Hai to Gensou no Grimgar | Grimgar of Fantasy and Ash Volume 06 Capítulo 03 [Com Todo Meu Coração]
...E daí? Mesmo que fosse verdade, isso significava alguma coisa?
Não. Não significava nada. Não havia nada que ele pudesse fazer a respeito.
Os sentimentos de Haruhiro não impactavam a maneira como todos viviam o dia a dia. Seus sentimentos não mudavam nada.
Agora ele havia resolvido esses sentimentos, ou aceitado, poderia-se dizer. Na verdade, toda a frustração dele havia evaporado neste ponto. Ele nem ligava mais para o que estava acontecendo entre Mary e Kuzaku.
Bem, não tinha chegado ao ponto de ele pensar: Espero que os dois sejam felizes, mas sim: Tudo bem, façam o que quiserem. Ah, e vocês podem até pensar que estão mantendo isso em segredo, mas eu sei—
Talvez?
Sim, honestamente, ele não conseguia pensar assim também.
Eles achavam que era um segredo, mas ele sabia. O que ele poderia fazer para resolver essa diferença? Ele deveria tentar resolver isso? Ele não tinha certeza.
Era desconfortável.
Então, quando surgiu a ideia de Vamos voltar para Altana por um tempo, foi um grande alívio.
Ele tinha guardado uma boa quantia de dinheiro, então estava na hora de aprender pelo menos uma nova habilidade, e ele queria fazer algumas compras também.
Além disso, ele queria se encarar de forma adequada. Ou melhor, ele precisava de um tempo. Resolver seus sentimentos e tudo mais, não era tão fácil!
Ao longo de cerca de dois dias, eles viajaram do Assentamento do Reino do Crepúsculo, passando pelo Posto Avançado do Campo Solitário, e depois atravessando as Planícies do Vento Rápido, até Altana.
Eles se separaram por um tempo ali. Haruhiro foi para a guilda dos ladrões, onde passou sete dias aprendendo Stealth (Furtividade), a habilidade suprema dos ladrões. Ele tinha pensado em aprender Air Throw (Arremesso), uma habilidade de combate e assassinato, mas como líder simples e entediante que também fazia o papel de batedor, o que ele realmente queria era o conjunto completo de habilidades que o permitissem ocultar sua presença e não ser detectado pelos outros.
Ele pagou 20 moedas de ouro para a guilda por isso. Não foi barato— na verdade, foi caro—mas, se ele não aprendesse direito, estaria perdendo uma grande oportunidade. Além disso, a mentora de Haruhiro, Barbara, era super rígida, então não havia a menor chance de ela deixá-lo fazer corpo mole.
— Achei que ia morrer... — Haruhiro gemeu.
Desta vez, sem piadas ou exageros, ela havia dito para ele morrer. Para se tornar um cadáver.
Stealth era composta por três técnicas amplas:
A primeira, para eliminar sua presença: Hide (Ocultar).
A segunda, para se mover com a presença eliminada: Swing (Balanço).
A terceira, para utilizar todos os seus sentidos e detectar a presença dos outros: Sense (Sentido).
Quando ele começou com Hide, a primeira etapa, Barbara havia ordenado que ele morresse e, em seguida, o puniu impiedosamente quando ele não conseguiu fazer direito. Ela quebrou dois, talvez três ossos, e então o forçou a treinar Hide naquele estado.
Havia uma pessoa com um passado duvidoso, um ex-ladrão que agora era sacerdote. Quando alguém se machucava na guilda dos ladrões, ele vinha curar, mas ainda assim era questionável se Barbara deveria estar levando seus alunos ao ponto de quase desmaiar de tanta dor. Era cruel.
Como Barbara-sensei dizia, se ela não o quebrasse sob essas condições extremas, ele não aprenderia direito. Ela estava fazendo isso tudo por ele. Ele deveria estar chorando de gratidão.
Na verdade, era um teste pelo qual ele não conseguiria passar sem derramar algumas lágrimas. Ele podia ver como o que Barbara dizia tinha um pouco de verdade. Contudo, se tivesse cometido um erro, Haruhiro poderia ter morrido. Era assustador.
Mas ter suportado tudo isso valeu a pena. Os fundamentos de Stealth agora estavam gravados profundamente na mente e no corpo de Haruhiro, e nunca mais o deixariam. Agora, até quando ele vagava sem rumo por Altana à noite, ele se pegava usando Hide, Swing e Sense sem nem perceber. Era um pouco estranho, para dizer o mínimo.
— Você tem aptidão para isso — Barbara havia dito, oferecendo-lhe um raro elogio. — Você realmente deve ter nascido para esse trabalho.
— Bem... — Haruhiro sorriu um pouco enquanto se misturava à multidão no mercado. — Fico feliz em ouvir isso...
Mesmo que seja para ser um ladrão, né?, ele pensou. Não precisa nem dizer, mas um ladrão é alguém que rouba coisas. Um assaltante.
Aparentemente, a guilda dos ladrões teve suas origens em uma sociedade secreta de ladrões, Viúva Negra, que operava nas sombras do Reino de Arabakia. Quando Arabakia avançou para as fronteiras, a Viúva Negra ofereceu ajuda ao Exército Real em troca da libertação de seus camaradas presos. Essa oferta foi aceita, e alguns desses antigos prisioneiros, que foram enviados para a morte certa como batedores nas fronteiras, acabaram criando a guilda dos ladrões.
Que bela história heroica, hein? Haruhiro pensou. Será que é por causa dessas origens que o treinamento da guilda dos ladrões é tão duro? Ou a Barbara-sensei é só uma sádica?
Qualquer que fosse o caso, um ladrão ainda era um ladrão. Alguns usavam as habilidades que adquiriram na guilda para levar uma vida de crimes intermináveis. Haruhiro não tinha pensado muito nisso antes de se tornar um ladrão—na verdade, ele nem pensava nisso—mas, quando ele dizia: Eu sou um ladrão, fazia mais de uma pessoa franzir a testa. Especialmente aqueles que levavam vidas normais em Altana.
Isso é só preconceito, ele poderia tentar explicar. A maioria dos ladrões da guilda são soldados voluntários e não roubam nada.
Mas a arte do roubo ainda incluía habilidades como Picking (Roubo), Burglary (Arrombamento) e até mesmo Pickpocket (Batedor de Carteiras), todas com aplicações práticas. Se quisesse, um ladrão poderia se voltar para o crime a qualquer momento. Não era difícil culpar as pessoas por serem cautelosas.
— Não é uma profissão muito respeitada, né? — murmurou Haruhiro.
Ele gostava de se esgueirar e fazer reconhecimento. Isso combinava com ele, a ponto de pensar que era sua vocação.
— Mas ladrão, hein... Talvez eles devessem ter mudado o nome...
Quando a guilda foi formada, não precisavam se chamar de ladrões. Poderiam ter escolhido outro nome. Ou será que os nossos antecessores que fundaram a guilda tinham orgulho de serem ladrões? Não, mas isso é algo de que se ter orgulho?
— A guilda dos ladrões não tem um código, então alguém poderia até fundar outra guilda... Não que eu vá fazer isso, é claro — murmurou. — Será que alguém faz isso por mim?
Se alguém fizesse, Haruhiro se juntaria a essa guilda num piscar de olhos.
Vou ficar um pouco triste em romper minha relação de mestre e aprendiz com a Barbara-sensei? Talvez? Talvez não? Quero dizer, a Sensei é assustadora.
Bem, não era como se ele estivesse considerando isso seriamente. Não importava tanto assim.
Ranta havia dito que passaria seis dias aprendendo Missing (Desaparecer), uma habilidade de combate dos Cavaleiros das Trevas. Shihoru havia dito que passaria cinco dias aprendendo Shadow Pond (Lago Sombrio), que pertencia ao foco principal dela, a Magia Darsh, e depois dois dias tentando aprender o feitiço Ice Globe (Globo de Gelo) da Magia Kanon. Yume parecia ter algo em mente e planejava passar sete dias aprendendo habilidades como Hunting (Caça), Tracking (Rastreamento), Pit Trap (Armadilha de Poço) e Bear Trap (Armadilha de Urso).
Como Mary não podia usar magia de luz no Reino do Crepúsculo, ela decidiu passar cinco dias aprendendo a habilidade de autodefesa Revenge (Vingança), enquanto Kuzaku decidiu passar seis dias aprendendo as técnicas defensiva Guard (Guarda) e Tug of War (Cabo de Guerra).
Haruhiro, Shihoru e Yume passaram sete dias treinando, Ranta e Kuzaku seis, e Mary cinco. Quanto aos Tokkis, Anna-san e Tada finalmente aprenderam Sacrament (Sacramento). Os outros também se esforçaram em seus próprios treinamentos, e depois usaram o tempo livre para fazer o que quisessem. Amanhã todos se reuniriam novamente.
Ranta provavelmente estava no Beco Celestial por agora, atrás de mulheres. Haruhiro não sabia muito sobre isso, mas Altana tinha bordéis... Era assim que se chamavam? Lugares onde você pagava para ter a companhia de mulheres, e não faltavam pessoas que frequentavam esses lugares.
Na verdade, Ranta o convidara uma vez. Quando ele recusou, Ranta ficou bravo. Ele aparentemente não tinha coragem de ir sozinho e estava tentando arrastar Haruhiro junto. Se ele quisesse ir, deveria ter simplesmente erguido a cabeça e ido. No entanto, Ranta simplesmente não conseguia se obrigar a dar esse passo, e sem dúvida ainda não havia ido. Ele provavelmente estava em algum bar, com garotas servindo suas bebidas, afogando as mágoas, ou paquerando.
Mary e Kuzaku estavam...
Bem, sabe como é? Provavelmente estavam juntos em algum lugar. Claro que estariam! Eles pareciam estar saindo juntos, afinal. Me pergunto se eles estão... fazendo isso. Não que eu me importe. Por favor, construam uma família maravilhosa. Será que estou me adiantando? Bem, isso pode acontecer eventualmente. Acho que seria uma boa coisa...? Talvez...?
O sino começou a tocar. Era o sino das seis da tarde. O sino que marcava as horas em Altana começava a tocar a cada duas horas a partir das seis da manhã. Às seis da tarde, ele tocava sete vezes para avisar a chegada da noite e depois “dormia” até o dia seguinte. As lojas no mercado começariam a fechar, enquanto o Beco Celestial se tornaria mais movimentado.
Haruhiro parou em frente à Companhia de Depósitos Yorozu.
— Ei.
— Tá atrasado, tá?! — disse Anna-san, inflando as bochechas de raiva e pulando. — Talvez não, né?! Porque você não tá realmente atrasado, né?! Mas, em um encontro, o homem tem que chegar cedo, yeah?! Yeah?!
Haruhiro inclinou a cabeça.
— Me desculpa.
— Você não tá agindo com retidão, né?!
— Você quis dizer sinceridade.
— Com sinceridade!
— Ah, entendi — disse Haruhiro. Ela queria que ele fosse sincero com ela? Eu pensei que ela tava falando sobre outra coisa. Que vergonha.
Haruhiro olhou hesitante para a garota alta que estava ao lado de Anna-san.
— ... Oi.
— Oi... — Mimorin sorriu. Talvez? Sua expressão quase não mudava, então era difícil dizer. — Eu queria te ver.
As palavras dela eram diretas o suficiente para não haver chance de mal-entendido. Ela era tão direta que isso fazia o estômago de Haruhiro doer.
— ...Entendo — murmurou ele.
— E você, Haruhiro? — ela perguntou.
— Hã, eu?
— Você também queria me ver?
— Er...
Haruhiro abaixou a cabeça. Isso o fazia querer dar uma resposta diplomática. Se ele desse, seria mais fácil. Pelo menos por enquanto. Mas ele não conseguia fazer isso.
Haruhiro levantou o rosto, olhando Mimorin nos olhos.
— Acho que nem tanto.
— Oh! — ela exclamou.
— Dizer isso com uma voz sem emoção não ajuda muito...
— Estou muito magoada. Meu coração está partido.
— Pronto, pronto, né? — Anna-san começou a esfregar as costas de Mimorin, ou melhor, o traseiro dela. Haruhiro podia ver as lágrimas se formando nos olhos de Mimorin, e até ele ficou surpreso com aquilo.
— Não, espera—o-onde está o Kikkawa? Ele também devia estar aqui hoje...
— Houve circunferência? — Anna-san disse, continuando a esfregar o traseiro de Mimorin enquanto dava de ombros. — Ah! Não. Circunstâncias? Foi por isso que o Kikkawa não veio, né.
— Com o Kikkawa, seríamos quatro, e poderíamos ter aproveitado o tempo para nos conhecermos melhor. Foi por isso que eu aceitei...
— Na vida, há altos e baixos! Né?! — disse Anna-san.
— Não entendi...
— Droga, você tem que entender o coração de uma donzela, poxa! Né?!
— Tá tudo bem. — Mimorin limpou as lágrimas dos olhos usando os dois dedos indicadores. — Isso não é o suficiente para me desencorajar.
Desencoraja, por favor,... Haruhiro pensou isso, mas não era como se ele quisesse partir o coração de Mimorin. Se possível, ele não queria que ela se machucasse.
Ela podia estar em outra party, mas, de certa forma, eles eram como aliados, então ele queria se dar bem. Pelo menos, ele não queria que a atmosfera ficasse tensa. Ele não queria nada especial, apenas que as coisas fossem normais entre eles. No entanto, por algum motivo, Mimorin não parecia sentir o mesmo, e ele já tinha recebido vários convites para sair com ela, sempre por meio de Anna-san.
No começo, eram encontros a sós com Mimorin. Bem, basicamente algo como um encontro. Ficava claro que Anna-san estava tentando fazer ele ir com a maré e ficar com ela, então ele recusava educadamente.
Isso, no entanto, não fez Mimorin desistir, e Anna-san provavelmente ficou irritada com isso também, então os convites continuaram. No final, até Tokimune havia pedido para ele, Por favor, saia em um encontro com ela, só uma vez.
Se ele continuasse recusando, achava que poderia acabar irritando as pessoas, mas Haruhiro podia ser bem teimoso. Ele deu condições.
Encontro a sós estava fora de questão. Afinal, como ele já tinha deixado claro, Haruhiro não estava interessado. Se alguém mais estivesse presente e fosse estritamente como amigos, Haruhiro não odiava Mimorin nem nada do tipo, então ele não teria problema com isso. Foi assim que, ocasionalmente, Mimorin, Anna-san e mais uma pessoa saíam para comer com Haruhiro ou faziam caminhadas juntos.
Dessa vez, como estavam de volta a Altana depois de um tempo, a sugestão foi que os quatro—Mimorin, Anna-san, Haruhiro e Kikkawa—fossem a um bom restaurante para jantar juntos. Não havia razão para ele recusar, então ele aceitou.
Honestamente, ele ainda se sentia um pouco hesitante. Mas não podia negar que estavam começando a se sentir vagamente como amigos, então talvez conseguissem passar por isso numa boa? Foi o que ele pensou.
Talvez estivesse sendo ingênuo. Ele caiu direitinho na armadilha deles.
Ele não estava satisfeito.
Mas também não estava bravo. Ficar bravo só o deixaria cansado.
— Bem, de qualquer forma, vamos comer algo? — Haruhiro perguntou.
— Vou comer. — Mimorin assentiu com firmeza.
Uau, pensou Haruhiro. Os olhos de Mimorin estão brilhando. Ela tá tão feliz assim?
Quando alguém está tão feliz, é difícil não se contagiar. Mas eu não desgosto dela, entendeu? Acho que ela é um pouco estranha. Ela é alta demais, e eu tenho que olhar para cima, o que acaba me puxando o pescoço, mas isso não é um grande problema.
Os três se dirigiram ao lugar que Anna-san disse que havia escolhido. Surpreendentemente, o cozinheiro, que também era o dono, era um elfo. Esse restaurante era conhecido pela sua carne apimentada e pela grande variedade de pratos com vegetais.
Era um restaurante longo e estreito, e também lotado, mas eles conseguiram entrar de alguma forma. Havia uma pequena mesa no fundo, cercada por cadeiras de quatro pés. Anna-san e Mimorin se sentaram de um lado, enquanto Haruhiro ficou de frente para elas. Anna-san, que gostava de estar no controle em ocasiões como essa, fez os pedidos.
A cerveja de ervas descia mais fácil que a cerveja comum. Cada prato exalava um aroma maravilhoso que estimulava o apetite, e o sabor também era muito bom.
Durante a refeição, Mimorin não disse nada. Anna-san, por outro lado, era bem falante, como sempre. Mimorin se sentava reta, quase sem fazer barulho. Seu jeito de comer era muito educado.
Já a maneira como Anna-san comia era bem desleixada. Para ser bem franco, seus modos eram terríveis. A verdade era que Haruhiro não suportava pessoas que deixavam comida cair, derrubavam coisas e mastigavam alto. Ele não a repreendeu nem fez uma cara feia, mas gostaria que ela pudesse melhorar isso.
Nesse ponto, ele via Mimorin de forma favorável. Honestamente, ele não a odiava como pessoa.
— Então? — Anna-san, que parecia estar um pouco alterada pelo álcool, fixou o olhar nele e soltou um arroto forte com cheiro de ervas. — O que você tem contra a Mimorin? Você é só um Haruhiro estúpido. What the hell, seu virgem!
— O que você quer dizer com... — Haruhiro olhou de relance para ver a expressão de Mimorin.
Os olhos deles se encontraram. Ela estava olhando fixamente para ele.
— Espera, é disso que estamos falando? Eu já estou pronto para dizer que podemos ser só amigos, de verdade...
— Você pode estar bem com isso, mas a Mimorin não está, entendeu?! — gritou Anna. — Entenda isso, idiota! Understand?
— No understand — ele disse secamente.
— Como não?! Dead or death?!
— Se essas são minhas opções, estou morto de qualquer jeito...
— Sem gracinhas! Responde logo! — Anna-san bateu na mesa. — O que há de errado com a Mimorin, hein?! Se você não tiver bons motivos, eu não vou te perdoar, tá?!
— Anna-san, c-calma... — murmurou Haruhiro.
— Como é que eu vou me acalmar, hein?!
— Pelo menos tenta falar mais baixo...
— Por que você tá tão calmo?! Fuck, você me irrita!
— Eu não sei o que te dizer...
O restaurante ficou mais silencioso à medida que Anna-san ficava cada vez mais exaltada. Aquilo estava ficando muito constrangedor.
Haruhiro pigarreou alto, esfregando a testa. Ele não queria ter aquela conversa, mas se não desse uma resposta séria, Anna-san não iria parar.
— Bem... Não sei — disse Haruhiro. — Não é... como posso dizer? Não é que haja algo de errado com ela, ou que eu não goste dela, ou algo assim, sabe?
— Então — perguntou Mimorin, inclinando-se para frente — o quê?
— Hmm... — Haruhiro fechou os olhos, esfregando-os com as duas mãos. — Não tenho certeza se consigo explicar isso muito bem. Tenho a sensação de que... me falta experiência.
— O mesmo vale para mim — disse Mimorin.
— E pra Anna-san também, yeah?!
— ...E-eu entendo. Erm, sabe? Não é uma questão lógica, certo? Esse tipo de coisa não é. Quer dizer, obviamente, né? Tem coisas como gostar do rosto da pessoa, ou dela ter sido gentil com você, essas coisas. As razões pelas quais as pessoas, basicamente, se apaixonam e tal? Os gatilhos. Em alguns casos, pode haver um, mas será que é só isso? Talvez não...
— Eu te amo, Haruhiro — disse Mimorin. — Você está certo, não há lógica nisso.
— Não, escu—
Ele quase disse Obrigado, mas se forçou a parar. Não havia dúvida de que aquilo o estava incomodando. Se ele agradecesse, seria uma mentira.
— É, — disse Haruhiro. — Olha, bem, não é que tenha algo errado com você, é só que eu não sinto esse tipo de coisa por você, de jeito nenhum. Acho que é ruim eu dizer isso assim tão direto? Talvez não seja?
— Claro que você está sendo ruim, né?! Ohhh, Mimoriiiin, Mimoriiiin...
Anna-san perdeu o controle, tentando abraçar Mimorin pelos ombros—mas, dada a diferença de tamanho entre elas, isso era impossível. Era um desafio inatingível.
Boa sorte com isso, Anna-san, pensou Haruhiro. A Mimorin ainda está chorando. Mas cara, ela parece mesmo estar sofrendo. Quando olho para ela, meu peito dói. Isso não significa que vou ceder à emoção, no entanto.
Anna-san começou a chorar também, e quando olhou para ele com os olhos vermelhos e cheios de lágrimas, Haruhiro honestamente quis fugir.
— Haruhiro é cruel! Um homem de coração frio, né?!
— Ah, claro — ele disse. — Não posso te culpar por me chamar assim.
— Você é uma semente de milho?!
— Hã? Semente de milho...? Ah, quer dizer “admite"? — Haruhiro perguntou.
(NT: Na tradução inglês, ela confundiu a palavra ‘concede’ com ‘Corn seed’, que significa ‘semente de milho’.)
— Isso! Essa é a palavra, yeah?! Como você soube?! Isso é incrível!
— Bem, eu tenho que admitir, estou surpreso por ter adivinhado, mas...
— Isso não importa, tá?! — gritou Anna-san.
— Claro que não...
— Não — disse Mimorin com um soluço. — Haruhiro não é de coração frio.
— What?! — gritou Anna-san.
— Haruhiro não é frio — disse Mimorin. — Ele só não é mentiroso.
— Nghhh — Anna gemeu, segurando a cabeça. — Não é mentiroso? Mas...
Você está começando a agir como um velho aí, Anna-san, pensou Haruhiro.
— Ele simplesmente não diz coisas que deixem uma falsa impressão — Mimorin mordeu o lábio com força. — Ele não me dá, a quem ele não ama, nenhuma esperança.
— Wahhhhhhhhhhh — Anna-san começou a puxar os cabelos, forçando-se a falar com uma voz que parecia prestes a tossir sangue. — Mimoriiiiiiiiiin, você não precisava dizer tudo isso, tá?!
— Eu entendo.
— Maaaass—
— Eu amo isso nele também.
— Ohhhhhhhh!
— Eu te amo. — Mimorin encarou Haruhiro enquanto as lágrimas desciam pelo seu rosto. — Então, por favor, me deixa te manter como um bichinho de estimação. Não, quer dizer... namora comigo.
— Me desculpe.
— Já esperava essa resposta.
Haruhiro continuou, hesitante.
— Bem, sabe... mesmo que essa coisa de “bichinho” seja meio estranha, dá para ver que você está falando sério e eu entendo, mas... mesmo que eu compreenda isso do meu jeito, ainda assim... isso só piora tudo... sabe? Eu não posso simplesmente falar qualquer coisa...
— Idiota! — gritou Anna-san, apontando o dedo para Haruhiro. — Você é burro?! Tá na idade de só pensar nessas coisas o tempo todo! Dia e noite, só pensa nisso! Esse é você, jovem! Por que não sai com ela e faz o que tem que fazer? Pode, não pode? Tá na fase do acasalamento, é ou não é?!
— Tá ficando um pouco vulgar aí, Anna-san — disse Haruhiro.
— Cala a boca, tá?! Olha! As peitolas da Mimorin! Boing! Ela tem um corpão, não tem?! Não dá vontade de morder aquilo?!
— Não, eu não vou fazer isso — respondeu Haruhiro. — Não sou o Ranta. Bom, ele só fala da boca pra fora também, então duvido que fizesse algo de verdade.
— A Mimorin tá caidona por você! Completamente! — insistiu Anna. — Com suas sexniques infinitas, ela vai te servir eternamente, sem dúvida!
— ...Sexniques?
— Técnicas sexuais são sexniques, tá entendendo?! Special technique! Sacou?!
( Sexual+techniques = sexniques)
— É... Mais ou menos. Mas você tá falando um pouco alto...
— E mais, ela é virgem! Virgem! Nem deu o primeiro beijo ainda!
— Isso é verdade — confirmou Mimorin, com uma expressão séria.
Isso era um ponto importante? Haruhiro não entendia muito bem, mas algo parecia estranho se aquilo fosse verdade.
— Huh? ...Então e essas special... technique...?
— Eu vou estudar — disse Mimorin, assentindo de novo. — Tá tudo bem.
— Deixa com a Anna-san, tá?! — Anna-san bateu uma mão em seu próprio peito, que, apesar de grande, não era tão grande quanto o de Mimorin. — A Anna-san vai pegar ela pela mão e ensinar cada uma das técnicas, uma por uma, tá?!
— Você tem bastante experiência... então? — perguntou Haruhiro, hesitante.
— Não seja bobo, pervert boy! Eu sou claramente uma virgem fresquinha, tá?!
— Não, mas então—
— Heh heh — Anna-san deu um sorriso ousado e beliscou o próprio lóbulo da orelha. — A Anna-san sabe muito sobre sexo. Sou o tipo de garota que só aparece uma vez a cada século, sabia? Vai ser fácil.
— ...Entendo.
— Na minha imaginação, eu faço mais de um milhão de caras chegarem ao clímax, sabia?
— Acho que você tá fantasiando um pouco demais.
— Foi óbvio que era uma piada, tá?! Porque a Anna-san é uma virgem pura, decente e sagrada!
— Certo, tá bom. Tudo bem...
Haruhiro tomou um gole da sua cerveja de ervas e olhou para baixo. O restaurante não estava mais silencioso como antes, mas ainda assim eles estavam atraindo atenção, e mais de alguns clientes estavam ouvindo a conversa. Anna-san gostava bastante de piadas sujas. Haruhiro não odiava essas piadas, mas também não gostava tanto delas.
— Então, que tal?! — Anna-san tomou um longo gole de sua cerveja de ervas, soltando um suspiro satisfeito. — Por enquanto, por que não tenta sair com ela? Tenta, vai? Não é um mau negócio, tá? Porque, com esse corpão, você vai se afogar no desejo sujo todo dia!
— Não, eu passo.
— Fuck you! — Anna-san mostrou o dedo do meio.
Não importava o que dissessem, ele não ia ceder nisso. Especialmente porque elas eram suas aliadas—mas mesmo que não fossem, ele sentiria o mesmo. Ele não estava disposto a sair com alguém por quem não tinha sentimentos românticos. Ou melhor, Haruhiro sentia que isso era impossível para ele. Mesmo que lhe pagassem, ele ainda pensaria assim. Na verdade, se lhe oferecessem dinheiro, isso poderia até piorar.
Talvez eu só esteja sendo teimoso? pensou. Não podia negar essa possibilidade, mas a questão era que ele era assim, simplesmente.
— Existe alguma... — começou Mimorin, mas as lágrimas começaram a rolar de novo, e ela as enxugou com a mão. — Desculpa... por chorar.
— ...Não — murmurou. Não sabia por que, mas aquilo fez seu coração disparar. Por que será? Por que seu coração acelerou? Haruhiro não fazia ideia. — V-Você não precisa se desculpar. Erm, ajudaria se você parasse de chorar. Não é como se eu quisesse te fazer chorar. Eu não quero que você chore...
— Isso é uma novidade pra mim — disse Mimorin. — Estou tão triste que dói.
— ...Desculpa.
— Não se desculpe. Não é sua culpa, Haruhiro. Eu que me apaixonei por você sozinha.
— Er, é, isso é verdade, mas..
— Posso continuar com minha pergunta? — perguntou Mimorin.
— Ah, claro.
— Existe alguma possibilidade?
— ...De quê?
— Mesmo que não agora. Algum dia...
— Hm, você quer dizer em algum momento no futuro? — ele perguntou.
— Sim.
— Hrm...
Haruhiro queria se contorcer, mas se controlou desesperadamente.
Não sei. Essa é realmente difícil. Estou encurralado.
Ele achava que talvez dizer: Não, em nenhum momento no futuro isso seria possível seria a coisa certa a fazer. Era errado ela se apaixonar por alguém como Haruhiro em primeiro lugar. O tempo não era infinito. Mesmo agora, ele estava passando. Não era como se ele não achasse que ela deveria desistir dele e encontrar outra pessoa—mas, sabe?
Era algo que Haruhiro devia decidir? Mimorin, à sua maneira, tinha encontrado algo atraente em Haruhiro. Como resultado, ela se apaixonou por ele. Haruhiro tinha o direito de negar esses sentimentos?
Tendo trabalhado junto com os Tokkis, Haruhiro já havia pegado uma noção de como Mimorin era. Sim, ela era estranha. Era uma maga, mas não conseguia abandonar os hábitos que adquiriu como guerreira. Ele ficava apavorado quando a via correndo na linha de frente, balançando sua espada. No entanto, ela era forte, e também era boa com a espada. Além disso, se importava muito com seus companheiros.
Às vezes, ela era adorável.
Ele realmente não a odiava como pessoa. Na verdade, até gostava dela. O problema era o jeito como ela se jogava para cima dele e forçava seus sentimentos. Se não fosse por isso, ele honestamente não teria nenhum problema com ela.
Ele até tinha uma visão positiva da personalidade de Mimorin. Pelo menos, gostava o suficiente para querer respeitar seus pensamentos e sentimentos.
Haruhiro não sabia o que fazer com os sentimentos de Mimorin e pensou: Se fôssemos apenas amigos, seria mais fácil, mas, mesmo assim... não seria errado tentar mudar os valores ou sentimentos dela só para se livrar dessa situação incômoda? No final das contas, ele estava pensando apenas em sua própria conveniência.
Além disso, se ele dissesse que não havia possibilidade de eles ficarem juntos, ele poderia até dizer isso, mas não seria uma mentira? Ninguém sabia o que o amanhã traria. Era questionável até se eles ainda estariam vivos.
Apesar disso, será que o melhor seria contar essa mentira? Ou ele deveria ser completamente honesto?
O que era o certo? O que ele deveria fazer por Mimorin? Será que ele realmente estava pensando em Mimorin? Ou estava apenas fingindo se importar? Não estaria sendo um hipócrita?
— Posso ser direto? — Haruhiro perguntou finalmente. — Bem, eu vou ser. Eu não sei o que é possível. Não sei o futuro. Isso não é só comigo, é com todo mundo. Só que, agora, sinceramente, eu acho você uma pessoa interessante. É divertido te observar, e eu não me importo de conversar de jeito nenhum, mas eu não consigo pensar em um relacionamento romântico. Eu realmente sinto como se fosse algo do tipo: Não podemos ser apenas amigos? Eu não consigo fazer mais do que isso agora. Talvez, daqui a alguns anos, eu decida que gosto de você dessa forma, mas eu não quero pensar nisso. Não é algo confiável. Mesmo que eu começasse a sentir algo, talvez você já tivesse um namorado até lá, e eu não poderia fazer nada. É uma questão de tempo, sabe? Eu só consigo falar sobre o agora, desculpe. Já estou com as mãos cheias apenas me preocupando com o presente.
Mimorin encarou profundamente os olhos de Haruhiro, ouvindo com atenção. Não era que ele não achasse isso intimidador, mas fez o máximo para não desviar o olhar. Quando terminou, toda a sua força se esvaiu.
Com certeza devo estar com uma cara de sono agora, ele pensou. Não estava com sono, mas estava exausto.
— Eu entendo — disse Mimorin, com o rosto todo se contraindo. Ela estreitou os olhos, erguendo os cantos dos lábios num sorriso que parecia forçado.
Ela entendeu. Graças a deus. Haruhiro fechou os olhos e soltou um suspiro. Isso tira um peso dos meus ombros.
Sabe, meu corpo não é grande, e minha barriga também não é, então há um limite para o quanto eu posso carregar. Eu só consigo carregar tantas responsabilidades. Eu lidero a party, e faço meu trabalho como ladrão. Esse é meu limite. Não tenho tempo para pensar ou fazer algo além disso.
Isso mesmo. Como romance. Eu não tenho tempo para isso. O mesmo vale para a Mary. Se eu tivesse espaço para isso, teria dito alguma coisa—Não. Talvez não. Não, de jeito nenhum. Isso não teria acontecido. Nunca. Eu não teria conseguido.
É algo pelo qual devo ser grato, ele percebeu. Apesar de suas falhas, Mimorin se apaixonou por ele. Esse tipo de sorte provavelmente não acontecia com frequência. Talvez nunca mais acontecesse. Essa poderia ser a última vez. Rejeitar isso poderia ser um desperdício terrível.
Mas o que mais eu poderia fazer? Era verdade que ele não sentia o mesmo por ela agora. Ele realmente não podia mentir sobre isso. Não queria enganar a si mesmo, nem enganar Mimorin. Ele não podia.
— Bem, é isso — ele disse.
— Mas eu te amo.
— ...O quê? — ele perguntou.
Quando abriu os olhos, Mimorin estava olhando diretamente para Haruhiro. Sem um pingo de dúvida, seus olhos estavam sérios e cheios de sinceridade.
— Agora, eu te amo. Eu te amo Haruhiro. Isso é errado?
— Uau... — Anna-san assobiou, encolhendo os ombros até que tocassem sua cabeça. — Mimorin é teimosa, hein? Como uma rocha, sim? Não, como aço, talvez?
Haruhiro olhou para o chão e coçou a parte de trás da cabeça. Não... Isso é errado? Não sou eu quem deve decidir. Não é uma questão de estar certo ou errado. Eu não tenho o direito de dizer a ela para não sentir isso. Essa é uma escolha dela. Tenho que respeitar isso.
No fim, dizer algo como: Obrigado por entender. Vamos ser amigos, seria só uma forma conveniente de resolver a situação para Haruhiro. Se Mimorin aceitava isso ou não, era uma decisão dela.
Da mesma forma, se Haruhiro aceitava ou não os sentimentos de Mimorin, isso era uma escolha dele, mas ele não podia mudar os sentimentos dela. Os sentimentos de Mimorin pertenciam apenas a ela.
— Não está errado — ele disse.
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