Hai to Gensou no Grimgar | Grimgar of Fantasy and Ash Volume 06 Capítulo 01 [Um Quarto de um Dia]
— Huff... Hahh... Huff... Hahh... — Haruhiro corria, ofegante.
Ele olhou por cima do ombro.
...Eles estão ali.
Ali.
Ali.
Ali.
Perseguindo-o.
Eles usavam grandes capas brancas, com um único buraco para os olhos. Era algo como um poncho longo. Tinham um torso, uma cabeça, dois braços e pernas. Seria justo dizer que sua constituição era notavelmente semelhante à de um humano. Só que havia um único olho espiando pelo buraco.
Nunca era apenas um daqueles com capa branca. Sempre havia vários deles.
Ele não precisava se preocupar em contar. Já sabia o número. Seis. Cinco deles carregavam lanças, e outro segurava uma espada e um escudo. As lanças não tinham nada de especial, exceto pelos cabos brancos, mas cada espada tinha um brilho ligeiramente arroxeado, e os escudos pareciam quase espelhos. Suas espadas, por algum motivo, haviam recebido o nome de Lightning Sword Dolphin, e os escudos eram chamados de Escudos Espelho, por causa de sua aparência.
Alguém começou a chamá-los assim—bem, não foi apenas alguém, foram eles que começaram com isso—cultistas.
Os portadores de lança eram cultistas comuns, aos quais eles apelidaram de Pansuke. O portador da espada era um cultista de elite, que apelidaram de Tori-san. Esses nomes pegaram.
— Droga, estou exausto... — murmurou Haruhiro.
Mesmo reclamando, ele continuava correndo sem diminuir o ritmo. Se ele não continuasse a todo vapor, os Pansukes e Tori-san o pegariam. Se isso acontecesse, Haruhiro, sendo apenas um ladrão, seria cercado e quase certamente morto num instante. Então, ele tinha que correr.
Correr. Era o único pensamento em sua mente. Por enquanto, só corra. Corra como um louco. É a única opção.
Sob um céu de azul profundo, com tons avermelhados, roxos, laranjas, amarelos, vermelhos e todas as cores entre eles espalhados, ele corria o mais rápido que podia pela cidade branca.
...Uma cidade.
Sim, aquilo era uma cidade, ou pelo menos algo do tipo. De ambos os lados das ruas pavimentadas com pedra branca, havia edifícios em forma de caixas, feitos, obviamente, de pedra branca. Nenhuma coincidência miraculosa jamais teria criado algo assim naturalmente. Era claro que alguém, algum ser inteligente, havia construído aquilo.
— Argh! Chega! — gritou Haruhiro.
O suor escorreu para o seu olho direito e o fez arder. Ele sentiu vontade de olhar para trás novamente, mas resistiu. Sem fazer nada desnecessário, ele correu. Com um olho fechado, ele correu.
— Hah... Hahh... Hah... Hah, hah...!
É naquela esquina. Vire ali.
Ele praticamente se jogou para a esquerda ao virar a esquina, e continuou correndo pela rua ligeiramente estreita.
Os passos dos cultistas se aproximavam. Seu estômago doía, como se estivesse sendo apertado com força.
Haruhiro gritou o mais alto que pôde. Ou melhor, ele não conseguiu conter o grito, e sua voz saiu por conta própria. Seu corpo estava tão ereto que ele sentia que poderia se dobrar para trás.
Devo levantar mais as coxas? Isso só vai me cansar mais? Ah, já não sei mais. Dói. Eu nunca deveria ter seguido esse plano estúpido.
— Crown Break! (Quebra da coroa) — Tada gritou.
Eles chegaram. Finalmente. Eles vieram.
Sem parar, Haruhiro olhou para trás. De um prédio à sua direita, um homem de óculos e uniforme de sacerdote saltou, atacando os cultistas. Especificamente, o Tori-san. O homem vestido como sacerdote tinha um martelo de guerra que parecia estupidamente pesado, e ele o desceu com um impacto satisfatório sobre a cabeça do Tori-san.
Tori-san era um espadachim de nível bastante alto, bem superior aos Pansukes, mas ele não tinha visto isso chegando. Recebeu o golpe com toda a força.
É claro que ele não estava bem depois de levar um golpe daquele martelo de guerra na cabeça. As capas dos cultistas eram altamente resistentes a ataques cortantes e podiam absorver impactos até certo ponto, mas isso não seria suficiente aqui. Tori-san caiu com a cabeça esmagada.
Com seu líder derrubado de repente, os Pansukes entraram em pânico.
— Aqui! — ecoou uma voz que parecia exatamente como se esperaria de um cara bonitão.
A emboscada ainda não tinha terminado.
Um homem que usava uma armadura com um hexagrama gravado saltou no ar, seguindo o homem com o uniforme de sacerdote, Tada.
— Hã? — Haruhiro parou, sem nem perceber. Por quê? Por que ele teve que pular? Não poderia simplesmente descer?
Mas Haruhiro sabia a resposta para essa pergunta. Tokimune não era um homem ao qual se podia aplicar lógica. Ele estava bem ciente disso, mas ainda assim, ficava chocado.
— Aqui é onde eu termino tudo com estilo!
Tokimune, o paladino que liderava os Tokkis, exibiu seus dentes brancos no ápice de seu salto, antes de mergulhar em direção ao chão.
Eles haviam conseguido deixar os Pansukes atordoados, mas Tokimune desperdiçara isso. Os Pansukes estenderam suas lanças em direção a ele.
Droga. Isso não é bom. Ele vai ser empalado, pensou Haruhiro. Mas, surpreendentemente, isso não aconteceu.
— Dance como uma pantera! — Tokimune girou o corpo inteiro junto com sua espada e escudo, desviando as lanças dos Pansukes. — E pique como uma baleia!
Pisando na cabeça do Pansuke A, ele se impulsionou e desferiu um chute circular no Pansuke B, antes de aterrissar no chão e fechar um dos olhos.
— Resolvi isso, né? — Tokimune disse, sorrindo.
— Bem, pelo menos ainda não foi furado. — retrucou Haruhiro, com uma piada.
Tada, o homem com roupa de sacerdote, golpeou o flanco do Pansuke C com seu martelo de guerra, lançando-o para longe.
— Você não resolveu nada! — ele gritou.
— Tch, tch, tch. — Tokimune clicou a língua calmamente, balançando a cabeça. — A luta já está decidida, sabia?
— Heh! — Um homem de meia-idade com um rabo de cavalo, um tapa-olho e um macacão de couro apertado, uma combinação embaraçosa, saiu de um beco e enterrou sua espada de lâmina única no olho do Pansuke D.
Logo em seguida, uma mulher, que parecia uma maga pelo traje, mas era gigantesca de várias maneiras e empunhava tanto um cajado quanto uma espada, surgiu. Seu apelido era giganta. Mimori, também conhecida como Mimorin, primeiro atingiu o Pansuke E no lado do rosto com seu cajado, e em seguida, sem perder o ritmo, perfurou seu olho com a espada.
— Boa sorte, yeah?! Kill them all! — Uma garota pequena, com cabelos loiros e olhos azuis, espiou do beco e os incentivou com uma mistura de japonês e inglês.
Anna-san podia até espiar, mas não se envolvia nas lutas. Ela era basicamente uma animadora de torcida.
— Yahoo! Deixa eu participar também! — Kikkawa gritou. O guerreiro descontraído pulou do telhado, provavelmente imitando Tokimune. Até aí, tudo bem, até o momento em que ele dançou no ar e fez uma pose.
Na verdade, não, não estava bem. Era completamente inútil.
O guerreiro descontraído, Kikkawa, tentou se jogar sobre o Pansuke A, o mesmo que Tokimune havia desequilibrado ao pisar na cabeça. Ou pelo menos foi isso que parecia que ele ia fazer, mas enquanto ele fazia a pose, Tada grunhiu e balançou seu martelo de guerra, lançando o Pansuke A contra a parede do prédio, e a espada de Kikkawa cortou apenas o ar.
— Ahahaha, Tadacchi! Você roubou minha kill! — Kikkawa reclamou.
— Wahahahahahh! — Tokimune berrou.
Então, um pedaço de lixo saltou sobre o Pansuke B, que Tokimune havia derrubado com o chute circular, mas que ainda tentava se levantar.
— Meu, meu, meu! — Aquele lixo sanguinário segurou o Pansuke B no chão e foi para o golpe final. — Para Skullhell!
— Sai da frente. — Tada deu um chute no lixo para afastá-lo e, sem dó, bateu com seu martelo na cabeça do Pansuke B, espalhando os pedaços dentro do seu poncho.
— Nããããããããããããão! — O pedaço de lixo conhecido como Ranta sentou-se no chão e começou a chorar.
Bem, pelo menos ele não está chorando de verdade.
— Que inferno?! — Ranta gritou. — Eu ia matar aquele! Seu idiota estúpido!
— Hã? — Tada pressionou o dedo indicador esquerdo contra seu martelo coberto de sangue. —Um idiota estúpido? Você tá me chamando disso?
— ...Não, não você — Ranta disse rapidamente. — Desculpa. Sério, sério, desculpa. Eu não quis dizer você, de verdade. Não... P-Perdoe-me! — O lixo rapidamente se prostrou no chão. — Foi só o jeito que saiu, sabe! No calor do momento, e tudo mais! Eu não quis dizer isso de verdade!
— Bom, está bem. Desta vez, eu vou deixar passar. — Tada apoiou o martelo de guerra no ombro. — Na próxima, eu te mato.
— S-S-Sim, s-senhor! M-M-Muito obrigado! — Ranta gaguejou.
Ele é um idiota?, Haruhiro se perguntou, mas também sabia que Tada não hesitaria em esmagar Ranta com aquele martelo. Pedir desculpas provavelmente foi a decisão certa. Sério, os Tokkis eram exagerados de todas as formas possíveis.
— Uau... — Yume, que estava escondida por perto, apareceu com os olhos arregalados. — Já acabou. Foi rápido, né?
— Foi mesmo. — Shihoru saiu de trás de Yume, olhando ao redor.
— Nem tivemos chance de mostrar serviço... — O esguio Kuzaku saiu do beco.
— Foi rápido demais — Mary suspirou. Ela estava atrás de Kuzaku, um pouco na diagonal.
— Bom, quando a gente trabalha, é fácil assim, não é? — Tokimune exibiu seus dentes excessivamente brancos e lhes deu um sinal de positivo. — A luta de verdade está só começando, né, Haruhiro?
— É. — Haruhiro deu um chute nas costas de Ranta. — Vamos, se prepara.
— Aí! Ei! Você não passa de um Haruhiro. Como ousa me chutar—
— Miau! — Yume já tinha uma flecha pronta. — Está vindo!
Um barulho. Um som alto vindo em sua direção. Da mesma esquina que Haruhiro havia acabado de virar. Ali estava.
Mais alto que Mimorin, a Giganta, mais alto que Kuzaku, com seus 1,90 metros. Provavelmente mais que o dobro do tamanho deles. Tinha quase quatro metros de altura. Sua cabeça era semelhante à de um leão, mas tinha apenas um olho.
— Wahaha! Hora de eu mostrar minhas habilidades! — Ranta pegou a Lightning Sword Dolphin do Tori-san. — Lá vou eu! Com minha Super Estratégia Atordoante de Sempre!
— Esse nome... — Shihoru parecia completamente desinteressada.
— Fiu! — A flecha que Yume soltou disparou em direção ao único olho do gigante branco de quatro metros, mas—não acertou. Apenas arranhou o lado de seu rosto.
— Ahhh! Quase!
Haruhiro respirou fundo, soltando a tensão dos ombros, e então olhou para Tokimune.
— Okay, vamos fazer do jeito de sempre.
— Haha! — Tokimune deu uma risada amigável e deu um tapa nas costas de Haruhiro. — Beleza, beleza. Vamos fazer como sempre.
— Delm, hel, en, — Mimorin começou a entoar enquanto desenhava sigilos elementais com seu cajado, ainda segurando a espada desembainhada na mão esquerda. — Ig, arve.
Ela era uma ex-guerreira, e parecia que ainda estava mais acostumada a lutar em combates corpo a corpo, mas agora era uma maga. Esse era o mais básico dos feitiços de magia Arve, Fireball. O elemental formou uma bola de fogo maior que o punho de uma pessoa, e então acelerou em direção ao gigante branco. O gigante branco não fez nenhuma tentativa de evitá-la. A bola de fogo atingiu o peito do gigante branco e... desapareceu.
— Não deixem ele pisar em vocês! — Haruhiro gritou uma ordem que percebeu que todos já sabiam, mesmo enquanto falava, e então olhou para Kuzaku. — Kuzaku, você vai na frente. Tokkis, formem a linha de frente, por favor.
— Estamos nessa! — Tokimune bateu no escudo com o punho direito enquanto segurava a espada com a mesma mão. — Kikkawa, Inui, Tada, vamos fazer isso com estilo!
— Certo! — gritou Kikkawa.
— Heh... Que seja! — acrescentou Inui.
— Sim — retrucou Tada. — Vou mostrar que sou o mais forte.
Tokimune avançou, seguido por Kikkawa, Inui, Tada e um silencioso Kuzaku.
Haruhiro mexia os quadris para cima e para baixo, sem mudar de posição. Yume, Shihoru e Mary se posicionaram logo atrás dele. Anna-san e Mimorin também vieram para perto dele.
Provavelmente estou com olhos de sono agora, pensou. Sua respiração não estava ofegante, e ele estava relativamente calmo, de certo modo.
Tokimune, Kikkawa, Inui, Tada e Kuzaku formaram uma linha horizontal com o máximo de espaço entre eles que a estrada permitia. Mesmo assim, não era exatamente uma estrada larga. Tinha pouco mais de três metros de largura, talvez.
Será que devíamos ter escolhido outra rua?, Haruhiro pensou. Mas, se tivessem escolhido, não teria funcionado tão bem para emboscar os cultistas e derrotá-los rapidamente.
Dessa vez, os cultistas formaram um grupo junto com o gigante branco, então havia, em linhas gerais, duas opções: desistir ou bolar um plano.
Se fosse apenas Haruhiro e sua party, teriam escolhido a primeira opção. Ranta (o pedaço de lixo) poderia ter berrado o quanto quisesse, mas Haruhiro teria usado toda a sua autoridade como líder para fazer a party recuar.
Mas, como, para o bem ou para o mal, estavam trabalhando com os Tokkis, já não era tão fácil para ele. Se Haruhiro dissesse: Ei, isso é perigoso, vamos sair fora, os Tokkis não eram do tipo que ouviria e recuaria sem mais nem menos.
No fim, elaboraram um plano em que Haruhiro agiria como isca, correndo para separar os cultistas do gigante branco. Assim que derrotassem os cultistas, lidariam com o gigante.
Bem, já me acostumei a isso, pensou Haruhiro. Um mês havia passado desde que encontraram essa nova área, NA para abreviar, e descobriram o Reino do Crepúsculo.
Muita coisa aconteceu nesse tempo, pensou. Muita, na verdade. Não, talvez nem tanto, será?
Aconteceu? Sim. Aconteceu.
Pelo menos, pelos padrões de Haruhiro, tinha sido um mês bem agitado. Não era exagero dizer que os Tokkis foram metade do motivo disso.
Afinal, encontraram esse lugar juntos. Na verdade, Haruhiro e sua party haviam encontrado a entrada primeiro, mas, no geral, era considerado que a galera dos Tokkis, os palhaços, haviam descoberto o lugar, enquanto os Matadores de Goblins, a party de Haruhiro, apenas seguiram o fluxo. Desde então, muitas coisas aconteceram que os tornaram mais próximos. Foi por isso que, porque Haruhiro e os outros estavam preocupados demais para continuar sozinhos, as duas party acabaram explorando o Reino do Crepúsculo juntos regularmente, sem realmente terem discutido sobre isso.
Muita coisa aconteceu. Todo dia, às vezes várias vezes ao dia, surgia algum incidente ou outro. Afinal, os Tokkis eram loucos.
A menos que Haruhiro, o cara que se achava sensato, fosse na verdade o maluco? Será que os Tokkis eram normais? Ele ficou um pouco preocupado com isso, mas era tudo bem ridículo.
Os Tokkis eram malucos. Haruhiro era são. Ranta à parte, havia um abismo quase intransponível entre a party de Haruhiro e os Tokkis. Não, não quase intransponível, completamente intransponível. Não dava pra fechar essa lacuna de jeito nenhum. Quando começou a pensar assim, as coisas ficaram um pouco mais fáceis. Só um pouco.
Se ele soubesse que não dava pra fechar esse abismo, não precisava tentar. Era inútil.
Ele tentava não pensar: Por que as coisas são assim? Mas, de qualquer forma, acabava pensando nisso, só que não deixava que isso o atormentasse. Não havia como evitar. Era o tipo de pessoa que eles eram. Quando aceitou isso, quando apenas entendeu, conseguiu prever o que provavelmente fariam em cada situação. Dessa forma, não precisava ficar irritado ou surpreso toda vez que eles mostrassem suas loucuras.
Além disso, eles certamente não eram incompetentes, então era possível aproveitá-los bem. De fato, embora fossem um pouco tendenciosos demais para o ataque, eram uma força a ser considerada em combate. Tokimune e Tada, em particular, eram atacantes de primeira linha. Tokimune era um paladino, então isso estava dentro do esperado, mas, mesmo sendo um ex-guerreiro, Tada deveria ser um sacerdote...
De qualquer forma, se eles conseguissem apenas se dar bem com os Tokkis, poderiam fazer juntos coisas que a party de Haruhiro não conseguiria fazer sozinha. Não seria impossível passar por situações que pareciam mortais.
Além disso, e este era o ponto mais importante de certa forma, eles poderiam ganhar dinheiro. Mesmo dividindo metade dos ganhos com os Tokkis, Haruhiro e sua party estavam ganhando de forma muito mais eficiente do que jamais conseguiriam se tivessem trabalhado lenta e constantemente por conta própria.
— Jess, yeen, sark, kart, fram, dart! — Shihoru lançou Thunderstorm, e um feixe de raios atingiu o gigante branco.
Houve um barulho estrondoso, e o corpo inteiro do gigante branco se contorceu. Seus pés pararam. Claro, ele logo voltaria a andar, e, mesmo apenas andando, o gigante branco era enorme. Suas pernas eram longas. Ele se aproximaria com passos gigantescos.
— Ei, ei, eiiiiii! — Tokimune bateu no escudo para provocá-lo. — Vamos, vamos, vamossssss!
— Go, go, go, go! — O gigante branco desceu o punho em direção a Tokimune.
— Ágil! — Tokimune saltou para trás, escapando.
— Go, go! — O gigante branco balançou o punho novamente.
— Gira! — Tokimune dançou para fora do alcance.
— Go! — O gigante branco estendeu ambos os braços para tentar agarrá-lo.
— Uhul! — Tokimune deu um mortal para trás, escapando mais uma vez.
— Rahh! — Tada imediatamente desferiu um golpe no braço do gigante branco com seu martelo de guerra.
— Go, go... — O gigante branco recuou o braço, focando seu único olho em Tada.
Tada, intencionalmente, sem dúvida, descansou o martelo no ombro e mostrou o dedo do meio para o gigante branco. Ele provavelmente queria dizer algo como: Vem cá, seu pedaço de lixo. Não era claro se o gigante branco entendia o gesto. Isso era incerto, mas o gigante branco dobrou os joelhos e abaixou os quadris. Estava se preparando para pular.
— Recuem! — Haruhiro gritou.
Provavelmente isso não precisava ser dito, mas ele gritou só para garantir.
Sim, todo mundo já sabe disso! Não precisa falar! Ele não queria que pensassem algo assim, ou Já sabemos disso, seu idiota, mas... Mesmo que o chamassem de idiota, Haruhiro tinha que fazer isso. Esse era o seu jeito.
— Beleza! — gritou Tokimune.
Os combatentes da linha de frente, incluindo Tokimune, Tada, Kikkawa, Inui e Kuzaku, recuaram juntos. Quase ao mesmo tempo, o gigante branco deu um grande salto.
— Faraó?! — Kikkawa exclamou de maneira estranha.
O que é um faraó?, Haruhiro pensou.
O gigante branco saltou uns sete ou oito metros e aterrissou com um impacto tremendo. Ninguém foi esmagado, mas se tivessem recuado um pouco mais tarde, havia o risco de que pudessem ser atingidos.
Agora. Haruhiro nem precisava dar a ordem.
— Yeaahhhhhhhhhhhhhh! — Ranta, que estava escondido no beco, levantou sua Lightning Sword Dolphin e investiu contra o gigante branco.
Ranta não cortou exatamente; ele mais bateu com a espada. Ele mirou na perna direita do gigante branco.
— Hah, hah, hah, hah, hah, hah, hah, hah, hah, hah, hah! — Sem dar tempo para o gigante respirar, Ranta atacava repetidamente.
Cada vez que o gigante branco era atingido com a Lightning Sword Dolphin, mesmo que por um curto período, seu corpo enorme e escultural se convulsionava.
Essa era a Estratégia do Super Atordoamento. Que nome horrível.
Mas, nome à parte, a tática era altamente eficaz, e ao parar seus movimentos assim, criava uma oportunidade de derrubar o gigante branco. Só uma oportunidade, no entanto. A partir de agora, a batalha seria decidida por pura força de ataque... ou poder destrutivo, na verdade.
— Tada-san! — chamou Haruhiro.
Tada lambeu os lábios e avançou. — Não precisa me dizer tudo. Basta presenciar meu poder pra te mandar pro céu.
Não, eu não vou pro céu, Haruhiro queria murmurar, mas se conteve. Se ele fizesse uma piadinha a cada comentário dos Tokkis, nunca acabaria.
— Agora, meu golpe fatal — Tada tomou distância, fez um mortal para frente e desceu seu martelo de guerra com ambas as mãos no joelho esquerdo do gigante branco. — Somersault Bomb! (Bomba de salto mortal)
Mas falando sério, o Tada-san é realmente incrível, pensou Haruhiro.
O martelo de guerra de Tada afundou no joelho esquerdo do gigante branco, lançando muitos estilhaços para o ar.
— Toma, toma, toma, toma, toma, toma, toma, toma, toma! — Ranta gritou. Ele continuava balançando sua Lightning Sword Dolphin, atordoando o gigante branco.
Tada deu uma respirada, ajustou os óculos, e tranquilamente se afastou do gigante branco.
— Uo, uo, uo, uo, uo, uo! — Ranta gritou, olhando para Tada enquanto batia a Lightning Sword Dolphin contra a perna do gigante branco. — Anda logo, cara! Isso aqui tá difícil pra caramba, droga! Waaaahhhhhh!
Tada inclinou a cabeça para o lado, girando o martelo. — Você acabou de me xingar?
— Não, senhor, não xinguei! Você tá ouvindo coisas, cara! Só ouvindo coisas! Waaaaahhhhhh!
— Ah, é? Então, tá difícil?
— Tá super, super difícil, cara! Anda logo! Sério, sério, dá outro golpe!
— Como se eu me importasse — disse Tada.
— Heeeeeeiiiiin?!
— Se tá difícil pra você, é problema seu, não meu.
— Ei, seu—!
— “Seu...”? — Tada repetiu.
— Tada-san! Tada-sama! Tada, o Deus!
— Tô gastando. — Tada sorriu maliciosamente e então avançou rapidamente.
É... pensou Haruhiro. Eu não entendo. As piadas do Tada são sempre incompreensíveis.
— Ahaha! Essa foi demais! Eu adoro as piadas surreais do Taddachi! — gritou Kikkawa.
Se o único que está rindo é o Kikkawa, e ele tem habilidades sociais ridiculamente boas, isso provavelmente significa que nem os Tokkis entendem as piadas do Tada, pensou Haruhiro. Isso é um pouco reconfortante. Se fossem o tipo de pessoas que se desmancham de rir com isso, eu nunca conseguiria aturá-los.
— Kwahhhh! Kwahhh! Kwahhh! Kwahhhhh! Kwahhhhh! Uwahhhh! — Ranta soltou o que pareciam ser gritos de morte, exaurindo suas últimas forças para continuar golpeando a perna direita do gigante branco.
— Agora que eu penso nisso... — Tada fez outro mortal para frente e desferiu mais um Somersault Bomb. — Esse golpe mortal não tá matando nada, né?!
Dessa vez ele mirou no joelho direito. Houve um som alto de estilhaçamento.
Tada olhou de relance para ver que Ranta ainda estava se esforçando, então desferiu mais dois ou três golpes.
— Yume! — Haruhiro gritou, ao que ela respondeu:
— Miau! — e começou a disparar flechas.
Era a habilidade de arquearia, Rapid Fire. Sem intervalo entre os tiros, ela encaixava flechas no arco composto e disparava. Ela disparava, e disparava.
Inui também é caçador, e ele tem um arco, mas eu nunca o vi usar—acho. Esse pensamento ocorreu subitamente a Haruhiro. Talvez eu devesse perguntar na próxima vez que tiver a chance. “Você não vai usar o arco?” Não, talvez devesse ser, “Você não consegue usar o arco?” Claro, Inui poderia se irritar. Mas talvez ele lutasse com mais afinco por causa disso. Será? Não sei. Quero dizer, é o Inui.
Yume disparou seis flechas em rápida sucessão, duas das quais acertaram o olho do gigante branco. Foi um bom resultado, considerando que Yume era uma arqueira ruim, apesar de ser uma caçadora.
— Gwah! — Ranta recuou, tropeçando. — Estou no meu limite!
— Good job, Ranta! Você tem um belo cuzinho, yeah! — Os elogios de Anna-san eram bem eficazes. Não era de se estranhar que os Tokkis a mantivessem como mascote e ídolo. Embora fosse questionável o porquê de ela elogiar justamente o... buraco dele.
— Beleza! Deixa comigo! — A voz de Tokimune veio de cima—
Espera, desde quando ele tá lá?
Ele estava na rua até poucos momentos atrás, mas agora Tokimune estava no topo de um prédio à frente de Haruhiro à esquerda.
— Hahhh! — Tokimune gritou. Ele saltou do prédio com um grito.
Ou melhor, ele saltou do telhado para algo mais. Do telhado para o ombro do gigante branco.
Ranta estava exausto, e o efeito paralisante de sua Lightning Sword Dolphin havia se dissipado.
— Gu, go, ga, go! — O gigante branco tentou se debater.
Antes que pudesse, Tokimune enterrou sua espada no olho único do gigante. Tokimune não apenas cravou a espada, mas também a girou.
— Aí está! A técnica mortal do Tokimune-san, Arpejo Sagrado! — gritou Kikkawa.
Kikkawa estava dizendo alguma coisa, mas se Haruhiro começasse a se perguntar por que era chamado de arpejo, de todas as coisas, ele não conseguiria dormir à noite, então preferiu fingir que não tinha ouvido o comentário.
Não, mas sério, por que é um arpejo? Virou música agora?
— Hah! — Tokimune imediatamente saltou para longe do gigante branco, voltando para o prédio.
Entre as flechas de Yume e o Arpejo Sagrado de Tokimune, ou seja lá como aquilo se chamava, o gigante branco havia sofrido mais dano no olho do que conseguia suportar.
— Recuem! — Haruhiro gritou enquanto recuava também.
Yume e as outras garotas, Ranta, e todos na linha de frente, exceto Tokimune, se distanciaram do gigante branco. Tokimune, no entanto, era diferente. No topo do prédio, ele literalmente observava tudo de cima.
— Go, go, go! — O gigante branco balançou os braços ao redor, cambaleando. Ele provavelmente queria atacar Haruhiro e os outros de algum jeito, mas estava cego. Além disso, seus joelhos estavam destruídos. O gigante branco caiu sobre um prédio à direita, oposto de onde Tokimune estava. A parede externa, embora não tenha desmoronado completamente, sofreu danos.
— Go, go! — O gigante branco tentou se equilibrar, mas não conseguia firmar as pernas, então estava com dificuldades. Parecia que ele ia tropeçar.
— Ata— — Haruhiro começou a gritar, mas engoliu a palavra. Tada já estava avançando em direção ao gigante branco.
O gigante branco não caiu completamente, mas se ajoelhou em uma das pernas. Tada saltou em direção a esse joelho com um mortal à frente e...
— Somersault Bomb!
Foi um golpe único—não, uma explosão única. Depois de ser atingido pelo segundo Somersault Bomb, o joelho esquerdo do gigante branco estava meio destruído. Provavelmente não conseguiria se levantar mais.
— Go! — O gigante branco estendeu a mão para agarrar Tada, mas nem chegou a tocá-lo.
— Viu só como eu sou incrível! — gritou Tada. Enquanto se gabava, ele não só não recuou, como também acertou um golpe sólido na mão direita do gigante branco com seu martelo de guerra.
Tendo localizado Tada com base nisso, o gigante branco tentou alcançá-lo com a mão esquerda. Tada a rebateu com o martelo de guerra também.
— Se acha que pode me vencer, tenta de novo daqui a um milhão de anos! — berrou Tada.
— Nada para fazer... — murmurou Kuzaku.
Ah, será mesmo? Haruhiro virou-se para olhar atrás de si. As coisas às vezes aconteciam de repente, então ele nunca baixava a guarda. E, como esperado, do outro lado da rua, vários Pansukes estavam correndo em sua direção com suas lanças prontas.
— Reforços inimigos! — ele gritou. — Três Pansukes! Kuzaku, Kikkawa, Inui-san!
— Entendido! — chamou Kuzaku.
— Beleza! — gritou Kikkawa.
— Tch... Que escolha eu tenho? — respondeu Inui.
Kuzaku, Kikkawa e Inui imediatamente se afastaram da linha de frente, passando por Haruhiro e as garotas que estavam na retaguarda para enfrentar os reforços inimigos. Mary olhou rapidamente naquela direção, mas logo voltou sua atenção para o gigante branco. O poder do Deus da Luz, Lumiaris, não alcançava o Reino do Crepúsculo, então ela não podia usar magia da luz ali. Mesmo que tudo o que pudesse fazer fosse atuar como guarda-costas de Shihoru, Mary permanecia concentrada.
Isso não é o que me preocupa, pensou Haruhiro. Mary é séria por natureza. Por causa disso, uma vez que ela faz o que deve, ela tende a pensar: “Isso é o suficiente?” ou “Será que não tem mais nada que eu possa fazer?” Eu preciso ficar de olho nisso e cuidar dela. Naturalmente, eu quero dizer isso como líder. Nada mais. Não há outros sentimentos envolvidos. Nenhum. Zero, entendeu? Zero.
— Agora vocês dão o empurrão final, hein! Lutem com tudo! Entendido? Fight! — Anna-san deu um incentivo bem-vindo.
— Delm, hel, en, rig, arve! — Mimorin entoou enquanto desenhava símbolos elementais com seu cajado.
Fire Pillar (Pilar de Fogo). Esse era o feitiço mais forte que a ex-guerreira Mimorin possuía. Um pilar de chamas se ergueu aos pés do gigante branco. Dito isso, era menor do que a própria Mimorin e, na verdade, um tanto fofinho. Considerando o tamanho enorme do gigante branco, não parecia que teria muito efeito.
Se ela quer se tornar uma usuária de Magia Arve, não deveria pelo menos adquirir o feitiço Blast (Explosão)?, pensou Haruhiro. Não era algo que um ladrão, e ainda por cima membro de outra equipe, devesse opinar, e Haruhiro tinha uma relação um tanto complicada com Mimorin, então, embora pensasse nisso, ele não disse nada. Mesmo que às vezes quisesse falar, ele realmente não podia.
— Ohm, rel, ect, el, vel, darsh! — Shihoru usou o feitiço Shadow Echo (Eco das Sombras) para lançar três elementais das sombras, que atingiram o gigante branco. O dano foi mínimo, sem dúvida, mas sua magia era puramente de suporte aqui.
— ...Ufa. — Ranta se aproximou de Haruhiro e se agachou.
— Bom trabalho — disse Haruhiro, olhando ao redor enquanto falava.
Enquanto fazia isso, ele flexionava os joelhos, pronto para se mover a qualquer momento. Por causa disso, em momentos assim, Haruhiro ficava em uma posição levemente inclinada para frente, com os braços soltos ao lado do corpo, olhando ao redor com olhos cansados. Se alguém que não o conhecesse visse, provavelmente pensaria: Esse cara tá bem?
Haruhiro sabia que aquela não era uma boa postura, mas era a posição ideal para ele, então não havia muito o que pudesse fazer. Ele já tinha desistido de parecer estiloso. Por enquanto, precisava focar na praticidade. Haruhiro nunca seria como Tokimune.
Falando em Tokimune, ele chegou aos novos inimigos antes de Kuzaku.
— A verdadeira arte de matar no ar! — gritou Tokimune.
Saltando de telhado em telhado, ele desceu com um chute espetacular na cabeça do Pansuke F. Depois de derrubá-lo e aterrissar, Tokimune afastou a lança do Pansuke G com seu escudo e enfiou sua espada no buraco do olho do cultista. Sem perder o ritmo, avançou sobre o Pansuke H e o atingiu com os golpes Bash (Pancada) e Double Thrust (Dupla Estocada). Pansuke H conseguiu torcer o corpo para evitar um golpe fatal no olho, mas estava completamente sobrecarregado e recuava. Quando Kuzaku e os outros dois finalmente chegaram, a luta já estava ganha.
Tokimune era forte. Ele era forte quando se empolgava e também quando estava encurralado. Basicamente, ele era sempre forte. Além disso, tinha carisma e uma boa personalidade.
Se ele tinha uma falha, talvez fosse o fato de ser impulsivo, arbitrário, e de sair correndo para fazer as coisas por conta própria. Mas isso era algo comum entre todos os membros dos Tokkis.
Quando as pessoas são parecidas, muitas vezes elas se tornam hostis e rejeitam umas às outras, mas isso não acontecia com os Tokkis. Todos pareciam se dar bem e se divertir, então deviam estar fazendo algo certo.
— Go, go! — O gigante branco provavelmente tinha medido mal as distâncias, pois colidiu com um prédio enquanto se movia de forma quase rastejante. Não, ele não conseguia enxergar, então não podia medir coisa alguma.
— Seu brutamontes desajeitado! — berrou Tada.
Como se estivesse esperando por esse momento, Tada desferiu uma série de golpes no cotovelo do gigante branco, quase destruindo-o. Agora, tanto o joelho quanto o cotovelo esquerdo do gigante tinham sofrido danos graves. Em seguida, mirando no pé direito do gigante branco, Tada atacou o tornozelo, e depois de mais alguns golpes, derrubou o calcanhar. O joelho direito também já havia sido atingido, então o alcance de movimento do gigante branco estava bastante limitado agora.
Haruhiro assentiu.
— Ranta. Mais uma vez, é sua vez.
— Heh. — Ranta se levantou, balançando a cabeça de um lado para o outro, girando os ombros e respirando fundo. — Tudo bem, se você insiste. Eu vou fazer isso!
— Tada-san! — Haruhiro gritou.
Quando Haruhiro deu o sinal, Tada recuou, e Ranta entrou em seu lugar.
Tada foi para um beco. Provavelmente pretendia subir no telhado.
— Ohhhhhhhhhhhhhhhhhhhh! — Ranta acertou o gigante branco com sua Lightning Sword Dolphin. Ele acertou. E acertou, e acertou, e acertou, e acertou, e acertou, e acertou, e acertou.
Parecia que Tokimune e os outros já haviam terminado de eliminar os reforços inimigos. Eles estavam voltando para cá.
Tada deu um mortal para frente descendo do telhado.
Ainda assim, estou impressionado que ele consiga fazer algo tão perigoso, pensou Haruhiro. Neste ponto, isso não o surpreendia mais, mas ainda o impressionava.
— Ultra! Somersault! Booomb! — O martelo de guerra de Tada desceu com força incrível sobre a nuca do gigante branco.
Eles já tinham tentado muitas coisas diferentes, mas os pontos fracos de um gigante branco pareciam ser seu único olho e a nuca. Ou melhor, comparado ao resto do corpo, a pele nesses lugares era um pouco mais fina. Não era apenas que seus pescoços eram especialmente vulneráveis a impactos; parecia que também havia algo análogo à medula espinhal dos humanos ali. Era uma área difícil de atingir, mas os ataques que acertavam ali eram extremamente eficazes.
— Já chega, Ranta! — Haruhiro gritou.
— Eu sei?! — Ranta se afastou do gigante branco.
Embora Tada tenha caído no chão depois de usar seu Somersault Bomb, ele parecia ter aterrissado bem.
O gigante branco desabou de frente. Nesse ponto, Haruhiro não precisou motivar ninguém.
— Certo, party time! Não é?! — Anna-san gritou.
Com essa declaração, Mimorin foi a primeira a começar a subir nas costas do gigante branco. Tokimune rapidamente a alcançou e passou à frente, seguido por Kikkawa e Inui. Kuzaku veio um pouco depois deles. Ranta e Tada correram em direção ao gigante branco e começaram a golpeá-lo. E a esfaqueá-lo.
Haruhiro sentiu vontade de participar também, mas se conteve. Não havia necessidade, e mais cultistas podiam aparecer. Também era possível que outro gigante branco viesse para cá.
Haruhiro, Yume, Shihoru e Mary ficaram à margem dessa celebração impiedosa, sem participar. Eles torciam junto com Anna-san.
Preciso manter a cabeça fria o tempo todo, pensou Haruhiro. Claro, haverá momentos em que terei que arriscar minha vida também. Quando esses momentos chegarem, em vez de raciocinar, a única opção será confiar no instinto e na selvageria, e contar com a agilidade para me salvar, tenho certeza. Mas eu não quero provocar esse tipo de situação, e para evitá-las, preciso realmente me manter calmo.
Você é chato, sabia?, Ranta sempre dizia para ele. Haruhiro não achava que fosse uma pessoa interessante. Se estavam dizendo que ele era chato, provavelmente era verdade.
Minha personalidade é simples. Meu rosto é comum. No meio da média, ou até abaixo. Também não sou alto. Não sou especialmente perspicaz, nem alguém que tem um talento incrível mas está tentando esconder isso ou algo assim. O melhor que posso dizer é que sou mediano. Bem, sou normal.
A questão é que eu não me importo com meu eu atual, alguém que pode dizer “Estou bem com ser normal” e não se menosprezar por isso.
Eu sou normal, e tenho certeza de que vou continuar sendo normal. Não posso me tornar alguém especial, e nem estou tentando. Embora não seja como se eu estivesse satisfeito com a situação atual, também.
Eu diria para dar um passo de cada vez, mas isso é pedir demais, então meio passo está bom. Mesmo que seja só um quarto de um passo, e mesmo que não possamos fazer tanto progresso todos os dias, daqui a dez dias, eu quero ter avançado um pouco mais.
De alguma forma, tenho a sensação de que estamos conseguindo isso. Talvez seja por isso que consigo não me odiar.
Estou fazendo o meu melhor, certo? Além disso, tenho resultados para mostrar, o que significa que estou sendo recompensado, não é? Ser recompensado pelo esforço é uma bênção, correto? Isso significa que sou bastante afortunado, não sou? Posso olhar para o céu e dizer a Manato e Moguzo, que nunca veremos novamente: “Ainda estamos nos esforçando, pessoal.” Não é incrível?
Eu acho que é.
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Enquanto observava o massacre com seus olhos sonolentos, Haruhiro olhou ao redor para garantir que nenhum novo inimigo estivesse chegando. Não importa o quão vantajosa fosse a situação, mesmo que a batalha estivesse praticamente decidida, algo poderia acontecer de repente para mudar tudo. Se isso acontecesse, aconteceria, e eles teriam que aceitar e seguir em frente, mas ele não queria tomar esse tipo de decisão se não fosse necessário.
A nuca do gigante branco e a parte de trás da cabeça dele estavam praticamente destruídas, e ele já havia parado de se mover. Parecia estar morto.
Mas, de certa forma, a parte mais difícil de lidar com um gigante de quatro metros ainda estava por vir. Era uma tarefa demorada e incômoda, mas que valia a pena.
A princípio, os gigantes brancos eram essas coisas enormes e perigosas que só atrapalhavam, e a party de Haruhiro os tratava como algo de que deviam fugir assim que os vissem. No entanto, Shinohara, do Clã Orion, descobriu que os gigantes brancos possuíam vários órgãos internos onde um metal desconhecido estava concentrado. Desde que alguém espalhou essa descoberta, os gigantes brancos se tornaram alvos preferidos dos soldados voluntários.
A propósito, isso não era algo recente. Tinha acontecido quase um mês atrás.
— Achei uma piroxena arco-íris! — gritou Ranta, como um idiota, segurando uma esfera com quinze centímetros de diâmetro, que brilhava com as cores de um arco-íris, como o nome sugeria.
Até onde Haruhiro sabia, esses órgãos de piroxena arco-íris, que eram exclusivos dos gigantes brancos, normalmente tinham o tamanho de um punho, então essa era considerada grande.
— Eu também! Eu também! Eu também! Eu achei uma! — Kikkawa ergueu outra piroxena arco-íris, com um olho fechado e a língua de fora. Essa segunda tinha cerca de dez centímetros de diâmetro, talvez. Ainda assim, não era pequena.
No final, essas foram as únicas duas piroxenas arco-íris que eles extraíram do gigante branco. No entanto, ao despirem os ponchos dos cultistas e revistá-los, encontraram vários acessórios com pequenas peças de piroxena arco-íris incrustadas. Essas piroxenas tinham sido polidas com cuidado, então, apesar de pequenas, tinham um valor alto.
— Bom, eu diria que vamos fazer umas seis — disse Tokimune de cima dos restos do gigante, exibindo seus dentes brancos em um sorriso brilhante.
Enquanto pensava, Uau, eles são brilhantes, Haruhiro inclinou a cabeça de lado em dúvida.
— Nah... Eu diria que umas cinco, talvez?
— Só? — perguntou Tokimune.
— Provavelmente.
Cinco moedas de ouro. Dividido meio a meio com os Tokkis, a parte da party de Haruhiro seria duas moedas de ouro e cinquenta pratas. Dividido em seis partes, dava um pouco mais de 41 pratas para cada um. Nada mal. Ou melhor, era uma quantia incrível que eles jamais poderiam ter imaginado ganhar alguns meses atrás.
Não posso me acostumar com isso, ele pensou. Tenho que presumir que ganhar essa quantia não será algo garantido.
Os restos do gigante branco teriam que ser deixados onde estavam, mas pelo menos eles arrastaram os corpos dos cultistas para a beira da estrada antes da party de Haruhiro e os Tokkis seguirem em frente.
Logo, eles passaram por alguém. Não era um cultista, nem um gigante branco, mas um humano.
Não, humanos. Para ser preciso, soldados voluntários.
— Oh. — O caçador que liderava a party emanava uma vibração desagradável. Ele vestia uma roupa de couro, um chapéu com uma pena e carregava um arco e uma aljava de flechas nas costas. Provavelmente era um pouco mais velho que Haruhiro e os outros. Tinha olhos de raposa e uma boca torta. — São os Matadores de Goblins e os palhaços.
— Olá, Kuzuoka-san. — Haruhiro inclinou levemente a cabeça.
Entre todos os soldados voluntários mais experientes, havia alguns com quem ele não ficava feliz de ter que falar, e esse era um deles. Eles não tinham tido muita interação, mas Haruhiro tinha uma mágoa desse homem. Quando tinham acabado de chegar em Grimgar, Kuzuoka tentou recrutar Moguzo para sua party, depois roubou seu dinheiro e o abandonou.
— Tch... — Ranta estalou a língua, com desdém.
Kuzuoka estreitou os olhos, tentando intimidá-los com um “Huhhh...?”
Havia um guerreiro, um ladrão, um mago, um sacerdote e um cavaleiro das trevas seguindo Kuzuoka. Um parecia querer dizer “Lá vamos nós de novo...”, outro estava impassível, e outro parecia achar a situação divertida. Cada um dos cinco tinha sua própria reação, mas nenhuma delas era remotamente amigável.
— Ora, ora, ora, Kuzuoka-saaaaan — Kikkawa interrompeu, dando um tapa no ombro de Kuzuoka de forma exageradamente amigável. — Já faz séculos. Tá tudo bem com você, Kuzuoka-saaaaan? Como têm sido as coisas ultimamente?
— Droga, não me toque, Merda-kawa! — Kuzuoka gritou.
— Hã? O que é isso? Eu sou fofo pra caramba? Cara, sempre achei que fosse.
— Eu não disse isso, estúpido!
— Não, não, não precisa ser tímido, Lixo-oka-saaaaan. Ops, errei, é Kuzuoka! Malz, malz! Vou refletir sobre o que fiz!
(NT: Kuzu, escrito em katakana, pode significar ‘lixo’, ‘escória’ ou ‘pedaço de bosta’).
— Não tem como você refletir sobre coisa alguma! — Kuzuoka gritou.
— É! Não vou! Hehe!
— Você me irrita, sabia? — Kuzuoka rosnou. — Saia do caminho, ou morra! Eu vou te matar!
— Isso não é possível — disse Tokimune com um sorriso amigável. — Não te conheço muito bem, mas sei que você é mais fraco do que eu. Quer testar e ver?
— N-Não vou fazer isso! — Kuzuoka empurrou Kikkawa para o lado.
— Vamos embora! — ordenou aos seus companheiros, e eles foram saindo. Mesmo enquanto se afastava, Kuzuoka continuava a murmurar o que pareciam ser insultos ao grupo, algo bem típico dele.
— Aquele cara. — Ranta chutou o chão. — Com uma personalidade podre dessas, me surpreende que ele consiga ser líder de uma party. Não consigo acreditar.
— É... — Haruhiro coçou a nuca. — Mas você também não é muito diferente...
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