Capítulo 122
Com uma pá de bronze consideravelmente cara em meus ombros, eu estava liderando um grupo composto de 200 pessoas. Todos eles estavam segurando suas próprias ferramentas e estaríamos começando um grande trabalho nesse exato momento.
No entanto, ao contrário da galera animada atrás de mim, meus olhos não tinham um resquício de vida neles.
Não era realmente necessário 200 caras para escavar uma fonte termal, mas as pessoas estavam ávidas em revivê-las no território e por isso acabamos com esse monte de gente se voluntariando para o serviço. Eles estavam conversando ruidosamente uns com os outros e parecia até que tinha alguns mais novos fazendo uma algazarra no meio também.
— Tenham certeza de não ficarem para trás.
—SIM SENHOR!
Mas preciso dizer que gosto dessa reação sincronizada.
Aparentemente eu era um cavador de fontes profissional antes de perder as minhas memórias. Não sei dizer qual a diferença entre um amador e um profissional, mas considerando o estado rico em que Helan estava naquele tempo, acredito que possa não ter sido um exagero me chamar de pro.
E então, com o meu retorno, as pessoas imaginaram que a ação mais natural seria reviver as fontes termais primeiro, mas eu que não sabia de nada disso, estive negligenciado este fato até o momento onde a insatisfação da população atingiu o seu ápice.
Inúmeras exigências calorosas vieram parar nas mãos de Lotson-san, que decidiu que não poderíamos mais adiar isso e me forçou a carregar essa pá nas costas. Honestamente, não gostei de como as coisas acabaram fluindo e queria voltar para a mansão o mais rápido possível.
Por que eu estava insatisfeito? Bem, não foi por preguiça de fazer trabalho braçal e, na verdade, ninguém podia me superar nisso e também não era como se estivesse sem tempo fazendo outras coisas. O que realmente incomodava era a convicção distorcida dessa galera que, onde quer que Kururi Helan cavasse com toda certeza haveria uma nascente logo abaixo.
Se você pensar nisso de maneira lógica era claro que era impossível. Não tinha a menor chance, zero, nada.
Pelo que ouvi, expedições para escavar novas fontes vinham sendo organizadas desde a administração do Príncipe Arc, mas os trabalhos não foram bem recebidos pela população. Isso porque eles não conseguiram encontrar muitas nascentes.
Se olharmos de maneira objetiva, o período administrativo do príncipe foi maravilhoso, embora não tivesse sido algo extremo, suas contribuições ajudaram e muito a criar uma fundação para o desenvolvimento das terras. Além disso, ele ainda conseguiu cavar um pequeno número de fontes termais, só que mesmo assim, a quantidade e a qualidade foi pobre se comparado a antes.
Quero dizer, isso foi apenas natural. Os meus feitos é que eram absurdos para início de conversa. Estamos falando de mim, mas não tenho a menor de ideia de como fazer essas coisas agora.
A única conclusão em que pude chegar foi de que eu tinha algum tipo de conhecimento especial, mas que agora já não possuía mais. Por tanto, o desfecho final do que iria acontecer era apenas um:
...Vai dar merda!
Era realmente uma pena, mas mesmo que estivesse com vontade, ainda seria impossível. A realidade não era tão amável assim e muito provavelmente estes caras iriam acabar desapontados comigo.
Bem, o tempo iria tratar de curar as cicatrizes com toda certeza. O que precisava fazer hoje não era tentar cavar desesperadamente atrás de uma fonte termal, mas sim, contar a estas pessoas que o homem que escavou incontáveis nascentes no passado já não existia mais.
O melhor seria continuar trabalhando de forma diligente naquilo que podíamos no momento e, por sinal, o projeto da “Cidade dos Artesãos” estava progredindo esplendidamente. Isso já não era o bastante? Afinal, um caminho nunca visto antes estava se abrindo diante do território.
Depois de andar por algum tempo, nós chegamos numa zona ainda desertificada. Esta era uma visão rara aqui em Helan, o qual estava sempre exuberando vida, mas mesmo neste território, onde o verde e as flores cobriam a terra, podíamos encontrar lugares assim.
Então eu cravei a minha pá em uma porção de terra seca.
— Comecem aqui.
O grupo atrás de mim me encarou de maneira perplexa. Até agora todos tinham respondido animadamente a qualquer coisa que saísse da minha boca, mas agora todos pareciam estar confusos.
O sol refletia forte na terra seca e nem mesmo uma erva daninha conseguia crescer nesse ambiente. Pássaros não cantavam e este lugar não servia nem para as plantações e nem para qualquer outro ser vivo.
Ainda assim, eu havia decidido escavar neste pedaço de terra odiado pelo mundo inteiro, então é claro que as pessoas teriam dúvidas. Iria uma fonte realmente esguichar daqui?
E, naturalmente, não tinha a menor possibilidade disso acontecer, mas ser o único ciente não seria o bastante. Minha real intenção era deixar bem claro para eles que minha habilidade para encontrar nascentes já não existia mais.
— Nós vamos cavar aqui.
Tomei a liderança e comecei a cavar na frente de todos.
Thud.
Thud.
O Som da pá de bronze ecoou e as pessoas relutantemente me seguiram.
Para onde aquela energia toda foi?
Exceto por mim, o movimento de todos parecia meio estático. Não posso fazer nada para tirar a dúvida do coração deles, mas não fazia mal, eu apenas continuei cavando.
Pode ser porque o meu corpo estivesse acostumado a cavar, mas minha velocidade foi bem maior que a deles, já atingindo profundidade o suficiente para cobrir o meu torso.
Não é como se eu precisasse esconder minha capacidade aqui...Bem, tanto faz, isso só vai me ajudar a chegar ao meu objetivo mais rápido.
O plano era esse... era...
Hmm?
Depois de mais um estocada com a minha pá, o chão tremeu de leve. O buraco, por sinal, já estava fundo o suficiente para me cobrir todo. Depois de mais uma, o som já podia ser ouvido pelas pessoas lá fora.
— O que foi isso?
Alguns deles vieram correndo até mim e olharam de cima do buraco.
Ei, ei, ei, não vai me dizer... tá de sacanagem comigo...
— Senhor, que som alto foi esse?
— Errnnn... Foi mal gente, era só o meu estômago roncando. Vocês querem almoçar agora?
— Eh? Mas nós acabamos de começar o trabalho.
Era óbvio que eles iriam ficar insatisfeitos. Ninguém estava com fome e nem era hora do almoço ainda. Entretanto, eu tinha uma premonição ruim... se tirasse o meu pé de dentro do buraco agora...
— Bem, não temos escolha não é? Você ouviram o barulho agora há pouco, nosso senhor está com fome. Não vai doer em nada almoçar um pouquinho mais cedo hoje.
— hahaha, Lorde-sama, o senhor esqueceu de tomar o café hoje? Tudo bem, vamos parar um pouco, pessoal!
Os mais jovens saíram ao redor espalhando a notícia de que iríamos parar para o almoço e inclusive eu estava me preparando para sair do buraco, mas no momento em que tirei as mãos do chão...
— ...
Provavelmente foi só imaginação.
Tentei escalar o buraco mais uma vez e...
Ah, merda... começou a tremer de novo.
Definitivamente não era só imaginação!
EU NÃO POSSO SAIR DO BURACO!
Mas como é que eu não vou sair se a sugestão de almoçar foi minha??? Não teria nada mais estranho do que isso!
Agora, o que fazer?
Muito provavelmente o meu peso estava servindo como rolha e não restava qualquer dúvida que no instante em que me levantasse, o tremor iria se espalhar e só a benção do escavador de fontes estaria nos aguardando!
Hm? Ei, e o que há de ruim nisso? Não, não, calminha lá. Por muito pouco não caí nessa armadilha.
Eu não tinha qualquer talento secreto ou coisa do tipo, então o que estava acontecendo aqui não passava de um milagre. O meu objetivo era mostrar que não conseguia, então não posso simplesmente deixar que isso aconteça.
É isso aí, estou aqui para proteger a minha vida!
E enquanto me preocupava em vão, o grupo mais jovem de antes veio olhar se estava tudo bem comigo dentro do buraco. Nada mais do que natural achar estranho o fato de que ainda não saí.
— Lorde-sama, está todo mundo lhe esperando. Não podemos começar enquanto o senhor não aparecer.
— Ah, podem comer sem mim. Ah, já sei! Vou comer aqui em baixo, então pode ir buscar o meu almoço? Eu queria dar uma olhada melhor nas condições geológicas daqui.
Quando inventei uma mentira aleatória, os rostos deles se iluminaram em admiração.
— Como esperado do Lorde-sama! Só ele mesmo para pensar em fontes termais até em quanto come, quando ninguém mais iria se importar com isso! Mas sério, o senhor levou em consideração até as condições geológicas? Isso mostra a diferença entre nós e verdadeiros gênios, hein!?
— Errrm... é isso aí...
É só eu ou mais alguém acha que eles têm mais fé em mim do que mereço? Foi mal, mas não tenho um pingo de interesse em geologia.
O rapaz trouxe o meu almoço imediatamente e por sorte, me deixou comendo sozinho, voltando para o grupo. Se ele tivesse ficado, não daria para me mexer, quero dizer, se cada vez que movesse um pé o chão tremesse, era óbvio que notaria o que estava acontecendo.
Mesmo se parasse para comer agora, nada iria mudar, afinal eu ainda não podia sair do buraco, mas entrar em pânico não ajudaria também.
Que seja, vou aceitar alegremente me tornar a rolha desta vez!
Depois de encher a pança e ganhar algum peso, tudo vai ficar bem! Quer saber o porquê? Se me sentar aqui por mais duas ou três horas, com toda certeza a nascente vai desistir de jorrar já que ninguém aguenta manter o ânimo o tempo todo neste mundo!
O espaço dentro do buraco era um pouco estreito para almoçar, então tirei a pá do meio e a joguei para fora do buraco, assim poderia sentar no chão.
O almoço de hoje tinha sido preparado por Eli, então depois de sentar no chão e abrir o pacote, aquele delicioso cheiro se espalhou por todo buraco, revelando o cuidado com que os alimentos haviam sido cozinhados.
— Preparando uma coisa dessas para mim logo de manhã... muito obrigado, Eli.
Depois de expressar minha gratidão, chegou a hora de comer. O sabor apetitoso se espalhou pela minha boca, assim como alguma outra coisa se espalhou pela minha...bunda?
Tentei desesperadamente aguçar os meus sentidos para entender o que tinha acontecido. Minha bunda... a banda direita para ser mais precisa, estava completamente encharcada.
— ...
Era um lugar estranho para se deixar vazar e não me lembrava também de suar tanto pela nádega direita. Quero dizer, não que fosse realmente um problema ter uma bunda suada e tudo mais, só que na verdade o meu corpo nunca apresentou este tipo de característica tão peculiar.
Essa posição... não era onde eu tinha fincado a minha pá? E foi exatamente onde coloquei a minha nádega direita.
Tremor, barulho e agora finalmente a água, heim?
Embora a superfície toda estivesse seca e rachada... Não pode ser. Não que seja impossível, mas... ainda assim não pode ser...
Um suor frio não parava de escorrer pela minha testa. Eu já não tinha mais vontade de comer e estava com medo de fazer qualquer movimento a este ponto.
O tempo foi passando...
Depois que o almoço acabou, os rapazes vieram me ver de novo.
O que é que eles vão imaginar depois de verem a minha cara séria com metade do almoço ainda não comido...
— Lorde-sama? O senhor está bem?
— Não se preocupem, é só um pouquinho de insolação aqui. Vou ficar bem depois de descansar um pouco.
— Nesse caso, seria melhor o senhor ir para um lugar mais frio. Vamos, tem uma sombra logo alí.
Ele estendeu a mão para me puxar do buraco.
— Não, tudo bem. Aqui no buraco é bem fresco.
E é claro que eu recusei.
— Mesmo que o senhor diga isso, já que o cavou verticalmente, o sol deve estar lhe atingindo, não?
— Esse tanto de luz é apenas o ideal para mim.
— Mas o senhor não disse que estava passando mal por causa da insolação? Que tipo de constituição é essa?
— Hmm, é um pouquinho complicado de se explicar. Bem, voltem logo ao trabalho e me deixe... ah! E cavar em um lugar diferente de onde estou vai ser melhor, entendeu?
— Mas nós não podemos fazer isso! Temos que cavar com o senhor nos liderando! Agora, vou me juntar ao resto do pessoal e continuar trabalhando.
Depois de me dar um enorme sorriso, o rapaz saiu e, logo em seguida, pude ouvir a voz animada dos outros. Eles estavam prontos para cavar a um bom paço.
Ficar sentado na mesmo posição era bem cansativo, então tentei me virar um pouco, mas aí o chão começou a tremer e a fazer ruídos, jorrando um pouco de água mais uma vez. Eu imediatamente sentei a bunda no chão.
Agora minhas calças estavam completamente molhadas.
Está me dizendo que não vai me ser permitido mexer nem um pouco?
Fudeu...
...Passado um tempo, finalmente tomei uma decisão, mas primeiro, iria terminar o almoço de Eli.
Para ser bem sincero já tinha chegado ao meu limite por causa da água que estava esquentando logo abaixo do meu rabo, então levantei do buraco e sai correndo.
— CORRE GALERA! CORRE! É ÁGUA QUENTE! A FONTE TERMAL IRÁ JORRAR!!!
Ao me assistirem sair correndo, o pessoal reunido entrou em desespero também e, depois de um grande estrondo, o lugar inteiro começou a tremer. Mas antes que pudéssemos nos afastar o suficiente, um jato de água saiu de dentro do buraco.
— AH!
Diante dos meus olhos, aquela terra seca e os meus homens estavam cobertos de água, um enorme volume dela. Se continuasse a jorrar assim, uma maravilhosa nascente seria formada.
As pessoas começaram a se abraçar em alegria.
Aquilo não passava de um milagre, mas eu não poderia deixar de olhar contente para alegria delas. No entanto, ainda era um fato de que eu não possuía a habilidade para escavar outras nascentes e isso precisava ficar claro o mais breve possível.
No final do dia me juntei a eles na festa, mas com toda certeza a verdade esmagadora viria no dia seguinte.
E esse dia chegou...
— Oh, comecem aqui.
E no dia seguinte...
— OOOoooh, comecem aqui.
E no dia seguinte...
— OH! COMECEM AQUI!
Hoje, mais uma vez, de novo, um pilar de água veio esguichando como se fosse a coisa mais natural. A nascente se espalhou, criando uma fonte natural esplêndida. Honestamente já era mais nenhuma novidade a esta altura.
Não era um exagero. Pode-se dizer que eu possuo algum tipo de talento ou habilidade sobrenatural para se cavar uma fonte termal. Definitivamente está num nível onde você poderia me chamar de um pro.
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