, não, não! — Ranta apontou a ponta de sua Lightning Sword Dolphin para Haruhiro. — Isso é tudo culpa sua, cara! Eu te culpo!
— O que foi isso? — Mimorin disse em um tom monótono e deu uma pancada na cabeça de Ranta com seu cajado.
— Urgh... — Ranta se agachou de dor.
— Cara! — Kikkawa tentou fazer uma piada por algum motivo. — Tipo, isso não é o fim do mundo? Até eu tenho que admitir derrota depois de ver isso!
— Hm... — Gogh parecia estar pensando nisso.
— Bem, essa é uma situação complicada — Miho falou em um tom que não parecia sério o suficiente, considerando a gravidade da situação.
Será que é porque ela é bonita demais? Haruhiro se perguntou. Ou isso não tem nada a ver?
— Tinha outras, hein — Shima disse com a testa franzida de um jeito que, numa palavra, parecia sedutor.
Espera aí, por que essas pessoas estão agindo tão tranquilas? É experiência? Esse tipo de crise não significa nada para eles? Talvez pensem que vão conseguir sair dessa de qualquer jeito?
— A-A-Akira-san! — Haruhiro correu até ele.
Akira-san estava prestes a atacar a hidra. Mesmo assim, ele notou Haruhiro e se virou para ele.
— O que foi, Haruhiro-kun?
— I-Isso é ruim! Tem uma hidra! — Haruhiro olhou mais uma vez para o sul, depois para o leste e oeste.
Ele quase ficou sem palavras.
Não, eu não posso me perder agora. Não nesse momento.
Não era só o sul. Foi uma boa ideia ter olhado para o leste e oeste também. Foi bom? Ele não sabia dizer. Mas os fatos eram os fatos.
— T-T-T-T-Tem mais vindo! Eu vejo uma, duas... três ou quatro?! Algo assim!
— O que você disse? — Até Akira-san ficou surpreso com a notícia, mas aparentemente não a ponto de ficar chocado. Ele deu uma rápida olhada ao redor, depois levantou a espada bem alto. — Miho, Gogh, mantenham-me informado da situação. A todos os soldados voluntários confiantes em suas habilidades! Sigam-me e Soma! Não fiquem para trás! A vitória pertencerá a quem a conquistar!
Com o lendário homem os incentivando, os soldados voluntários rugiram em uníssono.
Haruhiro ficou perplexo. Huh? É sério isso...? Dessa vez, ele realmente ficou sem palavras e permaneceu ali em choque.
Não, bem... Se Akira-san diz isso... é a resposta certa—Eu acho. Provavelmente.
A hidra original já havia sido empurrada ao limite por Soma e os outros, restando apenas três tentáculos completamente intactos. Ela usava esses tentáculos para saltar e correr. Assim que os tentáculos restantes fossem cortados, nem isso ela conseguiria mais fazer.
Aquela hidra seria derrotada em breve. Mesmo que surgissem novas hidras, isso não mudaria a situação. Eles poderiam derrubá-las uma de cada vez. Akira-san devia estar confiante sobre isso. Se ele tinha Soma e os outros ao seu lado, eles poderiam vencê-las. Ele devia ter tomado sua decisão levando tudo isso em consideração.
Haruhiro usou a parte de trás da mão para limpar a área em volta da boca e olhou ao redor.
Hidras.
Havia uma ao sul, uma a leste e uma a sudoeste. Isso fazia três que ele conseguia ver. Mas não podia dizer com certeza que não viriam mais. Além disso, como ele já esperava, não eram só as hidras. Ele avistou gigantes brancos também. E cultistas. Com certeza, parte deles viria para atacar os soldados voluntários.
Será que eles estão planejando usá-los? O pensamento passou pela cabeça de Haruhiro de repente.
Entre Soma, Akira-san e suas party, eles poderiam derrotar as hidras. Não precisavam da força dos outros soldados voluntários. Apesar disso, Akira-san havia incentivado todos a ficarem. Se os inimigos menores se envolvessem na luta, isso complicaria as coisas. Será que eles estavam planejando usar os outros para lidar com esses pequenos?
Não, não, Akira-san não era esse tipo de pessoa. Pelo menos, era a sensação que Haruhiro tinha. Akira-san era um grande homem e uma boa pessoa. Ele não usaria os outros como peões descartáveis. Ele era tão compreensivo e atencioso com os outros, completamente perfeito—
Será mesmo?
Ele costumava ser um covarde. Isso foi o que Miho havia dito. Embora ele não parecesse nada com isso agora.
Akira-san parecia tão gentil. Era forte, confiável, e se algo acontecesse, parecia que ele protegeria todos, como um pai—mas seria mesmo?
Akira-san não era do tipo genial. Houve outros mais talentosos que ele, mas todos morreram. Akira-san sobreviveu e se fortaleceu. Isso foi o que Gogh tinha dito.
Como Akira-san sobreviveu? Não teve, por vezes, que tomar decisões duras, até frias? Não foi por isso que ele ficou mais forte e sobreviveu?
Haruhiro se virou e, tentando parecer o mais casual possível, perguntou a Gogh: — Quantas perdas você acha que teremos?
— Oh, você é desse tipo, hein. — Gogh levantou uma sobrancelha. — Isso é um pouco inesperado.
— O que você quer dizer?
— Eu achei que você fosse mais emocional. Não te conheço tão bem, então era só uma impressão. Se você consegue calcular as perdas com calma, pode estar mais apto a ser um comandante do que eu pensava.
— ...Você ainda não respondeu minha pergunta.
— É questão de sorte. — Gogh girou o dedo indicador em círculos. — Se a nossa sorte for ruim, até nós podemos morrer. É assim que funciona. Não tem como dizer quantos vão morrer. Claro, eu não planejo morrer aqui. Se você quer sobreviver, sugiro que fique ao nosso lado.
— Isso não está certo — disse Haruhiro.
— Huh?
— Não está certo. — Haruhiro suspirou.
Sinto como se o sangue estivesse subindo à cabeça. Não fique emocional. Não estou bravo. Só que, não é isso, pensou.
— Se você diz que sobreviveu por sorte, só pode falar isso em retrospectiva — ele disse. — Na verdade, há muitos fatores envolvidos, não acha? Você chamaria ser usado como um peão descartável por outra pessoa de sorte? Eu não vejo dessa forma. Eu tenho casos em que penso: “Eu só sobrevivi graças àquele cara”, ou “Eu teria morrido se as coisas tivessem acontecido de outra forma”. Isso não é sorte. É graças a alguém, ou algo.
— E daí? — Gogh sorria levemente. — O que você quer dizer com isso?
— Eu não sei se consigo expressar isso muito bem, mas...
— Vai direto ao ponto. Odeio rodeios.
— S-Só... Eu estava pensando, não seria possível tentar minimizar o número de pessoas que morrem? Sim, tenho certeza de que os fortes podem sobreviver. Pode significar que os que sobrevivem são fortes. Mas, mesmo que sejam fracos, ou azarados, as pessoas ainda estão vivas, não estão?
— Por que deveríamos nos dar ao trabalho de cuidar dos fracos e azarados? — perguntou Gogh.
— Eu não acho que vocês têm que cuidar deles...
— Exatamente. Não somos filantropos, e não estamos administrando uma instituição de caridade aqui.
— A-Ainda assim, se houver algo que você possa fazer, por favor, faça.
— Para quê? — Gogh perguntou.
— Quero dizer, se eles morrerem, acabou tudo!
Haruhiro mordeu o lábio e balançou a cabeça. Se ele fosse mais inteligente, talvez pudesse ter elaborado um argumento convincente e persuadido Gogh. Ou será que o pensamento de Haruhiro estava errado desde o início?
— Quando você morre, não sobra nada — ele explicou. — Pelo menos para aquela pessoa, todas as possibilidades são fechadas. Então, é tão estranho que eu queira que o menor número possível de pessoas morra? Se não houver outro jeito, tudo bem, mas se houver algo que você possa fazer, acho que deve fazê-lo. Desconsiderar pessoas que você não conhece como se fossem apenas uma ferramenta é simplesmente a opção mais fácil.
— Está dizendo que devemos deliberadamente escolher o caminho mais difícil? — Gogh exigiu.
— Acho que seria melhor assim.
— Você é tão ingênuo. — Shima riu. — Mas não me importo com isso.
— Mas, Haruhiro-kun. — Miho olhou diretamente nos olhos de Haruhiro. — O que você pode fazer? Você não quer sacrifícios. Isso é bom, mas o que pode fazer a respeito?
— Não, isso...
Era um olhar estranhamente intenso. Haruhiro quase olhou para baixo, mas conseguiu não fazer isso de alguma forma. Com os olhos semicerrados, ele mal conseguiu sustentar o olhar de Miho. Foi o melhor que pôde fazer.
— Não... não há nada que eu possa fazer. Na verdade, se houvesse, eu já estaria fazendo. É por isso que estou pedindo ao Gogh-san.
— Oh... — Os olhos de Miho se arregalaram um pouco.
— Você é um absurdo — Gogh franziu a testa e deu de ombros. — Não acho que essa sua honestidade seja uma virtude. Nem um pouco. Mas é algo que, em algum momento, perdemos. É bom voltar às nossas raízes de vez em quando.
— Os instintos de Soma podem ter estado certos, sabe. — Com essas palavras misteriosas, Shima se inclinou perto de Haruhiro. Algo cheirava incrivelmente bem.
Espera, ela não está perto demais?
— Estamos procurando uma maneira de voltar ao nosso mundo original. — Sua voz era quase um sussurro.
Haruhiro tapou os ouvidos e recuou instintivamente. — ...Hã? Original? O que você quer dizer, uma maneira de voltar...?
— Esqueça isso por enquanto. — Shima levou o dedo indicador aos lábios entreabertos. — Falaremos sobre isso outra hora. Primeiro, temos que sair daqui, certo?
— Isso foi ideia sua — Gogh disse, pressionando um dedo na testa de Haruhiro. — Mesmo que você não possa fazer nada, se tentar apenas fugir, eu não vou tolerar. Você vai ficar conosco até o fim. Pelo menos nos deve isso.
— Oka—
Ele estava prestes a concordar imediatamente, mas então voltou à realidade. Esse não era só um problema de Haruhiro. Isso afetava seus companheiros também. Haruhiro era o líder da party.
Quando ele se virou, Ranta riu e deu-lhe um olhar amargo. — Se você não tivesse dito, eu ia dizer, careca.
— Não tem como isso ser verdade. — Yume inflou uma das bochechas.
— Já decidi que vou seguir você — disse Kuzaku, parecendo um cachorro grande e leal neste ponto.
— Eu também — Mary sorriu e assentiu.
— ...Acho que está tudo bem. — Shihoru também lhe deu um sorriso desajeitado.
— Uhh, e quanto a todos nós?! — Kikkawa olhou para Mimorin e Anna-san, depois olhou em volta inquieto. — O quê?! Onde está o Inuicchi?!
— Esse idiota sumiu faz tempo, né?! — Anna-san gritou.
— Sério?! Nem percebi — disse Kikkawa. — Bem, tanto faz! Ele provavelmente está vivo! Quanto a nós, acho que depende do Tokimune, né?
— Infelizmente — Mimorin assentiu.
— Ah, que saco. Que dor de cabeça — Gogh olhou rapidamente para Haruhiro e os outros. Sua expressão mostrava que ele estava de saco cheio, mas seus olhos tinham um brilho que não estava ali antes. — Por enquanto, vocês vão escoltar Miho, Shima e eu. Fiquem perto e façam o que eu mandar. Vou ensinar o que significa trilhar um caminho espinhoso. A partir de agora, vamos recuar, minimizando as baixas. Vamos dar um jeito de passar pelo deus gigante e escapar do Reino do Crepúsculo.
Se gostou do capítulo, compartilhe e deixe seu comentário!