Hai to Gensou no Grimgar | Grimgar of Fantasy and Ash Volume 04 Capítulo 13 [Não Pare de Andar]
Talvez fosse verdade que Haruhiro e a party precisassem explorar novos e desconhecidos lugares.
Haruhiro e sua party eram como insetos agarrados à fronteira de Grimgar. Eles não tinham asas, e por isso não podiam voar para nenhum outro lugar. Felizmente, eles tinham pernas. Podiam seguir em frente.
Conforme avançassem, paisagens que ainda não tinham visto se desdobrariam diante deles. Sob o céu infinito, a terra parecia se estender para sempre. Parecia que poderiam ir a qualquer lugar.
Honestamente, quando pensava em voltar para a Cidade Velha de Damuro ou para as Minas Cyrene, isso o deixava para baixo. Ainda assim, Haruhiro achava que não havia outra opção. Ele imaginava que, se fossem avançar devagar e com cautela, fazendo ajustes ao longo do caminho, realmente, os três primeiros níveis das Minas Cyrene pareciam o lugar mais apropriado.
Ele estava com uma visão muito limitada; percebeu isso agora. Sentia como se tivesse chegado a um beco sem saída, mas havia negligenciado reunir informações.
Tudo isso fez Haruhiro perceber o quão medíocre ele era. Como ladrão e como soldado voluntário, era mediano, e como indivíduo, era comum e sem imaginação. Ele só conseguia ver as coisas de uma perspectiva muito comum, incapaz de fazer os saltos lógicos necessários para enxergar as coisas de outra maneira. Chamar isso de ter uma visão realista poderia até soar bem, mas ele não só não conseguia fazer esses saltos, como também nem pensava em tentar.
Era por isso que as ideias malucas de Ranta eram tão valiosas. Era uma péssima ideia deixar Ranta agir livremente. Mas Haruhiro deveria integrar algumas das ideias que Ranta tinha, ideias que ele mesmo nunca teria pensado.
— Certo! As Planícies do Vento Rápido! Vivaaaa! — gritou Ranta.
Obviamente, não importa o que acontecesse, Haruhiro nunca imitaria a forma idiota como Ranta estava gritando feito um louco e correndo a toda velocidade em direção às planícies.
— Yahoooo! Oláaaa! Planícies do Vento Rápido! Wahahahahahahaha! Droga, estou empolgado, Gwahahahaha!
— Posso perguntar uma coisa? — Kuzaku perguntou a Haruhiro, apontando para o idiota que gritava. — Isso é normal para o Ranta-kun?
— Sim, mais ou menos... — respondeu Haruhiro.
— Uau...
— Hã? — Ranta disse, virando apenas a parte superior do corpo para olhá-los. — O quê? Eu acabei de ouvir você me criticando?
— Ninguém te criticou — respondeu Kuzaku calmamente. — Foi mais um “Nossa, o Ranta-kun é realmente diferente”. Só isso.
— Gwahahahahaha! Isso soa como um elogio! Viva por ser raro! — gritou Ranta.
Mesmo que todos os outros estivessem fartos dele, Ranta parecia feliz com isso. Sério, que idiota abençoado.
Mas, bem, quando estavam em um espaço aberto como aquele, a sensação de liberdade era incrível.
Yume, Shihoru e Mary pareciam tão encantadas com a paisagem magnífica que ficaram sem palavras.
Quando seguiram seis quilômetros ao norte de Altana até a Fortaleza de Observação Deadhead, e depois um pouco mais de uma hora ao norte por entre bosques esparsos, chegaram a planícies que só podiam ser descritas como imensamente vastas. Talvez devido à abertura do lugar, os ventos ali eram fortes. Provavelmente foi daí que veio o nome “Planícies do Vento Rápido”.
As planícies eram amplas e vastas, mas não vazias como um deserto arruinado. Pareciam uma pradaria perfeitamente natural.
À primeira vista, parecia que tudo era plano e coberto de grama, mas havia árvores também, e não era como se não houvesse elevações e declives no terreno. Só que, com toda aquela vastidão, as árvores pareciam nada mais do que grama um pouco mais alta, e as pequenas colinas aqui e ali eram no máximo um erro de arredondamento.
Até onde iam essas planícies? Será que tinham um fim?
— Hm... — Ranta sombreou os olhos com a mão, olhando ao redor. Ele inclinou a cabeça para o lado. — Sabe, não vejo nada por aqui. Não tem animais, eu pensei que teria.
— Agora que você mencionou... — Haruhiro semicerrava os olhos, olhando para a longe. Não só não havia sinais de pessoas, como também não havia sinais de qualquer criatura viva. Isso era bem estranho, pensando bem. — Você acha que estão escondidos? Não... Não há realmente onde se esconder por aí...
— Ah! — gritou Yume, apontando para longe. — Tem alguma coisa ali!
— Hã? — Haruhiro olhou na direção em que Yume estava apontando. — ...Onde?
— Você quer dizer aquilo? — Mary perguntou, parecendo ter encontrado também.
— ...Talvez — murmurou Shihoru.
— Ahhh — disse Kuzaku, seu rosto se contraindo um pouco. — Meu olhos não são tão bons.
— O quê?! Onde?! — Ranta estava tão irritantemente barulhento como sempre. — Onde, onde está?! Eu não vejo! Vocês têm certeza de que não estão imaginando coisas?! Vocês devem estar alucinando, certo?! Se eu não consigo ver, isso tem que ser—Espere, uaaaaaaaaaau...?! É aquilo?!
— Oh... — Haruhiro havia encontrado o que todos provavelmente estavam vendo. Estava bem distante, do outro lado de alguns arbustos. Havia algo lá. Alguma coisa que era... alguma coisa. Isso era vago demais para ser útil, mas, bem, estava longe, então ele não podia dizer nada definitivo sobre isso.
— Aquilo é... — começou Haruhiro.
— ... Alguma coisa viva, talvez? — Ranta completou para ele. Ele estava semicerrando os olhos tão fortemente que pareciam fendas. — É... Parece que está se movendo, então deve estar vivo, eu acho?
— Tá movendo, sim — Yume era tecnicamente—não, na verdade, ela era de fato uma caçadora—e tinha sido treinada em arco e flecha, então podia enxergar mais longe do que o resto deles. — ...Tá movendo. É o que parece. Tá caminhando, talvez?
— ...Caminhando? — Shihoru praticamente se agarrava ao seu cajado. — Então, é bípede?
— É longo e fino... — murmurou Mary.
Mesmo para os olhos de Haruhiro, a silhueta parecia longa e fina, ou melhor, alta e fina. No mínimo, não parecia ser uma besta de quatro patas.
— Mas, sabe... — Haruhiro disse.
Aqueles arbustos.
Os arbustos na frente daquela coisa... Será que eram realmente arbustos? Afinal, aqueles arbustos estavam bem longe daqui. Talvez não fossem arbustos, e sim um bosque de árvores bastante altas?
Além disso, o terreno onde esse bosque de árvores estava localizado era ligeiramente elevado.
Em outras palavras, isso significaria que a coisa estava caminhando do outro lado de um bosque em uma pequena colina.
Os olhos de Haruhiro se arregalaram. — I-Isso é meio gigantesco, não é?! Aquela coisa?!
— Nuwah?! — Ranta saltou para trás em uma surpresa exagerada. — S-Sério! Agora que penso nisso, aquela coisa deve ser gigantesca!
— Humano... — Yume disse de repente. — Aquela coisa. Pra Yume, tá parecendo que tem formato humano, sabe...
— Nããão... — Kuzaku disse com uma risada forçada. — Isso não pode estar certo.
— Um gigante — disse Mary em voz baixa. — Já ouvi falar deles antes. Existem gigantes vivendo nas Planícies do Vento Rápido.
— Eeeeeeeeei! — Ranta de repente levou as mãos à boca como um megafone e gritou.
Mas que diabos você está fazendo, cara? Haruhiro pensou.
Antes que Haruhiro pudesse pensar em uma resposta cômica, Mary acertou a cabeça de Ranta com seu pequeno cajado.
— Gah! O que você está fazendo, Mary, sua vadia?! — gritou Ranta.
— Você é idiota?! — ela retrucou.
— Hã?! Quem você tá chamando de idiota?! Sabe, existe uma regra antiga que diz “quem diz, é”!
— O que você vai fazer se o gigante vier para cá?! — rebateu Mary.
— Se acontecer, aconteceu! Eu resolvo isso na hora! Não é grande coisa! Vocês têm a mim aqui! Se ele quiser briga, eu só preciso cortá-lo ao meio!
— Hoh... — Yume recuou. — .... Sabe, o gigante, ele só parou... talvez?
— Corre! — Ranta já havia saído correndo antes mesmo de terminar de falar.
Kuzaku observava, boquiaberto. — Ele mudou de ideia rápido demais.
— Ele é assim mesmo... — Shihoru suspirou.
— V-Vamos correr! — gritou Haruhiro, acenando com o braço e sinalizando para todos se moverem.
Ranta já estava bem distante, quase uma figura pequena ao longe. Ele era rápido quando se tratava de fugir.
Haruhiro deixou Yume e Shihoru, Kuzaku e Mary passarem à sua frente, servindo como retaguarda. Ele se virou para olhar para trás, sem parar de correr. O gigante estava se aproximando? Não estava se movendo? Haruhiro não conseguia dizer com sua visão mediana. Mas não parecia que estava se afastando, então ele achou melhor continuar correndo por agora.
Para o oeste.
Para o oeste.
Bem para o oeste.
O Posto Avançado do Campo Solitário do Exército da Fronteira ficava a cerca de 35 quilômetros a oeste daqui. O Posto Avançado do Campo Solitário servia como base operacional da Força Serpente Azul, a unidade que liderou o ataque à Fortaleza de Ferro Beira Rio na Operação Serpente de Duas Cabeças. Chamava-se posto avançado, mas havia muito mais pessoas morando lá do que apenas o pessoal do Exército da Fronteira. Era praticamente uma cidade por si só. A entrada para o Buraco das Maravilhas estava supostamente em algum lugar perto do Posto Avançado do Campo Solitário.
Enquanto corria, os olhos de Haruhiro encontraram os de Mary quando ela se virou. Eles não podiam afirmar com certeza se o gigante estava os perseguindo. Eles não estavam correndo o mais rápido que podiam, então podiam se dar ao luxo de conversar.
— A propósito, Mary — disse Haruhiro enquanto corria. — Seu cajado.
— Hã? — ela perguntou, sem diminuir o ritmo.
— O que aconteceu com ele? Esse não é o mesmo que você tinha antes, né?
— Ah! Isso é... — Mary olhou para frente. A menos que Haruhiro estivesse enganado, ela provavelmente estava olhando para Kuzaku. — Bem, eu meio que perdi ele...
— Entendo — disse Haruhiro.
— Já estava na hora de comprar um novo, de qualquer forma — ela disse. — O meu antigo não era muito prático em combate.
— Ahh — ele disse. — Você acha que esse novo é mais fácil de acertar as coisas?
— Sim — ela disse. — É isso. Esse aqui é mais simples que o último! É melhor como arma.
— Bem, foi uma boa mudança, então — ele disse.
— Foi uma boa mudança.
— Entendo. Bom, bom. Haha...
Sinto que ela está tentando me enganar sobre alguma coisa. Ainda assim, o que aconteceu entre ela e o Kuzaku? Eu posso mais ou menos imaginar, mas não quero imaginar.
Eles provavelmente correram por cerca de vinte a vinte e cinco minutos. Yume disse que ainda conseguia ver o gigante à distância, mas Haruhiro e os outros não conseguiam mais. Achando que agora estavam provavelmente seguros, eles passaram a caminhar.
A partir daquele ponto, caminharam pelos campos de grama. À primeira vista, parecia plano, mas havia altos e baixos aqui e ali, e o terreno era mais macio ou mais duro em alguns lugares, então, às vezes, era fácil caminhar, e outras vezes, não. Era surpreendentemente cansativo.
Tecnicamente, havia estradas que levavam ao Posto Avançado do Campo Solitário. Haruhiro e os outros só não conseguiam encontrá-las. Eles deviam estar indo na direção certa, o que era um pouco preocupante.
Eventualmente, começaram a ver grupos de animais aqui e ali. Devia ser por causa do gigante que não haviam visto nenhum antes. A maioria parecia ser herbívoros, mas eles sabiam que devia haver carnívoros que se alimentavam deles, então isso era um pouco assustador. No entanto, sendo uma caçadora, Yume havia estudado os diferentes animais até certo ponto, então ela tinha conhecimento sobre eles. Embora houvesse definitivamente alguns que eram perigosos, ela disse que não precisavam se preocupar tanto.
Se a rota fosse de trinta e cinco quilômetros, viajando a quatro quilômetros por hora, eles poderiam fazer a viagem em pouco menos de nove horas. Parecia possível que chegassem hoje, mas haviam saído preparados para acampar. Em parte por causa disso, não puderam deixar Altana até depois do almoço, então, no final das contas, não conseguiriam chegar lá hoje.
À medida que a escuridão ia se aproximando, decidiram acampar. No entanto, tudo o que isso significava era comer comida preservada, se enrolar em cobertores e depois dormir. Eles até cogitaram fazer uma fogueira, mas parecia muito trabalhoso reunir coisas que pudessem queimar, então desistiram.
A noite caiu sobre as Planícies do Vento Rápido em pouco tempo. No entanto, com a lua vermelha brilhando, não estava totalmente escuro. Pode não ter sido uma escuridão absoluta, mas era escuro o suficiente para se sentir opressor.
O vento havia diminuído desde o entardecer. Agora, era mais uma brisa suave.
Em algum lugar ao longe, animais faziam seus sons diversos. Depois de ouvirem um uivo distante, Shihoru perguntou a Yume:
— Hum... O que foi isso?
— Hm... Um cão com chifres e juba, talvez? — Yume respondeu. — Eles são como lobos e saem pra caçar em bando à noite. Foi o que o Mestre disse.
— ...Eles vão caçar a gente? — Shihoru perguntou.
— Não sei dizer — Yume respondeu. — O Mestre disse que eles não atacam humanos com tanta frequência, sabe.
— ...Não com tanta frequência...
— Não há nada absoluto na natureza, então é bom ter cuidado — explicou Yume. — Foi isso que o Mestre disse.
— ...Nada é absoluto... — murmurou Shihoru.
— Escuta... — disse Ranta, parecendo sonolento. — Não diga coisas que vão aumentar a ansiedade. Porque a Shihoru é uma covarde. Não é, Covarde? Não é verdade?
— ...Eu queria que os cães viessem e levassem só o Ranta.
— Hã? Você disse alguma coisa, Covardete?
— ...Não disse nada — respondeu Shihoru. — Não consigo dormir com você fazendo barulho, então, por favor, fique quieto.
— Tá, tá, tá, tá. Ceeerto. Também estou cansado. — Ele bocejou alto. — Fuaaahhh...
Depois desse bocejo alto, Ranta estava roncando em pouco tempo. Em momentos como esse, era difícil não invejar sua audácia.
Mary estava silenciosa. Kuzaku também. Estariam dormindo ou não? Shihoru continuava se virando de um lado para o outro. Parecia que não conseguia dormir. Yume respirava superficialmente enquanto dormia.
Quanto mais a noite avançava, mais desperto Haruhiro se sentia. Ele podia ouvir os uivos dos cães com chifres e jubas de vez em quando e sentir algo se movendo não muito longe. Não seria fácil dormir assim.
Mesmo assim, com seus companheiros dormindo, ele não podia fazer alarde e acordá-los. Tudo o que podia fazer era ficar quieto, pensando: Q-Que medo. É realmente assustador
Então, algo aconteceu que o forçou a agir. Não eram os uivos dos cães com chifres e jubas. Ele ouviu um som grave, um rugido baixo.
Não, não era exatamente um som, mas uma voz. De um carnívoro.
Ele não tinha certeza, mas tinha uma vaga sensação de que provavelmente era de um dos grandes felinos. Parecia estar relativamente perto. Enquanto tremia, ouviu novamente—um rugido.
— ...!
Oh, merda, Haruhiro pensou freneticamente. Não é bom, não é bom, não é bom, não é bom, não é bom. Está vindo, está vindo, está vindo. Esse foi mais perto do que o anterior. Sério, sério, sério. Está vindo para nos comer? Vamos ser devorados? Será que é uma daquelas coisas? Tipo, devo acordar todo mundo? É bem claro que tenho que fazer isso neste ponto. Mas, sabe, se eu me mexer, parece que vai atacar. Como se isso fosse o gatilho para ele pular? Agora é um mau momento? Devo esperar para ver o que acontece? Não sei. Qual é a resposta certa? E, espere, não consigo me mexer. Estou com muito medo. Não, não, não. Enquanto perco tempo, posso ser morto.
Haruhiro tentou pegar sua adaga e seu porrete.
Devo me levantar primeiro? Mas, sabe, realmente acho que me mexer demais pode ser perigoso. Se vou me levantar, tem que ser em um movimento rápido. Primeiro, devo verificar a área ao meu redor. Vou mover minha cabeça só um pouco, junto com os olhos, para olhar em volta. Não sei. Está escuro. Merda, está escuro. Está muito escuro. Não está lá... ou pelo menos acho que não. Não consigo ver na escuridão, então não posso dizer com certeza. Vou ouvir atentamente. Pelo próximo rugido. Vou julgar com base no próximo rugido. Aughhhhhhhhhhhh
Droga, o ronco do Ranta é alto demais. Cala a boca, por favor? O rugido. Ainda não está rugindo? Ainda não está rugindo? Aí está.
Haruhiro ouviu. Um rugido pequeno.
Foi baixo. Será que se afastou? Parece que sim. Mas é cedo demais para relaxar... Acho. Provavelmente.
Ele esperou mais um pouco, mas, por mais que esperasse, não ouviu mais nada. Provavelmente estava seguro a essa altura. Haruhiro se sentou e, um momento depois, Mary, grogue, também se sentou.
— Agora... — ela murmurou. — Há pouco, tinha algo aqui, né? Seja lá o que for...
— S-Sim — disse Haruhiro. — Tinha. Você ouviu? Aqueles rugidos.
— E-Eu ouvi — ela respondeu. — Foi assustador...
— Eu sei, né? — Haruhiro concordou. — E-Eu também... Espere, todo mundo está dormindo...
— Não preguei o olho — disse Mary.
— É, eu também não...
Estava escuro, então eles não conseguiam ver o rosto um do outro, mas tudo começou a parecer um pouco engraçado, então os dois riram um pouco. Então, os cães com chifres e jubas uivaram de novo, fazendo os dois se assustarem um pouco.
— ...Haru, você acha que está seguro agora? — Mary perguntou.
Ele quase respondeu “não sei”, mas se conteve.
— Sim. Vai ficar tudo bem.
— Okay — disse Mary.
— Por que não tenta dormir? — Haruhiro sugeriu. — Eu vou ficar acordado até sentir sono. Ah... provavelmente deveríamos ter nos revezado para montar guarda, né? Quando estamos assim ao ar livre.
— Você tem razão — ela disse.
— Bem, quando eu não conseguir mais lutar contra o sono, vou acordar o Ranta ou alguém — disse Haruhiro.
— Ou você pode me acordar — Mary sugeriu.
— Pode ser. Talvez eu faça isso.
— Então, boa noite.
— Durma bem — Haruhiro disse. — Ah, Mary.
— O quê?
— Escuta... — Haruhiro balançou a cabeça e suspirou. — ...Desculpe. Esqueci o que ia dizer.
— Okay. ...Boa noite.
— Sim.
Mary se deitou.
Haruhiro permaneceu sentado. Enquanto olhava para a lua vermelha, lembrou-se de Moguzo por algum motivo. Nunca mais veria Moguzo, mas isso não o fez sentir-se triste ou solitário, apenas parecia estranho.
Isso não pode estar certo, pode...? ele pensou. Mas essa era a realidade.
Quando o céu a leste começou a clarear um pouco, Kuzaku acordou.
— Hã? Por que você está acordado? — Kuzaku perguntou.
— Não consegui dormir — respondeu Haruhiro. — Bem, isso, e estou de guarda também.
— Não seria melhor você dormir? — perguntou Kuzaku. — Se precisa de alguém de guarda, eu posso fazer isso.
Haruhiro aceitou a oferta de Kuzaku e se deitou para dormir. Suas pálpebras começaram a ficar pesadas imediatamente, e ele conseguiu pegar no sono.
Quando acordou, Haruhiro e os outros fizeram uma refeição simples e partiram cedo pela manhã. No caminho, ele contou a eles sobre o carnívoro que havia se aproximado durante a noite, mas eles fizeram piada sobre isso. Mary não parecia feliz com isso.
À tarde, encontraram um vasto platô ligeiramente elevado. Assim que o subiram, havia uma bacia logo adiante.
À primeira vista, era claro que essa depressão no terreno, parecida com uma panela, era o Campo Solitário. Ao olhar em volta, eles viram pequenas torres ao redor do que seria a borda da panela. Provavelmente eram torres de vigia.
Havia várias nascentes no fundo da panela, assim como uma cidade cercada por um fosso e uma cerca.
Sim, uma cidade.
É uma cidade, pensou Haruhiro.
Não era nada impressionante, mas havia mais de dez a vinte edifícios, junto com as estradas entre eles. Também podiam ver pessoas andando por lá. Só poderia ser chamado de cidade.
— Heh... — Ranta esfregou o nariz com o polegar. — Finalmente, chegamos. Finalmente chegamos ao Posto Avançado do Campo Solitário.
Ele talvez estivesse tentando soar legal, mas não estava nem um pouco. Ainda assim, se alguém dissesse algo, ele apenas começaria uma briga por isso. Haruhiro e os outros ignoraram Ranta, sem pressa, enquanto desciam a encosta em direção ao fundo da panela. Por mais que Ranta fizesse alarde, ninguém lhe dava atenção.
O fosso ao redor do posto era mais largo do que parecia à distância, e também era profundo. Estava cheio de água que provavelmente vinha das nascentes próximas. A cerca, que parecia resistente, estava construída sobre uma plataforma de terra compactada com dois metros de altura, então não seria fácil escalá-la. Parecia haver apenas uma entrada, com uma ponte sobre o fosso naquele ponto. Havia uma brecha estreita na parede de terra com um portão ali.
Logo em frente à ponte, ao lado do fosso, havia várias tendas espalhadas. Elas podiam ser tendas, mas algumas eram bastante grandes e impressionantes. Talvez fosse onde os soldados voluntários moravam.
Havia soldados do Exército da Fronteira de pé em frente ao portão. Dois estavam ao lado do portão, mas as torres em ambos os lados abrigavam mais de dez, alguns dos quais estavam com suas bestas apontadas para Haruhiro e seus companheiros. Eles pareciam estar em alerta, mas quando o grupo mostrou seus distintivos do Esquadrão de Soldados Voluntários, pelo menos os deixaram passar.
Dentro do Posto, a estrada que levava do portão estava ladeada por grandes edifícios que serviam como estábulos e quartéis. Depois de passar por essa seção, chegaram a uma praça. Do outro lado da praça, havia algo parecido com um castelo. Parecia bastante seguro e provavelmente era um tipo de centro de comando. Havia vários edifícios ao redor desse centro de comando que provavelmente também eram de natureza militar.
Podiam ouvir homens gritando em intervalos regulares. Devem estar treinando em algum lugar.
Os soldados do Exército da Fronteira, que estavam parados aqui e ali ou patrulhando a área, ou ignoravam completamente Haruhiro e o restante da party, ou lançavam olhares de desprezo ocasionalmente, mas não faziam nada além disso.
No entanto, quando passaram entre dois quartéis e entraram nas ruas laterais, a atmosfera mudou. Havia uma série de edifícios chamativos que não pareceriam fora de lugar ao lado dos bares na Rua Celestial.
Havia mulheres andando pelas ruas de forma lânguida. Havia ferreiros. Havia filas de barracas. Havia vendedores ambulantes. Havia até várias hospedarias que pareciam melhores do que os quartéis.
Havia homens e mulheres que podiam imediatamente identificar como soldados voluntários também. Eles estavam sentados nas várias barracas de comida, comendo e bebendo, ou fazendo negócios com os diversos comerciantes.
Era um mercado, um lugar de entretenimento e um distrito residencial, tudo ao mesmo tempo. A julgar pelas barracas, havia uma variedade razoável de armas e armaduras à venda. Talvez até superasse Altana em termos de variedade. Não havia muitos itens de necessidade diária disponíveis, mas isso provavelmente se devia à falta de demanda.
Algo que se destacava era que havia comerciantes vendendo animais enjaulados que eles nunca tinham visto antes. Quando perguntaram sobre isso, foram informados de que também havia cavalos, dragões-cavalos, cavalos-cervos e outros animais grandes para montar e carregar carga amarrados do lado de fora do posto avançado. O comerciante também alugava cavalos, então foram incentivados a considerar usá-los se fossem para algum lugar distante. O dono de uma loja que lidava com todos os tipos de tendas percebeu que eles eram novos no posto avançado e fez uma venda agressiva de seus produtos.
Com toda essa exploração, começaram a sentir fome, então pararam em uma barraca de comida para almoçar. Os espetos de carne frita tinham um certo charme rústico, e a água com sabor de suco de frutas ácidas também não era ruim.
— Eu poderia viver aqui — foi a opinião de Ranta, e Haruhiro não pôde deixar de concordar.
— Sabe, — disse Yume, com um olhar relaxado e alegre no rosto — Yume ouviu mais cedo que também tem casas de banho por aqui.
— Isso é importante — Mary concordou enfaticamente.
— ...É — disse Shihoru com uma expressão incrivelmente séria no rosto. — Se eu tiver que ficar um dia sem banho... honestamente, me sinto nojenta...
— Bem, sim, se você é uma garota... — Kuzaku disse distraidamente.
— Há! Mulheres são tão complicadas! — Ranta gargalhou. — Eu? Eu poderia ficar dez dias, talvez um mês, sem me importar, sabia?! Não tomar banho nunca matou ninguém!
— Você diz isso, mas se começar a fedê, não vai gostar muito, né? — Yume retrucou.
— O quê, Yume? Se você ficar sem tomar banho, fede tanto assim? Vem cá! Deixa eu te cheirar!
— Yume não vai deixar você cheirar nada, seu idiota! — ela rebateu.
— Hm? — Ranta perguntou. — Então, aposto que você deve estar bem fedorenta agora, né?
— Não tô, não! Yume ainda não fede nada!
— Bem, deixa eu checar, e eu dou um julgamento oficial de uma terceira pessoa — disse Ranta. — Além disso, não é algo que você notaria sozinha. Você não consegue sentir seu próprio fedor.
De repente, Mary se inclinou perto do pescoço de Yume, cheirando-a. — Ela não fede — relatou.
— Nyaoh?! — Deve ter feito cócegas em Yume ou algo assim, porque ela soltou um grito estranho.
— Oh... — Mary se afastou de Yume. — ...Desculpa.
— Mm, nuh-uh, não tem nada pelo que se desculpar — Yume parecia um pouco envergonhada por algum motivo. — Yume só se assustou um pouco, só isso. Mas, Yume, ela tá feliz em saber que não fede.
— O que vocês estão fazendo, me deixando fora da diversão?! — gritou Ranta, balançando os braços com indignação. — Me deixem participar também! Não, incluam-me ativamente! Quero entrar na ação!
Depois de encherem a barriga, decidiram que finalmente era hora de ir para o Buraco das Maravilhas. No entanto, embaraçosamente, Haruhiro e os outros só sabiam que a entrada do Buraco das Maravilhas ficava no Posto Avançado do Campo Solitário. Ranta correu atrás de alguns soldados voluntários e tentou perguntar, mas foi grosseiramente afastado.
Se você não os conhecia e não estava pagando suas bebidas naquela noite, a maioria dos soldados voluntários não era muito amigável. Haruhiro deveria ter esperado que fosse assim.
— Seria bom se tivesse alguém conhecido por aqui — Haruhiro disse enquanto olhava em volta. — ...Ah.
Ele percebeu que havia.
— Ohhh! — Parece que Ranta também notou e começou a acenar. — Eeeei! Shinohara-saaaan! E aí, cara! Como você tem estado?!
Havia um grupo todo vestindo capas brancas caminhando na direção deles. O homem de rosto gentil que estava à frente do grupo lançou um largo sorriso na direção deles.
Shinohara era o líder de um clã bem conhecido chamado Orion, mas era um sujeito tranquilo com uma personalidade ótima. Como eram um grupo liderado por Shinohara, todos os membros de Orion eram amigáveis e bem organizados. Dito isso, o comportamento audacioso de Ranta ainda fez alguns deles franzirem a testa em consternação. Shinohara, porém, não parecia incomodado.
— Ei — disse o homem. — Se vocês estão aqui, isso significa que finalmente vão enfrentar o Buraco das Maravilhas também?
— Sim! Senhor! — Ranta gritou, fazendo um gesto estranho que se assemelhava a uma saudação, sem uma razão bem definida. Ele estava completamente se deixando dominar pela empolgação. Era tão tolo que se tornava constrangedor de ver. — Então, Shinohara-san, você vai para o Buraco das Maravilhas, assim como nós?! Cara, que coincidência!
— Não — disse Shinohara. — Estamos indo para outro lugar. Temos um assunto para resolver no Monte tristeza.
— Monte tristeza ... — Haruhiro murmurou as palavras. Não era um nome familiar, mas tinha um tom sinistro. Que tipo de lugar poderia ser? Será que Haruhiro e os outros iriam lá também, algum dia?
— Oh. — Shinohara olhou para Kuzaku. — Acho que não te vi antes. Eu sou Shinohara, do Orion. Prazer em conhecê-lo.
— Ohh. — Kuzaku fez uma leve reverência com a cabeça. — Oi. Eu sou Kuzaku.
— Entendo. — Shinohara fez uma pausa por um momento, fechando os olhos e respirando fundo. — Se minha memória não me falha, vocês participaram da Operação Serpente de Duas Cabeças como integrantes da Força Serpente Azul, correto? Apesar de as perdas na Força Serpente Azul do Exército da Fronteira terem sido pequenas, com apenas seis mortos, soube que vinte e três soldados voluntários perderam a vida lá.
— Eu não fui boa o suficiente — Mary olhou Shinohara diretamente nos olhos e lhe disse. — Cometi um erro que nenhum sacerdote deve cometer. Por causa disso, deixei ele morrer.
— Mary... — Um homem de cabelos curtos e olhos estreitos começou a se aproximar, mas parou. Hayashi. O homem que havia sido um dos antigos companheiros de Mary.
— E ainda assim, você está aqui. — Shinohara colocou uma mão no ombro de Mary. — Em vez de parar, você seguiu em frente e continuou a caminhar. Você encontrou bons companheiros para si, Mary.
— ...Sim. — Mary olhou para o chão. Suas costas estavam tremendo levemente.
Quero abraçá-la, pensou Haruhiro, e então ficou aflito por ter pensado isso. Não, eu não quero. De jeito nenhum. Eu não posso abraçá-la. Isso não combina comigo.
Ele não achava que esse fosse o seu papel. Afinal, não havia nada entre Haruhiro e Mary.
— Er, você também, Shinohara-san. — Haruhiro pigarreou. — Bom trabalho no ataque à Fortaleza de Ferro Beira Rio. Eu não sei nenhum detalhe, mas vocês venceram, né?
— Graças ao trabalho que vocês fizeram, tivemos uma vitória perfeita — disse Shinohara.
Por um momento, pareceu que um sorriso cínico cruzou o rosto de Shinohara. No entanto, isso durou apenas um instante. Não era uma expressão típica de Shinohara, então Haruhiro pode ter imaginado.
— As coisas foram diferentes para a Força Serpente Vermelha — ele continuou. — O Exército da Fronteira sofreu um golpe doloroso, mas houve poucas perdas de soldados voluntários. Os Day Breakers do Soma realmente fizeram a diferença. Graças a eles, nós da Orion tivemos uma tarefa fácil.
— Cara! Soma, hein! — Ranta bateu os pés e puxou o cabelo encaracolado. — Droga, esse Soma é incrível! Os Day Breakers, hein! Ohhh...!
Shinohara cobriu a boca e sorriu. Mesmo com Ranta falando, Shinohara tinha uma expressão no rosto como a de quem assiste a uma criança inocente.
— Ouvi dizer que o Soma tem operado a partir desta cidade ultimamente — disse o homem. — Talvez vocês o encontrem em algum lugar por aqui.
— Ohhhh?! Sério?! Ohhhhhhhhhhhhhhhhhh! — gritou Ranta.
— Dá pra calar a boca, cara? Sério... — Haruhiro suspirou, e então se voltou para Shinohara. — Ah, é verdade. Shinohara-san, na verdade, há algo que eu queria gostaria de perguntar.
— O que é? Espero ter uma resposta para você.
— Erm... — Haruhiro esfregou a bochecha com uma mão, olhando para cada um dos membros de Orion. Homens e mulheres, todos o olharam de volta com olhos calmos. Não importa a idade, todos eles transmitiam a sensação de serem irmãos e irmãs mais velhos e confiáveis.
Enquanto isso, sua própria equipe—Bem, talvez Ranta estivesse comprometendo a dignidade da party sozinho, mas Haruhiro, Shihoru, Yume, o novato Kuzaku e até mesmo Mary eram todos mais jovens do que os membros do Orion. Eles transmitiam uma impressão de inexperiência tão intensa que chegava a ser revigorante.
Não, não era revigorante. Na verdade, era doloroso.
Mesmo ter vindo ao Campo Solitário para ir ao Buraco das Maravilhas foi algo que eles fizeram mais por impulso. E agora que estavam aqui, nem sabiam o básico, então Haruhiro estava prestes a perguntar a Shinohara sobre isso.
Será que isso é realmente certo? Haruhiro se perguntou. Mas, dizem que “perguntar é um momento de vergonha, mas não perguntar é uma vida de vergonha”, e eu preferiria não perder tempo.
— ...Então, sobre o Buraco das Maravilhas, eu queria saber onde ele fica.
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